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EXERCÍCIO PARA CRIANÇAS, IDOSOS E GESTANTES UNIASSELVI-PÓS Autoria: Naiandra Dittrich Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: D617e Dittrich, Naiandra Exercício para crianças, idosos e gestantes. / Naiandra Dittrich. – In- daial: UNIASSELVI, 2020. 178 p.; il. ISBN 978-65-5646-225-7 ISBN Digital 978-65-5646-226-4 1. Exercícios físicos. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 790 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Prescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes ......7 CAPÍTULO 2 Prescrição de Exercícios para Idosos .....................................65 CAPÍTULO 3 Prescrição de Exercícios para Gestantes ............................127 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, seja bem-vindo a mais uma disciplina do nosso curso de Pós-Graduação! Como você sabe, a prática regular de exercícios físicos, induz uma série de benefícios para o corpo e para a mente. Dentre os benefícios, podemos destacar a melhora da capacidade cardiovascular, o aumento da força muscular, o fortalecimento dos ossos, a ajuda no combate as doenças psicossomáticas e a prevenção de diversas outras doenças como diabetes e hipertensão. Apesar dos benefícios conhecidos, o sedentarismo apresenta-se como um grave problema de saúde pública e por isso nós, profissionais de Educação Física, temos um papel importante para estimular a prática de exercícios físicos em todas as idades. No entanto, a prescrição de exercícios físicos deve ser realizada de forma segura e de acordo com as características de cada indivíduo. A prática de exercícios físicos na fase de crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente é essencial, porque impulsiona o crescimento motor, amplia as habilidades de motricidade fina, estimula o funcionamento do sistema cardiovascular e respiratório, desenvolve flexibilidade, auxilia na manutenção do peso corporal, prevenindo a obesidade, melhorando a postura e autoestima. Para tanto, no Capítulo 1, vamos estudar a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes. A prática de exercícios físicos pela população idosa também é importante para manutenção de uma vida saudável e independente. A sarcopenia é um fenômeno natural em que ocorre a diminuição da massa muscular ao longo do tempo. Essa condição acelera a degeneração e a perda de autonomia, além de aumentar o risco de doença. No entanto, o exercício físico configura-se como uma excelente ferramenta para desacelerar esse processo e aumentar a funcionalidade da população idosa. Assim, no Capitulo 2 vamos estudar esse fenômeno e vamos aprender como realizar a prescrição de exercícios de forma adequada para essa população. Outro grupo que merece atenção em relação a prescrição de exercícios é o das gestantes. Você sabia que, até a década de 1980, as gestantes não eram orientadas a praticar exercícios regularmente? Hoje, sabe-se que o exercício contribui não somente para uma gravidez mais saudável, mas também para uma recuperação mais rápida e segura. Mas para isso, é preciso que o exercício seja realizado de forma correta e segura. Por isso, no Capítulo 3 vamos estudar a prescrição de exercício para gestantes. Espero que você aproveite ao máximo todos os conteúdos da disciplina. E lembre-se de que seu papel vai muito além de prescrever exercícios, você também é responsável por atuar na promoção da saúde e na prevenção de doenças, proporcionando melhor qualidade de vida para todos. Bons estudos e sucesso! CAPÍTULO 1 Prescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • conhecer as diferenças entre crescimento, desenvolvimento e maturação; • saber as características e alterações que ocorrem no organismo ao longo do processo de maturação; • aprender a avaliar o crescimento e a maturação; • identificar os cuidados a serem tomados na prescrição de exercícios para crianças e adolescentes; • aprender sobre as janelas sensíveis de treinamento de diferentes capacidades físicas; • prescrever exercícios de forma adequada e respeitando o desenvolvimento das crianças e adolescentes; • perceber a importância do profissional da Educação Física para promoção de saúde e prevenção de doenças. 8 Exercício para crianças, idosos e gestantes 9 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O corpo da criança passa por uma série de adaptações físicas e fisiológicas durante o seu desenvolvimento. Essas alterações devem ser compreendidas e respeitadas pelo profissional de Educação Física, tanto na escola quando no esporte, para que a prescrição de exercícios seja realizada de acordo com as condições da criança. Por isso, antes de estudarmos as possibilidades de exercícios para crianças e adolescentes, vamos estudar alguns conceitos importantes do processo de crescimento, desenvolvimento e maturação. Essa compreensão é importante para que você, como profissional de Educação Física, consiga realizar o seu trabalho com maior segurança. 2 PERÍODOS ETÁRIOS Desde o momento do nascimento, um bebê está em constante processo de crescimento e desenvolvimento. À medida que crescem, as crianças desenvolvem inúmeras capacidades físicas, sociais e cognitivas. De acordo com o crescimento elas gradualmente adquirem uma gama crescente de capacidades e habilidades que influenciam a maneira como elas se comunicam, tomam decisões, exercem julgamento, absorvem e avaliam informações, assumem responsabilidades e mostram empatia e consciência dos outros. Conforme você já aprendeu em outras disciplinas, a aquisição e o desenvolvimento de habilidades físicas e motoras também ocorre de forma gradual e de fato, existem períodos ótimos para aprender e aprimorar determinadas qualidades físicas. Por isso, é importante que você saiba quais são os períodos etários que compõem o ciclo da vida. Na literatura científica, existem diversos modelos de divisão dos estágios que compõem a vida. Mas, de forma geral, o modelo mais utilizado é o que divide a vida em: pré-natal, infância, segunda infância, terceira infância, adolescência, vida adulta inicial, vida adulta intermediária e vida adulta tardia (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). O Quadro 1 apresenta um breve resumo de cada uma dessas etapas para que você possa relembrar essas etapas já aprendidas em outras disciplinas. QUADRO 1 – ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO AO LONGO DA VIDA Etapa de desenvolvimento Período de desenvolvimento Pré-natal Começa no período de concepção e vai até o período de concepção. Infância Ocorre desde o nascimento do bebê até os dois anos de idade. Segunda Infância Começa aos dois anos e continua até os seis anos. 10 Exercício para crianças, idosos e gestantes Terceira Infância ou infância tardia Inicia aos seis anos de idade e continua até o início da puberdade. Adolescência Começa aos 11 e termina aos 20 anos. Vida adulta inicial Começa aos 20 e termina as 40. Vida adulta intermediáriaComeça aos 40 e termina aos 65 anos. Vida adulta tardia Começa a partir dos 65 anos. FONTE: Adaptado de Papalia; Olds e Feldman (2009) Sobre a adolescência, é importante destacar que esse é o período mais complexo de se definir de maneira cronológica, pois existem diversas propostas de divisão. No entanto, o que é consenso é que é durante esse período que os principais sistemas corporais se tornam adultos em estruturas e funcionalidade, ou seja, eles alcançam a maturidade biológica completa (ARMSTRONG, 2007; MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Por isso, é importante destacar que, ao longo deste capítulo, você irá aprender estratégias que podem ser usadas para determinar a maturação e consequentemente o período de desenvolvimento que a criança e o adolescente se encontram. Considerando que o objetivo principal da nossa disciplina é a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes, é importante que você tenha em mente que sempre que o termo “criança” for mencionado, estaremos nos referindo ao período da infância. Por outro lado, sempre que usarmos a palavra “adolescente” estaremos nos referindo ao período da adolescência. 3 CONCEITOS IMPORTANTES Para iniciarmos o estudo dessa temática tão importante para a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes, é preciso compreender as diferenças entre conceitos importantes como crescimento, desenvolvimento e maturação. A compreensão desses fenômenos é importante pois parâmetros morfológicos e funções fisiológicas, como volume cardíaco, função pulmonar, assim como as capacidades físicas como potência aeróbia, velocidade e força muscular, desenvolvem-se e alteram-se de acordo com a idade e maturação. Além disso, os sistemas como por exemplo, o sistema respiratório, muscular, motor e cardíaco também mudam com o crescimento e a maturação. Assim, o conhecimento e a correta avaliação desses conceitos, permitirá que a prescrição de exercícios seja realizada respeitando as características físicas e fisiológicas da criança e do adolescente. 11 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 3.1 CRESCIMENTO O crescimento pode ser definido como um aumento quantitativo em tamanho ou magnitude do corpo como um todo ou o tamanho atingido por partes específicas (BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005). Pode-se dizer que esse processo é finalizado no momento em que o indivíduo alcança a maturidade biológica e pode ser medido pelo peso, estatura, perímetro cefálico e torácico, alterações nas fontanelas, dentição e alterações corporais (HAYWOOD; GETCHELL, 2010). Para Malina; Bouchard e Bar-or (2004), o crescimento é resultado de três processos celulares subjacentes: hiperplasia (aumento no número de células a partir da divisão celular), hipertrofia (aumento no tamanho das células em decorrência de alterações funcionais) e agregação (aumento no agrupamento celular). O crescimento do tecido ósseo, muscular e cerebral são exemplos em que esses processos celulares atuam (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Ainda em relação ao crescimento, é importante destacar que este, também é influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. Como fatores intrínsecos, podemos entender aqueles que estão relacionados com o próprio organismo, como por exemplo herança genética, características hormonais e sistema neurológico (SOUZA et al., 2008). Já, os fatores extrínsecos são aqueles relacionados ao ambiente de forma geral, como por exemplo: alimentação, interação social, relacionamentos, ingestão de água, condição de saúde e até mesmo condições geográficas (SOUZA et al., 2008). Para ilustrar o processo de crescimento, observe a Figura 1 que apresenta as alterações na forma e na proporção corporal antes e após o nascimento. 12 Exercício para crianças, idosos e gestantes FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DO CRESCIMENTO FONTE: Gallahue et al. (2013, p. 114) 3.1.1 Avaliação do Crescimento A antropometria, ou seja, a área responsável por estudar e avaliar as proporções e medidas do corpo humano, é quem irá nos auxiliar no processo de avaliação do crescimento. Pois as medidas de estatura e de peso corporal são as mais utilizadas para avaliar o processo e o desenvolvimento do crescimento de crianças e adolescentes (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Por serem medidas de fácil realização, existem, inclusive, curvas de crescimento para peso e altura, para que seja possível acompanhar o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Na literatura científica, existem vários modelos de referência de curvas de altura e peso que foram desenvolvidos a partir de dados populacionais, sendo que as propostas pela organização mundial da saúde e do CDC (do inglês Center Disease Control) apresentam-se como as mas utilizadas. Para exemplificar, observe a Figura 2 com os gráficos propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 13 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 FIGURA 2 – CURVA DE CRESCIMENTO (A) E DE PESO (B), FORNECIDA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, PARA MENINOS E MENINAS. FONTE: <https://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/endocrinologia/ graficos-de-crescimento/>. Acesso em: 1º dez. 2020. Embora seja uma maneira simples de avaliação, por meio dessas curvas já é possível observar se a criança apresenta um padrão de crescimento regular ou não. A partir dessas observações iniciais, é possível realizar avaliações mais específicas. Outro gráfico interessante para acompanhar as etapas do crescimento é o proposto por Malina, Bouchard e Bar-Or (2004). O Gráfico 1 apresenta curvas e etapas individuais de velocidade para a estatura em meninos e meninas, e é importante que você, acadêmico, analise o período do estirão do crescimento. Observe que a velocidade do ganho em estatura é diminuída até o período em que é iniciado o estirão de crescimento. É nesse período que se ganha em torno de 20% da estatura final. O pico de velocidade em estatura nas meninas ocorre, em média, em torno dos 12 anos de idade, enquanto nos meninos ocorrerá aproximadamente dois anos mais tarde, por volta dos 14 anos. 14 Exercício para crianças, idosos e gestantes GRÁFICO 1 – CURVA DE CRESCIMENTO E ETAPAS DE CRESCIMENTO DE MENINOS E MENINAS FONTE: Malina; Bouchard e Bar-Or (2013, p. 123) 3.2 DESENVOLVIMENTO Assim como ocorre com o crescimento, o desenvolvimento acontece de forma lenta e gradativa e pode ser entendido de diferentes maneiras. Uma dessas maneiras está relacionada ao desenvolvimento biológico, ou seja, que se refere aos processos de diferenciação e especialização das células embrionárias. Por outro lado, existe ainda o desenvolvimento relacionado a capacidade do indivíduo em executar novas atividades e funções complexas, como por exemplo, o desenvolvimento neuromuscular, o desenvolvimento da motricidade fina e o desenvolvimento que envolve processos fisiológicos e psicológicos, que vão ser assistidos por toda a vida (HAYWOOD; GETCHELL, 2010). Gallahue (2000) entende que o desenvolvimento é um fenômeno composto por mudanças constantes e que acontece durante toda a vida, de forma progressiva e dependente de fatores biológicos como hereditariedade e desnutrição. É importante destacar que, embora o desenvolvimento, assim como o crescimento, apresente um padrão de evolução, não existe uma regra a respeito. Isso porque, esse processo ocorre de forma individualizada, ou seja, 15 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 a evolução ocorre de acordo com o ambiente e os estímulos recebidos pela criança. O desenvolvimento deve ser compreendido com base em um conceito mais abrangente, no qual estão envolvidos aspectos biológicos e psicológicos (MALINA; BOUCHARD, 2002; GUEDES; GUEDES,2006). Fatores nutricionais, como má nutrição, a pratica de exercício físico, o sexo, a altura, a personalidade e as relações e reações emocionais também afetam o crescimento e o desenvolvimento (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009; GALLAHUE; OZMUN, 2005). Por isso, não é recomendado ater-se apenas aos aspectos biológicos do crescimento e da maturação. 3.3 MATURAÇÃO A maturação é um processo mais complexo de compreender, pois defende de diferentes fatores. No entanto, a maturação pode ser definida como o processo contínuo de tornar-se maduro ou progresso em direção ao estado biológico maduro (BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005). Bogin (1999) apresenta um conceito mais abrangente que define a maturação como progressão de alterações quantitativas e qualitativas que conduzem de um estado indiferenciado ou imaturo a um estado altamente organizado, especializado ou maduro. Ou seja, um processo que diz respeito às mudanças qualitativas que capacitam o organismo a progredir em direção a níveis mais altos e especializados de funcionamento. A maturação descreve um processo, enquanto o termo maturidade se refere a um estado. É importante destacar que o processo de maturação depende de dois componentes importantes: timing e tempo. Timing refere-se a um período em que ocorrem eventos de maturação específicos como por exemplo, a idade da menarca (primeira menstruação nas meninas); a idade no aparecimento dos pelos púbicos nos meninos e nas meninas, ou ainda a idade no crescimento máximo durante o estirão de crescimento. Por outro lado, o tempo se refere à taxa ou velocidade na qual ocorrem os progressos de maturação, ou seja, a velocidade com o que o adolescente passa dos estágios iniciais de maturação sexual ao estado maduro. O timing e tempo variam consideravelmente entre crianças e adolescentes de mesma idade cronológica (ARMSTRONG, 2007; BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005). 16 Exercício para crianças, idosos e gestantes 3.3.1 Avaliação da maturação A avaliação da maturação em crianças e adolescentes é um aspecto importante da prática desportiva, pois permite que o aprimoramento das capacidades físicas seja realizado respeitando o desenvolvimento. Essa avaliação é necessária, pois a idade cronológica deixa de ser um parâmetro seguro para a caracterização biopsicossocial de um determinado individuo. Consequentemente, adolescentes de mesma idade podem estar em fases distintas da puberdade, pois esta tem início e ritmo de progressão muito variáveis entre eles. Nesse contexto, a maturação esquelética, sexual e somática são os principais métodos utilizados na prática para avaliação da maturidade biológica (BAXTER- JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005; MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). A maturidade esquelética refere-se ao processo de desenvolvimento pelo qual o esqueleto é gradualmente transformado de cartilagem em osso. A sua avaliação é realizada por meio de radiografias da mão e do punho que buscam verificar o nível de desenvolvimento esquelético, ou seja, a forma e grau de mineralização das epífises e placas físicas do osso para definir sua proximidade com a maturidade total. Como o objetivo deste capítulo não é discutir novamente os assuntos já aprendidos em outras disciplinas, vamos apenas relembrar como a avaliação da maturação esquelética é realizada. O primeiro passo é a realização de uma radiografia da mão e do punho. Após isso, é realizada uma avaliação do estado de desenvolvimento ósseo. Para isso existem vários métodos, mas o mais comumente utilizado é a técnica de Greulich e Pyle (1959), que baseia-se na comparação da radiografia com um atlas radiográfico de desenvolvimento ósseo da mão e punho. Como alternativa às técnicas baseadas na comparação de imagens por meio de atlas, outros métodos foram desenvolvidos que avaliam independentemente a maturação de cada osso. O resultado desse sistema fornece padrões de maturidade para cada osso considerado. Dentre os métodos que usam essa técnica esta o método de pontuação específica por osso proposto por Tanner (2001). Essa técnica fundamenta-se no desenvolvimento dos centros de ossificação de alguns ossos para obtenção de um valor que resulta do somatório dos seus diferentes graus de ossificação. Por meio da avaliação individual de ossos e cartilagens obtém-se a idade estimada para o desenvolvimento desse esqueleto. Essa idade estimada é 17 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 conhecida como idade esquelética ou idade óssea, o que representa basicamente a idade biológica de cada criança ou adolescente (MALINA; BOUCHARD; BAR- OR, 2004; MALINA, 2011). Para que você possa entender como ocorre variações nos ossos e na cartilagem ao longo do crescimento, observe e analise a Figura 3, que mostra o desenvolvimento em diferentes idades. FIGURA 3 – DESENVOLVIMENTO DOS OSSOS E CARTILAGENS DO PUNHO E DA MÃO AO LONGO DOS ANOS FONTE: <https://bit.ly/3c4pVQj>. Acesso em: 25 set. 2020. Independente do método utilizado para avaliar o desenvolvimento ósseo, o objetivo da análise é atribuir uma idade estimada para o desenvolvimento ósseo. Conforme dito anteriormente, essa idade é conhecida como idade esquelética ou idade óssea, o que representa basicamente a idade biológica de cada criança ou adolescente (MALINA; BOUCHARD; BAR- OR, 2004; MALINA, 2011). Como você já deve ter observado, crianças com a mesma idade cronológica, ou seja, com a mesma idade podem apresentar características físicas totalmente diferentes. Isso ocorre, pois a maturação não acontece no mesmo momento para todos os indivíduos. Por isso, determinar a idade biológica é importante para saber o estado maturacional da criança. A partir da sua determinação é possível 18 Exercício para crianças, idosos e gestantes classificar meninos e meninas em três categorias de estatuto maturacional: atrasado (tardio), normomaturo (no tempo) e adiantado (precoce). Na prática, isso significa que se você tem um aluno com 9 anos de idade cronológica e 11 anos de idade esquelética, ele é considerado como adiantado. Ou seja, o desenvolvimento maturacional ocorreu mais rápido do que a idade cronológico. Classificar o estado de desenvolvimento é importante para que as exigências impostas durante as aulas e treinamentos respeitem o limite físico e biológico da criança e do adolescente. Veja na Figura 4 como é determinado o estado maturacional: FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO MATURACIONAL FONTE: A autora Acadêmico, outra forma de avaliar o estado maturacional é por meio da avaliação da maturação sexual. Primeiramente, é importante que você tenha em mente que a maturação sexual, está relacionada a capacidade funcional reprodutiva do indivíduo. Sua avaliação é realizada por meio da avaliação do aparecimento e desenvolvimento das características sexuais. 19 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 • Características sexuais primárias são aquelas envolvidas com a reprodução: desenvolvimento dos ovários, útero e vulva nas meninas; e desenvolvimento dos testículos, próstata e produção de esperma nos meninos. • Características sexuais secundárias são as características visíveis como: desenvolvimento das mamas nas meninas; desenvolvimento do pênis nos meninos; e desenvolvimento dos pelos púbicos em ambos os sexos. A partir da avaliação do desenvolvimento das características secundárias, é determinado o estado de desenvolvimento do indivíduo. Utilizando como base os estudos de Tanner (1962), podemos classificar o desenvolvimento em cinco estágios: o Estágio 1 corresponde ao estado pré- púbere, isto é, a ausência de manifestação do carácter analisado; o Estágio 2 indica o aparecimento desse carácter, por exemplo, a elevação inicial da mama nas meninas ou o aparecimentoda pilosidade púbica em ambos os sexos; os Estágios 3 e 4 caracterizam-se pela continuação do processo de maturação do carácter em causa e são, de algum modo, mais difíceis de distinguir; o Estágio 5 corresponde ao adulto ou estado maduro do carácter avaliado. FIGURA 5 – ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO EM MENINOS 20 Exercício para crianças, idosos e gestantes FONTE: <https://bit.ly/35Nl5qq>. Acesso em: 1º dez. 2020. Assim como para os meninos, a Figura 6 demonstra os cinco estágios de desenvolvimento e as formas de avaliação em meninas. FIGURA 6 – ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO EM MENINAS FONTE: <https://bit.ly/35MFQT7)>. Acesso em: 1º dez. 2020. 21 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 Somado aos métodos já apresentados para avaliação da maturação biológica, a avaliação somática apresenta-se como uma alternativa de avaliação com o benefício adicional de ser um instrumento de baixo custo, de fácil aplicabilidade e não invasivo, tem sido aceito pela comunidade como um indicador útil e confiável para a análise do nível de maturação (MALINA et al. 2012). De forma geral, a maturidade somática refere-se às mudanças morfológicas que ocorrem no corpo ao longo do tempo. Nesse contexto, o momento (idade) em que ocorre o pico de velocidade do crescimento (medido em estatura) e a porcentagem da estatura adulta alcançada em determinado momento são os dois principais indicadores de maturidade somática utilizados nos principais estudos da área (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). A única maneira direta de avaliar o pico de velocidade de crescimento (PVC) seria por meio da avaliação constante da estatura por um período de pelo menos cinco anos (dos 9 aos 14 anos de idade). Considerando que a partir disso não seria utilizar a informação com antecedência, diferentes equações preditivas têm sido propostas para que a idade do pico de velocidade em altura e a porcentagem da estatura adulta sejam estimadas a partir de avaliações transversais (MIRWALD et al., 2002). Para que esses dados sejam obtidos, é preciso calcular o maturity offset que consiste no número de anos em que o indivíduo está do PVC. O PVC representa o período em que ocorre o crescimento mais rápido na estatura da criança. A fórmula a seguir, proposta por Mirwald et al. (2002) é uma das mais utilizadas para calcular esse fenômeno: QUADRO 2 – CÁLCULO DO MATTURITY OFFSET O PVC representa o período em que ocorre o crescimento mais rápido na estatura da criança. Fórmula para calcular o maturity offset MENINOS -9.236 + (0.0002708 x (comprimento dos membros inferiores x altura sentada)) – (0.001663 x (idade cronológica x comprimento dos membros inferiores)) + (0.007216 x (idade cronológica x altura sentada)) + (0.02292 x ((massa corporal/estatura) x 100)). MENINAS -9.376 + (0.0001882 x (comprimento dos membros inferiores x altura sentada)) + (0.0022 x (idade cronológica x comprimento dos membros inferiores)) + (0.005841 x (idade cronológica x altura sentada)) – (0,002658 x (idade x massa corporal)) + (0.07693 x ((massa corporal/ estatura) x 100)). FONTE: MIRWALD et al. (2002) 22 Exercício para crianças, idosos e gestantes Para relembrar como realizar essas medidas de forma padronizada, acesse o Livro Didático da disciplina de medidas e avaliações. Caso o resultado dessa equação seja negativo, significa que o indivíduo ainda não atingiu o pico de velocidade em altura. Se o valor for positivo, significa que o mesmo já ultrapassou o pico de velocidade em altura. Após a realização desse cálculo, para obter a idade no pico de velocidade em altura predita, você precisará somar ou diminuir o valor de maturity offset com a idade cronológica da criança ou adolescente no caso do valor de maturity offset ser negativo e positivo, respectivamente. Para que você possa entender e assimilar melhor esse conteúdo, observe esse exemplo em que dois adolescentes apresentam a mesma idade cronológica, porém um PVC diferente. QUADRO 3 – EXEMPLO DE CÁLCULO DO PVC INDIVÍDUO A INDIVÍDUO B Idade cronológica: 12,5 anos MC = 34,6 Kg Estatura = 150,5 cm Altura Sentada = 77,5 cm Comprimento MI = 73,0 cm Idade cronológica: 14,8 anos MC = 59,9 Kg Estatura = 175,5 cm Altura Sentada = 92,7 cm Comprimento MI = 82,5 cm MATURITY OFFSET = 1,3 anos CLASSIFICAÇÃO PVC = Pré PVC IDADE PVC: 12,5 + 1,3 = 13,80 anos MATURITY OFFSET = 1,0 anos CLASSIFICAÇÃO PVC = Pós PVC IDADE PVC: 14,8 + 1,0 = 15,80 anos Nota: MC = massa corporal; MI = membros inferiores; PVC = pico de velocidade no crescimento. FONTE: O autor 3.4 DIFERENÇAS MATURACIONAIS ENTRE MENINOS E MENINAS Você já deve ter observado, ou escutado, que o processo de crescimento e maturação ocorre de forma diferente entre meninas e meninas. Compreender as diferenças no desenvolvimento de meninos e meninas permitirá que você organize a aulas de Educação Física ou o treinamento de uma forma que respeite as características fisiológicas de cada um. Mas você sabe como isso acontece ou quais os motivos que levam a essas diferenças? 23 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 Estudos mostram que durante os anos pré-púbere, meninos e meninas seguem taxas semelhantes de desenvolvimento em crescimento e amadurecimento e, apesar das diferenças sexuais, capacidades físicas como força, velocidade, potência, resistência e coordenação se desenvolverão em taxas semelhantes para ambos os sexos durante a infância (ARMSTRONG, 2007; MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Do ponto de vista prático, isso significa que até esse período, não existe vantagens físicas entre os dois sexos e, assim, as atividades podem ser propostas de maneira semelhante entre ambos sexos. Após o início do estirão de crescimento na adolescência, diferenças claras de maturidade são aparentes para quase todos os componentes da aptidão física, com os meninos apresentando vantagens na maioria das capacidades físicas, com exceção da flexibilidade (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Isso ocorre, pois durante a puberdade ocorrem modificações no padrão de secreção de alguns hormônios. É essencialmente a ativação do eixo hipotalâmico- hipofisário-gonadal, que desencadeia, sob estímulo das gonadotrofinas, a secreção dos esteroides sexuais, predominantemente, a testosterona no menino e o estradiol nas meninas, que são responsáveis pelas modificações morfológicas que ocorrem no período puberal (SIERVOGEL et al., 2003). Existem numerosos fatores intrínsecos e ambientais, que podem influenciar o início da puberdade, não havendo até então um marcador hormonal específico. Assim, o processo parece ser lento, gradual e evolutivo, vencendo uma série de etapas. De forma geral, o início do estirão de crescimento adolescente ocorre por volta dos 10 anos de idade em meninas e dos 12 anos de idade em meninos, mostrando que as meninas vivenciam o processo de estirão de crescimento antes que os meninos (IULIANO-BURNS; MIRWALD et al., 2002). Somado a isso, as meninas geralmente passam pelo o pico de velocidade em altura mais cedo que meninos (12 anos versus 14 anos, respectivamente) (BEUNEN; MALINA, 2005). Durante esse processo de maturação, as meninas podem passar por alterações que podem afetar o desempenho como aumento da massa gorda, taxas diferenciais de desenvolvimento da força neuromuscular e altura e peso, início do ciclo menstrual e aumento da flacidez articular. Dessa forma, é importante que a prescrição de treinamento seja realizada com cautela e sugere-se a utilização de treinos que possam reduzir o risco de lesões do ligamento cruzado anterior sem contato, como treinamento pliométrico, fortalecimento do core, treinamento de força e treinamento de equilíbrio, devam ser utilizadas nos programas de treinamento físico de jovens meninas e mantidas até a idadeadulta. 24 Exercício para crianças, idosos e gestantes 1 O crescimento, a maturação e o desenvolvimento são processos fundamentais na evolução da criança e ocorrem desde o seu nascimento até a fase adulta. Esses processos são importantes no desenvolvimento das capacidades motoras da criança e por isso é fundamental conhecer a característica de cada um desses processos. Nesse contexto, analise as sentenças a seguir a respeito do crescimento, desenvolvimento e maturação. l- O desenvolvimento é um processo que ocorre ao longo de toda vida e fatores como nutrição e ambiente influenciam o seu desenvolvimento. ll- A maturação pode ser compreendida como o aumento quantitativo do corpo ou de partes específicas. lll- O pico de velocidade do crescimento representa o período em que o desenvolvimento, o crescimento e a maturação foram completamente alcançados. lV- O crescimento é definido pela hiperplasia, hipertrofia e agregação. Agora, assinale a alternativa correta: a) Somente as sentenças I e III estão corretas. b) Somente as sentenças I, II e IV estão corretas. c) Somente as sentenças III e IV estão corretas. d) Somente as sentenças I e IV estão corretas 2 A avaliação física constitui uma parte importante da prescrição de exercícios físicos. A partir dela, é possível estabelecer em que estágio a criança encontra-se para que dessa maneira a prescrição seja feito de acordo com suas condições. Nesse contexto, analise as sentenças e classifique em V para verdadeiro e F para falso: ( ) O desenvolvimento pode ser avaliado por meio de avaliações antropométricas. ( ) A maturação pode ser avaliada por meio da avaliação esquelética, somática e sexual. ( ) As curvas de peso e altura estabelecidas pela OMS são uma importante ferramenta para acompanhar a maturação biológica. ( ) A avaliação esquelética é baseada no processo de transformação de cartilagem em osso. 25 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta a) F – V – V – F. b) V – V – F – V. c) F – V – F – V. d) V – V – V – F. 3 Considere que você é responsável pela avaliação esquelética de crianças que jogam nas categorias de base de um grande clube de futebol. Em um dos avaliados, você obteve o seguinte resultado: Idade Cronológica = 13 anos Idade Esquelética = 15 anos A partir desses resultados, assinale a alternativa que apresenta o estado maturacional desse jovem jogador: a) Atrasado b) Adiantado. c) Normomaturo d) Maturado. 4 ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO ESPORTIVO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Acadêmico, o objetivo deste capítulo é estudar os conceitos para a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes. Agora que você já sabe as diferenças entre crescimento o desenvolvimento e a maturação vamos entender a relação do exercício físico durante a manifestação desses dois processos concomitantes. 4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO A literatura científica fornece inúmeras evidências a respeito dos benefícios da prática regular de exercícios físicos durante o processo de crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente. No entanto, assim como ocorre 26 Exercício para crianças, idosos e gestantes com os adultos, as crianças apresentam um elevado índice de inatividade física e consequentemente existe um aumento no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade e hipertensão (OGDEN et al., 2014). Pela primeira vez na história, crianças nascidas hoje terão uma expectativa de vida menor do que os seus pais. Além disso, nas últimas décadas, a obesidade tem se apresentado como uma epidemia global também em crianças. A obesidade e o sobrepeso estão associados ao aumento da morbidade na infância e na vida adulta, uma vez que crianças obesas costumam virar adultos obesos. O excesso de gordura corporal resulta em um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, problemas ortopédicos, alterações respiratórias e endócrinas, além de uma baixa autoestima e maior probabilidade de desenvolver problemas psicológicos (ALVES et al., 2008). Além disso, essas morbidades diminuem a qualidade e a expectativa de vida da criança e sobrecarrega o sistema público de saúde. Por isso, é extremamente importante manter as crianças ativas e desenvolver programas de exercício especialmente para essa faixa etária. A partir desse panorama, um dos desafios do profissional de Educação Física é oferecer atividades que sejam atrativas e que façam com que o exercício seja praticado de forma regular e assim torne-se um estilo de vida. No entanto, para que isso aconteça é fundamental que os modelos de treinamento físico sejam prescritos de forma estruturada e de acordo com as condições e interesses das crianças e adolescentes para não gerar o abandono. Por isso, é importante que você, como profissional de Educação Física, saiba os períodos ótimos de estímulo das diferentes qualidades físicas e quais são os cuidados necessários para o a prescrição de exercício de acordo com a faixa etária e período de desenvolvimento e maturação das crianças e adolescentes. 4.2 INICIAÇÃO ESPORTIVA Acadêmico, não podemos falar de prescrição de exercícios para crianças e adolescentes, sem discutirmos a iniciação esportiva, afinal essa é uma fase fundamental para que a pratica de exercícios seja realizada de forma regular e prazerosa. A iniciação esportiva pode ser entendida como uma trajetória pedagógica na qual os participantes envolvidos vivenciam diferentes experiências por meio de diversas modalidades esportivas de modo planejado e sistematizado (MENEZES et al., 2014). Galatti (2006) complementa dizendo que é o primeiro momento de contato com a prática específica do esporte, caracterizando-se pelo objetivo educacional, de formação integral do ser humano a fim de contribuir para seu desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. Considerando a importância 27 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 desse período, os processos de iniciação esportiva, devem ser baseados em princípios pedagógicos que valorizem a infância, buscando em um primeiro momento ser prazerosos, para que a criança se mantenha na prática esportiva, usufruindo os benefícios que esta pode acarretar para seu desenvolvimento integral (GALATTI et al., 2012). Por isso, a prática esportiva deve ser positiva, tendendo assim a se manter como hábito por toda a vida, contribuindo para o controle de doenças ligadas ao sedentarismo, tal qual a obesidade, e sendo um importante contributo para políticas de saúde coletiva. Deste modo, deve-se pensar a iniciação esportiva de uma maneira mais ampla, que não apenas vise a formação atlética, mas que essa possa agregar importância dentro de um contexto maior para a saúde e formação do indivíduo. Por isso é importante o desenvolvimento de políticas públicas que incentivem as atividades esportivas nas escolas desde os grupos etários mais jovens com fins de promoção de saúde (HALLAL et al., 2006). A iniciação esportiva não deve ter como objetivo principal a formação de atletas, mas sim promover o desenvolvimento do aluno e enriquecimento cultural. Nesse contexto, é importante destacar que a prescrição de exercícios não deve se basear em meras adaptações das práticas, princípios e cargas preconizados para os adultos, mas deve ser organizado em função da característica de quem está aprendendo, do desenvolvimento e dos níveis de dificuldade, de acordo com as idades, níveis de maturação e desenvolvimento biológico em geral. Ou seja, no processo de iniciação esportiva não se deve simplesmente replicar as técnicas utilizadas pelos adultos, por exemplo. Assim, deve-se evitar práticas pedagógicas que privilegiem atividades esportivas especializadas para as quaisas crianças/ adolescentes não estejam preparadas. A especialização esportiva precoce tem sido desaconselhada por muitos especialistas devido aos potenciais prejuízos no desenvolvimento motor, emocional, moral e social dos jovens (MENEZES et al., 2014; NUNOMURA et al., 2010). A iniciação baseada em uma única modalidade, limita os benefícios da atividade variada com implicações negativas no desenvolvimento do repertório motor do praticante, aumento da incidência de lesões, manifestação de efeitos psicológicos negativos (ex.: síndrome de Burnout e desmotivação) e prejuízos à formação escolar. Por isso, professores de educação física, treinadores e instrutores precisam criar oportunidades para meninos e meninas de todas as idades serem fisicamente ativos. Embora os programas esportivos organizados certamente tenham sua importância, a participação na atividade física não deve começar com o esporte competitivo; deve evoluir do condicionamento preparatório. Inicialmente, as crianças devem participar de inúmeros tipos de atividades físicas 28 Exercício para crianças, idosos e gestantes que aprimorem suas habilidades, seu desempenho motor e que melhoram sua força musculoesquelética, a fim de melhor prepará-las para as demandas da prática e competição esportivas diárias. Concentrar-se inteiramente em habilidades esportivas específicas desde muito cedo não apenas limita a capacidade de as crianças terem sucesso em tarefas fora de uma atividade específica, mas também discrimina as crianças cujas habilidades motoras se desenvolvem em um ritmo mais lento. Além disso, à medida que o desempenho esportivo melhorar, a atividade se tornará mais agradável e, portanto, os participantes terão maior probabilidade de permanecer com ela. Embora seja importante não enfatizar demais o desenvolvimento de habilidades, acredita-se que a melhor abordagem é ensinar todos os alunos a reconhecer o valor dos componentes de aptidão relacionados à saúde e às habilidades. Nesse contexto, o atletismo apresenta-se como uma excelente opção para iniciação ao esporte de forma geral, pois possui características e qualidades de suma importância para o desenvolvimento da criança. Considerando que essa modalidade baseia-se nos movimentos de correr, saltar, lançar, arremessar e marchar, ela permite que a criança experimente os movimentos e gestos básicos das mais variadas modalidades esportivas. Mariano (2012) diz que é de grande valia pedagógica colocar a iniciação de atletismo já nos primeiros anos escolares, pois este irá contribuir na constituição da cultura esportiva tendo a oportunidade de vivenciar todos os movimentos que o atletismo oferece, transferindo estes conhecimentos motores às outras modalidades. E um grande começo é partir da iniciação do atletismo com o emprego de atividades lúdicas que auxiliem no desenvolvimento de habilidades físicas e motoras. Para que isso ocorra, o professor precisará aproveitar essas características e perspectivas e trabalhá-lo nas aulas de Educação Física, incluindo novas situações pedagógicas. Além de não exigir materiais complexos para a sua prática, ele é formado por regras fáceis e de fácil aprendizagem em que se repetem em muitas das provas. No ambiente escolar, uma atividade de atletismo deve ser predominantemente lúdica, que motive e de prazer ao aluno durante sua execução. A experiência lúdica constitui-se numa referencia significativa que pode contribuir para a construção de possibilidades emancipatórias justamente pela sua característica fundamental de resistência a produção de algo que remeta para além de si mesmo, ou seja, o lúdico não satisfaz nada que não seja ele próprio, é compreendido não como meio, mas necessariamente, como um fim (ACORDI; FALCÃO; SILVA, 2005). O emprego do lúdico destaca-se no Considerando que essa modalidade baseia-se nos movimentos de correr, saltar, lançar, arremessar e marchar, ela permite que a criança experimente os movimentos e gestos básicos das mais variadas modalidades esportivas. 29 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 processo de iniciação do atletismo e ganha extensão de relevância no contexto escolar por permitir a participação de todos os envolvidos independentes do seu desenvolvimento motor e ao mesmo tempo por se caracterizar uma atividade prazerosa, possibilitando alegria e prazer na sua realização (MOYLES, 2002). Também é preciso ressaltar que a aprendizagem de técnicas pelos alunos não é antagônica ao prazer e ao lúdico nas aulas. Podem, dependendo do tipo de intervenção pedagógica do professor, serem aspectos simultâneos e complementares. Por isso, é importante a capacidade do professor de identificar os momentos e os modos de ensinar as técnicas esportivas. Adiciona-se o fato de que os professores atuam em ambientes de alta complexidade, incerteza e instabilidade. Esses espaços possuem caráter único e são dotados de conflitos de valores, neles o ensino da técnica é, apenas, um dos elementos que compõem essa trama. Por isso qualquer proposta nesta linha deve levar em conta os seguintes requisitos: Oferecer às crianças um Atletismo atraente; oferecer às crianças um Atletismo acessível e oferecer às crianças um Atletismo instrutivo. 4.3 MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO A LONGO PRAZO Acadêmico, um dos elementos chaves no processo de iniciação esportiva que deve nortear sua atuação como professor/treinador desportivo é a estrutura temporal (quando ensinar) e metodológica (como ensinar). Ou seja, a formação esportiva deve ocorrer de forma estruturada e progressiva ao longo da vida considerando uma abordagem em longo prazo. Nesse sentido, existem, na literatura, diversas propostas de divisão das etapas ou estágios de desenvolvimento e formação esportiva. Na literatura parece também haver um consenso entre os pesquisadores quanto ao processo de ensino, que nos anos iniciais, deve concentrar-se na formação multilateral embasada nas características do esporte em questão e que, à medida que ocorre um aumento da idade e da experiência do praticante, deve-se assumir uma maior especificidade (GRECO; BENDA, 1998). Além disso, o processo de iniciação esportiva na sua essência deve ser baseado em quatro importantes norteadores pedagógicos: (1) ensinar a todos; (2) ensinar bem a todos; (3) ensinar mais do que o esporte; e (4) ensinar a gostar do esporte (FREIRE, 1998). Na literatura nacional, Greco e Brenda (1998) propõem uma proposta pedagógica conhecida como metodologia de formação universal que é composta por nove fases: pré-escolar (1-6 anos), universal (6-12 anos), fase de orientação (11-12 até 13-14 anos), fase de direção (13-14 até os 15-16 anos), fase de especialização (15-16 aos 17-18 anos), fase de aproximação/integração (18 a 21 30 Exercício para crianças, idosos e gestantes anos), fase de alto nível, fase de recuperação/readaptação e fase de recreação e saúde. De acordo com essa metodologia, as três fases iniciais buscam o aprendizado dos movimentos fundamentais e o desenvolvimento progressivo de todas as capacidades condicionais e coordenativas de uma forma geral embasada nas características dos jogos (GRECO; BENDA, 1998). As três fases intermediárias são caracterizadas pelo início do aperfeiçoamento e da especialização técnica em uma modalidade, assim como pela otimização do potencial técnico, tático, físico e psicossocial. Já as últimas três fases são pautadas: na estabilização, aperfeiçoamento e domínio dos comportamentos técnico-táticos e das capacidades físicas e psicológicas para quem atingir o alto rendimento; na “recuperação/readaptação” do atleta ao se aposentar; na promoção do esporte na perspectiva da recreação/saúde, na qual os objetivos se opõem a fase de rendimento. Na literatura internacional, destaca-se o modelo de desenvolvimento de Atleta a Longo Prazo(Long Term Athelete Development) proposto por Balyi e Hamilton (2004) que tem sido implementado por organizações esportivas em diferentes países como Canadá, Reino Unido e Austrália. Esse modelo enfoca a estrutura geral do desenvolvimento do atleta, com referência especial ao crescimento, maturação e desenvolvimento, treinabilidade e alinhamento e integração do sistema esportivo. De forma geral, esse modelo divide-se nas seguintes etapas principais: • Active Start: partida ativa (0-6 anos): tem como objetivo tornar o brincar e a atividade física divertidos, emocionante e um componente essencial da rotina diária ao longo da vida. • Fundamentals: fundamentos (6-9 M, 6-8 F): começar a ensinar qualidades básicas como agilidade, equilíbrio, coordenação e velocidade (ABC) e continuar a ensinar a importância de jogo diário e atividade física. • Learning to train: aprender a treinar (9-12 M, 8-11 F): aprender todas as habilidades fundamentais do esporte. Começar a integrar componentes físicos, mentais, cognitivos e emocionais dentro um programa bem estruturado. • Training to train: treinamento para treinar (12-16 M, 11 - 15 F): o objetivo principal deve ser o desenvolvimento geral das capacidades físicas do atleta. Para desenvolver resistência, força e velocidade e habilidades específicas do esporte. • Training to compete: treinamento para competir (16-18 M, 15 - 17 F): otimizar a preparação física e as habilidades específicas do esporte. Integrar os aspectos físico, mental, cognitivo e desenvolvimento 31 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 emocional. Introduzir protocolos específicos de eventos para identificar forças e fraquezas. • Training to win: treinamento para vencer (18+ M, 17+ F): maximizar a preparação física e as habilidades específicas da modalidade, continuar com a integração dos aspectos físicos, mentais, desenvolvimento cognitivo e emocional. • Learning to win (20 - 23 M F): maximizar a preparação específica para resultados de alto desempenho; para introduzir uma equipe formal de melhoria de desempenho, para continuar com a integração de física, mental, desenvolvimento cognitivo e emocional, aprender a competir quando importante. • Ativo para a vida: começa no final da fase de alto nível, ou seja, quando o atleta se aposentar; e terá por objetivo readaptar o ex-atleta à sociedade. No entanto, é importante destacar que essa fase tem uma característica muito peculiar, porque ela pode se situar para as pessoas que seguiram carreira esportiva, ou para aquelas pessoas que não tiveram o interesse de se especializar na modalidade. Por conseguinte, essa fase poderá comportar os diversos programas de atividades físicas que contemplam os diferentes interesses do público, por exemplo: perder peso, melhorar estética, manter ou melhorar saúde, conquistar amigos etc. A Figura 7 apresenta o modelo de desenvolvimento a longo prazo com as características de cada etapa. FIGURA 7 – MODELO DE DESENVOLVIMENTO ESPORTIVO A LONGO PRAZO FONTE: Adaptado de Balyi e Hamilton (2004) É importante destacar que esse modelo de organização leva em consideração o status maturacional, que agora você já sabe avaliar, e assim oferece uma abordagem mais estratégica para o desenvolvimento atlético da juventude. 32 Exercício para crianças, idosos e gestantes A partir do conhecimento do estado de desenvolvimento e maturação da criança e do adolescente é possível aproveitar os períodos conhecidos como “janelas de oportunidade”, ou seja, período em que organismo se encontra mais sensível e propício para o desenvolvimento de determinada qualidade física, mas atenção, acadêmico, apesar do período da puberdade durante a adolescência ser a principal fase de mudanças físicas e motoras relacionadas ao processo de maturação biológica (BEUNEN; MALINA, 2005), não significa dizer que teremos somente esse período para o amplo desenvolvimento dos componentes de aptidão física (FORD et al., 2011; LLOYD; OLIVER, 2012). Na verdade, o treinamento pode ser iniciado em qualquer etapa, no entanto, é necessário que os estímulos sejam impostos de acordo com a capacidade da criança e do adolescente. Os períodos ótimos de treinamento servem, principalmente, para que você possa organizar suas aulas e treinamentos de acordo com a maturação do organismo. Vamos ver agora, como isso se aplica na prática. Ou seja, qual o período ótimo de treinamento para cada uma das qualidades físicas. Na sequência, vamos aprender como pode ser realizada a prescrição de exercício para cada uma dessas qualidades físicas. 5 CAPACIDADES FÍSICAS E PERÍODOS SENSÍVEIS AO TREINAMENTO Como você já aprendeu nos seus estudos anteriores, o desenvolvimento de força depende de uma combinação de fatores neurais, hormonais e mecânicos. Assim, todos esses fatores são importantes para determinar a janela da oportunidade para essa capacidade física. 5.1 FORÇA Sugere-se que o melhor período, ou seja, a “janela de oportunidade” para o desenvolvimento da força ocorre de 12 a 18 meses após o PVC. A lógica por trás desse período é que o momento em que ocorre o PVC é normalmente proporcional ao período de maior taxa de alteração na massa corporal (BEUNEN; MALINA, 2005). Assim, os adolescentes passarão por períodos de ganhos rápidos na massa muscular como resultado das concentrações aumentadas de hormônios anabólicos circulantes (VIRU et al., 1999). Em relação aos fatores neurais, sabe- se que o desenvolvimento do sistema neuromuscular acelera naturalmente 33 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 durante os anos pré-púberes devido ao aumento da plasticidade neural (BORMS, 1986). Esse fato também mostra que o melhor período para o desenvolvimento da força ocorra durante a infância e depois do estirão do adolescente. Embora exista um período essencial para o desenvolvimento dessa variável, é importante que o desenvolvimento da força muscular ocorra em todos os estágios de desenvolvimento devido a sua relação com o desenvolvimento de outras qualidades físicas como velocidade de corrida (WEYAND et al., 2000), potência muscular (WISLOFF et al., 2004) e resistência (HOLFF et al., 1999). Além disso, o desenvolvimento da força muscular também deve ser visto como um componente integral dos programas de força e condicionamento dos jovens, não apenas para melhorar o desempenho, mas também para reduzir o risco de lesões relacionadas ao esporte (FAIGENBAUM et al., 2009). Consequentemente, sugere-se que o desenvolvimento de níveis de força muscular seja uma prioridade de qualquer programa de desenvolvimento de atletas, pois a força parece transcender todos os outros componentes da aptidão. 5.1.1 Resistência de força e potência muscular Embora muitos profissionais não se sintam seguros para prescrever treinamentos de hipertrofia para crianças e adolescentes, atualmente é comprovado e aceito que crianças podem sim participar de forma segura e eficaz no treinamento de força. O modelo de desenvolvimento das capacidades físicas ao longo do tempo mostra que a ênfase no treinamento para hipertrofia pode começar por volta dos 14 anos em jovens do sexo masculino e 12 anos no sexo feminino. Como mencionado anteriormente, essas fases do desenvolvimento geralmente ocorrem após o PVC, em um momento em que os níveis de testosterona circulante e hormônio do crescimento aumentam rapidamente de acordo com o estirão de crescimento do adolescente (WEYAND et al., 2000). Aumentos nas concentrações séricas de testosterona, estradiol e progesterona têm sido diretamente ligados à estimulação das vias de síntese proteica e as adaptações nos músculos e tecidos esqueléticos. Em relação à potência muscular, o período chave de estímulo e desenvolvimento dessa variável começa no inícioda adolescência e continua durante toda a vida adulta. Isso acontece, conforme visto anteriormente, devido às rápidas melhorias na força muscular que ocorrem durante a adolescência, atribuídas a influências maturacionais (BEUNEN; MALINA, 1988). 34 Exercício para crianças, idosos e gestantes 5.2 VELOCIDADE Diferente das outras qualidades físicas, o modelo de desenvolvimento a longo prazo defende que as janelas de oportunidade para o desenvolvimento da velocidade estão inteiramente relacionadas à idade (BALYI; HAMILTON, 2004). Meninos e meninas mostram um similar desenvolvimento da velocidade durante a primeira década de vida, com o primeiro período de adaptação acelerada sugerido a ocorrer entre os 5 e 9 anos de idade em ambos os sexos. A partir dos 12 anos de idade, a taxa de progressão de desenvolvimento da velocidade é dramaticamente reduzida em meninas comparada aos meninos. Essa diferença entre os sexos é atribuída às mudanças maturacionais em dimensão e composição corporal. Por fim, um segundo período de adaptação acelerada ocorre entre os 12 e 15 anos de idade nos meninos, enquanto para as meninas esse segundo período acontece por volta dos 12 anos de idade. 5.3 AGILIDADE Embora saiba-se que o desenvolvimento da agilidade é necessário para um bom desempenho na maioria dos esportes, essa qualidade física permanece como uma das menos pesquisadas na literatura científica. Estudos recentes sugerem que a agilidade deve ser progressivamente desenvolvida a partir do meio da infância até o início da vida adulta. No entanto, não existe um consenso na literatura sobre a janela de oportunidade para esta variável, pois faltam pesquisas que identifiquem prazos apropriados para atingir o treinamento específico da agilidade. Consequentemente, é difícil determinar se a idade, a maturação ou ambas são determinantes no desempenho dessa variável física. 5.4 APTIDÃO AERÓBIA Mudanças relacionadas ao sistema cardiovascular central e periférico, função neuromuscular e capacidades metabólicas influenciam o desenvolvimento da resistência e do condicionamento metabólico ao longo da infância. Como os componentes fisiológicos são continuamente desenvolvidos ao longo da infância e adolescência, ocorre uma melhora no desempenho da resistência ao longo de todo desenvolvimento. No entanto, sugere-se que o período ótimo para o desenvolvimento da aptidão aeróbia ocorre no momento que meninos e meninas atingem o pico de velocidade em altura. Recomenda-se que a potência aeróbia seja progressivamente introduzida após o pico de velocidade em altura, período em que a taxa de velocidade do crescimento começa a desacelerar. 35 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 5.5 FLEXIBILIDADE O desenvolvimento da flexibilidade, assim como da força muscular, é fundamental para todos os esportes. Pois ela contribui para diminuir o índice de lesões, além de permitir que crianças e adolescentes sejam capazes de atingir amplitudes de movimento adequadas em qualquer prática esportiva. Assim, embora seu treinamento deva ser contínuo sugere-se que o momento ótimo para o desenvolvimento da flexibilidade ocorre entre os 6 e 10 anos de idade (meio e final da infância) para ambos os sexos. Para ilustrar tudo que discutimos até então, observe os Quadros 4 e 5, que apresentam as características do treinamento de acordo com os períodos de desenvolvimento da criança e do adolescente. QUADRO 4 – MODELO DE DESENVOLVIMENTO FÍSICO PARA MENINOS FONTE: Adaptado de Lloyde e Oliver (2012) 36 Exercício para crianças, idosos e gestantes QUADRO 5 – MODELO DE DESENVOLVIMENTO FÍSICO PARA MULHERES FONTE: Adaptado de Lloyde e Oliver (2012) É importante lembrar que esse modelo teórico foi apresentado para nortear a prescrição de treinamento em crianças e adolescentes levando em conta os diferentes estágios maturacionais. No entanto, é importante deixar claro que os modelos apresentados nas figuras anteriores consideram uma situação em que estamos trabalhando com meninos e meninas que tem um ritmo maturacional normal. Assim, considerando que na sua prática profissional você também irá trabalhar com crianças com um desenvolvimento maturacional precoce ou tardio, é importante que você realize os devidos ajustes na prescrição de exercícios. Em relação ao desenvolvimento motor, Gallahue e Ozmun (2005) sugerem que o ensino das habilidades motoras para a faixa etária de 7-10 anos, seja totalmente aberto, isto é, os conteúdos do ensino são aplicados pelo professor e praticados pelos alunos, sem interferência e correções das ações motoras. Para a faixa etária de 11-12 anos, o ensino é parcialmente aberto, ou seja, há breves correções quanto à execução dos movimentos. Na faixa de 13-14 anos, o ensino é parcialmente fechado, pois se inicia o processo de especificidade ações motoras de cada modalidade na procura da especialização desportiva e, somente após os 14 anos de idade, deve acontecer o ensino totalmente fechado, específico de É importante lembrar que esse modelo teórico foi apresentado para nortear a prescrição de treinamento em crianças e adolescentes levando em conta os diferentes estágios maturacionais. 37 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 1 O conhecimento do estado de maturação e desenvolvimento da criança e do adolescente é fundamental para que o treinamento esportivo possa ser realizado com segurança e eficiência. Além disso, é importante que a iniciação esportiva seja realizada de maneira que respeite o desenvolvimento do indivíduo. Nesse contexto, sobre a iniciação esportiva, analise as sentenças: I- A utilização de jogos e atividades lúdicas são uma excelente ferramenta na iniciação esportiva. II- A iniciação esportiva é o processo de especialização precoce que as crianças devem ser inseridas para se transformarem em excelentes atletas. III- Atividades que englobem movimentos básicos do ser humano como correr, pular e arremessar são excelentes opções de iniciação esportiva. IV- A iniciação esportiva deve ser realizada de maneira que as cargas e treinos desenvolvidos para adultos sejam apenas adaptados para as crianças. Assinale a alternativa correta: a) ( ) Somente as sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente as sentenças I, II e IV estão corretas. c) ( ) Somente as sentenças II, III e IV estão corretas. d) ( ) Somente as sentenças I e IV estão corretas. 2 O desenvolvimento da criança é um processo longo que depende de diversos fatores para que ocorra de forma adequada. Ao longo do processo, o organismo vai se adaptando e se ajustando e por isso é importante que a prescrição e o treinamento esportivo sejam organizados a longo prazo. Por isso existem, cada modalidade coletiva, e também o aperfeiçoamento dos sistemas táticos que cada modalidade necessita. Nesse sentido, o papel do professor é muito importante, respeitando a fase de crescimento e o grau de maturação em que esse educando se encontra. Da mesma forma, o estímulo psicológico à criança e ao jovem deve ser constante. 38 Exercício para crianças, idosos e gestantes atualmente, na literatura, diversos modelos de desenvolvimento do treinamento esportivo para crianças e adolescentes. Nesse contexto, analise as sentenças a seguir: ( ) O ensino das habilidades deve ser realizado de maneira global na fase inicial e à medida que ocorre o aumento na idade o ensino pode ser mais específico. ( ) A formação esportiva deve ocorrer de forma estruturada e progressiva ao longo da vida, por isso é importante que seja realizada uma abordagem à longo prazo. ( ) Para crianças que já sabem qual modalidade querem seguir, o ensino deve ser específico desde o início do treinamento. ( ) No período da adolescência é quandodeve ser realizado o ensino dos movimentos básicos e fundamentais dos jogos esportivos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta a) ( ) F – V – V – F. b) ( ) V – V – F – V. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) V – V – F – F. 3 A partir do conhecimento do estado de desenvolvimento e maturação da criança, é possível prescrever o treinamento respeitando as janelas sensíveis ao treinamento. Sobre esse tema, analise as sentenças a seguir: I- Durante a janela sensível ao treinamento de velocidade, apenas essa capacidade física deve ser treinada, pois assim será aproveitada ao máximo. II- O desenvolvimento da velocidade ocorre inicialmente de maneira similar entre meninos e meninos, porém a taxa de progressão muda de madeira radical a partir dos 12 anos de idade. III- O período conhecido como janela da oportunidade para a força ocorre geralmente de 12 a 18 meses após o pico de velocidade do crescimento. IV- O período de adaptação sistema cardiovascular ao longo de todo desenvolvimento da criança, porém o período de desenvolvimento ideal é quando o pico de velocidade em altura é atingido. 39 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 Agora, assinale a alternativa correta: a) ( ) Somente as sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente as sentenças I, II e IV estão corretas. c) ( ) Somente as sentenças II, III e IV estão corretas. d) ( ) Somente as sentenças I e IV estão corretas 6 TREINAMENTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Acadêmico, agora que você já relembrou conceitos importantes do desenvolvimento de crianças e adolescentes e já sabe a importância de avaliar o estado maturacional, vamos estudar como é possível desenvolver os diferentes componentes físicos por meio da prescrição de exercícios. Para isso é importante que você saiba que as variáveis que norteiam a prescrição de exercícios como: intensidade, intervalo entre as sessões, frequência e recuperação sejam organizadas de acordo com as características da criança, os objetivos estabelecidos e respeitando sempre os princípios científicos do treinamento desportivo. Então, qual seria o melhor esporte ou atividade física para estimular o crescimento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes? A literatura mostra que as diferentes modalidades esportivas não apresentam diferenças significativas na melhora da saúde e do desempenho. O importante quanto a escolha do melhor exercício é selecionar “aquele que é prazeroso” e que a criança irá realizar de forma lúdica e contínua. Nisso, o profissional de Educação Física tem o papel de auxiliar na proposta de exercícios agradáveis, selecionando atividades adequadas e estimulando a prática de atividades através de uma prescrição atenciosa e personalizada (MONTEIRO et al., 2009). A partir dos ensinamentos deste capítulo, você será capaz de prescrever exercícios de força, velocidade, agilidade e resistência da melhor forma possível e respeitando as características maturacionais dos seus alunos e /ou atletas. Por fim, é importante destacar que, embora não discutidos neste livro, os aspectos psicológicos, comportamentais e sociais também deverão ser respeitados durante todo o período de desenvolvimento e prescrição de exercícios para crianças e adolescentes. 40 Exercício para crianças, idosos e gestantes 6.1 TREINAMENTO DE FORÇA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES A prescrição de exercícios de força para crianças e adolescentes passou por um período de muito ceticismo e controvérsia, em grande parte, como consequência de mal-entendidos sobre os objetivos do treinamento de força e seus perigos potenciais para saúde. Hoje, no entanto, há poucas dúvidas de que, quando realizado corretamente, o treinamento resistido podem produzir aumentos acentuados de força e potência entre crianças e adolescentes. Nesse sentido, os exercícios de treinamento de resistência que se concentram no desenvolvimento da força e potência muscular ganharam crescente popularidade entre as crianças e adolescentes. Atualmente, um número crescente de adolescentes usa o treinamento de resistência como parte de sua preparação para o desempenho esportivo, enquanto os profissionais médicos também reconhecem os efeitos benéficos que o treinamento de resistência pode oferecer para um estilo de vida saudáveis e bem-estar físico (LLOYD; OLIVER, 2012). No entanto, é importante destacar que, assim como qualquer prescrição de exercício, esta deve ser feita com cautela e respeitando os limites físicos e o estágio maturacional das crianças e dos adolescentes. Por isso, vamos explorar agora como o treinamento de força pode ser usado com segurança e eficácia para promover o desenvolvimento da força em crianças e adolescentes. Vamos abordar agora, cada uma das variáveis importantes para o treinamento de força. 6.1.1 Modalidade do Exercício Sabe-se que a modalidade de exercício escolhida para o treinamento deve levar em consideração variáveis como o tamanho do corpo, o estado de maturação, o nível de aptidão física e até mesmo a competência técnica da criança e do adolescente. Desde o princípio, as crianças devem iniciar o processo de desenvolvimento de força, realizando exercícios que desenvolvam sua massa corporal de forma competente e realizar movimentos de corpo inteiro de maneira controlada e coordenada (por exemplo, agachamento com peso corporal), flexões de braço com peso corporal). Entre os modelos de treinamento que podem ser utilizados com crianças e jovens destacam-se os exercícios calistênicos, exercícios de peso livre, os exercícios de máquina e os exercícios pliométricos sendo que todos possuem 41 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 pontos positivos e negativos (FAIGENBAUM; WESTCOTT, 2009). Envolver- se com exercícios no solo, de corpo inteiro e que dependem da carga de peso corporal permitirá que os jovens desenvolvam capacidades funcionais essenciais. Além disso, são movimentos que envolvem a musculatura como um todo, ativando também a musculatura estabilizadora, por exemplo, além de estimularem o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação. Somado a isso, são movimentos similares aos gestos necessários para o desenvolvimento das tarefas diária, permitindo assim que tais atividades sejam realizadas de maneira mais natural. Isso servirá para promover futuros ganhos de força no momento em que houver a adição de carga e resistência externa (LLOYD; OLIVER, 2012). Após a progressão dos exercícios de peso corporal no solo, elásticos, bolas medicinais, treinamento em suspensão e, finalmente, pesos livres podem ser utilizados como métodos adequados de sobrecarga progressiva. A tabela a seguir apresenta um modelo de progressão de treinamento que foi proposto por Kraemer e Fleck (2014). QUADRO 6 – CONSIDERAÇÕES PARA O TREINAMENTO DE FORÇA IDADE CONSIDERAÇÕES 5 – 7 Introdução de exercícios básicos com pouca ou nenhuma resistência; desenvolver o conceito de sessão de treinamento; ensinar técnicas de exercício; manter volume de treino baixo, utilizar exercícios calistênicos de peso corporal. 8 – 10 Aumento gradual no número de exercícios; aumento gradual na carga dos exercícios, manter os exercícios simples; aumentar o volume lentamente, monitorar a tolerância ao stress imposto pelo exercício. 11 – 13 Ensinar as técnicas básicas de cada exercício; continuar aumentando de forma gradual a carga; ênfase na técnica do exercício, introdução de novos exercícios com pouca ou nenhuma carga. 14 – 15 Progredir para programas de treinamento de força mais avançados; adicionar componentes específicos do esporte, aumentar o volume gradualmente. 16 ou mais Uma vez que a experiência das fases anteriores foi adquirida, esse torna-se o período de entrada para o treinamento de adultos.FONTE: Adaptado de Fleck e Kraemer (2014) 6.1.2 Frequência do Treinamento Independentemente da idade do praticante do treinamento de força, sabe- se que para que o atleta obtenha resultados máximos de seu programa de resistência, a tensão muscular precisa ser aplicada com frequência (DUHIG, 2014). Ao planejar a frequência do treinamento, treinadores e instrutores devem ter cuidado ao tentar adotar estratégias de periodização semelhantes às dos 42 Exercício para crianças, idosos e gestantes adultos. Em vez disso, a variação de um programa de treinamento de resistência para jovens pode ser realizada seguindo diretrizes simples. Estudos mostram que o treinamento específico de força e potência deve ser realizado duas a três vezes por semana em dias não consecutivos (FAIGENBAUM et al., 2009), junto com o treinamento físico para outras capacidades físicas. A realização do treinamento de força uma vez por semana é considerado abaixo do ideal e provavelmente mantém os padrões existentes. Em comparação, o treinamento de força realizado duas ou três vezes por semana em dias não consecutivos permitirá às crianças uma melhora na capacidade de força e potência muscular, além de permitir uma recuperação adequada de 48 a 72 horas entre as sessões de treinamento (FAIGENBAUM et al., 2002). Em um interessante estudo desenvolvido por Faigenbaum et al. (2002), os autores mostraram que treinar duas vezes por semana resulta em um aumento maior de força quando comparado com uma vez por semana. Participaram do estudo crianças de 7 a 12 anos que realizaram treinamento de força durante um período de 8 semanas. Os resultados mostraram que as crianças que treinaram duas vezes por semana apresentaram um aumento de 1RM no supino de 11,5%, em comparação com 9% (1 x semana), leg press em 24,9 % comparado a 14,2%. 3.1.3 Intensidade e Volume do Treinamento Esse componente do treinamento de força pode ser visto como um dos fatores mais importantes. intensidade e volume devem ter um impacto significativo na estratégia de programação do treinamento de força para jovens, pois não apenas regulam a capacidade de desenvolver características de expressão de força, mas também podem oferecer o maior risco de lesões ou treinamento excessivo aos jovens que participam de exercícios do tipo resistência (DUHIG, 2014). Assim, encontrar um equilíbrio apropriado entre uma intensidade (isto é, carga) que induz adaptações de força, ao mesmo tempo em que minimiza o risco de lesões nas placas de crescimento epifisário e nos tecidos em maturação, é particularmente desafiador. A placa de crescimento epifisário é a área em que ocorre o crescimento dos ossos longos como das pernas e braços. É uma camada de cartilagem hialina onde a ossificação ocorre nos ossos imaturos (HERT, 1972). Embora seja um evento raro, uma lesão na placa de crescimento que não for tratada adequadamente pode fazer com que ocorra o crescimento de ossos 43 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição de Exercícios para Crianças e Adolescentes Capítulo 1 tortos, deformados, curtos ou até mesmo levar o desenvolvimento de artrite. Por isso, é fundamental que a prescrição seja realizada de maneira adequada. Por isso, de maneira geral, cargas mais leves devem inicialmente ser usadas no treinamento de força para que possa se enfatizar a utilização de técnicas corretas. Embora o volume de treinamento seja determinado ajustando o número de séries e repetições executadas para um determinado exercício, não existe uma regra rígida que indique que todos os exercícios devem ser realizados para o mesmo volume. Nas populações jovens, uma a três séries do mesmo exercício, provavelmente, fornecem estímulo de treinamento suficiente. Mais do que isso pode acabar desmotivando a criança em função da falta de variedade, afastando assim o foco da realização de um exercício com precisão (LLOYD; OLIVER, 2012). Os períodos de descanso entre séries devem permitir uma recuperação neuromuscular e metabólica suficiente, a fim de garantir que os exercícios possam ser realizados com competência nos exercícios subsequentes. Quando a fadiga afeta significativamente a técnica do exercício, os períodos de descanso devem ser estendidos para garantir uma recuperação adequada. Isso pode depender em grande parte do indivíduo, mas períodos de descanso de 30 a 120 são geralmente utilizados (LLOYD; OLIVER, 2012). O número de repetições que a população jovem deve realizar para um determinado exercício deve ser entre 5 e 20, de acordo com o objetivo e nível de treinamento do indivíduo. O número de repetição é, em grande parte, um reflexo da carga externa, da competência técnica e do esforço físico necessário para executar uma única repetição. Ao determinar, inicialmente, o número apropriado de repetições para um determinado exercício, estabelecer um 'intervalo de repetição' representa uma abordagem adequada. Usando esse método, os exercícios são prescritos para um número definido de repetições (por exemplo, entre 15 e 20 repetições). Começando com uma carga relativamente leve para desenvolver uma técnica correta, permite que a carga máxima que pode ser executada para o número necessário de repetições seja determinada pelo aumento progressivo da resistência externa. À medida que um indivíduo melhora e é capaz de levantar cargas mais pesadas, o número de séries pode ser aumentado (por exemplo, de uma a duas séries) ou um intervalo de repetição menor (por exemplo, seis a oito repetições) com uma carga mais pesada. 44 Exercício para crianças, idosos e gestantes O Quadro 7 apresenta as recomendações básicas para o desenvolvimento de força para jovens de diferentes estados de treinamento: iniciante, intermediário e avançado. QUADRO 7 – ORGANIZAÇÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA Iniciante Intermediário Avançado Ação muscular Excêntrica e concêntrica Excêntrica e concêntrica Excêntrica e concêntrica Escolha do exercício Uni articular e multiarticular Uni articular e multiarticular Uni articular e multiarticular Intensidade 50 – 70% de 1 RM 60 – 80% de 1 RM 70 – 85% de 1 RM Volume 1 ou 2 séries de 10 -15 repetições 2 ou 3 séries de 8 – 12 repetições 3 séries ou mais de 6 – 10 repetições Intervalo 1 min 1 – 2 min 2 – 3 min Velocidade Moderada Moderada Moderada Frequência / semana 2 ou 3 vezes 2 ou 3 vezes 3 ou 4 vezes FONTE: Adaptado de Fleck e Kraemer (2014) 6.2 TREINAMENTO DE VELOCIDADE A velocidade é definida como o menor tempo necessário de deslocamento ao longo de uma distância fixa. Em termos práticos, refere-se à capacidade de movimentar o corpo o mais rapidamente possível ao longo de uma distância definida (HARMAN; GARHAMMER, 2008). Essa variável tem sido vista como uma característica determinante do desempenho esportivo em crianças (GRAVINA et al., 2008) e adultos. Embora existam poucos estudos na literatura acadêmico, sugere-se que a velocidade se desenvolva em um processo não linear ao longo da infância e adolescência, com a identificação de ganhos rápidos no desempenho no período pré-adolescente e adolescente (MALINA et al., 2004). Estes estirões naturais de desempenho foram denominados períodos de adaptação acelerada; com o estirão pré-adolescente atribuído principalmente ao desenvolvimento neural e o que ocorre na adolescência ao desenvolvimento as alterações no sistema endócrino (VIRU et al., 1999). As adaptações que ocorrem no sistema nervoso central justificam a maioria das mudanças na velocidade observadas durante a pré-puberdade. Isso ocorre porque nesse período as crianças refinam seu recrutamento motor e coordenação motora (MALINA et al., 2004). Uma grande influência maturacional no desenvolvimento da velocidade parece provável dado que a adolescência estará associada a aumentos no comprimento dos membros, aumento da massa muscular, alterações nas 45 Prescrição de Exercícios para Crianças e AdolescentesPrescrição