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UNIDADE DE APRENDIZAGEM O QUE É LIBRAS? Língua Brasileira de Sinais – Libras 1 • Apresentação do Ebook • Objetivos da Disciplina • 1. Unidade 1 • 2. Unidade 2 • 3. Unidade 3 • 4. Unidade 4 • 5. Unidade 5 • 6. Unidade 6 ............. 03 ............. 03 ............. 04 ............. 12 ............. 24 ............. 34 ............. 42 ............. 50 Sumário 3 Apresentação do Ebook: No e-book de Libras, você vai aprender sobre aspec- tos históricos da inclusão de surdos na sociedade, sur- dez e a educação de surdos no Brasil, os parâmetros lin- guísticos e os aspectos gramaticais da Libras, além de um vocabulário básico e contextualizado por meio de exemplos práticos. Também estudará sobre os aspectos teórico-práti- cos da língua brasileira de sinais como língua espacial-visual. Objetivos da Disciplina: • Promover o acesso aos conhecimentos básicos sobre os diferentes aspectos relacionados à pessoa surda/com de- ficiência auditiva; • Propiciar condições para que o futuro profissional com- preenda as especificidades do indivíduo surdo em rela- ção à língua; • Contribuir para a superação da distância historicamente produzida entre o surdo e o ouvinte; • Desenvolver conhecimentos básicos e práticos no que se refere ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Li- bras. 4 Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Conhecer a língua brasileira de sinais e seus aspectos his- tóricos, culturais e linguísticos. Para início de Conversa: Você conhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras)? A Li- bras é uma língua de modalidade visual-espacial e é utilizada pela comunidade surda brasileira. Diferente do português, que é uma língua oral-auditiva, a língua de sinais usa o espaço para produzir “fala”, usa o corpo, mãos, expressões faciais e até gestos. Você sabia que a Libras é estudada por linguistas e possui todas as áreas de análise que uma língua oral? Sim, a Libras tem estudos linguísticos em fonologia, morfologia, sintaxe, semân- tica e pragmática. Nesta unidade, você vai conhecer todos es- ses aspectos sobre a língua brasileira de sinais. Vamos começar? 5 1. LIBRAS NO PROCESSO DE APREENSÃO DA EXPRESSÃO VISUAL Antes de falar da Libras, é necessário entender o que é língua e o que é linguagem. Embora as pessoas utilizem essas palavras como sinônimas, para a linguística, elas têm conceitos diferentes. Existem vários conceitos para a linguagem dependendo da corrente teórica adotada. Para fins deste material, o concei- to adotado é que a linguagem é todo o sistema de códigos pelo qual os sujeitos interagem uns com os outros. Pode-se classifi- car a linguagem como: Verbal: os códigos utilizados para a comunicação são as palavras. Como exemplo de linguagem verbal, podemos citar as línguas naturais. Não verbal: são todos os códigos utilizados que não sejam palavras, por exemplo, cores, gestos, desenhos, sinais sonoros etc. Essa linguagem não verbal é utilizada nos sinais de trânsito, na indicação visual de banheiro feminino e masculino, proibido fumar e outros. Segundo Baggio e Casa Nova (2017), a língua é um aspec- to da linguagem, ou seja, é a sua parte verbal. É um sistema de natureza gramatical, formada por um léxico e sua combinação, exterior aos indivíduos e, por isso, não pode ser criado individu- almente. A Libras é uma língua, pois possui um sistema de códi- gos verbais com regras para combinação desses códigos. Além disso, não é compreendida por toda a humanidade como meio de comunicação. Ela precisa ser aprendida, como toda língua natural. Trata-se de uma língua visual-espacial. E o que isso quer dizer? Significa que ela utiliza o espaço e os sinais para formar as palavras, frases, textos, o discurso. A Libras não é universal, cada país tem a sua língua de sinais. Por exemplo, a Língua de Sinais Americana (American Sign Language - ASL), a Língua de Sinais Argentina (LSA), a Língua de Sinais Francesa (Langue de Signes Française - LSF). Diferentemente das línguas faladas, a Libras não tem sons FONTE: WAVEBREAKMEDIA 6 Língua Brasileira de Sinais (Libras), segundo o texto da lei, é: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comu- nicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Li- bras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasi- leira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com es- trutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002) Com a lei em vigor, os usuários da Libras podem exigir seus direitos em relação à acessibilidade comunicacional em vários espaços da sociedade: educação, mercado de trabalho, serviços de saúde, segurança e atendimentos públicos em ge- ral, conforme artigos 2, 3 e 4. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de ser- viços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas con- e, por isso, possui especificidades. Os sinais são produzidos pe- las mãos e o texto é construído no espaço, ou seja, as frases não são lineares como no português, elas podem ser sobrepostas e construídas em cima de um cenário criado no espaço. A principal diferença entre a Libras e o português é, por- tanto, o seu modo de expressão. Curiosidade: As pessoas que são usuárias da Libras têm um nome visual, além do seu nome em português. Com base em características físicas, personalidade ou algum traço visual marcante, um sinal é criado para ser usado como nome da pes- soa. Interessante, não é mesmo? A Libras é reconhecida como língua da comunidade sur- da do Brasil em 2002, com a publicação da Lei n.º 10.436, de 24 de abril de 2002. Essa lei trouxe mais visibilidade para a língua de sinais e foi uma grande conquista dos surdos. O conceito de FONTE: ANNASTILLS 7 ciência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras (Prolibras), que tinha como objetivo realizar, por meio de exa- mes de âmbito nacional, a certificação de proficiência no uso e ensino de Libras. Assim, os profissionais que já atuavam no mercado de trabalho puderam obter sua certificação de nível médio e/ou superior. Importante: para conseguir o certificado de proficiência no ensino da Libras, o candidato precisava ser aprovado em uma prova de conhecimentos gerais e específicos em Libras e em uma prova didática, também em Libras. Com a certificação em mãos, os professores de Libras foram inseridos no mercado de trabalho, ocupando o cargo de professores, principalmente nas instituições de ensino superior. As vagas – conforme texto da lei – são prioritariamente destina- cessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os siste- mas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de for- mação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensi- no da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. (BRASIL, 2002) Desde a promulgação da lei, a Libras tem ocupado cada vez mais espaços e seus usuários têm sido respeitados como minoria linguística. Ainda há trabalho e reivindicações a fazer para garantir que os direitos das pessoas surdas sejam cumpri- dos, mas desde a publicação da lei, muitos avanços surgiram. Em 2005, a Lei de Libras foi regulamentada por meio do Decreto n.º 5.626. A partirdessa regulamentação, a Libras passou a ser disciplina obrigatória nos currículos de cursos superiores de licenciatura, fonoaudiologia e de formação de professores. Com isso, a demanda por professores de Libras nas instituições de ensino superior aumentou. Até a regula- mentação da lei, a formação exigida para o professor de Libras era de nível médio (instrutor de Libras) e esse profissional atu- ava como autônomo. Com o decreto, o Ministério da Educação (MEC) criou o Programa Nacional para a Certificação de Profi- 8 das (LACERDA, 2019). As áreas da Linguística que estudam os fenômenos da linguagem são: Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática. Essas áreas são estudadas tanto em línguas orais quanto em línguas sinalizadas. Curiosidade: A Libras não é mímica! A língua brasileira de sinais pode ser confundida com mímica ou gestos, mas essa ideia é ultrapassada. Muitos teóricos já comprovaram o status de língua da Libras, fazendo descrição e análise de seus fenô- menos linguísticos, como acontece com as línguas orais. Para Silva (2015), a Fonologia é a área da Linguística que estuda os sons da língua como elementos funcionais. Descre- ve as diferenças fônicas intencionais, distintivas, que marcam diferença semântica, e busca, portanto, interpretar os sons da fala. A análise fonológica busca o valor dos sons em uma língua. É a fonologia que explica por que a palavra carta tem o mesmo significado quando, dependendo de seus falantes, apresenta sons diferentes ([‘karta] e [‘kaRta]). Já a Morfologia estuda a estrutura interna das palavras e as diversas formas que essas palavras apresentam quanto à categoria de número, gênero, tempo e pessoa. Também estuda a origem das palavras e seus processos de formação, como a sufixação (correr, correndo), a prefixação (feliz, infeliz) e a com- posição (vale-refeição). A Sintaxe estuda a estrutura da frase. Trata das funções, das às pessoas surdas. Com isso, elas tiveram a oportunidade de ocupar espaço no mercado de trabalho e trazer mais visibili- dade para a Libras. 2. A LINGUÍSTICA E SUA RELAÇÃO COM A LÍNGUA DE SINAIS Todos os estudos linguísticos concentravam‐se nas aná- lises de línguas faladas até 1960, quando o linguista William Stokoe apresentou os elementos linguísticos da Língua de Sinais Americana (ASL). Ele fez uma análise descritiva da lín- gua de sinais americana no nível fonológico e morfológico. Isso revolucionou a área da Linguística na época e as línguas de sinais passaram a ser vistas como línguas de fato. Por esse feito, Stokoe é considerado o pai da linguística das línguas sinaliza- FONTE: BROOKEOFADVENTURES 9 das formas e das partes do discurso. E essa estrutura possui restrições que determinam a ordem das palavras em uma sen- tença. Qualquer falante de português consegue identificar se a estrutura é gramatical ou não. Por exemplo: a) Pedro gosta de futebol. b) *Pedro futebol de gosta. A Semântica estuda o significado no nível da palavra, da frase e do discurso. O exemplo é a ambiguidade: a) Mariana entrou na loja de boné. A dúvida é se Mariana entrou usando um boné na loja ou se era uma loja de bonés. A Semântica estuda os sentidos das palavras e frases em construções da língua. Por fim, a Pragmática estuda os princípios da comunica- ção, ou seja, a linguagem em uso (relação linguagem e contex- to). Um exemplo pode ser: a) Você tem horas? São 22h30. O significado vai além do que foi dito. A pessoa não res- ponde sim, já diz a hora diretamente, entendendo que a per- gunta teve intenção de saber a hora, e não se sabe ou não sabe que horas são. Todas essas áreas da Linguística existem na Libras tam- bém, mesmo sendo uma língua sinalizada e não falada. Há inú- meras publicações sobre a descrição e análise desses fenôme- nos linguísticos, o que reforça o status de língua para a Libras, fato já observado por Stokoe para a ASL. 3. ALFABETO MANUAL EM LIBRAS Na Libras, as letras do alfabeto podem ser feitas com as mãos e, por isso, chama-se alfabeto manual. São configurações de mãos (posição da mão) que representam as vogais e conso- FONTE: HTTPS://PT.LINKEDIN.COM/PULSE/LIBRAS-SE-RESUME-EM-APENAS- SOLETRAR-PALAVRAS-DO-FERNANDES-DE-AGUIAR ALFABETO MANUAL DE LIBRAS FONTE: BRITO (1995, P. 22 10 antes. O alfabeto manual é utilizado para soletrar substantivos (nomes de pessoas, lugares, cidades, países etc.), mas também existem sinais soletrados e outros usos (PEREIRA et al., 2011). O alfabeto pode ser usado para soletrar um sinal da Li- bras, como observado no exemplo abaixo. A Libras não é composta por palavras do português feitas pelo alfabeto manual, letra por letra. Segundo Silva (2015), ela é feita de um conjunto de itens lexicais, os sinais, que são expres- sos pelos parâmetros da Libras: configuração de mão, ponto de articulação, movimento, direção da mão e expressão facial. Esse tema será trabalhado na Unidade 4. O alfabeto manual é considerado empréstimo do portu- guês, mas as suas configurações de mão fazem parte da Libras e não podem ser excluídas dessa língua. Importante: Aprender o alfabeto manual é o primeiro passo para aprender Libras. Com ele, você consegue soletrar as palavras quando não lembrar o sinal, no momento em que estiver conversando com uma pessoa surda. Considerações Finais: A Libras é uma língua muito diferente do português, no sentido de ser de outra modalidade, mesmo assim, aprende- mos que as análises linguísticas podem ser feitas em ambas. Sendo assim, a Libras é considerada uma língua natural, como as línguas faladas. Aprender essa língua requer o mesmo estu- do e esforço dedicado ao aprendizado de qualquer outro idio- ma. Aprender Libras também significa estudar uma língua e saber se comunicar com o corpo e as mãos, articuladores utili- zados na produção da língua de sinais. 11 Referências: BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regula- menta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasí- lia, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 13 out. 2022. BAGGIO, Maria Auxiliadora; CASA NOVA, Maria da Graça. Libras. Curitiba: Intersaberes, 2017. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/129456/ pdf/0 44876 BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de língua de si- nais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. GUEBERT, Mirian Célia Castellain. Inclusão: uma realidade em discussão. Curitiba: Intersaberes, 2012. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/6406/pdf/0 46087 LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; SANTOS, Lara Ferreira dos; MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira (org.). Libras: as- pectos fundamentais. Curitiba: Intersaberes, 2019. E-book. Dis- ponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publica- cao/169745/pdf/0 46113 MARQUEZAN, Reinoldo. O deficiente no discurso da legisla- ção. Campinas: Papirus, 2009. E-book. Disponível em: https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2271/pdf/0 47398 PEREIRA, Maria Cristina da Cunha et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2658/pdf/0 47396 SILVA, Rafael Dias (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0 44878 12 UNIDADE DE APRENDIZAGEM QUEM SÃO OS SURDOS? HISTÓRIA, CULTURA E LÍNGUA Língua Brasileira de Sinais – Libras 2 13 Para início de Conversa: A comunidade surda conquistou seu espaço com a aprova- ção de leis e mudança de visão da sociedade. Será que foi sempre assim? O caminhopara que seus direitos fossem assegurados foi fácil? A história mostra uma trajetória dura, difícil e cheia de obstá- culos. Momentos marcantes e dolorosos, cuja herança educacio- nal ainda sofre consequências nos dias atuais. Relembrar ou co- nhecer essa história é importante para entender o contexto atual. Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Contribuir para a superação da distância historicamente produzida entre o surdo e o ouvinte. Aprender sobre a história da educação de surdos. 14 te encontrados na história brasileira e mundial. Nesse sentido, pode-se dizer que o contexto histórico, político e social estruturalmente modelam a visão do homem e, inevitavelmente, a visão da pessoa com deficiência. Vejamos, em síntese, como esse grupo era visto socialmente. Curiosidade: A comunidade surda usuária de Libras se vê como minoria linguística e, por isso, suas reivindicações são de acessibilidade comunicacional, e não apenas na área da pessoa com deficiência. ANTIGUIDADE Na Antiguidade, a deficiência estava diretamente atrelada à incapacidade, determinando que esses indivíduos eram im- produtivos e dependiam de cuidados. Nesse período, a surdez, por exemplo, era tida como um castigo divino. Pensadores re- nomados, como o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), afirmavam que devido a essa deficiência a aprendizagem seria compro- metida seriamente, podendo ainda não acontecer. Ele defendia que o Estado não fornecesse recursos para investir na educa- ção da pessoa surda, pois “o pensamento é impossível sem a palavra”. Nesse período, em Roma, os surdos não podiam fazer valer seus direitos fundamentais, como trabalhar, desenvolver 1. PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS DA CRIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DO SURDO E DA OFICIALIZAÇÃO DA LIBRAS NO BRASIL Atualmente, os indivíduos com deficiência podem contar com aporte jurídico nas questões de garantias no campo da inclusão e da acessibilidade. Entretanto, muitas lutas e reivin- dicações foram travadas para o atingimento de tais objetivos. A sensação de naturalidade no cumprimento de algumas pro- postas inclusivas, como dever cidadão, estava muito aquém no passado. Lamentavelmente não se pode apagar o passado de ações discriminatórias, preconceito e capacitismo, intensamen- FONTE: SATURA_ 15 seus negócios e receber herança, por exemplo. Segundo Lacer- da, Santos e Martins (2019), eles eram vistos como dependentes, pessoas que deveriam contar com um ajudante ou um curador. Para a população grega, os surdos eram tidos como seres im- perfeitos. Situações como lançar as crianças surdas no Rio Tigre eram comuns, pois acreditavam que elas seriam cuidadas pelas ninfas. Algo que ocorria principalmente com a porção menos favorecida economicamente. Além dessas questões, o período foi marcado pela influ- ência da Igreja Católica, a qual afirmava que as pessoas com deficiência, portanto, com limitações, eram vistas como “al- mas imortais”, principalmente pela inabilidade de verbalizar os sacramentos. Ações pautadas na interpretação da palavra de Deus, a igreja negou, ainda, acesso à religião, aos rituais e à salvação da alma: “tendo dito que a fé deriva da pregação e a pregação é o anúncio da palavra”. (São Paulo, Epístola aos Ro- manos, X:17). ERA MEDIEVAL Durante a Idade Média, a sociedade monarquista cristã, houve o envolvimento da igreja católica como forte influencia- dora política. Observa-se nesse período posturas diversas para o trato social das pessoas com deficiência. Por um lado, havia um cuidado e acolhimento por parte de algumas igrejas de maneira assistencialista, por outro, a nobreza os apresentava como distrações e espetáculos, o “bobo” da corte. No campo da educação, os surdos também eram considerados incapazes. Para obterem o direito de casar, era necessário obter o aceite do papa e possuir a habilidade de falar. SÉCULO XVI Algumas das principais influências desse período foram as ações pautadas em descobertas científicas no campo da medicina influenciadas pela astronomia, astrologia e da alqui- mia. Outro ponto relevante desse período foi o surgimento de hospitais psiquiátricos, asilos e instituições para as doenças mentais. A visão era de que essas pessoas precisavam de um local para permanecerem afastados da sociedade e, portanto, segregadas, sem direito a tratamento, apenas aprisionadas (PE- REIRA et al, 2011, p. 5).FONTE: FREEPIC 16 ouvintes. Ele realizou inferências importantes, destacando que a deficiência auditiva não se caracterizaria como impedimento para a aprendizagem da fala. Em alguns países da Europa, as evoluções na representa- tividade e visibilidade das pessoas com deficiência se manteve em evolução. Em 1620, o espanhol Juan Pablo Bonet publicou a primeira obra impressa sobre a educação de deficientes au- ditivos: Reducción de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos (Redução das letras e artes para ensinar os mudos a falar). Questões importantes sobre a causa da surdez e da orali- dade foram tratadas nessa obra. Além disso, recomendou-se a idade certa para realizar a educação para os surdos, isto é, de 6 a 8 anos. Muito embora estivessem focados no trabalho com os surdos, a proposta era utilizar o alfabeto manual, gramática da língua oral e a leitura, representando um pensamento focado SÉCULOS XVII E XVIII A partir desse período, apresenta-se uma mudança im- portante no desenvolvimento de ações para tratar as pessoas com deficiência, principalmente devido aos feridos de guerra, ou seja, no desenvolvimento de ações na área ortopédica, para cegos e para pessoas surdas. Nesse contexto, em muitos países, as comunidades médica, acadêmica e social lançam esforços para as práticas de reabilitação, a fim de proporcionar às pes- soas com deficiência possibilidades de mais acesso. A exemplo disso, o médico Girolano Cardano, motivado pela deficiência de seu filho, demonstrou em seus trabalhos que os surdos eram seres educáveis. Outro agente importante para a história dos surdos foi o monge espanhol beneditino Pedro Ponce Leon, que desenvol- veu um trabalho com os surdos de classe social mais elevada. Seu principal objetivo foi “[...] ensinar a falar, escrever, ler, fazer contas, orar e confessar pelas palavras, a fim de ser reconheci- dos como pessoas nos termos da lei e herdar seus títulos [...]” (PEREIRA et al., 2011, p. 7). Houve também nesse período o surgimento de uma li- teratura voltada para o trabalho com os surdos. É o caso do francês Laurent Joubert, que afirmava sobre os surdos e a habi- lidade em aprender inerente a qualquer criança, sejam surdas, que perderam a audição por fatores externos e temporais, ou FONTE: WIKIPEDIA Laurent Joubert 17 da leitura e da escrita para surdos. Seu interesse se originou a partir da substituição de seu professor devido a seu falecimen- to. A partir do ensino de duas gêmeas surdas, colocou em prá- tica o que observava a partir da comunicação em gestos entre elas, assim, sistematizou esses sinais e os usou durante suas aulas (PEREIRA et al., 2011). Na Alemanha, nesse mesmo período, Samuel Heinicke (1778), em Leipzig (Alemanha), fundou uma instituição de en- sino para surdos com práticas e metodologias exclusivamente orais. Considerava qualquer outro método inútil e enganoso. Conforme Lacerda, Santos e Martins (2019), esses dois professo- res deram início à criação de duas abordagens para o processo de ensino- aprendizagem dos surdos: o método francês e o método alemão, algo que à época gerou polêmica. SÉCULO XIX O congresso de Veneza ocorreu em 1872 e apresentou uma grande definição a respeito da prática educacional para surdos: o mecanismo oral. A defesa desse pensamento foi de que o aspecto humano é a experiência oral de linguagem e que os surdos, quando bem direcionados e instruídos, pode- riam realizar leitura labial e falar. Um dos principais argumentospara essa abordagem foi de que a língua oral promove o desen- volvimento intelectual, bem como da moralidade e dos aspec- no oralismo e se posicionando radicalmente contra a utilização da comunicação gestual. Em 1644, o médico inglês John Bulwer publicou Chirono- mia, or the art of manuall rhetorique. A obra foi muito significa- tiva, pois apresentou precursoramente a defesa de sua teoria sobre a importância de que a linguagem das mãos é natural para todos os homens, principalmente para pessoas com sur- dez. Ainda nesse sentido, um dos grandes representantes da história da educação dos surdos foi Charles Michel de L’Épée, conhecido como Abbé de L’Épée, que publicou Instruction de sourds et muets par la voix des signes méthodiques (1776). Responsável pela criação da primeira escola para surdos com identidade pública, L’Épée direcionou seus esforços ao ensino FONTE: HTTPS://DEAFHISTORY.EU/INDEX.PHP/ COMPONENT/ZOO/ITEM/SAMUEL-HEINICKE-DE SAMUEL HEINICKE 18 surdos em toda a Europa. Segundo Wrigley (1996), nesse aspec- to, a história dos surdos é marcada por eventos decepcionan- tes, como se simplesmente fossem renovadas antigas práticas estruturalmente, evidenciando a cultura ouvinte em detrimen- to da cultura surda. Não houve, na história da educação dos surdos, um marco tão arbitrário e retrocedente nas vidas e na educação dos povos surdos. Devido ao “Congresso de Milão”, como ficou conhecido, o oralismo na educação de surdos predominou por 100 anos em todo o mundo, fato que, posteriormente, representou retroces- so e fracasso na educação para essas pessoas. No Brasil, nesse mesmo período, os surdos também pas- sam a ser submetidos aos ideais do oralismo. Nesse momento, 1888, a Lei Áurea foi assinada e posteriormente, em 1889, cons- tituiu-se a República do país. Se por um lado a população brasi- leira visualizava um futuro de liberdade, os surdos eram sujeitos ao modelo determinista das práticas exclusivas do oralismo. A história é marcada por ações ofensivas como práticas de amar- rar as mãos dos alunos surdos para que estes não sinalizassem, levando-os a uma comunicação oral obrigatória (LACERDA; SANTOS; MARTINS, 2019). Importante: O oralismo é uma corrente teórica que tem como objetivo reabilitar a audição e seu trabalho tinha foco na fala e leitura labial. Você vai conhecer um pouco sobre esse as- tos linguísticos. Em Paris, houve o I Congresso Internacional sobre a Instrução dos Surdos-Mudos, em 1878. Nesse evento, instituiu-se oficialmente que apenas a partir da educação oral se tornaria possível promover a inclusão do surdo na sociedade e, portanto, deveria se estabelecer educacionalmente apenas o método articulatório (leitura labial). O oralismo representou a abordagem que deu destaque ao ensino de oralidade para os surdo. [...] A primazia era o desenvolvimento da fala. [...] Sob essa abordagem, o surdo é visto como deficiente e a fal- ta de audição pode ser reparada se esse indivíduo aprender a falar. (LACERDA; SANTOS; MARTINS, 2019, p. 213) A partir do evento ocorrido em 1880, em Milão, na Itália, houve a proibição do uso da língua de sinais nas escolas de 19 sunto na próxima seção. SÉCULOS XX E XXI Um dos grandes marcos do século XX foi quando, em 1960, o professor Dr. William C. Stokoe, na Universidade Gallau- det, nos Estados Unidos da América, em Washington, percebeu em seus estudantes surdos, mediante o uso da língua de sinais, que esta apresentava unidades linguísticas. Essa descoberta impulsionou movimentações importantes no reconhecimento da língua de sinais em todo o mundo. Muito embora a língua de sinais ocorresse naturalmente por muitos anos, foi a primei- ra vez que se evidenciou a ocorrência e a emersão de todo um campo de pesquisa e formalização linguística (PEREIRA et al., 2011). Assim, o professor Stokoe traz à luz a língua de sinais diante de um novo prisma. Ela é uma língua natural, completa e complexa, usada pela sociedade surda americana e que pos- sui aspectos linguísticos de estruturas da linguagem humana. O universo das pessoas com surdez se vê diante de uma gran- de oportunidade: a de se tornar visível e em progressão para melhores práticas, na busca por caminhos para a educação dos surdos. Caminhos estes que se distanciam das opressões e ad- versidades ditadas pelas práticas do oralismo. A história também traz a participação em destaque de Dom Pedro II. Conforme Pereira (2011), deduz-se que o impera- dor D. Pedro II se interessou pela educação dos surdos devido ao seu genro, o príncipe Luís Gastão de Orléans (o Conde d’Eu), marido de sua segunda filha, a princesa Isabel, ser parcial- mente surdo”. Entretanto, essa narrativa não foi confirmada. A FONTE: HTTPS://GALLAUDET.EDU/ FONTE: HTTPS://ACERVO.SEAD.UFES.BR/MATERIAIS/ ARTES/LIBRAS/HISTORIA EDUARDO HUET 20 primeira escola para surdos no Brasil surgiu em função de Edu- ardo Huet, um professor surdo francês e sua esposa, que che- garam ao Brasil em 1855, convidados por Dom Pedro II. Em 26 de setembro de 1857, é fundado o INES, como hoje é conhecido, na cidade do Rio de Janeiro. Ele servia também como um asilo somente para meninos surdos de todo o Brasil. Conforme Pereira (2011), Huet passou por alguns proble- mas de adaptabilidade quando chegou ao Brasil. Isso se deu devido à falta de confiabilidade no seu trabalho, principalmen- te porque no INES, à época, o professor não era reconhecido como cidadão brasileiro, assim, gerando dúvidas com relação ao seu desenvolvimento pedagógico, o que resultou em aten- dimentos e aulas a poucos estudantes. Por outro lado, isso se difere de um outro professor surdo, Laurent Clerc, que desen- volveu seu trabalho nos Estados Unidos e realizava as mesmas práticas para os surdos de lá. Os dois professores tinham ori- gens francesas. Após um período de cinco anos dirigindo o INES, Huet realizou uma viagem ao México no ano de 1861, fato que pro- porcionou sua substituição por equipes e diretores ouvintes. O INES e sua unidade escolar era o principal centro referencial dos professores de surdos e dos próprios surdos da época. Ini- cialmente, utilizavam a língua de sinais francesa, trazida por Huet, e misturavam com a existente no país. A partir dessa fusão, deu-se origem, posteriormente, à Língua Brasileira de Sinais (Libras), utilizada na contemporaneidade, pois, como vemos ocorrer nas línguas orais, as línguas de sinais também emergem por meio das fusões entre outras línguas de sinais. O renascimento da língua de sinais no Brasil nos anos 1980 e 1990 ocorre com a corrente educacional denominada Comunicação Total. Essa filosofia se originou nos Estados Uni- dos, na tentativa de melhorar a educação dos surdos. Ela se caracteriza pelo uso e lançamento de todas as formas de co- municação possíveis, isto é, a fala, os sinais, o teatro, a dança, a mímica etc. nas instituições de ensino. A introdução da comu- nicação total ocorreu lentamente, assim como o uso de sinais, tendo em vista os fortes paradigmas oralistas. Para as pessoas surdas, representou espaço e visibilidade, enquanto que para os professores ouvintes a aprendizagem dos sinais ocorreu com seus próprios alunos surdos. Representações na educação inclusiva encabeçando novos horizontes, mais dialogados, de- FONTE: ADOBE STOCK 21 mocráticos e com a língua de sinais acontecendo naturalmen- te rumo ao seu reconhecimento, pois, no Brasil, ela ainda não era oficial e não era ainda entendida como uma língua (SILVA, 2015). Ao pesquisarmos sobre a história da educação de surdos no Brasil e no mundo, passamos por quase 100 anos de impo- sição do oralismo. Apesar de todo o sofrimento do povo surdo, sua língua não desapareceu, sua identidade e cultura também não se perderam na história. Por quê? Devido às táticas usadas por elas, para que sobrevivessem. Curiosidade: Algumas pessoas acham que LIBRAS é um nome,mas na verdade é uma sigla que significa Língua Brasi- leira de Sinais. Portanto, não se diz “as LIBRAS” e muito menos “o libras”. 2. ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E O BILINGUISMO Como visto na seção anterior, durante a história da edu- cação de surdos, decidir pela comunicação sinalizada ou ora- lizada é uma decisão das pessoas com deficiência auditiva ou de suas famílias. Com o avanço dos estudos e pesquisas na área da Libras, a comunidade surda começou a perceber diferenças entre as filosofias de comunicação escolhidas. Segundo Silva (2015), existem três principais correntes de comunicação para os surdos: o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo. O oralismo ganhou força a partir do congresso de Milão, em 1880, e foi a base da educação dos surdos no mundo por mais de 100 anos. A crítica principal a esse método é que ele proíbe o uso da língua de sinais. Os adeptos do oralismo acredi- tam que aprender uma língua sinalizada atrapalha o aprendi- zado da língua falada. O foco era na reabilitação da fala, prática de leitura labial e uso de aparelhos auditivos. Com o Congresso de Milão, houve grande avanço e predo- mínio, por mais de 110 anos, da língua oral para os surdos. Perei- ra et al. (2009) relatam que foram anos que trouxeram atrasos no desenvolvimento da comunidade surda. Os fracassos das crianças no desenvolvimento da fala eram atribuídos à pouca estimulação ou à falha nas técnicas utilizadas, e tais fracas- sos comprometiam a escolarização e a profissionalização, que eram quase nulas. Diante do fracasso do oralismo, a comunicação total foi adotada entre as décadas de 70 e 80. A comunicação total é parte do oralismo, porém aceita gestos e outros recursos para FONTE: WAVEBREAKMEDIA 22 auxiliar na comunicação, “considerados acessórios à aprendiza- gem e ferramenta de ensino para a oralização dos estudantes surdos, sem o peso ou a importância de uma língua” (PEREI- RA et al, 2009). Na comunicação total, pode-se utilizar todos os recursos disponíveis, como desenho, mímica, gesto, oralidade, alguns sinais etc. O objetivo era conseguir se comunicar. Como esse método continuava priorizando a fala e a audição, tam- bém não teve muito sucesso. Até o final dos anos 80 e início dos anos 90, a surdez era vista como algo passageiro e que dependia apenas do esforço da pessoa surda para conseguir falar e entender o que era fala- do. As habilidades de cada estudante são postas à prova du- rante esse período de quase cem anos em que a abordagem vigorou no Brasil, pelo fato de que não ouvir era, ao mesmo tempo, depreciado e ignorado. Era depreciado em função da deficiência, o que se constata ao verificar a condição de sub- missão em que esses estudantes viviam. Assim, a primeira grande luta dos militantes surdos foi justamente o empodera- mento e o reconhecimento das capacidades e condições para um convívio sem dificuldades, caso as barreiras da língua e pedagógicas fossem destruídas por um processo social e de formação de professores que atendessem às diferenças. Era ignorado em termos de não se levar em consideração a impos- sibilidade biológica, ou seja, a não possibilidade de ouvir natu- ralmente. (VIEIRA; MOLINA, 2009). O tempo despendido na reabilitação era maior do que o dedicado aos conteúdos escolares. Com isso, a maioria das pessoas surdas reprovaram várias vezes a mesma série. E os estudiosos da época atribuíam essa reprovação aos próprios estudantes, por não conseguirem oralizar e discriminar os sons da fala por meio da leitura labial. Em meados dos anos 90, no Brasil, chega a discussão do bilinguismo como alternativa para educação dos surdos, reco- nhecendo a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. Essa abordagem vai lidar com duas línguas de modalidades diferentes: uma espacial-visual, a Libras, e outra oral-auditiva, o português. No bilinguismo, o aprendizado do português era feito como segunda língua e na modalidade escrita. Para Vieira e Molina (2009) o bilinguismo é muito mais do que a exposição a duas línguas: é parte de um projeto maior de empoderamento do surdo e propicia que o papel da escola seja cumprido na construção de conhecimento e na constituição autônoma dos estudantes. 23 Considerações Finais: Conhecer a história da comunidade surda é importante para entender a relevância da Libras para seus usuários. Até os dias atuais, o oralismo é utilizado em vários locais, como numa entrevista de trabalho que é feita exclusivamente em portu- guês sem a presença de um tradutor, ou na exigência de que a pessoa com deficiência seja oralizada para poder se candidatar à vaga. Aceitar a diferença significa se adaptar a ela e quebrar as barreiras do preconceito. Referências: BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regula- menta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasí- lia, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; SANTOS, Lara Ferreira dos; MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira (org.). Libras: aspectos fundamentais. Curitiba: Intersaberes, 2019. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/ Publicacao/169745/pdf/0 PEREIRA, Maria Cristina da Cunha et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/ Publicacao/2658/pdf/0 SILVA, Rafael Dias (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0 VIEIRA, C. R.; MOLINA, K. S. M.. Prática pedagógica na educação de surdos: o entrelaçamento das abordagens no contexto esco- lar. Educação e Pesquisa, v. 44, p. e179339, 2018. 24 UNIDADE DE APRENDIZAGEM A INCLUSÃO DA PESSOA SURDA OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Língua Brasileira de Sinais – Libras 3 25 Para início de Conversa: Você conhece as políticas públicas que garantem o direi- to de acessibilidade linguística dos surdos? Na sociedade atual, muito se tem debatido sobre a inclusão das pessoas e, em espe- cífico, das pessoas surdas. A principal reivindicação da comuni- dade surda é a acessibilidade linguística. E para conseguir efe- tivamente essa acessibilidade, é preciso garantir a presença de um intérprete de Libras em locais onde há presença de surdos e ouvintes para que a mediação linguística aconteça. Além disso, aspectos culturais ligados à língua precisam ser considerados e respeitados, afinal, estamos falando de pessoas que aprendem e vivem no mundo por meio da visão, e não com base nos sons. Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Promover o acesso aos conhecimentos básicos sobre os diferentes aspectos relacionados à pessoa surda/com de- ficiência auditiva. 26 colaboradores reserve de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. Caso a empresa não cumpra a legislação, a multa pode chegar a R$228 mil reais. Atualmente, as pessoas surdas ainda precisam lutar para garantir seu direito de acessibilidade de comunicação, preci- sam reivindicar a presença de intérpretes de Libras em espaços de uso público e privado da sociedade, como escolas, hospitais, delegacias etc., mesmo com esse direito garantido por lei. Os surdos são extremamente prejudicados em seu de- senvolvimento, visto que aprendem Libras tardiamente, ocasio- nando nesse processo prejuízos imensuráveis devido às situa- ções inerentes à aquisição de sua língua materna (SILVA, 2015). Muitas crianças com deficiência auditiva chegam à escola apresentando uma defasagem de idade importante, se compa- radas às crianças ouvintes. A Libras é o meio de comunicação da pessoa surda, sua 1. POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DAS PESSOAS SURDAS PELO DIREITO LINGUÍSTICONuma sociedade globalizada, as oportunidades de troca de experiência são grandes e a pessoa pode se sentir incluída ou excluída. A inclusão envolve questões econômicas, sociais, étnicas, de gênero e aquelas referentes à pessoa com deficiên- cia. A comunidade surda tem desenvolvido ações para im- plementar essa inclusão. São elas: a luta pela criação e pelo cumprimento das leis, o estabelecimento de convênios que garantam vagas de trabalho para surdos, exigência de intérpre- tes nos espaços de escolarização e visibilidade da Libras e da comunidade surda reconhecida como minoria linguística. A principal conquista para a comunidade surda em rela- ção à legislação é a homologação da Lei de Libras, em 2002. A partir dessa lei, outras se somaram na defesa dos direitos dos surdos. A Lei Brasileira da Inclusão, 2015, trata das diretrizes ge- rais sobre a inclusão das pessoas com deficiência. A lei de cotas no mercado de trabalho é de 1991 (Lei n.º 8213/91) e garante a inclusão de pessoas com deficiência nas empresas. A lei determina que a empresa com mais de 100 FONTE: LIGHTFIELDSTUDIOS 27 forma de manifestar o pensamento, emoções, além do desen- volvimento psicológico. O acesso a essa língua o mais cedo possível é a grande possibilidade que a pessoa surda tem de se desenvolver integralmente. O surdo tem direito a um intérprete de Libras para que seja feita a tradução e interpretação de todo o conteúdo ministrado em sala de aula (BAGGIO, 2017). Na atualidade, a inclusão de surdos se dá no campo da comunicação, da inclusão tecnológica e principalmente por meio da educação que insere o surdo na sociedade, utilizando- -se de diversificadas alternativas de ensino que proporcionam a interação interpessoal (BAGGIO, 2017). Nesse sentido, alguns sites oferecem importantes ferramentas para ocorrer a inclu- são, como o dicionário de Libras, com o objetivo de proporcio- nar meios para ocorrer a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes. Importante: o termo ouvinte refere-se às pessoas que não são surdas. 2. A CULTURA SURDA E A INCLUSÃO Primeiramente, reconhecer que o surdo tem uma cultura própria significa reconhecer uma minoria social com direito a espaço e voz. Partindo desse entendimento, falar de cultura surda também é compreender que uma cultura envolve uma enorme pluralidade cultural. Ter uma identidade cultural quer dizer que essa identidade foi construída por uma cultura social, uma cultura familiar, uma cultura regional, uma cultura linguística, uma cultura dos pares sociais, e mais uma infinidade de características do contexto de vida de cada indivíduo. Curiosidade: você sabe como é feita a adaptação da campainha da casa da pessoa com deficiência auditiva? É feita com alerta luminoso ao invés do sonoro. Assim, cada vez que alguém aperta a campainha, uma luz acende dentro de casa e o morador sabe que tem alguém esperando à porta. A identidade é construída sempre em relação ao grupo a que se pertence em oposição a outro. Ao tornar a língua como definidora de uma identidade social, os surdos se identificam como sujeitos com sua própria cultura. FONTE: HTTPS://WWW.PARTES.COM.BR/2018/04/22/O- ALUNO-SURDO-E-O-PROCESSO-DE-INCLUSAO/ 28 gem, essa especificidade é característica das pessoas que expe- rimentam e vivem o mundo por meio da visão. A comunidade surda se caracteriza como grupo de pessoas que dominam a Libras, sentimento de identidade grupal, fatores que conside- ram a surdez como uma diferença e não deficiência. O conceito de cultura surda está atrelado à língua, “a língua de sinais, uma língua visual espacial com gramática própria, é uma das maiores produções culturais dos surdos”. (PEREIRA et al. p. 34). A Libras tem três papéis para os surdos, segundo os autores: (1) é símbolo da identidade social; (2) é um meio de interação social; (3) é depositório de conhecimento cultural. Para os surdos, o contato visual durante a conversação é extremamente valorizado, levando em consideração a caracte- rística visual da língua utilizada. Se os ouvintes desviam o olhar durante a conversa, os surdos têm a impressão de que a pessoa está desinteressada no assunto. Essa atitude pode até ser con- siderada falta de respeito (PEREIRA et al., 2011). Se duas pessoas surdas estão conversando e uma terceira quer participar da conversa, deve aproximar-se da pessoa com quem quer falar e aguardar que ela interrompa a sinalização e direcione o olhar para a pessoa que chegou. 3. O TRADUTOR- INTÉRPRETE DE LIBRAS NA INCLUSÃO DOS A maioria das crianças surdas nasce em famílias ouvintes, que desconhecem a Libras, têm dificuldade de aceitá-la e, por consequência, de usá-la com seus filhos. A interação familiar é limitada por falta de uma língua para mediar o diálogo, em consequência disso, acontece a exclusão dos surdos. A lingua- gem oral é o principal meio de comunicação na família e isso atrapalha a construção de conhecimento de mundo e de lín- gua pelas crianças surdas, inclusive o desenvolvimento de lín- gua em idade escolar. Se esse contato e aprendizado não acon- tece em casa, é importante o contato das crianças surdas com adultos surdos, sentimento identificatório cultural. […] compreendi imediatamente que não estava sozinha no mundo. Uma revelação imprevista. Um deslumbramen- to. Eu, que me acreditava única e destinada a morrer criança, como costumam imaginar que aconteceria às crianças surdas, acabava de descobrir que existia um futuro possível, já que Al- fredo era adulto e surdo (LABORIT apud PEREIRA et al., 2011, p. 27) As pessoas surdas usam a visão como canal de aprendiza- FONTE: BODENCHUKNATA 29 te ao direito linguístico de usá-la, suscitando a emergência da presença do profissional intérprete nos espaços de atuação das pessoas surdas. Isso foi impulsionado certamente pelo adven- to da oficialização da Língua Brasileira de Sinais (Libras) com a Lei n.º 10.436, de abril de 2002, fundamental para consolidar a necessidade de também oficializar a profissão do intérprete de Libras, que já atuava em alguns espaços, mas não tinha sua profissão reconhecida. Depois veio o documento que de fato apresenta a necessidade de desenvolver a formação do intér- prete de Libras: o Decreto n.º 5.626, de dezembro de 2005. A profissão do intérprete de Libras é regulamentada pela Lei n.º 10.436 e apresenta diretrizes e encaminhamentos para a realização da formação dos intérpretes, por meio de cursos específicos de formação. O intérprete de Libras poderá atuar quando formado no curso de graduação Letras/Libras (bacha- relado) ou certificado em banca de proficiência para tradução em Libras por instituições credenciadas pela Secretaria de Edu- cação. Além dessas certificações, está apto para atuar no ensi- no médio ou ensino superior aquele que tiver graduação como formação mínima, segundo o texto da lei. Interpretar ou traduzir exige do profissional diversas com- petências que vão além de apenas decodificar as palavras de uma língua para outra. Ele precisa ouvir ou ver o texto na lín- gua fonte, fazer escolhas lexicais, gramaticais e de organização sintática e transformar tudo isso em um texto que faça sentido SURDOS No Brasil, a profissão de intérprete de Libras foi reconhe- cida no dia 12 de setembro de 2010. Fato histórico que reflete o resultado de lutas, resistência e anos de atuação informal em diversos espaços e dimensões da sociedade. Da mesma for- ma como ocorreu em vários países, a história da constituição desse profissional ocorreu a partir de atividades voluntárias, enquanto atividade de trabalho na medida em que os surdos conquistavam o seu exercício de cidadania (SILVA, 2015). O fato preponderante que determinou a formalização desse profissio- nal foi a possibilidade de participação dos sujeitos surdos nas discussões sociais. Com o reconhecimento da língua de sinais, é garantido aos surdos o acesso à língua e consequentemen- FONTE: HTTPS://WWW.CMBH.MG.GOV.BR/COMUNICA%C3%A7%C3%A3O/ NOT%C3%ADCIAS/2022/04/PRESEN%C3%A7A-DE- INT%C3%A9RPRETE-DE-LIBRAS-NO-ATENDIMENTO- DE-SA%C3%BADE-DE-SURDOS 30 ção permite ao tradutor estudar o texto, analisar possibilidades e pensar no produto final traduzido em língua portuguesa ou Libras; já a interpretação não apresenta essas condições. A tare- fa do intérprete é produzir a versão na língua-alvo simultanea- mente, sem tempo de estudo, como acontece na tradução. O que deve ficar claro é: o tradutor tem acesso ao texto inteiro com antecedência, seja ele escrito ou sinalizado, en- quanto o intérprete não tem esse acesso. Ele faz sua interpreta- ção simultaneamente. Na tradução, há contato com o texto na língua-fonte antes da necessidade da criação da versão traduzi- da. Em ambos os casos, o tradutor/intérprete necessita de com- petências e técnicas para efetivar seu trabalho. Importante: Língua-fonte: é a língua que o intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a tradução e interpretação para a outra língua (a língua-alvo). na língua-alvo. Para tanto, o contínuo aprimoramento intelec- tual desse profissional é essencial para um trabalho efetivo e de qualidade, que, como se pode observar, não é tarefa fácil. Para o intérprete é mais desafiador do que para o tradutor, devido à simultaneidade. Em cada tarefa de tradução/interpretação, fatores como memória, tomada de decisões, categorização e estratégias de interpretação, por exemplo, são habilidades exi- gidas desse profissional (PEREIRA et al., 2011). Segundo o Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos, existem algumas características fundamentais para atuar como intérprete de Libras (BRASIL, 2004). Conforme o documento, para realizar uma boa interpretação em Libras, faz-se necessário adquirir três habilidades distintas: habilidade linguística com termos do português, ter amplo conhecimento dos sinais da Libras e da estrutura da Língua de Sinais, além de habilidade mental e motora. Traduzir discursos é, basicamente, verter um texto de uma língua para outra. Entretanto, essa atividade envolve mui- tas etapas e processos, por isso, dizer que traduzir é apenas passar para a língua-alvo o que foi dito na língua fonte é insufi- ciente. É preciso conhecer os elementos gramaticais de ambas as línguas e, ainda, aspectos culturais e pragmáticos envolvidos nos processos. Ao diferenciar os conceitos de tradução e interpretação, mais precisamente as tarefas de traduzir e interpretar: a tradu- FONTE: BROOKEOFADVENTURES 31 Língua-alvo: é a língua na qual será feita a tradução ou interpretação. Trata-se de uma profissão regulamentada e com nortea- dores éticos. A formação legal, atenção para o código de ética e aprimoramento intelectual, são quesitos mínimos para atendi- mento da complexidade exigida no processo tradutório. É fácil confundir o papel do tradutor-intérprete com o de um professor, afinal, ele está com o estudante surdo em todas as aulas. Porém, é importante salientar que o intérprete é um mediador linguístico e sua função não é pedagógica. Não atri- bui nota ao surdo, não avalia seu desempenho e não prepara aulas especiais para esse estudante. A função do tradutor-intér- prete educacional também não pode ser encarada como admi- nistrativa, pois ele atua em sala de aula e não em um escritório. O código de ética é um texto escrito por uma instituição de representatividade de um grupo ou categoria de profis- sionais. No caso dos tradutores e intérpretes de Libras temos, entre alguns já escritos, o Código de Ética do Intérprete, da FENEIS. Curiosidade: FENEIS: Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. É uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, que tem por finalidade a defesa de políticas linguís- ticas, educação, cultura, saúde e assistência social, em favor da comunidade surda brasileira, bem como a defesa de seus direi- tos. Fonte: http://feneis.org.br/sobre/ O código de ética da FENEIS é dividido em quatro capítu- los. O primeiro trata especificamente sobre os aspectos pesso- ais do tradutor, seus valores, seu desempenho e habilidade no trabalho. Ainda menciona o fato desse profissional reconhecer seus limites e não aceitar trabalhos que extrapolam sua com- petência profissional. O segundo capítulo trata dos honorários do tradutor intérprete de Libras. Na época da criação desse código, o trabalho do intérprete era, em sua maioria, voluntário, dentro de instituições religiosas ou ONGs ligadas ao mercado de trabalho. A remuneração ainda precisava de regras e os valo- res eram tabelados pela federação. Já o terceiro capítulo trata das situações de interpretação propriamente ditas, atuação em ambiente jurídico, de trabalho, onde o nível de adequação da língua portuguesa e Libras precisa ser considerado. A produção sinalizada do sujeito surdo deve ser contextualizada e explicada se necessário, sempre defendendo e garantindo a acessibilida- de do surdo. No quarto e último capítulo, fica expressa a neces- FONTE: HTTPS://FENEIS.ORG.BR/O-QUE-E/ 32 sidade de convivência e troca de experiências entres os tradu- tores-intérpretes de Libras para crescimento profissional. O código de ética termina com um parágrafo destacando a importância do tradutor-intérprete de Libras divulgar infor- mações a respeito do povo surdo e esclarecer possíveis proble- mas de comunicação entre ouvintes e surdos. A FENEIS e seus representantes decidiram pelo texto final do código de ética durante o II Encontro Nacional de Intérpretes de 1992 e teve como base o texto do Registro dos Intérpretes para Surdos dos Estados Unidos de 1965. Importante: a função de intérprete exige que sejam se- guidos alguns preceitos éticos: - imparcialidade (interpretação neutra, sem dar opiniões pessoais); - distância profissional (não haver interferência da vida pessoal); - confiabilidade (sigilo profissional); - discrição (estabelecer limites no seu envolvimento du- rante a atuação); - fidelidade (interpretação deve ser fiel, sem alterar a in- formação mesmo que seja com a intenção de ajudar). Considerações Finais: Nesta unidade o tema principal é a inclusão das pessoas surdas na sociedade. A discussão sobre a acessibilidade linguís- tica é pauta das reivindicações da comunidade surda. Além disso, os aspectos culturais ligados à língua de sinais são impor- tantes e devem ser considerados.A última seção discutiu sobre a profissionalização do intérprete de Libras, sua presença nos espaços onde é necessária a comunicação e como esse profis- sional pode colaborar com a efetiva inclusão da pessoa surda. 33 Referências: LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; SANTOS, Lara Ferreira dos; MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira (org.). Libras: as- pectos fundamentais. Curitiba: Intersaberes, 2019. E-book. Dis- ponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publica- cao/169745/pdf/0 46113 MARQUEZAN, Reinoldo. O deficiente no discurso da legisla- ção. Campinas: Papirus, 2009. E-book. Disponível em: https:// plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2271/pdf/0 47398 PEREIRA, Maria Cristina da Cunha et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publi- cacao/2658/pdf/0 47396 SILVA, Rafael Dias (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0 44878 34 UNIDADE DE APRENDIZAGEM LIBRAS E OS ASPECTOS TEÓRICOS- PRÁTICOS. Língua Brasileira de Sinais – Libras 4 35 Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Desenvolver conhecimentos básicos e práticos no que se refere ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Li- bras. 1. APLICAR AS DIFERENTES FRASES EM LIBRAS: AFIRMATIVA, INTERROGATIVA, NEGATIVA, EXCLAMATIVA Nas línguas faladas tem-se a construção dodiscurso por meio de frases, orações e períodos. A frase é uma unidade de sentido e pode ser composta de uma palavra apenas, como observado no exemplo a seguir: (A) Tchau. Oração é uma construção que possui um sujeito, um verbo e um objeto ou complemento. A oração pode ser simples ou composta, com mais de um verbo. Observe o exemplo: (B) Pedro gosta de bolo. O período é o conjunto de duas ou mais orações. Por exemplo: (C) Pedro gosta de bolo, mas não gosta de coxinha. Já Fernanda gosta muito de alimentos servidos na festa de aniver- sário. Nos exemplos de frase, oração e período, tem-se a or- dem sintática SVO (sujeito, verbo e objeto), organização básica da língua. Cada língua tem sua sintaxe e, na Libras, na maioria 36 a cabeça movimentando-se levemente para cima e para baixo. Curiosidade: durante a sinalização, uma mão é conside- rada a mão dominante, que fará a parte principal do sinal, en- quanto a mão de apoio auxiliará a sinalização ou será o comple- mento do restante do movimento. Por fim, a negação pode ser marcada de 4 maneiras: Com o movimento negativo da cabeça; Com a mudança da direção do sinal; das vezes, a organização dos elementos das frases, orações e períodos segue essa ordem SVO, mas existem outras ordens possíveis. Importante: apesar da ordem sintática SVO ser usual na Libras, a topicalização também é usada no discurso sinaliza- do. A topicalização é um fenômeno que ocorre quando certos elementos da oração aparecem deslocados para o início, como um pré-anúncio daquilo que se vai proferir na sequência. A Libras apresenta unidades conceituais em cada sinal executado e ela não está presa na ordem sintática do portu- guês. Alguns enunciados em português podem ser traduzidos para Libras com um único sinal. Um exemplo disso é com a seguinte pergunta: Português - Quantos anos você tem? Libras - IDADE + expressão não manual de interrogação. Na Libras, as expressões não manuais (ENM) são vitais para a marcação de afirmação, interrogação, exclamação e ne- gação. Nos enunciados de afirmação, a ENM pode ser neutra ou com movimento afirmativo com a cabeça. Nas de interro- gação, as sobrancelhas ficam franzidas e a cabeça tem um leve movimento para cima. Já nos enunciados de exclamação, a ENM é dinâmica, com o levantamento das sobrancelhas e com FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 37 Com o sinal que incorpora a negação; Com o sinal NÃO acompanhando o verbo ou sinal. Em todos os exemplos, a marcação da negação foi reali- zada por meio de expressões faciais ou corporais e mudança da direção da mão. Além disso, alguns sinais na forma negativa precisam alterar todos os parâmetros, criando um sinal inde- pendente da forma afirmativa, como é o caso do sinal TER- -NÃO. 2. OS PARÂMETROS DA LIBRAS A Libras possui parâmetros (componentes) que formam o sinal. Esses componentes são as partes do sinal e possuem traços distintivos entre eles, ou seja, a alteração de apenas um componente tem valor semântico diferente. Os parâmetros são: configuração de mão, ponto de articu- lação, movimento, direção da mão e expressões não manuais. Segundo pesquisas anteriores na área da Linguística da Libras, denomina-se configuração de mão a forma e a posição da mão durante a execução do sinal. Essa posição e a forma que a mão assume podem ser diferenciadas por extensão, contração ou contato/divergência dos dedos (SILVA, 2015). Importante: Extensão: lugar e número de dedos estendidos. Contração: mão aberta ou fechada. Contato/divergência dos dedos: apenas uma mão confi- FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 38 Os sinais de S, APRENDER e SÁBADO possuem a mesma configuração de mão (CM2), porém têm significados diferentes. A diferença está nos outros parâmetros, com o ponto de articu- lação. O ponto de articulação se refere à área do corpo na qual o sinal é articulado. A região espacial vai do topo da cabeça até a cintura. Os pontos onde os sinais podem ser articulados de- vem ser precisos. A posição é feita no corpo do sinalizante, ou seja, cabeça, tronco, braços, mãos, e ainda em partes menores, como olhos, pescoço, antebraço, ombro, mãos, queixo, testa, boca, nariz etc. e também no espaço neutro. gurada, uma mão configurada sobre a outra, ou as duas mãos configuradas de modo espelhado. Conforme demonstrado na imagem, existem hoje 64 configurações de mãos na Libras (SILVA, 2015). Essas configu- rações de mão juntamente dos outros parâmetros formam os sinais da Libras. Cada configuração pode ser feita pela mão dominante (mão direita para os destros, mão esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos dependendo do sinal. Os sinais da letra S, APRENDER e SÁBADO têm a mesma configuração de mão e são realizados na testa e na boca, respectivamente. FONTE: HTTPS://WWW.LIBRAS.COM.BR/OS-CINCO- PARAMETROS-DA-LIBRAS FONTE: HTTPS://WWW.LIBRAS.COM.BR/OS-CINCO- PARAMETROS-DA-LIBRAS SINAIS (A) DESCULPAR E (B) ÁGUA FONTE: SILVA (2015, P. 24) 39 Qualquer alteração no movimento pode comprometer o entendimento da sinalização. Ao sinalizar GRUPO, o sinal deve ter movimento para os lados, e para o sinal de BOLA, o movi- mento é para frente. Os verbos direcionais são os sinais que mais necessitam de cuidado na hora de executar o movimento, pois se o movi- mento não for na direção correta, o significado será o contrário do qual se pretendia falar/sinalizar. A direção da mão é o lado que a palma da mão aponta quando ocorre a sinalização. Em relação ao parâmetro direção da mão, Lacerda, Santos e Martins (2019) afirmam que existem Pode-se observar na imagem que os sinais DESCULPAR e ÁGUA possuem o mesmo ponto de articulação, porém como têm configurações de mão diferentes, (DESCULPAR CM40 e ÁGUA CM8a) eles têm significados diferentes. O movimento refere-se ao modo como as mãos se mo- vem durante a sinalização. Existem vários tipos de movimentos: linear, simultâneo ou alternado, com uma ou duas mãos, movi- mento para frente, para trás, para os lados etc. O movimento é um parâmetro complexo, pois envolve uma vasta rede de for- mas e direções, descemos deslocamentos internos da mão, os movimentos de pulso, os direcionais no espaço e até os diferen- tes movimentos do mesmo sinal (BAGGIO, 2017). Curioridade: as línguas de sinais não são iguais, cada país tem a sua própria língua, como acontece com as línguas orais. Segundo Silva (2015), os movimentos podem ser agru- pados em 4 grupos: tipo, direcionalidade, maneira e frequência. Tipo: contorno ou forma geométrica, contato, interação, torcedura de pulso, interno das mãos. Direcionalidade: unidirecional e pluridirecional. Maneira: contínuo, de retenção, de refreado. Frequência: simples e repetido. O aprendiz de Libras têm dificuldade em copiar ou reproduzir os movimentos dos sinais, pois as diferenças en- tre esse desenho do sinal no espaço pode ser bem sutil, como pode ser observado nas imagens a seguir: FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 40 são de ENM de negação simultaneamente à execução do sinal CONSEGUIR para marcar o não. seis tipos de orientação: mão para cima, para baixo, para den- tro, para fora e para os lados. As expressões não manuais são todas as expressões faciais e corporais, movimentos do corpo, da cabeça e dos olhos realizados no momento da articulação do sinal. As ENM têm valor semântico, ou seja, são traços distin- tivos entre os sinais. Um sinal pode ter a mesma configuração de mão, o mesmo ponto de articulação, o mesmo movimento e direção da mão e apenas ter a ENM diferente e, assim, muda o significado do sinal. Um exemplo desse fato é o sinal de CONSEGUIR e NÃO CONSEGUIR. A diferença entre a execução dos dois é a inclu- 41 Considerações Finais: Na Unidade 4, você estudou sobre os tipos de frases da Libras, sua estruturae formações. Além disso, aprendeu sobre os parâmetros da Libras. Esses elementos são essenciais para progredir na aprendizagem dessa língua visual. Entender como a língua funciona, como está estruturada, dará a você mais se- gurança e desenvoltura no aprendizado desse novo idioma. Referências: BAGGIO, Maria Auxiliadora; CASA NOVA, Maria da Graça. Libras. Curitiba: Intersaberes, 2017. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/129456/ pdf/0 44876 LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; SANTOS, Lara Ferreira dos; MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira (org.). Libras: as- pectos fundamentais. Curitiba: Intersaberes, 2019. E-book. Dis- ponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publica- cao/169745/pdf/0 46113 PEREIRA, Maria Cristina da Cunha et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2658/pdf/0 47396 SILVA, Rafael Dias (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0 4487 42 UNIDADE DE APRENDIZAGEM CONVERSAÇÃO EM LIBRAS: LÍNGUA VISUAL-ESPACIAL Língua Brasileira de Sinais – Libras 5 43 Para início de Conversa: A Libras tem estruturas linguísticas que podem ser es- tudadas, como as demais línguas naturais. Inclusive, pos- sui estudos na área da prosódia. A Libras é uma língua sem sons, como então estudar sobre entonação, ritmo, velocida- de da fala? É possível, sim. Na Libras, a prosódia é marcada com duração, intensidade e variação de tempo. Essas mar- cas podem ser feitas por sinais e por expressões não manuais. Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Desenvolver conhecimentos básicos e práticos no que se refere ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Li- bras. 44 Sinais: fazem parte da gramática da língua de sinais. Na Libras, a prosódia também é marcada por elementos como duração e intensidade. A duração, com marcadores de variação de tempo, com sinais e expressões não manuais. A in- tensidade, com expressões não manuais de atitude e emoção. Curiosidade: Sendo a Libras uma língua reconhecida no Brasil, distinta da Língua Portuguesa, portanto quem fala/sinali- za ambas é bilíngue! A prosódia na língua de sinais é expressa por mudança de posição de olhos, por movimentos da cabeça, bochechas infla- das, entre outros. Por exemplo, para uma pergunta do tipo SIM/ NÃO a sinalização precisa de expressão facial de confirmação ou negação com a sinalização da resposta. A diferença entre a prosódia das línguas faladas e das línguas sinalizadas é basicamente na expressão: enquanto a 1. PROSÓDIA DA LIBRAS Segundo Silva (2015), prosódia é a relação dos aspectos melódicos da fala, que trazem significado e reconhecimento às atitudes do locutor, como a ironia, o sarcasmo, a crítica, a dúvida etc. e emoções, tais como raiva, alegria, tristeza e outras características do falante. Os eventos prosódicos da língua podem estar relacio- nados à similaridade dos diferentes tipos de frase, nos diversos usos da linguagem e na determinação de atitudes e expressão de emoção dos falantes. Portanto, as relações prosódicas po- dem atribuir diferentes significados às palavras. A prosódia estuda fenômenos linguísticos relacionados à altura, intensidade, duração, pausa, velocidade da fala, tam- bém é o estudo da entonação, acento e ritmo das línguas natu- rais (SCARPA, 1999 apud PEREIRA et al., 2011). Mesmo nas línguas faladas, as expressões e movimen- tos corporais estão presentes. A junção dessas expressões não verbais e a fala compõe a prosódia das línguas orais. Os princi- pais elementos da prosódia são (BAGGIO, 2017): Gestos: são os mais usados durante a fala e são variados. Emblemas: símbolos convencionados, o significado de- pende dos elementos culturais do grupo. Pantomima: gestos sem o acompanhamento da fala. FONTE: O AUTOR 45 primeira usa sons da fala e gestos, a segunda utiliza os parâme- tros, ou seja, configuração de mão, ponto de articulação, movi- mento, direção da mão e expressões não manuais. 2. COMPOSIÇÃO DA LIBRAS EM RELAÇÃO A SOLETRAÇÃO, SOLETRAÇÃO RÍTMICA, SINAL ÚNICO E SINAL COMPOSTO Na Libras existem os sinais soletrados. São os sinais que utilizam o alfabeto manual com soletração rítmica para expres- sar o sinal e seu significado. A soletração rítmica é diferente da soletração comum. O alfabeto manual é utilizado para soletrar nomes próprios, como você já estudou na Unidade 1. Já a soletração rítmica tem função de sinal, ou seja, a soletração é feita em outra velocida- de, ritmo e assume o papel de um sinal, e não de letras do alfa- beto. Exemplos desse fenômeno são os sinais de BAR, PAI e MARÇO. O sinal não é feito com os cinco parâmetros, mas sim com a junção das letras do alfabeto manual: B-A-R, P-A-I e M-Ç. Essas letras sinalizadas sem pausa, com velocidade contínua, dando impressão de uma letra “colar” na outra (aglutinação de letras). No início da aprendizagem, a soletração rítmica pode ser um desafio, pois exige do aprendiz destreza nos movimentos e transição das configurações de mão. Além disso, o sinalizante precisa ter o domínio do alfabeto manual. O sinal soletrado é um empréstimo de uma palavra do português e que passa a pertencer à Libras por ser expressa pelas letras do alfabeto manual com incorporação de ritmo e velocidade constante. Observe os exemplos a seguir: FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 46 3. PRATICAR: COMPOSIÇÃO NA LIBRAS Os sinais na Libras podem ser simples ou compostos, ou seja, podem ter em sua composição um ou mais sinais que jun- tos significam um item lexical. Como é possível observar nas imagens, algumas palavras são produzidas com apenas um sinal, como é o caso de IDA- DE e PENSAR. Outras palavras são compostas de dois sinais e juntos significam outra palavra. É o caso de ESCOLA, sinal que é composta pelos sinais de CASA e ESTUDAR. Ou ainda, pelas palavras IGREJA e MENINO, que são compostas pelos sinais de CASA e CRUZ, HOMEM e CRIANÇA, respectivamente. Os sinais únicos, segundo Baggio (2017), são aqueles que necessitam de duas ou mais palavras para serem traduzidos, apesar de serem produzidos por apenas um sinal. FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 47 Curiosidade: As palavras compostas em português po- dem ser sinalizadas com composições simples. Por exemplo: guarda-chuva. Palavra composta em português, mas sinal sim- ples em Libras. Segundo Baggio (2017), os substantivos na Libras não apresentam flexão de gênero. Não há desinência para marcar gênero nos sinais, morfologicamente. O gênero no substantivo é marcado com o acréscimo do sinal HOMEM/MASCULINO ou MULHER/FEMININO. Na imagem, o símbolo @ é inserido para denotar ausência de gênero. Essa marca precisa ser feita com um sinal adicional, como já mencionado. Os verbos estão divididos em três classes, de acordo com Quadros (apud BAGGIO, 2017): Verbos simples: sem variação de movimento para fazer a FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 48 Exemplos: CONVERSAR e PESSOA. Segundo Silva (2015), há várias possibilidades de combi- nações entre os parâmetros para a expressão dos sinais, porém existem também restrições, como acontece com qualquer lín- gua. Uma restrição está relacionada à simetria, ou seja, caso o sinal exija o movimento simétrico das mãos, os parâmetros das duas mãos precisam ser idênticos. Outra restrição é a domi- nância. Se o sinal exige configurações de mão diferentes,obri- gatoriamente uma das mãos precisa ser a dominante e a outra – passiva – assume o papel de mão de apoio, sem movimento. Por isso, é importante conhecer bem os parâmetros para evitar executar o sinal incorretamente. concordância. Verbos com concordância: são os verbos que possuem movimentos de concordância em relação a pessoa e número. Verbos espaciais: são os verbos que têm ação e direção e, geralmente, são icônicos. FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL FONTE: HTTPS://WWW.FADERS.RS.GOV.BR/INICIAL 49 Considerações Finais: Nesta unidade, você aprendeu sobre prosódia na Libras e a composição dos sinais de verbos, substantivos e outras clas- ses gramaticais. Conheceu alguns sinais da Libras e suas espe- cificidades em relação a sua formação. Referências: BAGGIO, Maria Auxiliadora; CASA NOVA, Maria da Graça. Libras. Curitiba: Intersaberes, 2017. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/129456/ pdf/0 44876 PEREIRA, Maria Cristina da Cunha et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publi- cacao/2658/pdf/0 47396 SILVA, Rafael Dias (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0 44878 50 UNIDADE DE APRENDIZAGEM LIBRAS E AS TECNOLOGIAS. Língua Brasileira de Sinais – Libras 6 51 Para início de Conversa: Muitas pessoas acreditam que tecnologia assistiva para surdos necessariamente envolve o digital, mas na verdade, é o termo que define todos os recursos ou serviços criados para facilitar a vida das pessoas surdas, assim como rampas de acesso nas ruas e elevadores nas estações de metrô, que au- xiliam as pessoas que se locomovem com cadeiras de rodas. Nesta unidade, você vai descobrir tudo o que precisa saber sobre a tecnologia assisti- va para surdos e pessoas com deficiência auditiva. Objetivo de Aprendizagem do Capítulo: • Desenvolver conhecimentos básicos e práticos no que se refere ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Li- bras. 52 Para os surdos, a tecnologia assistiva no dia a dia se apre- senta com resoluções simples: sinal luminoso substituindo os sonoros, despertador com vibração sem som. Outras tecnolo- gias na área da saúde são as próteses auriculares e o implante coclear. O implante coclear é um dispositivo médico eletrônico para pessoas com perda auditiva de grau severo a profundo. Ele funciona transformando sons em estímulos elétricos que são enviados diretamente ao nervo auditivo. Isso significa que ele substitui parcialmente as células danificadas da cóclea. O 1. USO DAS TECNOLOGIAS PARA A INCLUSÃO DOS SURDOS Hoje há grande diversidade de recursos tecnológicos que auxiliam na rotina de todas as pessoas, inclusive as pessoas com deficiência. Quando usamos uma ferramenta ou recurso tecnológi- co específico para uso de uma pessoa com necessidades es- peciais ou com deficiência, estamos fazendo uso de uma tec- nologia assistiva. Portanto, tecnologia assistiva é o conjunto de recursos que, de alguma maneira, contribuem para proporcio- nar às pessoas com deficiência maior independência e qualida- de de vida ou inclusão social, fazendo a potencialização de suas capacidades. Essas tecnologias podem ser modestas, como uma bengala, uma lupa ou um par de óculos, ou elaboradas, como teclados em braille, sintetizadores vocais, sistemas para reconhecer a fala do usuário e sistemas computadorizados para comunicação e controle interno de ambientes, os quais podem envolver tanto hardware como software (KLEINA, 2012). FONTE: HTTPS://RICARDOSHIMOSAKAI.COM.BR 53 implante é conhecido popularmente como ouvido biônico. A recomendação de fazer a cirurgia não é para todas as pessoas com deficiência auditiva. Apenas o médico, após avaliação e exames, vai dizer se o procedimento vale a pena ou não. O im- plante não dispensa a necessidade de terapias de reabilitação da fala e de escuta. A pessoa implantada precisará passar por terapias intensivas para aprender a “ouvir”, aprender a discrimi- nar os sons etc O aparelho auditivo é um dispositivo eletrônico com um pequeno microfone que amplifica os sons. A perda da audição afeta as pessoas por diferentes causas, por isso, a prescrição de um aparelho auditivo deve ser realizada por médico espe- cializado. Kleina (2012) afirma que, para as pessoas com deficiên- FONTE: HTTPS://RICARDOSHIMOSAKAI.COM.BR FONTE: HTTPS://IMPLANTECOCLEAR.UFES.BR/IMPLANTE-COCLEAR FONTE: HTTPS://IMPLANTECOCLEAR.UFES.BR/IMPLANTE-COCLEAR FONTE: HTTPS://IMPLANTECOCLEAR.UFES.BR/IMPLANTE-COCLEAR 54 coreografias, criado em 1966. Ela foi convidada por professores dinamarqueses para desenvolver uma escrita para a língua de sinais desse país, sistema que é capaz de ser utilizado por todas as línguas de sinais, mas seu sistema de registro para dança foi a base para a criação do SignWriting. O sistema que ela criou é utilizado até hoje por países de todo o mundo. A palavra em inglês “SignWriting” significa “Escrita de Sinais” no Brasil. Essa escrita expressa as configurações de mãos, os mo- vimentos, as expressões faciais e os pontos de articulação das línguas de sinais. cia auditiva, “o emprego da informática pode ser um excelente meio de comunicação, possibilitando conversar através de pro- grama de mensagem instantânea”. 2. A ESCRITA DE SINAIS O maior desafio para registrar as línguas sinalizadas é o fato de serem de modalidade visual espacial. Além dos sinais serem compostos de altura, largura e profundidade, possuem movimento, portanto são extremamente complexos na trans- posição para um suporte físico como o papel. A Libras pode ser registrada com desenhos, fotos, vídeos e por meio de glosas. Todas essas possibilidades foram acom- panhadas do desenvolvimento da internet e da tecnologia da informação. Para cada tipo de registro há uma aplicação. Por exem- plo, as glosas são mais utilizadas em pesquisas acadêmicas com o objetivo de descrever os sinais da língua. A escrita de sinais não se desenvolveu de maneira na- tural, foi criada a partir da necessidade de se desenvolver uma escrita. Existem vários sistemas de notação e escrita de sinais. São eles: notação mimographie, notação de Stokoe, Hamburg notation system, sistema d’sign, notação de François Neve, sis- tema de escrita das línguas de sinais (EliS) e o SignWriting. Observe o alfabeto manual em Signwriting: O sistema SignWriting é o mais utilizado no mundo. Ele foi criado pela pesquisadora e bailarina Valerie Sutton e tinha outro nome, DanceWriting. Era um sistema de anotações de FONTE: HTTPS://IMPLANTECOCLEAR.UFES.BR/IMPLANTE- COCLEAR FONTE: HTTPS://IMPLANTECOCLEAR.UFES.BR/IMPLANTE-COCLEAR 55 Como é possível observar nas imagens, existem desenhos já convencionados para as configurações de mão, direção da mão e movimento. Por exemplo, para representar a palma da mão, o símbolo é sem preenchimento. Já para o dorso da mão, o símbolo é pintado de preto. Na próxima imagem temos exemplos dos sinais e sua escrita completa pelo sistema de SignWriting. Curiosidade: A TV do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) produziu um pequeno documentário sobre a SW no Brasil, intitulado A vida em Libras – SignWriting – Escrita de Sinais, de 2017. Segundo esse programa, já são mais de 50 paí- ses que usam a SW como sistema de escrita de suas línguas de sinais. A escrita de uma língua não apenas reforça a aprendi- zagem, mas possibilita que o aprendiz se desenvolva linguisti- camente a partir das reflexões feitas para e a partir do registro No Brasil, o SignWriting foi estudado pelo grupo de pes- quisa em 1996, liderado pelo professor doutor Antônio Carlos da Rocha Costa. Como qualquer sistema de