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1 Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo – IESA Curso de Direito Disciplina de Processo Penal III/2016 Professor Carlos Adriano da Silva Processo penal, Constituição e Estado Democrático de Direito Processo penal ou Direito processual penal: É a única forma de aplicação da sanção penal, ou seja, o Direito penal só tem aplicação por intermédio do processo. Para que isso ocorra o processo penal se apresenta como processo de conhecimento por excelência. Acertamento sobre o fato (existência e autoria) e seu caráter criminoso, com a consequência penal. Nele teremos o confronto: jus puniendi x jus libertatis. Interesse do Estado também na liberdade. Inviável ao indivíduo abrir mão da liberdade. Então o processo é também garantia do indivíduo em face do Estado. Direito altamente constitucionalizado tendo em conta a importância dos valores em jogo. Em nosso sistema, a Constituição é fonte de validade de todo o ordenamento jurídico e assim o que não estiver conforme com ela não possui mais validade. Validade não é sinônimo de vigência. Nosso Direito é de cunho democrático, mas a maioria eventual é submetida à maioria constitucional. Só assim há um Estado de Direito que não corre o risco de se autodestruir. Ao regular o conflito punição x liberdade, o processo penal servirá também para limitar a persecução do Estado – e isso não fica ao alvedrio do legislador – legislação - ou do juiz – interpretação/aplicação. Não é ferramenta ou instrumento de segurança pública, mas sim, efetivado conforme a Constituição, a única estrutura legítima para imposição da pena (e para que se realize a repressão lícita ali estabelecida). É estrutura legítima porque fornece garantias antes de oferecer o resultado pena, caso contrário não valerá. Procedimentos penais: generalidades e classificação Processo e procedimento. Método e exteriorização. Atividade desenvolvida para “aplicar a lei ao caso” e maneira como tal atividade vai ocorrer. O processo penal se desenvolve 2 através de diversos procedimentos, os quais possuem peculiaridades relativas ao caso penal ou direito material em discussão. Classificação: art. 394, CPP – comum e especial (ou especiais). O procedimento comum se aplica a uma generalidade de infrações, em situações nas quais o direito material não exige uma adaptação do procedimento. Já os especiais são aqueles que possuem certas particularidades procedimentais, aplicando-se a infrações específicas. Procedimento Comum: abrangência e âmbito Abrangência do procedimento comum: aplicável a todos os processos, salvo disposições em contrário do próprio CPP ou de lei especial (§ 2º do art. 394, CPP). Âmbito do procedimento comum: o procedimento comum é dividido no § 1º do art. 394, CPP, tendo como critério básico a pena máxima cominada – ver incisos: Ordinário – pena máxima igual ou superior a quatro anos; Sumário – pena máxima inferior a quatro anos; Sumaríssimo – infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. Lembrar: artigos 61, 66, parágrafo único, e 77, §§ 2º e 3º, da Lei n. 9.099/95; art. 538, CPP. Atenção: Tendo em conta que a especificação entre os procedimentos comuns tem como critério principal o tamanho da pena máxima, é necessário saber a influência de circunstâncias que poderão alterar o tamanho da pena cominada ao delito que será processado. Lembrar sobre qualificadoras, majorantes e minorantes. Ausência de influência das agravantes e atenuantes. Concurso de crimes. No concurso material de crimes, o critério será o da soma das penas em abstrato. Já no caso de concurso formal ou crime continuado, a solução se dá com a exasperação (quando o resultado não for maior do que a soma). Obs.: Possível exceção no concurso de crimes: quando existirem apenas infrações de menor potencial ofensivo, independentemente da soma das penas, deverão permanecer nos Juizados Especiais, mantido o rito sumaríssimo, uma vez que o critério é espécie de delito. Ver enunciado criminal n.120 do FONAJE. Quando o caso não for de concurso apenas de infrações de menor potencial ofensivo – parágrafo único do art. 60 da Lei 9.099/95. 3 Obs.: Concurso entre delitos do comum com algum de procedimento especial – lembrar que a especialidade atenta para peculiaridades – pensar na maior amplitude do direito de defesa. Procedimento Comum Ordinário Destinado a crimes com pena máxima cominada igual ou superior a quatro anos, ausente a previsão de procedimento específico. Entre as espécies de comum, o ordinário é o básico, tendo aplicação subsidiária aos demais procedimentos do gênero comum e também aos de caráter especial – ver parágrafo 5º do art. 394, CPP. Além disso, algumas de suas disposições (artigos 395 até 397), que também pertencem ao sumário, têm aplicação imposta a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados no CPP (art. 394, parágrafo 4º, do CPP). Visão por etapas: 1. Oferecimento da denúncia ou queixa. Atendimento do art. 41 do CPP. Rol do art. 401 e § 1º do CPP. Todo pedido de prova que houver – ver art. 402, CPP. 2. Juízo de admissibilidade: rejeição (2.1) ou recebimento (2.2). 2.1. Rejeição: O art. 395 do CPP – traz as hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa: I – basicamente o não atendimento do art. 41 do CPP. Casos clássicos: denúncia genérica e denúncia alternativa. Importância de levar ao conhecimento do acusado, a imputação que lhe é atribuída. Possibilitar o exercício da defesa. II – ausência dos requisitos necessários para existência e validade do processo ou dos requisitos para obter o julgamento de mérito. III – necessidade originalmente extraída do art. 648, I, do CPP. Posição forte: ausência de um lastro probatório mínimo. Discussões: Distinção entre rejeição e não recebimento. Possibilidade de rejeição parcial da peça acusatória. 4 2.2. Recebimento: Não sendo o caso de rejeição, o juiz receberá a denúncia ou queixa e determinará a citação do réu para resposta escrita no prazo de 10 dias. Decisão fundamentada. Discussão sobre o momento do recebimento da denúncia, tendo em conta a redação do art. 399 do CPP. Três teses: A) A expressão “recebê-la-á” (art. 396, CPP) não é técnica. Recebida em mãos. O recebimento ocorreria no momento do art. 399, CPP. B) A expressão do art. 399, CPP, indica apenas a sequência do procedimento, o recebimento ocorre na ocasião do art. 396, CPP, quando não rejeitada. C) O recebimento é ato complexo. Conclusão: Com relação à primeira: Como poderia ser recebida em mãos depois de não verificar ser hipótese de rejeição? Quem faria tal verificação sem já não ter em mãos? Mais, depois dessa negativa de rejeição, determina a citação. Ora, não rejeitando, recebe e por isso manda citar, completar a relação processual. Por fim, lembrar que depois (art. 397, CPP) haverá a possibilidade de absolvição sumária. A última posição complica a questão à prescrição e sucumbe às mesmas críticas da primeira. Assim, a melhor solução é a indicada como B. 3. Resposta – Prazo: 10 dias, art. 396, CPP (ver também Súmula 710 do STF). Conteúdo: art. 396-A. O mais amplo possível. Deve requerer todas as provas, pois não haverá outro momento para requerimentos, salvo diligências cuja necessidade tenha surgido posteriormente (art. 402). Preclusão. O número máximo de testemunhas é 8, não computando as que não prestam compromisso e as referidas (art. 401 e § 1º). Não apresentada a resposta, no prazo determinado, deverá haver nomeação, com vista por 10 dias, demonstra o caráter essencial da peça (§ 2º do art.396-A). 4. Análise da possibilidade da Absolvição Sumária: absolvição sumária (4.1) ou designação de audiência de instrução e julgamento (4.2): 4.1. Absolvição sumária: Após a resposta, o juiz deverá absolver sumariamente o réu quando verificar alguma das hipóteses do art. 397, CPP. Não há previsão de vista ao MP, mas deve haver oportunidade de manifestação ministerial quando há juntada de documentos. As hipóteses de absolvição são seguras (manifestas). Pode haver absolvição sumária parcial – crime ou réu. A absolvição sumária desafia o 5 recurso de apelação (art. 593, I), salvo na hipótese da declaração de extinção de punibilidade, quando o recurso é o RSE (art. 581, VIII). Questão da inimputabilidade – aplicação de medida de segurança - na oportunidade do art. 397, CPP, não é possível a ocorrência de absolvição sumária imprópria. 4.2. Não sendo caso de absolvição sumária (AS) – art. 399, CPP – deve haver designação de audiência de instrução e julgamento (AIJ). Notificações. Acusado preso - § 1º do art. 399. Conforme o art. 400 e seus parágrafos, essa audiência será una – toda prova ali será produzida – e, no procedimento ordinário deverá ser designada no prazo de 60 dias. Questões quanto à designação de audiência. 5. Audiência de instrução de julgamento: desenvolvimento conforme o art. 400 do CPP. Vítima e testemunhas. Número e Desistência – art. 401, §§ 1º e 2º. Esclarecimentos dos peritos - § 2º. Precatórias, lembrar ressalva do art. 222, CPP. Interrogatório - último ato. Unicidade - § 1º do art. 400 – audiência una e a possibilidade de indeferimento de provas. Possibilidade de determinar a justificativa da prova. Pertinência – relação; relevância – aptidão; não protelatória – necessidade. Ainda em audiência, produzida a prova, há a questão das diligências (art. 402, CPP), que, juntamente com complexidade e número de acusados, pode determinar o encerramento do procedimento em audiência ou fora dela. 5.1. Não havendo requerimento ou sendo indeferido (art. 403, CPP) e não havendo complexidade ou número elevado de acusados (§ 3º do art. 403, CPP, a contrario), ocorrerão os debates e será proferida a sentença (art. 403, caput, CPP). Número de acusados e tempo - § 1º. Assistente - § 2º. 5.2. Ordenada diligência (art. 404, CPP) ou sendo o caso de complexidade ou número elevado de réus (§ 3º do art. 403, CPP), a audiência será encerrada sem debates. As partes, sucessivamente, apresentarão memoriais, no prazo de 5 dias (da audiência - § 3º do art. 403, CPP – ou da diligência – art. 404, CPP), e o juiz terá dez, para proferir a sentença. Identidade física do juiz: definição. Discussão. 6. Registros – art. 405 e §§, CPP. 6 Procedimento Comum Sumário Idêntico ao ordinário com algumas peculiaridades. As diferenças reduzem-se ao número de testemunhas, a existência expressa de oportunidade para requerer diligências (ordinário), prazo para realização da audiência e previsão de memoriais (ordinário). No sumário (art. 531, CPP) a audiência deverá ser realizada no prazo de 30 dias. Número de testemunhas – 5 (art. 532, CPP). O art. 533, CPP – remete aos parágrafos do art. 400, CPP. Condução coercitiva – art. 535, CPP. Relativamente ao art. 536, alguns sustentam que parece dispor que todas as testemunhas que comparecerem serão inquiridas, independentemente se de acusação ou defesa. Concentração de atos mais rigorosa que no ordinário. Porém, há a ampla defesa e o contraditório. Não há previsão de requerimento de diligências ou de substituição dos debates. Contudo, há a subsidiariedade do ordinário.