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CINEMÁTICA DA PARTÍCULA Mariana Sacrini Ayres Ferraz Movimento circular Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar variáveis e equações do movimento circular. � Relacionar as grandezas do movimento circular ao movimento linear. � Resolver problemas de contexto físico relacionados à variação angular (movimento circular). Introdução Os movimentos circulares são bastante comuns no nosso dia a dia, sendo observados na movimentação de brinquedos, como um carrossel em um parque, ou na própria translação da Terra ao redor do Sol, por exemplo. Quando estamos dirigindo e fazemos uma curva, a nossa movimentação também é circular, mesmo que parcialmente. Neste capítulo, você vai estudar os principais conceitos do movimento circular e a relação entre as grandezas angulares e as grandezas lineares. Além disso, também vai verificar alguns exemplos e problemas sobre a temática. 1 Conceito O movimento circular é aquele que acontece como uma rotação em torno de um eixo, com raio constante. Exemplos de movimento circular são a movi- mentação das pessoas em uma roda gigante e a órbita de um satélite ao redor da Terra (Figura 1). Figura 1. Exemplos de movimentos circulares: o movimento de uma roda gigante e a órbita de um satélite em torno do planeta Terra. Fonte: ClassicVector/Shutterstock.com; robuart/Shutterstock.com. Para estudarmos o movimento circular, precisamos compreender alguns conceitos. Nesta seção, você vai estudar as coordenadas polares e angulares, o deslocamento angular, a velocidade angular, a frequência angular, o período, a aceleração angular, a aceleração centrípeta e a força centrípeta. Coordenadas polares Podemos dizer que, nos movimentos circulares, o corpo em questão se move ao longo da circunferência de um círculo. As suas coordenadas x e y variam com o tempo, mas a distância do centro, ou seja, o raio, permanece constante. Dessa maneira, o uso das coordenadas polares é indicado para analisar esses tipos de movimentação. A Figura 2 ilustra os componentes necessários para entendermos as coordenadas polares no movimento circular. A imagem mostra o vetor posição r⃗ e a sua angulação θ em relação ao eixo x. Assim, podemos especificar o vetor posição, usando as coordenadas x e y, ou usando o seu módulo e a sua angulação, ou seja, a sua coordenada polar. Movimento circular2 Figura 2. Coordenadas polares para o movimento circular. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 280). Observando a geometria da Figura 2, podemos também encontrar a relação entre as coordenadas geometricamente. As coordenadas polares, r e θ, em relação às coordenadas cartesianas, x e y, são dadas por (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012; SAFIER, 2011): Já as coordenadas cartesianas, em relação às polares, são dadas por (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012; SAFIER, 2011): Como o raio permanece constante no movimento circular, podemos re- duzir a descrição do movimento usando apenas a variação de θ, facilitando o problema. 3Movimento circular A Figura 2 também ilustra os vetores unitários em relação às coordenadas x e y e os vetores unitários nas direções radial e tangencial ao movimento — ou seja, r ̂ e t ̂. A angulação entre r ̂ e x̂ também é θ (Figura 3). Assim, podemos encontrar relações entre os vetores unitários. Geometricamente, podemos escrever que: Figura 3. Vetor unitário r ̂e a sua relação com o ângulo θ. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 281). Para verificar se os vetores unitários r ̂e t ̂são perpendiculares entre si e unitários, pode-se utilizar o produto escalar. Para serem perpendiculares, o produto escalar entre eles deve resultar em zero, e, para serem unitários, o produto escalar de um vetor unitário com ele mesmo deve resultar em 1. Veja a seguir. Movimento circular4 Coordenadas angulares de deslocamento angular Como vimos anteriormente, no movimento circular, o raio permanece cons- tante, e o que varia com o tempo é o ângulo θ. Ou seja, temos o ângulo como uma função do tempo θ(t). As duas unidades mais usadas para ângulos são radianos (rad) e grau (°). Considerando um ciclo completo, temos um ângulo de 360° ou 2π rad. Com essa informação, podemos encontrar a relação entre θ, π e rad. Assim, ou Temos também que: Vale dizer que o ângulo θ pode ter valores positivos ou negativos. Porém, o ângulo é periódico, ou seja, após uma volta completa, o valor de θ retorna ao mesmo ponto. O deslocamento angular é definido como a diferença entre os ângulos de dois pontos de interesse, ou seja: ∆θ = θ2 – θ1 5Movimento circular Observe novamente a Figura 2. Nela, um arco de comprimento s é ilustrado com a cor verde. Esse comprimento é chamado de comprimento de arco, que tem uma relação entre o ângulo e o raio dada por: s = rθ Para um circunferência completa, temos que s = 2πr. O comprimento possui a mesma unidade que o raio. Velocidade angular, frequência angular e período A velocidade angular é definida como a variação das coordenadas angulares. O valor médio da velocidade angular é dado por (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012; MARQUES; UETA, 2007): À medida que o intervalo de tempo se aproxima de zero, temos a velocidade angular instantânea, ou seja: A unidade mais usada para a velocidade angular é rad/s. A direção e o sentido do vetor de velocidade angular podem ser encontra- dos por meio da regra da mão direita (Figura 4). A sua direção é dada pelo eixo perpendicular ao plano do círculo, e o seu sentido depende da direção de rotação. Se for no sentido horário, a velocidade apontará para cima, como mostrado na Figura 4, ou para baixo, no caso oposto. Para usar a regra da mão direita, basta colocar seus dedos no sentido de rotação. O polegar apontará para o sentido da velocidade angular. Movimento circular6 Figura 4. Regra da mão direita. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 284). A frequência angular f mostra quanto varia o ângulo com o tempo — ou seja, quantos ciclos ocorreram por certo tempo. Ela é dada por: A unidade mais usada para a frequência é o Hertz, onde 1 Hz = 1 s–1. Já o período de rotação T é dado por: O período mede o tempo necessário para o ângulo voltar ao mesmo valor, ou seja, o tempo necessário para passar uma vez ao redor do círculo. Relacio- nando essas variáveis, podemos escrever que: 7Movimento circular O período de rotação de um satélite ao redor da Terra é de 24 horas. Qual é a sua frequência e a sua velocidade angular? A frequência será dada por: Já a velocidade angular será: Nesta subseção, você aprendeu alguns conceitos, como velocidade an- gular, frequência angular e período, os quais se baseiam em deslocamentos angulares. Embora estejamos usando velocidade angular para o estudo de movimentos circulares, esta possui uma relação com a velocidade linear, conforme descrito a seguir. Velocidade angular e velocidade linear Podemos encontrar a relação entre a velocidade angular e a velocidade linear em um movimento circular. Vamos iniciar essa análise encontrando a velocidade linear. Primeiramente, vamos escrever o vetor posição radial em coordenadas cartesianas e, depois, derivar em relação ao tempo. Assim, temos que: Movimento circular8 A distância r é constante, então, podemos escrever que: Ou seja, podemos escrever que: v⃗ = rωt̂ O vetor velocidade é, então, tangencial à trajetória realizada e, também, sempre perpendicular ao vetor posição, que aponta na direção radial (Figura 5). Figura 5. Velocidade linear no movimento circular. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 285). Se tirarmos o módulo dos dois lados da equação, obtemos uma relação entre os módulos da velocidade, ou seja: v = rω 9Movimento circular Uma moto possui pneu com raio de 30,0 cm. Se a moto estiver andando a 20 km/h, qual será a velocidade angular do pneu em rad/s? Podemos usar que: A seguir, você vai estudar sobre a aceleração no movimento circular. Aceleração angular e centrípeta A aceleração angularα é dada pela taxa de variação da velocidade angular. O seu valor médio é definido como (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012; MARQUES; UETA, 2007): O vetor de aceleração instantânea é, então, definido por: No caso da aceleração, podemos também encontrar uma relação entre a aceleração angular e a linear, usando as direções tangencial e radial. Usando, então, o vetor velocidade encontrado anteriormente e a regra do produto da diferenciação (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014), escrevemos que: Movimento circular10 Assim, o vetor aceleração possui duas componentes. A primeira é a com- ponente tangencial, que vem da variação do valor da velocidade. A segunda é a componente radial, que vem do fato de que o vetor velocidade tangencial tem que mudar a direção ao longo da trajetória. Vamos analisar essas componentes individualmente. Calculando a derivada de v em relação ao tempo, temos que: Assim, encontramos a relação entre aceleração angular e variação da velocidade com o tempo. Agora, vamos analisar a derivada do segundo termo da aceleração. Temos que: Agora, podemos escrever o vetor aceleração como: a⃗(t) = rαt̂ – vωr̂ A Figura 6 mostra a relação entre a aceleração linear e suas componentes com a aceleração angular. A aceleração tem, então, uma componente radial e outra tangencial, que dependem do valor de α. A aceleração que varia a direção do vetor velocidade e não altera o seu módulo é chamada de aceleração centrí- peta ac e aponta para dentro, na direção radial. Assim, podemos escrever que: a⃗ = att̂ + acr̂ 11Movimento circular O valor da aceleração centrípeta é, então (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012; MARQUES; UETA, 2007): Figura 6. Relações entre aceleração linear, suas componentes e aceleração angular. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 287). Já o valor da aceleração é dado por: Força centrípeta A força centrípeta é aquela necessária para a aceleração centrípeta do movi- mento circular. Ela aponta para dentro, e o seu valor é dado por: onde m é a massa do corpo em questão. Movimento circular12 2 Movimentos circular e linear A partir do que foi visto na seção anterior, podemos relacionar as grandezas lineares às grandezas angulares do movimento circular. A Figura 7 resume essas relações. Figura 7. Relações entre as grandezas lineares e angulares no movimento circular. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 294). Um corpo em rotação tem seu deslocamento angular dado por: com o tempo t em segundos e θ em rad. O raio é 1,0 m. Encontre a velocidade e a aceleração angulares e os seus correlatos lineares. Para encontrarmos a velocidade angular, utilizamos: A aceleração angular é dada por: 13Movimento circular A figura a seguir mostra θ, ω e α pelo tempo. Os equivalentes lineares são dados por: Usando essas relações entre as grandezas lineares e angulares, podemos entender e resolver os diversos problemas envolvendo movimentação circular. A seguir, você verá alguns desses problemas. 3 Problemas envolvendo movimento circular A partir do que foi estudado nas seções anteriores, vamos agora verificar alguns problemas envolvendo os conceitos de movimento circular. Movimento circular14 Problema 1 Os planetas no nosso sistema solar apresentam movimentos de rotação e translação. A trajetória da Terra ao redor do Sol é aproximadamente circular, com período de um ano. Encontre a sua frequência angular, a sua velocidade angular e a sua velocidade linear. Considere a distância entre a Terra e o Sol igual a 1,49 ∙ 1011 m. O período da órbita da Terra ao redor do Sol é de um ano. Transformando em segundos, temos que: A frequência é dada por: A velocidade angular é: Por fim, a velocidade linear é dada por: Transformando em km/h, temos que: Como se pode perceber, a velocidade é bastante alta. 15Movimento circular Problema 2 Suponha que um carro de 1.800 kg esteja fazendo uma curva à esquerda com raio de 80 m (Figura 8). Qual é a velocidade máxima que ele pode atingir sem derrapar? Considere o coeficiente de atrito estático do pneu com o chão de μe = 1,0. Figura 8. Carro em uma trajetória curvilínea de raio r para a esquerda, com velocidade v. Fonte: Knight (2009, p. 216). Nesse problema, enquanto o carro faz a curva, ele descreve um movimento circular, mesmo que não seja um ciclo completo. Assim, no que aproximada- mente é um quarto de um círculo, podemos analisar a sua dinâmica do ponto de vista de um movimento circular. A força que permite que o carro faça a curva sem derrapar é a força de atrito entre os pneus e o chão (Figura 9). Se ela não existisse, o carro pro- vavelmente derraparia para a frente, por conta da inércia. Assim, a força de atrito estático f e⃗ empurra o pneu para dentro do círculo. Ou seja, esse atrito é responsável pela aceleração centrípeta do movimento circular durante a curva. Movimento circular16 Figura 9. Força de atrito durante a curva. Fonte: Knight (2009, p. 216). A força de atrito estático atinge seu valor máximo, a certa velocidade máxima, sem que o carro derrape. Assim, fe, max = μen onde n é a normal. Ou seja, se o carro entrar na curva com velocidade que ultrapasse essa força, ele vai derrapar. A força de atrito aponta para a direção de r. O diagrama de forças corres- pondente é mostrado na Figura 10. Usando, então, o sistema de coordenadas rtz, as leis de Newton podem ser escritas como: 17Movimento circular Figura 10. Diagrama de forças do veículo. Fonte: Knight (2009, p. 216). Da equação radial, podemos obter o módulo da velocidade. Assim, temos que: Da segunda equação, temos que: n = mg A força de atrito será máxima quando: fe = fe, max = μen = μemg Assim, a velocidade máxima será: Movimento circular18 Substituindo os valores dados no problema, obtemos que: Transformando para km/h, temos que: Ou seja, para não derrapar em uma curva de raio igual a 80 m, a velocidade máxima para fazer a curva é de 100,8 km/h. ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 1. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: mecânica. Porto Alegre: AMGH, 2012. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. v. 1. MARQUES, G. C.; UETA, N. Mecânica (Universitário). In: E-Física. São Paulo: USP, 2007. Disponível em: http://efisica.if.usp.br/mecanica/universitario. Acesso em: 16 abr. 2020. SAFIER, F. Pré-cálculo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. (Coleção Schaum) Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 19Movimento circular