Prévia do material em texto
não entra nas minúcias históricas do pesquisador, nem procura, usando a palavra, fazer juízo específico a respeito do povo ou da localidade. g) Etimologia popular ou associativa É a tendência que o falante – culto ou inculto – revela em aproximar uma palavra a um determinado significado, com o qual verdadeiramente não se relaciona.105 Às vezes a palavra recebe novo matiz semântico sem que altere sua forma. Famigerado, por exemplo, que significa “célebre”, “notável”,106 influenciado pela ideia e semelhança morfológica de faminto, passa, na linguagem popular, a este último significado. Intemerato (= sem mancha, puro), graças a temer, é considerado como sinônimo de intimorato; inconteste (= sem testemunho) passa a sinônimo de incontestável; falaz (= falso, enganador) é aproximado de falador. Espécies de alteração semântica Espécies de alteração semântica A) Extensão do significado; B) Enobrecimento do significado; C) Enfraquecimento do significado. Extensão do significado A – Extensão do significado prédio (= propriedade rústica ou urbana inamovível) passou a designar qualquer edifício sem referência ao solo. espraiar (= jogar algo à praia) alargou o significado como sinônimo de “estender-se por larga área”. embarcar (= entrar na barca) significa hoje “entrar em qualquer condução”. aliviar (= tornar mais leve uma carga) se diz hoje como igual a “minorar”, “diminuir”, “abrandar”, uma culpa, um mal, o tempo (a chuva aliviou). 1 – Restrição ou especialização do significado a) fortuna (destino bom ou mau) especializa seu sentido na direção positiva. sucesso (acontecimento bom ou mau) passa a exprimir só o lado bom. carta (= epístola) tinha em latim o sentido de qualquer livro, papel, escrito. britar (significava “quebrar qualquer coisa”) restringiu hoje o seu significado para “quebrar pedras”. b) abreviação ou condensação: um havana (= charuto de Havana); o champanha (= o vinho de Champagne); um (a) jato (= avião a jato). 2 – Plenitude do significado Um milhão de reais já é uma quantia; José mostrou-se um homem. Enobrecimento do significado B – Enobrecimento do significado emérito (aplicado ao funcionário que se aposentava) significa hoje distinguido, ilustre. marechal (= criado do cavalo) passou a indicar o posto mais elevado do Exército. pedagogo (era o escravo que conduzia as crianças à escola); significou depois o professor ou profissional em educação. 3 – Degradação do significado (Pejorativos) vilão. libertino (= escravo liberto) passou a indicar o indivíduo devasso, sem pudor. libidinoso (= que segue seu capricho) significa hoje o dissoluto. valetudinário (= de boa ou má saúde ou compleição) significa hoje só à má parte Enfraquecimento do significado C – Enfraquecimento do significado O emprego contínuo de uma palavra provoca a diminuição de sua energia semântica, mormente nas expressões afetivas. Bajular era “levar alguém às costas”, o que enfatiza a ideia de servidão que tinha a palavra no início do seu emprego em expressões como “bajular o chefe”. Pequena nomenclatura de outros aspectos semânticos Pequena nomenclatura de outros aspectos semânticos 1) Polissemia – É o fato de haver uma só forma (significante) com mais de um significado unitário pertencentes a campos semânticos diferentes. Ou, em outras palavras, a polissemia é um conjunto de significados, cada um unitário, relacionados com uma mesma forma. Portanto, não se pode ver a polissemia como “significados imprecisos e indeterminados”, porque cada um desses significados é preciso e determinado: pregar (um sermão) – pregar (= preguear uma bainha da roupa) – pregar (um prego) manga (de camisa ou de candeeiro) – manga (fruto) – manga (= bando, ajuntamento) – manga (parede) cabo (cabeça, extremidade, posto na hierarquia militar) – cabo (= parte de instrumento por onde esse se impunha ou utiliza: cabo da faca) A polissemia é, portanto, um fato de língua. É preciso não confundir a polissemia léxica ou homofonia107 com variação semântica ou polivalência no falar (fato de fala), que consiste na diversidade de acepções (sentidos) de um mesmo significado da língua segundo os valores contextuais, ou pela designação, isto é, graças ao conhecimento dos “estados de coisas” extralinguísticos: Como lembra Coseriu, “antes de optar pela homofonia, dever-se-á perguntar se não se trata de variação (semântica): em todos os casos em que as homofonias ou polissemias não sejam evidentes (por exemplo, por se tratar de formas que pertencem a paradigmas diversos) (...), há de se buscar primeiro aquilo que caracteriza as línguas, isto é, invariantes de significado ou “significado unitário”. E só quando se mostre absolutamente impossível “reduzir” todas as acepções de uma forma a um valor unitário de língua, será lícito admitir homofonia (...)” [ECs.1, 206; AV.1, 101-102]. Nota de nomenclatura: A tradição gramatical e os linguistas divergem na conceituação de polissemia e homonímia, criada ao tempo da linguística diacrônica. Por polissemia entende a tradição a “propriedade da significação linguística de abarcar toda uma gama de significações, que se definem e precisam dentro de seu contexto” [MC.4]. Exemplifica com a preposição a (significação gramatical) e a palavra andar (significação lexical): ir a Lisboa, andar a pé, falar a Pedro ; andar a largos passos, andar de automóvel, andar doente. 2 ) Homonímia – Já por homonímia entende a tradição: “propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação; como exemplo: um homem são; São Jorge; são várias as circunstâncias (...) Ela é possível sem prejuízo da comunicação em virtude do papel do contexto na significação de uma forma, como sucede com são nos exemplos dados [MC.4, s.v.]. Dentro da homonímia, alude-se, em relação à língua escrita, aos homófonos distinguidos por ter cada qual um grafema diferente, de acordo com o sistema ortográfico: coser ‘costurar’; cozer ‘cozinhar’; expiar ‘sofrer’; espiar ‘olhar sorrateiramente’; sessão ‘ato de assistir’; cessão ‘ato de ceder’; cela ‘quarto para enclausuramento’; sela ‘peça de arreio’[MC.4, s.v.]. O mesmo linguista aponta o artificialismo do conceito de homógrafos, “formas que se escrevem com as mesmas letras mas correspondendo elas a fonemas distintos, pois já não se trata evidentemente de homônimos da língua, cuja essência são as formas orais” [MC.4, s.v.]. Todos apontam a dificuldade de nem sempre se poder distinguir a polissemia da homonímia. Têm sido propostos alguns critérios para aclarar se se trata de uma mesma palavra com dois ou mais significados diferentes (polissemia) ou de duas palavras distintas com idênticos fonemas (homonímia): a) critério histórico-etimológico – é o que fazem, em geral, os nossos dicionários; b) a consciência linguística do falante; c) critério das relações associativas; d) critério dos campos léxicos. Todos estes critérios estão sujeitos a críticas, como resenhou exaustivamente Geckeler [HG.1, 146-158]. Em erudito artigo, Coseriu chega, cremos, à correta interpretação da polissemia, na análise que faz do ensinamento de Aristóteles e resumo crítico desse artigo em AV.1, 92-107. 3 ) Sinonímia – É o fato de haver mais de uma palavra com semelhante significação, podendo uma estar em lugar da outra em determinado contexto, apesar dos diferentes matizes de sentido ou de carga estilística. casa, lar, morada, residência, mansão Um exame detido nos mostrará que a identidade dos sinônimos é muito relativa; no uso (quer literário, quer popular), eles assumem sentidos “ocasionais” que no contexto um não pode ser empregado pelo outro sem que se quebre um pouco o matiz da expressão. Uma série sinonímica apresenta-se-nos com pequenas gradações semânticas quanto a diversos domínios: o sentido abstrato ou concreto; o valor literário ou popular (fenecer / morrer); a maior ou menor intensidade de significação (chamar / clamar/ bradar / berrar); o aspecto cultural (escutar/auscultar) e tantas outras. 4 ) Antonímia – É o fato de haver palavras que entre si estabelecem uma oposição contraditória (vida; morte) , contrária (chegar; partir) ou correlativa (irmão; irmã) [JK.1 apud HGe.1, 288 n.23]. Já Lyons [JLy.1 apud HGe.1, 291] entende que se podem distinguir três subconceitos do que se há de compreender por antonímia em sentido amplo: a) complementaridade (a negação de uma implica a afirmação da outra e vice-versa: João não está casado implica que João é solteiro; João está casado implica que João não é solteiro); b) antonímia (opostos por excelência: grande : pequeno); c) correlação (comprar : vender; marido : mulher). Quanto à sua manifestação constitucional, Mattoso cita os três aspectos diferentes: a) mediante palavras de radicais diferentes: bom : mau; b) com auxílio de um prefixo negativo em palavras do mesmo radical: feliz : infeliz; legal : ilegal; político : apolítico; c) palavras que têm prefixos de significação contrária: excluir : incluir; progredir : regredir; superpor : soto-pôr. Às vezes, a negação serve para atenuar a oração afirmativa: Pedro não está bem : Pedro está mal. Às vezes ocorre a antonímia porque a palavra apresenta valor ativo e passivo: 5) Paronímia – É o fato de haver palavras parecidas na forma e diferentes no significado: Os parônimos dão margem a frequentes erros de impropriedade lexicais: C) Estrutura do enunciado ou período. A oração e a frase 1 – A Oração e as Funções Oracionais Enunciado ou período Enunciado ou período – Toda a manifestação da linguagem com vistas à comunicação com nossos semelhantes se constrói com uma sequência de unidades delimitadas por um silêncio que precede o início dessa atividade e o que se lhe segue, acompanhada de contorno melódico, também chamado curva de entoação e normalmente marcada, na escrita, pelos sinais de pontuação e pelo emprego da maiúscula inicial: O galo-da-campina ergue a poupa escarlate fora do ninho. A esta unidade linguística que faz referência a uma experiência comunicada e que deve ser aceita e depreendida cabalmente pelo nosso interlocutor se dá o nome de enunciado ou período. Há enunciados relativamente curtos, como o do nosso exemplo, ou ainda mais curtos, como Sim ou Vou, e há os que se dilatam por muito maior extensão: O galo-da-campina ergue a poupa escarlate fora do ninho e seu límpido trinado anuncia a aproximação do dia. Conforme a realidade designada, os enunciados se apresentam com formas variadas: 1. Os homens desejam a paz. 2. Ela não trabalha aos sábados. 3. Muitas crianças viram os pássaros. 4. Bebel gosta do colégio. 5. O chefe dará oportunidades aos jovens. 6. O sol é um astro luminoso. 7. Chove muito no verão. 8. Relampeja. 9. Que achou você da festa? 10. Eles ainda não chegaram?! 11. Vivam os campeões! 12. Que calor! 13. Depressa! Apesar de tão variadas formas por que se apresentam os enunciados, há traços comuns que devem ser ressaltados [AL.1, 256]: a) são mensagens completas e de acordo com a situação em que se acham falante e ouvinte; b) são unidades sequenciais delimitadas por um silêncio precedente a ele e uma pausa final; c) são proferidos com um contorno melódico particular. Esta curva de entonação é o significante ou expressão material que evoca a modalidade de intenção comunicativa do enunciado (significado ôntico) que o falante quer transmitir ao seu interlocutor: a) ou para lhe expor, afirmando ou negando, certos fatos (Pedro estuda. Pedro não estuda.); b) ou para indagar sobre algo (Pedro estuda? Pedro não estuda? Quem chegou?); c) ou para apelar-lhe, em geral, atuando sobre ele (Dê-me o livro. Não me dê o livro. Volte cedo.); d) ou para chamar-lhe a atenção (Ó Pedro.); e) ou para traduzir-lhe os próprios pontos de vista ou sentimentos (Que prazer! Como está frio!). Assim, quanto à significação fundamental do enunciado, temos cinco tipos ou classes essenciais deles: declarativo ou enunciativo, interrogativo, imperativo-exortativo, vocativo e exclamativo, dos quais o primeiro corresponde à função representativa – informativa da linguagem, os três seguintes à função apelativa e o último à função expressiva [HC.1, s. v. Frase]. Entre o primeiro e o segundo tipos há maior afinidade do que entre o primeiro e os restantes. Talvez porque o primeiro encerre o aspecto ou papel fundamental da intenção comunicativa da linguagem, é considerado o enunciado típico – base do impulso inicial da especulação gramatical pela lógica grega –, do qual os outros tipos são considerados derivados ou ao qual todos os outros tipos se podem reduzir. Por isso é que a unidade linguística, dentro desta concepção original, recebe o nome de enunciado; na tradição gramatical brasileira, período. Oração e frase Oração e frase – Entre os tipos de enunciados há um conhecido pelo nome de oração que, pela sua estrutura, representa o objeto mais propício à análise gramatical, por melhor revelar as relações que seus componentes mantêm entre si, sem apelar fundamentalmente para o entorno (situação e outros elementos extralinguísticos) em que se acha inserido. É neste tipo de enunciado chamado oração que se alicerça, portanto, a gramática, e será especificamente dela que trataremos a seguir. Mas antes devemos adiantar que o enunciado também aparece sob forma de frase, cuja estrutura interna difere da oração porque não apresenta relação predicativa. São às vezes simples palavras, outras vezes uma reunião delas, que são transpostas à função do enunciado. Em nosso exemplário anterior, constituem frases os seguintes enunciados: Depressa! Que calor! Mais adiante trataremos desse tipo de enunciado com mais atenção. A oração se caracteriza por ter uma palavra fundamental que é o verbo (ou sintagma verbal) que reúne, na maioria das vezes, duas unidades significativas entre as quais se estabelece a relação predicativa – o sujeito e o predicado: Sujeito Predicado Pedro estuda. Pedro não estuda. Comparemos agora as seguintes possibilidades: Eu estudo português às segundas-feiras no horário da manhã. Eu estudo português às segundas-feiras. Eu estudo português. Eu estudo. Estudo. Nas possibilidades acima, o único constituinte indispensável foi o verbo estudo, o que o fa z núcleo da oração, enquanto os outros constituintes são adjacentes ao núcleo. Esta adjacência não guarda a mesma relação entre os diversos constituintes da oração, pois a relação entre o sujeito eu é mais estreita com o verbo estudo que os demais. Mas a relação predicativa pode ser referida a um sujeito, como em Eu estudo, ou não referida, como Chove. Por isso, nem mesmo o sujeito é um constituinte imprescindível da oração e, por conseguinte, da relação predicativa, embora a sua presença ao lado do verbo pessoal constitua o tipo mais frequente – diríamos até a estrutura favorita – de oração em português. Em Chove, o verbo flexionado na 3.ª pessoa – marca o sujeito gramatical, isto é, assinalado apenas gramaticalmente, mas temos uma relação predicativa não referida, pois não admite sujeito explícito. Diz-se que o verbo é impessoal e a oração é sem sujeito explícito. A chamada 3.ª pessoa é a não pessoa, é a não eu nem meu interlocutor, e assim é a forma utilizada para indicar a relação predicativa não referida, isto é, as orações sem sujeito explícito. Sujeito e predicado Sujeito e predicado – O primeiro grupo natural corretamente identificado exerce uma função sintático-semântica chamada SUJEITO, e o segundo grupo exerce outra função sintático-semântica chamada PREDICADO. Sujeito Predicado Os homens desejam a paz. Eu trabalho como professor. Muitas crianças viram os pássaros O bom filho compreende o esforço dos pais O sol é um astro luminoso. Conhecendo melhor o sujeito: núcleo e determinantes Conhecendo melhor o sujeito: núcleoe determinantes 108 – Chama-se sujeito à unidade ou sintagma nominal que estabelece uma relação predicativa com o núcleo verbal para constituir uma oração. É, na realidade, uma explicitação léxica do sujeito gramatical que o núcleo verbal da oração normalmente inclui como morfema número-pessoal. Em: Eu estudo no colégio e eu e dois irmãos brincamos no clube, os núcleos verbais das duas orações estudo e brincamos incluem os morfemas –o (estud-o) e –mos (brinca-mos), que indicam os sujeitos gramaticais “1.ª pessoa do singular” e “1.ª pessoa do plural”, respectivamente. Estes sujeitos gramaticais, quando necessários ao melhor conhecimento da mensagem veiculada no texto, podem ser explicitados por formas léxicas que guardam com os sujeitos gramaticais a relação gramatical de concordância em número e pessoa. Assim é que em Eu estudo, eu, pronome de 1.ª pessoa do singular, se acomoda à indicação do morfema –o, indicador, nos verbos, da 1.ª pessoa do singular no presente do indicativo: Já em brincamos, o sujeito gramatical “1.ª pessoa do plural” está indicado pelo morfema –mos. Este sujeito inclui necessariamente a pessoa que fala (eu), mas abre um amplo leque de pessoas que com ela participam do processo indicado pelo lexema brincar: Eu e meu vizinho Eu e minha colega Eu e os primos, etc. Por isso, sente o falante a necessidade de explicitar, de indicar claramente a que pessoas ele quer referir-se: Eu e dois irmãos brincamos no clube. Vê-se, então, que não se pode falar, a rigor, de elipse do sujeito, quando aparece apenas o núcleo verbal da oração (Estudo, Brincamos), já que ele aparece sempre presente na forma verbal flexionada no morfema que representa o sujeito gramatical (1.ª, 2.ª e 3.ª pessoas, do singular ou plural). Trata-se, pelo contrário, da sua expansão ou não, mediante o sujeito explícito, fato que não está mais na exigência da gramática (quando há, é claro, relação predicativa referida, mas do texto, para a transmissão efetiva e clara da mensagem). Sujeito é uma noção gramatical, e não semântica, isto é, uma referência à realidade designada, como ocorre com as noções de agente e paciente. Assim, o sujeito não é necessariamente o agente do processo designado pelo núcleo verbal, como se patenteia em: Machado de Assis escreveu extraordinários romances. O sujeito pode representar o paciente desse processo: Extraordinários romances foram escritos por Machado de Assis. O sujeito, quando explicitado ou claro na oração, está representado – e só pode sê-lo – por uma expressão substantiva exercida por um substantivo (homem, criança, sol) ou pronome (eu) ou equivalente. Diz-se, portanto, que o núcleo do sujeito é um substantivo ou equivalente. Uma palavra não é substantivo porque pode exercer a função de sujeito; ao contrário, só pode ser sujeito porque é um substantivo ou equivalente. A característica fundamental do sujeito explícito é estar em consonância com o sujeito gramatical do verbo do predicado, isto é, se adapte (isto é, concorde) a seu número, pessoa e gênero (neste caso quando há particípio no predicado): Eu nasci. Nós nascemos. Elas não eram nascidas. O reconhecimento seguinte do sujeito se faz pela sua posição normal à esquerda do predicado, bem como por responder às perguntas quem? (aplicado a seres animados), que? o quê? (aplicado a coisas), feitas antes do verbo. José escreveu uma bela redação. Quem escreveu uma bela redação? – José O livro caiu. Que caiu? – O livro. Muitas vezes a expressão substantiva núcleo do sujeito – ou de qualquer função que tem por núcleo uma expressão substantiva – se faz acompanhar de determinantes que têm por papel expressivo dizer algo acerca de algo com signos da língua, isto é, com instrumentos verbais da língua. Assim, para ficarmos só nos limites do grupo natural representado pelo sujeito de enunciados, os determinantes dos núcleos substantivos são: os (homens), muitas (crianças), o e bom (filho), o (sol). Determinantes, pré-determinantes e pós-determinantes 1) Determinantes, pré-determinantes e pós-determinantes O exemplo da oração: O bom filho compreende o esforço dos pais nos põe diante da possibilidade de estar o núcleo substantivo que funciona como sujeito explícito acompanhado de mais de um determinante (o e bom). Nestes casos, a língua portuguesa conhece determinantes que podem figurar antes de outro determinante (os pré- determinantes) e os que podem figurar depois de outro determinante (os pós-determinantes). Os determinantes estão, em geral, representados pelas seguintes classes de palavras: adjetivo, artigo e pronome demonstrativo ou equivalentes de adjetivos (estes veremos mais adiante): Noites claras prenunciam bom tempo. O livro está esgotado. Esta manhã prometia chuva. Na sequência de determinantes, aparecem como pré-determinantes, à esquerda do determinante, as palavras que podem receber globalmente o nome de Quantificador (algum, certo, vários, todo, todos, qualquer, alguns (de), vários (de), etc.: Alguns bons momentos são inesquecíveis. Todos os alunos saíram. Alguns de nós não foram à festa. Aparecem como pós-determinantes, isto é, as palavras que ocorrem à direita do determinante e do pré-determinante, o pronome possessivo e o numeral: Os seus livros não estavam na estante. Aqueles dois erros eram graves. Vários de meus sobrinhos são engenheiros. Aqueles dois seus vizinhos trabalham no comércio. Antes de passarmos à descrição dos termos sintáticos integrantes da oração em português, precisamos falar de algumas noções que se fazem necessárias a que tal tarefa se realize o mais adequadamente possível. Estas noções dizem respeito a termos nucleares e marginais e termos argumentais e não argumentais, termos opcionais e não opcionais, e, finalmente, termos integráveis e não integráveis. Termos nucleares e marginais 2) Termos nucleares e marginais Numa oração como: Graciliano falou de temas universais em seus romances, além de Graciliano e falou, que são núcleos do sujeito e do predicado, temos os termos de temas universais e em seus romances, que se dizem nucleares, do ponto de vista sintático- semântico, porque estão intimamente referidos à relação predicativa, já que de temas universais explicita aquilo de que falam os romances de Graciliano Ramos, enquanto em seus romances faz alusão ao tipo de escritos nos quais o autor fala desses temas. Já em: Certamente, Graciliano viveu experiências amargas, durante sua vida, muitas experiências amargas e durante sua vida são nucleares, porque também estão intimamente ligados, pelas relações sintáticas e semânticas, à função predicativa da oração, que tem por núcleo o verbo viveu. Tal não ocorre, porém, com o termo certamente, que não está referido nem somente ao sujeito nem somente ao predicado, mas a toda a oração. Esta independência sintática e semântica lhe permite deslocar-se livremente nos limites da oração: Certamente, Graciliano viveu experiências amargas durante sua vida. Graciliano, certamente, viveu experiências amargas, durante sua vida. Graciliano viveu, certamente, experiências amargas durante a sua vida. Graciliano viveu experiências amargas, certamente, durante a sua vida. Graciliano viveu experiências amargas durante a sua vida, certamente. Este termo certamente, verdadeiro comentário à parte do narrador, se considera um termo marginal da frase, de que nos ocuparemos mais adiante. Termos argumentais e não argumentais 3) Termos argumentais e não argumentais – Se os termos nucleares se referem sintática e semanticamente à relação predicativa da oração, eles nem sempre o são no mesmo grau de coesão e de dependência ou subordinação. Assim, na oração: Graciliano conheceu experiências amargas durante sua vida, experiências amargas e durante sua vida, já o dissemos, são termos nucleares, mas o primeiro (experiências amargas) está mais estreitamente ligado ao conteúdo do pensamento designado pelo verbo conhecer do que o termo durante sua vida. Dizemos, então, que o termo nuclear experiências amargas é também um termo argumental ou éum argumento, porque aparece solicitado ou regido pelo significado lexical referido pelo verbo conheceu. Já o termo durante sua vida não está condicionado pelas relações sintáticas e semânticas do mesmo verbo; por isso pode não aparecer na referida oração, sem que esta se prejudique na sua estruturação sintático-semântica: Graciliano conheceu experiências amargas, As Unidades no Enunciado B� 5 – Alterações Semânticas Espécies de alteração semântica Extensão do significado Enobrecimento do significado Enfraquecimento do significado Pequena nomenclatura de outros aspectos semânticos C� 1 – A Oração e as Funções Oracionais Enunciado ou período Oração e frase Sujeito e predicado Conhecendo melhor o sujeito: núcleo e determinantes Determinantes, pré-determinantes e pós-determinantes Termos nucleares e marginais Termos argumentais e não argumentais