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TEORIA GERAL DA AUDITORIA UNIDADE II O PROCESSO DE AUDITORIA Elaboração Róbison Castro Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO UNIDADE II O PROCESSO DE AUDITORIA ...........................................................................................................................................................5 CAPÍTULO 1 ESTUDO DA AUDITORIA COMO PRÁTICA ........................................................................................................................... 5 CAPÍTULO 2 O RECONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DE UM “PROCESSO DE AUDITORIA” ..................................................... 12 CAPÍTULO 3 O “PROCESSO DE AUDITORIA” COMO PROCESSO ESTRUTURADO DE CONHECIMENTO ............................ 16 CAPÍTULO 4 O PROCESSO DE AUDITORIA NA AUDITORIA INDIVIDUAL....................................................................................... 17 CAPÍTULO 5 ETAPAS DO PROCESSO DE AUDITORIA (MODELO) ...................................................................................................... 18 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................19 4 5 UNIDADE IIO PROCESSO DE AUDITORIA CAPÍTULO 1 ESTUDO DA AUDITORIA COMO PRÁTICA Scherrer et al. (2017) nos ajuda comentando que a definição de auditoria não se distancia, em momento algum, da de contabilidade. Ao contrário, auditoria e contabilidade caminham sempre na mesma direção, com aquela responsável pelas verificações dos registros e das atividades desenvolvidas por esta. Dessa forma, deduz-se claramente que a auditoria surgiu em época concomitante à sistematização contábil, pois o processo de exame (atividade própria da auditoria) sempre se fez com propósito de criticar (validar ou apontar falhas) os procedimentos adotados quando da contabilização dos fatos. No Brasil, os serviços de auditoria independente foram regulamentados pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC, através da Resolução CFC 321/1972, elaborada pelo então Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, hoje IBRACON. Atualmente, as normas de auditoria independente são reguladas pela Resolução CFC 820/1997, que revogou as Resoluções 700 e 701/1991 (SCHERRER et al., 2017, p. 76). Os autores nos informam que, quanto ao exercício pleno da auditoria contábil, essa é uma prerrogativa exclusiva do contador, devidamente registrado no CRC competente. Além do mais, tal exclusividade está atrelada aos conhecimentos próprios da contabilidade, haja vista que o auditor, quando da execução de seu trabalho, analisará os demonstrativos contábeis. Especificamente no Brasil, os órgãos relacionados à auditoria são os seguintes, conforme nos informam Scherrer et al. (2017): » Comissão de Valores Imobiliários (CVM): criada pela Lei nº 6.385/1976, é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Consiste em um dos órgãos 6 UNIDADE II | O PROCESSO DE AUDITORIA fiscalizadores do mercado de capitais no Brasil. Para que o auditor externo exerça suas atividades, exige-se do profissional o competente registro nesse órgão. » Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON): fundado em 13/12/1971, é constituído sob a forma de pessoa jurídica, sem fins lucrativos. Tem como objetivos primários fixar princípios de Contabilidade e elaborar normas relativas ao exercício da auditoria e perícia (contábeis), seja essa auditoria externa ou interna. » Conselho Federal de Contabilidade (CFC): criado pelo Decreto-lei nº 9.295, de 27/5/1946, é o órgão regulamentador da profissão contábil brasileira. » Instituto dos Auditores Internos do Brasil (AUDIBRA): criado em 20/11/1960, tem como objetivo principal promover o desenvolvimento da auditoria interna, mediante encontros, seminários, congressos, intercâmbios e outras atividades congêneres, sempre com o propósito aqui relatado. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TI 01 – Da auditoria interna, de 21 de novembro de 2003. Disponível em: www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_986.pdf. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PP 01, de 27 de fevereiro de 2015. Disponível em: www.normaslegais.com.br/legislacao/nbc-pp-01-2015.htm. O auditor precisa garantir o cumprimento das normas de contabilidade e de auditoria no desempenho de suas funções profissionais. Ele deve ter um bom conhecimento das técnicas de auditoria, das evidências e da documentação. O uso de técnicas, evidências e documentação adequadas permite que o auditor cumpra seus papéis estatutários (ou outros) de modo que não deixe dúvidas quanto à natureza do trabalho a outros profissionais quando esses precisarem revisar ou avaliar seus documentos de trabalho. A adesão às regras éticas e as orientações sobre independência, objetividade, integridade, confidencialidade, habilidades, cuidado e competência permitem ao auditor agir de maneira profissional e conquistar o respeito de investidores, empresários, clientes e todos os stakeholders. Também permitem que ele alinhe sua conduta, regularmente, de modo a não violar os regulamentos de seus órgãos profissionais e a lei. Os conceitos de visão verdadeira e justa, materialidade e julgamento orientam o auditor na condução de sua designação. Eles ajudam-no a conhecer o nível das questões às quais deve prestar atenção e os assuntos que precisam ser trabalhados com maior cuidado. Na condução da auditoria de uma entidade, o auditor é apresentado com evidência de auditoria e outras informações que suportam afirmações, classes de transações e saldos. Ele precisa verificar as evidências e informações disponibilizadas nos documentos primários e examinar o início, a autorização, os lançamentos, entre outros. 7 O PROCESSO DE AUDITORIA | UNIDADE II O auditor aborda seu trabalho com ceticismo profissional, por isso não deve acreditar prontamente no que lhe é apresentado. Essa atitude permite-lhe identificar erros que precisam ser corrigidos para garantir a detecção antecipada de quaisquer distorções relevantes nas demonstrações financeiras sobre as quais está fornecendo uma opinião de auditoria. Ele deve usar princípios de verificação para fundamentar as evidências fornecidas, quais sejam: a. confirmar autorização; b. verificar a existência real do que lhe foi apresentado; c. confirmar custos ou valores; d. confirmar título; e. realizar inspeção física; f. verificar a integridade; g. apresentar e divulgar. Os procedimentos de verificação em relação aos ativos e passivos contidos em um conjunto de demonstrações contábeis baseiam-se fortemente em se as transações originais são registradas com precisão e se é feita a distinção apropriada entre a natureza do capital e a receita. Os procedimentos de verificação também dependem de as transações serem devidamente autorizadas, de acordo com os procedimentos de autorização da entidade. 11.13.6.2 – O auditor deve avaliar se os dados em que a estimativa se baseia são precisos, completos e relevantes. Se dados contábeis forem utilizados, eles devem ser uniformes com os processados no sistema contábil. Exemplificando ao examinar uma provisão para garantia, o auditor deve obter evidências de auditoria de que os dados relacionados com os produtos, ainda cobertos pela garantia ao final do período, foram obtidos no sistema contábil (CFC, 2008, p. 311). Ademais: 11.13.6.3 – Fontes externas à entidade também podem ser utilizadas pelo auditor na busca da evidência necessária para a formação do juízo sobre o valor da estimativa. Por exemplo, ao examinar uma provisão para obsolescência de estoques calculada em relação a vendas futuras previstas, o auditor pode, além de examinar os dados internos, como pedidos em carteira, tendências de mercado e níveis 8 UNIDADE II | O PROCESSO DE AUDITORIA de vendas passadas, procurar evidência das análises de mercado e projeções de vendas produzidas pelo setor (CFC, 2008, p. 311). O auditortem de usar qualquer uma ou mais de uma combinação dessas abordagens básicas para avaliar a razoabilidade de uma estimativa, a saber: a. revisar e testar o gerenciamento do processo usado para desenvolver a estimativa; b. desenvolver, independentemente, uma expectativa da estimativa para corroborar a razoabilidade da estimativa da administração; c. revisar eventos ou transações que ocorram após a data das demonstrações financeiras (mas antes da conclusão da auditoria) que forneçam um valor real para comparar estimativas. Para a aplicação da abordagem supracitada, o auditor deve: a. obter uma compreensão da gestão do processo estabelecido para desenvolver a estimativa; b. avaliar os riscos inerentes e de controle relacionados ao processo da administração para o desenvolvimento da estimativa; c. identificar e avaliar os principais fatores e premissas usados pela administração para formular a estimativa. Os procedimentos a seguir são úteis para identificar e avaliar os principais fatores e premissas que são exclusivos das estimativas contábeis de auditoria: a. analisar os históricos dos dados usados no desenvolvimento das premissas para avaliar se são comparáveis e consistentes com os dados do período sob auditoria; determinar se é suficientemente confiável; b. considerar se mudanças no negócio ou na indústria, ou em outros fatos, ou circunstâncias, podem fazer com que fatores diferentes daqueles considerados no passado se tornem significativos para a estimativa contábil; c. revisar a documentação disponível das premissas utilizadas no desenvolvimento da estimativa contábil e indagar sobre quaisquer outros planos, metas e objetivos relevantes da entidade; considerando sua relação com as premissas; d. avaliar se as premissas são consistentes entre si, com os dados de suporte e com dados históricos relevantes; e. concentrar-se nos fatores e nas premissas principais que são: 9 O PROCESSO DE AUDITORIA | UNIDADE II I. material para a estimativa; II. estar sensível a variações; III. sujeito a desvios dos padrões históricos. f. considerar o uso do trabalho de um especialista. Quando erros ou irregularidades são encontrados como resultado de testes substantivos, o auditor deve averiguar a razão para eles e considerar suas respectivas implicações. Diante disso, ao realizar a auditoria das demonstrações financeiras, os auditores devem cumprir as orientações éticas emitidas por seus órgãos profissionais competentes e relevantes nos seus contextos específicos. A ética é mais uma norma ou um certo código de conduta esperado de um grupo de indivíduos ou de um corpo profissional. Dita algum grau de valores internos esperados de tais grupos de indivíduos ou corpos. Os princípios éticos que governam as responsabilidades profissionais dos auditores incluem: a. integridade; b. objetividade; c. independência; d. competência profissional e devida diligência; e. comportamento profissional; f. confidencialidade. Por exemplo, os auditores que realizam auditorias de acordo com as ISSAI 200 – Princípios Fundamentais de Auditoria Financeira – estão sujeitos à “ISSAI 30 – Código de Ética”, conforme aplicado no contexto nacional. Dos auditores que atuam em EFS que tenham adotado as ISSAI do nível 4 como suas normas oficiais, ou que aplicam as ISA, é também exigido conformidade com o Código de Ética para Profissionais Contabilistas, emitido pelo Conselho de Normas Internacionais de Ética para Contabilistas (IESBA) (o Código IESBA), o qual estabelece princípios éticos fundamentais para profissionais contabilistas, ou devem adotar requisitos nacionais que sejam pelo menos tão exigentes quanto ele; o Código de Ética da INTOSAI, aplicado no contexto nacional pode ser relevante neste caso. As EFS devem, portanto, adotar os requisitos éticos 10 UNIDADE II | O PROCESSO DE AUDITORIA da ISSAI 30 ou o Código IESBA em seu ambiente para que possam declarar, nos seus relatórios, que a auditoria foi conduzida de acordo com as ISSAI ou as ISA (INTOSAI, 2013, p. 9). A seguir, podemos ver um quadro geral no âmbito auditorial: Figura 5. Quadro sinóptico da visão da auditoria. FinanceirosControlesGerenciaisContábeis Auditoria Atitude Mental Atitude PreventivaAtitude Profissional Patrimônio da entidade Demonstrações e informações contábeis Fonte: Attie (2018, p. 5). Para fins didáticos, Attie (2018) nos traz um roteiro do processo auditorial: Figura 6. Roteiro sinóptico do processo auditorial. Fonte: Attie (2018, p. 23). 11 O PROCESSO DE AUDITORIA | UNIDADE II De modo ilustrativo, a seguir, podemos observar a canalização que há das informações ocorridas dentro do processo organizacional: Figura 7. Canalização das informações em um processo organizacional. Atos Papéis FatosDocumentos Compilação Controles Pessoal Princípios de contabilidade Órgãos legais e reguladores, sociais, fiscais, etc. Formulários Sistema de informações de coleta e de controles internos Registros contábeis e de controles permanentes Demonstrações e informações contábeis Contábeis Gerenciais Financeiros Fonte: Attie (2018, p. 3). 12 CAPÍTULO 2 O RECONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DE UM “PROCESSO DE AUDITORIA” Considerando que o trabalho de auditoria não é mera justaposição de métodos e ferramentas (a exemplo de checklists, amostras, métodos analíticos, etc.), o processo que aproxima o auditor do objeto auditado foi-se consolidando ao longo dos anos, codificando-o e formalizando-o, o que acabou por permitir que um processo de auditoria fosse registrado em sua metodologia geral (POWER, 1999). O trabalho de auditoria realiza-se através da cobertura de etapas lógicas, cada uma das quais constitui-se como prévia e necessária para a seguinte. Tais etapas constituem um processo complexo que exige pôr em prática um conjunto de atividades que formam uma unidade, cada uma das quais por si mesma imprescindível, mas não suficiente, para obter a evidência necessária (VALDERRAMA, 1997, p. 139). Precisamos partir da compreensão de que os processos de trabalho prescritos têm, sistematicamente, uma natureza ordenada e “determinadas características comuns”. Há “razões suficientes para que iniciemos nossa aproximação à ‘auditoria como tecnologia’ através da noção do processo de auditoria” (BITTENCOURT, 2007, p. 323). Em linhas gerais, de acordo com Lins (2017), o processo de auditoria compreende três grandes etapas: I. planejamento; II. procedimentos para obtenção de evidências; III. emissão do relatório. A representação a seguir ilustra essa abordagem: Figura 8. Esquema do processo de auditoria. Contrato assinado Avaliação dos CI/SI3 Avaliação dos riscos da auditoria Planejamento Revisão analítica Procedimentos de Auditoria Testes de transações Testes de saldos Emissão do parecer e Relatório de recomendações (facultativo) Fonte: Lins (2017, p. 76). 13 O PROCESSO DE AUDITORIA | UNIDADE II As fases, por sua vez, podem ser melhor detalhadas, conforme segue: Quadro 1 - Processo de Auditoria FASE DE PLANEJAMENTO Considerar as precondições de uma auditoria e aceitar ou rejeitar os trabalhos. Obter entendimento da entidade e de seu ambiente, determinar sua materialidade e avaliar os riscos de distorções relevantes. Desenvolver uma estratégia e um plano de auditoria para responder aos riscos avaliados. FASE DE TESTES Testar os controles internos? Sim / Não. Realizar testes de controle, caso a resposta tenha sido “Sim”. Realizar testes substantivos de transações. Realizar testes substantivos de balanços. Avaliar a probabilidade de que haja distorções relevantes. FASE DE DECISÕES Examinar as asserções sobre apresentação e divulgação. Avaliar as evidências para determinar se as demonstrações financeiras estão preparadas em conformidade com a estrutura de relatório financeiro aplicável. Emitir um relatório de auditoria. Comunicar-se com o Comitê de Auditoria. Fonte: Stuart(2014, p. 31). Considerando alguns outros testes, Lins (2017) nos traz outra abordagem esquemática em torno da observância e dos testes substantivos: Figura 9. Outra classificação, considerando os testes de auditoria. Avaliação dos CI/SI Teste de observância Avaliação dos riscos da auditoria Testes substantivos Testes de transações Testes de saldos Fonte: Lins (2017, p. 76). De maneira geral, ressalta Lins (2017), o que há de disponível, geralmente, é a área na qual todo trainee de auditoria externa tem o seu primeiro contato com a auditoria de 14 UNIDADE II | O PROCESSO DE AUDITORIA campo. Baseando-se no programa de auditoria disponível, as fases da auditoria são processadas por meio de cada uma das contas que o compõem: » caixa; » bancos conta movimento; » aplicações financeiras, em alguns casos. Lins (2017) nos chama a atenção apontando que o programa de auditoria é somente um indicativo das atividades mínimas que devem ser executadas pelo auditor e não algo completamente enrijecido e inalterável, pois nem poderia, dado o fator caso a caso de todo o processo. A experiência do auditor, o tipo de cliente e as condições do trabalho de campo é que vão determinar as possíveis modificações no programa de auditoria. Um dos principais objetivos da auditoria disponível é certificar- se da existência dos valores de posse/propriedade da empresa, bem como que não haja ônus sobre seus componentes. Para a conta caixa, o principal procedimento é a contagem física. No caso da existência de vários caixas, a contagem deve ser efetuada simultaneamente para evitar que possíveis faltas sejam completadas pelos caixas contados em um momento anterior. No caso dos bancos, utiliza-se como WP a própria conciliação bancária elaborada pelo cliente para cada banco e analisam- se as possíveis pendências, além de efetuar a circularização. Para as aplicações financeiras, são avaliados os valores aplicados, vencimentos e taxas de forma a calcular o valor da receita de juros pro rata tempore para a data do fechamento do balanço (LINS, 2017, p. 87). Em seguida, é possível verificar um exemplo resumido de programa de auditoria (disponível) conforme elaborado pelo autor: Tabela 1. Exemplo de programa de auditoria resumido. Área: disponível Cliente: Dunas S.A. Data: 31/12/XXXX Objetivos do exame: a. assegurar que os valores existem e estão corretamente classificados; b. assegurar que estão livres de ônus reais; c. certificar-se de que todos os saldos de caixa foram conferidos simultaneamente; 15 O PROCESSO DE AUDITORIA | UNIDADE II d. assegurar que as aplicações financeiras destinadas à negociação estão registradas pelo seu valor de mercado ou equivalente; e. certificar-se de que todas as contas-correntes e aplicações financeiras foram devidamente verificadas e circularizadas. Análise: Descrição WP Visto Elabore um WP contendo os dados do balanço final. Obtenha os saldos da conta caixa, bancos e aplicações financeiras e compare com a razão. Em 31/12/XXXX ou data anterior e próxima a essa, efetue a contagem física do caixa evidenciando as possíveis discrepâncias ou a existência no caixa de qualquer valor que não seja numerário (dinheiro). Certifique-se da presença do responsável pelo caixa durante toda contagem. A data e a hora da contagem não devem ser avisadas ao cliente. Efetue e evidencie o cut-off dos cheques. Para os cheques emitidos pendentes, verifique a sua compensação nos extratos bancários dos meses de janeiro e fevereiro. Evidencie esse fato. Obtenha a conciliação bancária de cada banco e evidencie e analise as possíveis pendências. Acompanhe o envio das correspondências de circularização aos bancos. Arquive e referencie as respostas das circularizações com os saldos dos bancos e aplicações financeiras. Avalie os juros das aplicações financeiras e certifique-se do seu valor e da sua contabilização dentro do regime de competência. Analise o valor registrado das aplicações financeiras e o valor de realização, ajustando-o se for o caso. Confirme com o setor jurídico do cliente, por meio de circularização, a inexistência de garantias dadas sobre o saldo do disponível. Fonte: Lins (2017, p. 88). Há ainda diversos outros exemplos que poderiam ser mencionados, para clientes, de estoques, despesas pagas antecipadamente, fornecedores, salários e encargos a pagar, impostos a recolher, empréstimos etc. 16 CAPÍTULO 3 O “PROCESSO DE AUDITORIA” COMO PROCESSO ESTRUTURADO DE CONHECIMENTO Apenas a mera observação não compõe o processo de auditoria. Trata-se, sim, por um lado, de um processo estruturado, que estrutura, por assim dizer, a complexa produção feita no mundo real e prático, cuja finalidade é utilitária e racional. Por outro lado, a própria abrangência da demanda pela auditoria implica, por si só, um produto – que é o trabalho do auditor – que terá efeito em terceiros. Desse modo, há forte responsabilidade sobre a comunidade de praticantes. As normas ou os padrões oficiais de procedimento resguardam a responsabilidade do auditor, uma vez que incorporaram as “melhores práticas” ou o zelo profissional exigível a esse profissional: “1.4.2 – A devida diligência profissional impõe a cada pessoa da organização do auditor a responsabilidade do cumprimento das normas na execução do trabalho e na emissão do relatório” (ICAC, 1991 apud VALDERRAMA, 1997, p. 373). A razão de ser das normas de trabalho é objetivizar a conduta do auditor facilitando que se siga o cuidado e a diligência apropriados. Permitem garantir o cumprimento de um mínimo de requisitos indispensáveis, estabelecendo pautas de conduta homogênea para todos os profissionais da auditoria que servem de guia para a execução do trabalho, de prova de que ele foi levado a cabo e de garantia de qualidade (VALDERRAMA, 1997, p. 139). Em uma perspectiva geral e sistemática das orientações e práticas de distribuição e sequenciamento do trabalho de auditoria, é bastante notório o processo que estamos trabalhando, isto é, planejamento, execução e produção de relatório. “É necessário que o auditor [...] procure enxergar além da simples repetição de práticas, verificando o sentido intrínseco daquilo que observa”. Ademais, faz-se necessário “isolar pelo pensamento os elementos essenciais do processo e as relações entre eles, vinculando fenômenos e causas” (BITTENCOURT, 2007, p. 362). Nesse caso concreto, não poderíamos deixar de associar as etapas do trabalho de auditoria à sua própria definição conceitual, tratada anteriormente, conferindo em cada etapa do trabalho qual ou quais elementos essenciais da auditoria a referida etapa procura produzir ou aperfeiçoar. Em suma, vale ressaltar a aplicação fundamental que se tem do aspecto sequencial que as atividades possuem, seguida de sua respectiva ordenação e inter-relação. A forma como se lhes nomeie ou as etapas em que se lhes agrupe são meramente convenções – aqui adotaremos aquelas que nos pareçam mais práticas, mas autores, organizações e leitores variam a nomenclatura sem que a análise conceitual seja afetada. 17 CAPÍTULO 4 O PROCESSO DE AUDITORIA NA AUDITORIA INDIVIDUAL Nosso foco doravante está voltado para as etapas do processo de auditoria individual, dentro de uma sequência ordenada de atividades que configuram um serviço de auditoria determinado, especificado em seus objetivos e em sua duração. Podem ser, por exemplo, a auditoria contábil dos demonstrativos de uma determinada empresa em um dado ano, ou a verificação dos procedimentos de licitação e contratos adotados por uma universidade pública nos últimos três anos, ou uma avaliação do atingimento dos resultados de uma campanha de vacinação preventiva contra alguma doença transmissível. Como já foi dito, o processo que vamos estudar associa as etapas do trabalho de auditoria aos componentes da definição conceitual dessa atividade, tal como vimos anteriormente;cada etapa do trabalho tem por finalidade produzir ou aperfeiçoar algum dos elementos essenciais da auditoria. 18 CAPÍTULO 5 ETAPAS DO PROCESSO DE AUDITORIA (MODELO) A figura a seguir representa o modelo completo. Em geral, é mantida a divisão que trabalhamos – planejamento, execução e relatório. No entanto, não são somente três estágios básicos, um seguido do outro. Ao contrário disso, é possível verificar que cada uma das etapas dadas como convencionais possui uma divisão mais bem caracterizada de quais são suas diferentes tarefas componentes e da relação entre elas. Figura 10. O Processo da Auditoria Individual. IDENTIFICAÇÃO DAS QUESTÕES DE AUDITORIA SELEÇÃO DA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA SELEÇÃO DOS CRITÉRIOS DE AUDITORIA PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA OBTENÇÃO (coleta e análise de dados) AVALIAÇÃO RACIOCÍNIO LÓGICO OPINIÃO RELATÓRIO OUTROS PRODUTOS (análises causa-efeito, recomendações) DESTINATÁRIO DA OPINIÃO DE AUDITORIA EVIDÊNCIA Documentar em papéis de trabalho = PL A N EJ A M EN TO EX EC U Ç Ã O R EL AT Ó R IO Fonte: Bittencourt (2007, p. 393) adaptado de Pérez (1996, p. 87; 148-149). 19 REFERÊNCIAS ALGEMENE REKENKAMER. Manual of regularity audit. 2019. Disponível em: http://www. rekenkamer.nl. Acesso em: 5 jul. 2019. ALMEIDA, M. C. Auditoria: abordagem moderna e completa. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. ARAÚJO, I. P. S. Introdução à auditoria: breves apontamentos de aula – aplicáveis à área governamental e aos programas de concursos públicos. Salvador: Egba, 1998. ARAÚJO, I. da P. S. Introdução à auditoria operacional. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2001. ATTIE, W. 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UNIDADE II O Processo de Auditoria Capítulo 1 Estudo da auditoria como prática Capítulo 2 O reconhecimento da existência de um “processo de auditoria” Capítulo 3 O “processo de auditoria” como processo estruturado de conhecimento Capítulo 4 O processo de auditoria na auditoria individual Capítulo 5 Etapas do processo de auditoria (modelo) Referências