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20 públicos em uma ótica que favoreça ao fortalecimento da accountability na gestão pública brasileira, com a consequente qualificação da oferta de serviços públicos, especialmente a educação, que por sua vez pode refinar a formação cidadã do povo brasileiro. Assim, a questão básica que viso responder por meio desta pesquisa é: O Sistema de Gestão de Prestação de Contas (SiGPC – Contas Online) do FNDE pode ser considerado um instrumento que favorece o fortalecimento da accountability na gestão pública em educação? 1.3 OBJETIVO GERAL Identificar a presença ou ausência de mecanismos de accountability na gestão de programas e projetos educacionais geridos pelo FNDE e, conforme a situação, identificar se o SiGPC – Contas Online pode contribuir para o fortalecimento de um conceito de accountability genuíno no cenário da educação nacional. 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Discutir o conceito de accountability, construindo uma matriz de classificação conceitual para avaliação do nível de presença das características da accountability no SiGPC – Contas Online; b) Identificar mecanismos de controle presentes na organização da administração pública brasileira, e seu alcance na gestão de programas e projetos educacionais; c) Analisar elementos do Sistema de Gestão de Prestação de Contas do FNDE, bem como a visão dos gestores responsáveis por seu advento, a fim de identificar possíveis relações com o conceito de accountability. 21 1.5 HIPÓTESE A hipótese a ser verificada no presente estudo é a de que o SiGPC – Contas Online apresenta expressivo potencial para favorecer a accountability na gestão pública. Porém, o ponto decisivo para tornar efetivo seu potencial é como será preenchido o espaço discricionário de sua implementação, que tenderá a dedicar-se mais aos aspectos formais e de legalidade, em detrimento de ações proativas que visem garantir e qualificar os resultados gerados pela execução de programas e projetos educacionais. 1.6 METODOLOGIA DA PESQUISA A presente pesquisa está organizada como estudo de caso, tal qual conceituado por Bell (1989) e Fidel (1992), vez que trabalho a interação entre os fatos do advento do SiGPC – Contas Online e os preceitos da accountability. O estudo constituir-se de três momentos distintos: 1) a revisão de literatura, com a definição dos constructos necessários à discussão proposta; 2) análise dos elementos constitutivos do SiGPC – Contas Online, tendo por base o próprio sistema e os registros documentados acerca de sua implantação; e 3) realização de entrevista semi-estruturada com gestores do FNDE. Em relação ao primeiro momento, importa especialmente conhecer como o conceito de accountability tem sido reconhecido e disseminado, suas ramificações e classificações. A partir desta discussão, é construída uma matriz de classificação conceitual relativa ao vocábulo. Além disso, é traçada investigação teórica acerca de mecanismos de controle que alcançam a gestão das PPEs, nos quais se busca perceber, caso existam, aproximações ao conceito de accountability e, sendo o caso, fazer a devida identificação com a classificação adequada. Para o segundo momento, após discutido o contexto em que surge o SiGPC – Contas Online, bem como sua finalidade e seus objetivos, as funcionalidades do sistema são devidamente categorizadas em itens de análise, o que é feito com base nos recursos do próprio sistema e nos registros documentados que definem os requisitos para sua implementação. Depois de concluída e discutida a categorização, é feito o enquadramento de cada um dos itens de análise na matriz de classificação 22 conceitual, construída no primeiro momento da pesquisa. Para finalização da etapa, é traçada a análise onde busco especialmente identificar se estão ou não presentes elementos que identificam o sistema com os preceitos da accountability. Para o terceiro momento da pesquisa, foi realiza entrevista semi-estruturada com cinco gestores do FNDE, especificamente os que respondem pela: 1) Presidência da Autarquia; 2) Diretoria Financeira; 3) Coordenação-Geral de Contabilidade e Acompanhamento de Prestação de Contas; 4) Coordenação de Prestação de Contas de Repasses Automáticos; 5) Coordenação de Tomada de Contas Especial. O tratamento das entrevistas se dá por análise do conteúdo, com base em Bardin (2011), onde o intuito será o de identificar os elementos predominantes na visão dos gestores em relação a sete eixos temáticos: 1) O conceito de accountability; 2) Os motivos da implantação do SiGPC – Contas Online; 3) Os objetivos de gestão associados ao advento do SiGPC – Contas Online; 4) A participação dos órgãos de controle interno e externo; 5) O modo de atuação e a finalidade do controle social; 6) A efetividade na implementação das PPEs; 7) O momento de exercício do controle e seu foco. Por fim, para alcançar os resultados e efetivamente testar a hipótese definida, são confrontados os resultados de cada um dos momentos. Assim sendo, primeiramente é verificado se a visão dos gestores está materializada no sistema e, em seguida, é traçada uma avaliação quanto aos pontos de alinhamento ou divergência entre a visão dos gestores, os elementos do sistema e o conceito de accountability, sendo feito o enquadramento conclusivo do SiGPC – Contas Online na matriz de classificação conceitual. Com isso, é alcançado o posicionamento conclusivo quanto a se o sistema pode ou não ser considerado um elemento que favorece a efetivação da accountability política na gestão de programas e projetos educacionais. 1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Para alcançar os objetivos da pesquisa, este trabalho está organizado em sete capítulos. Neste Capítulo I, tratamos da introdução na pesquisa. No Capítulo II, 23 a ênfase vai para a revisão bibliográfica, convidando à discussão alguns dos principais autores que abordam o tema da accountability, pois será preciso traçar discussão sobre o conceito, onde se diferenciam as modalidades vertical e horizontal, com ênfase na abordagem de O'Donnell (1998), estendendo o diálogo às dimensões propostas por Schedler (1999) como componentes fundamentais da accountability, além de adentrarmos no conceito de societal accountability e da relação entre accountability e efetividade do Estado. Ao final, construo a matriz de classificação conceitual de accountability, que será elemento primordial para o restante da pesquisa. No Capítulo III, discute-se o modelo de gestão pública predominante no Brasil, com especial atenção ao que se convencionou chamar de Reforma do Estado, com atenção especial ao viés dado ao controle nos paradigmas burocrático ou gerencial de administração pública. Em seguida, são discutidos os mecanismos de controle previstos nos regramentos de nossa administração pública, com fito de identificar possíveis instrumentos de accountability existentes na organização política brasileira e sua evidenciação na gestão de programas e projetos educacionais. Para tanto, são analisados especialmente os dispositivos da legislação nacional que regulam o tema. Assim, trata-se desde a Constituição Federal de 1988, partindo de sua disposição de que "todo poder emana do povo" (BRASIL, 1988), como possível alicerce da accountability, estendendo olhares desde os controles internos e externos até o controle social. O Capítulo IV é dedicado a caracterizar o FNDE como ator protagonista da execução de programas e projetos educacionais. Ao analisar as competências da entidade, é perceptível que a demanda por accountability apresenta-se na ação desta Autarquia, sendo necessário conhecer os principais mecanismos utilizados para execução de programas e projetos educacionais: transferências obrigatórias e voluntárias. Com isso, será possível evidenciar, além das óbvias cifras, o imenso patrimônio públicoenvolvido nessas ações, representadas pelo capital a ser construído pelos investimentos em Educação. Com o aparato teórico construído até então, no Capítulo V se desenvolve a investigação dedicada ao SiGPC – Contas Online, sendo avaliado se ele apresenta- se ou não como um instrumento que pode contribuir para a accountability e, se for o caso, com qual das múltiplas faces do conceito demonstra maior aproximação. Tal 24 busca se dá pela avaliação das funcionalidades do sistema, com enquadramento na matriz de classificação conceitual construída no Capítulo II. O Capítulo VI é dedicado ao tratamento das entrevistas semi-estruturadas realizadas junto a gestores do FNDE, bem como à discussão dos resultados obtidos. Em seguida, tais resultados são confrontados com as inferências feitas ao longo do Capítulo V a fim de viabilizar o teste da hipótese proposta. Por fim, no último capítulo, são apresentadas as principais conclusões, incluindo o teste da hipótese e a verificação do alcance ou não dos objetivos inicialmente propostos. Além disso, são apresentadas algumas sugestões que podem ser utilizadas tanto para investigações futuras quanto para avaliações relativas à implantação do sistema, a fim de que sua utilização seja potencializada no sentido de se configurar um instrumento que efetivamente favoreça ao cidadão o controle da fidelidade de seus representantes ao interesse público. 25 2 O CONCEITO E O PRINCÍPIO DA ACCOUNTABILITY Para adentrarmos ao movediço terreno conceitual da accountability, cabe lembrar que a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu art. 1º, parágrafo único, que “todo o poder emana do povo” (BRASIL, 1988), o que é elemento precípuo para caracterizar o Brasil como nação democrática. O mesmo dispositivo legal esclarece “que (o povo) o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”1. O'Donnell (1998, p. 28), ao tratar das novas poliarquias2 mundiais – em cujo conceito o Brasil enquadra-se, inclusive como um dos objetos de estudo do autor – discute que, por um lado, “os cidadãos podem punir ou premiar um mandatário votando a seu favor ou contra ele ou nos candidatos que apóiem na eleição seguinte” e, por outro lado, “como Sócrates e outros descobriram, o demos pode deliberar sobre qualquer questão: ele tem o direito de tomar decisões sobre qualquer tema que julgue apropriado”. Em um dos enfoques, tem-se o poder do demos sendo exercido por meio de um instrumento específico: o voto. Já no segundo enfoque, a potencialidade de deliberação do povo fica totalmente irrestrita. No conjunto, a discussão se direciona para dois aspectos, que são: 1) a medida que o povo pode ou deve deliberar sobre assuntos políticos e 2) como o povo exercerá seu poder em um espaço democrático3: se sua deliberação será refletida apenas no voto ou também por outros meios. _______________ 1 As formas de exercício direto do poder estão previstas na própria Constituição e são bem sistematizadas e discutidas por Perez (2004) 2 O autor, expandindo os atributos propostos por Dahl (1989, p. 221), entende por poliarquias aquelas caracterizadas por 1) autoridades eleitas; 2) eleições livres e justas; 3) sufrágio inclusivo; 4) o direito de se candidatar aos cargos eletivos; 5) liberdade de expressão; 6) informação alternativa; 7) liberdade de associação; 8) autoridades eleitas (e algumas nomeadas, como juízes das cortes supremas) não podem ser destituídas arbitrariamente antes do fim dos mandatos definidos pela constituição; 9) autoridades eleitas não devem ser sujeitadas a constrangimentos severos e vetos ou excluídas de determinados domínios políticos por outros atores não eleitos, especialmente as forças armadas; e 10) deve haver um território inconteste que defina claramente a população votante. 3 Nem todos os autores estudados preocupam-se em definir seu recorte de abordagem ao universo das democracias, porém, como afirma Hirano (2006, p. 12), apoiando-se em Dahl (2001, Sobre a Democracia, p. 75-81), “a necessidade de que os agentes públicos prestem contas de seus atos aos cidadãos só surge e faz sentido no contexto de uma democracia representativa contemporânea”. 26 O povo detém poder, porém não o exerce em todo diretamente, mas sim por meio de representantes, os quais se revestem do poder de decisão. A investidura dos representantes e seu empoderamento não podem, porém, chegar ao ponto de romper a premissa de que o poder emana do povo. Abordando essa relação, Arato (2002, p. 90) afirma que “não há nada de representatividade pictórica ou descritiva per se que impeça legalmente os representantes escolhidos entre os membros de um grupo de violar os interesses daquele mesmo grupo”. E, por isso, o autor conclui que: Se valorizamos a conexão entre representantes e representados, então é a accountability um meio importante de reforçar essa norma democrática [...] Sem dúvida, a única conexão que a lei positiva (ou seja, criando sanções) pode oferecer é a accountability baseada na capacidade dos eleitores, individuais ou grupais, de exigir que os representantes expliquem o que fazem (respondam por, sejam responsabilizados, sejam punidos ou mesmo recompensados pelo que fazem). (ARATO, 2002, p. 90) Como se percebe, a discussão sobre o equilíbrio entre o poder que emana do povo e o poder do qual se reveste um representante, leva-nos inevitavelmente a um conceito específico, pois a “verdadeira razão de ser da accountability reside na pressuposição da existência de poder e, nesse sentido, o seu principal objetivo não é eliminá-lo, mas controlá-lo”, como esclarece Schedler (apud PINHO e SACRAMENTO, 2009, p. 1350). Em que pese a objetividade com que pode ser caracterizado o terreno em que habita e o objetivo que define a accountability, Mainwaring (2003, p. 6) explica que se trata de "um conceito distante de ser consensual. De fato, o significado de ‘accountability’ é tão obscuro quanto os conceitos são nas ciências sociais"4. A presença do termo accountability nos dicionários de língua inglesa remonta a 1794, como demonstra a investigação de Pinho e Sacramento (2009). Porém, é recorrente a afirmação de que o vocábulo persiste intraduzível para a Língua Portuguesa. Logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, momento em que uma nova perspectiva democrática se abria no Brasil, Campos (1990) dedicou-se a investigar as causas da dificuldade de tradução do vocábulo para o português, em seu célebre artigo "Accountability: quando poderemos traduzi-la para o português?". A resposta encontrada à época foi no sentido de que: _______________ 4 “a far-from-consensual concept. Indeed, the meaning of 'accountability' is about as muddled as concepts get in the social sciences” 27 Faltava aos brasileiros não precisamente a palavra, ausente na linguagem comum como nos dicionários. Na verdade, o que nos falta é o próprio conceito, razão pela qual não dispomos da palavra em nosso vocabulário (CAMPOS, 1990, p. 31) A autora, então, concluiu que: O grau de accountability de uma determinada burocracia é explicado pelas dimensões do macroambiente da administração pública: a textura política e institucional da sociedade; os valores e os costumes tradicionais partilhados na cultura; [...] há uma relação de causalidade entre o desenvolvimento político e a competente vigilância do serviço público [...] não surpreende que, nos países menos desenvolvidos, não haja tal preocupação. Nem mesmo sente-se falta de palavra que traduza accountability. (CAMPOS, 1990, p. 47) Como evidencia Campos, a questão não reside no termo, mas no conceito. Conquanto a ausência do conceito tenha sido identificada pela autora, Pinho e Sacramento (2009, p. 1344), atualizando o estado da arte duas décadas depois, quando se propõem a “conhecer se o caminhar brasileiro está levando à aproximaçãodo conceito da accountability”, argumentam que: [...] estamos mais perto da resposta do que quando Campos se defrontou com o problema, mas ainda muito longe de construir uma verdadeira cultura de accountability […] desde então [...], a democracia se consolidou e reformas no aparelho do Estado foram empreendidas com a promessa de tornar a administração pública mais eficiente e, inclusive, mais controlável. Paralelamente, no meio acadêmico, imensa literatura tem sido produzida no intuito de analisar e compreender os impactos de tais mudanças no tecido social, bem como suas contribuições para viabilizar pelo menos uma aproximação do conteúdo do conceito de accountability com a realidade da administração pública brasileira. Nesses estudos, a palavra accountability tem sido comumente traduzida como responsabilização. (PINHO e SACRAMENTO, 2009, p. 1344-1345) Não se pode, então, reduzir a discussão à máxima de que o termo não é traduzível ao português, pois há alternativas de tradução, ainda que não uniformizadas. Além disso, a imprecisão do conceito não é uma particularidade brasileira ou que compartilhemos apenas com países de democracia incipiente. Afonso (2009), por exemplo, ao buscar uma definição de accountability diz que: Embora seja traduzido frequentemente como sinônimo de prestação de contas, o vocábulo accountability apresenta alguma instabilidade semântica porque corresponde de fato a um conceito com significados e amplitudes plurais (AFONSO, 2009, p. 58) 28 Schedler (1999, p. 13) infere que “o seu significado permanece evasivo, com fronteiras indefinidas e estrutura interna confusa”. Ou seja, resta evidente que se trata de um “conceito em expansão” (MULGAN, 2000) e que “o estudo sobre a compreensão do significado da accountability tem caráter progressivo, inesgotável” (PINHO e SACRAMENTO, 2009, p. 1354). Ainda assim, cabe-nos identificar o que se tem entendido por accountability e adotar um conceito capaz de ser avaliado no transcorrer de nossa pesquisa. É neste fito, de tornar factíveis estudos do tema, que Mainwaring posiciona-se: A accountability é um conceito chave nas ciências sociais, ainda que seu significado varie largamente de um autor para outro [...] ainda que não possamos clamar um consenso em nossa compreensão do conceito, nós acreditamos que o confronto direto de ideias irá fazer com que o debate avance (MAINWARING, 2003, p. 3) 5 Desta forma, para focarmos no conceito, não trataremos aqui de tradução, sendo mantido o estrangeirismo. E para melhor compreender o vocábulo, é preciso tratar de alguns conceitos correlatos, tais como accountable e accounting, além de elementos que hão de permear a discussão de accountability, entre os quais merecem destaque a informação e o tempo. 2.1 O CONCEITO DE ACCOUNTABILITY O termo accountability é utilizado em diversos contextos: em empresas, na educação6, na política. Em todos os casos, o conceito de accountability é indissociável do poder, da responsabilidade, e consiste exatamente no controle sobre o poder e na responsabilização de determinados atores por seus atos ou omissões. Para esta pesquisa interessa particularmente o conceito de accountability política aplicável ao exercício democrático, que trata exatamente do controle sobre o poder delegado pelo povo aos seus representantes, a fim de que o interesse público prevaleça. _______________ 5 “Accountability is a key concept in the social sciences, yet its meaning varies widely from one author to the next [...] although we cannot claim consensus in our understanding of this concept, we believe that the direct confrontation of ideas will advance the debate (MAINWARING, 2003, p. 3) 6 Muitos estudos que discutem accountability na educação tratam do que se convencionou chamar de School Accountability, associada aos resultados do processo educativo, mais especificamente das responsabilidades que os profissionais do magistério têm para com o aprendizado dos discentes. Embora seja tema correlato, não pretendo no presente trabalho qualquer imersão aos meandros da School Accountability. 29 Schedler (1999, p. 15) explica que “Accountability é contrária ao poder monológico. Ela estabelece uma relação dialógica entre atores accountable e accounting”7. Nestes termos, os atores accountable são aqueles que detêm o poder de fazer e, em razão disso, devem responsabilizar-se, enquanto os atores accounting são os que exercem o poder de controle. Isso traduz que a responsabilidade é necessariamente externa. [...] a accountability é sinônimo de responsabilidade objetiva, isto é, trata-se da responsabilidade de uma pessoa ou organização perante outra, fora de si mesma. Tal responsabilidade tem consequências, implicando em prêmios pelo seu cumprimento, e castigos, quando o inverso é verificado. (PINHO e SACRAMENTO, 2009, p 1347-1348) Ou seja, trata-se de responsabilidade objetiva, que vem de fora, não podendo ser confundida com a responsabilidade subjetiva, que alguém impõe sobre si mesmo quanto ao compromisso de bem exercer determinado papel. Dessa forma, para tratarmos de accountability, precisaremos também tratar do quanto os agentes públicos são accountable. Przeworski (1998, p. 61) esclarece que “os governos são accountable se os cidadãos têm como saber se aqueles estão ou não estão atuando na defesa dos interesses públicos”, podendo, além disso, atribuir-lhes o bônus ou ônus cabível. Para que os cidadãos saibam se seus interesses estão sendo respeitados, um dos elementos primordiais é a informação. Nesse ponto, não basta refletir sobre se há informações disponíveis, mas também quais as condições que o cidadão tem de apropriar-se delas, o quanto tais informações são inteligíveis pela população. Veja-se que a Carta Magna de 1988, em seu artigo 37, impõe a Publicidade como um dos princípios da Administração Pública (BRASIL, 1988). Ou seja, todo ato praticado pelo governo deve ser dado a conhecer, o que poderia sugerir que cada brasileiro dispõe das informações necessárias para avaliar o desempenho de seus representantes. Porém, o princípio da publicidade, por si só, não implica em um governo accountable, pois tornar públicos os atos ainda não significa que os cidadãos efetivamente tenham condições de conhecer os resultados da ação dos seus _______________ 7 “Accountability is antithetical to monologic power. It establishes a dialogic relationship between accountable and accounting actors.