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M3 História ANDRÉA ALVES BINDER / RICARDO JÚDICE CARDOSO 1 cor preto Século XX - O Mundo de pós-1945 aos Dias Atuais I - Introdução .......................................................3 II - O Pós-Guerra ..................................................3 III - As Grandes Questões da Atualidade ..............9 República Oligárquica (República Velha) O Brasil de 1889 a 1930 I - Apresentação ................................................22 II - A Crise da Monarquia e as Origens da República ....................................22 III - Instabilidade Inicial da República ..................24 IV - Economia.......................................................24 V - Movimentos Operários ..................................26 VI - Política ..........................................................27 VII - A Revolução de 1930 - O Colapso da República Oligárquica ....................................31 República Nova - Populismo, Militarismo e Democracia - O Brasil de 1930 aos dias atuais I - Apresentação ................................................32 II - República Populista O Brasil de 1930 a 1964 ...............................32 III - República dos Militares O Brasil de 1964 a 1985 ...............................38 IV - Nova República O Brasil de 1985 aos dias atuais ..................41 América Latina no Século XX I - Apresentação ................................................53 II - Evolução Econômica e Política da América Latina .............................53 III - Estudo de Casos ...........................................56 A re pr od uç ão p or q ua lq ue r m ei o, in te ira o u em p ar te , v en da , e xp o si çã o à v e n d a , a lu g u e l, a q u is iç ã o , o cu lta m e n to , e m p ré st im o , tr o ca o u m a n u te n çã o e m d e p ó si to s e m au to riz aç ão d o de te nt or d os d ire ito s au to ra is é c rim e pr ev is to no C ód ig o P en al , A rt ig o 18 4, p ar ág ra fo 1 e 2 , co m m ul ta e p en a de r ec lu sã o de 0 1 a 04 a no s. Anotações 2 cor Tecnologia ITAPECURSOS 3 cor preto 33333História - M3 - SÉCULO XX - O MUNDO DE PÓS-1945 AOS DIAS ATUAIS I- INTRODUÇÃO A presente unidade tratará de questões que, de uma forma geral, mudaram as diretrizes assumidas pelas grandes potências e pelos chamados países periféricos nos últimos 50 anos do século XX. Apesar de várias destas questões já terem sido resolvidas ou abordadas, torna-se necessário o seu estudo para melhor entendimento dos dias atuais, na transição dos séculos XX/XXI. Para melhor compreensão desta unidade, dividiu-se o tema proposto em duas partes: O Pós-Guerra e As Grandes Questões da Atualidade. Esta divisão, de caráter didático, deve ser compreendida para uma assimilação mais acessível do tema proposto, porém sem deixar de lado a interação entre essas partes. Deve-se salientar que é inesgotável a temática de cada um dos assuntos abordados. Impõe-se, portanto, um limite aos mesmos, por força dos objetivos do presente estudo. II- O PÓS-GUERRA Várias foram as questões oriundas da II Guerra Mundial. Dentre elas pode-se destacar: 1- ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS A II Guerra Mundial trouxe conseqüências para a maior parte dos países envolvidos de forma direta ou indireta no conflito. Como forma de se tentar resolver questões que impedissem novos conflitos, é criada, em 24 de outubro de 1945, na Conferência de São Francisco, através da Carta das Nações Unidas, a ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Este órgão, com sede em Nova York, surge para cobrir as falhas da Liga das Nações, procurando, dentre outros objetivos, preservar e assegurar o desenvolvimento sócio-econômico e a convivência pacífica entre as nações. A ONU possui alguns grandes objetivos: • Manter a paz em todo o mundo; • Fomentar relações amigáveis entre as nações; • Trabalhar em conjunto para uma vida melhor dos indivíduos reduzindo do mundo a pobreza, a doença e o analfabetismo e encorajando o respeito pelos direitos e liberdades; • Ser um centro para ajudar as nações a alcançarem estes objetivos. A estrutura da ONU pode assim ser esquematizada: Estado Maior Conselho de Segurança Comitê de Energia Atômica Desarmamento Comitê de Direção Assembléia Geral Secretariado Conselho de Administração Fiduciária Tribunal Internacional Forças Armadas de Justiça (Haia) Conselho Econômico e Social Conselho de Comércio e Desenvolvimento Comissões de Paz Tecnologia ITAPECURSOS 4 cor preto 44444 História - M3 Alguns Organismos Especiais ligados à ONU OIT - Genebra FAO - Roma BANK - Washington UNESCO - Paris OMS - Genebra FMI - Washington OCM - Genebra Organização Organização da Banco Mundial Organização das Organização Fundo Monetário Organização Internacional Agricultura e Nações Unidas Mundial Internacional Mundial do Trabalho Alimentos para Educação, de Saúde do Comércio Ciência e Cultura FONTE: ARRUDA, JOSÉ J. HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA, P. 364. 2- DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA Pretendendo demarcar suas áreas de influência, os EUA e a URSS iniciam apoio às colônias afro- asiáticas, como forma de se libertarem de seus colonizadores. Estas regiões, dominadas desde fins do século XIX (neocolonialismo), participantes de duas guerras, viam agora a possibilidade de se tornarem independentes. Mas elas se mantêm economicamente dependentes das superpotências. Neste processo de independência, estas nações realizam eleições e autogoverno. Na África inicia-se um processo contra a subnutrição, o analfabetismo e contra a presença européia em suas terras. É o chamado Pan-Africanismo. Diversas razões explicam a descolonização, muitas delas ligadas à própria II Guerra: • declínio político-econômico das metrópoles tradicionais (Inglaterra e França), destruídas pela guerra e substituídas por outras potências; • crença nos ideais do Liberalismo Ocidental, vigente com o fim da guerra e traduzido para a forma de emancipação política; • apego aos ideais socialistas de igualdade, levados também ao plano das relações internacionais; • auxílio, nas guerras de independência, da URSS e dos EUA, interessados em ampliar suas áreas de influência; • crescimento do sentimento de patriotismo e nacionalismo nas populações coloniais; • desenvolvimento, durante a guerra, dos setores militares das colônias, fazendo com que as mesmas acreditem numa ruptura pelo uso da força, uma vez que, obrigadas a lutar ao lado da metrópole, adquiriram experiência militar e consciência da vitória. No processo de descolonização, estas colônias tentam uma dissociação dos blocos capitalistas e socialistas mas, através de golpes militares, governos progressistas são derrubados e há a instalação de governos ligados aos EUA e URSS, numa extensão da Guerra Fria. Devido à rápida mudança política em muitos territórios e à existência de diversas etnias ou religiões não é de se surpreender que a descolonização tenha se dado de forma violenta, culminando na instalação de regimes repressores. Formas de descolonização: • concessão gradativa da metrópole do direito de soberania à colônia para manter a dominação econômica através de uma política pacifista (Inglaterra); • através da luta armada (França e Portugal): tentativa de conter os movimentos de independência pela força, fortalecendo assim os antagonismos metrópole/colônia. A tendência natural de oposição ideológica foi a via socialista (Argélia, Vietnã, Angola, Moçambique). Observe no mapa ao lado os países que surgiram com a independência: FONTE: VENTOS DE MUDANÇA NA ÁFRICA. IN.: HISTÓRIA EM REVISTA - 1950-1990. P. 92 Tecnologia ITAPECURSOS 5 cor preto 55555História - M3 Em 1955, durante a Conferência de Bandung (Indonésia), alguns países afro-asiáticos subdesenvolvidospretenderam um fortalecimento político, econômico e social soberano, independente do conflito ideológico Leste/ Oeste. Foi a fórmula encontrada pelo Terceiro Mundo de se fazer presente no cenário mundial. A partir desta postura, surgiu, mais tarde, o movimento dos “Não-Alinhados”, países que pretendiam se isolar da Guerra Fria, não se vinculando a nenhuma das duas potências hegemônicas. Mas, no contexto internacional bipolarizado, e face à extrema dependência do 3º Mundo, o alinhamento ideológico torna-se inevitável e com ele, as condições precárias do subdesenvolvimentismo. 3- EXPANSÃO DO COMUNISMO O comunismo se expande pela Europa Oriental, China e Cuba. A questão cubana e a alemã serão tratadas adiante. 3.1- Europa Oriental Durante a ocupação nazista, na II Guerra Mundial, várias nações foram se organizando na forma de resistência popular, com o apoio do governo soviético, numa forma de lutar contra a presença dos nazistas. Após a derrota e expulsão nazista, foram-se formando governos de cunho social-democrata, democrata e comunista. Adotaram o socialismo como sistema de governo os seguintes países: Polônia, Tchecos- lováquia, Iugoslávia, Albânia, Alemanha Oriental e Bulgária. Já em países como a Hungria e a Romênia, que não tiveram nenhuma frente popular anti-nazista, a instalação do governo pró-Moscou se deu de forma bem menos democrática, através da pressão direta do exército soviético. Em países que contestassem a presença do modelo soviético havia a imposição através de golpes que afastavam as resistências ao regime comunista. Somente a Tchecoslováquia, que se manteve como socialista independente do governo soviético até 1968, ano da intervenção militar soviética (Primavera de Praga - ver quadro abaixo) e a Iugoslávia, sob a liderança de Josip Tito (conhecido como mão-de-ferro), souberam resistir a esta influência. Primavera de Praga: tentativa de renovar o socialismo vigente, tornando-o mais democrático e menos central-burocrático, onde a população possa participar de forma mais ativa das decisões do Estado através de liberdades sindicais e individuais, independentemente da hegemonia soviética. O movimento foi reprimido pela força militar soviética. Fatores que propiciaram a expansão do comunismo: • surgimento da URSS como potência de primeira grandeza; • contradições do capitalismo, (fome, superprodução, desigualdade econômico-social, etc.); • necessidade de um sistema opcional para os povos marginalizados e oprimidos. 3.2- Revolução Chinesa (1949) Desde o século XIX, a China se viu dominada pelo imperialismo europeu, americano (início do século XX) e japonês (desde a I Guerra Mundial). Na década de 20, iniciou-se a luta pela sua independência. Mesmo com os acordos temporários entre as forças de Mao- Tsé-Tung (socialista) e Chiang-Kai-Chek (capitalista) face ao inimigo japonês, a guerra civil aumentou após a derrota japonesa na II Guerra. Os maoístas, com decisivo apoio popular (camponeses), derrotaram os nacionalistas de Chiang- Kai-Chek, obrigando-os a se refugiarem na ilha de Formosa, onde, com apoio americano, fundam a China Nacionalista. Ao mesmo tempo, em 1949, era proclamada a República Popular da China, sob o governo de Mao-Tse-Tung, que a partir desse momento iniciou a nacionalização e socialização de sua economia, independente da esfera soviética, principalmente após a Revolução Cultural na década de 60. Desde então, a China tem se desenvolvido como um mundo à parte do modelo soviético. Em 1978, dois anos após a morte de Mao Tsé Tung, assume o governo Deng Xiaoping que promove uma série de reformas pró-capitalistas no país, como o fim de grande parte das propriedades coletivas e privatização de vários setores da economia, mas sem aceitar a democratização, mantendo o poder monopolizado nas mãos do Partido Comunista Chinês (PCC). 4- A GUERRA FRIA “A Segunda Guerra Mundial mal terminara quando a humanidade mergulhou no que se pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora uma guerra muito peculiar”. HOBSBAWM, ERIC, ERA DOS EXTREMOS. P. 224. Tecnologia ITAPECURSOS 6 cor preto 66666 História - M3 Com o final da II Grande Guerra, inicia-se um período onde as relações entre os Estados Unidos (capitalista) e a URSS (socialista) vão ser as responsáveis por uma nova ordem mundial. Os demais países, de acordo com seus interesses e necessidade, vão se posicionar a favor de um ou de outro pólo. As diferenças e divergências entre os dois blocos, capitalista e socialista, se evidenciam no período conhecido como Guerra Fria, ou seja, em fins da II Grande Guerra até a transição dos anos 80/90. As duas superpotências, numa bipolarização do poder mundial, buscam demarcar a sua área de influência, reforçando o sistema de alianças a nível político e militar, de ajuda econômico-financeira, principal- mente na reconstrução da Europa, palco do II Grande Conflito. Nesta divisão, surge na Europa a chamada “Cortina de Ferro”, ou seja, o isolacionismo da região oriental em relação ao Ocidente. Veja no mapa ao lado os países europeus sob influência soviética, na chamada “Cortina de Ferro”: 4.1- Questões advindas da Guerra Fria a - Plano Marshall: plano no qual, pela disputa de demarcação de áreas de influência com os soviéticos, os EUA destinam verbas para a reconstrução da Europa Ocidental, Turquia, Grécia e Japão. b - Doutrina Truman: ajuda financeira e militar oferecidas pelos EUA para combater o comunismo. c - Macartismo: o senador republicano Joseph McCarty promove uma violenta perseguição aos comunistas, numa característica “caça às bruxas”. d - Plano Molotov: ajuda soviética para a demarcação de áreas de influência e reconstrução da Europa Oriental. e - Organizações de cooperação econômica: - MCE (Mercado Comum Europeu), exclusivamente para capitalistas; - COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua), exclusivamente socialista. f - Organizações militares: - OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte - 1949), atendendo aos capitalistas; - Pacto de Varsóvia, atendendo aos socialistas (extinto com o colapso do socialismo). g - Guerra da Coréia (1950/53) Em 1950, cinco anos depois de derrotar a Alemanha nazista, os Estados Unidos e a União Soviética, ex- aliados, entram em conflito pelo controle da Coréia. A península da Coréia é cortada pelo paralelo 38°, uma linha que divide os dois Estados, desde 1948: • Norte: República Popular Democrática da Coréia (pró-soviética); • Sul: República da Coréia (pró-ocidental); • Fronteira: área de choques e incidentes constantes. Tecnologia ITAPECURSOS 7 cor preto 77777História - M3 Esta divisão está amparada pela ONU, que promoveria eleições gerais para que houvesse a formação de uma Coréia unificada e soberana, fato que não ocorreu, prevalecendo a divisão. Ambos os governos reivindicavam jurisdição sob a totalidade do território, iniciando-se os conflitos entre as duas Coréias. Em 1950, a Coréia do Norte, incentivada pela Revolução Chinesa, ataca a Coréia do Sul. Dois dias após a invasão, os EUA, sob o comando do general McArthur, desembarcam tropas para apoiar o Sul, com o intuito de frear o comunismo, numa nítida postura ideológica influenciada pelo Macartismo. A violência do conflito foi tamanha que as tropas das Nações Unidas, através da invasão da Coréia do Norte se aproximaram da fronteira chinesa. Com isso, o governo de Pequim monta uma ofensiva enviando trezentos mil homens para ajudar a Coréia do Norte. A Coréia do Norte é devastada. Os suprimentos enviados pela União Soviética são interceptados pelas forças das Nações Unidas. Durante quase três anos, o povo coreano, uma das mais notáveis culturas da Ásia, é envolvido em uma brutal guerra fratricida. Milhares de prisioneiros amontoados em campos de concentração esperam ansiosamente por um armistício. O General McArthur insiste em um ataque direto à China Este fato acaba provocando o recuo de suas tropas. A intransigência do general levou Truman a demiti-lo, fato que levou ao início das conversaçõessobre o armistício. Em 23 de junho de 1951, começam as negociações de paz, que duram dois anos. Em 27/07/1953 foi assinado o armistício confirmando a divisão da Coréia, pelo paralelo 38°, feita em 1948. Vale lembrar que na guerra coreana morreram cerca de três milhões e meio de pessoas. 4.2- A Coexistência Pacífica Na segunda metade dos anos 50, há uma aproximação temporária entre os EUA e a URSS, denominada coexistência pacífica, apresentando uma política de distensão (“Detente”). Fatores responsáveis por esta aproximação: • política pessoal de Krutschev (URSS) e Kennedy (EUA); • surgimento de novas forças mundiais, como a China, que rompeu com o bloco socialista soviético e gerou instabilidade no equilíbrio mundial; • ressurgimento da Inglaterra e França como forças concorrentes por áreas de influência no bloco capitalista; • neutralidade assumida pelos países do 3º Mundo na Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955; • o resultado do equilíbrio na Guerra da Coréia, onde as duas potências demonstraram igualdade de forças. 4.3 - O Fim da Detente Foi curta a duração da coexistência pacífica. Logo os antagonismos se tornaram mais fortes e a Guerra Fria retornou, revestida de intensa violência, como nas questões que se seguem: A) Questão Cubana Movimento contrário ao imperialismo norte-americano na ilha de Cuba, conduzindo Fidel Castro à presidência (1959) e implantando, nos anos 60, o primeiro estado socialista na América – detalhes da Questão Cubana serão vistos na unidade “América no Século XX”, adiante. B) Guerra do Vietnã Um conflito de maiores proporções se desencadeia entre 1961 e 1975: a Guerra do Vietnã. O Vietnã tinha sido colônia francesa durante 100 anos. A região compreendia o Camboja, Tonquim (Vietnã do Norte), Laos, Anã e Cochinchina (Vietnã do Sul). Durante a II Guerra (1939-45), a região passou para o domínio japonês. Em 1941, no Vietnã do Norte estabeleceu-se o Vietminh (Liga Revolucionária), de tendência socialista, que lutava contra a ocupação nipônica. Em 1945, com a derrota do Japão, no norte foi proclamada a República Democrática do Vietnã, com sistema socialista. Ao mesmo tempo, a França reocupou o Laos, o Camboja e o Vietnã do Sul, declarando-o independente, mas fazendo parte da União Francesa. O movimento de descolonização gerou a Guerra da Indochina, que só terminou em 1954, com a derrota francesa. Pelo Acordo de Genebra, a França retirou suas tropas e reconheceu a independência da região (Laos, Camboja e Vietnã). Pelo mesmo acordo, foram previstas futuras eleições para um Estado Unificado. As eleições não aconteceram e, em 1960, houve uma guerra civil no sul, onde os vietcongs (socialistas) recebiam apoio do Vietnã do Norte. Tecnologia ITAPECURSOS 8 cor preto 88888 História - M3 Temendo a expansão do comunismo na região, os EUA prestaram auxílio militar e financeiro ao Vietnã do Sul enviando tropas militares (“conselheiros militares”). Atacam o norte (aéreo) e ampliam o conflito, penalizando a população civil. A superioridade bélica dos EUA não consegue vencer a guerrilha dos vietnamitas, causando um abalo psicológico nos americanos. A crescente oposição nos Estados Unidos à guerra, somada à determinação dos vietcongues e vietnamitas, forçam o governo americano a admitir a derrota. Dá-se o cessar fogo e, em 1973, através do Acordo de Paris, tem-se a retirada das tropas americanas e a formação de um conselho para organizar eleições gerais no sul. Entre os anos de 1973 e 1975, o conflito se transformou numa guerra civil entre os vietcongs e as tropas governamentais sul-vietnamitas. Nesta vietnamização do conflito tem-se a vitória do Vietnã do Norte. A derrota americana foi um grande desprestígio internacional para o governo Nixon, que pouco tempo depois foi deposto em razão de irregularidades administrativas no escândalo “Watergate”. C) Tentativas de Reafirmação nas Áreas de Influência A partir do final da década de 50, com o esvaziamento da “Coexistência Pacífica”, e principalmente nas décadas seguintes, nota-se uma dificuldade maior para a manutenção de uma hegemonia coesa em ambos os blocos. Dentre os exemplos mais característicos da cisão no bloco socialista, dentro e fora do Leste Europeu, citam-se: • Invasão da Hungria, em 1956, alegando, para a violenta repressão militar, o desvio do país da linha socialista; • Repressão e ocupação militar, em 1968, da Tchecoslováquia, no episódio conhecido como “Primavera de Praga”; • Ocupação militar do Afeganistão, entre 1979 e 1988, justificada pela ingerência americana no vizinho Paquistão, pelos constantes atritos entre os dois países fronteiriços e, principalmente, pela guerrilha dos muçulmanos contra a influência soviética; • Manutenção da Polônia sob repressão política, com a dissolução do Sindicato Solidariedade e a prisão de seu líder Lech Walesa, entre 1980/82. Os EUA, da mesma forma, enfrentaram a ruptura do bloco capitalista: • Na Revolução Islâmica, em 1979, no Irã, com a deposição do Xá Reza Pahlevi (aliado norte- americano) e a consolidação no poder do líder religioso Khomeini, promovendo-se assim o afastamento da interferência americana; • Na América Central, com destaque para os choques em Honduras e El Salvador, invasão de Granada, deposição do governo do Panamá e, sobretudo, com a Revolução Sandinista na Nicarágua, os EUA vêm lançando mão, com freqüência, do expediente da força militar para fazer valer sua hegemonia na região; • Na Guerra das Malvinas (1982), entre Argentina e Inglaterra, os EUA sofreram um desgaste em sua hegemonia no continente ao apoiar a Inglaterra vencedora, desrespeitando a “Carta do Rio de Janeiro”, conhecida como TIAR (Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca), que previa o apoio à Argentina, pelo fato de ser um país do continente. Tecnologia ITAPECURSOS 9 cor preto 99999História - M3 III- AS GRANDES QUESTÕES DA ATUALIDADE Estão selecionadas aqui, as principais questões dos anos 80 e 90, muitas delas originárias de décadas anteriores. São questões que auxiliam o entendimento do século que se inicia. Os assuntos relacionados ao continente americano serão tratados na unidade “América no século XX”. 1- ORIENTE MÉDIO 1.1- Localização O Oriente Médio está localizado na confluência dos continentes da Europa, África e Ásia, sobretudo no último. Trata-se de região de grande importância estratégica, econômica e militar, sobretudo devido ao Canal de Suez, que liga, em território egípcio, o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O petróleo reveste o local de essencial interesse para todo o Globo. Na região do Oriente Médio, em geral, fala-se a língua árabe e segue-se a religião muçulmana (islâmica ou maometana). Deve-se saber que, embora utilizados alternadamente, os termos “árabe” e “muçulmano” possuem suas diferenças: • “Árabe” é um termo subjetivo, abrangendo aspectos geográficos (Arábia Saudita e adjacências), lingüísticos (aqueles que falam a língua árabe) e culturais em geral. • “Muçulmano”, embora religioso (aqueles que seguem a Igreja Muçulmana), pode ser também étnico e cultural, na sua forma mais global. Deve-se lembrar que, nem todos os árabes são muçulmanos (há cristãos entre a comunidade árabe) e nem todos os muçulmanos são árabes (na Turquia, no Afeganistão e no Irã, por exemplo, adota-se o Islã, mas não a língua nacional árabe). 1.2- Histórico O Oriente Médio representa, historicamente, o berço da civilização, dos primeiros inventos e descobertas, da primeira religião. Até o século XII, aproximadamente, assiste a um “desfile de civilizações” (assírios, caldeus, babilônios, etc.). Até o presente, possui diversas religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Uma particularidade antiga, capaz de explicar muitos dos problemas atuais, é que, em meio a tantas conquistas, responsáveis pela constituição de uma das mais ricas culturas de toda a História, o Oriente Médio não se acostumou à democracia, desconhecendo, salvo raras exceções, o “censo de liberdade”. Tecnologia ITAPECURSOS10 cor preto 1010101010 História - M3 Desde os tempos do Império Romano, os judeus se vêem vítimas do anti-semitismo, ou seja, de perseguições religiosas, políticas, econômicas e raciais. Nos séculos seguintes, os judeus foram se reunindo em regiões do Leste europeu. Nestas regiões desenvolveram atividades comerciais, sobretudo no século XIX, fato este que acirrou o anti-semitismo, visto que este grupo se destacava economicamente. Foram obrigados a emigrar para a Europa Ocidental e lá, também, não eram bem vistos. Como forma de se tentar resolver a questão de “espaço” para os judeus tem-se, em 1896, a criação do movimento sionista com o intuito de levar os judeus de volta à sua terra natal: Jerusalém. Durante as primeiras décadas do século XX, a região da Palestina, habitada por árabes, foi recebendo um número cada vez maior de judeus. Não havia planos para a integração entre as duas culturas. O objetivo dos judeus era retomar a terra que, a seu ver, pertencia a eles. Iniciam-se assim, os conflitos entre árabes e judeus, cada um tentando proteger o “seu” território. Nos anos da II Grande Guerra (1939/45), a situação na região ficou mais tensa. Com o fim do conflito, a Inglaterra, que mantinha a região sob seu controle desde a I Guerra, se retirou e passou para a ONU o encargo de resolver a questão fundamen- tal: dar uma pátria aos judeus. Este fato gera a Questão Palestina, um conflito entre árabes e israelenses. 1.3- A Questão Palestina Os palestinos, ao perderem espaços em seu território, parte pela ação da ONU em 14 de maio de 1948, com a criação do Estado de Israel e parte pela ação dos judeus, que iniciam uma expansão em direção às terras vizinhas, criam, em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, cujo objetivo básico é reaver a pátria perdida, ainda que pela ação militar. O mundo árabe, vizinho a Israel, em sua quase totalidade tem apoiado a causa palestina, deixando os judeus ilhados e ameaçados permanentemente. Israel em 1949 Partilha da Palestina pela ONU (1947) Israel hojeIsrael depois de 1967 FONTE: FOLHA DE S. PAULO Esta situação leva Israel, em 1967, a uma fulminante ofensiva militar com arsenal adquirido dos EUA. Nesta ofensiva, conhecida por Guerra dos Seis Dias, Israel conquista as Colinas de Golã (Síria), a Cisjordânia (Jordânia), a Faixa de Gaza e a Península do Sinai (Egito). Derrotados, os palestinos e o mundo árabe lançam um contra-ataque sobre Israel, em 1973, no dia do Yom Kippur (Dia do Perdão e feriado religioso no calendário judaico). É a Guerra do Yom Kippur, onde os árabes são novamente derrotados. Em 1978, há a assinatura do Acordo de Camp David. Este acordo é assinado em separado por Israel e Egito, onde Israel se compromete a devolver o Sinai ao governo egípcio em troca de sua neutralidade. Em conseqüência da assinatura deste acordo, o Egito passa a ser isolado do mundo árabe. Com o intuito de conseguir a paz para a região, alguns acordos têm surgido, com a mediação dos EUA e da Rússia, mas estes não significam a paz em definitivo. O principal deles foi assinado em 13 de setembro de 1993, entre Judeus e a OLP, representados por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, respectivamente. Tecnologia ITAPECURSOS 11 cor preto 1111111111História - M3 O acordo prevê: • reconhecimento, por parte de Israel, da OLP como representante do povo palestino; • reconhecimento, pela OLP, do Estado de Israel; • devolução, pelos judeus, de Gaza e Cisjordânia (esta gradualmente) aos palestinos. Obs.: Israel reconhece a OLP como legítima organização dos palestinos, não reconhecendo a Palestina como legítimo Estado desse povo. FONTE: FOLHA DE S. PAULO - 20/12/90 A justificativa para a geo-política israelense de ocupação das aldeias do sul e da própria capital é a antiga questão de segurança de fronteira contra palestinos e muçulmanos xiitas. Acirra-se, na questão libanesa, a divergência entre Israel e Síria, este último, país árabe muçulmano controlador da região norte do Líbano. Lamenta-se que a Guerra do Líbano represente a destruição de seu modelo democrático, cuja existência é uma rara exceção no Oriente Médio. 1.5- Revolução Islâmica do Irã (1979) No início do século XX, o Irã se viu dividido em duas áreas de influência: russa e inglesa. Durante a II Guerra, o Xá Mohamed Reza Pahlevi, com apoio dos EUA, assume o governo, dando continuidade à sucessão dinástica dos Pahlevi, que se iniciou em 1925. Nos anos 70, os Estados Unidos, numa nítida demarcação de área de influência, começa a dar suporte bélico aos iranianos. Foi a forma encontrada para que não houvesse aproximação do Irã com os Emirados Árabes. Características do governo Pahlevi: • forte ditadura; • corrupção; • dominação econômica externa; • ocidentalização dos costumes. Território libanês controlado pela Síria Planalto de Golan (ocupado por Israel) Territórios disputados entre palestinos e israelenses Território controlado pelo exército do Sul do Líbano (pró- Israel) A Questão do Líbano LÍBANO S ÍR IA Faixa de Gaza ISRAEL C IS JO R D Â N IA JORDÂNIA 1.4- Questão do Líbano Os conflitos entre árabes e israelenses agravaram em muito a questão dos refugiados palestinos. Eles eram expulsos de seus territórios e se instalavam nas regiões vizinhas, fundando campos de refugiados, inicialmente provisórios e depois permanentes, já que não era apresentada solução para o seu problema. Os palestinos expulsos da Jordânia rumaram para o Líbano e lá instalaram a sede da OLP. Desta forma, Beirute, a capital do Líbano, se viu dividida entre uma zona cristã, ligada aos judeus e outra muçulmana, ocupada por palestinos. Em 1982, os palestinos do sul do Líbano são violentamente massacrados por uma ofensiva dos judeus. O governo de Pahlevi foi marcado por críticas, principalmente no que diz respeito à ocidentalização dos costumes, fato inaceitável para uma população com maioria de muçulmanos xiitas. Desta forma, crescem os grupos de oposição desejosos da volta de seu líder político-religioso, o Aiatolá Ruholá Khomeini, exilado no Iraque. Tecnologia ITAPECURSOS 12 cor preto 1212121212 História - M3 A pedido do xá Reza Pahlevi, o governo iraquiano determina o banimento de Khomeini, que se exila agora em Paris, continuando a liderar a oposição e insuflando no povo iraniano um crescente sentimento de ódio ao Iraque. Com as crescentes manifestações de estudantes tradicionalistas, contrários ao governo, Pahlevi, a pedido dos EUA, renuncia e se exila com a família e uma imensa fortuna em diversos países. Assume o governo o oposicionista Chapur Baktiar (01/01/1979), logo derrubado pelo Aiatolá Khomeini, que retorna triunfalmente do exílio. Com a vitória da oposição na revolução, é proclamada a República Islâmica do Irã, a partir de 1979. Principais características da República Islâmica: • crescente oposição ao Iraque e aos Estados Unidos; • violenta repressão aos oposicionistas, através de torturas, mortes, etc., na chamada Guerra Santa; • “inquisição” ideológica; • identificação Estado-Religião, simbolizada no próprio Khomeini, líder político e religioso; • crescente redução do “feminismo”, com a degradante posição das mulheres, oprimidas na sociedade; • terrorismo como política estatal. O fanatismo religioso em Alá promove o extremismo no Irã e em outra regiões de predomínio muçulmano, levando a ações extremistas, ações estas responsáveis por crises políticas de âmbito internacional, como a Guerra Irã x Iraque. 1.6- A Guerra Irã x Iraque (1980/88) O conflito Irã x Iraque, com um saldo de mais de um milhão de mortos, é considerado um dos mais sangrentos episódios da recente História da Humanidade. A Guerra, como em geral as questões acerca do Oriente Médio, possui variadas causas, dentre elas: • divergências sobre a partilha das águas do rio Chatt-El-Arab, na fronteira dos dois países e única saída do Iraque para o mar; • ódio pessoal de Khomeini (Irã) ao Iraque; • disputas internas entre fanáticos grupos muçulmanos(xiitas e sunitas), cobiçando o poder político nos dois países; • a questão dos curdos (povos não-árabes e nômades, que habitam o norte do Irã e do Iraque): seus movimentos separatistas no Irã são apoiados por Bagdá e, no Iraque, por Teerã; • necessidade de controle de maiores áreas de petróleo - principal riqueza da região. Esta guerra alastra-se sobre o golfo Pérsico, onde alvos civis, dos dois lados, são atingidos, além da destruição de parques industriais do Irã. Quando se deu o cessar-fogo, através de mediações do secretário geral das Nações Unidas, em 1988, o Irã dá início às negociações de paz e algumas das vantagens obtidas pelo Iraque são devolvidas ao Irã, em 1990-91, em troca da não adesão desse último às forças de coalizão contra o Iraque, na Guerra do Golfo. Assim, oito sangrentos anos de lutas são parcialmente “esquecidos” pelos dois governos. 1.7- A Guerra do Golfo Pérsico Quando a Guerra Irã x Iraque findou, o Iraque ficou com uma altíssima dívida externa. Com uma economia voltada para a extração do petróleo e com o preço do mesmo em declínio, Saddam ficou sem ter como arcar com este ônus. Tecnologia ITAPECURSOS 13 cor preto 1313131313História - M3 A invasão ao Kuwait, em 02/08/1990, marca o início do conflito, descrito a seguir, em suas etapas básicas: • Saddam Hussein invade o Kuwait; • Bush envia tropas para o Golfo e a ONU impõe o boicote econômico ao Iraque; • Saddam Hussein proclama a anexação do Kuwait e ordena a prisão dos estrangeiros ali residentes, usando-os como escudo humano; • EUA, com a oscilação no preço do petróleo, pressionam a ONU para que esta autorizasse o uso da força; • ONU autoriza o uso da força caso o Iraque não se retirasse do Kuwait até 15/01/1991; • Organizada a coalizão de 28 países, liderados pelos EUA, contra o Iraque; • 16/01/1991: americanos iniciaram os ataques, com o uso de sofisticadas armas; • Iraque ataca Israel e a Arábia Saudita: oficialmente, alguns civis morreram; • 28/02/1991: o Iraque se rende e Bush anuncia a vitória e o cessar-fogo. 2- ÁFRICA DO SUL O regime de segregação racial da África do Sul, conhecido como Apartheid (desenvolvimento em separado de raças), ameaçou o país no decorrer do século XX, vitimando as diversas raças não-brancas, sobretudo a negra, maioria da população, oprimida pelo governo branco, de minoria. Embora prevista em lei antes de 1948, é a partir desta data que a política segregacionista ganha ímpeto, com a subida ao poder do Partido Nacional. Contradições do Apartheid: • a defesa do problema racial atenua, em muitos casos, a luta pela igualdade e pela busca de novas alternativas de sistema econômico pela população não-branca, tornando o movimento anti-apartheid, nesse caso, paradoxalmente, interessante para a minoria branca que detém o poder; • o problema racial da África do Sul desvia a atenção mundial para o país, em detrimento de problemas sócio-econômicos, também graves, nas nações vizinhas do continente, tais como a fome, elevada mortalidade, analfabetismo, etc. Mesmo a população sul-africana pobre e discriminada pelo problema étnico ainda possui um nível de vida médio superior àquele apresentado por quase todas as populações dos demais países do continente; • durante vários anos, a maioria da população negra do país se colocou contra as sanções econômicas feitas à África do Sul pelo exterior, uma vez que os melhores empregos e salários e os progressos e avanços tecnológicos conseguidos também nas comunidades negras eram originários dos grandes grupos multinacionais que, devido ao boicote, fecharam suas atividades no país. Assim, numa análise de curto prazo, o boicote internacional piorou o nível de vida da maioria dos habitantes negros; • as sanções culturais e científicas isolaram o país, fazendo com que apenas os brancos, detentores de melhor poder aquisitivo, tivessem aceso à modernidade do mundo, ampliando no nível interno a submissão do negro, culturalmente mais afastado das elites brancas. Inversamente, não se permite a própria divulgação das manifestações da maioria negra para fora do país, o que poderia valer um fortalecimento de sua causa. Outra grande dificuldade vivida pela África do Sul para a sua estabilidade são as disputas políticas inter- tribais, sobretudo em seus Bantustões (regiões autônomas, com governo negro). Neste contexto, destaca-se a oposição entre as duas principais organizações negras do país: • CNA (Congresso Nacional Africano), de Nelson Mandela (Xhosas) • Inkhata, de Mangosuthu Buthelesi (Zulus) Tecnologia ITAPECURSOS 14 cor preto 1414141414 História - M3 A derrubada gradual do Apartheid, uma das características marcantes da transição dos anos 80/90, é exemplificada pela: • abertura gradativa dos locais públicos para freqüência indistinta de brancos e negros; • libertação de presos políticos defensores da causa negra, inclusive Nelson Mandela; • eleição do presidente Frederick De Klerk (1989), a última sem o direito de voto aos negros. Reconhecendo que o regime está em declínio, a ONU retira as sanções contra a África do Sul em 1991. 3- DECLÍNIO DO SOCIALISMO 3.1- Continente Europeu Na transição dos anos 80/90 do séc. XX, temos o questionamento do socialismo instalado na Europa no pós-II Guerra representado pela ditadura política e social e pelo intervencionismo estatal na economia. Ele se baseava na (o): • instalação de um regime fechado; • censura aos meios de comunicação (escrita ou falada); • opressão aos direitos individuais (direito de ir e vir, direito de greve, direito de voto); • repressão do Estado (ditadura política e social e intervenção na economia); • ausência da propriedade privada dos meios de produção; • unipartidarismo (comunista). A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) antes de sua desagregação era uma das superpotências militares, com armas nucleares, e a 2ª maior economia mundial, só sendo superada pelos EUA, fato esse que ajudou a demover os países capitalistas de uma investida em seu território. Mesmo após a política de desarmamento da era Gorbachev (1985/91), a URSS continuou com um grande arsenal militar. Contudo este sistema, por se tornar inoperável, não foi suficientemente forte para conter o colapso e a desagregação dos países do leste europeu. Quando Gorbachev, em 1985, assume o cargo de secretário geral do Partido Comunista, o perfil soviético vai se modificando. Ele inicia um programa de reformulação interna e externa na política, na administração e na economia. Com a Glasnost (“transparência”), internamente, surge uma política de abertura, com uma campanha contra a corrupção e a ineficiência administrativa, reduzindo a censura e a repressão, ampliando o direito de greve, aumentando o direito dos cidadãos e quebrando o monopólio político exercido pelo Partido Comunista. No âmbito externo, promove a aproximação com os dirigentes do bloco capitalista, firmando acordos de redução do arsenal militar, inclusive nuclear. Com a Perestroika (“reestruturação”), há a abertura aos investimentos privados e externos em vários setores da economia. Com estas aberturas surgirão oportunidades de se questionar: - O Partido Comunista como dirigente político; - O Sistema Comunista como modelo econômico; - O Estado Soviético como mantenedor de ambos; - A figura de Gorbachev como dirigente de tal estrutura. Tecnologia ITAPECURSOS 15 cor preto 1515151515História - M3 Há um aprofundamento das divisões políticas internas na URSS, com a formação de duas correntes antagônicas: 1ª - Ultra-Reformista: desejando acelerar o ritmo das mudanças propostas, consideram Gorbachev muito lento. Conta com a liderança de Boris Ieltsin (presidente da Rússia, eleito pelo voto popular) e com o apoio da maioria da população e do Ocidente, uma vez que a proposta do grupo é a adoção da economia de mercado. 2ª - Conservadora: desejando conter as mudanças propostas, fazendo retornar o Estado Socialista tradicional. As medidas liberalizantes são consideradas “perigosas”pelo risco de convulsão social, “ineficazes” diante do quadro de miséria e capazes de conduzir à dependência para com o Ocidente. Mantém oposição à Gorbachev, idealizador de tais mudanças. Esta ala é composta por lideranças tradicionais do Partido Comunista, como militares e burocratas do velho Estado soviético. Para conter o avanço da onda ultra-reformista de Ieltsin e aproveitando-se do desprestígio de Gorbachev, os conservadores tentam, sem êxito, um Golpe de Estado em agosto de 1991. Ieltsin se torna o grande vitorioso (com apoio interno e externo) ao propor o programa separatista da Rússia e o fim dos símbolos socialistas (bandeiras, estátuas, monumentos, etc.), sendo acompanhado por todas as demais Repúblicas. Desta forma, vai crescendo a busca pela liberdade e as Repúblicas Bálticas (Letônia, Lituânia e Estônia) são as primeiras repúblicas socialistas a terem a sua independência reconhecida, externa e internamente. Diante destes fatos, a própria URSS não resiste e em 21 de dezembro de 1991 desintegra-se, com a independência de suas Repúblicas, transformadas em Comunidades dos Estados Independentes (CEI), sem um governo central. Em 25 de dezembro do mesmo ano, Gorbachev renuncia ao cargo de presidente de uma nação que não mais existia e Boris Ieltsin, governante da Rússia, passa a deter o controle sobre o arsenal nuclear existente em sua República. Ao assumir o governo russo, Ieltsin adota um plano de crescente abertura à economia de mercado, não conseguindo, porém, solucionar os problemas internos, como a miséria, a inflação e o desemprego. Surge uma nova era para estas nações que estão (re)surgindo, onde o unipartidarismo cede lugar ao pluripartidarismo com eleições livres e ocorre a transição para uma economia de mercado. Ao longo dos anos 90, a Rússia passa por cres- cente crise sócio-econômica, recebendo grande ajuda financeira internacional e sem conseguir melhorias para a população em geral, vítima de graves problemas sociais. A) Romênia O fim do regime socialista se deu a partir da deposição do governo de Nicolae Ceausescu. Esta transição para um governo democrático foi feita de forma sangrenta, com a atuação da Securitate (polícia política que manteve o presidente como ditador) que matou milhares de pessoas uma semana antes da queda do regime. O governante, responsabilizado pelo massacre e pela corrupção, foi deposto, preso e fuzilado, em dezembro de 1989, juntamente com sua mulher. O novo governo, formado pelo Conselho da Frente da Salvação Nacional (FSN), iniciou um processo de mudanças políticas e econômicas: convocação de eleições livres para o ano de 1990 e abertura à economia de mercado. Em 1993, a Romênia ingressa na UE (União Européia), o que não a livrou das grandes dificuldades econômicas. É o primeiro país do leste a ingressar na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Nas eleições presidenciais de 1996, vence a oposição democrática, com Emil Constantinescu sendo eleito presidente e Victor Ciorbea no cargo de primeiro- ministro. B) Hungria Em 1989, abre suas fronteiras com a Áustria ao romper com as cercas eletrificadas, permitindo a fuga de milhares de alemães orientais para o lado capitalista (Alemanha Ocidental). É também a primeira nação a adotar eleições livres e pluripartidárias, ainda no ano de 1990, sendo posteriormente seguida por outras nações do leste europeu. O trânsito de pessoas era livre dentro dos países do leste europeu. Com a abertura das fronteiras húngaras com a Áustria (país capitalista) os alemães orientais iam para a Tchecoslováquia, depois para a Hungria, atingiam a Áustria, para finalmente chegar à Alemanha Ocidental. (Ver mapa ao lado) Tecnologia ITAPECURSOS 16 cor preto 1616161616 História - M3 C) Polônia Seu governo comunista, no poder por mais de quatro décadas, estava sendo questionado por uma forte oposição, representada pelo Solidariedade, Central Sindical recém-saída da clandestinidade. Após acordos que levariam a termo várias greves do ano de 1988, o país não mais seria o mesmo. Eleições parlamentares parcialmente livres mostrariam esta nova face a um mundo que ainda se achava dividido em dois blocos. Em 1991, Lech Walesa (líder do Solidariedade) é eleito presidente da Polônia e inicia a passagem do país para uma economia de mercado, aproximando-se dos EUA. Em 1995, a derrota de Lech Walesa à presidência da Polônia daria um novo perfil ao país, que seria governado por Aleksander Kwasniewski, então líder da Aliança Democrática da Esquerda (ADE). 3.2- China Desde a implantação do socialismo, vivendo sob governos tirânicos e centralizadores que promoviam uma forte censura e onde os opositores eram perseguidos, a China se viu, durante os anos 80/90, diante de perspectivas de mudanças. Quando Deng Xiaoping assume o governo, começa a haver uma abertura a investimentos externos, acompanhados de uma busca por maiores liberdades internas. Na metade da década de 80, quando estudantes que manifestavam contra o governo de Deng Xiaoping foram duramente reprimidos, teve-se o perfil de seu governo: opressão total a todo e qualquer tipo de revoltas ou questionamentos. O mesmo se repetiu na primavera do ano de 1989, quando os estudantes se reuniram na Praça da Paz Celestial para tentar promover uma mudança no regime de governo de forma mais democrática e pacífica e foram também reprimidos. O episódio, conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial ou Primavera de Pequim, mostrou ao mundo a opressão do governo comunista chinês à base de tropas e blindados. E qual o crime cometido por estes manifestantes? Pedir por reformas políticas e econômicas e pelo fim da corrupção no país. E que “castigo” receberam? O fim de suas vidas, de seus amigos e familiares, num número que ainda hoje não se tem com exatidão, podendo ter chegado aos milhares. Ou seja, mesmo diante das insatisfações populares, o governo se faz presente deixando à mostra a primazia do partido comunista sobre a sociedade. Em 1989, Deng, talvez justificando a sua atitude, em conversa com um jornalista assim se pronunciou: “Se desejarmos uma democracia que não corresponda ao grau de desenvolvimento do país, não teremos nem desenvolvimento, nem democracia. E em nosso país reinarão as desordens. Estou convencido disso: já fizemos a experiência da revolução cultural e vimos suas conseqüências [...]. Nossa população é grande e cada um tem seu ponto de vista. Se permitirmos que um se manifeste hoje, e amanhã outro, a cada dia teremos mais gente nas ruas. E a economia? [...] Se cada um dos jovens insistir em seu ponto de vista, chegaremos a uma guerra civil [...]. Não precisaremos necessariamente de espingardas e canhões. Bastarão punhos e bastões de madeira.” Eram os ventos de uma economia de mercado que estavam sendo soprados nos países do leste europeu e que não agradavam aos governantes chineses. Com isso, a iniciativa privada se viu atacada, visto ser foco de proliferação de uma ideologia democraática, onde seus trabalhadores adquiriam autonomia e o governo perdia o controle sobre eles. Também as instituições de ensino tiveram sobre si uma atenção especial, por motivos óbvios. Dentre as atitudes para dinamizar a economia chinesa, Deng manteve contatos com o mundo capitalista, além de negociações com a ex-primeira- ministra da Inglaterra, Margareth Thatcher. Como resultado destes encontros ficou acertada a devolução de Hong Kong à China, em 01 de julho de 1997– o que, de fato, ocorre. Hong Kong encontra-se sob domínio britânico desde a vitória inglesa na Guerra do Ópio, de 1842. Em 19 de dezembro de 1999, é a vez de Portugal devolver Macau aos chineses, após 442 anos de domínio luso, o que representa o fim do Império colonial português no planeta. Jiang Zemin, sucessor de Deng, falecido em 1997, mantém as mudanças econômicas, mas em meio a um quadro de excessivo autoritarismo político.Com a incorporação de Hong Kong e Macau, desmonta-se ainda mais o já combalido quadro colonial construído nos tempos do colonialismo da Era Modernaou, mais tarde, do Neocolonialismo do século XIX. Tais incorporações sugerem, dentro da abertura econômica vigente, uma questão, ainda sem respostas: como se comportará a China da entrada do século XXI, na condição de “um país, com dois sistemas econômicos”? Tecnologia ITAPECURSOS 17 cor preto 1717171717História - M3 4- MOVIMENTOS NACIONALISTAS O Nacionalismo enquanto afinidade cultural, sem limites nem rigidez de conceitos, pode existir entre povos de diversas pátrias, como também pode haver vários nacionalismos numa mesma pátria. Sem conceitos, pode-se diferenciá-lo de Patriotismo, pois este se prende a determinado espaço geográfico, enquanto aquele prende-se mais a questões culturais. Os movimentos nacionalistas são mais comuns na Europa, principalmente durante a transição dos anos 80/90. É quando se tem a decadência do modelo socialista e, com a abertura política, estes movimentos, muitas vezes adormecidos, puderam vir à tona. Principais razões para a eclosão destes movimentos na Europa: • grande densidade demográfica: diversas etnias em reduzido espaço territorial; • palco das grandes guerras: a mudança do mapa europeu não levou em consideração as questões étnicas, culturais e sociais dos povos; • colapso do socialismo: espaço para movimentos de contestação, inclusive de natureza nacionalista. Quando se fala em Nacionalismo, questionam-se as formas como se deu a sua manifestação. Não se pode generalizar que, em todas as partes, ele se processe seguindo um modelo. Ele não tem regras fixas. Desta forma, pode-se dizer que o Nacionalismo: 1º- NEM SEMPRE expressa-se sob a violência. Ex.: Tchecoslováquia - Separatismo por via pacífica A barreira contra o regime repressor é rompida em 1989, através da “Revolução de Veludo”, que faz desaparecer o socialismo no país. Tem-se, com isso, a realização de eleições pluripartidárias, com Vaclav Havel eleito para o cargo de presidente e Marian Calfa para primeiro-ministro federal. Com o fim do socialismo, intensifica-se a questão nacionalista, buscando a cisão do país. Aprofundam-se as divergências internas e as diferenças culturais se impõem, sem os fatores de aglutinação como as guerras, ameaças externas e repressão do regime anterior. Em 1º de janeiro de 1993, consolida-se o processo de secessão, marcando o fim da federação e a criação de duas repúblicas soberanas, a Tcheca e a Eslovaca, pondo fim a uma união datada de 1918. Em todo o processo mencionado, percebe-se que, apesar das diferenças culturais, que culminam no separatismo, a convivência entre tchecos e eslovacos não foi marcada pelo ódio. Os vários instantes de união passam pelas intelectualidades do país, como o demonstrado em 1968 e 1989, o que garante mais organização dos princípios e maturidade nos ideais revolucionários. Contrastando com o caso da Tchecoslováquia tem-se o separatismo obtido através da luta armada. Cita- se como exemplo a Iugoslávia. A Federação PNB: US$ 558 bilhões Dívida externa: US$ 12 bilhões Inflação: 10% (em 92, projeção) Religião: 70% de católicos, 15% de protestantes Idiomas oficiais: tcheco e eslovaco, mutuamente com- preensíveis. República Tcheca Área: 78.864 Km2 População: 10,3 milhões Desemprego: 4% República Eslovaca Área: 49.035 Km2 População: 5,3 milhões Desemprego: 12% POLÔNIA A DIVISÃO NA TCHECO-ESLOVÁQUIA País é formado pelas repúblicas Tcheca e Eslovaca ALEMANHA ÁUSTRIASUIÇA ITÁLIA ESLOVÊNIA HUNGRIA CROÁCIA ROMÊNIA MOLDOVA TCHECO-ESLOVÁQUIA Tecnologia ITAPECURSOS 18 cor preto 1818181818 História - M3 A Iugoslávia surgiu em fins da I Guerra Mundial (1914-18), com o fim dos Impérios Austro-Húngaro e Turco- Otomano. É formada a partir da fusão da Sérvia com a Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro, Eslovênia e Croácia, constituindo, cada uma dessas regiões as províncias da Federação. Após a II Guerra Mundial (1939-45), o país conhece seu maior momento de união. Sob o governo de Josip Tito, através de seu carisma pessoal e mão-de-ferro, a unidade é mantida. Tito rompe relações com Stalin, mantendo o comunismo, só que sem a influência de Moscou. Com esta atitude Josip Tito mantém-se no bloco oriental (socialista) mas não sofre agressões do Ocidente (devido ao caráter anti-stalinista de seu governo), impondo- se com respeitabilidade no cenário internacional. No nível interno, tem idéias de autogestão em fábricas e fazendas. Com a morte de Josip Tito, em 1980, e com o declínio do socialismo, o cenário político da Iugoslávia é o de desmantelamento de uma unidade territorial, construída de forma artificial, após a I Guerra Mundial, sem levar em consideração as diferentes nacionalidades, de difícil convivência. No início dos anos 90, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia-Herzegovina proclamam as suas independências, sendo a última, em meio a uma sangrenta Guerra Civil. Assim, a partir de 1993, a nação iugoslava é constituída somente pela Sérvia (grande responsável pela ação anti-separatista) e pelo Montenegro, além das províncias de Kosovo e Voivodina. Os choques político-étnico- religiosos da região prosseguem com a tentativa de independência da província de Kosovo, em 1999, 2º- NEM SEMPRE provoca rupturas. Ex.: Alemanha O caso alemão é um exemplo típico de manifestação pela união, onde as duas Alemanhas, divididas após a II Guerra Mundial, se unificam. Após a II Guerra, Berlim foi dividida em quatro zonas de ocupação: francesa, inglesa, americana e russa. Em 1948, os setores capitalistas se unificaram, surgindo profundas divergências entre os dois blocos sobre questões de administração econômica da capital alemã. Diante disso, os soviéticos, sob Stalin, decre-taram o bloqueio no abastecimento e comunicação terrestre entre os capitalistas e sua área de Berlim, visto que a cidade está localizada no setor socialista - trata-se do Bloqueio de Berlim. Os americanos neutralizaram o bloqueio reabastecendo a área capitalista por via aérea. Como reflexo imediato do Bloqueio de Berlim, ocorreu, em 1949, a divisão da Alemanha, em Ocidental - República Federal da Alemanha, de influência capitalista e Oriental - República Democrática Alemã, de influência socialista. Em 1961, oficializa-se a divisão da cidade entre capitalistas (setor ocidental) e socialistas (setor oriental), com a construção do Muro de Berlim. Assim, Berlim, embora possuindo um setor capitalista, esteve geograficamente inserida na Alemanha Oriental. Com isso, Berlim se viu separada pelo “muro da vergonha” de 1961 até 1989, quando, sob o olhar atento de milhões de pessoas, ruiu sob a força de marretas, picaretas e tratores. sem sucesso. Essa Guerra de Kosovo retrata as perseguições aos albaneses muçulmanos kosovares, por parte dos sérvios ortodoxos, por ordens do presidente iugoslavo de origem sérvia, Slobodan Milosevic, no poder desde 1987. Constitui-se uma grande aliança militar ocidental em defesa dos kosovares, liderada pela OTAN, temendo que a fuga em massa da população de Kosovo possa gerar problemas de difícil administração para outros centros europeus (como a Itália). Teme-se, também, que a instabilidade balcânica possa estimular outros conflitos de natureza nacionalista-separatista pela Europa, o que explica a ausência de esforço, por parte das grandes potências ocidentais, em auxiliar Kosovo a se libertar de forma definitiva da Iugoslávia. Em outubro de 2000, Milosevic é derrotado em eleições presidenciais tumultuadas e se refugia fora do país. A oposição comemora a queda do último ditador do leste europeu e a vitória de Vojislav Kostunica. ESLOVÊNIA CROÁCIA BÓSNIA HERZEGOVINA VOIVODINA SÉRVIA IUGOSLÁVIA MONTE NEGRO A LB Â N IA KOSOVO MACEDÔNIA ROMÊNIA GRÉCIA BULGÁRIA Mar Adriático IUGOSLÁVIA - DIVISÃO POLÍTICA Tecnologia ITAPECURSOS 19 cor preto 1919191919História - M3 Recursos serão necessários para montar, do lado oriental, uma infra-estrutura condizente com o desenvolvimento ocidental e parte deles serão retirados dos próprios moradores na forma de impostos. Somando-se aisso, cresce a onda de desemprego (desqualificação profissional e migrações para o lado ocidental) e do custo de vida do lado oriental. Para grande parte de sua população, que tinha antes a garantia de um emprego, a reunificação é sinônimo de desemprego. Na parte ocidental, um outro fato preocupa a todos: crescem as manifestações xenófobas, retratado no recrudescimento do Neonazismo, com força e violência, inclusive fora da fronteira alemã, com manifestações nacionalistas e militaristas de preocupantes repercussões. A partir da opção pelo regime capitalista, a Nova Alemanha faz parte do Mercado Comum Europeu (e não do COMECON) e da OTAN (e não do Pacto de Varsóvia), mostrando a nítida influência ocidental, política e econômica. 3º- NEM SEMPRE associa-se à miséria sócio-econômica. Contrastando com o separatismo, por exemplo, na ex-URSS e na ex-Iugoslávia, os movimentos nacionalistas não se expressam apenas diante de crises econômicas vigentes nos países em desenvolvimento. Como é um sentimento sobretudo cultural, também ocorre nas nações do chamado Primeiro Mundo. Como exemplo, pode-se destacar a ação secessionista na Irlanda do Norte (Ulster), província britânica de maioria protestante e berço dos terroristas do IRA - Exército Republicano Irlandês. O IRA quer unificar o Ulster com a República da Irlanda (Irlanda do Sul), predominantemente católica. Tem-se também o movimento separatista das províncias da Espanha - Catalunha, Galícia e Países Bascos - nesta última destaca-se o grupo guerrilheiro terrorista ETA (Euzkadi ta Askatasuna - Pátria Basca e Liberdade), organização criada em 1959 que defende a independência do País Basco (norte da Espanha). Observe no mapa os diversos movimentos nacionalistas na Europa Ocidental. DIVISÃO DA ALEMANHA BERLIM BONN ALEMANHA OCIDENTAL (CAPITALISTA) ALEMANHA ORIENTAL (SOCIALISTA) Divisão da Alemanha 1949 BERLIM OCIDENTAL S E T O R F R A N C Ê S SETOR AMERICANO BERLIM ORIENTAL BLOQUEIO DE BERLIM SETOR SOVIÉTICO SETOR INGLÊS MURO DE BERLIM (1961) Um dia após a queda do muro, o chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, propõe a reunificação das duas Alemanhas. Novas medidas passam a ser tomadas para que haja a concretização deste ideal. São realizadas eleições livres, democráticas e secretas. Como parte da etapa de unificação, tem- se, no dia 18 de maio de 1990, a adoção da unidade monetária. Em 3 de outubro de 1990, toda a Alemanha comemora a reunificação. As Alemanhas do Leste e do Oeste são unidas numa Alemanha Federal. A partir de agora, as duas Alemanhas serão representadas na ONU por uma única bandeira. F O N T E : F O LH A D E S . P A U LO - 22 /0 9/ 91 OS NACIONALISMOS NA EUROPA OCIDENTAL Tecnologia ITAPECURSOS 20 cor preto 2020202020 História - M3 Como visto anteriormente, os movimentos nacionalistas ocorrem com maior freqüência na Europa, mas não se limitam a ela, como é o caso, por exemplo, do Canadá (Quebec). No pós-II Guerra, crescem as reivindicações por maior autonomia da província do Quebec. Através de um plebiscito realizado em 1995 os separatistas, por pequena diferença de votos, são derrotados. 5- TIGRES ASIÁTICOS São conhecidos como Tigres Asiáticos as nações do leste, sudeste e sul da Ásia que, desde os anos 80, vêm apresentando um grande crescimento de suas economias, acima dos níveis médios do mundo. São comandados por regimes políticos autoritários e repressivos, não tendo uma normalidade democrática. Os tigres asiáticos adultos e jovens mais conhecidos são Coréia do Sul, Taiwan (Formosa), Hong Kong, Cingapura, Malásia e Tailândia. Os conglomerados transnacionais, em suas opções de investimento nas chamadas economias emergentes, consideram os tigres como sendo: • regiões com uma pequena extensão territorial; • modesta dotação de recursos naturais; • eficientes plataformas de exportação, de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias; • capacidade de rápida absorção dos avanços tecnológicos, apesar de culturas tradicionalistas; • mão-de-obra homogênea do ponto de vista da qualificação; • mercado interno de pequena dimensão. OS TIGRES ASIÁTICOS Mongólia China Tailândia Oceano Índico Malásia Cingapura Hong-Kong Oceano Pacífico Formosa (Taiwan) Coréia do Sul Japão Obs.: Os Tigres Asiáticos têm seus nomes grifados FONTE: JORNAL DO BRASIL “Os dragões e tigres asiáticos pararam de rugir e estão andando de um lado para o outro, dentro da jaula, com um ar desanimado, quase abobalhado. A Tailândia, Cingapura e até mesmo o “tigre dos tigres”, a Coréia do Sul, não param de se lamentar. O próprio Japão, estrela mundial, está começando a ficar sem gás. E a China? O que anda acontecendo com a China comunista? Oficialmente, sorri: essas crises de fossa são coisa das economias ocidentais, devoradas pela especulação.” (ESTADO DE SÃO PAULO - 19/12/1997) Tecnologia ITAPECURSOS 21 cor preto 2121212121História - M3 Em agosto de 1997, algumas economias asiáticas, como a Tailândia, a Malásia e as Filipinas, foram alvos de ataques especulativos e, diante de uma grande pressão, se viram obrigadas a desvalorizar suas moedas, com reflexos negativos em suas bolsas de valores. Foi a chamada Crise Asiática que, dentro de uma economia globalizada, afetará diversos países do globo. Em Hong Kong um movimento semelhante alvoroçou o mercado cambial. O dólar de Hong Kong, que tem uma paridade fixa determinada pelo BC, oscilou para tocar o nível mais baixo, de 7,74 unidades por dólar americano. A crise se deu quando grupos financeiros internacionais realizaram negócios em moeda local, nos chamados mercados do futuro (sem nenhum controle local) e depois forçaram a compra de dólares. Com isso, os Bancos Centrais locais vêem suas reservas caírem perigosamente e não têm outra alternativa senão desvalorizar a moeda local. Depois da desvalorização, os especuladores realizam seus lucros, através de negócios fechados quando o câmbio era outro. Embora a China, até agora, não tenha sido diretamente afetada pela turbulência dos mercados, o governo se preparou para enfrentar um possível impacto e o programa de reformas, principalmente do sistema financeiro, deverá ser acelerado. Em resposta à crise, ela deverá manter o valor da moeda, visto que uma desvalorização da moeda chinesa seria desastrosa, desencadeando uma nova onda de instabilidade no Oriente. A atividade continuará a crescer e o superávit comercial será reduzido, para ajudar a recuperação dos países vizinhos. Também o Japão está sentindo os efeitos da Crise. Os dekasseguis estão sendo repatriados pela Asibras (Associação dos Imigrantes no Brasil). O Japão era visto como um “eldorado”, onde os descendentes de japoneses poderiam ter a possibilidade de uma melhora sócio-econômica. Hoje o emprego já não é tão fácil. E o que é mais sério: estes trabalhadores não estão tendo assistência médico-hospitalar, pois eles não têm acesso ao seguro- saúde. Acabam, em caso de necessidade, tendo dificuldades em se tratar. (REVISTA ISTO É: 15/07/98) 6- GRANDES BLOCOS ECONÔMICOS Na transição dos anos 80/90, com o fim da Guerra Fria, há o fortalecimento de blocos econômicos regionais, com a formação de zonas de livre comércio. Dentre os diversos blocos econômicos existentes, cita-se: 6.1- União Européia A União Européia (UE) é a 3ª maior associação econômica em termos de Produto Interno Bruto (PIB). Conhecida por Comunidade Econômica Européia, torna-se União Européia em 1993, quando o Tratado de Maastrichit entra em vigor. Este Tratado estabelece os critérios que irão definir a participação dos Estados- membros na União Econômica e Monetária a partir de janeiro de 1999. Objetivos: • intercâmbio cultural e científico; • unificação de leis trabalhistas, criminais e de imigração; • livre circulação de pessoas e produtos. • moeda única: euro 6.2- Outros Blocos Econômicos O Nafta (Acordo de Livre Comércio Norte-Americano) tem por objetivo estimular o comércio entre Canadá, Estados Unidos e México (países membros), de formaa eliminar, gradativamente, as tarifas e barreiras alfandegárias entre os mesmos. Um dos problemas enfrentados pelo Nafta é que, devido ao desnível social do México, pode haver uma entrada maciça de mão-de-obra barata mexicana nos EUA (principalmente) e Canadá, ocorrendo, em contrapartida, a entrada de produtos norte-americanos no México, em vantajosas condições de concorrência com os produtos mexicanos. O Mercosul (Mercado Comum do Sul) tem por objetivo a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas. Visa, também, instituir uma zona de livre comércio na América do Sul, com a redução gradativa das tarifas de importação até que chegue a zero (prevista para o ano 2.000). Com isso espera-se que haja uma maior integração e cooperação econômica entre seus signatários. A APEC (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) tem por objetivo transformar o Pacífico em uma área de livre comércio, com a redução gradativa das tarifas alfandegárias. A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), ainda a ser instituída, tem por objetivo a formação de uma área com cooperação mútua e liberdade de comércio, com o fim das tarifas alfandegárias. Quando for constituída será o bloco mais forte do comércio mundial, superando inclusive a União Européia. Trinta e quatro países democráticos, com exceção de Cuba, farão parte da ALCA. Prevê-se seu funcionamento a partir de 2005. Tecnologia ITAPECURSOS 22 cor preto 2222222222 História - M3 REPÚBLICA OLIGÁRQUICA (REPÚBLICA VELHA) O BRASIL DE 1889 A 1930 I - APRESENTAÇÃO Entende-se por República Velha o período da História do Brasil que vai da Proclamação da República, em 1889, até a Revolução de 1930. Apesar da mudança na forma (República) e no sistema de governo (Presidencialista), além da adoção de uma nova Constituição (1891), mantém-se a tradição agrário-latifundiária-exportadora, com o predomínio das oligarquias rurais (coronéis) e as acentuadas disparidades sociais – quadro típico do Império, cujas origens remontam à Colônia. Algumas alterações, porém, se fazem notar nessa Primeira República: a maior presença do grande capital, a intensificação da industrialização, a entrada mais maciça de imigrantes, a marginalização do negro e do nascente operariado, o surgimento de novas ideologias nascidas principalmente das precárias condições de trabalho nas fábricas, além de diversos choques, no campo e na cidade, que demonstram o questionamento do poder dominante. A República Oligárquica é um arranjo de forças opostas, novas e tradicionais, em conflito: de um lado, sertanejos, operários, ex-escravos, imigrantes marginalizados e militares de baixa patente, e de outro, as forças dominantes, representadas pela aristocracia agrária, militares de alta patente e a nascente burguesia urbano-industrial. Assim como a Proclamação da República não pode ser considerada um marco transformador das estruturas do Império, a Revolução de 1930 também deve ser entendida bem mais como uma rearticulação de novas forças, representadas pela burguesia indus- trial em ascensão, em convívio com as oligarquias rurais até então predominantes. II - A CRISE DA MONARQUIA E AS ORIGENS DA REPÚBLICA A partir da segunda metade do século XIX, aproximadamente, a monarquia brasileira não responde satisfatoriamente às necessidades de transformação e aos grandes questionamentos levantados por uma parcela cada vez mais significativa das classes médias e altas. São questionados, dentro do Império: • o unitarismo, que centraliza as decisões na figura do imperador; • o voto censitário, que exclui a maior parte da população dos direitos políticos, • o Senado vitalício, que perpetua em torno do monarca elementos da elite agrário-escravista; • o regime de Padroado, que submete a Igreja ao Estado; • o escravismo, que se torna incompatível com as condições impostas pelo Capitalismo do século XIX; • a Constituição de 1824, que prevê todas as características acima. Reivindica-se um novo sistema e uma nova forma de governo, respectivamente, o Presidencialismo e a República, para tornar possível: o federalismo; o fim do voto censitário; o fim da vitaliciedade do Senado; a independência da Igreja ao Estado; o estímulo ao trabalho assalariado e ao crescimento econômico; uma nova Constituição, formalizadora de tudo isso. Tecnologia ITAPECURSOS 23 cor preto 2323232323História - M3 É significativo, ainda, o fato de o Brasil ser, em fins do século XIX, a única monarquia das Américas e um dos últimos redutos do escravismo no continente. Todo esse questionamento da estrutura da monarquia explica a existência das questões, principalmente a partir de 1870, vistas a seguir, que conduzem à Proclamação da República. 1 - QUESTÃO MILITAR Terminada a Guerra do Paraguai (1864-70), o Exército Nacional retorna vitorioso e consciente de sua força política. O contato com a oficialidade das nações vizinhas, Repúblicas governadas por militares, amplia a ambição política e o sonho republicano entre as altas patentes. O exército reclama ainda da interferência do poder civil em assuntos especificamente militares e dos baixos soldos. A insatisfação com a monarquia expressa-se na adoção do positivismo, filosofia de origem européia, baseada na defesa “da ordem e do progresso”. Nesse contexto, o exército passa a defender o desenvolvimento econômico com base na industrialização, no estímulo à imigração e no fim da escravidão, incompatíveis com os interesses dos grupos latifundiários e escravistas dominantes do Império. A defesa do abolicionismo prende-se ainda a um desejo de recompensar aos escravos pela participação dos mesmos na Guerra do Paraguai. Por tudo isso, a Questão Militar representa o fim do apoio do exército à Monarquia e sua conseqüente adesão à República. 2 - QUESTÃO RELIGIOSA O regime do Padroado, que submete a Igreja ao Estado, previsto pela Constituição Imperial de 1824, causava crescente insatisfação entre os clérigos. No início dos anos 70, bispos do Rio de Janeiro, Olinda e Belém não aceitam a presença de padres em lojas maçônicas e de membros da maçonaria em irmandades religiosas. Essas irmandades recorrem ao Imperador D. Pedro II, que condena os bispos à prisão. Tal fato é o culminar da Questão Religiosa, mediante a qual a Igreja retira o apoio à Monarquia. O clero defende a República, condicionado à separação entre Igreja e Estado no regime posterior. 3 - MANIFESTO REPUBLICANO E PARTIDOS REPUBLICANOS A publicação do “Manifesto Republicano”, em 1870, explicita a indesejável condição do país de única monarquia das Américas (“Somos da América e queremos ser americanos”). Expressa as concepções republicanas de liberalismo e federalismo inexistentes na Monarquia. Condena o escravismo, o que faz com que duas correntes passem a defender os mesmos interesses: a abolicionista e a republicana. O desejo de maior autonomia às províncias (federalismo) leva a adesão de grandes proprietários rurais à causa da República. Muitos desses são responsáveis pela fundação de Partidos Republicanos em todo o país, com destaque para o Partido Republicano Paulista (PRP), surgido na Convenção de Itu (1873) e aglutinando os cafeicultores da província, em especial do Oeste, de grande poder econômico. O Manifesto Republicano e os PR’s formalizam as bases políticas para o questionamento da Monarquia. 4 - QUESTÃO ABOLICIONISTA Sem o apoio do Exército, da Igreja, dos cafeicultores do oeste paulista, das classes médias e de parcela significativa da imprensa, restava ao Imperador o apoio de um único reduto: dos tradicionais “barões do café”, latifundiários e escravistas. Entretanto, ao longo da segunda metade do século XIX, D. Pedro II vem sendo insistentemente pressionado, interna e externamente, para o fim do trabalho escravo, o que contraria os interesses dos monarquistas tradicionais. É significativa a participação da Inglaterra, em plena Revolução Industrial, lutando pelos seus interesses capitalistas de ampliação dos mercados consumidores no Brasil, incompatíveis com o escravismo. Acuadodiante dos interesses antagonistas dos escravistas-monarquistas e dos abolicionistas-republicanos, o monarca promove a abolição gradual da escravidão, com leis de pouco significado prático para o escravo. As insuportáveis pressões pelo fim do escravismo levam à Lei Áurea de 1888, sem as esperadas indenizações aos senhores de terra pela perda de seus escravos. É o ápice da Questão Abolicionista, que conduz até mesmo tradicionais latifundiários à causa da República, numa atitude de represália ao Imperador (são chamados de “Republicanos do 13 de maio”). Sem qualquer ponto de sustentação política, D. Pedro II deixa o país, possibilitando o golpe de implantação da República, em 15 de novembro de 1889, numa pacífica transição de regimes. Tecnologia ITAPECURSOS 24 cor preto 2424242424 História - M3 III - INSTABILIDADE INICIAL DA REPÚBLICA Com a Proclamação, formalizada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, é instalado o primeiro Governo da República, ainda provisório, chefiado pelo mesmo marechal. No Governo Provisório de Deodoro (1889 a 1891) extingue-se a vitaliciedade do Senado e separa-se a Igreja do Estado. O Presidente convoca a Assembléia Constituinte que promulga, em 1891, a primeira Constituição da República, baseada na Carta dos Estados Unidos. São destaques da Constituição de 1891: • Forma de Governo: República • Sistema de Governo: Presidencialismo • Federalismo - maior autonomia aos Estados, sem extinguir a força da União. • Independência dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. • Voto direto, mas não secreto, masculino, para maiores de 21 anos. Estão excluídos: mulheres, menores, padres, soldados e analfabetos. • Separação Igreja / Estado, oficializando o registro e o casamento civil. • Riquezas do sub-solo pertencem ao dono do solo e não à nação. A Proclamação da República satisfaz aos interesses elitistas de pequena parcela da população. Tais interesses estão expressos na Constituição, sobretudo, na questão do voto: elimina-se o voto censitário, mas proíbe-se o voto do analfabeto, o que significa, a exemplo do período imperial, a exclusão política da imensa maioria de brasileiros, sem o direito da cidadania. A ausência do voto secreto também traduz a existência de mecanismos nada éticos para perpetuação do domínio político das minorias. A Constituição de 1891 traduz o próprio significado da República: liberal em sua forma, mas oligárquica em seu funcionamento, garantindo apenas às elites fundiárias, sobretudo cafeicultores, o controle político do Brasil, ao longo da República Velha. Eleito indiretamente pela Assembléia Constituinte, o Governo Constitucional de Deodoro (1891) é marcado por grande instabilidade, exemplificada pela (o): • oposição dos cafeicultores, sobretudo de São Paulo – Deodoro é eleito graças ao apoio do exército; • fracasso da política financeira do ministro Rui Barbosa – assunto visto adiante; • dissolução do Congresso pelo Presidente; • primeira Revolta da Armada (RJ), provocando cisões dentro das Forças Armadas. Esse quadro leva à renúncia de Deodoro e à ascensão do Governo de Floriano Peixoto (1891 a 1894), cuja posse é amplamente questionada, uma vez que o titular não havia completado a metade de seu mandato, o que deveria provocar nova eleição, de acordo com a Constituição (Floriano alega que tal dispositivo é válido apenas quando o titular elege-se pelo voto direito). Apesar da reabertura do Congresso, o Presidente enfrenta dois movimentos armados, os quais reprime com violência: a nova Revolta da Armada (RJ), em 1893 e a Revolta Federalista (RS), de 1892 a 1895. Essas rebeliões expressam uma cisão dentro do exército, um descontentamento de setores da marinha (sem grande participação no poder político nacional) e as pressões dos setores agro-exportadores. Tais setores elegem, em 1894, Prudente de Morais, iniciando seu controle efetivo sobre o país, o que se estende por toda a República Velha. É o fim da chamada República da Espada (1891-94) e a eleição do primeiro civil à presidência. IV - ECONOMIA O Brasil mantém, como no Império, a vocação agro-exportadora. O café representa o principal produto, sendo responsável por boa parte da renda nacional arrecadada. Tal situação explica, como se verá, a supremacia política das elites cafeeiras e as medidas governamentais de proteção e valorização do produto. Produtos como a borracha e o açúcar merecem algum destaque na produção nacional, assim como o limitado crescimento da indústria. 1 - O CAFÉ Os primeiros tempos da República assistem à superprodução de café, o que leva à Política do Encilhamento, do ministro Rui Barbosa, à época do presidente Deodoro da Fonseca. Tal política consistiu em Tecnologia ITAPECURSOS 25 cor preto 2525252525História - M3 emissões praticadas pelo governo para concessão de empréstimos aos industriais, visando reduzir a excessiva vocação cafeeira do país. Embora bem intencionada, não é bem sucedida devido ao: - aumento do custo de vida (desvalorização da moeda), pelo excesso de emissões; - desvio de verbas para a cafeicultura, dada a precária fiscalização na aplicação de tais verbas. Por isso, o progresso da atividade industrial advindo do Encilhamento é pouco significativo e a atividade cafeeira acaba sendo mais ainda estimulada. Outra decorrência da superprodução é a redução dos preços do produto no mercado internacional. Para que os cafeicultores nacionais não percam seus rendimentos, os governos federais desvalorizam a nossa moeda para gerar mais lucros aos exportadores. Aumenta-se, porém, o valor das importações, gerando dificuldades para o pagamento das mesmas. Por isso, o Brasil realiza um acordo para captação de recursos com os banqueiros ingleses Rothschild para pagamento dos compromissos com vencimento imediato. A dívida com os Rothschild é rolada por 13 anos, sendo oferecidas como garantia aos ingleses as rendas do porto do Rio de Janeiro e da Rede Ferroviária Federal. Tal acordo, firmado em 1898, é conhecido como Funding-Loan. Em 1906, os cafeicultores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro impõem ao Governo Federal o Convênio de Taubaté, com as seguintes disposições: - compra dos excedentes de café pelo Governo Federal - o que garante o lucro dos cafeicultores e estimula o plantio de novos cafezais; - regulagem, pelo governo, da oferta do produto no mercado internacional, para garantia de bons preços - tal determinação deriva da baixa de preços decorrente da superprodução; - proibição da exportação do café de má qualidade; - estímulo à propaganda governamental do produto no mercado externo. 2 - A INDÚSTRIA Apesar da existência da indústria estrangeira no país, formada com capital externo, a indústria brasileira na República Velha é marcada pela subordinação do capital industrial ao capital cafeeiro e não ao capital externo. Como também se mencionou, a produção de bens de capital é insignificante, produzindo-se quase somente bens de consumo não-duráveis. Os resultados do censo industrial de 1919 dão-nos uma idéia da estrutura produtiva da indústria de transformação no Brasil: 30,7% do valor bruto da produção naquele ano provinham das indústrias alimentícias; 29,3% da têxtil e 6,3% das fábricas de bebidas e cigarros. Apenas 4,7% tinham sua origem na metalurgia e indústrias mecânicas juntas: 2,0% na indústria química! Com exceção de certas máquinas utilizadas no beneficiamento do café - produzidas no Brasil desde o século XIX - e de algumas poucas ferramentas e equipamentos, a indústria nacional não produzia bens de capital, só bens de consumo. Esse fato é grave em suas conseqüências, pois foi tornando a nação cada vez mais dependente do exterior em mais esse aspecto - a tecnologia industrial. BIBLIOGRAFIA: MENDES, JR. ANTÔNIO, E MARANHÃO, RICARDO. BRASIL HISTÓRIA. 2. ED. BRASILIENSE, SÃO PAULO, 1981. V.3, P.212. Tal situação, porém, não impede o surgimento da burguesia brasileira, desde o século XIX, constituída por imigrantes, banqueiros, comerciantes e cafeicultores-industriais. A grande