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O texto a seguir, retirado do romance naturalista A carne, de Júlio Ribeiro, ilustra alguns dos 
elementos citados anteriormente:
“Sentou-se rápido à beira da cama sem largar a moça, puxou-a para si, 
cingiu-a ao peito, segurou-lhe a cabeça com a mão esquerda, e, nervoso, 
brutal, colou-lhe a boca na boca, achatou os seus bigodes ásperos de 
encontro aos lábios macios dela, bebeu-lhe a respiração. Lenita tomou-se de 
um sentimento inexplicável de terror, quis fugir, fez um esforço violento para 
desenlaçar-se, para soltar-se. Era o medo do macho, esse terrível medo 
fisiológico que, nos pródromos do primeiro coito, assalta a toda mulher, a 
toda fêmea. Baldado intento! Retinham-na os braços robustos de Barbosa: 
em suas faces, em seus olhos, em sua nuca os beijos dele multiplicavam-se: 
esses beijos ardentes, famintos, queimavam-lhe a epiderme, punham-lhe lava 
candente no sangue, flagelavam-lhe os nervos, torturavam-lhe a carne. Cada 
vez mais fora de si, mais atrevido, ele desceu à garganta, chegou aos seios 
túmidos, duros, arfantes. Osculou-os, beijou-os, a princípio respeitoso, 
amedrontado, como quem comete um sacrilégio; depois insolente, lascivo, 
bestial como um sátiro. Crescendo em exaltação, chupou-os, mordiscou-lhes 
os bicos arreitados. RIBEIRO, Júlio. A carne. 1888 (excerto)” 
O encontro sexual entre Barbosa e Lenita é apresentado como um ato 
de lascívia e sofreguidão. Da parte da moça, a expectativa é de terror, 
fundado num “medo fisiológico” próprio das fêmeas, característica 
compartilhada pelos seres humanos e os animais. A cena é de 
desumanização de um encontro que deveria ser amoroso, mas que reduz-se 
a seus aspectos animalescos, o que é enfatizado pela palavra “coito”. 
OBSERVAÇÃO
A prosa realista e naturalista no Brasil revelou vários escritores importantes, como Adolfo 
Caminha, Aluísio Azevedo, Antonio Sales, Baptista Cepellos, Domingos Olímpio, Horácio de Carvalho, 
Inglês de Sousa, Júlio Ribeiro, Lindolfo Rocha, Machado de Assis, Manoel de Oliveira Paiva, Papi Jr., 
Pardal Mallet e Rodolfo Teófilo. Nos próximos tópicos, abordaremos aspectos da obra de dois desses 
escritores: Adolfo Caminha e Aluísio de Azevedo.
EXERCITANDO
1.(FEI) LEIA ATENTAMENTE. 
I. A segunda revolução industrial, o cientificismo, o progresso tecnológico, o socialismo utópico, a 
filosofia positivista de Auguste Comte, o evolucionismo formam o contexto sócio-político-
econômico-filosófico-científico em que se desenvolveu a estética realista.
II. O escritor realista acerca-se dos objetos e das pessoas de um modo pessoal, apoiando-se na 
intuição e nos sentimentos.
III. Os maiores representantes da estética realista-naturalista no Brasil foram: Machado de Assis e 
Aluísio Azevedo.
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