Prévia do material em texto
1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA GESTÃO PÚBLICA NA PERSPECTIVA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA MÓDULO 9 Profª. Drª. Andréa Cristina Dörr 2 Lista de Figuras Figura 1 - Instrumentos de Planejamento da Políticas Públicas. ............................................................................. 16 Figura 2 - Receita Municipal ............................................... 20 Figura 3 - BSC Adaptado aos Serviços Públicos. .............. 44 Figura 4 - BSC Aplicada à Gestão de uma Escola. ........... 45 Figura 5 - Matriz FOFA/SWOT. .......................................... 49 Figura 6 - Ciclo PDCA. ....................................................... 51 Figura 7- Etapas de Elaboração e Implementação do PES. ............................................................................................ 55 Figura 8 - Dimensões que Compõem a Estrutura do Plano de Ações Articuladas. ......................................................... 57 Figura 9 - Etapas de Elaboração do PAR. ......................... 57 Figura 10 - Atores Presentes na Discussão do Diagnóstico do PAR................................................................................ 58 Figura 11 - Dimensões do Instrumento de Diagnóstico. .... 60 Figura 12 - Critérios para a Pontuação. ............................. 61 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081292 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081293 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081294 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081296 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081300 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081300 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081301 file:///C:/Users/Fábio/Desktop/PRADIME/Módulos%20definitivos/Módulo%209/Módulo%209%20-%20COMPLETO.docx%23_Toc394081302 3 Lista de Quadros Quadro 1 - Missão, Visão, Valores e Objetivos Estratégicos da Prefeitura Municipal de Vila Velha-ES ......Erro! Indicador não definido. Quadro 2 - Missão, Valores e Visão da Escola de 1º Grau Maria D'Ajuda Silva Vieira, Município de Itabela-BA. ......... 41 Quadro 3 - Exemplos de Indicadores no Modelo de Gestão BSC ..................................................................................... 43 Quadro 4 - Missão, Visão e Estratégia do GesPública. ..... 46 Quadro 5 - Ferramentas de Gestão Utilizadas no GesPública. ........................................................................ 46 Quadro 6 - Diferenças entre o Planejamento Tradicional e o PES. .................................................................................... 52 4 Lista de Siglas BACEN Banco Central do Brasil BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento BSC Balanced Scorecard CF Constituição Federal CMN Conselho Monetário Nacional COFINS Contribuição para Financiamento da Seguridade Social CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos FGT S Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FOFA Pontos Fortes, Oportunidades, Pontos Fracos e Ameaças GESPÚBLICA Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização ICMS Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IGP-DI Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna IGP-M Índice Geral de Preços do Mercado INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IPC-FIPE Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IPTU Imposto Predial Territorial Urbano IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores IRPF Imposto de Renda de Pessoa Física IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurídica ISS Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza KM Quilômetro LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação e Cultura MEGP Modelo de Excelência em Gestão Pública NTN-B Notas do Tesouro Nacional Série B NTN-C Notas do Tesouro Nacional Série C PAF Plano de Ações Financiáveis PBQP Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade PDE Plano de Desenvolvimento da Educação PE Planejamento Estratégico PIB Produto Interno Bruto 5 PIL Produto Interno Líquido PIS Programa de Integração Social PNB Produto Nacional Bruto PNE Plano Nacional de Educação PNL Produto Nacional Líquido PNQ Prêmio Nacional da Qualidade PPA Plano Plurianual PPC Poder de Paridade de Compra REE Renda Enviada ao Exterior RLEE Renda Líquida Enviada ao Exterior RNB Renda Nacional Bruta RRE Renda Recebida do Exterior RS Rio Grande do Sul SAC Serviços de Atendimento ao Cidadão SIMEC Monitoramento, Execução e Controle SWOT Strenght, Weaknesses, Opportunities, e Threats 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................ 7 UNIDADE 1 .......................................................................... 8 1. INTRODUÇÃO À GESTÃO .............................................. 8 1.1. Fundamentos e Princípios da Administração Pública 8 1.2 Centralização e Descentralização ............................ 11 1.3 Conceitos acerca da Gestão Pública ....................... 13 1.4 Gestão Estratégica no Setor Público........................ 15 ATIVIDADE 1 – UNIDADE 1: Tarefa .................................. 22 ATIVIDADE 1 – UNIDADE 1: Fórum de discussão ............ 22 UNIDADE 2 ........................................................................ 23 2. ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO ............................... 23 2.1. O Papel do Governo na Economia .......................... 23 2.2. Políticas Públicas na Educação .............................. 23 2.2.1. Transporte Escolar para a Educação Básica - Caminho da Escola ..................................................... 23 2.2.2. Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) ........................................................ 25 2.2.3. Alimentação Escolar na Educação Básica (PNAE) ........................................................................ 26 2.2.4. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)... 27 2.2.5. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básicae de Valorização dos Profissionais da Educação(FUNDEB) ................................................... 29 ATIVIDADE 1 – UNIDADE 2: Tarefa .................................. 32 ATIVIDADE 2 – UNIDADE 2: Fórum de Discussão............ 33 UNIDADE 3 ......................................................................... 33 3. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ................................ 33 3.1. Fundamentos sobre Planejamento Estratégico ....... 33 3.2 Planos Educacionais e Planejamento Estratégico ... 36 3.3. Definição da Missão, Visão do Futuro e Valores ..... 39 3.4. Modelos de Planejamentos Estratégicos e Aplicações ........................................................................................ 42 3.4.1. Modelo Balanced Scorecard (BSC) .................. 42 3.4.2. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública) ................................ 46 3.4.3. Análise de Ambiente Interno e Externo (Matriz FOFA/SWOT) .............................................................. 48 3.4.4. Ciclo PDCA ....................................................... 50 3.4.5. Planejamento Estratégico Situacional (PES).... 52 3.4.6. Plano de Ações Articuladas (PAR) ................... 56 ATIVIDADE 1 – UNIDADE 3 - Tarefa ................................. 62 ATIVIDADE 2 – UNIDADE3–Fórum de discussão ............. 62 REFERÊNCIAS .................................................................. 63 7 APRESENTAÇÃO Prezado(a) Dirigente Municipal da Educação: Vamos dar início ao módulo de Planejamento Estratégico na Gestão Pública na Perspectiva da Gestão Democrática, o qual está subdividido em 3 unidades. Dessa forma, acompanharemos as 3 unidades ao longo de 8 semanas e, ao final de cada unidade, teremos um exercício obrigatório a ser postado no Moodle. Fiquem tranquilos que a equipe pedagógica irá auxiliá-los durante todo o período, tanto na leitura do material como também na resolução dos exercícios. Ao final de cada unidade, disponibilizamos a literatura consultada na elaboração deste material, bem como as bibliografias complementares que poderão subsidiar o seu aprofundamento sobre os conteúdos abordados. A Unidade 1 - Introdução à Gestão - apresenta os conceitos sobre a administração e a gestão estratégica no setor público. Essa unidade aborda os conceitos de uma maneira mais prática e direta a relevância da gestão dos recursos públicos. A Unidade 2 - Economia no Setor Público –mostra qual a importância da economia dentro da gestão pública e como o seu entendimento contribui para compreendermos o papel do governo na aplicação dos recursos públicos nos diversos setores. Por fim, a Unidade 3 - Planejamento Estratégico - apresenta os fundamentos sobre o planejamento estratégico. Além disso, agrega os conteúdos teóricos e práticos de diversos modelos de planejamento estratégico. Com base em exemplos, esperamos que esses conceitos e suas aplicações tornem- se mais compreensíveis. O exercício do Dirigente Municipal da Educação (DME) é, sem dúvida, de extrema responsabilidade e desperta outra condição para tal função: a de valorizar a contribuição de todos os atores sociais na formulação geral de metas, estratégias e identificação de possibilidades. Esse cenário pode ser designado de gestão democrática, envolve a interação comunidade local e comunidade escolar, as expectativas dos alunos, dos funcionários e dos professores. A participação conjunta representa ações demandadas, eficiência no trabalho e resultados precisos e satisfatórios. Esperamos que este módulo alcance o seu principal objetivo: proporcionar, ao DME, uma visão sistêmica sobre a teoria e a prática da gestão e do planejamento estratégico no setor público. Bom curso! Profa. Andréa Cristina Dörr 8 UNIDADE 1 1. INTRODUÇÃO À GESTÃO A Unidade 1 apresenta um panorama da ideia de gestão no setor público e está subdividida em quatro tópicos: princípios e fundamentos acerca da administração pública; centralização e descentralização; conceitos acerca da gestão pública e gestão estratégica no setor público. O conteúdo apresentado nesta Unidade irá contribuir para esclarecer quais os fundamentos que orientam as estratégias de ação dentro da gestão no setor público. Nesse cenário, destacamos que o gestor público possui um papel primordial na condução do trabalho em equipe e na prestação de serviços com eficiência e eficácia, além de agregar novos valores à administração pública em prol de serviços públicos de qualidade. É oportuno ressaltar que a construção de um plano de gestão com a equipe e os atores sociais faz parte do planejamento estratégico. Além disso, é de extrema relevância destacar que o gestor público tenha comprometimento nas ações cujos resultados indicam uma melhoria da qualidade da educação municipal. 1.1. Fundamentos e Princípios da Administração Pública O Estado existe, fundamentalmente, para realizar o bem comum: bem-estar, segurança e justiça. A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação a sua principal meta: a promoção do bem comum. Ele é composto, obrigatoriamente, por três elementos essenciais: povo, território e governo soberano. Por sua vez, as funções do Estado são exercidas por meio dos Poderes do Estado. A saber: (i) o Poder Legislativo tem como principal função a elaboração de leis (função legislativa); (ii) ao Poder Executivo, cabe a execução das leis (função administrativa); e (iii) o Poder Judiciário tem como função a aplicação das leis aos casos concretos (função judicial). O Estado, ao definir seus planos governamentais, necessita da administração pública para que eles possam ser concretizados. Assim, a administração pública é o instrumento do Estado para que a sua vontade seja efetivada. O governo – que pode ser entendido como o Estado em ação – apresenta-se como um elenco de objetivos, metas, ações 9 e medidas, delineadas pelo Estado, para serem realizadas em certo período e em locais e em áreas específicas. A administração pública é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do governo. Em outras palavras, é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral. Pode classificar-se, em sentido objetivo, conforme as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas, pelos órgãos e agentes incumbidos de atender concretamente às necessidades coletivas. Em sentido subjetivo, a administração pública se refere aos órgãos integrantes das pessoas jurídicas políticas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), os quais a lei (art. 18 da CF) confere o exercício de funções administrativas. Em 1988, a promulgação da Constituição Federal representou o início de um novo padrão na administração pública e incorpora as exigências de políticas mais descentralizadas, democráticas e de interesse público. O art. 37 da CF trata dos princípios inerentes à administração pública direta e indireta dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a qual obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Todo e qualquer ato da administração pública somente será válido quando respaldado em lei. O princípio da legalidade está definido no inciso II do art 5º da Constituição Federal, que explicita: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE A ação administrativa deve ser destinada a todos os administradores, sem descriminação ou favoritismo. Ademais,a administração deve visar sempre ao bem comum - interesse primordial da administração - a fim de que prevaleça o interesse público sobre o particular. A responsabilidade dos atos administrativos não deve ser imputada ao agente, e sim à pessoa jurídica. PRINCÍPIO DA MORALIDADE Constitui pressuposto de validade de todo ato da administração pública. Assim, tudo o que contrariar a moral 10 administrativa será inconstitucional, não podendo prevalecer (art. 37, § 4° da CF). PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Este princípio assegura a transparência dos atos da administração e possibilita uma fiscalização de toda a coletividade. Em princípio, nenhum ato administrativo poderá ser sigiloso, exceto aqueles relacionados à segurança da sociedade ou do Estado (art. 37, § 3° inciso II da CF). PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA Exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, tanto na contratação e na exoneração de agentes públicos, quanto nos serviços prestados por eles. Nos anos 1950-1960, houve uma modernização de alguns setores da administração pública brasileira, com a criação do Banco Nacional do Desenvolvimento(BNDE), do Banco Central, da Petrobrás, da Companhia Siderúrgica Nacional e de outras empresas estatais consideradas estratégicas. Foi o chamado período desenvolvimentista da gestão de Juscelino Kubitsckek, com o Slogan “cinquenta anos em cinco”. Conforme Teixeira e Santana (1995), estabeleceram-se, assim, grandes disparidades organizacionais, de formas de estruturação e atuação entre organismos do próprio aparelho de estado, constituindo diferenças regionais, setoriais, etc., em termos de estilo de atuação, objetivos, nível de modernização organizacional, salários, etc. Nessa época, surge como medida para as organizações o modelo burocrático de gestão, baseado na teoria clássica da Administração. Já na segunda metade da década de 1960 e na década de 1970, houve um avanço no papel do Estado na Economia e, ao mesmo tempo, passou a vigorar um modelo de centralização política e um crescente fortalecimento da esfera federal da administração, reflexo da estrutura estatal autoritária vigente. Uma reforma administrativa notável foi instituída pelo Decreto nº 200/1967, que institucionalizou uma maior autonomia para os órgãos da administração indireta. Podemos observar que o processo de evolução da administração pública no Brasil, entre a década de 1930 e a de 1990, desencadeou alguns padrões, dentre eles a fragmentação institucional e a separação entre a formulação e a implementação política. Nos anos de 1990, a reforma avançou na utilização dos conceitos de participação, accountability e controle social. A palavra accountability não 11 possui uma tradução exata na língua portuguesa e, de modo geral, está associada a um contexto político ou ético. Assim, accountability está ligada à ideia de obrigação de membros de um órgão administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados (MOTA, 2006). A discussão em torno das reformas do papel do Estado no Brasil foi fortalecida a partir de 1995, constituindo-se numa proposta ampla de sua reestruturação, abarcando os campos econômico, administrativo, previdenciário e político. Nesse sentido, a reforma propõe uma reconfiguração das estruturas estatais, baseada na substituição do modelo burocrático de administração pública por um modelo gerencial (BRESSER-PEREIRA, 1996). Em 1997, começou a surgir uma linha cada vez mais nítida de separação entre a gestão pública e a privada, pois se percebeu que não poderiam ser aplicados os mesmos princípios, métodos e técnicas da qualidade do setor privado sem adaptações para o setor público. Dessa forma, por se tratar de um modelo pós-burocrático, buscou-se importar ferramentas de gestão provenientes do setor privado, focalizando o sucesso da eficiência econômica do Estado. Em linha com as experiências internacionais, iniciou-se um amplo processo de revisão das formas de prestação dos serviços públicos no Brasil. Além dos princípios citados acima, podemos mencionar ainda duas outras grandes questões que perpassam as políticas públicas educacionais contemporâneas: a centralização ea descentralização e a gestão democrática na gestão educacional. A Constituição Federal (CF) de 1988 foi um importante marco para a democratização da educação. Ela reforçou o movimento de gestão democrática da educação (Art. 206), que teve um grande avanço nas décadas de 1980 até meados da década de 1990. Segundo Oliveira (2009), as reformas educacionais dos anos 1990 apresentam, como principal traço, a tentativa de modernização administrativa do aparato público. O modelo centralizado de planejamento passa a ser substituído por um modelo de gestão mais flexível. O papel desempenhado pela gestão democrática passa a ser de fundamental relevância na condução das políticas públicas educacionais. 1.2 Centralização e Descentralização A Federação é uma forma de organização político- territorial baseada no compartilhamento tanto da legitimidade 12 como das decisões coletivas entre mais de um nível de governo (ABRÚCIO; FRANZESE, 2007). O federalismo é uma forma de organização política compatível com o Estado moderno, criado nos Estados Unidos em 1787. Segundo Saldanha (2009), uma das principais características do federalismo é a descentralização política, em que cada ente da federação detém competências próprias e encontra seu fundamento na constituição federal. A evolução do Estado brasileiro foi, ao mesmo tempo, marcada pelas disputas entre o poder central e as oligarquias regionais, o que resultou num movimento pendular, alternando-se entre a centralização e a descentralização (RÉGIS, 2009). Na Primeira República (1889-1930), marcada por amplo domínio das oligarquias, o federalismo não esteve, inicialmente, associado nem ao desenvolvimento econômico nem à implantação da democracia (COSTA, 2010). Foi o período em que os grupos dominantes nos Estados tiveram grande autonomia em relação ao poder central. Posteriormente, a crise mundial dos anos 1930 assinalou a falência do liberalismo econômico e político e também teve reflexos no Brasil. A Era Vargas(1930-1945) foi marcada pela expansão de regimes autoritários, altamente centralizados, nos quais a autonomia dos Estados praticamente deixa de existir [“Estado Novo” (1937-1945)]. Com a instalação de um novo regime, marcado pelas regras democráticas da Constituição de 1946, o federalismo voltava a ser o fundamento político-territorial do país. O regime militar (1964-1985) teve como diretriz a maior centralização possível do poder. A CF de 1988 amplia as competências dos Estados- membros, estabelece um papel de destaque para os Municípios e determina quais as competências de cada uma das partes que compõem a Federação. A Constituição identifica o Município como um dos entes integrantes da Federação. Entre outras atribuições, os Municípios podem legislar sobre assunto de interesse local e a fiscalização será exercida pelo Poder Legislativo municipal, isto é, pelos Vereadores e pelo Poder Executivo municipal. Entretanto, a CF de 1988 potencializou os desequilíbrios federativos, pois não previu a adequada fonte de recursos para o provimento de serviços públicos descentralizados, ao mesmo tempo em que ampliou as responsabilidades das unidades subnacionais, particularmente, dos municípios, com os direitos sociais. Assim, a Constituição Federal de 1988 iniciou um processo de políticas descentralizadas num paísextremamente heterogêneo (ARAÚJO, 2013). Na década de 1980, no 13 contexto da redemocratização, a cidadania foi trazida ao primeiro plano das questões educacionais, constituindo o fundamento das políticas de universalização, com equidade, da escola pública, quando os excluídos passam a ter acesso ao conhecimento e a adquirir condições de participação política (BORDIGNON, 1996). A CF de 1988 faz uma escolha por um regime normativo e político, plural e descentralizado, no qual se cruzam novos mecanismos de participação social com um modelo institucional cooperativo, que amplia o número de sujeitos políticos capazes de tomarem decisões (CURY, 2005). Em linha com o autor, Abrúcio (2010) destaca que o processo de descentralização foi impulsionado pela maior autonomia concedida aos Estados, Municípios e escolas na gestão do pedagógico e no financeiro da educação, bem como pela participação da sociedade civil na responsabilização na garantia do direito à educação. Conforme UNDIME (2012a), a gestão democrática é uma forma de exercitar a democracia participativa e contribuir para a própria democratização da sociedade. Portanto, para Souza, Meneses e Silva (2010), a participação da sociedade na gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da administração pública torna-se um complemento indispensável ao controle institucional realizado pelos órgãos que fiscalizam os recursos públicos. Essa participação é importante porque contribui para a qualidade da aplicação dos recursos públicos, fazendo com que as necessidades da sociedade sejam atendidas de forma eficiente. Para Guimarães (2007), a participação da sociedade civil nesses processos provoca, mesmo que de maneira embrionária, a democratização da gestão municipal. E o exercício dessa cidadania se concretiza por meio de conselhos. Nesse sentido, os conselhos podem ser classificados conforme as funções que exercem. Souza, Meneses e Silva (2010) enfatizam que os conselhos podem desempenhar, conforme o caso, funções de fiscalização, mobilização, deliberação. Entretanto, Serrano (2013) destaca que o grande desafio para os atores que atuam na fiscalização da aplicação dos recursos públicos é atuar em rede. A fiscalização se fragiliza e abre espaços para a ineficiência quando é feita sem articulação. 1.3 Conceitos acerca da Gestão Pública O início da gestão pública se caracteriza por um período de grande expectativa, no qual o governante 14 apresenta as suas propostas de governo. Desse modo, o plano se constitui em um elo entre a política e a gestão, na medida em que explicita objetivos, recursos, competências e, de modo particular, os agentes e os mecanismos de articulação entre eles e as políticas propostas pelo plano. Visto isso, o ambiente do gestor público requer conhecer realisticamente os desafios que o caminho coloca, articulando três variáveis: o projeto de governo, a governabilidade e a capacidade de governo (MATUS, 1996). O projeto de governo é formado pelos objetivos do ator; suas propostas de ação − o que é possível fazer. A governabilidade do sistema é a relação entre as variáveis que o ator controla e as que não controla − quanto menor o número de variáveis sob controle do ator menor a sua governabilidade. E, por último, a capacidade de governo que engloba a capacidade de gestão, administração e controle - é a capacidade da gerar e comandar ações. Destacamos que essas três variáveis são interdependentes entre si. Assim, o projeto de governo precisa ser compatível com a governabilidade e com a capacidade de governo. E a qualidade dessas variáveis muda no decorrer do jogo, conforme o sucesso ou o insucesso do jogador dentro do jogo (MATUS, 1996). O campo da gestão tem sido pródigo em inovações, propostas de modelos, invadindo muitos outros domínios, como público e privado, social, político e organizacional. Vamos ver três conceitos importantes: Gestão pública: utilização de práticas na administração do setor público. A gestão está ligada ao planejamento, que é uma das principais funções do gestor. Planejamento: processo formalizado para gerar resultados a partir de um sistema integrado de decisões. Planejamento difere de improvisar. Estratégia: consiste na conexão a qualquer processo de tomada de decisão que atinge toda a organização por um prazo longo. Logo, é um conjunto de decisões e ações que tem, por finalidade, assegurar a coerência interna e externa da organização, mobilizando todos os seus recursos. Analisando de forma conjunta gestão, planejamento e estratégia, observamos que a administração pública consiste em uma prática, uma ação concreta, contínua, e o gestor nada mais é que um ente de ação. O gestor se baseia (idealmente) num máximo de saberes (científico ou tirado da reflexão sobre experiências) para ter a habilidade de tomar 15 decisões adequadas dentro de suas atividades, nas instituições nas quais atua (AKTOUF, 1996). A relevância da gestão dos recursos também é destacada por Matus (1996) como um requisito para governar e planejar dentro daqueles “espaços determinados do sistema social”. O autor considera que é ator somente aquele que tem capacidade de ação e peso coletivo e, por isso, não pode ser ignorado pelo restante da sociedade. Isso implica controle de algum recurso político, econômico, gerencial ou cognitivo e estar organizado politicamente. Dessa forma, sem preencher essas exigências, um ator não existe dentro do jogo social, por mais legítimo que seja seu objetivo. 1.4 Gestão Estratégica no Setor Público A administração pública burocrática foi adotada para substituir a administração patrimonialista, que definiu as monarquias absolutas, na qual o patrimônio público e o privado eram confundidos. Nesse tipo de administração, o Estado era entendido como propriedade do rei. Em virtude disso, revelou-se incompatível com o capitalismo industrial e as democracias parlamentares, que surgem no século XIX. A administração pública burocrática clássica foi adotada porque era uma alternativa muito superior à administração patrimonialista do Estado (BRESSER-PEREIRA, 1996). Entretanto, o pressuposto de eficiência em que se baseava não se revelou real. No momento em que o Estado se transformou no grande Estado social do século XX, assumindo um crescente número de serviços sociais e papéis econômicos, o problema da eficiência tornou-se essencial. Por outro lado, a expansão do Estado respondia não só às pressões da sociedade, mas também às estratégias de crescimento da própria burocracia. A necessidade de uma administração pública gerencial, portanto, decorre de problemas não só de crescimento e da decorrente diferenciação de estruturas e complexidade crescente da pauta de problemas a serem enfrentados, mas também de legitimação da burocracia perante as demandas da cidadania (BRESSER-PEREIRA, 1996). Dessa forma, com a promulgação da CF de 1988, foi introduzido no Brasil um novo modelo de planejamento e gestão referenciados no modelo de gestão empresarial. A partir desse modelo, foram delineadas novas bases metodológicas e operacionais para viabilizar uma mudança efetiva no planejamento, no orçamento e na gestão pública. O processo democrático trouxe para a arena os movimentos sociais, as exigências de maior transparência com os 16 negócios públicos e a prestação de contas (PARES; VALLE, 2006). Assim, o Estado deve planejar suas políticas públicas em conjunto com os segmentos representativos da sociedadecivil. Os instrumentos desse planejamento, definidos na CF de 1988, são apresentados na Figura 1. Figura 1 - Instrumentos de Planejamento da Políticas Públicas. Fonte: Dörr (2014). O Plano Plurianual (PPA) é previsto no § 1° do Artigo 165 da CF e regulamentado pelo Decreto n. 2.829, de 29 de outubro de 1998. O PPA estabelece diretrizes, objetivos e metas da administração pública para um período de 4 anos, organizando as ações do governo em programas que resultem em bens e serviços para a população. O primeiro PPA foi implantado no período de 2000-2003. Mais especificamente, a Lei nº 12.593, de 18 de janeiro de 2012, institui o PPA para o período de 2012 a 2015. II - a ampliação da participação social; III - a promoção da sustentabilidade ambiental; IV - a valorização da diversidade cultural e da identidade nacional; V - a excelência na gestão para garantir o provimento de bens e serviços à sociedade; VI - a garantia da soberania nacional; VII - o aumento da eficiência dos gastos públicos; VIII - o crescimento econômico sustentável; IX - o estímulo e a valorização da educação, da ciência e da tecnologia. Plano Plurianual (PPA) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) Lei de Orçamento Anual (LOA) ! Dica Conforme o Art. 4º, o PPA de 2012-2015, por exemplo, tem como diretrizes: I - a garantia dos direitos humanos com redução das desigualdades sociais, regionais, étnico-raciais e de gênero; 17 A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) define a visão tática, ou seja, estabelece os parâmetros para a elaboração do orçamento do exercício seguinte, atendendo a determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e os programas definidos como prioritários pelo governo. Em outras palavras, a LDO é o elo entre o planejamento estratégico (PPA) e o planejamento operacional (Lei Orçamentária Anual - LOA). Segundo o § 2º do art. 165 da CF, § 2.ºA lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. A gestão dos recursos públicos se baseia no princípio da legalidade, conforme estabelecido a Lei das Finanças Públicas, a Lei nº4.320/64; na Lei das Licitações, a Lei nº 8.666/93 e na Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Complementar nº 101/2000. E toda despesa efetuada na administração pública (Lei nº 4.320/64), de qualquer dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), deve seguir os três estágios, a saber: empenho, liquidação e pagamento. A Lei nº 8.666/93 estabelece, por sua vez, que as despesas devem ser efetuadas, sem privilegiar um ou outro fornecedor dos produtos, das obras ou dos serviços. Isto é, o gestor público deve observar o princípio constitucional da isonomia (igualdade de todos perante a lei). Por outro lado, deve selecionar a proposta mais vantajosa para a administração, conjugando com razoabilidade os critérios de preço e técnica. A Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101/2000, orienta para o planejamento, a transparência, o controle e a responsabilidade na gestão fiscal dos recursos públicos e a prestação de contas. Prevê, no seu art. 1º, § 1º, a responsabilidade de se buscar transparência na gestão pública, como foco para promover uma gestão fiscal e orçamentária responsável: ! Dica A LOA é comumente denominada orçamento. É a lei que estima os valores da receita e fixa os valores da despesa para determinado exercício. A partir da LOA, o cidadão identifica a destinação dos recursos que o governo recolhe sob a forma de impostos e nenhuma despesa pública pode ser executada fora do orçamento. 18 Art. 1º, § 1º.A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o compromisso de metas e resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dividas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar. Os pilares básicos da LRF são a transparência e a responsabilidade: Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. A lei estabelece, em regime nacional, parâmetros a serem seguidos relativos ao gasto público de cada ente federativo (estados e municípios) brasileiro. As restrições orçamentárias visam a preservar a situação fiscal dos entes federativos, de acordo com seus balanços anuais. Isso porque têm o objetivo de garantir a saúde financeira de estados e municípios, a aplicação de recursos nas esferas adequadas e uma boa herança administrativa para os futuros gestores. Entre seus itens, está previsto que cada elevação de gasto necessita vir de uma fonte de financiamento correlata, e os gestores precisam respeitar questões relativas ao fim de cada mandato, não excedendo o limite permitido e entregando contas saudáveis para seus sucessores. + Saiba mais Para fazer-se cumprir a LRF, é importante lembrarmos que uma das funções dos conselhos (citamos o Conselho do Fundo da Educação Básica (Fundeb), Conselho de Alimentação Escolar (CAE), Conselho Municipal da Educação (CME), Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb (CACs) é auxiliar na fiscalização e execução da gestão dos recursos para que ela se cumpra. Por isso, para que os conselhos desempenhem seu papel de forma efetiva, é necessário que o DME observe a composição dos membros, bem como as suas ações. Verifique no site do "Tesouro Nacional" (http://www3.tesouro.gov.br/hp/consulta.asp). Se o seu município está em dia com suas Contas Anuais. 19 A política fiscal refere-se a todos os instrumentos que o governo dispõe para a arrecadação de tributos (política tributária) e o controle de suas despesas (política de gastos). É importante lembrarmos que as políticas fiscais cumprem três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. A função redistributiva visa a assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. Além disso, as políticas fiscais podem ser: Contracionistas: são medidas fiscais que visam a diminuir os gastos da coletividade por meio do aumento da carga tributária e da diminuição dos gastos públicos. Expansionistas: as medidas fiscais são no sentido inverso, ouseja, visam a elevar a demanda agregada. Ademais, a Lei nº 5.172/1966 regulamenta o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Os Artigos 3° e 5° esclarecem sobre tributo: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria. Os impostos são os tributos que mais arrecadam e são categorizados em impostos diretos e indiretos. A receita ! Dica Por exemplo, conforme os dados do Ministério da Fazenda, o aumento do imposto sobre produtos industrializados (IPI), a partir de 01 de janeiro de 2014, irá aumentar a arrecadação do governo no montante de 1,146 bilhão de reais. ! Dica Citamos como exemplo o Programa Bolsa Família. O programa tem por objetivos combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; combater a pobreza e outras formas de privação das famílias; promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, saúde, educação, segurança alimentar e assistência social; e criar possibilidades de emancipação sustentada dos grupos familiares e desenvolvimento local dos territórios. 20 própria do município tem base de arrecadação composta de impostos, taxas e contribuições (Figura 2). Fonte: Dörr (2014). Receita municipal Impostos: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) Imposto sobre a Transmissão de Bens Inter Vivos (ITBI) Taxas: Taxas de Serviços Urbanos (TSU) Taxas de Poder de Polícia (TPP) Contribuições: Contribuição de Melhorias Contribuição para Iluminação Pública (CIP) Figura 2 - Receita Municipal 21 Os impostos diretos incidem diretamente sobre a renda, que é o caso do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) e do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ). Para que a gestão pública municipal consiga arrecadar os tributos de forma a alocar a carga tributária com equidade, é indispensável que a realidade, as necessidades locais e as leis sejam observadas. Conforme o art. 212 da CF, a aplicação de recursos da manutenção e desenvolvimento do ensino − no caso dos Estados, Distrito Federal e Municípios − não pode ser inferior a 25% da receita líquida de impostos e transferências. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. A vinculação das receitas definidas para o cumprimento dos índices mínimos de aplicação em saúde e educação, 15% (art.77 da CF) e 25%, respectivamente, assim como, o limite máximo de 60% com gasto com pessoal, demonstram que já existe um elevado comprometimento das receitas com despesas contínuas. Portanto, os gestores + Saiba mais Conforme a LRF, Receita Corrente Líquida corresponde ao somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidas as parcelas entregues aos municípios por determinação constitucional; as contribuições sociais para a seguridade social do empregador; as contribuições sociais para a seguridade social do trabalhador e dos demais segurados da previdência social; e a arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP). + Saiba mais Os impostos indiretos estão embutidos nas transações intermediárias e finais. Nesse caso, a contribuição está incorporada ao processo produtivo, como no Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS), Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Programa de Integração Social (PIS). 22 públicos são desafiados a realizar um planejamento estratégico das ações e alocar de forma eficiente os recursos, a fim de trazer à sociedade resultados que venham contribuir ao desenvolvimento econômico e social do município. Ressaltamos a utilização de indicadores de avaliação na gestão educacional do município para dar suporte à formulação das ações no plano. Citamos como exemplo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Conforme já foi discutido na Unidade 8, o IDEB é um indicador fundamental de metas da educação básica, e o aumento de seus índices pode contribuir para a melhoria na qualidade da educação em nível municipal. ATIVIDADE 1 – UNIDADE 1: Tarefa Apresente um relato com evidências do funcionamento da gestão democrática no cotidiano de suas atividades na Secretaria Municipal de Educação (SME). Além disso, descreva quais são os atores locais que fazem parte da elaboração do planejamento estratégico, como é a articulação e o diálogo entre eles e a sua equipe da SME. Você pode realizar a atividade em editor de texto com Word, Writer ou outros, e anexar o arquivo. ATIVIDADE 2 – UNIDADE 1: Fórum de discussão Considerando-se a relevância do controle social na gestão dos recursos financeiros, discuta no fórum quem são os atores locais que atuam em seu município e apresente exemplos em relação ao nível e à forma de atuação, etc. ! Dica Na esfera Municipal, a LRF determina o limite de gastos com pessoal no setor público: 60% da Receita Corrente Líquida, ou seja, 6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Município, quando houver; e 54% para o Executivo. + Saiba mais Na esfera Municipal, a LRF determina o limite de gastos com pessoal no setor público: 60% da Receita Corrente Líquida, ou seja, 6% para o Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas do Município, quando houver; e 54% para o Executivo. 23 UNIDADE 2 2. ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO A partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº.9.394/96, uma série de alterações aconteceu. Novas propostas de gestão da educação, financiamento, programas de avaliação educacional, políticas de formação de professores, dentre outras medidas foram implementadas com o objetivo de melhorar a qualidade da educação. Nesse contexto, objetivamos, nesta unidade, abordar aspectos relacionados à gestão da educação pela compreensão de alguns conceitos econômicos capazes de facilitar suas relações com o setor público. Além disso, apresentamos um panorama sobre as principais políticas públicas voltadas à educação. 2.1. Políticas Públicas na Educação O Ministério da Educação executa atualmente dois programas voltados ao transporte de estudantes: o Caminho da Escola e o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE), que visam a atender alunos moradores da zona rural. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) contribui na oferta de alimentação escolar e no desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricionais para os alunos de toda a educaçãobásica, por meio da transferência de recursos financeiros. Temos ainda o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). O objetivo do PDDE é a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica. O PDDE consiste na assistência financeira às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial, mantidas por entidades sem fins lucrativos. Podemos citar ainda o Fundeb. Os fundos destinam-se à manutenção e ao desenvolvimento da educação básica pública e à valorização dos trabalhadores da educação. Vamos compreender cada um desses programas. 2.1.1. Transporte Escolar para a Educação Básica - Caminho da Escola A Resolução/CD/FNDE nº 3, de 28 de março de 2007, cria o Programa Caminhos na Escola considerando a necessidade de ampliar, por meio do transporte diário, o 24 acesso e a permanência dos alunos da educação básica transportados da zona rural dos sistemas estadual e municipal. O Artigo 1° resolve Art. 1º - Aprovar as diretrizes e orientações para que os Municípios, os Estados e o Distrito Federal se habilitem ao Programa Caminho da Escola e possam buscar financiamento junto ao BNDES, nos exercícios de 2007 a 2009, visando à aquisição de ônibus de transporte escolar, zero quilômetro, assim como embarcações novas, destinadas ao transporte diário dos alunos da educação básica, transportados da zona rural dos sistemas estadual e municipal, no âmbito do Programa. A Resolução/FNDE/CD/nº 11, de 25 de abril de 2008, estabelece as orientações em relação à aquisição de veículos que incluam acessibilidade específica para portadores de necessidades especiais (Art. 3). No âmbito do Programa Caminho da Escola, o Art. 1ºda Resolução nº 18, de 14 de maio de 2008, autoriza a execução de transferência financeira de recursos de emendas parlamentares ao orçamento do FNDE, para aquisição de ônibus e embarcações para o transporte escolar. Parágrafo único. Os convênios firmados para o atendimento do disposto nesta Resolução devem atender exclusivamente à aquisição de veículos mediante adesão ao registro de preços realizado pelo FNDE, conforme referido no art. 13 da Resolução CD/FNDE nº 11, de 25/04/2008. Dessa forma, o programa consiste na aquisição, por meio de pregão eletrônico para registro de preços realizado pelo FNDE, de veículos padronizados para o transporte escolar. Existem três formas para estados e municípios participarem do Caminho da Escola: com recursos próprios, bastando aderir ao pregão; via convênio firmado com o FNDE; ou por meio de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que disponibiliza linha de crédito especial para a aquisição de ônibus zero quilômetro e de embarcações novas. Os critérios para utilização de veículos de transporte escolar são estabelecidos na Resolução/CD/FNDE nº 45, de 20 de novembro de 2013, nos Artigos 2 e 3: Art. 2º Para efeito desta Resolução consideram- se veículos de transporte escolar, aqueles adquiridos por meio de adesão à ata de pregão eletrônico para registro de preços do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sendo: I – ônibus: veículo rodoviário automotor de passageiros especificado como Ônibus Escolar; II – bicicleta: veículo de propulsão humana para uso individual, especificado como Bicicleta Escolar; III – embarcação: veículo aquaviário automotor especificado como Lancha Escolar ou Barco Escolar. Art. 3º Os veículos a que se refere o Artigo 2º são destinados para o uso exclusivo no transporte dos estudantes matriculados nas escolas das redes 25 públicas de ensino básico e instituições de educação superior, nos trajetos necessários para: I – garantir, prioritariamente, o acesso diário e a permanência dos estudantes da zona rural às escolas da rede pública de ensino básico; II - garantir o acesso dos estudantes nas atividades pedagógicas, esportivas, culturais ou de lazer previstas no plano pedagógico e realizadas fora do estabelecimento de ensino. 2.1.2. Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) O Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) foi instituído pela Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, com o objetivo de garantir, por meio de assistência financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em caráter suplementar, o acesso e a permanência, nos estabelecimentos escolares, dos alunos do ensino fundamental público residentes em área rural que utilizem transporte escolar(Art. 2): Art. 2º Fica instituído o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar - PNATE, no âmbito do Ministério da Educação, a ser executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, com o objetivo de oferecer transporte escolar aos alunos da educação básica pública, residentes em área rural, por meio de assistência financeira, em caráter suplementar, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, observadas as disposições desta Lei. ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 11.947, de 16/6/2009). Conforme estabelecido abaixo, o cálculo do montante de recursos financeiros destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios tem como base o número de alunos da zona rural que utilizam o transporte escolar e que foram devidamente informados no censo escolar do ano anterior (Art. 7). § 1º O montante dos recursos financeiros será repassado em parcelas e calculado com base no número de alunos da educação básica pública residentes em área rural que utilizem transporte escolar oferecido pelos entes referidos no caput deste artigo. (Parágrafo com redação dada pela Lei nº 11.947, de 16/6/2009) § 2º O Conselho Deliberativo do FNDE divulgará, a cada exercício financeiro, a forma de cálculo, o valor a ser repassado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, a periodicidade dos repasses, bem como as orientações e instruções necessárias à execução do PNATE, observado o montante de recursos disponíveis para este fim constante da Lei Orçamentária Anual, e em suas alterações, aprovadas para o Fundo. § 3º Os recursos financeiros a serem repassados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios de que trata o § 1º deste artigo serão calculados com base nos dados oficiais do censo escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, relativo ao ano imediatamente anterior ao do atendimento. § 4º A assistência financeira de que trata este artigo tem caráter suplementar, conforme o disposto no inciso VII do art. 208 da Constituição 26 Federal, e destina-se, exclusivamente, ao transporte escolar do aluno. O valor per capita do PNATE a ser repassado ao Ente Executor é definido com base no índice “Fator de Necessidade de Recursos do Município (FNRM)”, criado a partir de pesquisas realizadas com o objetivo de tornar mais justa a distribuição dos recursos (Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, Art. 5º, § 1°). O cálculo do índice considera os seguintes indicadores: Percentual da população rural do município (IBGE); Área do município (IBGE); Percentual da população abaixo da linha da pobreza (IPEADATA); Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) (INEP). Os recursos são liberados no período de março a novembro (no total de 9 parcelas) do ano em curso, e deverão ser utilizados exclusivamente no custeio de despesas com o transporte escolar dos alunos (Art.6). Conforme o Art. 15, as despesas com seguros, licenciamento, impostos e taxas,podem ser realizadas caso se referirem ao ano em curso. Em relação às demais despesas com custeio, destacamos os seguintes itens: Reforma; Seguro; Licenciamento; Impostos e taxas; Pneus; Câmaras; Serviços de mecânica e freio; Suspensão, câmbio, motor, elétrica e funilaria; Recuperação de assentos; Combustível; Lubrificantes do veículo. 2.1.3. Alimentação Escolar na Educação Básica (PNAE) A Resolução/CD/FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009, dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no Programa Nacional de Alimentação Escolar, durante o período letivo. Art. 1º Estabelecer as normas para a execução técnica e administrativa do PNAE e para a transferência de recursos financeiros, em caráter complementar, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades federais, para a aquisição exclusiva de gêneros alimentícios. § 1° A alimentação escolar é direito dos alunos da educação básica pública e dever do Estado, e será promovida e incentivada, com vista ao 27 atendimento dos princípios e das diretrizes estabelecidas nesta Resolução. Na mesma Resolução, o Art. 2º estabelece os princípios do PNAE, enquanto o Art. 3°, as diretrizes. Conforme o Art. 4º, o PNAE tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de práticas alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional. O Art. 13 considera educação alimentar e nutricional o conjunto de ações formativas que objetivam estimular a adoção voluntária de práticas e escolhas alimentares saudáveis, que colaborem para a aprendizagem, o estado de saúde do escolar e a qualidade de vida do indivíduo. O Programa prevê o atendimento dos seguintes alunos, com base no censo escolar: Art. 5º Serão atendidos pelo PNAE os alunos matriculados na educação básica das redes públicas federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, inclusive as escolas localizadas em áreas indígenas e em áreas remanescentes de quilombos, em conformidade com o censo escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, no ano anterior ao do atendimento. Conforme a Resolução/CD/FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009, a coordenação das ações de alimentação escolar, sob a responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, será realizada por nutricionista habilitado (Art. 14). Dentre as diversas competências(§1º), os nutricionistas lotados no setor de alimentação escolar devem coordenar o diagnóstico e o monitoramento do estado nutricional dos estudantes, planejar o cardápio da alimentação escolar de acordo com a cultura alimentar, o perfil epidemiológico da população atendida e a vocação agrícola da região. Conforme o Art. 18, a aquisição dos gêneros alimentícios: Art. 18. Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverá ser utilizado na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural ou suas organizações, priorizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas, conforme o artigo 14, da Lei n° 11.947/2009. 2.1.4. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) O Programa Dinheiro Direto na Escola tem por finalidade prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às escolas públicas da educação básica das 28 redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial, mantidas por entidades sem fins lucrativos. O Programa foi criado em 1995 pela Resolução FNDE/CD n°12/1995, a qual apresenta os valores totais a serem recebidos pelas escolas. Posteriormente, a Resolução FNDE/CD n°3 de 1997 (art. 2°) divide os recursos em custeio e capital. Com esses recursos, os estabelecimentos de ensino podem adquirir materiais para uso contínuo, fazer a manutenção necessária ao funcionamento da escola, realizar capacitações aos professores, entre outras ações (Resolução n° 03/1997). A Resolução FNDE/CD n° 3, de 27 de fevereiro de 2003, reedita as resoluções anteriores reafirmando que: Art. 1° O Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE consiste na transferência, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, de recursos financeiros, consignados em seu orçamento, em favor das escolas públicas do ensino fundamental das redes estadual, do Distrito Federal e municipal, destinados à cobertura de despesas de custeio, manutenção e de pequenos investimentos de forma a contribuir, supletivamente, para a melhoria física e pedagógica dos estabelecimentos de ensino beneficiários. Essa Resolução afirma que os recursos financeiros devem ser repassados às escolas públicas do ensino fundamental das redes estadual, do Distrito Federal e municipal. Entretanto, a Resolução FNDE/CD n° 10, de 22 de março de 2004, estabelece que os repasses dos recursos devem contemplar, também, as instituições privadas de educação especial. O Artigo 1° explica que o PDDE consiste na transferência, pelo FNDE, de recursos financeiros em favor das: escolas públicas das redes estaduais, distrital e municipais no ensino fundamental, contemplando também as modalidades especial e indígena; privadas de educação especial, mantidas por Organizações Não-Governamentais (ONG), ou entidades similares, sem fins lucrativos e inscritas no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Além da Unidade Executora, entidade responsável pela aplicação e prestação de contas dos recursos enviados à escola, há também outras entidades responsáveis para o atendimento das escolas beneficiárias do PDDE (Resolução FNDE/CD n° 10 de 27 de março de 2004, Art. 3). Art. 3§ 2º. Unidade Executora Própria (UEx) – entidade de direito privado, sem fins lucrativos, representativa da comunidade escolar dos estabelecimentos de ensino públicos beneficiários do PDDE (caixa escolar, associação de pais e mestres, conselho escolar ou similar); Entidade Executora (EEx) - prefeitura municipal e secretarias de educação estadual e do Distrito Federal, ao receberem e executarem os recursos 29 do PDDE destinados às escolas públicas que não instituíram as UEx; Entidade Mantenedora (EM) – Organização Não- Governamental (ONG), ou outra entidade similar, sem fins lucrativos e inscrita no CNAS, responsável pela manutenção de escolas privadas de educação especial beneficiárias do PDDE. 2.1.5. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), criado em 1º de janeiro de 2007 com vigência estabelecida para o período 2007-2020, é um Fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um Fundo por Estado e Distrito Federal, ou seja, 27 Fundos), formado por parcela financeira de recursos federais e por recursos provenientes dos impostos e das transferências dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vinculados à educação, conforme disposto no Art. 212 da CF. Art. 212 - A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao DistritoFederal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir [...]. Em relação aos Estados e Municípios, os impostos próprios e as receitas de transferência que lhes cabem, cujo somatório corresponde à base de incidência do percentual referido ao artigo 212, são os seguintes: a) Transferências de Receita de Impostos da União para os Estados I – produto da arrecadação de imposto da União sobre a renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Estados, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem (IRRF); II – Fundo de Participação dos Estados constituído com parte da arrecadação da União (21,5%) do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre produtos industrializados (FPE); III – 10% do produto da arrecadação da União sobre produtos industrializados proporcionalmente ao valor das 30 respectivas exportações, deduzida a parte transferida para os Municípios (IPI/Exportação); IV – 75% da compensação financeira estabelecida na Lei Complementar nº 87/1996, relativa à desoneração do ICMS nas exportações de produtos primários e semielaborados (Lei Kandir). Impostos Estaduais Próprios: Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD); Imposto sobre a Circulação de Mercadorias (ICMS) e serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (do qual 25% pertencem aos Municípios); Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) (do qual 50% pertencem aos Municípios). b) Transferências de Receita de Impostos da União para os Municípios I – produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Municípios, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem (IRRF); II – Fundo de Participação dos Municípios constituído com parte da arrecadação da União (22,5%) do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre produtos industrializados (FPM); III – 50% do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis localizados no território respectivo (ITR); IV – 25% da arrecadação do imposto do estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS); V – 25% da compensação financeira estabelecida na LC nº87/86 relativa à desoneração do ICMS nas exportações de produtos primários e semielaborados (Lei Kandir); VI – 25% da parte transferida aos Estados (10%) do produto da arrecadação da União sobre produtos industrializados proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de tais produtos (IPI/Exportação); VII – 50% do produto da arrecadação do imposto dos Estados sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). 31 Impostos Municipais Próprios: Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); Imposto Sobre a Transmissão de Bens “Inter Vivos” (ITBI); Imposto Sobre Serviços (ISS). Assim, independentemente da fonte de origem, destina recursos para a manutenção e o desenvolvimento da educação básica e amplia a atuação para o atendimento da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e ensino de jovens e adultos). Dessa forma, em cada estado, o Fundeb é composto por 20% de diversas receitas. Em nível municipal, a gestão dos recursos do Fundeb é de responsabilidade da Secretaria de Educação, devendo ser subdivididos para aplicação, da seguinte forma: a) Parcela Mínima de 60% do Fundeb Calculada sobre o montante anual dos recursos creditados na conta no exercício; a parcela mínima de 60% do Fundo deve ser destinada à remuneração dos profissionais do magistério em efetivo exercício na educação básica pública, com vínculo contratual em caráter permanente ou temporário com Estado, Distrito Federal ou Município, regido tanto por regime jurídico específico do ente governamental contratante quanto pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). De acordo com o art. 22 da Lei nº 11.494/2007, são considerados profissionais do magistério aqueles que exercem atividades de docência e os que oferecem suporte pedagógico direto ao exercício da docência, incluídas as de direção ou administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional e coordenação pedagógica. Para que possam ser remunerados com recursos do Fundeb, esses profissionais deverão atuar na educação básica pública, no respectivo âmbito de atuação prioritária dos Estados e Municípios, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição. b) Recursos de até 40% do Fundeb Os restantes 40% dos recursos devem ser direcionados para despesas em nível municipal, com gastos de manutenção e desenvolvimento do ensino no âmbito da educação infantil e do ensino fundamental. Resumidamente, o conjunto de despesas compreende: Remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e dos profissionais da educação; remuneração do(a) Secretário(a) de Educação; 32 Aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e de equipamentos; Uso e manutenção de bens vinculados ao sistema de ensino, aluguel de imóveis e de equipamentos; Levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino; Realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento do ensino; Concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas; Amortização e custeio de operações de crédito; Aquisição de material didático-escolar e manutenção de transporte escolar. Muito importante destacar que os recursos do Fundo não podem ser aplicados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios em: ações do ensino superior; educação oferecida por instituições de ensino de natureza privada que não atendam alunos da educação especial, de creches e pré- escola, e não sejam comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos e conveniadas com o poder público; etapas da educação básica de responsabilidade de outro ente governamental; despesas de outros exercícios, ainda que relacionadas à manutenção e ao desenvolvimento da educação básica; e ações não caracterizadas como de manutenção e desenvolvimento da educação básica. O processo de gestão dos recursos do Fundeb é acompanhado pela sociedade, a qual supervisiona as etapas relacionadas à previsão orçamentária, distribuição, aplicação e comprovação do emprego desses recursos, por intermédio da participação no Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, de criação obrigatória nas três esferas degoverno (federal, estadual e municipal) (art. 24 da Lei nº 11.494/2007). Dessa forma, o controle exercido pelo Conselho do Fundeb representa a atuação da sociedade,que pode apontar falhas ou irregularidades eventualmente cometidas, para queas autoridades devidamente constituídas, no uso de suas prerrogativas legais, possam adotar providências. ATIVIDADE 1 – UNIDADE 2: Tarefa A gestão dos recursos pelos DME está ligada à responsabilidade de melhoria dos resultados na qualidade da educação. Nesse aspecto, os DME precisam se alertar de que a eficiência na gestão dos recursos destinados à manutenção das escolas públicas é influenciada pela articulação/desarticulação, presença/ausênciade atores sociais, entre outros. Com base nos programas que 33 atualmente o município capta recursos para a educação, descreva como acontece o processo de definição das prioridades para a alocação dos recursos, quem são os agentes locais presentes na discussão e como as ações são organizadas. Nesta atividade, você pode utilizar o editor Word para apresentar as respostas e, em seguida, poste o respectivo arquivo na plataforma. ATIVIDADE 2 – UNIDADE 2: Fórum de Discussão Como são resolvidos os conflitos que surgem em torno da alocação dos recursos municipais, estaduais e federais destinados para a educação? UNIDADE 3 3. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A Unidade 3 mostra que o Planejamento Estratégico pode ser entendido como um instrumento que auxiliará os gestores e colaboradores municipais, em consonância com as políticas educacionais, na implantação, no acompanhamento e no monitoramento das ações e atividades na busca constante pela melhoria da qualidade na educação. O plano de suporte estratégico é composto por estratégias, metas e planos de ação que darão a sustentação necessária para a transformação da visão estratégica da secretaria em ações práticas. Dessa forma, destacamos a importância da Secretaria Municipal de Educação prever, determinar o planejamento e avaliar as ações com base em algum modelo estratégico. Por isso, o papel das secretarias de educação é fundamental, porque elas estabelecem as diretrizes e os objetivos estratégicos do sistema educacional, como também providenciam apoio técnico-pedagógico- gerencial às escolas, para que estas possam tornar reais os objetivos de aprendizagem. 3.1. Fundamentos sobre Planejamento Estratégico A palavra estratégia vem do grego strategos e está diretamente ligada à questão militar. Strategos significa “a arte do general”, ou seja, um general em comando de um exército. Antes de Napoleão Bonaparte, estratégia se referia à arte e à ciência de dirigir forças militares a fim de vencer o inimigo ou tornar mais brandos os resultados de uma derrota. Nessa mesma época, o termo passou a ser incorporado aos 34 movimentos políticos e econômicos, com o objetivo de obter melhores mudanças para a vitória militar. Entretanto, com o passar do tempo, a palavra estratégia foi incorporada ao mundo dos negócios e utilizada, pelas organizações, no sentido de significar a maneira como se comportavam e agiam frente ao seu ambiente. Na década de 1970, produziram-se, na literatura, os conceitos acerca de Planejamento Estratégico. Posteriormente, na década de 1980, foram inseridas novas considerações e características para discutir o fenômeno relacionado ao binômio organização-ambiente, por exemplo, a sistematização e a formulação de estratégias. Dessa forma, o planejamento estratégico é um processo, ou seja, é algo dinâmico, conforme discutido por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010). Os autores apresentam as dez principais Escolas do Pensamento Estratégico, mostrando, de forma sintetizada, a essência de cada uma delas, bem como suas principais vantagens e desvantagens. A concepção de planejamento presente na obra de Carlos Matus abarca a articulação entre planejamento e governo, resgatando o planejamento como ferramenta eficiente e eficaz para lidar com as necessidades da direção da administração pública. Estratégia é a arte de jogar, na qual a subjetividade do jogador é determinante para o sucesso ou insucesso da estratégia. A concepção de estratégia está fortemente relacionada ao jogo. Para Matus (1996), a estratégia surge de um problema comum do jogo interativo entre os homens: avaliações situacionais distintas sobre a realidade que os atores constroem a partir do papel particular que desempenham no jogo político, econômico e social, e da leitura que fazem da informação oferecida pela realidade, limitados pela visão que esse papel lhes confere. Dessa forma, a estratégia não é um jogo, mas faz parte dele. O resultado do jogo depende dos jogadores, tendo em vista que cada jogador explora as possibilidades de construir o futuro conforme os objetivos que quer alcançar (MATUS, 1996). Matus (1996) considera que toda estratégia é situacional por corresponder a uma leitura da realidade que o ator faz a partir de uma visão própria, particular, que é distinta de qualquer outra leitura que outros atores fazem e, seguramente, oposta à leitura de atores adversários. “Cada ator jogador explica ou decodifica a realidade por meio de uma lente particular, carregada com interesses, valores e preconceitos acumulados pela história de cada jogador, e a reforça ou atenua na situação particular que o envolve” (MATUS, 1996, p.13). Portanto, “quem planeja influi nos resultados futuros, ainda que não tenha controle total sobre os resultados de sua ação” (HUERTAS, 1996, p.15). Cada 35 ator, ao analisar uma situação, decide pela sua jogada, mesmo com restrições do passado e do presente. Para Porter (2004), a estratégia competitiva tanto pode ter desenvolvimento por meio de um processo de planejamento como pode ter evolução a partir de vários departamentos. Para esse autor, a soma dos métodos departamentais raramente equivale a melhor estratégia. Logo, o planejamento estratégico deve refletir em benefícios, formulados junto às estratégias, e ser coordenado e dirigido pelo conjunto comum de metas. No cenário que aponta recursos limitados e uma série de demandas a atender, o diagnóstico e o conhecimento da estrutura educacional municipal são imprescindíveis para execução de planejamentos estratégicos. Por conseguinte, o sucesso das tomadas de decisão e de futuros investimentos está diretamente relacionado ao levantamento prévio das dificuldades e potencialidades de cada unidade escolar. Constatamos, a partir desse diagnóstico, que a proximidade da Secretaria de Educação com as escolas foi um dos principais fatores no compartilhamento de informação e conhecimento da realidade exposta. A partir de dinâmicas como essa, é possível planejar e reavaliar ações aplicadas a cada unidade, município e região. Somente a partir do planejamento socialmente construído, de forma democrática e participativa, que as metas serão alcançadas (UNDIME, 2012b). O planejamento estratégico tem a função de coordenar e monitorar decisões a serem executadas por diversos atores, mas que supõem a participação e o comprometimento de todos os envolvidos e interessados (PARENTE, 2001). Segundo Boeck (2005), a participação das pessoas no desenvolvimento do processo proporciona o entusiasmo para implementar as decisões. Portanto, quanto maior for a participação das pessoas nos processos decisivos, mais democrática será a gestão. Conforme Undime (2012a), planejar é uma tarefa central no trabalho do DME, em especial, no que se refere à tentativa de direcionar os recursos organizacionais para definir os rumos da educação municipal. As ações concretas que traduzem esse direcionamento devem ser monitoradas, utilizando-se, para tanto, o instrumento denominado “plano estratégico”, que constitui a materialidade das ideias e expectativas das pessoas que compõem a Secretaria Municipal de Educação. 36 3.2. Planos Educacionais e Planejamento Estratégico O Plano Nacional da Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, realiza um diagnóstico da realidade do sistema educacional em todo o território brasileiro, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, e estabelece algumas diretrizes e metas a serem cumpridas em um período de 10 anos (2001-2011).