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Resumo P2 Processo Penal II
Porf. Gonzales
Quesitação
Tem que ter 7 jurados.
Quesitar = fazer perguntas para os jurados. A pergunta tem que ter um enunciado singelo. Os quesitos serão feitos em proposição simples. A resposta deve ser sim ou não. Se a resposta for “depende”, esse quesito anula o júri. Se houver 2 núcleos, tem que dividir. O artigo 483 do CPP fala com serão feitos os quesitos.
Tem que haver correlação entre a denúncia e a pronúncia. 
A pronúncia é um divisor de águas no processo. Após a pronúncia, só vale o que nela estiver. 
Passa-se a uma fase intermediária, a preparação do processo, a oportunidade de saneamento, requerimento das partes, rol de testemunhas, vai para o plenário, sorteio de jurados, formação do conselho, juramento dos jurados, compromisso de incomunicabilidade dos jurados, instrução do processo em plenário, debate das partes e aí estará pronto para julgar.
O juiz elaborará quesitos. 
Haverá quesitação separada para cada um dos réus. E quesitação separada para cada um dos crimes. Se o sujeito é acusado de 10 homicídios, haverá 10 séries de quesitos para os jurados naquele caso. 
Esses quesitos terão uma fonte. De onde o juiz tira os quesitos? Existem regras fundamentais. Uma delas é que tudo começa pelo fato. O fato tem que ser perguntado.
 O fato é materialidade e autoria. Os quesitos do fato são retirados necessariamente da pronúncia (segue a denúncia). 
Art. 483, CPP diz que o juiz perguntará na seguinte ordem:
1º quesito - materialidade.
2º quesito - autoria. 
Isso tem sentido quando tem mais de um réu em concurso de agentes. Se tiver mais de um réu, quando perguntado sobre autoria, tem que perguntar desse réu. Tem que perguntar individualmente, não pode contaminar o outro réu. Deve-se perguntar sobre materialidade num primeiro momento e, num segundo momento, sobre autoria. Problema da lei: o fato não é só materialidade e autoria. Falta um elemento: nexo causal. 
Deveria ter um quesito complementar entre 1º e 2º - essas lesões foram a causa da morte da vítima? (nexo causal). 
Então ficaria:
1 - perguntar sobre materialidade
2 - sobre nexo causal
3 - autoria
Beto concorreu para esse fato incentivando Caio a fazer o disparo? Não pode fazer esse tipo de quesito. Porque não pode colocar o nome do corréu? Pois julgaria uma pessoa que não o réu. Se houver mais de um acusado, não pode colocar o nome do corréu. Senão, anula o júri. Deve referir “terceira pessoa”. “Incentivando terceira pessoa”.
O Juiz faz os quesitos. Juiz vai ouvir o promotor, vai ouvir o advogado, tudo que aconteceu no debate, mais a tese pessoal do acusado (a defesa se compõe da defesa pessoal do réu e a defesa técnica do advogado - juiz deve indagar as duas defesas). Cada jurado receberá 2 cédulas: sim ou nao. Juiz perguntará e o jurado colocará a resposta numa urna, para não identificar. Se identificar, anula. O juiz lerá todos os quesitos e aí vai perguntar para as partes se concordam com a maneira de perguntar. Se houver impugnação tem que constar em ata. Se uma das partes for contra aquela forma de quesito, deve dizer e o juiz ou atende a defesa e muda o quesito ou mantém o quesito e faz constar em ata a inconformidade.
Um júri é uma coisa muito formal, tudo que acontece tem que constar em ata. 
Se o cara for absolvido no 2º quesito, os demais não devem ser feitos. 
Se a nulidade for relativa deve ter o protesto oportuno, é quase que um agravo retido. Deve protestar e constar esse protesto. Se fez isso, poderá discutir sua inconformidade na apelação. Se não protestar, e aquilo gerar nulidade relativa, não pode mais alegar (precluiu). Depois de lidas as perguntas em público e não havendo impugnação ou havendo e sendo afastada, consignando e etc, aí o juiz vai retirar os 7 jurados para uma sala secreta. Quando há concordância das duas partes (constando em ata), podem ficar estudantes de direito presentes. 
No momento da quesitação, estarão presentes: juiz, jurados, advogado do réu, promotor, assistente da acusação. 
Primeira coisa, tratar do fato. Fato é materialidade e autoria. Com base na pronúncia (é a fonte). Isso deve ser perguntado independentemente do que a defesa alegar. Digamos que a defesa alegue legítima defesa. Mas deve ser perguntado, mesmo que a defesa não questione o fato, o nexo causal, a autoria. 
O fato tem que ser perguntado. Mesmo quando é incontroverso. A fonte disso é a pronúncia. 
As modificadoras do fato não são perguntados aqui. Qualificadoras e majorantes trata em outro momento.
Se tiver mais de um réu, julga um de cada vez. Em relação a cada um deles haverá uma imputação. 
Superada essa primeira fase, passa-se a defesa. Tudo que interessar à defesa será perguntado aqui. 
Obrigatoriamente deve ser perguntado se o jurado absolve o réu (quesito absolutório). O que está contido aqui (“o jurado absolve o réu?”) é materialidade pura. Elemento subjetivo é em outro momento. Sobra, da teoria do crime, antijuridicidade e culpabilidade. As causas excludentes de culpabilidade e antijuridicidade. Tudo que disser respeito a culpabilidade e antijuridicidade, teses de defesa. O quesito absolutório deve ser feito em qualquer circunstância, qualquer que seja a tese da defesa.
Se passará para os quesitos seguintes, que ainda pode ser da defesa. Se a defesa agregar teses modificatórias que impliquem minorantes, tem que ser perguntado individualmente.
As teses acessórias de defesa necessitam de quesitação específica (que importem em modificação/diminuição da pena, minorantes, homicídio privilegiado). 
Esgotada a matéria defensiva, volta-se a pronúncia como fonte, para tratar das qualificadoras e majorantes. O juiz na pronúncia deve fazer referência ao fato, qualificadoras e majorantes. Só pode perguntar sobre majorante e qualificadoras se estiver na pronúncia. 
Art. 29, CP - participação de menor importantância é minorante → tem que ser perguntado naquele segundo momento. Participação em crime menos grave (participação dolosamente distinta) modifica o dolo, aí é desclassificação. Recebe a pena do crime que pretendia praticar com uma majorante, e não pena do homicídio. Qualquer coisa que modifique a acusação para menos e que não absolva. 
Tese principal - tese que absolve o réu (autoria ou antijuridicidade/culpabilidade).
Tese secundária - minorantes (fração) diminui  a pena. 
As minorantes a defesa deve alegar.
As majorantes têm que estar previstas na pronúncia e denúncia. 
6 de julho de 2018
O fato é autoria, materialidade e letalidade. Ou autoria, materialidade e dolo (na tentativa). No lugar da letalidade, tem que pôr o dolo. O dolo na tentativa está no fato, por força do CP, que diz que o crime é tentado quando não se consuma por circunstância alheia a vontade do agente. Por isso, se estou afirmando, num primeiro momento, que é tentativa, o dolo compõe a própria imputação. No crime consumado, para que eu possa discutir esse elemento subjetivo com os jurados, a defesa tem que provocar. 
O Estado diz: “no dia tal a tantas horas o fulano matou.” O dolo está aí. Está afirmando que o cara matou porque quis. O dolo está na imputação do crime consumado. Na tentativa, o dolo está no fato, o Estado tem provar o dolo aqui, compõe a imputação. O Estado vai dizer que ele atirou no outro querendo matar. Não ao matou por circunstâncias alheias à vontade dele. 
Então vimos fato, depois defesa e depois acessórios do fato (qualificadoras - origem na pronúncia - e majorantes) e, por último, as agravantes e atenuantes. Nas teses de defesa há um quesito obrigatório (o quesito absolutório). Esse quesito compreende tudo que disser respeito a antijuridicidade e a culpabilidade. Dentre dele estão embutidas as teses absolutórias. 
O quesito obrigatório será feito se o réu não for absolvido nos quesitos da autoria ou do fato (exemplo de absolvição antes do quesito absolutório: “o réu concorreu para esse crime dando tiros?” e os jurados respondem “não”, tá absolvido), a absolvição pode acontecer antes do quesito absolutório. 
Se ocorrer a absolvição,o juiz não pode continuar perguntando. 
Todas as teses de defesa estão dentro do quesito obrigatório (teses próprias, que absolvem o réu). Agora, existem possibilidades excepcionais:
Quando houver discussão em plenário sobre limites da legítima defesa. A legítima defesa, pela lei penal, é repelir agressão injusta atual ou iminente, a direito próprio ou de terceiros, usando moderadamente o meio necessário. Então, não é qualquer agressão, tem que ser uma agressão atual ou iminente; tem que ser agressão injusta (quem gera o conflito não pode alegar legítima defesa). Imagine que num júri a defesa alegue legítima defesa, mas acontece que houve excesso. E esse excesso deve ser punido. 
Legítima defesa é como se caminhar num dia de chuva embaixo da marquise de uma loja. À medida que vai avançando, quando a marquise terminar, o sujeito vai se molhar. A legítima defesa é uma proteção da lei até o limite em que cessar a agressão. Terminada a marquise, tem que parar. Se continuar, se excederá e deverá responder por isso. O excesso da legítima defesa pode ser doloso ou culposo. Ou impunível (decorrente de caso fortuito ou força maior). Quando há essa discussão no plenário, e pergunta-se o quesito obrigatório (o jurado absolve o réu) e dizem “sim, absolvo o réu”, cabou-se, diz que não houve excesso e se houve é impunível. O problema está quando o júri disser que não absolve, consequentemente condenando-o, aí tem que saber se está condenando o cara pois entendeu que a legitima defesa não existiu ou está condenando pelo excesso? E se condenando pelo excesso, por excesso doloso, afasta toda legítima defesa. Mas poderá estar condenando por excesso culposo, havendo, então, uma desclassificação. Desclassificação imprópria, é desclassificar julgando. O CP manda punir pelo excesso, no limite do elemento subjetivo do excesso. Essa desclassificação vai acontecer depois de o júri ter julgado o fato principal. As teses secundárias de defesa são teses que tem que se agregar a esta. Normalmente tudo se resolve no quesito obrigatório.
 - O jurado absolve o réu? 
- Sim. 
Tá absolvido. Cabou-se. 
- O jurado absolve o réu? 
- Não. 
Vai continuar.
Dois desdobramentos desse quesito são possíveis, um deles é esse, quando se está discutindo o excesso e quando houver discussão expressa sobre o excesso, aí tem que saber se o jurado está condenando por homicídio doloso ou culposo. A parte em que foi além, na legítima defesa, o jurado tem que julgar.  Declinar da competência é declinar sem julgar. Se perguntar para o jurado: “isso é um crime doloso contra a vida?” Se disser não, não há competência do júri. É a desclassificação própria. 
Agora, se perguntado se é tal coisa, e os jurados dizem: “não, é tal coisa” (ex.: isso é um lápis? Não, isso é uma caneta), ou seja, além de dizer que não é um lápis, diz o que é, trata-se de desclassificação imprópria. 
Desclassificação própria é dizer “não há crime doloso contra a vida”. Ponto final. O que há, então? O juiz que dirá, pois a competência não é do jurado, é do juiz. Tem efeito de deixar o juiz presidente do júri livre para julgar como se fosse o juiz originariamente competente. Art. 492, CPP. 
Se o jurado diz que não há crime doloso contra a vida e para por aí, o impacto disso é: há um resíduo dessa desclassificação, ou seja, o que sobrar, porque já disseram que houve lesão na vítima, que o cara participou daquilo, mas daí vão dizer que não queria matar. Estão dizendo que aquilo é outra coisa que não crime doloso contra vida. E dizendo isso, o juiz julgará. Quando a desclassificação acontece na pronúncia, o efeito é um, o juiz manda para o juiz competente. Aqui no júri não é assim. Se há desclassificação em plenário, o juiz presidente julga, e julga livremente, podendo condenar, absolver, pode definir o resíduo. O juiz define o crime residual. E mais do que isso, se existirem crimes conexos, que não da competência do júri, o juiz presidente julga tudo, livremente.
Quando há a desclassificação imprópria, aí complica, pois o júri não tá simplesmente declinando da competência, pois julgou. Se julgar o fato principal e desclassificar julgando, vincula o juiz. Então, se houver discussão sobre natureza do excesso e se perguntar “o jurado absolve o réu? Não”, o juiz tem que saber se eles condenaram o réu por dolo ou por culpa. Se perguntar para os jurados “o réu se excedeu só culposamente nos limites da legítima defesa?” Se disserem sim, estão dizendo que condenaram por culposo, se disseram não, estão dizendo que condenaram por doloso. Pois o excesso impunível é não excesso. 
13 de julho de 2018
O Júri possibilita uma desclassificação na fase intermediária e uma desclassificação no final. Já vimos materialidade, autoria e quesito obrigatório, os quesitos secundários de defesa, modificadoras. 
A questão da desclassificação funciona do seguinte modo: 
Ou temos um crime consumado ou temos um crime tentado e a desclassificação está na própria quesitação em relação ao fato. Pois a tentativa é definida na lei através do dolo. No crime tentado, não se consuma por circunstância alheia a sua vontade. A tentativa tem que fazer parte da quesitação em relação ao fato. Numa tentativa se pergunta por materialidade, por autoria e pelo dolo. “Alguém fez na vítima as lesões…” “sim” “essa pessoa que está em julgamento participou desse fato de tal modo?” “sim” “o réu assim agindo deu inicio ao fato de matar, que não se consumou por circunstância alheia a sua vontade?” Se disserem que “não”, opera-se uma desclassificação. 
Se disserem que ele deu tiro, que a vítima sofreu as lesões, mas que não tava querendo matar, há desclassificação própria. Simplesmente se diz que não há dolo contra a vida. A desclassificação própria só diz que não há dolo contra a vida, então, não há o que julgar pelo júri. Afasta-se a competência. O que sobrar dessa desclassificação é julgado imediatamente pelo juiz presidente do júri (§§ 1º e 2º do art. 492 CPP). A consequência jurídica é diferente da desclassificação quando ocorre perante um juiz singular, pois quando há desclassificação na fase da pronúncia, quando o juiz da pronúncia diz que não foi doloso, ele afasta a competência e manda para o competente. MP deve fazer um aditamento para dizer o que sobrou, natureza do resíduo. Aqui o juiz julgará imediatamente o que sobrar daqui, condenando ou absolvendo, é uma decisão de mérito, como se fosse competente originariamente. Se houver crimes conexos que não sejam da competência do júri, que esteja aqui por força de conexão, a competência do júri cai. Pois o júri só julgaria esses crimes pois existe um crime doloso contra a vida que lhe é conexo, e se afastar essa conexão, desaparece a competência. Tudo que sobrar da desclassificação e tudo mais que houver, vai para competência do juiz singular.
No crime consumado a desclassificação também é possível, mas somente por provocação da defesa, não pode por iniciativa do juiz ou MP. Num crime consumado é possível que a defesa sustente que o réu não quis e nem assumiu o risco de produzir a morte. No crime tentado o dolo está no fato e o fato vem da pronúncia. No crime consumado, o quesito em relação ao dolo será feito depois do 2º ou 3º quesito, dependendo do caso. Do quê? Olhando a redação do art. 483, indica a ordem, tem que perguntar aqui (após autoria, antes do quesito obrigatório) ou aqui (após quesito obrigatório).
Tudo que importar em desclassificação própria deve ser indagado antes do quesito obrigatório, (pois tudo que for indagado após isso será desclassificação imprópria pois terá julgado) e se o júri acolher, haverá desclassificação própria (sem julgar), ou seja, interrompe a quesitação e o juiz vai julgar.
Há pelo menos 2 possibilidades que são de desclassificação imprópria, por exemplo:
Quando se alega um caso de legítima defesa. É composta de fundamentos múltiplos. É algo complexo. Pode ser que haja excesso. O réu responderá pelo excesso. Há um limite para agir, a autorização legal não é ilimitada. Se o sujeito reage a uma agressão e, mesmo após cessara agressão, o cara continua atirando, é excesso, e responderá pelo excesso. Esse excesso pode ser doloso ou culposo ou impunível. Há um elemento subjetivo que comanda esse excesso. Se o excesso for doloso, a tese cai, pois o sujeito se transmuda de agredido para agressor. Esse excesso pode ser impunível, nem doloso nem culposo, decorrente de caso fortuito ou força maior, e para efeito legal é como se não houvesse excesso.
É possível, ainda, que o réu cometa excessos na modalidade culposa. A chamada culpa imprópria, culpa decorrente de erro na avaliação das circunstâncias, que faz com que ele não pare e continue indo além, não porque quis mas porque deveria ter agido de outro modo, ou seja, se excedeu por negligência, imprudência ou imperícia. Culpa decorrente de erro na avaliação da circunstância. Se se excedeu nisso e isso for reconhecido, há uma desclassificação de dolo para culpa. Então se entende que se houver no curso dos debates no plenário uma discussão sobre tese de legítima defesa sobre excesso, no momento de indagar, perguntar para o jurado se absolve o réu e responderem sim, está absolvido. Se disserem que não, estão condenado. Por qual crime? Afasta legítima defesa ou condena por excesso culposo na legítima defesa? Como o juiz aplicaria a pena nessas circunstâncias? Tem que continuar perguntando. Tem que saber a natureza desse excesso. O réu se excedeu somente culposamente os limites da legítima defesa? Se disserem que não estão dizendo que o excesso foi doloso. Se o excesso for impunível, não é excesso, está absolvido. Se perguntar se o excesso foi culposo disserem que não, a tese da legítima defesa caiu, e o sujeito está condenado por excesso doloso. Se disserem que sim, tem a desclassificação, e é a imprópria (em que se pergunta: isso aqui é um relógio? E respondem: não, isso é um pincel de escrever no quadro. Ou seja, desclassifica julgando.)  
Desclassificação imprópria - diz o que não é dizendo o que é. E dizendo o que é, julga e vincula o juiz. Essa desclassificação imprópria julga, consequentemente, o resíduo será um homicídio culposo. O juiz é obrigado a condenar por homicídio culposo. Se outros crimes houver, o júri julgará mesmo tendo desclassificado porque julgou o mérito do crime originário.
Quando há concurso de agente é possível uma sequência de teses por força do artigo 29 do CP. Uma delas é da participação dolosamente distinta (sujeito participa de um crime querendo participar de outro menos grave) e a outra é a participação de menor importância (minorante). Sendo uma minorante, será perguntada depois do obrigatório, como tese secundária de defesa. “A participação dele foi de menor importância?” se disserem “sim”, estão reconhecendo a minorante e obrigando o juiz a levar em conta na sentença. 
A participação dolosamente distinta tem que ter outra indagação. Não é uma tentativa de dolo pura e simples. A melhor forma de perguntar isso é depois do quesito obrigatório. Pois se absolverem, dirão que ele não participou de um homicídio. 
Se não absolver, entendendo que ele participou do homicídio, tem que saber se essa participação foi dolosamente distinta ou não. Então tem que perguntar “o réu quis participar de outro crime, lesão corporal?” Se responderem “sim”, estará acontecendo uma desclassificação. Essa desclassificação será imprópria. Quando o legislador diz que se houver alegação que importe desclassificação do crime para outro não da competência do júri, o juiz formulará os quesitos correspondentes. Tudo que for perguntado antes será desclassificação própria, o que for perguntado depois será imprópria. Na imprópria, o júri fixa a competência e continuará julgando os demais crimes e vai vincular o juiz, ou seja, se perguntado em concurso de agentes “o réu fulaninho quis participar de crime menos grave, lesão corporal?” se disserem que sim, estará condenado por esse crime menos grave. O juiz terá que condená-lo por esse crime e aplicará a majorante. Continuará o júri competente para julgar o resto porque julgou a competência originária. 
Art. 492, CPP.
Na desclassificação própria, o juiz presidente julga imediatamente o resíduo e os conexos (tudo que está no processo). Não há aditamento, não há nova fase.  
Quando o resíduo resultar num crime de menor potencial ofensivo, para e manda para o JECRIM. 
Quando na fase da pronúncia há desclassificação, manda para outro juiz. 
Recursos
Vem a sentença. A sentença é do juiz.  
A sentença tem 2 partes: a primeira é a declaratória. Ou seja, é a vontade do júri,  mérito da causa que não cabe ao juiz, cabe ao júri. Se o júri absolver o réu, acabou. 
Se o júri condenar,  juiz dirá “em conformidade com a soberana vontade do Egrégio Conselho de Sentença,  declaro o réu condenado.”
De acordo com as respostas dada aos quesitos tem que ver o que o júri acolheu e o que não acolheu. De acordo com isso, o juiz aplicará a pena. Essa parte tem caráter constitutiva.  Ou seja, o juiz irá realizar um cálculo da pena. Esta parte deve corresponder a outra. Se não houver correspondência entre as partes na sentença, cabe recurso. Se o júri condenou por homicídio qualificado, o juiz quando aplicar a pena deve aplicar do homicídio qualificado. 
Se o júri tiver desclassificado (própria) o juiz dirá “tendo o Egrégio Conselho de Sentença afastado a sua competência para julgar, passo a decidir.“ Aí será um sentença como se fosse originariamente competente para julgar.
Via de regra, portanto, a decisão tem duas partes: parte declaratória e parte constitutiva. 
Como se resolve isso na via recursal?
O recurso clássico do processo penal é a apelação. Tem efeito devolutivo. Pode ser interposta por qualquer das partes, contanto que sucumbente.
Art. 593, III do CPP. Cabe apelação das decisões do júri em 4 circunstâncias pontuais. É preciso que se estabeleça no momento do ajuizamento do recurso qual o propósito do recorrente. No processo penal, diferentemente do processo civil, o recurso é interposto em fases, primeiro é interposto e depois o recorrente recebe um prazo para oferecimento de razões. Depois da intimação da decisão do juiz prolatada ao final, constará presente os intimados. Significa dizer que da decisão do júri, não precisa de publicação, intimação dessa sentença, é preciso que haja ao final da sentença a certidão do juiz “publicada em sessão do tribunal do juri no dia tal, presentes intimados”, a partir daí passa a correr prazo processual. 
O prazo processual é diferente do prazo penal. No prazo processual, não conta o dia do início e conta o dia do fim. Se o júri for em uma sexta feira, o prazo recursal começa a contar na segunda. São 5 dias apenas (para interpor apelação). No prazo penal, conta o dia do início e não conta o dia do fim. Prazo decadencial e prescricional é prazo penal. O prazo penal não prorroga, portanto, se o último dia caísse num domingo, automaticamente o último dia seria na sexta anterior. Tem que antecipar, pois na segunda teria operado a decadência.
O prazo recursal é 5 dias, mas somente para a manifestação do interesse de recorrer. Se pode recorrer por petição ou termo nos autos. Quando se recorrer por apelação deve colocar o fundamento do recurso, o fundamento legal. 
Prazo para interposicao da apelacao e RESE é de 5 dias. 
20 de julho de 2018
A sentença do júri, como dito, tem 2 partes: uma meramente declaratória, em que toda sentença de júri começa assim “em conformidade com a soberana vontade do E. Conselho de Sentença, declaro o réu condenado/absolvido” - esse conteúdo meramente declaratório decorre do comando constitucional, ou seja, de acordo com a carta da república que reputa exclusividade do júri para julgar crime doloso contra a vida, não podendo ninguém mais julgar. Se existir crime doloso contra a vida, a competência terá que ser do tribunal do júri, é um julgamento soberano. A questão da soberania dos vereditos é uma questão impactante e complexa. Mesmo no Brasil, a soberania plena do júri significaria não haver recurso possível e isso sempre foi hostilizado pela doutrina.Depois da CF/88, houve uma discussão intensa sobre a questão da soberania dos vereditos, porque se olharmos a possibilidade recursal das decisões do júri, existem 4 alíneas, 2 delas dizem respeito a decisão dos jurados. As outras 2 dizem respeito às decisões do juiz, ou seja, a segunda parte da sentença, a parte que não é meramente declaratória, que é a parte da pena (constitutiva). Então as alíneas “b” e “c” do dispositivo (art. 593, III, CPP) não representam nenhuma dificuldade porque cabe recurso de qualquer das partes quando a decisão do juiz presidente entrar em descompasso por alguma razão com a decisão dos jurados. Se o os jurados disseram que é homicídio simples, a pena tem que ser de homicídio simples. Se reconhecida uma privilegiadora, essa minorante tem que ser levada em conta na sentença. Mas forma de calcular a pena será privativa do juiz. E se isso não for feito corretamente, tem que ir ao tribunal para reformar. A pretensão do recurso é de reforma da decisão, para o tribunal adequar a pena. 
O que mais frequentemente leva a recurso nas hipóteses do júri diz respeito a alínea que fala sobre a pena. Ou seja, se o juiz aplicar uma pena acima daquilo que a parte considera razoável, é possível recurso para o tribunal ajustar a pena. 
A questão está nas alíneas “a” e “d”, porque aí se permite um ataque às decisões do Conselho de Sentença. Na alínea “a” não há grandes problemas, diz que é possível haver recurso pela nulidade, o pedido não é de reforma de decisão, o pedido será de nulidade. Alínea a - significa dizer que a pronúncia tem um conteúdo saneador, na medida em que todas as nulidades tidas como relativas, se perde a possibilidade de argui-las a partir do momento em que a parte, tendo conhecimento delas, não o fez, operando a preclusão. 
A lei não consegue estabelecer uma barreira entre o que seja nulidade relativa e o que seja nulidade absoluta. A nulidade absoluta é aquela que jamais convalesce, independe de prova de prejuízo. No júri, o correto é que toda e qualquer circunstância que possa ensejar nulidade tenha que ser registrado em ata. São frequente as consignações em júri porque a parte protesta em relação a determinada prática, se o juiz insiste e faz aquilo de forma diferente é preciso que conste em ata a inconformidade, porque se não constar não haverá possibilidade de arguir isso na apelação. A questão do protesto no júri - no processo penal não existe o agravo, consequentemente não existe o agravo retido. O agravo retido no processo civil é uma forma de marcar uma questão para poder discutir mais adiante, sob pena de precluir, e constituir uma nulidade relativa. No processo penal não há o agravo, a não ser na execução penal. Então, no lugar do agravo surge o protesto. É uma espécie de agravo retido,  sem contraditório, em que a pessoa consigna em ata para poder discutir.
Os tribunais têm entendido que as nulidades são relativas. Nulidade relativa depende de comprovação de prejuízo efetivo, depende de alegação oportuna. É preciso que haja manifestação de vontade da parte logo na primeira manifestação após o evento. Tudo é consignado na ata de julgamento. Se não for feito isso, e se lá depois no recurso de apelação arguir isso e o tribunal entender que trata de nulidade relativa, terá ocorrido preclusão. 
Toda nulidade ocorrida no plenário do júri que tiver implicação direta com o resultado do julgamento, será absoluta. Por exemplo, a investidura de um jurado no Conselho de Sentença que não poderia estar ali. Hoje se escrutina até a maioria, não se escrutina até a última cédula. Legisladores queria continuar com um sistema que consagrasse o 7x0. Mas o 7x0 sempre foi um problema. O sigilo das votações, previsto na CF, é assegurado antes do voto ou mesmo depois do voto? 
Uma corrente importante doutrinária diz que o sigilo é antes do voto, o sigilo que se preserva é que um jurado não fique sabendo o que o outro jurado decidiu na hora de votar. Depois não tem mais sigilo, porque se tiver possibilidade de 7x0, após saber o resultado, não terá dúvida nenhuma que todos condenaram ou absolveram. Sempre foi uma questão difícil de resolver essa do 7x0. Pra entender válido o 7x0 é preciso entender que o sigilo das votações estabelece-se somente antes e durante a votação, e não após. Mas, com o advento da reforma do CPP, não se escrutina mais até o último voto. Isso tem importância porque quando se escrutina até o último voto e se tem o resultado por maioria, havia margem para discutir a eficácia do voto de um jurado. Se num julgamento o resultado foi de condenação por 6x1, a investidura equivocada de um jurado, em tese, não teria potencialidade de mudar o resultado, porque mesmo que o voto daquele jurado fosse em outra direção, isso não alteraria o resultado. Não se sabe para que lado votou aquele jurado impedido, mas se sabe é que o voto dele não teria relevância no resultado. Hoje só se apura ate a maioria simples de 4 votos. Isso significa dizer que as nulidades ganharam importância na questão da investidura para instalação do Conselho de Sentença. Pois não há como saber se o voto daquela pessoa que não podia ser jurado foi importante ou não. Os resultados hoje são tidos por maioria. Abre-se até a 4ª cédula, e a partir do 4º voto num ou outro sentido, o juiz interrompe a votação e dá o resultado por maioria. E com isso não tem como saber se um jurado investido equivocadamente foi determinante ou não para o resultado. 
De qualquer modo, toda vez que houver uma impugnação, mesmo que considere que a nulidade é absoluta, deve constar em ata na forma de protesto, e essa impugnação assegura o direito de discutir aquilo em apelação. 
Então as nulidade são um mundo à parte. Anular um julgamento é possível em várias hipóteses, seja por nulidade relativa efetivamente arguida, nulidade absoluta. O que se vê na prática é a jurisprudência se voltar no sentido de que tem que haver prova do prejuízo, quando se tratar de nulidade relativa. 
A nulidade aproveita aquele que prejudicou, e não aquele a quem ela favoreceu. 
A nulidade relativa só pode ser arguida após a pronúncia. Quando se tratar de nulidade absoluta, poderá ser arguida a questões de antes da pronúncia. 
Pela alínea “a” é possível recorrer várias vezes, sempre que houver o motivo ali apontado. 
A alínea “d” diz que é possível recurso da decisão do júri quando o resultado for manifestamente contrário à prova. É uma hipótese muito pouco frequente. Se alguém é levado a julgamento pelo tribunal do júri, é porque alguma coisa em termos de prova existe (na fase da pronúncia o juiz tem a possibilidade de afastar, impronunciando, absolvendo sumariamente, desclassificando), então é rara a hipótese de decisão no júri que seja manifestamente contrária à prova. Assim, cassa-se o julgamento, mandando julgar de novo. Esse recurso só é possível uma única vez, de modo que, renovado o julgamento, com outros jurados, e nesse segundo se o resultado se repetir, não vai mais ser possível recorrer por essa alínea. Nenhuma das partes. 
A questão fica interessante, do ponto de vista da soberania dos vereditos, na medida em que, cassado o julgamento por decisão manifestamente contrária à prova ou anulado o júri por recurso de qualquer das partes, o réu vai a julgamento de novo, e aí surge uma questão que tem sido objeto de várias decisões conflituosas. Você tem um réu que responde processo por homicídio qualificado por motivo torpe. No dia do julgamento o júri julga e afasta a qualificadora. Condena o réu por homicídio simples. O juiz tem que aplicar a pena do homicídio simples. O MP concorda com a pena. E o advogado de defesa apela, entendendo que era legítima defesa e queria que seu cliente fosse absolvido. Digamos que o advogado ganhe o recurso para anular o júri ou que a decisão foi manifestamente contrária às provas e mande julgar de novo e o processo volta e vai a um novo julgamento. A questão é, nesse novo julgamento o réu pode ser condenado por homicídio qualificado? No processo penal tem algo que é vedado que é a reformatio in pejus,ou seja, não há reforma para piorar a situação do réu. É possível que o tribunal reconheça em favor do réu algo que não tenha sido alegado pela defesa é possível que num recurso exclusivo da acusação o tribunal julgue o recurso do promotor e melhore a situação do réu. 
O HC permite que o tribunal reconheça qualquer coisa que bem entender a favor do réu, de ofício. HC de ofício significa que não há recurso nesse sentido, não há provocação, mas a violação a direito processual ou constitucional obriga o julgador a reconhecer aquilo a favor do réu. 
Então, é possível que no recurso exclusivo da apelação, o tribunal reforme a decisão e beneficie o réu. Existe uma segunda coisa, derivada desta, que se chama reformatio in pejus indireta, significa dizer que em caso de nulidade, a situação não pode piorar. Então se o réu for condenado a uma pena de 4 anos de reclusão por um crime qualquer na comarca de origem ou juízo de primeiro grau, e se somente a defesa recorreu e se o tribunal anular a decisão, sem que tenha havido recurso da acusação, o processo vai voltar e ser julgado de novo e nesse segundo julgamento o juiz não poderá aplicar uma pena superior a 4, porque senão haveria uma reformatio in pejus indireta. 
Se anular um julgamento, como se mantém parte da soberania desses jurados? O melhor entendimento é que, na estrutura do processo penal hoje, com o MP tendo a envergadura que tem hoje no processo, se o promotor de justiça não recorrer, não é possível condenar o cara no segundo júri por uma qualificadora que foi afastada no primeiro júri. Esse entendimento é o mais razoável, apesar de que encontram-se decisões contrárias. 
Então, esse recurso cabe apenas uma vez, e ataca a parte declaratória da sentença. (pela alínea “d”). 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:             
    	I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;                    
    	II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;                 
    	III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:            
    	a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;                
    	b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;                  
    	c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;                   
    	d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.        
    	§ 1o  Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.                   
    	§ 2o  Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.                  
    	§ 3o  Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.                        
    	§ 4o  Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.  
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