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docente de filosofia. Itdnana Mattar Niaanian organizador Nesta obra Novas Tendências para o Ensino de Filosofia: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas busca-se consolidar os diversos modos da pesquisa filosófica em sua vinculação com a sala de aula em alguns momentos e, em outros, tendo como objeto a escola pensada por 1 meio de filósofos da própria tradição, k num movimento de adensamento que I toma possível a reflexão cada vez B mais profunda sobre o tema, H derivando-se dai novas práticas e H teorias capazes de propiciar alguma M mudança nas condições dadas B atualmente. O intuito geral do pre- B sente volume é o de fortalecer a for- B mação teórico prática do leitor diante B dos atuais desafios postos à prática I I Novas Tendências para o Ensino de Filosofia 0 contexto fle sala de aula e o âmbito das pesquisas volume 3 Ml 11 CDD 101 DISPONÍVEL no GooglePlay Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas adhoc. Bibliografia ISBN 978-85-444-1607-5 DOÍ 10.24824/978854441607.5 Sydione Santos (UEPG) Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA) Élsio José Corá (UFFS) Elizeu Clemenlino (UNEB) DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) CATALOGAÇÃO NA FONTE Conselho Editorial: Aldira Guimarães Duarte Dominguez (UNB) Andreia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Nes! Ensi de i bus- mod vinc algu corr meii nurr tom ma deri I teoi I mu | atu; I sen I mai I dos | doc Comité Científico: Andreia N. Militào (UEMS) _______ __ II VU yuUHUIiiuiw y Diosnei Centurion (Uni v Americ. de Asunción - Py) Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional Carlos Alberto Vilar Estêvão (UM1NH0 - PT) Carlos Federico Dominguez Avila (UNB) Carmen Tereza Velanga (UNIR) Celso Conti (UFSCar) Leonel Severo Rocha (UNI SINOS) Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Lourdes Helena da Silva (UFV) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNICAMP) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Paulo Romualdo Hemandes (UNICAMP) Rodrigo Pralte-Santos (UFES) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Simone Rodrigues Pinto (UNB) Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) 1Via,vç,w ............. .....-”/- •• r. Patrice Vermeren(UNIVERSITÉ - PARIS8) Richard Theisen Simanke (UFJF) Selvino António Malfatti (UNIFRAN/RS) índice para catálogo sistemático 1. Educação - filosofia 100 2017 Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/1-)/-) Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização d Todos os direitos desta edição reservados pela: Editor cd d’tora CRV Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail; sac@editoracrv.com.br Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com br Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramaçao e Capa: Editora CRV Revisão: Os Autores Novas tendências para o ensino de filosofia: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas. / Adriana Mattar Maamari (org.). - Curitiba: CRV, 200 p. (Série Novas Tendências para o Ensino de Filosofia - volume 3). Ba|xar na ApPStore ESTA OBRA TAMBÉM ENCONTRA-SE DISPONÍVEL EM FORMATO DIGITAL. CONHEÇA E BAIXE NOSSO APLICATIVO! de Três de Febrero - Argentina) Elizeu Clemenlino (UNEB) Francisco Ari de Andrade (UFC) ------ . Helder Buenos Aires de Carvalho (UFPI) Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Sonia Maria Ferreira Kochler (UNISAL) Três de Febrero - Argentina) l|ma Passos A. Veiga (UNICEUB) Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) foês Bragança (UERJ) Élsio José Corá (UFFS) José de Ribamar Sousa Pereira (UCB) Elizeu Clemenlino (UNEB) Lourdes Helena da Silva (UFV) Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira (UNIVASF) Gloria Farinas León (Universidade Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNICAMP) de La Havana - Cuba) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Guillermo Arias Beatón (Universidade Monica Pereira dos Santos (UFRJ) de La Havana - Cuba) Najela Tavares Ujiie (UTFPR) Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ) João Adalberto Campato Júnior (UNESP) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Josania Portela (UFPI) Vera Lucia Gaspar (UDESC) Adilson Xavier da Silva (UFRJ) Claudia Pereira do Carmo Murta (UFES) Daniel Ornar Perez (UNICAMP) Élsio José Corá (UFFS) Francisco Verardi Bocca (PUCPR) Jorge Augusto da Silva Santos (Bento Silva Santos) (UFES) José Eudimar Xavier de Menezes (UCSAL) Josiane Cristina Bocchi (UNESP) Marcelo Martins Barreira (UFES) 1. Filosofia 2. Ensino de filosofia 3. Currículo de filosofia. 4. Educação I. Maamari, Adriana Mattar (Org.). II. Título III. Série. SUMÁRIO PREFÁCIO 9 11 .45 73 99 119 137 157 iWi A PRÁTICA DA PESQUISA NO ENSINO DE FILOSOFIA Antônio Joaquim Severino FILOSOFIA E OUTROS SABERES: atos, hábitos, intelecto e vontade...................................................... Juvenal Savian Filho HISTÓRIA, TEMAS E PROBLEMAS DA FILOSOFIA EM SALA DE AULA......................................................... Roberto Bolzani Filho FILOSOFIA NA SALA DE AULA Maria Lucia de Arruda Aranha A FILOSOFIA E O SEU ENSINO NA PERSPECTIVA DA MODERNIDADE E DA LAICIDADE........................ Adriana Mattar Maamari OPINION VERSUS INSTRUCTION PUBLIQUE À L’ÂGE RÉVOLUTIONNAIRE.............................................................. Bertrand Binoche UNE APPROCHE PAR COMPETENCES EN PHILOSOPHIE?................................................. Michel Tozzi Nesta Ensine de au busca modo; vineul algun: como meio numi toma mais deriv teoria mud atual sentt maçi dos doce 2 HISTÓRIA, TEMAS E PROBLEMAS DA FILOSOFIA EM SALA DE AULA “A história da filosofia, corretamente feita, é uma ati vidade importante em si mesma e também importante para a formação de filósofos. Contudo, não é possível fazer boa história da filosofia sem dominar a filoso fia. A ideia de que a história da filosofia seria como que uma propedêutica da filosofia não tem em conta a dialética enriquecedora entre a filosofia e a história da filosofia: uma boa formação filosófica enriquece a história da filosofia e uma boa formação em história da filosofia enriquece a filosofia” (MURCHO, 2010). Roberto Bolzani Filho Professor do Departamento de Filosofia da USP2 "Aprender filosofia será, ao fim e ao cabo, contem plar diferentes possibilidades de sentido e escolher, num certo ponto, a 'pintura do mundo ’ que faz sentido para nós. Isto não é possível sem um conhecimento amplo da história, mas também não é possível sem a pergunta fundamental sobre a verdade, o bem e o belo. Filosofar será, então, habitar um outro tipo de mundo sobre o qual se refletiu e que, em certa extensão, foi escolhido. Aqui se mostra tanto a dívida quanto a au tonomia do ens ino da filosofia em relação à tradição, e é esta a relação responsável e criativa com a história que o ensino da filosofia deveria buscar” (BIRCH AL, 2010, p. 80). Roberto Bolzani Filho possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1985), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1992), doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2003) e Livre-docência pela mesma Universidade (2013). Atualmente é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Tem ex periência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: Filosofia Antiga, Platão, Aristóteles e ceticismo. í di mi 1 P s vari ias; dar almi nte\ ação >s aU acent 46 47 3 NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 l lè di ah ite »çã s a )cer Antes de mais nada, há que formular uma distinção bá sica sobre dois sentidos da expressão “história da filosofia”3. De um lado, por “história da filosofia” podemos entender um longo processo, que já dura aproximadamente dois mil e qui nhentos anos, no qual um grande número de filósofos pro puseram as mais diferentesteorias sobre os mais diferentes temas que, em suas épocas, foram considerados filosóficos. Nesse sentido, a história da filosofia começa com os gregos e se define, em princípio, como sucessão das filosofias histori camente desenvolvidas. De outro lado, por “história da filoso fia” entendemos uma disciplina relativamente recente, na qual estudamos, das mais variadas maneiras e com metodologias diversas, os filósofos do passado. Neste sentido, a história da filosofia adquire vigor no século XIX e é uma atividade basi camente acadêmica. A história da filosofia é então caracteri- zada por certos tipos de investigação, bastante específicos e complexos, nos quais se tomam certas filosofias como objeto de estudo, para sua interpretação e elucidação. E é neste se gundo sentido, evidentemente, que “fazer história da filosofia” se separa profundamente de “fazer filosofia”. E, de fato, a his tória da filosofia, entendida como uma disciplina acadêmica e universitária de estudo, análise e interpretação das diversas filosofias, pode e deve ser descrita em termos que mostram suas evidentes diferenças em relação à filosofia, entendida esta como uma atividade ou processo de criação e produção de pensamento. Essas diferenças se percebem já nas perguntas que se põem filósofos e historiadores da filosofia, pois tais perguntas são diferentes. O filósofo se pergunta, por exemplo: “o que é uma substância”? Ou: “o que é a causalidade”? Essas são per guntas especiais, que exigem uma reflexão propriamente filosó fica, para que se obtenha uma resposta. As respostas dadas pe los filósofos têm sido, como se sabe, variadas e frequentemente A respeito deste tema, alguns parágrafos a seguir retomam, reformulam ou desenvolvem análi- A filosofia vem se mostrando, ao longo dos séculos, uma forma de reflexão e investigação na qual o olhar para sua história tem sido, mais ou menos intensamente, um ato ele mesmo filosófico, uma parte constitutiva dessa mesma refle xão e investigação. Por isso, pensar sobre as relações entre a filosofia e sua história consiste, nos dias atuais, em tarefa de especial relevância, pois assistimos hoje, em boa parte dos cursos de filosofia de nossas Universidades, a um fenômeno que, de tão costumeiro para nós, corre o risco de nos parecer desprovido de maior importância: trata-se de uma espécie de acordo tácito, admitido não só em nossos solitários gabinetes de pesquisa, mas também, e sobretudo, em nossas salas de aula, que reconhece uma natural separação entre filosofia e história da filosofia, como duas atividades, mais do que dis- autónomas. Temos sido levados a dissociar o estudo c^n77Sa' ftl°SOfiaS’ como um aprendizado e exercício de te dita^Para n^ meSmas’ da refle*ào filosófica propriamen- pois, como sab°emosniPreenSà° e reflexào nao se misturam’ dizer quando, na tenentendernos mal o que um filósofo quer nossas próprias ideia1de comPreendê-lo, intrometemos teste surgiu outra, mas ^°nv^cções- Ora, desta verdade incon- estamos então diante de^ a^enas aparente, que sustenta que como duas retas paralela^ atividades condenadas a serem T^^^fia^^eenX ??nca encontram: ou “faze- filosnfir aV' ° tenAa das relacõ fazemos história da filosofia”- entre ^amba^Pretenc^e fi^ofia e história da não precisam ío* diferen<?as existentes a não ser que assim o h SW d ^ue ta^s diferenças des^mos. de são incompatíveis, Considerações gerais: a relação visceral entre a filosofia e sua história 48 49 NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 a ã ia ilnr te Çãc s al cen exemplos dados, antes de tudo, o historiador deve recorrer aos textos de Aristóteles e Leibniz, ou os de Hume e Kant, para lê-los e interpretá-los. Os textos do filósofo estudado são indispensáveis para responder à pergunta posta, são eles que servem de referência e neles, a princípio, espera o historiador encontrar a resposta desejada, mesmo que esta nem sempre se localize facilmente na superfície desses textos e contenha obscuridades ou ambiguidades suficientes para produzir inter pretações diferentes. Já para a reflexão filosófica, nenhum texto adquire im portância particular, exceto na medida em que serve de oca sião ou estímulo para uma busca própria da verdade. Se uma filosofia se concebe como um projeto de construção de um discurso verdadeiro, ela poderá, talvez, ver no conhecimento do passado filosófico, das tentativas que julga incompletas ou equivocadas de apreender essa mesma verdade, uma espécie de meio, de ambiente conceituai onde se dará sua prepara ção para a descoberta e apresentação de tal verdade, ou uma ocasião para a melhor formulação de suas questões, sem que, no entanto, o filósofo veja nesses textos seu objeto de inves tigação e análise, sem que os considere o lugar onde deverá procurar e encontrar essa verdade. Assim, do ponto de vista do filósofo, um texto filosófi co qualquer não é uma autoridade para o estabelecimento de uma tese filosófica. Mas, do ponto de vista do historiador da Filosofia, o mesmo texto é uma autoridade indispensável para comprovar, refutar ou tomar convincente uma hipótese inter- pretativa a respeito da filosofia que esse mesmo texto veicu la. E a razão para essa função distinta dos textos filosóficos está no fato de que a pergunta do filósofo versa sobre temas filosóficos, que não se esgotam num texto e que, afinal, têm por objeto o mundo, os fatos, o próprio homem, enquanto a pergunta do historiador se dirige especificamente aos textos estudados, isto é, àquilo que os filósofos disseram oficialmen te para explicar o mundo, fatos e o próprio homem. De tudo conflitantes: uma substância é algo que existe ou pode existir por si mesmo, ou algo que é concebido ou pode ser concebi do por si mesmo; há uma única substância, que é Deus; hâ duas substâncias, as mentes e a matéria, ou há três tipos de substância: Deus, as mentes e a matéria; uma substância é um composto de forma e matéria; só há matéria, como substância extensa; só há substâncias mentais e suas ideias... Igualmente, fonnularam-se distintas teorias causais: há quatro causas (for mal, material, eficiente e final); há duas causas (formal e mate rial ou eficiente e final); ou há somente uma causa (eficiente), a causa tem uma conexão necessária com seu efeito; ou a relação de causalidade se reduz às conjunções constantes... Os historiadores da Filosofia levantam questões diferen tes. Eles não se perguntam: “o que é substância?”, mas sim. “o que é substância para Aristóteles?” ou “o que é substân cia para Leibniz?” E não se perguntam: “o que é a causalida, de? , mas sim: “qual é a concepção humana da causalidade, ou qual é a concepção kantiana de causalidade? . Trata-se de perguntas sobre o contextos, pensaram Para o historiadr.; „u, ramente é substância' ISSO que determinados filósofos, em certos sobre uma questão que se propuseram. L não se trata de descobrir o que verdadei- isso Aristóteles, EeibmaS S'm sa^er o que disseram sobre conceitos de substân^2 e outros filósofos, quais eram seus deram ou souberam def COmo a definiam, de que modo pu de aPresentarumarespo?tdê'los’.tan'lbém não o move a tarefa e outros mde’ mas sitn exnrdnÍt'Va à indagaÇao sobre o que argumentos°qul°empbte a de HUme’ Para essas pereJe^raiT'para c C CaUSaS e efelt°S’ ° te histórico, há taS>SSeresPostasnd trUÍrem SUaS P0SÍÇÕeS' tos, o que tem gerado Vaned 6 Carater essencialmen- adequação. Apesar disso^*"16 de métodos propos- lógicos básicos dos hist’o^ntudo, os sobre sua eficácia e de quaisquer métodos de da ?.°Ced>mentos método- distintos a- ^ra retomar os 50 51 que significa esse ao mesmo tempo NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 filósofo e historiador da filosofia. Retomemos então aquelas diferenças significativas entre filosofia e história da filosofia, sobretudo no que diz respeito às diferentesperguntas feitas pelo filósofo e pelo historiador. Se, por um lado, essas diferen ças servem ao estabelecimento da tese de que o filósofo pode dispensar a história da filosofia, de que o conhecimento a res peito de uma filosofia do passado não é necessário para urna tentativa de investigação filosófica própria e autónoma, por outro lado, elas poderiam também, se compreendidas de outro modo, legitimar a tese de que o filósofo encontra nas filosofias passadas material filosófico relevante, a partir do qual desen volveria sua reflexão. Nesse caso, pode-se dizer que, embora seja verdade que a história da filosofia não é indispensável para a filosofia, a reflexão do filósofo, contudo, ganhará em consistência, profundidade e precisão, se souber retirar dessas filosofias passadas subsídios para sua própria elaboração. Retomemos nossos exemplos. Quando um filósofo con temporâneo se pergunta “o que é substância?” ou “o que é causalidade?”, para propor uma resposta, para encontrar a for ma que lhe parece verdadeira ou mais adequada de fazê-lo, talvez lhe seja útil saber o que é substância para Aristóteles e Leibniz, ou o que é causalidade para Hume e Kant, pois estes, ainda que muito distantes no tempo, apresentam respos tas instigantes às questões investigadas, respostas que influen ciaram reflexões posteriores. Será importante, portanto, que esse filósofo compreenda com o máximo de exatidão possível - pensando, então, também como historiador da filosofia - o que eles pensaram sobre esses temas, para então, tomando- -os como um ponto de referência, ou afastar-se deles, ou re considerar positivamente suas opiniões. Essa atitude pode até mesmo auxiliar o filósofo a melhor compreender o sentido de uma questão, antes de tentar respondê-la, pois logo descobri rá, ao estudar as filosofias passadas, que a própria pergunta é portadora de diferentes significados e intenções. E se eventu almente propuser uma resposta, ela estará inscrita numa linha isso se pode concluir que um filósofo, para sê-lo, pode, se qui ser dispensar-se de conhecimentos de historia da filosofia. E parece também permitir a conclusão de que um historiador da filosofia, para sê-lo, não precisa ser filósofo. Essas diferenças tomam muitas vezes correta a asserção, tão comum nos meios acadêmicos, de que os filósofos, quan do se dispõem a comentar as filosofias de seus antecessores, o fazem mal, o fazem como maus historiadores da filosofia. Costuma-se dizer então que, movidos por suas próprias con vicções e interesses filosóficos, eles estão condenados a co meter o equívoco de introduzir sua reflexão própria ao tentar compreender as outras filosofias. Ora, dessa constatação po e seguir-se, para pensar o tema das relações entre filosofia e his tória da filosofia, um perigoso dilema: se os filósofos não po dem ser bons historiadores da filosofia, em virtude de serem filósofos, então bons historiadores da filosofia não poderão ser filósofos. E, assim, ou se é filósofo, ou historiador da filoso a. No entanto, trata-se aí de um falso dilema, poique nos esquecemos de que filósofos e historiadores da filosofia fazem diferentes perguntas a respeito de diferentes temas, e que não se deve, portanto, comparar suas atividades, como se estives sem em conflito. A. atividade de compreensão a respeito da reflexão de um filósofo não se confunde e não rivaliza com a que defendem umaT é tão simPles‘ De fat°’ aqUÊ toriador da filosofia não* ra(bcal entre o filósofo e o his toriador da filosofia não* necessariamente que um his- podem querer dizer, na verd^ também um filósofo. EleS ao mesmo tempo. E essa n qUe nao é possível ser ambos sofisticada, conduz a num’V.?Or®uMo do problema, mais patamar de reflexão. °Vo’ mais profundo e interessante Tentemos então COrn desdobramento da ques^®^ melhOr 0 na°SePodeSer ! 52 53 3 /( U ite NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 dessa história, ou ao menos como um novo início. O conflito das filosofias moveu muitos filósofos a conceber suas filoso fias como uma descoberta da verdade que é ao mesmo tempo a solução desse conflito; e esse conflito, sendo histórico, im plica a consciência histórica da reflexão filosófica. Assim, a história da filosofia nos mostra que a filosofia tem, com sua história, relação filosófica. A incursão histórica do filósofo não é primordial mente histórica, mas sim filosófi ca, porque a história da filosofia, antes de ser disciplina filo sófica, é objeto filosófico, ela mesma é tema de reflexão filo sófica, antes de ser objeto de compreensão histórica. Vejamos então que consequências se podem extrair dessa relação vis ceral entre filosofia e história da filosofia, para o entendimen to de algumas características da Filosofia. Pode-se, por exemplo, pensar o tema da possível distin ção entre o que está “morto” e o que está “vivo” na filosofia4. Há certamente textos que propõem perguntas que não nos di zem mais respeito, enquanto outros permanecem dizendo-nos algo de significativo, independente da época de sua elaboração. Desse ponto de vista, não é tão relevante saber quando um texto foi escrito ou publicado, o importante é saber se suas perguntas são também nossas. Se forem, será um texto “vivo” para a refle xão filosófica; se não forem, o texto será talvez apenas objeto de um estudo histórico. Em geral, grandes textos filosóficos tratam de questões que permaneceram instigantes para nós e, nesse sentido, ainda são atuais; textos menos importantes podem sua relevância filosófica, ainda que não a histórica. Há, seguramente, alguma verdade nessa proposta, pois nem todos os textos do passado nos tocam da mesma manei ra. Contudo, certas dificuldades são manifestas. Em primeiro lugar, um texto “morto” pode voltar a ser “vivo” e, portanto, a distinção é relativa. Nada impede que uma filosofia, propondo a revalorização ou reformulação de uma questão esquecida ou mal compreendida, torne “atuais” certas afirmações, até então 4 Sobre estetemãfcf Smith e Bdzam 2010, p. 355-357 de pensamento que remonta a um passado mais ou menos dis tante. Estará devidamente localizada num terreno que já esta' va preparado pelos seus antecessores e que, provavelmente é conhecido por seus interlocutores, por aqueles que ele procura convencer em favor da tese que propõe como resposta. Nesse sentido, a história da filosofia, mais do que ocasião e estímulo para o filósofo, mostra-se possuidora de uma espécie de po tencial filosófico infinito, cuja atualização dependerá sempre do filósofo que sobre ela se debruça e nela procura elementos para sua reflexão. Evidentemente, tudo isso significa que a leitura de um texto filosófico por um filósofo também pode ser uma leitura de compreensão, mas de uma compreensão que imediatamen te prepara uma reflexão. Nesse sentido, é correto, mas apenas trivialmente correto, afirmar que não se é filósofo e historiador da filosofia simultaneamente. Porque o filósofo sempre pode empreender uma leitura das obras de seus pares que sabe, por sim dizer, administrar a relação entre compreensão e refle- ’ iss^'Um C0n^ec^ment0 fid dessas obras, na medida em dios ià ffl6 P,°?sível’ e um aproveitamento próprio dos subsí- Por ^ss C°S qUe eSSe con^ec’rnento proporciona. ma mencionai PJec'S0 °^ar com cuidado para o fato aci- inquestíonávei0^ 'storicarnente inegável, mas nem por isso lósofos pelo pon^ t0^° ^soío interpreta os outros fi- pando ou os comnr e V'Sta sua filosofia, assim os detur- das diferentes fnOso^n^en^° mal. Com o acúmulo histórico TXC1C'° pens&ment a h*storicidade da filosofia enquanto flexão mosófi8eraçôes de mlgoafnhando visibilidade junt0 às de algumas fií* Va'até mesmo °S’ e ° caráter histórico da re- de Aue a aspi^. Os filósof "C°ntrando seu lugar no seio menos um fioTo^a * Verdade°i°S deS(^e ce^° se deram conta mente-D filósofa c°r os ataVeSt^ada por eles criava ao e às vezes chega ^aassin, ^unia,ainda que tenua- 0 a c°nceber 2 ^arte uma históri3» ------------------------------ SUa filosofia como o fim 54 55 um Os i * v 3 itll ite NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA. o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 ciências aspiraram alcançar, descobrindo as verdades últimas das coisas, verdades que podem então ser objeto de sistemati zação completa. Desde o ideal de uma verdade absoluta, que já se encontra nas filosofias de Platão e Aristóteles e permane ce presente ao longo da filosofia moderna, os filósofos procu raram, com suas filosofias, satisfazer a exigências característi- cas de uma ciência. Semelhante concepção de filosofia parece levar, como que naturalmente, à ideia de que a história da filosofia, enten dida como sucessão no tempo das diversas filosofias, exibe, não somente acumulação quantitativa, como também progres so qualitativo. Talvez uma primeira versão dessa posição, ain da embrionária, se apresente em Aristóteles, que se volta para o estudo dos princípios da natureza, em sua Física, partindo de uma análise dos filósofos anteriores e concluindo que eles, “embora o estabeleçam sem explicação, enunciam como con trários os elementos e os por eles denominados princípios - como que constrangidos pela própria verdade” (Aristóteles, 2009, I, 5). A história das filosofias anteriores, para esse fi lósofo, é, portanto, uma história da própria verdade, verdade essa que se deixa entrever nas afirmações ainda hesitantes e apenas parcialmente corretas de seus antecessores. E ainda, no primeiro livro de sua Metafísica, percebe-se que a própria his tória da filosofia auxilia a estabelecer a verdade de uma dou trina, pois ao enunciar sua célebre teoria das quatro causas, Aristóteles imediatamente acrescenta: “Estudamos adequa damente essas causas na Física-, todavia, devemos examinar também os que antes de nós enfrentaram o estudo dos seres e filosofaram sobre a realidade. É claro que também eles falam de certos princípios e de certas causas. Para a presente inves tigação certamente será vantajoso referir-se a eles. Com efei to, ou encontraremos outro gênero de causa ou ganharemos convicção mais sólida nas causas das quais agora falamos” (Aristóteles, 2002,1, 3). Note-se a importância dessa incursão histórica do filosofo, pois o mínimo que se pode dizer é que consideradas meramente “históricas”, revelando nelas sentido ou significado até então ignorado. Podemos encon trar uma formulação mais precisa da explicação precedente afirmando que um texto é filosófico, portanto “vivo”, quando pertence à rede de discussões filosóficas atuais, quando é rele vante para nossos debates, e é de interesse apenas histórico e, nesse sentido, “morto”, quando deixou de ser uma referência importante ou necessária a esses debates. Embora interessante e até correta, tal ideia, no entanto, não nos deve fazer perder de vista que a oposição entre “filo sófico” e “histórico”, bem como a correspondente distinção entre o que está “vivo” e o que está “morto” arrisca-se a obs curecer um sentido mais profundo da relação entre a filosofia e sua história, segundo o qual não haverá oposição entre “fi losófico e histórico”. Mostra-o o simples fato de que, como oi observado, aquela rede de discussões possa sofrer modi- cações, dando-se nova vida àquilo que parecia perdido na lra dos tempos, conferindo-se a uma filosofia, a um modo mentadí aparentemente “superado”, novo fôlego, agora ali- maneira coV- Capacidade da reflexão atual de retomá-la de consistente. netramos já em ° ^ar de “suPeraÇões” e “recuperações”, pe' filosofia e suahisftr° tema Car° a redexão filosófica sobre a mediante uma na’ P°de ser esclarecido e comentado outras formas de nen^^ do Pensamento filosófico com duas osofiatemcaracte J^onto: a ciência e a arte. De fato, a fr a relacãleUCla’ Se^a permitem sua aproximação seja na maneirTco f''QsoíX ciênc'' A maneira como concebemos lação entre a C°nsecluCnte' ° arte’ tem grande influência brevemente, 2"°fia * sUa ^ente’ compreenderemos a re- A fiiosofia S/Uas c°ttipa,Sa°?a' Exploremos, ainda que cunho eientífico ^ten^J0^- truturado de conh^Wo ma&deU'se um saber de _ nt0s> como O°SU nien°s articulado e es- ^Ue P°r muito tempo as 56 57 NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 r - ic at ínl i tema da relação entre filosofia e história da filosofia? Do ponto de vista de uma concepção estritamente científica de filoso fia, um filósofo pode ver no passado filosófico os esboços de uma verdade que os outros filósofos afirmaram encontrar, mas que apenas conseguiram entrever (é o caso de Aristóteles), ou, então, pode encontrar uma forma de assimilar esse passado e harmonizá-lo com sua doutrina ou sistema, que se torna então a expressão plena de toda essa história (é o caso de Hegel). Parece, assim, que uma concepção essencialmente científica da filosofia e do discurso filosófico tende a veicular uma ideia de progresso na história da filosofia. Há uma presença ine gável, em filosofia, de características tipicamente científicas, como a busca da verdade, a formulação de explicações para o mundo e a procura por um conjunto de verdades que formem um todo coerente e sistemático. A elas parece associar-se uma visão de sua história como portadora de uma evolução ou pro gresso racionais. Embora exiba características próprias das ciências, a fi losofia, contudo, não deixa de manter-se original, no que diz respeito à relação com sua história. Assim, a história da ciên cia pode ser considerada com certa tranquilidade, pelo menos para parte considerável das epistemologias existentes, como algo que não mais proporciona subsídios para a reflexão e pesquisa científicas atuais. O cientista, por seu turno, sente- -se à vontade para considerar certas teorias passadas como “superadas” por um conjunto de descobertas das quais ele não pode considerar-se “criador”: a experiência científica, em boa medida compartilhada, não o permite. Há, portanto, neste contexto, certa objetividade que caracteriza a prática científi ca, embora isso não elimine a possibilidade de que o cientista também procure conceber sua tarefa como uma retomada da tradição, na busca de solução para seus problemas. Em filoso fia, contudo, sua história se distingue como fonte de proble mas teses e argumentos que ainda podem ser submetidos à re flexão contemporânea. O vínculo da filosofia com sua história ela lhe proporciona uma confirmação da verdade que afirma. E Aristóteles, ao menos em princípio, chega a admitir a pos sibilidade de que essa história lhe mostre uma verdade que não havia descoberto. Seja como for, a confiança do filósofo na descoberta de uma verdade exclusiva o leva a fazer uma espécie de leitura filosófica do passado, leitura que o auxilia a tomar sua proposta filosófica mais consistente. Em certo sentido, portanto, já se percebe nessa visão oti mista da história, resultante da confiança inabalável na des coberta da verdade, um embrião da ideia de progresso. Essa ideia, contudo, provavelmente tem em Hegel seu maior e mais original defensor, visto que, para este filósofo, a relação en tre filosofia e história da filosofia, como ocorre com a própria ideia de história, só é compreensível no seio de sua metafísi ca. Sendo a História o próprio desenvolvimento do Espírito, a “Biografia do Espírito do Mundo” regida pelas leis da Razão imanentes ao Mundo, a Filosofia, como saber e ciência rigoro sos - não, contudo, à maneira das ciências em geral -, deverá aprender a reconhecer a presença de tais leis na História, isto ca ,^niversal em seu desenvolvimento. Isso signifi- ta de tal desenXTm F’losofia só se compreende em vis- da Filosofia também S1Stemático’ 0 1ue torna a Histona concepção, as filosofi™" s’stema em desenvolvimento. Nesta tas” ou “erradas”-. são?^3^5 nao são- a bem dizer’ *'Cer' cretizar o conteúdo em distintas deapresentar e con- processo dialético que a?®'ess° sucessivo da Ideia, de um necessários. Assim, a História"? ?da Uma- seus momentos cesswo progredir, necessàrio^ Hlosofia consiste num su- filosofia é constitutiva do si? P°de'se diz?” 3 C°nStl,tUIÇf)a Em que semelhantes ap^J ft'°sófiCo r ^Ue a h^toria d cia nos ajudam a compree?°^çòes e ticas familiares trazem alm.^ n°sso e «losofia e ciem Suas caracterís- la a Propósito do 58 59 l r s ar m» a \ ão ati ent NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 e “melhor”. Quando assim entendida, a filosofia assume, em primeiro plano, papel sobretudo crítico, no seio de um con junto de saberes a que se reúne e não procura desqualificar ou subordinar. Dessa perspectiva, dificilmente poderíamos falar num progresso da filosofia, se nào a considerássemos legíti ma pretendente à descoberta da verdade, assim como não se diria necessariamente que um movimento artístico é melhor ou constitui um progresso em relação a outro, sem para isso reivindicar uma rigorosa e polêmica concepção estética da produção artística. A ideia de progresso certamente não se aplica da mes ma maneira quando deixamos de pensar a filosofia como urna espécie de ciência e passamos a privilegiar as características que comunga com a arte. Neste caso, pode-se falar de mudan ça e até mesmo de “evolução” nos padrões e procedimentos estéticos, assim como se pode falar de “evolução” e mudança nos padrões e procedimentos que balizam a descrição do mun do, isto é, de “evolução” e mudança nos limites entre o que tem sentido e o que não tem sentido dizer sobre o mundo. Se comparamos os produtos da filosofia com os da arte, vendo-os como diferentes formas de descrição do real, que não compe tem entre si, mas apenas são distintas, então não mais caberá ver, ao longo de sua história, aquisição de conhecimentos e estabelecimento de verdades objetivamente reconhecidas e compartilhadas, mas somente sucessão de diferentes formas de pensar o real, cada uma das quais pertinente à sua época. Duas teorias científicas podem rivalizar entre si e exigir de nós a realização de um experimento para decidirmos por uma delas, do mesmo modo que duas teorias filosóficas, se as entendermos como teorias científicas, poderão rivalizar e exigir critérios e argumentos para que possamos aderir a uma e rejeitar a outra. Mas duas formas artísticas, mesmo quan do se apresentam em confronto, não precisam ser vistas por nós como rivais nem como se excluindo mutuamente. Não é necessário, nesse caso, optar por nenhuma delas, ainda que é, certamente, muito mais rico e profundo do que o da ciênci com sua história. Por sua vez, as relações da filosofia com a arte, assim como ocorre com o caso da ciência, não são simples. De um lado, nào raro, a própria arte se faz filosófica: as várias mani festações artísticas, de diferentes formas e segundo distintas intenções, envolvem, ou podem envolver, uma postura refle xiva sobre o mundo ou sobre os homens, portando, por isso, certa dimensão filosófica. Muitas obras literárias, pictóricas ou musicais podem nos levar a uma atitude de questionamento e reflexão, ao tomarem como tema, por exemplo, a condição humana. E verdade, no entanto, que a intenção do autor de um romance, conto, pintura ou outro produto artístico dessa natureza nào é comunicar a seu público uma tese e argumentar em favor dela, o que distingue nitidamente seu produto dos escritos de filosofia. O escritor, por exemplo, visa também - ^o^T VeZeS’ ta^vez exclusivamente - exercitar uma concep- tamW aVte' UTUa °PÇà° estética, e mesmo quando pretende meio de urTT^ Uma V^s^° s°bre as coisas, ele o faz por tos filosóficosTma exPressao distinta da maioria dos tex- quando levamoT 'C'°n^S ^em^ora haja maior aproximação nào elimina o evTt C°nta °S filosóficos). Mas isso arte pode exibir P°^encial filosófico que uma obra de Mas há interess entre filosofia e arte npeS ,mane'ras de pensar a semelhança en os'çào ^jofitári?1 historicamente essa não seja rigoroso,X5^^’ÍOSÍi?âO íFeCÍSa Ser entefdo compreendê-la conies^elhanç® ’tlV0 d° rea1’ em Se" d realidade, por teWiva de " C,encia- Pode-se também numa cultura. Nesse n°Ções h‘ .a de aProximação da das e notadas pelafi^550’ muda°nCamente estabelecidas forma de repreSentaç^Sofia cOrre ’lças conceituais produzi- conhecimem0“SUpera[iJteaUdadi nderiam a mudanças na p0rurn con^°Su'3stituições de um c'mento “atualizado" 60 61 dirigem à realidade 1 filosofia, pautada por -- certa forma julgou li M NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 ar as iar ilmi te \ ção > ati cent ser perseguida e um mérito a ser conquistado; não, contudo, por alguma convicção estética, mas porque a descoberta de uma verdade absolutamente incontestável se associa natural mente à ideia de que tal verdade se deixa apresentar de ma neira sistemática, harmónica e unificada. Se um sistema filo sófico não pode ser considerado uma obra de arte, para certos filósofos seria possível, no entanto, compreender e comentar seu caráter intrinsecamente orgânico, mediante um vocabulá rio caro à reflexão estética, autorizado pela observação de uma real semelhança entre arte e filosofia. Não é por outra razão que, com frequência, somos capazes de apreciar a beleza de uma filosofia. Pode-se então considerar que o discurso filosófico exibe, ao mesmo tempo, algumas características afins com a ciên cia e outras que o aproximariam da arte, como as que foram acima comentadas. Nesse caso, seria razoável concluir que a filosofia, comparada à ciência e à arte, deve ser considerada como um terceiro tipo de discurso sobre as coisas, que detém autonomia em relação aos outros dois, embora neles veja um importante ponto de referência para pensar suas próprias ca racterísticas. E entre essas características, destaca-se a pecu liar relação que sustenta com sua história5. Tendo em vista a peculiaridade da filosofia, que acima se buscou comentar, sobretudo no que tange às suas originais relações com sua história, algumas considerações podem ser feitas a respeito da leitura dos textos filosóficos. A leitura filosófica, aquela que um filósofo faz da obra de outro filósofo, sempre contém matéria para o olhar do histo riador da filosofia, pois este, voltado para a compreensão do pensamento de um filósofo, deve saber beneficiar-se também do diálogo crítico que os filósofos sustentam com seu passado. Isso porque uma filosofia pode tornar-se algo que escapa a seu criador, uma ideia pode ser desviada do contexto de sua in venção e do sentido ou significado iniciais que havia recebido. 5 Sobre o tema das relações entre filosofia, ciência e arte, retomaram-se partes de Smith e Bolzani, 2010, p. 365-371 isso também seja possível. De maneira análoga, se duas fil0 sofias somente descrevem e articulam conceitos por meio do' quais pensamos a realidade, mas não se dirigem à realidade como uma teoria científica, então não há por que pensar que devemos escolher obrigatoriamente uma delas como melhor ou mais verdadeira que a outra. A história da filosofia seria então, desse ponto de vista, uma sucessão de formas de pensar o mundo, mas não o pro gresso em direção a um conjunto articulado de verdades que descreveriam a realidade de uma vez por todas. A tarefa do historiador da filosofia, nesse caso, consistiria em descreveras difeientes formas pelas quais os filósofos pretenderam dizer o mundo, traçando os limites, de acordo com cada época ou vertente filosófica, entre o que tem sentido e o que não tem sentido dizer. O que dizer da relação da arte com sua história? O artista tom? P?e refietÍr de f0rma livre a aspeito do passado e re- artista^pode^0 pro^cuo’ como acontece com a filosofia. Um quem sabeVnaf deva pensar sua arte como um momento, para um estado d C <evo^utiva”’ como uma solução muitas vezes,j? C°’sas ern sua arte. O mesmo faz o filósofo, essa história, de ?Udo"se inclusive no direito de reconstruir raro, o filósofo par? eSSa dn^a de modo peculiar. Mas, não posição é privilepi? 17 alérn do artista, por pensar que sua otada de certa objetiviaU7erdadeira’ sendo por isso mesmo Pre a2ém 6 °U Universalidade nem sem- filosofia e arteSn?°de fazer outro r um ide» d, mu.to “P» * aproximação entre puder apre,™"; poderiam aproxi^á 1°^ Unidade ’ de certa fonna julgou arte, aquela que vè n*’ ^di?^161110 formais que valor estético signiftCa^ ideal a’ de certa concepção de to tempo, a filosofi* mes dade * beleza formal um v*u nesse iu dv°' ^urante mui- eal Urna qualidade a 62 63 I ir s ai m e \ ão ati ent NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 da filosofia como o historiador da filosofia o é. O filósofo ana lisa outra filosofia, não para explicá-la, mas para pensar filo soficamente a partir dela. O historiador da filosofia pensa filo soficamente uma filosofia, não para pensar a partir dela, mas para explicá-la. Ambos, contudo, de distintos pontos de vista e conforme prioridades diversas, aliam compreensão e reflexão. Essa aliança, talvez seja preciso sempre recordá-la, sobretudo aos historiadores da filosofia. Em ambos os casos, a leitura de um filósofo consiste num contínuo diálogo, sem data definida para terminar, no qual aprendemos a segui-lo até mesmo em seus desvios e hesita ções, a ponto de saber prever objeções mesmo antes que se manifestem, seja no interior da própria obra, seja na obra de seus críticos, ou bem para melhor compreendê-lo, ou bem para aprender com ele a pensar. Ler a obra de um filósofo é aceitar participar de uma espécie de duelo, em que ganhamos de qual quer modo, porque aprendemos a pensar. Pois nisso consiste o ato mesmo de ler, que não seria possível senão como um exer cício de pensamento ao mesmo tempo polêmico e amistoso. Por isso, filósofos ou historiadores, compreendemos me lhor um autor quando o relemos, porque então será menor o risco de ler nele somente aquilo que ali colocamos. Relê-lo significa vagarosamente entregar-se ao seu pensamento e so mente depois de certo tempo propor-se a discuti-lo; significa confiar provisoriamente nele, para objetar-lhe apenas após jul gar tê-lo bem compreendido e, então, fazer-lhe todas as per guntas que nos importam e observar como ele as responde ou poderia ter respondido. Ora, embora possamos encontrar nes sa descrição as figuras do filósofo e do historiador da filoso fia, isso não parece ser suficiente para distingui-los, por assim dizer, essencialmente. Nesse sentido, é peifeitamente possível ser ao mesmo tempo filosofo e historiador da filosofia, e isso porque existe, desde que saibamos enxergá-la, uma profunda aliança entre a filosofia e sua história. As obras dos filósofos suscitam movimentos de pensamento que têm seus desenvolvimentos próprios, independentes das intenções dos filósofos que as geraram e às vezes mesmo con trários a essas intenções. Por isso, um filósofo pode apropriar- -se de uma ideia de outro filósofo, repensando-a, e o historia dor deve também acompanhar e apreender esses movimentos porque eles auxiliam na compreensão do pensamento do filó sofo que teve suas ideias repensadas. Se assim é, então o trabalho do historiador da filosofia, na tentativa de compreender o pensamento de um filósofo, deve consistir essencialmente em pensar com ele, em repensá-lo, refazendo seu itinerário de pensamento e pensando o que ele pensaria em resposta àqueles que, posteriormente, também pensaram com ele ou mesmo pensaram contra ele. Ao estudar a obra de um filósofo para elucidá-la, o historiador não vai simplesmente repeti-la. Mesmo quando se propõe a alcançar uma interpretação o mais possível objetiva, ele deve saber ^ene ciar-se da fortuna crítica dessa obra como meio de ilu- sufikza ter qUe Ser caPaz seguir e compreender as temente • pensamento do autor estudado, as quais frequen- do texto anafi reformulaÇão argumentativa da letra que melhor oT Uma reaPresentação de um pensamento dados pelo filósn7Un^Ue’ sem Per^er o sentido e significado Noutros termV pensamento- a atenção para UmaS’ trata“se agora simplesmente de chamar historiador da filosofi^^^6 que às vezes se esquece: um uma ^PacidadeTi0 P0(^e s^'^° com eficácia, se não da filaS°I° exarninado. is°SÓfica de Penetrar no pensamento certo sentiL8XUÍnament4S atlvidade do historiador características^d°S°^0 assim c^Ca " faZ do historiador, em historiador, 0 his?'^'1"'0 filosófi”10 ° ^ósofo, em virtude de balho historiopráfil'ad°r’ vim?,?’Se ^az’ em certa medida, Evidentemente°’Se faz, de características de tra- como o filósofo o é’ °?"storiador /"^‘da, filósofo. C0tla0 o filó °fOfia não é filósofo °f° na° é historiador 64 65 1 ar is ai Im e' ãc al en i li K F NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 professor concebe a filosofia como algo vivo e transformador, e não como um edifício em ruínas, cuja diversidade de anda res, aposentos, entradas e saídas nos caberia, com respeito, apenas contemplar e admirar. Mas essa objeção, embora justa, legítima e bem-inten- cionada, parece basear-se, como vimos, em uma concepção da relação entre a filosofia e sua história que é, para dizer o mínimo, discutível. Segundo essa concepção, a relação entre a filosofia e sua história seria de exclusão’, quando estudamos a história da filosofia, somos inevitavelmente forçados a pôr de lado nossas próprias opiniões e, assim, somos impedidos de filosofar. A filosofia, então, terá de ser uma atividade pessoal e individual que não pode deixar-se contaminar pelas nume rosas filosofias do passado, para que não se percam valores como liberdade de pensamento, autenticidade e originalidade. Sobretudo o jovem estudante interessado em assuntos fi losóficos poderá naturalmente abraçar essa ideia. Professores de filosofia também a acolhem. Mas muitos desses professores podem preferir uma posição mais moderada, segundo a qual, como também vimos, apesar de distintas, a filosofia e sua his tória não precisam ser tomadas como completamente excluden- tes. A filosofia não é idêntica à sua história e não se resume a ela, porque o filósofo, ao pensar, ao criar e propor ideias, está inevitavelmente se baseando em sua própria maneira de ver o mundo. Filosofar, como uma atividade singular e única de um indivíduo, é sempre um ato livre e original. E certamente, para isso, um filósofo não necessita conhecer o que pensaram os filósofos que o antecederam, ou, se porventura conhece, não precisa tomar suas filosofias como fundamento para sua própria reflexão. A história da filosofia, por sua vez, pode ser objeto de estudo histórico, sem que, para isso, se adote uma posição ou atitude filosóficas. Em certo sentido, é mesmo necessário que alguém que procura compreendei o pensamento de um filóso fo não permita que suas próprias convicções “atrapalhem” essa compreensão. Se queremos entender realmente uma filosofia, Filosofia e história da filosofia no Ensino Médio* duas possibilidades Com base em tudo o que foi dito acima a respeito do tema das relações entre a filosofia e a história da filosofia, pode-se encaminhar uma reflexão a respeito da questão: Por que o en sino de filosofia deve centrar-se ou pelo menos levar em conta a história da filosofia? Para responder a essa pergunta, é preciso justificá-la, isto é, explicar sua relevância. Não seria de estranhar que estudantes de filosofia do Ensino Médio mostrassem certa resistência à ideia de que de- vem apiender e conhecer conteúdos de história da filosofia. Se liv °S°^a’ como muitas vezes se diz, é algo que nos permite soa6™016 eXP°r nossas opiniões, convicções e reflexões pes- miÍn°J transformá-la em mais uma disciplina de trans- ^daparaes^^05- ^ecorat^vos’\ que o estudante memori-Ocorreria tahe^’ t*vesse passado pelas avaliações? junto de informaçõ^^J°so^a’ transformada em simples con- apró°VUie ° Passad°’ risco semelhante a que /et história como disciplina escolar. 1 verdade, poderia ser formulada Avez a’ e Ser*a Uma °kjeÇà° justa’ ' c°uteúdoame ^a ideia de reduzir suas ie que a fill^V^stória da filosofia. Ele t0 Ensino Médio a’ ^Uando apresentada a jucutir a c^eve aspirar a algo mais * Seu esníH?^ade de pensar com C^rca e si critico, de forma a P^ ’ Para’ talVeZ’ Jual,Sejan^xistêncS Por ele, para ejanaeS' artístJ6sejaÇa° em C0‘ ’Cas- t-JaPara sentir esse ; — “'«mações sobre se ve submetida a -■ BssaPossive\objeçào;7a' pelo propno professOí de ’ Esse professor relutará taV ' aulas à transmissão de provavelmente entendi jovens estudantes d< do que isso. Deve neles in, profundidade e desenvolver interrogar o mundo que o < encontrar novos caminhos, entender e planejar sua p í fera de sua conduta individi munidade, seja para compreender e experimentar as manifestações 66 67 NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 1 | a as ia iln ite çã< 5 a cer Com base, portanto, na tese de que a filosofia, como uma livre atividade de reflexão, não exclui conhecimentos da his tória da filosofia - muito ao contrário, tem sempre em mira também essa história -, o professor pode traçar e planejar aos menos duas distintas estratégias de ensino, que podem ser vis tas, afinal, como dois pontos de vista diferentes pelos quais abordar e tratar dessa relação, como dois sentidos diferentes para caminhar na mesma direção, e que sugerem dois pontos de partida alternativos6. Em ambos os casos, caberá ao pro fessor fazer escolhas prévias a respeito dos temas e textos que considerar adequados para o contexto pedagógico em que se situa. Caberá ao professor, portanto, decidir qual lhe parece ser o melhor assunto para tratar em sala de aula com seus alu nos: questões relativas ao conhecimento? Às ciências? À mo ral? A política? A estética? E importante que essa escolha leve em conta também os interesses do próprio professor e a maior familiaridade com que consegue transitar por um determinado tema, procurando assim conciliar esses interesses com a rele vância que o assunto lhe parece possuir para seus estudantes, ou para o que, segundo o mesmo professor, os estudantes de vem obrigatoriamente conhecer nos conteúdos da disciplina. Na primeira estratégia sugerida, trata-se de escolher um tema e, em seguida, selecionar um texto e tomá-lo como ma terial exclusivo de análise durante um período determinado. Nesse caso, tratar-se-á de proceder à leitura do texto, cuja ex tensão, evidentemente, deverá ser adequada ao período plane jado. Pode ser um texto completo, desde que não muito longo, um capítulo ou mesmo partes menores, e mais uma vez caberá ao professor decidir a esse respeito. A ideia é que o professor coordene e conduza essa leitura, de modo a mostrar aos estudantes que o texto trata de uma questão filosófica que, ao mesmo tempo, lida com um assun to que pode interessá-los e pode ser aproximado de vivências e experiências que lhes são familiares. Se essa ligação for 6 Essas estratégias são fortemente inspiradas nas análises de Leopoldo e Silva, 1986 devemos temporariamente nos despir de nossas próprias opi niões e crenças sobre as questões que essa filosofia investiga e sobre as respostas que ela dá às perguntas que formula, não im portando, nesse caso, se discordamos delas ou com elas concor damos. O estudo da história da filosofia, nesse sentido, muito diferente do que ocorre na atividade filosófica, parece aspirar, portanto, à impessoalidade, a uma espécie de neutralidade. Contudo, como se buscou mostrar aqui, nada nos obriga a encarar a relação entre a filosofia e sua história como uma re lação de exclusão. Bem ao contrário, a própria história da filo sofia nos revela, com frequência, que os filósofos entenderam e entendem suas filosofias como participantes de uma espécie de comunidade filosófica, onde habitam numerosas propostas com as quais cada um desses filósofos dialoga, em geral criti camente. E que cada um deles aspira a formular uma filosofia um' aPreen^endo a verdade, se apresenta como ponto final de lhes nare* de cont*nuidade, para a qual propõem o que herdados0^^^^^0 definitiva dos problemas e temas mas e problemas são m reconhecem’ então’ fiue esseS e que lhes cabe adot' ,Osobcarnente dignos de consideração Eles se incluem semVfi C°m° alvos de SU3S esPecula^õeS‘ conhecendo serem com CU'dade nesse numeroso grupo, re- verdade, muito provável n! SeUS 'nteresses filosóficos. É, na filósofos do passado o qUe oVT^ SÍdo a leitura das obraS de senamente as questões qUe 0 a levado a decidir investigar a »Pós encontrar nessas AuestOes. Os tuação similar, na qUai rSnhVe’^r *VerSaS traje res a eles já haviam identificado^ pT^0 C°m Uma S1~ questões que agora os provocam^^do^^01^8 anter10' que esses antecessores, de algum m^ ^Ue^as mesrnaS melhor sobre essas questões, mesmo^’ reconbec’do as respostas finais oferecidas. não nararn a pensar °nc°rdem com 68 69 vimos -losofias. fiSs. c°ncOrd. -xto, lo texto opõe NOVAS TENDÊNCIAS PARA O ENSINO DE FILOSOFIA: o contexto de sala de aula e o âmbito das pesquisas | Volume 3 1 ( d. iTli ‘ j S vai ias dai alm nte' ação js at )ceni os argumentos que propõe em favor dela, e que também é per feitamente possível discordar de uma tese defendida por um filósofo, sem, ao mesmo tempo, recusar os argumentos que utiliza. Uma das funções dessa atividade de leitura e conheci mento das filosofias passadas seria, portanto, a de mostrar aos estudantes que pensar filosoficamente não consiste apenas, nem mesmo consiste principalmente, em aceitar ou recusar uma opinião, mas sim em levar em conta as razões alegadas tanto pelo filósofo que afirma algo com que se concorda, quan to pelo filósofo que afirma algo de que se discorda. Transferir o foco da leitura e compreensão de um texto das teses para os argumentos é ensinar a pensar e, consequentemente, mostrar como a história das filosofias do passado ainda pode ser rica de conteúdos interessantes e portadora de vivacidade. A segunda estratégia consistiria em adotar não um tex to único e completo, mas sim um tema que levará à seleção de partes ou passagens de textos, recortadas com base nesse tema, escritos por filósofos distintos. Nesse caso, o professor poderá traçar uma linha “evolutiva” com esses textos, o que lhe permitirá apresentar aos estudantes uma espécie de diálogo entre as diversas filosofias a respeito do mesmo tema. Há que tomar cuidado com a ideia de uma linha evolutiva: se, por um lado, é sempre possível e aceitável que o professor faça de sua posição pessoal um critério para a escolha e disposição desses textos, de modo que a leitura dos textos culmine com a intro dução de uma posição filosófica que particularmente o agrada, por outro lado, é também sempre saudável deixar claro aos es- tudantes/leitores que esse diálogo pode ser construído de dis tintas formas, como processos de interlocução que permitem diversos posicionamentos e preferências. Nada impede, aliás, que o professor, bem à maneira socrática, disponha os textos e oriente as leituras e debates de forma a evidenciar, ou ao menos deixar fortemente sugerido aos estudantes, a legítima possibilidade de um impasse e que essa linha supostamente evolutiva não precisa terminar com uma solução consensual. estabelecida, garante-se o interesse dos estudantes. Ao profes sor caberia, portanto, fazer com que os estudantes “saiam” d texto, observando as relações que esse texto sustenta com as questões que lhes são mais próximas, mas também que pos sam “voltar” a esse mesmo texto, agora para interroga-lo so bre essas questões e, então, dialogar com ele, compreendendo que respostas ele tem a dar. É um fenômeno comum, na leiturados textos, que o estudante constate que as questões filosóficas que o interessam já receberam tratamento filosófico nas filo sofias passadas, e que suas próprias posições, muitas vezes, estão presentes nessas filosofias. Trata-se então, na leitura, de fazê-lo ver que conhecer essas filosofias é muito relevante para sua própria reflexão. O próximo passo será provavelmente o mais importante e desafiador: mostrar aos estudantes que não devem simples- l^ente julgai o texto, dele discordando ou com ele concor- soluçã^ 'mec^ato- Embora seja sempre indesejada qualquer filósofo ~Ue s'mplesmente recorra à autoridade do texto do diz fosse sen^^ P°r Ser um ^lósofo renomado, o que ele dante também me^Or ' do que aquilo que pensa um estu- ciaçào desse textoed ^noportuna Qualquer atitude de depre- passado mais Gumen^^ ^ósofo, apenas porque viveu num estudante para consid^r^^0’ Há decerto uma tendência do antiga, e vimos como •L?Uperada” qualquer filosofia muito ferentes filosofias. Essa ^rrer até mesmo nas di- pelo filósofo^ Concorda ou C?sturna levar o estudante a até mais importame d<T’Setn ÍuT' * P°SÍÇã° defe"d‘da meios pelos quais 0 tex^e 0 c°nteúd Para al8° Aue e ta0 °U tos, em suma, que prOpõe ^nta SUa da te®e defendida: os divergem da sua. de] p°S19ào, os argumen- Cabe ao professor, neSSe * C°ntra posições que tes percebam que é perfeitam^0’ c afirmação feita por um filósofo ! p0ssivei Que os estudan- aceitar 70 71 REFERÊNCIAS 4 li ) )| in a is iva daí jda jaln snte iaçã( os a ocen Nesta segunda estratégia, por uma via distinta da primei ra, também se trataria de estabelecer um diálogo entre os es tudantes e os textos. Tratando de temas cuja relevância aos estudantes deverá ser sugerida ou mostrada pelo professor essas passagens mostrarão um diálogo entre os próprios filó sofos, diálogo frequentemente crítico, do qual os estudantes agora passarão a fazer parte. Agora, em face de uma gran de diversidade de posições a respeito de um mesmo tema, o estudante poderá perceber que suas próprias opiniões estarão mais próximas das posições de alguns filósofos e mais distan tes das posições de outros. E poderá também se dar conta de que alguns desses filósofos apresentam boas razões para que ele próprio justifique, para si mesmo e para os outros, suas opiniões próprias, e que outros, contudo, têm boas razões para se posicionar de modo diferente, e que o estudante, então, não pode simplesmente ignorar essas razões, devendo com elas i ar. Em suma, trata-se de boa forma de apresentar aos es- inve^ttS ™a caractcrística historicamente incontomável da que toE seu caráter polêmico, a necessidade jeções posST^0 deVe satisfazer de responder a ob- as críticas, tudo ís amentar sua posição própria afastando das filosofias em ,evan^° em conta a inevitável inserção 111 sua história. -------- , . " > ou refe rencial?”. O Ensino de Filosofia no 2o Grau. São Paulo. 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