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A Comunidade Espiritual segundo a história de Pentecostes Paul Tillich

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A Comunidade Espiritual segundo a história de Pentecostes.
Paul Tillich
A história de Pentecostes enfatiza claramente as características da Comunidade Espiritual. Esta estória, sem dúvida, combina elementos históricos, lendários e mitológicos, cuja distinção é tarefa da investigação histórica. Mas o sentido simbólico da estória, em todos os seus elementos, é o mais importante para nossos propósitos. Podemos distinguir cinco destes elementos. 
O primeiro elemento é o caráter extático da criação da Comunidade Espiritual. Ele confirma o que se disse sobre o caráter da Presença Espiritual, isto é, a unidade de estrutura e êxtase. A estória de Pentecostes é um exemplo desta unidade. Ela é extática, com todas as características do êxtase, mas trata-se de um êxtase unido a fé, amor, unidade e universalidade, como o mostram os outros elementos deste relato. À a luz do elemento de êxtase na história de Pentecostes, devemos dizer que, sem êxtase, não existe Comunidade Espiritual.
O segundo elemento na história de Pentecostes é a criação de uma fé que estava ameaçada e quase destruída pela crucificação daquele que deveria ser o portador do Novo Ser. Se compararmos o relato de Pentecostes com testemunho paulino a respeito das aparições do Cristo ressuscitado, veremos que, em ambos os casos, uma experiência extática reafirma a fé dos discípulos e os livra de um estado de incerteza total. Os discípulos que se dispersaram pela Galileia não era uma manifestação da Comunidade Espiritual. Só depois que a Presença Espiritual se apoderou deles e restabeleceu sua fé é que eles se tornaram sua manifestação. À luz da certeza que vence a dúvida no relato de Pentecostes, devemos dizer que não existe Comunidade Espiritual sem a certeza da fé. 
O terceiro elemento no relato de Pentecostes é a criação de um amor que se expressa imediatamente em serviço mútuo, especialmente aos que estão mais necessitados, incluindo os estrangeiros que se reuniram ao grupo inicial. À luz do serviço criado pelo amor no relato de Pentecostes, devemos dizer que não existe Comunidade Espiritual sem o amor que se doa.
O quarto elemento no relato de Pentecostes é a criação de unidade. A Presença Espiritual teve o efeito de unir indivíduos, nacionalidades e tradições diferentes e congregá-los na refeição sacramental. O falar extático em línguas por parte dos discípulos foi interpretado como vitória sobre a desintegração da humanidade simbolizada na estória da Torre de Babel. À luz da unidade que se manifesta na história de Pentecostes, devemos dizer que não existe Comunidade Espiritual sem a reunião última de todos os membros alienados da humanidade! 
O quinto elemento no relato de Pentecostes é a criação de universalidade, expressa no impulso missionário das pessoas que foram tomadas pela Presença Espiritual. Era impossível para elas não transmitir a todo mundo a mensagem daquilo que lhes tinha acontecido, porque o Novo Ser não seria o Novo Ser se a humanidade como um todo e mesmo o próprio universo não estivessem incluídos nele! À luz do elemento de universalidade no relato de Pentecostes, devemos dizer que não existe Comunidade Espiritual sem a abertura a todos os indivíduos, grupos e coisas e sem a vontade de integrá-los a si.
Todos estes elementos, que reaparecerão em nosso sistema como as características da Comunidade Espiritual, são derivados da imagem de Jesus como o Cristo e do Novo Ser manifesto nele. Isto se expressa simbolicamente na imagem dele como cabeça e da Comunidade Espiritual como seu corpo. Num simbolismo mais psicológico, é expresso na imagem dele como noivo e da Comunidade Espiritual como noiva. Num simbolismo de caráter mais ético, é expresso na imagem dele como Senhor da Comunidade Espiritual. Estas imagens apontam todas para o fato já referido por nós: o Espírito Divino é o Espírito de Jesus como o Cristo, e o Cristo é o critério ao qual se deve submeter toda reivindicação Espiritual.
Teologia Sistemática, Paul Tillich, 6ª Ed. Revista, 2005.
Parte 4: A vida e o Espírito, Cap. II: A Presença Espiritual, tomo 4: A Presença Espiritual e o Novo ser na Comunidade Espiritual, págs.: 603-605.
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