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FUNDAÇÕES 
Teoria e prática 
Editores 
W a l d e m a r H a c h i c h , Freder ico F. Fa lconi , J o s é Luiz Saes, Régis G . Q . Frota, 
Ce lso S. C a r v a l h o e S u s s u m u N i y a m a 
FUNDAÇÕES 
Teoria e prática 
Editores 
Waldemar Hachich, Frederico F. Falconi, José Luiz Saes, Régis G. Q. Frota, 
Celso S. Carvalho e Sussumu Niyama 
FUNDAÇÕES: TEORIA E PRÁTICA 
© Copyright Editora Pini Ltda. 
Todos os direitos de reprodução ou tradução reservados pela Editora Pini Ltda. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação [CIPJ 
[Câmara Brasileira do Livro, SR Brasil) 
Fundações : teoria e prática. — 2. ed. - - S ã o 
Paulo: Pini, 1998. 
Vários autores. 
Vários editores técnicos 
Bibliografia. 
ISBN 85-7266-098-4 
1. Fundações 
98-3216 CDD-624.15 
índices para catálogo sistemático: 
1. Engenharia de fundações 624.15 
2. Fundações : Engenharia 624.15 
Coordenação dc livros: Raquel Cardoso Reis 
Projeto gráfico e serviços editoriais: d'AZ F.ditoração Eletrônica S/C Lida. 
Paginaçào (24' edição ): Lúcia Lopes 
Capa: Lúcia Lopes 
Revisão: Roberto Carlcssi 
Editora Pini Ltda. 
Rua Anhaia. % 4 - CEP OI 130-900 São Paulo. SP 
1-Vnc:0l I 3352-6400-Fax OI l 3352-7587 
Internet: www.piniweb.com- l£-mnil: manuais@pini.com.br 
2 3 e d i ç ã o 
9 a t i ragem: 1 0 0 0 exemp la re s , abr/09 
mailto:manuais@pini.com.br
Este livro é fruto d c uma feliz c o m b i n a ç ã o de idéias e estímulos 
das diretorias d c duas associações : a ABMS, através do Núcleo 
Regional de São Paulo, e a ABEF. 
Alguns de nós temíamos inicialmente q u e o empreendimento 
fosse por demais ambicioso. Afinal, ainda não existia no Brasil 
um livro completo de Fundações. Reunir as contribuições d c muitos 
autores era c o m o tentar reger uma orquestra cujos músicos estives-
sem espalhados pelo País. Para complicar, havia seis maestros... 
Antes de mais nada, era necessário conseguir que os editores 
tivessem uma visão mais ou m e n o s consensual d o livro. Em diver-
sas reuniões realizadas na sede da ABMS nacional os regentes 
conseguiram uniformizar razoavelmente sua visão da obra. O con-
teúdo deveria ser o estado-da-arte d c c o n c e p ç ã o , análise, projeto, 
e x e c u ç ã o e monitoração de fundações no Brasil; seria um livro 
c o m um significativo apelo prático, s e m perder d e vista a base 
conceituai teórica. Quanto à forma, deveria ser um texto de referên-
cia bastante completo, mas suficientemente articulado para atender 
também a sua tão necessária utilização como livro didático. 
O livro foi organizado e m c inco partes e vinte capítulos. A pri-
meira parte é uma síntese dos fundamentos da Mecânica dos So-
los, indispensáveis ao exerc íc io de uma boa Engenharia de Fun-
dações . A segunda parte trata das fundações e m todas as suas 
múltiplas facetas. C o m o obras de fundações são, e m geral, a c o m -
panhadas de escavações e contenções , a elas foi dedicada a ter-
ceira parte. Da mesma forma, as obras complementarcs da quarta 
parte são por vezes indispensáveis para a e x e c u ç ã o das funda-
ções . Finalmente, a quinta parte trata de um tema cada vez mais 
essencial para preservar a competit ividade: a qualidade, seus re-
quisitos c procedimentos. 
A escolha dos músicos foi, talvez, a parte mais fácil da tarefa, 
visto q u e a capaci tação disponível no País era até muito maior do 
q u e as possibilidades de a c o m o d a ç ã o n o tamanho previsto para o 
livro. A preocupação de obter co laborações as mais significativas 
para a obra, viessem elas de o n d e viessem, levou ao convite a 
autores das mais diversas regiões, apesar das dificuldades logísticas. 
Ainda assim, desculpamo-nos pelas inevitáveis omissões . 
Nossa preocupação c o m a qualidade das contribuições nos le-
vou a formar uma orquestra de verdadeiros solistas (não, este não 
é um abominável trocadilho)! Nessas condições , é evidente q u e o 
maestro (maestros, no c a s o ) tem q u e exercitar plenamente as suas 
— oxalá existentes! — habilidades no relacionamento humano, 
posto q u e os solistas s ã o músicos muito mais graduados e experi -
entes d o q u e o próprio maestro, E este livro só foi possível graças 
à e n o r m e c o l a b o r a ç ã o dos 50 autores q u e emprestaram seu bri-
lho, e n o r m e talento e a indispensável transpiração para levar a 
b o m termo a tarefa solicitada pelos editores. 
Escolhidos os músicos, era necessário transmitir a cada um de-
les a sua partitura e uma idéia da partitura dos demais, bem c o m o 
tentar estimular o contato direto entre eles para a troca de idéias 
sobre a interpretação da obra. Instruções mais ou menos porme-
norizadas foram redigidas c diversas reuniões foram promovidas 
com grupos d e autores, na tentativa de discutir com eles o tom da 
obra. A presença dos autores a essas reuniões foi significativa mas 
não total, exatamente devido às dificuldades logísticas e às limita-
ç õ e s de o r d e m e c o n ô m i c a . 
Alguns autores, porém, entusiasmaram-se tanto com o empre-
e n d i m e n t o q u e até participaram de várias outras reuniões dos 
editores, o f e r e c e n d o desinteressadamente a contribuição valiosa 
da sua exper iência . A eles, os nossos agradecimentos. 
O s prazos para entrega dos capítulos foram estabelecidos e co-
meçou o q u e seria o primeiro ensaio. Pretendia-se então que um 
segundo, tão e x t e n s o quanto o primeiro e fundamentado nos re-
s u l t a d o s d e s t e , a j u d a s s e a e l iminar e v e n t u a i s d i s s o n â n c i a s , 
d e s c o m p a s s o s e, se possível, permitisse até m e s m o compatibilizar 
nuances subjetivas d c interpretação. 
Alguns pou c os autores cumpriram os prazos à risca. Muitos se 
atrasaram um pouco . Alguns se atrasaram muito! Estávamos pre-
parados para essa s i tuação e procuramos gerenciá-la de forma 
flexível, pois b e m sabíamos q u e as contribuições dos autores eram 
fruto exc lus ivo da sua boa vontade, e q u e a responsabilidade da 
obra os obrigava a significativos sacrifícios da sua rotina de traba-
lho c u de lazer. 
Adiamos a o máximo o final da primeira etapa e, em conseqüên-
cia. fomos forçados a reduzir a o mínimo indispensável a revisão 
compatibi l izadora dos consultores da Comissão Editorial. Estáva-
mos c ientes d c q u e isso redundaria cm um certo prejuízo para a 
unidade da obra e para a articulação dos diversos capítulos. 
Autores que haviam cumprido os prazos foram forçados a esperar 
muito até obterem alguma manifestação da Comissão Editorial, que 
tinha que aguardar a entrega das demais contribuições para tentar 
promover uma melhor integração. Foi-lhes solicitado, em segui-
da, q u e promovessem as alterações sugeridas pela Comissão Edi-
torial c m prazo extremamente exíguo. Em todas as circunstâncias 
c o n t a m o s c o m notável e m p e n h o e espírito de colaboração. Se às 
vezes divergimos de les em algum "pianiss imo" ou "staccato" , 
curvamo-nos e m geral a o seu virtuosismo. 
A obra c o m e ç a v a a soar d c forma agradável, mas acima de tudo 
era indispensável encontrar quem patrocinasse a primeira tempo-
rada. Afortunadamente, encontramos um mecenas que, com espí-
rito nobre c grande desprendimento, p e r c e b e n d o o enorme valor 
do projeto para o meio técnico e para a Engenharia Geotécnica 
nacional, do alto dos seus quase 8 0 anos, mais d c 50 dedicados à 
Engenharia, assumiu o patrocínio. A ele, nosso reconhecimento. 
t 
4 
Esta magnífica obra d e Engenharia d e Fun-
dações , q u e ora vem a lume, procurou reunir 
num único tratado, através das contr ibuições 
dos nossos maiores especialistas, o q u e de 
melhor se pratica n o Brasil neste c a m p o . 
É portanto um marco da nossa Engenharia. 
Para propiciar a fruição de suas excepc io -
nais qualidades, pelo meio técnico nacional e 
principalmente pelo m e i o universitário, fazia-
se mister torná-la acessível a o público inte-
ressado. 
Pe lo a lentado da obra, bem poucos pode-
riam adquiri-la, a menos q u e houvesse um 
patrocinador que , por amor e dedicação à En-
genharia,assumisse o s ô n u s de sua impres-
são. 
Este benemér i to surgiu na pessoa d o Sr. 
Pelerson Soares Penido, diretor-presidente da 
Serveng Civilsan S/A Empresas Associadas de 
Engenharia, c u j o perfil tentaremos e s b o ç a r a 
seguir: 
A personalidade d o Dr. Penido se define 
c o m o a de um h o m e m modesto , cora joso , 
empreendedor . Enfim, possui as qualidades 
d e um líder. 
O seu lema de trabalho é sempre concre to 
e árduo, jamais utópico. Sempre transforma 
suas idéias e m realizações. 
A s u a f o r ç a d e l í d e r , o b s t i n a d o e 
autoconfiante, arrosta qualquer perigo quan-
d o se trata d e defender o progresso. 
A sua estrela sempre brilha e ilumina o 
c a m i n h o dos q u e o seguem. 
Mas o grande segredo d o Dr. Penido, resi-
de em sua larga exper iência n o c a m p o da 
Engenharia . 
A e s s e respeito, ele relata estórias interes-
santíssimas de sua militância, desde a cons-
trução dos túneis para a Segurança Nacional 
e postos de observação dos fortes Jurubatuba, 
Santa Cruz e São J o ã o no Rio de J a n e i r o no 
tempo da Segunda Guerra Mundial, até a cons-
trução do Porto do Itaqui, n o Maranhão, pas-
sando pela reforma da Escola Nacional d e 
Engenharia e construção de seu anfiteatro, da 
capi ta l d e G o i á s e da rodovia Anápol i s -
Tocantins, além d e muitas outras. 
Ampliou seu c a m p o d e ação e hoje tam-
bém atua no setor imobiliário, no transporte 
d e passageiros, através da Empresa de Ôni-
bus Pássaro Marrom S/A, na pecuária e na 
comercia l ização d c veículos. 
D e 1964 a 1965 o c u p o u c o m competênc ia 
o cargo de Secretário de Obras na Secretaria 
de Serviços e Obras Públicas do G o v e r n o do 
Estado d c S ã o Paulo. 
As pessoas q u e no futuro tiverem a fe lk 
dade de computar esta notável obra de Enge-
nharia d c Fundações certamente haverão de 
se lembrar q u e foi graças à bcnemerencia de 
Pelerson Soares Penido, empresário emérito, 
q u e esta magnífica obra p ô d e ser amplamen-
te divulgada. 
ABMS-Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica 
Diretoria ( 1 9 9 4 - 1 9 9 6 ) 
Presidente: 
Secretário: 
Tesoureiro : 
Secretário execut ivo: 
Sussumu Niyama 
Marcus P. Pacheco 
Artur Rodrigues Quaresma Filho 
Akira Koshima 
Diretoria ( 1 9 9 4 - 1 9 9 6 ) do Núcleo Regional de São Paulo (NRSP): 
Presidente: 
Vice-presidente: 
Secretário : 
Tesoure i ro : 
Secretário execut ivo: 
Waldemar Hachich 
J o s é Carlos Ângelo Cintra 
Celso Santos Carvalho 
Frederico Falconi 
Régis G. Q. Frota 
ABEF-Associaçao Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Gcotecnia 
Diretoria ( 1 9 9 3 - 1 9 9 5 ) 
Presidente 
Vice-Presidcntc 
Secretário geral 
Diretor 
Diretor 
J o s é Luiz Saes 
Roberto Carlos Nahas 
Núncio Petrella 
Juvenal O. Miller 
J o s é Carlos Peçanha 
Diretoria ( 1 9 9 5 - 1 9 9 7 ) 
Clovis Salioni 
Armando Caputo 
Clovis Ashcar 
Heitor Manrubia 
Walter lório 
Presidente 
Vice-Presidente 
Diretor de eventos 
Diretor financeiro 
Diretor de relações com o mercado 
PREFACIO 
VICVORF. B. DE MELLO 
Prefaciar um livro d c iniciativa tão corajosa e valiosa constitui um desafio, 
de lào grave responsabil idade quanto dese jadamente útil seja a obra . 
Relatar c registrar com crítica construtiva um passado, um acervo tão grande, 
é indispensável; mormente num País-contincntc, jovem, incumbido de incorpo-
rar a solos geologicamente muito diferentes os ensinamentos convencionais 
teórico-práticos de outras geografias físicas e de idealizações acadêmicas. A falta 
de um Livro Texto minimamente ajustado e adequado às necessidades locais foi-
se agravando de postergação em postergação, enquanto as pressões imediatistas 
de construção foram sendo atendidas. Parece chegada uma hora propícia. 
Não há Presente confortável nem Futuro f e c u n d o s e m c o n h e c i m e n t o e 
reconhec imento respeitoso das l ições d o Passado. Por outro lado. é necessá-
rio enfatizar o s males e riscos de uma c o n s i g n a ç ã o estática, numa c o n d i ç ã o 
de dinâmica acelerada de revisões c avanços por todo lado. 
Existe porventura alguma lacuna na Teorizaçào aplicável a Fundações? Exis-
tiria porventura uma Teoria de Fundações q u e viesse a ser diferente e particu-
larizada para o Brasil, q u e não seja diretamente a mesma de todo o mundo? 
Não. Portanto, a lacuna dc uma nova, renovada, síntese da Teoria de Funda-
ç õ e s c mundial, internacional, devido ao acelerado acúmulo de incrementos 
de informações provido pelas incontáveis p u b l i c a ç õ e s de artigos técnicos . A 
lacuna pecul iar a o Brasil neste a s pe c to c liminar, da inexistência de um 
b o m livro d c texto, c m síntese crítica abrangente c e m nosso idioma. 
E quanto às Práticas empregadas c c m emprego atual n o Brasil? Quanto a o 
registro dc obras-tipo c obras notórias (Case Histories), frisemos... l>om. neces-
sário, fácil! Rcsguardcmo-nos, porém, da tendência d c gerar conceituação dc 
que o que foi feito certo... podendo ser (e tendendo a ser) conservativo: portanto, 
nào no nível mais econômico c no limiar aceitável da eventual impunidade. 
Qual. então, a principal lacuna? A mesma que se registra c m todo o mundo de 
vanguarda, e provavelmente em condição particularizada agravada entre nós. A 
q u e s t ã o c r u c i a l é da I N C O M P E T Ê N C I A D O S E N S A I O S . Í N D I C E S E 
PARÂMETROS. ACOPLADOS ÀS TEORIAS. DE FACULTAREM APRIMORAR 
AS MÉDIAS E DISPERSÕES DAS PREVISÕES/COMPORTAMENTOS (Prediction 
vs. Performance) . Isto está sendo frustrantemente observado em todo o mun-
do; e quiçá se descobriria persistir até mais fracativamcnte entre nós? 
F o m o s obr igados a aceitar c o m o temporar iamente validáveis para uso, 
dcterminist icamente, todo um c o n j u n t o d c pseudoverdades nominais de pri-
meiro grau dc aproximação, geradas principalmente nos notáveis centros 
acadêmicos de Boston, Londres e Escandinávia. Fomos sabiamente educa-
dos a acatá-las c usá-las c o m fé e fidelidade... até q u e pudessem ser revistas, 
mediante dados aprimorados das realidades c m observação . Nào tivemos 
c o n d i ç õ e s de est ímulo c a p o i o para questioná-las . revê-las, aprimorá-las, 
salvo por iniciativas individuais e esporádicas. 
T e m o s q u e rever duplamente : e por q u e n ã o de uma s ó vez, acei tando 
s imultaneamente o DESAFIO de base de gerarmos nossos próprios ensaios e 
índices? Por q u e cont inuaremos a ajustar nossa prática à prática desajustada 
dos outros? temos proporcionalmente muito maior aversão a ensaios físicos, 
de c a m p o c de laboratório, e m lugar de manipulações computacionais da 
scrvil idade d o c o m p u t a d o r e programa? 
In teressante seria a c r e s c e n t a r dois capí tulos , n o s quais retratar íamos: 
Ca) e m Teoria , o q u e teria s ido adotado se o presente livro estivesse s e n d o 
escri to há 20 anos , e m 1975, e há AO anos, c m 1955 (respectivamente próxi-
m o s a cada g e r a ç ã o engenheiranda) ; 
( b ) e m Parâmetros e m p r e g a d o s (médias e dispersões) q u e avanços teriam 
sido c o n s i g n a d o s e comprovados ; 
( c ) c m Prática, q u e equipamentos e tecnologias teriam diferenciadamentc 
constado nos m e s m o s decursos de anos. O que avançou mais? Não é na falta 
de avanço colateral q u e a profissão se ressente da maior lacuna atual? 
Estamos no limiar de um novo surto de entrada de equipamentos, técnicas 
etc... da mercadologia globalizada intensa, que em parte despreza c suprime iden-
tidades autóctones. Quais é que realmente nos serão úteis? Quanto custearemos 
até descobrir a real utilidade prática? São tantas as desvantagens de estarmos retar-
dados, que lemos que duplicar esforços n o sentido de acertarmos no atalho curto. 
Fazem-me lembrar como bem pertinentes, para qualquer início, os comentários 
deTerzaghi <cf INTERNAL REPORTdo Norwegian Geotechnical Institute: TerzaghPs 
period in Turkey 1916-25) "The inventory of my laboratory included only an 
empty cigar box, some kitchen ware o f the collegc, and someancient druggist 
tools that I had bought ai the Bazaar". "AH the essential conclusions arrived through 
my modest tests were confirmed, the proof for the old fact that the SUCCESS O F 
A RESEARCH ( theore t i ca l ) IS N O T DUE T O T H E P E R F E C I I O N O F T H E 
T E S 7 I N G EQUIPMENT B U T IT RATHER DEPENDS ON T H E T R U E MERIT 
O F T H E G U I D I N G IDEA". Em re lac ionando às e n o r m e s lacunas c o m q u e 
e le se defrontou e m Istambul c o m o c o l a p s o da Turquia e m 1917-18, até 
1924, das três VANTAGENS q u e e l e ressalta n o m e i o das vicissitudes, c a b e 
ressaltar "Thirdly, I had the shortage o f available means and I was c o m p e l l e d 
to e x p e r i m e n t m e r e l y with the remedy o f brain w o r k forc ing through 
difficulties. . . the s imple and inexpensive apparatus served s o much bet ter 
for my purpose , for I cou ld try several attempts without much loos o f t ime 
and rnoney... W h e n o n e starts a l ready with a c o m p l i c a t e d , e x p e n s i v e 
apparatus , HE IS SLAVE O F HIS INSTRUMENT". 
Finalmente cabe conclamar à prudência com relação ao limiar da nova era. 
Conslitucionalmente imposta, relativa a Normas e Códigos: para todo um CON-
TINENTE, maior e internamente mais diferenciado do que toda a Europa... que 
agora, após 16 anos de discussão e concessões, procura se reger por um código 
comum, composto por códigos gerados c experimentados separadamente! Por 
um lado, s ó c a b e louvar os primeiros passos, há quarentena de anos, da introdu-
ção traduzida (quase que só dos EUA) das principais Normas c Regulamenta-
ções. Por outro lado, lembremo-nos que o louvável entusiasmo e energia da 
juventude idealista e conscicnciosa não apaga o fato de que éramos nós mes-
mos. aqueles jovens, muito menos experientes. Nas revisões ulteriores sucessi-
vas, em que grau, e de q u e forma, chegaram a ser incorporados o s dados 
(estatísticos) de NOSSA EXPERIÊNCIA, para ungir, com respingos de amadureci-
mento cspccífico, nosso próprio esforço corajoso ultrapassado? Resguardcmo-nos 
do ciclo vicioso previsível de sermos confrontados por leigos com nossos próprios 
conhecimentos sempre insuficientemente certos perante o progresso. 
Coragem, d e t e r m i n a ç ã o e humildade! Cumprimento a iniciativa, nossas 
Associações Profissionais e o s autores, ilustres e esforçados na tarefa s e m p r e 
aprontada para ser sacrificada n o afã de b e m servir. 
LANÇAMENTO DA PRIMEIRA EDIÇÃO, DURANTE O SEFE III (27 DE NOVEMBRO DE 1996) 
A editora responsável pela publicação do livro, a casa de espe-
táculos da primeira temporada, foi escolhida, além dos critérios 
econômicos, pela sua tradição na área de Engenharia Civil e pelas 
conseqüentes vantagens oferecidas para a ampla divulgação da 
obra no meio técnico. Também ela se desdobrou para criar as 
melhores condições possíveis dentro do exíguo tempo que lhe foi 
atribuído. 
O lançamento da primeira edição do livro, durante o III Seminá-
rio de Fundações Especiais (SEFE III), foi talvez a primeira oca-
sião, durante lodo o processo de criação, em que foi possível 
reunir a quase totalidade dos autores. Um deles, nosso querido e 
respeitado Carmo Yassuda, um dos solistas de primeiríssima gran-
deza dessa nossa orquestra, já não pode estar conosco. Nossas 
saudades! 
Estamos certos de que cada um dos leitores (profissionais, aca-
dêmicos, estudantes) encontrará nesta obra no mínimo alguns 
capítulos que lhe serão extremamente úteis e reveladores. Espera-
mos que essas qualidades individuais o ajudem a relevar uma ou 
outra falha na harmonia do conjunto. 
São Paulo, novembro de 1996. 
O s editores 
O b s e r v a ç ã o : as o p i n i õ e s externadas , nestn data. e m cada capi tulo ou i tem, s;ío d e res-
ponsabi l idade exclusiva d o s respect ivos autores, n ã o refletindo necessar iamente .1 p o s i ç ã o 
d o Núcleo Regional d e Süo Paulo da ABMS ou da ABEF. 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO 
FUNDAÇÕES 
1 HISTORIA DAS FUNDAÇÕES | 1 7 
ANTONIO DIAS FERRAZ NÁPOLES NETO 
MILTON VARGAS 
2 PROPRIEDADES DOS SOLOS | 51 
CARLOS DE SOUSA PINTO 
3 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS | 119 
ARTIIUR RODRIGUES QUARESMA 
LUCIANO DÉCOURT 
ARTUR RODRIGUES QUARESMA PILHO 
MÁRCIO DE SOUZA SOARES DE ALMEIDA 
FERNANDO DANZIGER 
4 PRINCÍPIOS E MODELOS BÁSICOS DE ANÁLISE | 
DIRCEU DE ALENCAR VELLOSO 
PAULO EDUARDO LIMA DIi SANTA MARIA 
FRANCISCO DE REZENDE LOPES 
5 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES E ESCAVAÇÕES 
WALDEMAR HACIIICII 
163 
197 
6 CONCEPÇÃO DE OBRAS DE FUNDAÇÕES | 21 1 
DIRCEU VELLOSO 
FRANCISCO DE REZENDE LOPES 
7 ANÁLISE, PROJETO E EXECUÇÃO DE 
FUNDAÇÕES RASAS | 227 
ALBERTO IIENRIQUES TEIXEIRA 
NELSON SILVEIRA DEGODOY 
8 ANÁLISE E PROJETO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS 
8.1 ESTACAS | 265 
LUCIANO DÉCOURT 
8.2 TUBULÒES E CAIXÕES | 302 
JOSÉ HENRIQUE ALBIERO 
JOSÉ CARLOS ÂNGELO CINTRA 
265 
9 EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS | 329 
9.1 ESTACAS M O L D A D A S " IN LOCO" | 329 
9.1.1 ESTACAS TIPO FRANKI | 329 
CLÓVIS MARIO MOREIRA MAIA 
9.1.2 ESTACAS ESCAVADAS SEM LAMA BENTONÍT ICA I 336 
FREDERICO FAI.CONI 
NÉUO DESCIO FÍGARO 
JOÃO MAITIIAS DE SOUZA FILHO 
9.1.3 ESTACAS TIPO HÉLICE CONT INUA I 34S 
WILUAM ROBERTO ANTUNES 
HÉLVIO TAROZZO 
9.1.4 ESTACAS ESCAVADAS COM LAMA BENTONÍTICA1348 
JOSÉ LUIZ SAES 
9.1.5 ESTACAS INJETADAS 1361 
URBANO RODRIGUEZ ALONSO 
9.2 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS 1373 
URBANO RODRIGUEZ ALONSO 
9.3 TUBULÒES E CAIXÕES | 400 
URBANO RODRIGUEZ ALONSO 
SIGMUNDO GOLOMBEK 
CONTENÇÕES 
OFFSHORE" 443 
1 0 FUNDAÇÕES SUJEITAS A ESFORÇOS DINÂMICOS | 409 
JOSfl MARIA DE CAMARGO BARROS 
WAIDEMAR HAC!IICII 
11 FUNDAÇÕES DE ESTRUTURAS 
JAYMI: RICARDO DE MELLO 
FRANCIS BOGOSSIAN 
1 2 REFORÇO DE FUNDAÇÕES | 471 
MAU RI GOTUEB 
JAIME DE AZEVEDO GUSMÃO FILHO 
13 OBRAS DE CONTENÇÃO: TIPOS, MÉTODOS 
CONSTRUTIVOS, DIFICULDADES EXECUTIVAS | 497 
STELVIO M. T. RANZINI 
A RS UNI O NEGROJR. 
1 4 CONCEPÇÃO DE OBRAS DE CONTENÇÃO 
JOSÉ LUIZ SAES 
FI-RNANDO REDOVÇAS STUCCHI 
JARfíAS MIUTIISKY 
15 ANÁLISE, PROJETO E EXECUÇÃO DE 
ESCAVAÇÕES E CONTENÇÕES | 537 
JAIME DOMINGOS MARZIONNA 
CARLOS EDUARDO MOREIRA MAFFEI 
ARGIMIRO ALVAREZ FERREIRA 
ARMANDO NEGREIROS CAPUTO 
517 
OBRAS COMPLEMENTARES 1 6 REBAIXAMENTO E DRENAGEM | 581 
IVAN GRANDIS 
LUIZ GUILHERME F. S. DE MELLO 
17 TIRANTES I 603 
CARMO T. YASSUDA 
PAULO HENRIQUE VIEIRA DIAS 
18 REFORÇO DO TERRENO | 641 
MAURÍCIO ABRAM EM O 
AKIRA KOSHIMA 
ALBERTO CASATIZIRUS 
QUALIDADE 
OS AUTORES 
19 REQUISITOS DA QUALIDADE DAS FUNDAÇÕES | 693 
CLÁUDIO MIC! IA EL WOLLE 
VERA FERNANDES IIAClIICII 
20 VERIFICAÇAO DE DESEMPENHO | 723 
SUSSUMU NIYAMA 
NFJSON A OKI 
PAULO ROBERTO CIIAMECKI 
BIOGRAFIAS 755 
I N T R O D U Ç Ã O 1 HISTÓRIA DAS FUNDAÇÕES 11 7 
ANTONIO DIAS FERRAZ NÁPOLES / MILTON VARGAS 
2 PROPRIEDADES DOS SOLOS | 51 
CARLOS DIi SOUSA PINTO 
3 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS 111 9 
ARTHUR RODRIGUES QUARESMA /LUCIANO DÉCOURT/ 
ARTUR RODRIGUES QUARESMA PILIIO/ 
MÁRCIO DE SOUZA SOARES DE ALMEIDA / 
FERNANDO DANZIGER 
4 PRINCÍPIOS E MODELOS BÁSICOS DE ANÁLISE | 1 63 
DIRCEU DE ALENCAR VELLOSO / PAULO EDUARDO UMA DE SANTA MARIA / 
FRANCISCO DE REZENDE LOPES 
5 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES E ESCAVAÇÕES | 1 97 
WALDEMAR HACHICH 
CAPÍTULO 1 HISTÓRIA DAS FUNDAÇÕES 
1 .A - U M A BREVE HISTÓRIA DAS FUNDAÇÕES 
ANTONIO DIAS FERRAZ NÁPOLES NETO 
1.1 I N T R O D U Ç Ã O 
A apresentação do histórico da matéria a que 
uni livro se propõe, em seu capitulo inicial, obriga 
a que este seja necessariamente conciso. Acontece 
que fundações (ou infra-estruturas) são coisas que 
não subsistem por si sós, são sempre fundações 
de alguma coisa (superestruturas). Dai o histórico 
condensado precisar, também necessariamente, 
incluir algo sobre superestruturas, embora de ma-
neira mais singela e mais concisa ainda. Se, mais, 
considerar-se que as práticas tanto de super como 
de infra-estruturas sempre tiveram fone conotação 
cultural, resulta claro, de tudo isso, que uma histó-
ria tia técnica das fundações deve ser mais 
conceituai do que factual; no sentido de que, li-
gadaã cultura do homem desde a pré-história, foi 
formando seus conceitos como sínteses de toda 
uma vasta e multimilenar experiência construtiva. 
Este saber empírico foi se acumulando ao longo 
dos tempos, e o fato de existirem, ainda hoje, muitas 
de suas construcões, datadas de muitos séculos, 
mostra o valor e a importância dessa experiência 
acumulada. Sabemos que, salvo precursoras con-
tribuições tratando de pressões de terras (Vauban, 
Bélidor e sobretudo Coulomb), só no século pas-
sado tal experiência recebeu significativas contri-
buições de ciências afins (mesmo sem esquecer 
os val iosos subsídios gerais de sábiosVdo 
Renascimento, como Leonardo e Galileu e até da 
Antigüidade, como Arquimedes», e só neste sécu-
lo XX foi cientificamente teorizada na engenha-
ria. A chamada Geotecnologia, como coroamento 
de tudo isso e como parte da ciência e da arte do 
engenheiro, é de nossos dias. 
1.2 PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA ANT IGA 
Mais sensível ao clima que outros animais do 
Paleolitico, o homem procurou abrigar-se primei-
ro em grutas e cavernas e, onde não existiam, tra-
tou de improvisar abrigos imitando-as, pois alguns 
tinham os seus pisos a mais de 2 m abaixo do 
nível do terreno adjacente, enquanto outros eram 
escavações verticais, como poços rasos. Assim, é 
provável que, no Neolítico, quando o homem que 
na idade anterior já aprendera a lascar a pedra e. 
agora sedentário, construiu suas primeiras caba-
nas. já tivesse alguma noção empírica sobre a re-
sistência e a estabilidade dos materiais da crosta 
terrestre. Tais choupanas eram de madeira, leves 
portanto, mas quando construídas ã beira dos lagos, 
sobre estacas elevadas — as pai a fitas —. devem ter 
proporcionado idéias adicionais sobre a resistência 
do solo. Cabanas feitas de pedra eram mais raras, 
só onde não havia madeira ou em sítios batidos 
por ventos intensos. Novas experiências devem ter 
proporcionado as construções megalíticas da Ida-
de do Bronze, como as de Sronehenge. mas prin-
cipalmente nos zigurates dos suméiios e seus su-
cessores na Mesopotâmia. Já antes, no Neolítico, o 
homem usara principalmente a terra para cons-
truir pequenos montes chatos e largos, em geral 
para jazigos, conhecidos na Europr. como tumnli. 
mas encontrados também nas Américas pré-histó-
ricas. No Brasil, coisas semelhantes foram os 
sambaquis ou casqueiros. Todavia, ainda no início 
da Idade do Ferro, as construções de madeira eram 
comuns, mas o fato importante da idade dos metais 
foi que estes propiciaram as ferramentas para o tra-
to dos materiais e para perfurar o s o b (encontradas 
também entre os Incas), facilitando a introdução 
das precursoras das estacas de hoje. A propósito das 
palafitas, acredita-se hoje que não ficavam sobre esta-
cas dentro d água, mas sobre andas (espécie de "per-
nas de pau") às margeas dos lagos, pois foram encon-
tradas várias de suas plataformas superpostas, suge-
rindo reconstrução após ruptura uii apodrecimento 
de suas pernas de sustentação. Essa prática de 
superposição, mas como aproveitamento de algo já 
feito, estendeu-se a fundações de obras da Antigüida-
de, como se verá. 
Nos antigos impérios do Oriente Próximo, os 
materiais de construção passaram a ser o tijolo 
cerâmico e a pedra, aquele na Mesopotâmia e esta 
no F.gito. Os terrenos que recebiam suas constru-
ções maiores e mais pesadas em geral cediam e as 
construções miam ou eram demolidas, com po>-
terior aproveitamento dos escombros, uma vez que 
não havia fundações preparadas, como em épo-
cas mais modernas se passou a fazer. Assim, obras 
como as de palácios e templos eram assentes so-
bre fundações arrumadas com restos de outras es-
truturas ou paredes, misturados com terra e tudo 
socado. Assim, as edificações eram sucessivamente 
colocadas umas sobre as outras, ou melhor, o resto 
destas, resultando, no tempo, um escalonamento 
de acordo com suas idades. Nào obstante, muitas 
permaneceram ao longo dos séculos, a despeito 
de certos arqueologistas opinarem que essas fun-
dações, tanto cm qualidade como em profundi-
dade, eram uma das características mais fracas da 
técnica construtiva de então. Data dessa época, 
cerca de 17 séculos A.C., o primeiro código dc 
obras conhecido, o d e Ha mura bi, rei da Babilônia. 
Nele as deficiências construtivas já apontadas se 
refletem nas duras penalidades a que estavam 
sujeitos os construtores cujas obras fracassassem. 
Dos impérios do Oriente Próximo, o seguinte se-
ria o dos hititas, que nada deixaram digno dc re-
gistro. a não ser uma estrada calçada na Ásia Me-
nor e, como precursores, um tipo de fundação dc 
blocos de pedra aparelhados e dispostos em ca-
madas, muito mais tarde usado pelos gregos com 
o nome de ortostatos. 
Dc um modo geral, cientes das dificuldades, prin-
cipalmente em terrenos fracos, procuraram os 
antigos, onde era possível, como cm casas, aliviar 
as estruturas sobre as fundações; estas iam desde 
faxinas simples dc caniços até fundações feitas 
com tijolos secos ao sol (tijolos crus, cm oposição 
aos tijolos cozidos cm fornos que vieram depois) 
assentados com barro, muitas vezes em mistura 
com betume e mastique (Dcrry e Williams, 1%1). 
Com o tempo descobriram que aqueles tijolos 
podiam ser melhorados cm sua resistência (à tra-
ção) bem como dc trincas de secagem, pela adi-
ção dc palhas à sua massa (adobe), como tam-
bém que, intercalando os mesmos caniços entre 
as camadas dc tijolos, o conjunto passava a funcio-
nar melhor como bloco, principalmente nos 
recalques. Os tijolos também evoluíram, passan-
do a ser cozidos em fornos, como foi dito. 
Um tipo dc construção que se encontra desde o 
Paleolítico, estendendo-se pelo Neolítico e Anti-
güidade, é o agrupamento dc habitações cm for-
ma circular, escavado às vezes até 1 m abaixo do 
nível do terreno e com furos centrais ou periféri-
cos para os postes (às vezes, ossos de mamute) 
que sustentavam o teto das cabanas. Nestes furos 
as fundações individuais eram o próprio terreno 
ou sobre pedras, o que depois evoluiu para pare-
des de pedra de 60-80 cm de altura à volta das 
cabanas, com fundações corridas, portanto, Este 
estágio construtivo é curioso, pois se revela mais 
como estágio cultural do que histórico, uma vez 
que se estende desde restos encontrados na Eu-
ropa Ocidental, Chipre, Rússia, China, Japão, até 
construções !>em mais modernas, bastante seme-
lhantes, dc índios sul-americanos e de lapòcs. 
I.3.A. AS F U N D A Ç Õ E S N A IDADE CLÁSSICA 
Os gregos, a despeito da beleza de sua arquite-
tura, pouco inovaram técnica e materialmente, a 
nào ser no uso do mármore e da pedra calcária e 
no trato das pedras em geral, pois se preocupa-
vam mais com a função das parles construtivas. 
Suas primeiras culturas, a cretense e a miccnica, 
diferiam em seus palácios, como o dc Cncssos, 
que nào eram fortificados em Creta, potência in-
sular, mas o eram em Miccnas, no Pcloponeso. 
Com isso os palácios crctenses eram ampliações 
de suas casas, chegando estas ate três pavimen-
tos, fundadas sobre pedaços de pedras, paredes 
de tijolos crus com pilares de pedras c demais 
estruturas de madeira. Suas culturas seguintes con-
tinuaram basicamente a usar os mesmos materi-
ais. madeira e pedra, esta quando nas fundações, 
em blocos rústicos ou aparelhados. Datam dessa 
época as primeiras estradas calçadas a pedra, ca-
nais, aquedutos e pontes, estas dc madeira, algu-
mas com pilares de tijolos. £ de se notar que a 
madeira continuou a ser material importante, mes-
mo a partir do século VI A.C. quando a arquitetu-
ra grega começou a brilhar com seus pórticos e 
colunatas em seus palácios e templos travejados 
com vigas dc pedra, mas com tetos de troncos 
justapostos e cobertos por colchão dc terra. En-
tretanto estes novos tipos construtivos eram 
concentradores de cargas nas fundações, que pas-
saram a ser feitas de blocos superpostos, cujas 
partes superiores, aparentes, eram os chamados 
ortostatos. Estes se constituíam de duas ou três 
camadas de blocos alongados de pedras apare-
lhadas cmângulos retos, justapostos e, em geral, 
grampeados uns aos outros. A parte nào visível 
era formada por pedras menos aparelhadas e mis-
turadas. por exemplo, com cascalho, mas o mais 
importante é que os ortostatos proporcionavam 
melhor distribuição das cargas nas fundações, ama 
vez que suas juntas verticais desencontradas ten-
diam a uniformizar as pressões, obviando, assim, 
recalques diferenciais. As fundações menores, em 
vez de serem corridas, tinham sapatas isoladas (al-
mofadas de pedra). Mas em lugares de terrenos 
fracos as escavações recebiam, primeiro, uma ca-
mada dc terra misturada com cinzas de carvão (e 
até com este mesmo), uma camada de terra 
apiloada, ou mesmo uma mistura de calcário mole 
com pedregulho. Muito mais raras eram as funda-
ções cobrindo toda a área de construção, em geral 
quando esta área era toda carregada. Nesse caso 
eram formadas por camadas sucessivas de blocos 
ou lajotas dc pedra apoiadas sobre uma camada de 
fundo dc pedra e argila misturadas. Em alguns ca-
sos usaram estacas dc madeira, cravadas por máqui-
nas. que se imagina sejam derivadas de máquinas 
dc guerra, usadas para perfurar muralhas e portões. 
Em Alexandria os gregos adquiriram mais a 
herança das técnicas construtivas dos velhos impé-
rios, mas foi cm Roma que a técnica da construção 
em geral e das fundações em particular avançou sig-
nificativamente, pois estas passaram a recelx.*r mais 
cargas, em virtude de obras mais pesadas que as 
dos gregos. Isto se deu com a introdução do arco — 
herança etrusca — e da abóbada, a preparação do 
cimento romano a partir da mistura de pozolana 
com calcário, e daí o concreto, pela adição de 
pedaços de pedra ou de tijolos cozidos. Este novo 
material, o concreto, dadas suas excelentes con-
dições ile moldagem, passou nào só a ser em-
pregado cm fundações, como também na cons-
truçào de arcos e domos, entre estes o do im-
pressionante Panteão de Roma (110-125 D.C.). 
Os arcos permitiram a construção de imponen-
tes aquedutos e pontes que, juntamente com 
portos e as celebradas estradas e fortifícaçòes ro-
manas, marcaram, pode dizer-se, o aparecimen-
to da engenharia civil e militar no mundo oci-
dental. Ao contrário dos gregos que. com exce-
ção do historiador Heródoto, pouco escreveram 
sobre construções, os romanos tiveram até um 
tratadista (no reinado de Augusto) da matéria, 
na pessoa do engenheiro militar e arquiteto 
Vitrúvio ("De re architectura"). Sua obra traz, 
em vários capítulos, interessantes passagens 
sobre fundações, em que trata desde suas ques-
tões mais simples como largura e profundidade 
— esta maior do que aquela — até preocupa-
ção com a distribuição de suas cargas, como a 
inserção de uma base com diâmetro de 1,5 vez 
o da coluna entre esta e a sua fundação, bem 
assim entre esta e a parede que sustenta etc., 
denotando sempre preocupação com cargas 
transmitidas ao solo e a resistência deste. Em 
duas passagens, vê-se ter sido ele precursor das 
f u n d a ç õ e s por a b ó b a d a s inver t idas e da 
compactação de terrenos fracos pela cravaçào 
de estacas de madeira, bem como do uso de 
e n s e c a d e i r a s para c o n s t r u i r f u n d a ç õ e s 
subaquáticas. Tais ensecadeiras eram feitas de 
uma dupla fila de estacas (de troncos de árvo-
res, mas dotados de ponta de ferro.», com o es-
paço entre filas preenchido por argila amassada 
em cestos de junco bem arrumados. A água in-
terior era esvaziada por rodas de alcatruzes. A 
diferença do que hoje se faz está apenas no uso 
de estacas-pranchas metálicas e de bombas, em 
vez de rodas. As fundações e os pilares eram 
construídos dentro delas com cimento pozolànico 
e muitos desses pilares eram protegidos por cor-
ta-águas a montante, para evitar o solapamento 
de suas fundações por erosão. A construção de 
fundações, primeiro com tijolos crus e depois co-
zidos, devidamente travadas, e em seguida com 
concreto de cimento, cresceu e culminou com fun-
dações como a circular do Coliseu, uma laje com 
170 m de diâmetro, e a do Panteão, assente sobre 
uma viga de fundação em forma de anel de con-
creto, mais larga que as paredes, mas que mesmo 
assim apresentou problemas, obrigando a refor-
ços. Os romanos, como os gregos, também usa-
ram estacas de madeira como fundações. Vitrúvio, 
ao lado de varias recomendações, diz apenas que 
deviam ser cravadas por máquinas. 
Do ponto de vista da geotecnologia moderna é de 
assinalar-se que tanto Vitrúvio (1 séc. A.C.), como Plínio 
(I séc. D.C.) reconlieceram a existência do atiito nas 
areias, principalmente nas de grãos angulosos. 
1.4 A TÉCNICA N A IDADE MÉDIA E ATÉ O 
RENASC IMENTO 
Iodos os progressos técnicos alcançados durante 
a idade clássica foram, infelizmente, bastante 
descurados nos tempos medievais, tanto cm cui-
dados com dimensões e situações, como com ma-
teriais. Dai um número considerável de colapsos 
(cm conseqüência de situações desfavoráveis) de 
construções, a despeito da beleza de suas facha-
das. Muitas excederam a capacidade de carga de 
seus terrenos de fundação e as que nào desapare-
ceram apresentam-se hoje danificadas por trincas 
ou inclinações, ao passo que outras recalcaram 
excessivamente. Menciona-se, por exemplo, que 
em virtude das características puramente casuais, 
principalmente das fundações dessas obras, as 
corporações de construtores comumcnte só da-
vam garantia de, no máximo, dez anos contra ris-
cos de colapso. Esse declínio nas artes de cons-
truir é, segundo certos historiadores, característi-
ca marcante do que chamam de a idade das tre-
vas e que, na Inglaterra (Dcrry e Williams, 1961), 
a fabricacào de tijolos foi virtualmente uma arte 
perdida em favor da pedra. Outros dizem que o 
melhor, no Ocidente, veio significativamente de 
Constantinopla, isto é, da ininterrupta tradição 
construtiva dos romanos. Exemplo: a igreja de 
Santa Sofia. Também significativamente, manus-
critos de Vitrúvio (Marco Vitrúvio foi lio) foram 
achados cm MM c publicados em 1486. 
Entretanto, as construções medievais eram gran-
des, como atestam seus castelos, e alguns progres-
sos sempre se verificaram. Em algumas dessas obras 
de porte que tinham suas fundações sobre faxinas, 
estas evoluíram para verdadeiros assoalhos de 
madeira no fundo das escavações levadas até o 
nível d água. Em outras obras, como pontes, cm 
virtude mesmo dos problemas já referidos, os cui-
dados de construção de fundações eram agora 
facilitados pelo bombeamento das ensecadeiras, 
pelos bate-cstacas acionados por iodas de pé ou 
de água e também pelo uso do cimento pozolànico 
italiano, impermeável. Onde a correnteza tornava 
difícil a construção de pilares, optava-se por um 
arco único, que assim foi aumentando de vão ate 
70 m. Também progrediram as fundações sobre 
estacas de madeira, principalmente em equipamen-
tos: por volta de 1250, Villard de Honnicourt in-
ventou uma serra para cortar cabeças dessas esta-
cas debaixo dágua e, em M50, Francesco Di 
Giorgio projetou um bate-estaca já próximo dos 
modernos. 
Esses progressos foram se acentuando pelos fins 
dos tempos medievais e em seu tratado De re 
aetlificatoria", de M85, Alberti vai até a constru-
ção de eclusas cm canais. Veio o Renascimento, 
também no campo científico e então fulgiram os 
gênios de Leonardo e Galileu. Leonardo da Vinci, 
na arquitetura, na construção c até na engenha-
ria, apresentou projetos de bate-estacas e 
ensecadeiras. Galilco Galilei, nào só reuniu tudo 
que a ciência do século XVI tinha trazido para a 
arte da construção, mas também pelos seus estu-
dos sobre a flexào de vigas acabou por fundar a 
Resistência dos Materiais. O livro sobre técnicas 
construtivas mais conhecido dessa época, escrito 
por Philibert de 1'Orme ( 1561), tratava até de fun-
dações fluviais e marítimas e já se intitulava: i n -
venções para a boa construção e a baixo custo". 
1.5 MARCOS ANTIGOS, MEDIEVAIS E 
RENASCENTISTAS 
Das construções que resistiram aos séculos, mui-
tas apresentam algum tipo de deformação causa-
da por suas superestruturas emsuas fundações, 
por deficiências destas, ou por condições desfa-
voráveis em seus terrenos de apoio. Kérisel 
(Kérisel. 19S5) aponta quatro situações gerais:solos 
muito compressiveis, taxas de compressão do sole» 
elevadas (500-1000 kPa), momentos de tombamento 
nas superestruturas e conseqüente carregamento 
excêntrico das fundações, e obras edi fica das em 
cima de taludes naturais. As conseqüências foram 
deformações como rachaduras, afundamentos 
(recalques lotais), inclinações (recalques diferen-
ciais) e deslizamentos. Relacionam-se, a seguir, 
alguns exemplos mais notórios, bem comt» cenas 
condições supervenientes no tempo e no espaço. 
Pirâmides — A maior existente, a de Quéops, 
no Egito, está fundada sobre rocha e nào tem 
recalques típicos, embora as camadas de pedra 
mostrem ligeira eurvatura, atribuídas a deforma-
ção elástica dc sua base. Antes dessa grande pirâ-
mide (150 m de altura), quatro outras foram 
construídas: Saqquarah, Meidum e as duas 
Dahsluir (sul e none). As duas primeiras foram 
assentadas sobre rocha, tendo Saqquarah, nos seus 
70 m de altura, seis seqüências de pedras forte-
mente escalonadas. A pirâmide de Meidum, hoje, 
é o resto do que teriam sido três formas anterio-
res com 92 m de altura. É uma das pirâmides mais 
estudadas. Já a terceira, Dahsluir Sul, foi fundada 
sobre argila rija e sofreu deformações. Ela teria 
sido uma nova tentativa de pirâmide perfeita, isto 
é. com seus lados retos e nào em degraus, mas 
acnhrm com redução dc altura (140 m :i 105 m) e 
seus lados encurvados. Isso talvez tenha levado à 
construção da Dahsluir Norte, uma pirâmide per-
feita. com dimensões mais modestas e fundada 
sobre rocha. Essas quatro estruturas representari-
am assim um desenvolvimento de cerca de um 
século, a partir de 2700 A.C.. que se coroou com a 
grande pirâmide de Quéops. As outras duas que 
com ela são conhecidas como as três pirâmides 
de Gizé (a primeira das sete maravilhas do mun-
do antigo), respectivamente de Quéfrem e de 
Miquerinos, são posteriores, nessa ordem, e me-
nores. Vale lembrar que se a pirâmide de Quéops 
poderia ser considerada como a maior construcào 
isolada antes do século XX, Sowers (Sowers, 1981), 
apresenta a pirâmide de Tepanapa, cm Cholula, 
no Vale do México, com quase o dobro na base, 
mas cerca da metade da altura daquela pirâmide 
egípcia. Condições de fundação menos favoráveis 
no Vale? (Ver Nota 1, em 1.11). 
Templos e castelos — F.m contraposição ac que 
acaba de se ver, cita-se o pagode budista de Phra 
Patliom Chedi (Tailândia, c. 30o A.C.): com seção 
vertical aproximadamente triangular, 115 m de al-
tura e c. 5.000 MN de peso sobre uma base circular 
de 158 m de diâmetro, fundado na argila mole de 
Bangcoc, recalcou uniformemente 2.5 m. Dois ou-
tros pagodes, estes em forma de torres, são de men-
cionar-se: Suzliou (960 A.C.) e Longhua (977 D.C.), 
ambos na China. O de Suzliou é inclinado, 'i7 m 
de alto, c. 50.000 kN de peso, sobre base octogonal 
de 5.2 ni de lado, fundado em argila de consistên-
cia variável, cobrindo de 2,6 m a 5,8 m um talude 
natural rochoso. Sua inclinação prossegue e, se-
gundo Kérisel (1985), a uma velocidade/ano •» ve-
zes a da Torre de Pisa. requerendo estabilização. O 
pagode de Longhua, com 40 m de altura, embora 
fundado em solo aluvial (representado por siltes e 
argilas moles), com pressão admissível de nào mais 
que 80 kPa, nào apresenta deformações. Em virtu-
de disso, na década de 50, foi feita uma investiga-
ção restrita que revelou uma base de alvenaria de 
tijolos sobre leito de madeira, este por sua vez so-
bre estacas de madeira com reduzido espaçamento 
e profundidade desconhecida. De acordo com 
Kérisel (1985), esta seria uma das primeiras funda-
ções em faxina cobrindo toda a área de apoio e 
ainda sobre estacas que se construiu no mundo. O 
maior templo budista existente, Borobodur (.lava, 
c. 800 D.C.), apresenta a peculiaridade de não só 
se apoiar mas também encobrir um outeiro de tufo 
t apeado por argila, através de terraços escalonados 
e muros de arrimo. Teve problemas de estabi ida-
de devido ao clima chuvoso, principalmente com 
os muros de arrimo e sua restauração, incluindo 
drenagem adequada, foi custeada pela Unesco.cuja 
equipe técnica incluiu, naturalmente, engenheiros 
geotécnicos. 
No Ocidente, devido a cargas excêntricas nas 
fundações (mas às vezes também defeitos estrutu-
rais como observa Kérisel (1985) sobre o colí.pso 
das igrejas de Cluny III e Beauvais), são notáves as 
deformações sofridas pelas Igrejas de Santa Maria 
Ia Real dei Sur (Espanha), Vézeley (França) e Iiigia 
Sofia (Istambul). Especial por suas características 
geotécnicas, o mosteiro de York (Inglaterra), diz 
Kérisel (1985), além de um subsolo bem conheci-
do, apresentou problemas como o colapso da tor-
re principal, tombamento de paredes, recalques 
diferenciais devidos tanto a altas concentrações 
de cargas como a áreas pré-adensadas por cons-
truções anteriores. Igualmente especial por sua po-
sição a 100 m dc altura sobre o topo e íngremes 
encostas é a abadia do Monte Saint Michel (entre 
a Normandia e a Bretanha). Suas fundações nào 
são conhecidas, mas o monte é de granito 
feldspático c granulito sobre os quais se apoiam, 
do lado externo, notáveis muros de an imo de con-
irafortes, maravilhas, como diz Kérisel (1985), que 
parecem continuação das próprias encostas. 
Torres e campanários — Muitas construções em 
forma de torre eram. na maioria, campanários e, 
por semelhança, minaretes e até obeliscos. Mais 
sensíveis aos problemas construtivos já apontados, 
várias dessas torres se inclinaram e muitas desaba-
ram; uma foi demolida em 1892 — a Torre Nova de 
Saragoça, c.1500 D.C., altura de 56 m e inclinação 
de 4,6%. O curioso com relação a esta torre é que 
teve problemas estruturais, pois suas fundações 
eram perfeitas. Das que ruíram. Kérisel (1985) cita 
números impressionantes: de 200 só em Bolonha, 
apenas 30 permaneceram; em Veneza, a mesma coi-
sa c também algo semelhante na Espanha. Toda-
via. são as torres inclinadas as que despeitam mais 
interesse geral, seja pelo resultado inesperado e 
duradouro de sua construção, seja pela sua beleza, 
como a de Pisa. Entretanto, o caráter instável de 
muitas delas torna difícil a obtenção de dados, prin-
cipalmente de seus terrenos de fundação. Salxr-se, 
por exemplo, que a taxa de inclinação da Torre de 
Pisa aumenta quando se fazem sondagens nas suas 
proximidades. Esses subsolos variam desde 5 m de 
turfa até argilas firmes mas com lentes de gesso em 
processo de dissolução. A primeira condição afeta 
a torre da igreja de Santa Catarina em I lambuigo, 
do XIII século, fundada sobre base de madeira su-
portada por estacas de madeira que atravessam a 
turfa até a areia subjacente; com sérios recalques e 
inclinação de 6% foi subfundada em 1968. o que 
estabilizou a inclinação e minimizou os recalques. 
A segunda condição é a da Torre de Asinclli, do 
ano de 1100 em Bolonha, com 97 m de altura e 
base de 9 m x 9 m sobre bloco de fundação de 5 m 
de altura e 10,4 m x 10,\ m e que se supõe sobre 
estacas; sua inclinação é de 6.5 seg/ano. Sua vizi-
nha, a apenas 11 m de distância e metade de sua 
altura, a Torre de Gerisenda já se inclinou, entre-
tanto, quase três vezes mais. Outras torres inclina-
das são: ainda na Itália, a Ghirlandina, em Modena, 
do ano de 1099; com 88 m de altura e recalque nào 
uniforme tem, em virtude disso, se inclinado até 
2.6%; a Torre de Nevyansk, na Rússia; a tia catedral 
e da igreja Marien em l.ubeck. Alemanha; e o cam-
panário de St. Moritz, na Suíça. Este. sobre talude 
natural já com movimento extremamente lento (ras-
tejo ou "creep"), agravou esse movimento, sofrendo 
a torre rotação e translaçào. Uma primeira tentativa 
de sustá-la, com a construção de um grande muro 
de pé de contrafortes, nào deu resultado. Uma se-
gunda foi a ancoragem desse muro por tirantes no 
talude, apenas com sucesso parcial, pois a zona de 
ancoragem, ela própria, está sujeita a movimentos. 
O minareteAl-Halxla, em Mossul (Iraque, XI sé-
culo), com inclinação de 9% foi estabilizado através 
de subfundação por estacas-raízes, a custo dc incli-
nações adicionais durante a refundacão. Quanto a 
obeliscos, o mais alto até hoje levantado (,M m). o 
de Axum (Abissínia), sabe-se apenas que datai Io de 
antes de Cristo, encontra-se tombado e paitido, sem 
que se sailxi se desabou ou foi denulxido. 
Torre de Pisa — Este famoso monumento, 
construído lentamente de 1174 a 1350. apresen-
tou, já com cerca de 10 m de altira, inclinações 
que, entretanto, pareceram se estabilizar em 1186. 
enquanto os recalques continuavam lentamente. 
Em 1838 a torre foi dada como em equilíbrio, o 
que se mostrou ilusório, como se verá. Com 5^ m 
de altura e 15.700 toneladas de peso, exibindo 
excelente trabalho em pedra e em rejuntamentos 
(o que, quando pobres, causou problemas em ou-
tras obras inclinadas), foi, entretanto, deficiente-
mente fundada, apoiada a pouca profundidade, 
através de uma fundação em forma de anel de 20 
m de diâmetro sobre um depósito aluvial de areia 
silto-argilosa, no qual descarrega mais de 5 kg/ 
cur (514 kPa, segundo Kérisel). Abaixo dessa ca-
mada, uma outra de areia com lentes de argila 
sobreadensada do lado sul. exatamente o lado das 
inc linações predominantes, inclinações que, como 
mostraram medições a partir de 1935. se dão tam-
bém em outras direções, parecendo, por vezes, 
cíclicas. Ao mesmo tempo, essa rotação, hoje da 
ordem dos 10%, ocasionou um recalque de cerca 
de 3 m. A uns 8 m abaixo das fundações existe 
argila a cujo adensamento também se atribuiu o 
que vem acontecendo. Outra explicação, mais acei-
ta, é a falta de capacidade de carga da areia de 
fundação, o que levou as autoridades a fazerem, 
segundo Kiynine (Nota 2, 1.11), injeções de ci-
mento de alta resistência, mais de 1000 t. através 
de 361 furos de 2", ainda segundo Krynine. Além 
disso, uma vala aberta até quase 2 m de fundo ao 
redor da torre mostrou a água tio lençol em movi-
mento. o que proporcionou outra explicação, que 
seria a da erosão. Medidas mais recentes mostra-
ram movimento do terreno para SW nas vizinhan-
ças da torre e. ultimamente, arqueólogos desco-
briram uma tendência a deslizamento na direção 
«.Io leito soterrado de um canal nas proximidades. 
De qualquer maneira, o bombeamento de água 
do subsolo na área foi suspenso, o que restabele-
ceu o nível tio lençol freático. Notou-se, então, 
estabilização dos recalques, o que conduz à se-
guinte constatação: antes, o momento de lomba-
mento aumentando com a inclinação e o recalque, 
este concorria para aumentar o momento resis-
tente sobre a parte enterrada da toire, contribuin 
tio. assim, para uma certa constância na velocida-
de de inc l inação ; com a es tabi l ização dos 
recalques, o momento de tombaiv.ento continua 
aumentando sem aquela contribuição resistente e 
dai a tendência do terreno adjacente se mover 
acompanhando a torre. A complexidade e a serie-
dade tia situação do monumento têm motivado 
seu estudo por parte de notáveis personalidades 
geotécnicas e por vários grupos internacionais. Em 
1972 foi feita uma competição internacional pela 
estabilização tia torre, sem decisão, a despeito de 
muitas propostas. Depois desse insucesso, consti-
tuiu-se uma comissão italiana, presidida por M. 
Jamiolkowski. atual presidente da ISSMFE (1995); esta 
comissão vinha trabalhando na estabilização do mo-
numento, fechado ã visitação pública, quando, re-
centemente, inesperado acréscimo da inclinação se 
verificou. A situação foi reavaliada e iniciou-se um 
amplo reforço estrutura-fundação, seguido de redu-
ção controlada do recalque diferencial por indução 
de recalque adicional do lado menos recalcado. 
Veneza — Edificada sobre uma laguna com 
espessos leitos de solos aluviais não adensados, 
proporcionou uma notável experiência de cons-
trução em solos moles, experiência que incluía, 
assim, uma certa convivência com recalques ele-
vados. ao mesmo tempo que com cuidadosas 
técnicas construtivas, mas relativamente simples 
e baratas. Estas técnicas usavam até lançar no-
vas fundações sobre antigas, que cobriam áreas 
assim já adensadas, e, em novos locais de fun-
dação, blocos escalonados sobre grupos de es-
tacas de madeira abaixo do nível dágua. Uma 
estrutura que ficasse apoiada em ambos os sis-
temas seria então logicamente isostática, por 
causa dos recalques diferenciais. Duas constru-
ções notáveis dessa cidade são os "campaniles' 
de São Marcos e de Burano. Este, com 53 ni de 
altura, e que se inclinou de até c. 5,8%, passou 
por uma tentativa de estabilização em 1964; vinte 
anos depois estava com 6,4%. O de São Marcos, 
mais conhecido, com seus 98 m de altura, desa-
bou em 1902, devido a uma combinação de fa-
lhas estruturais com fundações deficientes. Es-
tas, compostas de estacas de madeira, recobertas 
por uma pranchada também de madeira, após 
mil anos de serviço, estavam em tão bom estado 
que as estacas foram conservadas na reconstru-
ção (Nota 3. 1.11), terminada em 1912, mas o 
perímetro da nova fundação foi aumentado de 
80%. Duas outras obras, também notáveis, são 
as pontes de Rialto (1588-92) e dos Três Arcos 
(1688). A primeira, mais conhecida, com vão úni-
co de 26,4 m, teve os dois encontros de sua 
abóboda cuidadosamente fundados: cada um de-
les sobre \ 600 estacas curtas «) 15 cm, 3.3 m) 
muito próximas e escalonadas em três grupos que 
permitiam dar, a cada encontro, a inclinação ne-
cessária. Já a segunda, apesar de erigida um sé-
culo depois, não teve o mesmo cuidado, de for-
ma que veio a sofrer restauração em 1979-80. 
Foram utilizadas estacas-raízes o a perfuração foi 
feita de cima e através da alvenaria dos dois en-
contros e dos dois pilares dos três vãos (os late-
rais, com 6 m cada, e o central, com 12 m). Foi, 
assim, possível determinar o nível das fundações 
originais, muito rasas, tanto nos encontros como 
sob os dois pilares no fundo do rio, sobre uma 
argila siltosa que, com 3 a 4 m, recobre um leito 
arenoso, penetrado pelas estacas-ralzes. 
Em épocas mais recentes, a extração de água do 
subsolo em áreas industriais vizinhas, no continente, 
levou Veneza a recalcar vários milímetros por ano, o 
que foi contornado por legislação rigorosa, mas a ci-
dade teve de conviver com os lecalques havidos. 
7.6 SÉCULOS XVII E XVI I I 
Este período se iniciou com importantes even-
tos na engenharia em geral e na geotecnia em 
particular. Apesar de Vauban, primeiro nome 
ilustre do período, ter sido grande vulto d;i en-
genharia militar, foi a partir de então que come-
çou a separação entre esta e a engenharia civil 
(assim como, no século seguinte, estabeleceu-
se nítida diferenciação entre engenheiros civis 
e arquitetos). Os primeiros engenheiros civis re-
conhecidos como tais foram os de pontes e cal-
çadas (1720, embora só mais tarde Smeaton vi-
esse a usar a designação), o que levou ã cria-
ção, em 1747. da Ecole des Fonts et Chauisées 
(como, no fim do século, com a Revolução, a 
École Polytechnique). Mas, voltando a Vauban, 
foi ele escolhido pelo rei como Comissário Ge-
ral de Fortificaçòes. Levou as linhas de defesa 
para fora e além dos muros das cidades, como 
também desenvolveu nas fortificaçòes uma sé-
rie de plataformas para a artilharia. É fácil de 
perceber a importância que passaram a ter os 
muros de arrimo em fundações. Embora usa-
dos. juntamente com os contrafortes, desde a 
mais r e m o t a a n t i g ü i d a d e a part ir da 
Mesopotâmia, e depois, na Grécia e em Roma, 
eram construídos por sentimento fundado na ex-
periência, quanto a dimensões e profunidade. 
Foi Vitrúvio, mais uma vez, quem primeiro es-
creveu sobre eles, mas tratava-se de uma série 
de recomendações, muito pertinentes, quanto á 
sua escavação, assentamento, dimensões e 
verticalidade, principalmente quando usados 
como fundações, bem como a importância dos 
seus contrafortes. Mas dezesseis séculos depois 
e embora, antes dele. outros tenham escrito 
sobre fortificaçòes, foi Vauban quem primeiro 
visualizoua conjunção de ações entre solo e 
estrutura de retenção e deixou escritos e dese-
nhos a respeito que, c o m o observa Kérisel 
(1985), constituíram o núcleo para os desenvol-
vimentos que. sobre o tema, fizeram os enge-
nheiros dos dois séculos seguintes. A grande 
experiência de Vauban foi adquirida na cons-
trução de cerca de 300 fortificaçòes, umas pou-
cas das quais sobre argilas, onde experimentou 
as dificuldades peculiares a esse material. 
Vauban atuou também nos grandes trabalhos de 
canais mandados fazer por Luís XIV. Mas nesse 
tempo, em virtude de muitos colapsos de pila-
res de pontes malfundados, os rios também ga-
nharam atenção e as fundações de pontes pas-
saram a ser feias em ilhas artificiais. Ora, estas 
ilhas obstruíam o canal do rio de tal maneira, 
que se voltou ao uso das ensecadeiras. Estas, 
agora esgotadas por meio de bombeamento, 
eram em seguida escavadas por dentro até o 
nível de fundação dos pilares. Como variante, 
de Labelye introduziu o uso dos caixões de 
madeira que eram afundados para se assenta-
rem no leito do rio previamente nivelado por 
dragagem. As primeiras camadas de fundação 
eram, então, diretamente colocadas sobre o fun-
do de madeira do caixão, enquanto as paredes 
destes eram posteriormente recuperadas 
No início do século XVIII. a experiência acu-
mulada até Vauban começou a ser teorizada, no 
que seriam os primórdios da mecânica dos solos. 
Esse período, que Skempton (Skempton, 1985) 
chama de pré-clássico, caracterizado por teorias 
empíricas sobre pressões de terra baseadas no 
chamado ângulo de talude natural e no peso es-
pecífico do solo, apresenta nomes como, crono-
logicamente: H. Gautier (1717), jâ separando cla-
ramente os aterros animados em de areia pura, 
"terra comum" (provavelmente solo misturado) 
e argila, e acrescentando àqueles dois parâmetros 
dos três tipos de solo a propriedade de serem 
permeáveis os dois primeiros tipos e impermeá-
vel o terceiro (argilas); B.F. Bélidor (1729) em 
seu famoso livro "La Science des Ingénieurs...", 
claramente dirigido tanto a engenheiros militares 
como civis (republicado um século depois, em 
1830, com simples acréscimos de notas de 
rodapé), trata teórica e numericamente das pres-
sões de terra e amplia, com respeito a fundações 
(possíveis ou não), os tipos de solo dados por 
Gautier, começando por rocha, dividindo as areias 
em soltas e compactas, as terras em secas e úmidas 
e, depois da argila, lembra a existência de terrenos 
turfosos, inadequados para fundações; F. Gadroy 
(1746) tratou de pressões sobre muros, mas abor-
dando. pela primeira vez, as superfícies de 
deslizamento e as fendas observadas à superfí-
cie de aterros animados reais, que ele tentou 
reproduzir em modelo em caixas cie areia mas de 
dimensões reduzidas; J.R. Perronet (1769). pri-
meiro diretor da École des Ponts et Chaussées, 
escreveu sobre pontes, mas também memória pio-
neira sobre estabilidade de taludes de terra, distin-
guindo jã taludes naturais e de aterros e apontan-
do o efeito da água sobre sua instabilidade. Por 
e x t e n s ã o trata da resistência de atrito no 
escorregamento e sua relação com tensões, e 
implica a noção de que o ângulo de talude natu-
ral é igual ao ângulo de atrito. Finalmente. 
Rondelet (1770) fez ensaios com modelos de 
muros de arrimo maiores que os de Gadroy, me-
dindo vários ângulos de escorregamento. 
No tocante a fundações, Feld (Feld, 1948) opi-
na que sua técnica a esse tempo já estava bem 
estabelecida e lembra que J . II. Lambert (1772). 
baseado na observação e na experimentação, foi 
o primeiro a tentar racionalizar o projeto de fun-
dações por sapatas e por estacas. 
1.7 HISTÓRIA M O D E R N A ATÉ 1920 
O que Skempton (1985) chama de período clás-
sico da mecânica dos solos se inicia, ainda em 
1776, com Coulomb. Charles Augustin Coulomb, 
notável engenheiro e físico, praticamente inau-
gurou o que viria a ser, século e meio mais tarde, 
a ciência da Mecânica dos Solos. É interessante 
notar que a clássica equação igualando a resistên-
cia ao cisalhamento s do solo à sua coesão c mais 
a tensão normal o vezes o coeficiente de atrito 
tg(p<\o mesmo solo na adaptação, ou resumo, que 
Skempton (1985) faz do trabalho de 1773 (publi-
cado em 1776) de Coulomb (que usa esforços S e 
N, em lugar de tensões e coeficiente dc atrito 0 é 
a primeira equação tio ThcoreticalSoil Mechanics" 
de Terzaghi (1943). A diferença é, como se sabe, 
que Coulomb e seus continuadores trabalharam 
em termos de tensões totais e Terzaghi introduziu 
o conceito tle tensões efetivas, na década de 1920. 
A teoria sobre pressões tle terras em muros de 
arrimo. que Coulomb desenvolveu, anotou corre-
tamente que a cunha de escorregamento na su-
perfície deste nào era plana mas encurvada, entre-
tanto bastante próxima do plano para este ser usa-
do como simplificação; que o ângulo deste plano 
com a horizontal nào era o de talude natural, mas 
dependia do coeficiente de atrito do solo (que 
podia ser reduzido pela umidade); que o solo, além 
do próprio, também desenvolvia atrito contra o 
muro, o que dava sobre este um empuxo nào ho-
rizontal (simplificação) mas inclinado e que esse 
empuxo potlia ser aumentado pula percolação 
d'ãgua no material an imado. Seus sucessores nes-
ses estudos foram principalmente: G.C.M.R. Prony 
(1802). que difundiu a teoria (razoavelmente 
verificada em ensaios de modelos de 1.5 m de alto 
de Mayniel em 1808); .f.F. Français (1820), esten-
dendo o estudo a solos coesivos sobre muros com 
tardoz (face interna) inclinado e a taludes de esca-
vações; C.L.M.H. Navier (1833), que continuou as 
indagações sobre solos coesivos, principalmente sua 
estabilidade a longo prazo (com iniemperismo) — 
hipótese c - Oc com a penetração d'água (expan-
são); eJ .V. Poncelet (1840), que introduziu o sírn-
lx>lo <p para o ângulo (ainda igual ao de talude 
natural) cuja tangente era até então chamada de 
coeficiente tle atrito / e deu especial atenção às 
fundações do muro (capacidade de carga e profun-
didade destas, aumentando o empuxo passivo). 
Sobre fundações propriamente, Fekl (1948) cita 
dois nomes, Moreau (1827) e Niel (1835), e dois 
fatos: a) o uso tle estacas de areia (que substituíam 
estacas tle madeira, cravadas e arrancadas) bem como 
de colchões tle areia para adensar e aumentar a re-
sistência tle solos lodosos e argilosos; b) a pes-
quisa de distribuição de pressões aplicadas no solo 
(pelas deformações nele induzidas). Todos esses 
estudos eram experimentais, incluindo até provas 
tle carga. 
No meio tio século, três nomes ilustres contri-
buíram para o progresso da mecânica dos solos 
tle então: Collin, Rankine e Darcy. Alexandre CoIIin 
(1846) dedicou-se aos taludes não animados dc 
argila — cortes e aterros — e foi o primeiro a reco-
nhecer a coesão t: como resistência-limite da-argila 
na ruptura (a curto e a longo prazo, de acordo com 
a inclinação do talude e a ação do tempo) (Nota 
4, 1.11). W.J.M. Rankine (1859) desenvolveu uma 
teoria do campo de tensões baseada no parâmetro 
(p, que ele chama de ângulo de repouso, deixan-
do íf>(p - f para talude natural. A despeito de Collin, 
dez anos antes, Rankine considera a coesão c como 
algo temporário, destrutível pelo ar e pela água e 
pelas seqüências congela mento-degelo dos solos. 
Com base na citada teoria tio campo de tensões, 
derivou as conhecidas expressões para os coefici-
entes de empuxo. ativo e passivo, e uma fórmula 
dando a capacidade de carga de uma fundação a 
profundidade D, mas sem considerar sua largura 
li. I: de assinalar-se que os desenvolvimentos re-
feridos acima, colocados por Rankine em seu 
Manual de Engenharia Civil (de 1862 e que, se-
gundo Skempton, permaneceu em uso na Ingla-
terra até bem dentro do século XX), só em 1915 
vieram a receber a consideração da coesão ç, por 
Bell (empuxos e capacidade de carga, esta a pri-
meira expressão que incluía ç). M.P.G. Darcy 
<1856), ilastre engenheiro de Ponts et Chaussées, 
estudou a percolação dágua nas areias e definiu a 
permeabilidadedestas através de seu coeficiente k. 
No último quartel do século, trabalhos experi-
mentais de G.H. Darwin (1883) e analíticos de J.V. 
Boussinesq (1876,1883) sobre areias soltas e den-
sas, tornaram claro que (p, agora chamado ângulo 
de atrito interno, era variável nas areias, diferente 
e em geral maior que o ângulo de repouso, que é 
daquele apenas um caso particular. 
Do campo teórico-expe ri mental para o de apli-
cação, o inicio do século XIX, na Inglaterra, teve 
vários engenheiros com notável intuição sobre 
concepções que fariam, no futuro, parte da ciên-
cia geotécnica. Rennie, por exemplo, construiu um 
grande armazém sobre fundações "flutuantes". O 
que foi chamado de "pai da geologia inglesa", 
William Smith, era engenheiro civil, com trabalhos 
marcantes principalmente na construção de canais. 
E os progressos posteriores tia geologia levaram ã 
abertura de poços que, por sua vez, ensejaram no-
vos conhecimentos sobre o subsolo. 
Mas também no campo da prática dos materiais, 
a engenharia civil registrou consideráveis progres-
sos. O início da revolução industrial firmou o uso 
do tijolo cerâmico nas construções, além das arga-
massas e do concreto, este especialmente nas fun-
dações. O renomado engenheiro John Sineaton, 
construtor do farol de Eddystone — e que foi o 
primeiro a usar. para si mesmo, o título de enge-
nheiro civil (1768) — descobriu que misturas na-
turais de calcário impurificado por argila davam 
um cimento impermeável como o pozolànico e o 
usou nas fundações daquele farol. Isto até levou 
a uma patente, em 179(>, com o nome de cimento 
romano, alusão âs duradouras obras romanas na 
13rítânia. A despeito de que misturas naturais para 
a fabricação de cimento tenham sido usadas, por 
exemplo, nos Estados Unidos, até fins do século 
passado, principalmente em obras de canais, já a 
partir de 1820, na Inglaterra, misturas empíricas 
de cimento foram tentadas, até que Aspdin. em 
Wakefield. obteve um cimento pela calcinaçâo da 
mistura de um calcário mole com argila. Seu atual 
nome de Portland vem da patente de 182-1, como 
alusão ã sua semelhança, quando endurecido, à 
pedra calcária de Portland (Dorset). O concreto 
desse cimento foi usado para cobrir o leito do rio 
Tâmisa, no local da passagem do primeiro túnel 
subfluvia! do mundo, ali construído por M.I. Bmnel 
em 1828. A teoria da mistura tio calcário e argila 
para a fabricação de cimento foi estabelecida em 
1839 por L.J. Vicat, que o chamou de cimento hi-
dráulico e o usou no porto de Cherburgo. 
Mas foi na construção de fundações que o con-
creto passou a ter enorme importância, provocan-
do, inclusive, progressos nos equipamentos usa-
dos. Tal importância chegou ao máximo com o 
advento do concreto armado que, como se sabe, 
começou humildemente, na França, com a fabri-
cação por j . Monier, em 1848, de cubas tle concre-
to reforçado, no interior, por malhas de ferro, para 
a plantação tle laranjeiras. Seguiram-se desenvol-
vimentos, na Inglaterra, com W.B. Wilkinson; na 
Alemanha, com Wayss & Freitag e M. Koenin; na 
França, pelo próprio Monier e, mais tarde, por E. 
Coignet e F. Ilennebique; e, nos Estados Unidos, 
com T. llyatt e E.L. Ransome. IX* tal forma que, 
além da construção tle grandes edifícios e pontes, 
o concreto simples, o ciclópico e o armado torna-
ram-se o principal material tle fundação, pois até 
os alicerces de tijolo-duplo para paredes tle casas 
se assentam sobre lastro tle concreto. 
Voltando â geotécnica teórica, se o fim do sécu-
lo XIX foi a época da conceituaçáo definitiva tio 
ângulo tle atrito interno <p, o inicio do século XX 
voltou a dar primazia âs argilas com a procura de 
sua definitiva caracter ização c o m o material 
geotécnico e que se valeu, de início, dos estudos 
tle base agronômica tle Atterberg, na Suécia. Es-
ses estudos, que se realizaram em torno de 1910, 
começaram com uma classificação granulométrica 
dos solos, ficando as argilas como sendo aqueles 
solos com grãos menores que 2 }.i (ou 0,002 mm) 
em diâmetro. Logo Atterberg reconheceu a insufi-
ciência desse limite para assinalar a propriedade 
física característica das argilas — a sua plasticidade 
— e estabeleceu os hoje conhecidos como limites 
tle consistência, o inferior como o início do esta-
do nào-plástico e o superior como início do esta-
do fluido (aos quais, em 1921, Terzaghi chamou 
tle limites tle plasticidade e de liquidez, respecti-
vamente). A diferença entre esses tlois limites, que 
Atterberg chamou tle índice tle plasticidade, le-
vou a uma primeira classificação numérica tle com-
portamento tios solos. Na mesma época começa-
ram estudos tle características mecânicas das argi-
las, especialmente cisalhamento, incluindo ensai-
os e análises tle rupturas, iniciados por Frontard e 
Késal. Jean Frontard estudou a ruptura e fez en-
saios sobre materiais do dique de Charmes e Jean 
Résal os incluiu no seu tratado "Empuxo das ter-
ras: teoria das terras cocsivas", ambos em 1910. 
Pouco depois, na construção de muros de cais 
em Rosyth, Arthur Langtry Bell realizou os primei-
ros ensaios em caixa de cisalhamento sobre amos-
tras de argila razoavelmente indeformadas (resul-
tados publicados em 1915). Em 1910, outro caso 
de cais, este de ruptura em argila mole de Stibcrg, 
no porto de Gotemburgo, levou K.E. Petterson e 
S. Hultin ã primeira análise (no caso, retroanálise) 
pelo método do circulo de escorregamento, hoje 
conhecido como método sueco das "fatias verti-
cais". O curioso é que, a despeito de se tratar de 
argila mole e dos trabalhos de Bell, na referida 
retro-analise de Petterson-Hultin, c foi despreza-
da e com isso chegaram a um ç) baixo para a argi-
la mole. Isso levou, em 1917, T.F. Hellan, do por-
to de Trondheim, a sugerir o contrário, que a aná-
lise se fizesse com base na coesào. Daí, a primeira 
análise com <p = 0 foi feita por Wolmar Fellenius 
em 1918. que depois generalizou o método para 
incluir simultaneamente na análise c c ç ) ; e , como 
tais análises são feitas para o estado limite de equi-
líbrio, Fellenius sugeriu, em projetos, a introdu-
ção de um fator de segurança S aplicado direta-
mente aos parâmetros, isto é. c/s <_• tg<p/s. Os pro-
blemas ile estabilidade, então verificados, não se 
deram só em obras portuárias, mas também em ta-
ludes de traçados de estradas de ferro, o que levou 
ã criação, em 1913 na Suécia, da Comissão 
Gcotécnica Sueca, da qual Fellenius fez parte. Re-
gistraram-se ainda problemas de estabilidade de 
taludes em obras de canais, como os do canal de 
Kiel e tio canal do Panamá, como antes, na abertu-
ra do canal de Suez. 
1.8 A FASE C O N T E M P O R Â N E A 
O período contemporâneo da história geotécnica 
começa necessariamente com Karl Terzaghi, o pai 
da Mecânica dos Solos. Ao longo dos tempos e 
dos mais variados lugares e pessoas, os desenvol-
vimentos — baseados na experiência, ganha em 
tentativas, erros e acertos, em experimentos, in-
terpretações e teorias — acumularam-se de tal 
modo c com tal vulto que, observa Pcck (IVck, 
1985), a Mecânica dos Solos teria nascido mesmo 
sem Terzaghi. Mas, ao contrário e lembrando as 
belas palavras de Skempton no 6"' ICSMFE (Nota 
5, 1.11), pode dizer-se que Terzaghi foi o homem 
certo na ocasião certa para promover tal apareci-
mento. não só por sua capacidade de liderança, 
mas principalmente por sua envergadura como en-
genheiro, geólogo e cientista, e a determinação 
com que analisou criticamente todo aquele gigan-
tesco acervo empírico; partiu, em seguida, para 
um programa de pesquisas destinadas a elucidar, 
complementar e descobrir tanto quanto fosse ne-
cessário para consolidar, em bases cientificas, os 
conhecimentos de uma nova ciência da Engenha-
ria. Esse programa, estabelecido em 1919, foi de-
senvolvido na primeira metade da década seguin-
te no Robert College, em Constaniinopla, com 
ênfase sobre as argilas, como vinha acontecendo 
nos últimos vinte anos. E, então, a partir da 
permeabilidade dessas argilas, caiacteristicamen-
te de baixo coeficiente e, portanto,lento proces-
so de percolação, tendo, assim, decisiva influên-
cia sobre o fenômeno da compressibilidade das 
mesmas argilas, que Terzaghi introduziu o estudo 
desse fenômeno com o nome de adensamento 
(consolidação^; bem como da sua influência so-
bre a resistência ao cisalhamento cas argilas, com 
a caracterização precisa do ângulo de atrito inter-
no cp e da coesão ç. Estes dois aspectos e mais a 
sua descoberta do princípio das pressões efetivas 
(parte das pressões normais totais aplicadas e ab-
solvidas grão a grão pela fração sólida do solo, a 
outra parte sendo absorvida pela água intersticial) 
(Nota 6. 1.11) que condiciona os dois fenômenos, 
adensamento e cisalhamento, constituem os três 
marcos básicos da moderna Mecânica dos Solos. 
Acompanhando esses estudos experimentais, pu-
blicou trabalhos em 1921 e 1923, e e m 1924 apre-
sentou a sua teoria sobre o já referido adensamento 
e o princípio das pressões efetivas no Congresso 
Internacional de Mecânica Aplicada (Delft, 
Holanda). Nesse mesmo ano, como coroamento 
de tudo, concluiu o seu tratado fundador da nova 
ciência, ' Erdbaumechanik", publicado no ano se-
guinte (1925) (Nota 7, 1.11). Já se nota neste 
evidência do tratamento científico das questões 
geotécnicas quando, por exemplo, aponta a coesão 
como podendo ser real ou aparente esta desapare-
cendo por total imersâo ou total secf.mento do solo. 
No fim do mesmo ano de 1925 um resumo, sob 
o nome de Principies of Soil Mechanics, foi publi-
cado cm oito artigos na revista "Engineering News 
Record" (Nota 8, 1.11) e, em 1926, como livro, 
pela McGraw-Hill, N.Y., sob o mesmo título. Estes 
latos balizam tanto a segunda metade da década 
ile 20, que Terzaghi passou nos Estados Unidos, 
como a sua mudança de atividades visando ao 
esclarecimento do campo profissional, principal-
mente em fundações e geotécnica de estradas. 
Nesta, a ênfase voltou-se para a classificação e 
propriedades físicas dos solos, e naquelas em dois 
t rabalhos b á s i c o s : " M o d e m C o n c e p i i o i i s 
Concerning Foundation Engineering" (fins de 
1925) e "The Science of Foundations" (1927) (Nota 
9. 1.11). Aqueles três marcos básicos da Mecânica 
dos Solos que apontamos acima (coesão, atrito 
interno e pressões efetivas), Terzaghi apresentava 
de maneira mais clara e acessível: os dois primei-
ros como resistências de argilas e areias tipicas, 
respectivamente; e, em vez de citar pressões efeti-
vas, aqueles conceitos que elas vieram revolucio-
nar, ou seja. tensâo-deformaçâo nos solos (pro-
priedades então chamadas "elásticas", como 
compressibilidade-adensamento, para diferenciar 
de propriedades limites na ruptura em estado "plás-
tico'); e permeabilidade nos solos (com os fenô-
menos de percolação e capilaridade). 
Mas, no tocante a fundações, a questão que evi-
dentemente interessa mais de perto é a das suas 
ccndiçòes de suporte. O prcblema da capacidade 
de carga dos solos tem sido, ao longo dos tempos, 
praticamente abordado através de: a) pressões 
admissíveis codificadas; b) provas de carga; e c) te-
orias ou métodos de cálculo dessa capacidade. As 
chamadas pressões admissíveis "tradicionais" fo-
ram sempre baseadas na experiência da prática 
p e s s o a l ou c o l e t i v a ( a q u i . via de regra, 
especificadas em códigos locais ou regionais) e 
representam apenas valores gentis para solos típi-
cos. em casos "fora de dúvida", isto é, nào sujei-
tos a limitações e peculiaridades localizadas. As 
provas de carga, embora usando a aparência de 
um método de experimentação direta, só têm hoje 
valor auxiliar, em virtude das quase incontornáveis 
dificuldades ligadas a dimensões, principalmente 
da área de carregamento direto. Na fase pré-cientí-
fica da técnica, eram comuns placas de prova de 30 
cm x 30 cm para atingir pressões expressivas com 
cargas de reação moderadas e, em geral, um só 
ensaio. Houve até uma tentativa (fórmula de 
Housel) de cálculo de pressão admissível a partir 
de parâmetros obtidos em. no mínimo, duas pro-
vas e levando em conta nào só a compressão 
(área), mas também o cisalhamento (perímetro) 
produzidos no solo pela superfície carregada; mas, 
ainda, com as limitações, diante das construções 
reais, de área carregada, alcance em profundida-
de e variações locais. Daí as tentativas que, desde 
Rankine, se fizeram para calcular uma capacidade 
de carga-limite e dividi-la por um fator de segu-
rança. Os métodos resultantes já comportam duas 
limitações iniciais: a suposição de que o solo é 
homogêneo e que a fundação é corrida ou contí-
nua (faixa carregada de comprimento indefinido) 
para análise plana. A primeira tentativa, a de 
Rankine, imaginava uma superfície de ruptura nào 
contínua abaixo do corpo de fundação, portanto 
irreal, e só aplicável a solos pulverulentos (só<p). 
Foi visto também que, 60 anos após, Bell esten-
deu-a a solos coesivos, introduzindo a coesão ç 
na expressão da capacidade de carga. Vieram logo 
antes e depois: Krey (1913) com seu círculo de 
atrito (<p) e Prandtl (1920-24), cujo esquema sobre 
ruptura plástica dc metais foi aproveitado com a 
introdução do peso específico y do solo (c,ç>) e da 
largura 2 b da fundação. Terzaghi, que em 1925 
deduzira uma expressão para a capacidade de 
carga a partir do equilíbrio de prismas ativos e 
passivos definidos pela largura 2 b e a profundi-
dade z d a fundação, em 1913 e em estudo deta-
lhado (Terzaghi, 1943) voltou ao esquema das su-
perfícies de ruptura contínuas, semelhantes à de 
Prandtl, introduziu a noção de ruptura por 
cisalhamento geral (solos densos, pouca deforma-
ção antes da ruptura) e a da cisalhamento local 
(solo fofo, deformação acentuada, antes da rup-
tura) e fundação rasa e profunda, aquela sendo a 
que se situa a profundidade em geral menor ou 
no máximo igual à largura da fundação. Conside 
rou ainda os casos de fundações com bases lisas 
ou rugosas. Os resultados das análises levaram a 
expressões dc três termos, cada um ligado a um 
dos chamados fatores de capacidade tle carga: Nt., 
N e N (cisalhamento geral) e N\. N\, c N/ 
(cisalhamento local), dependentes unicamente de 
tp. Aqueles três termos contêm, respectivamente, 
a coesão c, a profundidade z e a largura 2b da 
fundação corrida. Para fundações rasas com com-
primento aproximadamente igual à largura «circu-
lares, quadradas e retangulares) a analise mate-
mática é mais complicada e Terzaghi adaptou com 
coeficientes baseados na experiência disponível 
os termos, para usar os mesmos fatores de capaci-
dade de carga. Para fundações profundas (por 
exemplo: tubulòes), acrescentou à expressão da 
fundação rasa um quarto termo igual à superfície 
lateral da fundação profunda multiplicada por um 
fator de atrito e adesividade, ambos laterais. 
Mas fundações profundas são também as fun-
dações por estacas, cuja capacidade de carga foi, 
igualmente e desde o princípio do século XX. pro-
curada por teorias sem sucesso, como a de Stern 
(1908) e a de Dõrr (1922). Do ponto de vista está-
tico, Terzaghi estendeu o raciocínio, que acaba de 
ser visto, sobre fundações profundas, às fundações 
por estacas, englobando os três primeiros termos 
sob a designação de resistência de ponta e o quar-
to termo com o nome de resistência de atrito late-
ral. lí claro que sendo aqueles três primeiros ter-
mos já adaptados da teoria das fundações corridas 
para as de forma circular ou quadrada, a sua ex-
tensão, para estacas com seções circular (estacas 
cilíndricas ou cônicas alongadas) e quadrada (es-
tacas prismáticas) é uma segunda aproximação, que 
serve ao menos para estimar o limite inferior da 
resistência de ponta, enquanto o atrito lateral é 
medido, algumas vezes e sob forma dinâmica, em 
ensaios de arrancamento ou estimado com base 
na experiência local sobre os vários tipos de solo. 
Este talvez seja ainda o melhor apoio para o cál-
culo empírico, pois o atrito lateral varia, seja a 
estaca de madeira, de concreto ou metálica, rora 
disso, a única possibilidade é a da medida direta 
da capacidade de carga até

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