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Leonardo Birnfeld Kurtz | 159 uma palavra como prefixos e sufixos para definir uma diversidade de sen- tidos. Quanto aos numerais, contavam em 10 e 60 (Foxgov, 2021; Halloran, 2018; Hayes, 1990; Otto, 2003; Walker, 1987). Semi-ergativa pois a língua priorizava a formação sujeito-objeto-verbo, cuja estrutura sintática focava o papel do objeto mais que o do sujeito, por exemplo, ao invés de escreverem “o rei abriu a porta”, fariam “a porta pelo rei foi aberta”. Em relação às vogais e consoantes, que eram utilizadas para formar as sílabas, se reconhecem as vogais a, e, i, u e as consoantes p, t, k, b, d, g, s, z, š, ḫ, l e r. Criando sílabas em três formas: V, VC, CV e CVC (Hayes, 1990; Otto, 2003; Walker, 1987). A seguir, alguns exemplos para demons- trar os aspectos descritos: Hayes, 19903 O processo de tradução da escrita pressupõe três ações sucessivas: transliteração, no qual se identificam os sinais an/dingir e šeš.ki; transcri- ção, no qual se atribuem valores (sentido) aos sinais an/dingir (determinativo usado antes de uma sílaba para indicar uma divindade ou aspecto divino) e šeš.ki (forma escrita do deus-lua Nana); e tradução, no qual se passa o sumério para outra língua, “deus Nana”, ou simplesmente, “Nana”. O sinal em formato de estrela an/dingir é um exemplo de deter- minativo, uma classe de palavras cujo objetivo era definir melhor o sentido do logograma seguinte. Muitos estudiosos acreditam que o determinativo 3 Importante ressaltar que as linhas de exemplo foram retiradas de Hayes, 1990, porém, os sinais foram dispostos através do site ochre.uchicago.edu, pois a resolução desses era melhor. 160 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa era escrito, mas não pronunciado (Hayes, 1990; Otto, 2003; Walker, 1987). De certa forma podemos dizer que ele tem uma função adjetiva. Outros determinativos poderiam definir o tipo de animal, material, uma cidade, uma planta, entre muitos outros. Hayes, 1990 A segunda linha, que sucede o primeiro exemplo, é transliterada como nin-an-na e transcrita como nin.an.a(k). Nin é um prefixo que atri- bui autoridade sobre algo, comumente traduzido como “senhor/senhora”. O prefixo está vinculado à an/dingir que nesse caso não é um determina- tivo, mas sim um logograma para “céu”. A(k) é a forma como se transcreve um sufixo genitivo, usualmente na/ma, que serve para indicar a posse de algo. Portanto, teríamos em sequência “Nana, o Senhor do céu” (Hayes, 1990). Um aspecto interessante é o fato de as palavras em sumério não mar- carem gênero com prefixos ou sufixos específicos, realizando diferenciações gerais entre humanos e não humanos. Porém, o gênero era atribuído através do contexto do texto e do uso de determinados termos para referenciar homens e mulheres (Hayes, 1990; Otto, 2003). Um exem- plo é nin, que inicialmente era utilizado tanto para homens quanto para mulheres, porém, gradualmente foi sendo a forma adotada para indicar mulheres, especialmente deusas. Ainda assim, o maior diferenciador era o contexto do texto. Para encerrar esses aspectos introdutórios, um exemplo da formação dos verbos em sumério: