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PRODUTO NOVO: UM INQUÉRITO NO RAMO ELETRODOMÉSTICO POLIA LÉRNER HAMBURGER AFFONSO C. A. ARANTES Quais são as diretrizes de lançamento de produtos novos na indústria de aparelhos eletrodomésticos em São Paulo? Quão importantes são essas diretrizes na el5tra- tégia geral de concorrência das emprêsas? A fim de lançar luz sôbre êsses dois problemas, realizamos um inquérito entre 27 emprêsas produtoras de aparelhos eletrodomésticos, cujos principais resultados reproduzimos e comentamos no presente trabalho. OBJETIVOS E METODOLOGIA Os objetivos do nosso inquérito foram assim formulados: verificar se as emprêsas haviam lançado inovações; se ha- via sido feito algum estudo de mercado antes do seu lan- çamento, e quais as demais diretrizes do programa mer- cadológico (promoção, vendas, vias de distribuição e polí- tica de preços) que o acompanhavam. Em artigo anterior, um dos autores comentava a importân- cia do produto nôvo para a firma e o planejamento que a sua introdução requeria. Nesse artigo, produto nôvo foi definido, "num sentido restrito, como aquêle tecnológica- mente nôvo, aquêle que !!iQ.existia allt~~_e agora existe, e, num sentido amplo, como ajustamento de uma tecno- '" .. ~~--'-----~---_.~-- PóLlA LERNER HAMBURGER- Professôra-Adjunta, Departamento de Merca- dologia e Coordenadora do "CUrso de Graduação" da Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo. AFFONSO C. A. ARANTES - Professor-Adjunto, Departamento de Mercadologia, da Esccia de Administração de Emprêsas de São Paulo. 62 INQUbRITO SÕBRE PRODUTO NÕVO R.A.E./9 logia a um mercado, tendo, portanto, duas dimensões prin- cipais. Um produto pode ser nôvo em cada uma dessas dimensões ou nas duas. Nôvo, para fins da organização da companhia, poderia significar, portanto, que o produto é realmente nôvo, sob o ponto de vista tecnológico, ou é nôvo apenas para aquela companhia ou para um dado mer- cado que a companhia pretenda explorar". (1) De acôrdo com êsse conceito classificamos as inovações da seguinte maneira: grupo I - produtos que constituem realmente novidades no mercado; grupo II - produtos conhecidos no mercado, mas novos para a emprêsa; nôvo mcdêlo de produto já fabricado pela firma; grupo IV - novos tamanhos e embalagens. grupo III As firmas entrevistadas para o inquérito foram escolhidas com o intuito de abranger o que há de mais representativo nas indústrias eletrodomésticas de São Paulo. Seleciona- mos 27 emprêsas que representam a quase totalidade dos grandes fabricantes dêsse ramo e, conseqüentemente, a parcela mais significativa da indústria paulista nesse setor. A mais antiga dessas emprêsas foi fundada em 1923 e a mais nova em 1962. Convém salientar, também, que, en- quanto uma das emprêsas fabrica apenas um produto, uma outra fabrica pràticamente todos os produtos da linha. Não tendo sido probabilística a amostra usada, mas sim obtida por critério subjetivo, os resultados aqui apresenta- dos não podem ser generalizados para tôda a indústria na- cional; mas, certamente, são aplicáveis à indústria paulis-ta de eletrodomésticos , . (1) Vide PÓLIA LERNER HAMBURGER,"Produto Nôvc : Suas. Dimensôes -Tec- nolôgicas ede .Mercado", Revista de Administração de Etnprêses, voI. .2, n.a, 4, maio-agôsto, 1962, pág. 112. R.A E./9 INQCúRITO S6I3RE PRODUTO N()VO 63 o método adotado para a obtenção das informações foi o da entrevista pessoal, realizada, sempre que possível, com o diretor comercial da emprêsa . Para tal fim foi elabo- rado um questionário de 18 perguntas que permitissem colhêr as informações necessárias para atingir os objetivos acima delineados. As entrevistas foram realizadas por alu- nos da disciplina Pesquisa de Mercado do "Curso de Gra- duação" da Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo. PRINCIPAIS RESULTADOS Reproduzimos, a seguir, algum dos quadros de resultados da pesquisa em foco, fazendo, sempre que necessário, os comentários aplicáveis a cada tópico. No final apresenta- remos as conclusões gerais do estudo. As respostas às perguntas seguintes nos fornecem indica- ções quanto às modificações levadas a efeito nas linhas de produtos desde a fundação da emprêsa até a data da pes- quisa ; Pergunta: "Qual(is) era(m) sua Cs ) linha(s) de produtos na época de ma fundação?" Respostas: Linha( s) de produtos N.o de emprêsas % 1 - "Eletrodomésticos" 14 51,9 2 - "Outros" 8 29,6 3 - "E.IE,trodomésticos· e outros" 5 18,5 27 100,0 Pergunta: "Atualmente, qual (is) é (são) sue (9) linha (s) de produtos?" N.o % Respostas ; 1 - "Passamos a· fabricar novos' , produtos eletrodomé: ticos" 12 44,4 2 - "Criames o ramo eletrodo- méstico" 8 29,6 3 - "Conservarncs os mesmos prcdutos, mas procuramos eperfelçcâ-lcs" 4 14,8 4 - "Conservamos os mesmos produtos» 2 7,4 5 - "Não mais fabricamos' ele- trodomésticos" 1 3,7 27 99,9 64 INQUflRITO SÕBRE PRODUTO NÔVO R.A.E./9 Uma das emprêsas selecionadas deixou, há pouco tempo, de fabricar aparelhos eletrcdomésticos . Duas delas, por outro lado, não se preocuparam .com qualquer tipo de ino- vação. Reduziu-se, destarte, o tamanho da amostra a 24 emprêsas para as perguntas subseqüentes. Ademais, 8 das 26emprêsas que ainda fabricam eletrodomésticos não se dedicavam a êsse ramo na data da sua fundação. À pergunta "Os produtos adicionados à linha anterior se enquadram nos grupos abaixo discriminados?" - (eram, então, apresentados ao entrevistado os quatro grupos retro- descritos) - foram obtidas as seguintes respostas: SIM NÃO TOTAL GRUPOS N;" de emprêses % N.o de €1mprêsas % N.o de emprêsas % I 13 54,2 11 45,8 24 100,0 11 22 91,7 2 8,3 24 100,0 III 19 79,2 5 20,8 24 100,0 IV 12 50,0 12 50,0 24 100,0 Êsses valôres nos dão a proporção de emprêsas que intro- duziram ou deixaram de introduzir inovações enquadradas em cada um dos grupos previamente classificados. Assim, para o grupo 11 - produtos conhecidos no mercado, mas novos para a emprêsa - os resultados acima significam que do total de 24 emprêsas 22 (91,7%) introduziram produtos dessa categoria. Há, portanto, forte tendência inovadora, o que é comprovado pelas respostas afirmativas registradas nos outros grupos: 79,2 % das emprêsas reno- varam seus modelos, 54,2 % lançaram novidades no mer- cado e 50% apresentaram novos tamanhos e embalagens. Quatro perguntas visavam a obter informações quanto aos motivos que levaram a emprêsa a introduzir inovações em cada um dos quatro grupos citados. Foram elas tabuladas em conjunto. De todos os motivos apontados o principal, tanto para o grupo I - novidades no' mercado - (33,4% ) quanto para o grupo 11- produtos novos para a emprêsa - (30,6%), foi o de "expansão da emprêsa", enquanto que para o grupo 111 - novos modelos - R.A.E.19 INQUfRITO SOBRE PRODUTO NOVO 65 (19,5%) e para o grupo IV - novos tamanhos e emba- lagens - (33,3 %) o motivo principal foi o "desejo de atrair novos clientes e consumidores". O Quadro 1 ofere- ce uma visão conjunta dos motivos responsáveis pela ino- vação de produtos nos quatro grupos. QUADRO 1: MOTIVOS PARA A INOVAÇÃO DAS LINHAS GRUPO I GRUPO II GRUPO III GRUPO IV TOTAIS Produtos Prod utoa Modêlo Novos Ta- Motivos ~ue dera~ Novos p/o Novos p/a Nôvo manhas e origem a Inovaçao Mercado Emprêsa Embalagens N.o % N.o % N.o % N.o % N.o % Expansão da em- prêsa 12 33,4 11 Conquista de novos clientes 9 25 3 Redução dos custos globais da emprê- sa 6 16,7 6 Manutenção dos in- terêsses dos clien- tes 2 5,6 2 Nivelamento da pro- dução 3 8,3 2 Progresso técnico Melhor aproveita- mento das vias de distribuição 3 8,3 2 Combate à concor- 30,6 5 13,9 2 11,1 30 23,9 8,3 7 19,5 6 33,3 25 19,5 16,7 2 5,6 1 5,5 15 11,9 5,6 5 13,9 3 16,8 12 9,5 8,3 1 2,7 6 16,8 1 5,5 7 7 5,6 5,6 5,6 1 2,7 6 4,8 rência Outros motivos ( * ) - Respostas em branco 1 1 2,7 4 11,1 5 3,9 6 167 4 11,1 5 27,8 15 11,9 2,7 2 5,6 1 2,7 4 3,2 Totais 36 100,0 36 100,0 36 100,0 18 100,0 126 100,0 (*) Entre êsses motivos figuravam, em primeiro lugar, a dificuldade de im- portação e a exigência do mercado. Procurou-se determinar, também, se o lançamento dosqua- tro grupos de inovações fôra precedido de estudos de PO- tencial de mercado e previsões de venda, bem como, na hipótese afirmativa, de que maneira teriam sido efetuados e a correlação que houvessem de revelar quando compa- rados com os resultados reais de venda. 66 INQU~RITO SÕBRE PRODUTO NÕVO R.A.E./9 o lançamento de novos produtos foi precedido por estu- dos de potencial de mercado e previsão de vendas em 21 (87,5%) das firmas consultadas. 15 (71,4%) destas realizaram o estudo com sua própria equipe; 3 (14,3%) confiaram a tarefa a uma emprêsa especializada e as 3 res- tantes (14,3 %) efetuaram seus próprios estudos, mas também os confiaram, simultâneamente, a emprêsa espe- cializada. Quanto à correlação dos resultados cabe salientar que 8 (38,1%) das 21 firmas supracitadas obtiveram resultados insatisfatórios, isto é, conclusões, quanto ao potencial de mercado e previsão de vendas que provaram ser incorretos aquêles resultados quando comparados com a realidade das vendas. Apenas uma dessas 8 emprêsas confiara seus es- tudos e pesquisas a organização especializada. Verificou-se, ainda, que 18 (76%) daquelas emprêsas fa- zem promoção de vendas especial quando do lançamento de uma inovação. Investigou-se, outrossim, qual a política seguida pelas em- prêsas quanto à escolha da via de distribuição. As res- postas nos levaram a concluir que não são usadas vias de distribuição especiais quando do lançamento de novos pro- dutos eletrodomésticos. (Houve uma só exceção a esta re- gra. Foi o caso do lançamento de uma geladeira de 20 pés cúbicos, que só excepcionalmente poderia ser conside- rada como produto eletrodoméstico.) À margem da ta- bulação cumpre esclarecer, porém, verifica-se, pela leitura das respostas dadas, que a via de distribuição não parece ser objeto de maiores atenções por parte dos respondentes. A pesquisa permitiu verificar que a determinação de pre- ços, nas firmas estudadas, se faz, predominantemente, à base de custos. Apenas duas emprêsas (8,3 %) calculam seus preços visando, primordialmente, à concorrência; 9 (37,5%) equilibram custo e concorrência, e 13 (54,2%) se baseiam exclusivamente no custo. R.A.E./9 INQU]RITO SÕBRE PRODUTO NÔVO 67 CONCLUSÔES o ramo industrial de aparelhos eletrodomésticos, em São Paulo, encontra-se em Vigorosoprogresso, notando-se acen- tuada tendência inovadora, fato que deu origem a êste es- tudo sôbre as políticas de inovação de 27 emprêsas. A pesquisa confirma, pelo menos para êsse grupo de em- prêsas, a afirmação de um dos autores (artigo citado) de que, entre nós, é mais freqüente o lançamento de produto já existente no mercado, mas nôvo para a emprêsa, ou a renovação de seus próprios modelos, do que a introdução original de produto no mercado. Menos progresso e inovação se notam quanto a embala- gens, talvez por não serem consideradas Importantes pelas emprêsas para o produto eletrodoméstico, ou por razões mais gerais: no Brasil a embalagem ainda representa sig- nificativa percentagem no custo do produto. Novas em- balagens requerem novos materiais e novos equipamentos, geralmente caros, que só se tornam compensaaores quando há grande produção. Os motivos para inovação não são originais nem típicos; são os mesmos apontados, em outros estudos sôbre o as- sunto, na nteratura especializada. Quanto aos preços, a preocupação maior com o custo, co- mo oase para sua determmaçao, parece ser indício de ainda reduzida preocupação com a concorrência. Essa expnca- ção pode ser complementada pela idéia generalizada de que, em especial para êsse grupo de produtos, a indagação do consumidor se dá menos em relação ao preço do que ao financiamento: número de prestaçoes e respectivas quan- tias. Verificamos grande dificuldade em obter definições claras das vias de distribuição e das funções exercidas em cada um dos níveis de mercadização dos produtos. Provàvel- mente, no Brasil, esta é a área mercadológica de mais di- 68--------------------------------------------INQUÉRITO 5ÔBRE PRODUTO NÔVO R.A.EJ9 fícil constatação e, portanto, a mais merecedora de pes- quisa. Tudo indica que os revendedores exercem, para a maioria das emprêsas, papel importante na distribuição. Contudo, a palavra "revendedor" assume, para os entre- vistados, vários e diversos significados, o que torna difícil uma interpretação do papel desempenhado pelos interme- diários. Finalmente, à margem da tabulação pode-se acrescentar que nenhuma emprêsa reclamou falta de mercado para seus produtos. Apesar de os entrevistados, ao comenta- rem a questão do lançamento de novos produtos, terem citado problemas mercadológicos em primeiro lugar, não manifestaram grandes preocupações, achando possível re- solvê-los, sem maiores dificuldades, face à ampla oportu- nidade que o mercado brasileiro' lhes oferece. Até quando durará essa situação confortável, privilegiada mesmo, para a indústria de eletrodomésticos? Se, por um lado, se pode louvar sua iniciativa inovadora, mesmo sem grandes pressões de concorrência e sem problemas de colo- cação de tais produtos, por outro lado não é difícil imagi- nar que essa situação não haja de durar para sempre, po- dendo até ser afetada por fatôres não imediatamente re- lacionados com o potencial de mercado, como, por exem- plo, pela restrição de créditos. As emprêsas seriam obri- gadas, então, a considerar com maior empenho outros fa- tôres da estratégia mercadológica - promoção, vendas, vias de distribuição, preço - e, principalmente, a adotar inovações de produtos, não por mera tendência inovadora, mas pressionadas por uma concorrência mais acirrada. Não tardará, enfim, que as emprêsas compreendam que inovar é um imperativo para sua sobrevivência.