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MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 5 ......................................................................................................................... 6 1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................... 6 2- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL .............................. 7 2.1 - A Medicina Legal como especialidade ................................................. 8 2.2 - Relações com as demais ciências médicas e jurídicas ....................... 9 2.3 - Importância de seu ensino nas faculdades de Direito ........................ 10 3 – HISTÓRICO ......................................................................................... 11 4 – HISTÓRICO NO BRASIL ..................................................................... 17 4.1 - Divisão didática da disciplina ............................................................. 18 5 – FINALIDADE DA MEDICINA LEGAL ................................................... 19 5.1 – Autonomia da Medicina Legal ........................................................... 21 5.2 - O objeto de estudo da medicina legal ................................................ 21 6 – DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS ...................................................... 22 6.1 – Espécies............................................................................................ 22 7 - O BOLETIM MÉDICO .......................................................................... 27 7.1-A receita médica .................................................................................. 27 7.2- Considerações preliminares sobre o atestado de óbito ...................... 27 8 – PERÍCIAS E PERITOS ........................................................................ 30 8.1 - Perícias Médico-Legais ...................................................................... 32 8.2 - Corpo de Delito .................................................................................. 34 8.3 – Peritos ............................................................................................... 35 8.4 - Impedimentos dos Peritos.................................................................. 37 9 - ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL ..................................................... 37 9.1 - Identidade e Identificação .................................................................. 40 9.2 - Identificação Médico-Legal ................................................................ 41 9.3 - Identificação Judiciária ou Policial ..................................................... 43 10 – TRAUMATOLOGIA FORENSE .......................................................... 44 10.1 - Conceito de traumatologia forense .................................................. 44 10.2 - Conceito de lesão corporal .............................................................. 45 10.2.1- tipos de lesão corporal ................................................................... 46 10.3 - AS LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO MECÂNICA ..................... 49 2 11- TANATOLOGIA FORENSE ................................................................. 52 11.1 - Fenômenos Cadavéricos, Necropsia e Exumação .......................... 54 11.2 - Tanatognose ou Cronotanatognose ................................................. 56 11.3 - Direitos sobre o Cadáver ................................................................. 58 12 - SEXOLOGIA FORENSE ..................................................................... 59 12.1- Parafilias ........................................................................................... 60 12.2 - Quais transtornos podem levar à criminalidade? ............................. 62 12.3 - Perícias sexuais ............................................................................... 63 12.4 - Perícias nos crimes aborto............................................................... 63 12.5 - Meios abortivos ................................................................................ 64 12.5.1 – Evidências .................................................................................... 66 12.6 - Perícias nos crimes de infanticídio ................................................... 67 12.7- Evidências no crime de infanticídio ................................................... 68 13 - ASFIXIOLOGIA FORENSE................................................................. 70 O termo “Asfixia” (do grego “asphyxía”) significa “sem pulso”. Tal interpretação tem origem histórica na literatura médica através da concepção dos intelectuais da antiguidade clássica – período que se estendeu aproximadamente pelo Séc. VIII a.C até o Séc. V d.C – que acreditavam que, por meio das artérias, circulava o “pneuma”. ........................................................................................... 70 13.1 - Da Dispnéia Inspiratória ................................................................... 72 13.2– Da Dispnéia Expiratória.................................................................... 72 13.3 – Do Esgotamento ............................................................................. 72 13.4 - Das características gerais (tanatosiniologia) .................................... 72 13.5 – Externos .......................................................................................... 73 13.6 – Internos ........................................................................................... 73 13.7- Das classificações dos tipos ............................................................. 73 13.8 – Detalhamento dos principais tipos .................................................. 74 13.8.1- Sufocação ...................................................................................... 74 13.8.2 - Enforcamento ................................................................................ 74 13.8.3– Estrangulamento ........................................................................... 75 13.8.4– Esganadura ................................................................................... 75 13.8.5 – Confinamento ............................................................................... 76 13.8.6 – Soterramento ............................................................................... 76 13.8.7 – Afogamento .................................................................................. 76 3 13.8.8 – Gases Inertes ............................................................................... 77 14 - TOXOLOGIA ....................................................................................... 78 14.2 - Toxicologia Forense: análises toxicológicas em amostras biológicas .............................................................................................................................. 79 14.3 - Toxicologia Forense: Triagem da amostra biológica ........................ 79 14.4 - Coleta de Sangue, Urina e Outros Tecidos...................................... 81 14.5 - Encontrando o motivo da morte ....................................................... 83 14.6- Aspectos post mortem de relevância toxicológica ............................ 84 14.6.1 - Ação de microrganismos post-mortem.......................................... 86 14.7 - Técnicas Analíticas Comumente Empregadas na Toxicologia Forense .............................................................................................................................. 87 14.8 - Toxicologia Ambiental ...................................................................... 88 ................................................................................................................... 88 14.9 - Toxicologia Alimentar .......................................................................89 15 – PSICOLOGIA JUDICIÁRIA ................................................................ 89 16 – PSIQUIATRIA FORENSE .................................................................. 93 16.1 - A situação da psiquiatria forense em meados do século XXI .......... 95 16.2 - A influência da perícia psiquiátrica na aplicação da lei de execução penal ..................................................................................................................... 98 16.3 - A verificação da periculosidade social e criminal a partir dos pareceres psiquiátricos forenses ......................................................................................... 104 17- POLICIOLOGIA CIENTÍFICA ............................................................. 111 17.1 - O que é Criminalística? .................................................................. 113 17.1.1- As Origens da Criminalística ........................................................ 114 17.2 - A Ciência Forense no Brasil ........................................................... 119 18 - CRIMINOLOGIA ............................................................................... 122 18.1 - Teoria da anomia: Durkheim .......................................................... 123 18.1.1 - A normalidade do crime .............................................................. 125 18.2 - A utilidade do crime ....................................................................... 126 18.3 - A função da pena ........................................................................... 127 18.4- Criminologia é conhecimento essencial para a polícia judiciária .... 128 19- VITIMOLOGIA .................................................................................... 133 19.1 – vitimologia ..................................................................................... 134 19.2 - Origem histórica ............................................................................. 135 4 19.3 - Finalidade da Vitimologia ............................................................... 137 19.4 - Vitimologia e criminologia .............................................................. 138 19.5 - A vítima .......................................................................................... 140 19.6 - Vitimização ..................................................................................... 142 20 – INFORTUNÍSTICA ........................................................................... 143 20.1 - Teoria do Risco .............................................................................. 144 20.2 - Acidentes de Trabalho ................................................................... 145 20.3 - Doenças de Trabalho ..................................................................... 145 20.4 – Indenização ................................................................................... 146 20.5 - Perícia Médica ............................................................................... 146 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 149 5 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 6 1 – INTRODUÇÃO Vamos iniciar os estudos de Medicina Legal portanto falaremos sobre os conceitos importantes e divisões da Medicina Legal, além do Corpo de Delito, perícia e peritos em Medicina Legal e também os Documentos Médicos Legais. Antes de iniciar os estudos é importante uma observação. Ao longo do estudo terão várias citações de doutrinadores consagrados. Isso é feito com proposito único: trazer aos alunos diversas correntes existentes. O estudo dessa parte é totalmente teórico e conceitual, afinal, são diversas as correntes de pensamentos que, ao longo da História, moldaram o direito. 7 2- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL Até hoje não existe uma definição precisa do conceito de Medicina Legal. Isso se deve ao fato da disciplina abranger muitas áreas e por guardar relação de proximidade com as ciências jurídicas e sociais. Entretanto, vários doutrinadores tentam conceituar a matéria. Vejamos alguns conceitos que se destacam: De acordo com Ambroise Paré é “a arte de produzir relatórios na justiça”. Para Nerio Rojas é a “aplicação dos conhecimentos médicos aos problemas judiciais que podem ser por eles esclarecidos”. Já para Afrânio Peixoto é a “aplicação de conhecimentos científicos e misteres da justiça”. "A arte de pôr os conceitos médicos a serviço da administração da Justiça (Lacassagne). "A Aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na elaboração e execução das leis que deles carecem" (Flamínio Fávero). "A Aplicação dos conhecimentos médicos a serviço da Justiça e à elaboração das leis correlatas" (Tanner de Abreu). "O conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais, no seu campo de ação de medicina aplicada" (Hélio Gomes). "É a Medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais" (Genival V. de França). Ou, finalmente: Medicina Legal é a ciência e arte extrajurídica auxiliar alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade. E, para fazê-lo, serve-se de conhecimentos médicos especificamente relacionados, com a Patologia, Fisiologia, Traumatologia, Psiquiatria, Microbiologia e Parasitologia, 8 Radiologia, Tocoginecologia, Anatomia Patológica, enfim, com todas as especialidades médicas e biológicas, bem como o Direito; por isso, diz-se Medicina Legal. Sinonímia: É muito extenso, o que demonstra que ainda não se encontrou expressão que nomeie essa ciência e arte a serviço dos interesses jurídicos e sociais, satisfatoriamente. Registrá-la-emos: Medicina Legal Forense (A. Paré); Questões Médico-Legais (P. Zacchias); Medicina Judiciária (Lacassagne); Medicina Judiciária ou dos Tribunais (Prunelle); Jurisprudência Médica (Alberti); Medicina Política (Marc); Medicina Forense (Sydney Smith); Antropologia Forense (Hebenstreit); Bioscopia Forense (Meyer); Medicina Forense Jurídica (sábios de Roma); e, ainda, Medicina Pericial; Medicina Criminal; Medicina da Lei; Biologia Legal; Medicina Crítica. Biologia Forense; Medicina Política e Social (França). O nome consagrado, por menos imperfeito, é Medicina Legal. 2.1 - A Medicina Legal como especialidade Os autores divergem sobre o assunto. Há quem afirme ser a Medicina Legal especialidade médica. Pensamos que sendo ela um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos objetivandoservir às ciências jurídicas e sociais, não é especialidade, mas sim, disciplina aplicada que admite especialismos. França, afirma, "é uma disciplina de amplas possibilidades e grande dimensão pelo fato de não se ater somente ao estudo da ciência hipocrática, mas de constituir na soma de todas as especialidades médicas acrescidas de fragmentos de outras ciências acessórias, sobrelevando-se entre elas a ciência do Direito". O perito médico-legal há de possuir, portanto, amplos conhecimentos de Medicina, dos diversos ramos do Direito e das ciências em geral. Hélio Gomes asseverava ter o perito indispensável educação médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, noção clara da maneira como deverá responder aos quesitos, prática na redação dos laudos periciais. Sem esses conhecimentos puramente médico-legais, 9 toda a sua sabedoria será improfícua e perigosa. E, mais: "o laudo pericial, muitas vezes, é o prefácio de uma sentença". Com efeito, informações periciais equivocadas, ainda que involuntariamente, podem constitui-se na chave da poeta das prisões para a saída de marginais ou para nelas trancafiar inocentes, pois, conforme Ambroise Paré, in Oeuvres complètes, os juízes julgam segundo o que se lhes informa. O perito médico-legal há de ter, ainda, uma conceituação universalista dos seres humanos, auxiliar, por sua cultura, indispensável que é da Justiça, herói anônimo capaz de deslindar crimes indecifráveis através de paciente e penoso trabalho só conhecido das autoridades policial-judiciárias. A Medicina Legal é a arte estritamente científica que estuda os meandros do ser humanos e sua natureza, desde a fecundação até depois de sua morte. Exige de seus obstinados professores, além do conhecimento da Medicina e do Direito, o de outras ciências, para emitirem pareceres minudentes, claros, concisos e racionais, objetivando criar, na consciência de quem tem por missão julgar, um quadro o mais preciso da realidade. 2.2 - Relações com as demais ciências médicas e jurídicas A Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses dos homens e da sociedade, do que à Medicina. A designação legal emprestada a essa ciência indica que ela se serve, no cumprimento de sua nobre missão, também das ciências jurídicas e sociais, com as quais guarda, portanto, íntimas relações. É a Medicina e o Direito complementando-se mutuamente, sem engalfinhamentos. Ao Direito Civil empresta sua colaboração no que concerne a questões relativas a paternidade, impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores da capacidade civil, prenhez, personalidade civil e direitos do nascituro, comoriência etc. Ao Direito Penal, no que diz respeito a lesões corporais, sexualidade criminosa, aborto ilegal e ilícito, infanticídio, homicídio, emoção e paixão, embriaguez etc. Serve ao Direito Constitucional quando informa sobre a dissolubilidade do matrimônio, a proteção à infância e à maternidade etc.; ao Direito Processual Civil e Penal quando 10 cuida da psicologia da testemunha, da confissão, da acareação do acusado e da vítima. Contribui com o Direito Penitenciário quando converge seus estudos para a psicologia do detento, no que tange à concessão de livramento condicional e à psicossexualidade das prisões. Entrosa-se com o Direito do Trabalho quando estuda a infortunística, a insalubridade e a higiene, as doenças e a prevenção de acidentes profissionais; com a Lei das Contravenções Penais quando trata dos anúncios de técnicas anticoncepcionais, da embriaguez e das toxicomanias. A Medicina Legal engranza-se ainda, intimamente, com vários outros ramos do Direito, a saber: Direito dos Desportos, Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Direito Canônico, Direito Comercial. Ciência médico-jurídico-social indispensável em toda diligência que necessite de elucidação médica, em progressiva e franca ascenção, relaciona-se também com a Química, a Física, a Toxicologia, a Balística, a Dactiloscopia, a Economia e a Sociologia e com a História Natural (Entomologia e Antropologia). 2.3 - Importância de seu ensino nas faculdades de Direito Assim, sendo a Medicina Legal a única disciplina nas Faculdades de Direito que se relaciona com a Biologia, seu estudo se reveste de fundamental importância, pois ninguém ignora que os conhecimentos biológicos, médicos e paramédicos ampliam aos acadêmicos de Direito a consciência universalista do homem e da gênese de suas ações. Como exemplo, o estudo das socioneuropatias, permitindo ao estudante conhecer os intrincados emaranhados da mente humana, abre-lhe maiores perspectivas de percepção sobre o seu semelhante e sobre si mesmo, já que o conceito de normalidade é sobremaneira vago: normal é o que funciona harmoniosa e silenciosamente em sociedade. É o conhece-te a ti mesmo" socrático, ao qual acrescentamos: por ti mesmo! A Medicina Legal é, portanto, verdadeiro elo de ligação entre o pensamento jurídico e a Biologia, ciência e arte cooperadora na elaboração e na aplicação das leis. 11 Aos juristas, autoridades policiais e advogados importa à Medicina Legal orientar com minudência, concisão e clareza sobre a realidade de um fato de natureza específica e caráter permanente que interesse à Justiça, e como pedir, o que pedir e o modo de interpretar os laudos periciais, para evitar que suceda o ocorrido com delegado de polícia da Capital, que, segundo relatou o insigne professor Hélio Gomes, sabedor por informação pericial de que havia espermatozóides na mancha da camisa de um suicida, solicitou ao Instituto Médico-Legal determinasse ser o gameta encontrado de homem ou de mulher! "O delegado", ironiza o mestre, "por não conhecer Medicina Legal, não soube interpretar a resposta simples e clara que lhe fora enviada". Certa feita, ouvimos, perplexos, a confusão estabelecida por um representante do Ministério Público, data venia, pouco versado em Medicina Legal, sobre coito vulvar e coito interfemora, expressões para ele não similares. E mais recentemente, nova conclusão sobre a fase obstétrica puerperal e o conceito médico-legal de "influência do estado puerperal", a que alude a lei, no infanticídio. A maioria dos médicos também prescinde, infelizmente, de conhecimentos de Jurisprudência Médica. É por isso que sentenciava Hélio Gomes: "Levando-se em conta o desconhecimento da legislação pelos médicos, esta lhes deverá ser ensinada, de maneira clara e resumida, o suficiente para a perfeita compreensão dos dispositivos legais referentes ao assunto da perícia". A Medicina Legal estuda a vida, em sua essência, e a morte. É a ciência social vivaz e realista, embasada na Verdade e na Justiça, que desnuda o indivíduo desde enquanto ovo, e depois, até o âmago do ser e seduz e apaixona, irremediavelmente, desde o início, os seus profissionais. 3 – HISTÓRICO A história da Medicina Legal divide-se em cinco períodos: Antigo, Romano, Médio ou da Idade Média, Canônico e Moderno ou Científico. Período Antigo 12 Dada a importância da Medicina Legal no conjunto das atividades sociais, compreende-se a existência de referências esparsas e isoladas, rudimentares, despidas de caráter científico, portanto, nas legislações de povos antigos. A Medicina, nessa época, era muito mais arte que ciência, estatelada na fase deísta explicativa, onde se procurava atribuir origens extraterrenas às doenças, e tida como profissão subalterna; a lei era a própria religião aplicada aos homens pelos sacerdotes, misto de religiosos, médicos e juízes, em sanções idênticas às cometidas pelo imputado, ou em parente próximo num arremedo de Medicina Judiciária. A necrópsia e a vivissecção eram proibidas, por serem os cadáveres considerados sagrados. No Egito embalsamavam-se os cadáveres e, nos crimes de violência sexual, condenava-se o suspeitose, atado sobre o leito em uma sala do templo, apresentava ereção peniana ante a estimulação sexual desencadeada pela visão de belas virgens dançando nuas ou apenas com roupas transparentes, e as leis de Menés preceituavam o exame das mulheres condenadas, pois, se grávidas, não eram supliciadas. O Hsi yuan lu, tratado elaborado por volta de 1240 a.C., na China, instruía sobre o exame post-mortem, listava antídotos para venenos e dava orientações acerca de respiração artificial. 13 A lei era a própria religião aplicada aos homens. Era a legislação teológica, que foi paulatinamente se transformando para, finalmente, graças ao Cristianismo e aos ideais morais que cada geração foi nela introduzindo, emancipar também o Direito. Autópsia (1890) Enrique Simonet. Período Romano Em Roma, na fase anterior à reforma de Justiniano, a Lex Regia atribuída a Numa Pompílio prescrevia a histerotomia na morte na morte da mulher grávida. Aqui uma curiosidade: há quem afirme que o nome cesariana dado à histerotomia proveio do nascimento de César, devido à aplicação desta lei. Data venia, somos dos que pensam que o nome cesariana vem de coedo, cortar. "Cesar vem daí e não o oposto" (Afrânio Peixoto). Antístio, médico, examinou as muitas feridas do cadáver de Júlio César e declarou apenas uma delas mortal. Segundo os relatos de Tito Lívio, um médico, examinou em praça pública o cadáver de Tarquínio, assassinado, e o de Germânico, suspeito de envenenamento, exposto no Fórum. Assim, os cadáveres eram já examinados, nessa época, por médicos, porém externamente. As necrópsias, como já mencionado, por respeito ao cadáver, eram proscritas. 14 Com a reforma, em Roma, emanciparam-se a Medicina e o Direito, como se depreende dos códigos de Justiniano, que têm implícita a Medicina Legal. Assim, determinava o Digesto: "Medici non sunt proprie testes, sed magis est judicium quam testimonium", ou seja, não testemunham, ajuízam. Registra ainda o Digesto que a intervenção das parteiras era exigida para o exame da prenhez, suposta ou duvidosa. Nas Pandectas e Novelas, trata-se de disposições relativas ao casamento, à separação de corpos, à impotência, à viabilidade fetal, à data do parto etc. A lei Aquilia trata da letalidade dos ferimentos. Período Médio ou da Idade Média Nesse período houve contribuição mais direta do médico ao direito, como se nota "na lei sálica, na germânica e nas Capitulares de Carlos Magno, que contêm detalhes de anatomia sobre ferimentos e sobre a reparação devida às vítimas, conforme a sede e a gravidade das mesmas" (Hélio Gomes). Esse período foi indelevelmente marcado, portanto, pelas Capitulares de Carlos Magno, que estabelecem que os julgamentos devem apoiar-se no parecer dos médicos. Infelizmente, após Carlos Magno sobreveio na Idade Média a onda de vandalismo que extinguiu a Medicina Legal, substituindo-a pela prática absurda e cruel nordo- germânica das provas inquisicionais em que a penalidade depende do dano causado, e às provas invoca-se o Juízo de Deus ("ordálias"). Período Canônico Compreende 400 anos (1200 a 1600). 15 Nesse período foi restabelecido o concurso das perícias médico-legais, como se depreende da bula do Papa Inocêncio III, em 1219, que trata dos ferimentos em juízo como revestidos de habitualidade. Chamado Canônico, o quarto período é influenciado beneficamente pelo Cristianismo, que, pela codificação das Decretais dos Pontifíces dos Concílios, dá normas ao Direito Moderno dos povos civilizados. A sexologia é tratada exaustivamente nas Decretais, pois "a moralidade tem aí seus fundamentos". A perícia é obrigatória, tendo sido instituído, nesse período, o axioma medici creditur in sua medicina: tem fé pública o médico nos assuntos médicos. A anulação do casamento por impotência enseja a "prova do congresso", realizada por três parteiras e posteriormente por três médicos que, separados do casal por uma cortina, em aposento contíguo, confirmavam a realização ou não da conjunção carnal, em burlesca caricatura de perícia. Foi proibida em 1677 pelo Parlamento de França. O período Canônico é indefectivelmente assinalado pela promulgação do Código Criminal Carolino (de Carlos V), pela Assembléia de Ratisbonna, em 1532. A Constituição do Império Germânico impõe obrigatoriedade à perícia médica antes da decisão dos juízes nos casos de ferimentos, assassinatos, prenhez, aborto, parto clandestino. É o primeiro documento organizado de Medicina Judiciária, imputando- lhe indispensabilidade à Justiça e determinando o pronunciamento dos médicos antes das decisões dos juízes. A Alemanha tem, assim, no dizer de Souza Lima, "o mais legítimo e inconusso direito de considerar-se o berço da Medicina Legal". 16 Em 1512, foi necropsiado o cadáver do Papa Leão X, por suspeita de envenenamento. Finalmente, em 1575 surge o primeiro livro de Medicina Legal, de Ambroise Paré, intitulado Des rapports et des moyens d'embaumer les corps morts, e a França aclama seu autor como o pai da Medicina Forense, a despeito de a obra, de inegável valor, não constituir corpo doutrinário e sistemático. Período Moderno ou Científico Inicia-se em 1602, em Palermo, na Itália, com a publicação do livro intitulado De Relatoribus Libri Quator in Quibus e a Omnia quae in Forensibus ac Publicis Causis Medici Preferre Solent Plenissime Traduntur, de Fortunato Fidelis. Em 1621, Paulus Zacchias publica o verdadeiro tratado da disciplina, Quaestiones Medico Legales Opus Jurisperitis Maxime Necessarium Medicis Peritilis, obra monumental com 1200 páginas, distribuídas em três volumes, na qual compendia tudo o que se sabia e em que se estudam com discernimento e cultura numerosos problemas médico-legais. É por isso considerado pela maioria dos autores como o verdadeiro fundador da Medicina Legal. Entretanto, foi no século XIX que a Medicina Legal se firmou no conceito que a Justiça lhe emprestou a partir do momento em que o suspeitado pode, enfim, ser confirmado pelo exame necroscópico. E desde então, graças aos nomes de Orfila, Divergie, Lacassagne, Rollet, Thoinot, Tardieu e Brouardell, na França; Bernt, Hoffman, Schanesteir e Paltauf, em Viena: Telchmeyer, na Alemanha; Hunter e Cooper, na Inglaterra; Barzelloti, Martini, Perrone, Garófolo, Virgílio, Nicéforo, Falconi e Ferri, na Itália; Balk, Gromev, Schmidt e Poelchan, Dragendorff e Pirogoff, na Rússia, e, no Brasil, Alcântara Machado, Alves de Menezes, Armando Canger Rodrigues, Alírio Batista, Arnaldo Amado Ferreira, Arnaldo Ramos de Oliveira, Arnaldo Siqueira, Agenor Lopes Cançado, Álvaro Dória, Clóvis Meira, Camargo Júnior, Costa Pinto, Carneiro Belford, Celestino Prunes, César Celso Papeleo, César Francisco Ribeiro Júnior, Clóvis das Neves, Ernâni Simas 17 Alves, Edgar Altino, Estácio de Lima, Flamínio Fávero, García Moreno, Gualter Luiz, Geraldo Vasconcelos, Genival Veloso de França, Hélio Gomes, Hilário Veiga de Carvalho, Hermes Rodrigues de Alcântara, Halley Alves Bessa, Hugo Santos Silva, José Hamilton, João Henrique de Freitas Filho, José Lima de Oliveira, João Batista de Oliveira, João Carlos da Silva Teles, João Otávio Lobo Joaquim Madeira Neves, José Barros de Azevedo, José Lages Filho, José Ludovico Maffei, Júlio Afrânio Peixoto, Leonídio Ribeiro, Luiz Duda Calado, Marco Segre, Nilton Sales, Napoleão Teixeira, Neiva de Sant'Ana, Oscar de Castro, Oscar Negrão de Lima, Oscar Freire, Paulo A. Prado, Ramon Sabaté Manubens, Raymundo Nina Rodrigues, Souto Maior, Teodorico de Freitas, Tarcizo L. Pinheiro Cintra, Tasso Ramos de Carvalho, Telmo Ferreira, Thales de Oliveira, entre outros, a Medicina Legal está em constante e vertiginoso progresso, por aquisições científicas, aprimoramento dos métodos de pesquisa e encadeamento doutrinário. 4 – HISTÓRICO NO BRASIL A Medicina Legalnacional desfruta da admiração e respeito do mundo, conforme ficou patenteado (1985) na perícia de determinação da identidade, por especialistas do IML de São Paulo e da Unicamp, do carrasco nazista Joseph Mengele, conhecido pelos prisioneiros de Auschwita como o "anjo da morte", cuja ossada foi encontrada sepulta em Embu, São Paulo. Na época colonial, a Medicina Legal nacional foi decisivamente influenciada pelos franceses e, em menor escala, pelos italianos, alemães, sendo praticamente nula a participação portuguesa, estando representada por esparsos documentos médico- legais, compilados de trabalhos referentes à Toxicologia e por "um ou outro laudo pericial feito por leigos, mais interessantes pelo lado pitoresco do que pelo aspecto médico propriamente dito ". (Pedro Salles). Numa fase seguinte surge Souza Lima, insigne mestre a quem reverenciamos por ter sido o iniciador, em 1818, do ensino prático da Medicina Legal no Brasil, desenvolvendo a pesquisa laboratorial, então reduzida à Toxicologia, e por ter feito, 18 sem ser advogado, uma tentativa de interpretação e comentários médico-legais em relação às leis nacionais. A verdadeira nacionalização da nossa Medicina Legal e se deve à criação, por Raymundo Nina Rodrigues, de uma autêntica Escola brasileira da especialidade na Bahia, constituída, entre outros, por Alcântara Machado, Júlio Afrânio Peixoto, Leonídio Ribeiro, Oscar Freire e Estácio Luiz Valente de Lima, que originariamente "orientou a diferenciação da disciplina, dos seus métodos e da sua doutrina para as particularidades do meio judiciário, das condições físicas, biológicas e psicológicas do ambiente" (Geraldo Vasconcelos). E a partir de então sucederam- se sadiamente nas capitais brasileiras as escolas de Medicina Legal, interessando aos juristas, advogados, delegados de polícia, médicos, psicólogos e psiquiatras o conhecimento dessa disciplina, tal o grau de entrosamento que ela guarda com todos os ramos do saber. 4.1 - Divisão didática da disciplina Por interesse didático, a Medicina Legal admite uma parte geral, na qual se estuda a Jurisprudência Médica, ou seja, a Deontologia e a Diceologia Médica que ensejam aos profissionais da Medicina conhecimentos sobre os seus deveres e direitos, e o Código de Ética dos Advogados, e uma parte especial cuja divisão registraremos ao longo do estudo. Antropologia Forense: Estuda a identidade e a identificação, seus métodos, processos e técnicas. Traumatologia Forense: Trata das lesões corporais e das energias causadoras do dano. Sexologia Forense: Versa sobre a sexualidade normal, patológica e criminosa. Analisa as sutis questões inerentes à Erotologia, à Himenologia e à Obstetrícia forense. Asfixiologia Forense: Vê as asfixias em geral, do ponto de vista médico e jurídico. Detalha as particularidade próprias da esganadura, do estrangulamento, do enforcamento, do afogamento, do soterramento, da imersão em gases irrespiráveis etc., nos suicídios, homicídios e acidentes. 19 Tanatologia: Preocupa-se com a morte e o morto em todos os seus aspectos médico-legais, os fenômenos cadavéricos, a data da morte, o diagnóstico da morte, a morte súbita e a morte agônica, a inumação, a exumação, a necropsia, o embalsamento e a causa jurídica da morte. Toxicologia: Estuda os cáusticos, os envenenamentos e a intoxicação alcoólica e por tóxicos, pelo emprego de processos laboratoriais. Graças à sua notável evolução é, atualmente, especialidade que empresta seu saber à Medicina Legal. Psicologia Judiciária: Versa sobre os fenômenos volitivos, afetivos e mentais inconscientes que podem influenciar na formação, na reprodução e na deformação do testemunho e da confissão do acusado e da vítima. Analisa, ainda, o depoimento dos idosos e dos menores etc. Psiquiatria Forense: Estuda as doenças mentais, a periculosidade do alienado, as socioneuropatias em face dos problemas judiciários, a simulação, a dissimulação, os limites e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. Policiologia científica: Visualiza os métodos científico-médico-legais empregados pela polícia na investigação criminal e no deslindamento de crimes. Criminologia: Estuda os diferentes aspectos da gênese e da dinâmica dos crimes. Vitimologia: Trata da análise racional da participação da vítima na eclosão e justificação das infrações penais. Infortunística: Preocupa-se com os acidentes do trabalho, com as doenças profissionais, com a higiene e a insalubridade laborativas. 5 – FINALIDADE DA MEDICINA LEGAL A medicina legal tem como finalidade orientar os legisladores e os magistrados na elaboração e aplicação das leis, respectivamente, além disso a medicina legal possibilita o esclarecimento de questões processuais criminais, cíveis, administrativa, trabalhistas dentre outras. 20 Para auxiliar na busca pela solução dos problemas judiciais, a medicina legal se socorre de diferentes fontes, como por exemplo da fotografia, radiografia, balística, toxicologia, biomedicina, anatomia normal e patológica, biologia, microbiologia, parasitologia, psicologia, psiquiatria, geologia, etc. Na elaboração das leis a medicina tem importância na medida em que a criação de uma norma visando proteger um Bem Jurídico pode exigir conhecimentos específicos afetos a uma determinada área. Exemplo: Art. 129, § 1º, III do Código Penal. Lesão corporal “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;” proteção do bem jurídico “Integridade Física”. Existe um escalonamento da lesão: Leve Grave Gravíssima Ou seja, através da realização do do exame de corpo de delito configura-se o grau da lesões. Importante também a medicina legal na execução das leis. Assim, temos: 21 Ex.: Lesão corporal. Como dito acima a detecção da intensidade da lesão somente poder· ser constatado com realização de perícia médica. 5.1 – Autonomia da Medicina Legal Discute-se se a Medicina Legal é uma ciência autônoma. Existem três correntes: Pelo esquema acima nota-se que a primeira corrente coloca a medicina legal como algo dispensável e sem importância, já a segunda corrente não é bem aceita pois o método da medicina legal é comum aos demais ramos da medicina, seu objeto não é próprio já· que várias ciências estudam o homem (como por exemplo a sociologia) e o objetivo (auxiliar o Direito) também é o mesmo de outras disciplinas. Assim, a corrente que mais se adequa é a terceira – Intermediária ou Mista. 5.2 - O objeto de estudo da medicina legal É possível dizer que o objeto de estudo da medicina legal é o ser humano, seja ele vivo ou morto, saudável ou doente, o que significa dizer que no campo da medicina legal todas as áreas da medicina são importantes. A Assim, a atuação da medicina legal inicia-se com a fecundação e se encerra com o desaparecimento do último vestígio cadavérico. 22 Nos dizeres de Delton Croce: A Medicina Legal estuda a vida, em sua essência, e a morte. É a ciência social vivaz e realista, embasada na Verdade e na Justiça, que desnuda o indivíduo desde enquanto ovo, e depois, até o âmago do ser e seduz e apaixona, irremediavelmente, desde o início, os seus profissionais. 6 – DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS "Documento: Qualquer base do conhecimento fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, de estudo, prova etc.". (A. B. de Holanda). "Título ou diploma ou declaração escrita que serve de prova”.(da Cunha). "Documentos médico-judiciários: São instrumentos escritos, ou simples exposições verbais mediante os quais o médico fornece esclarecimentos a justiça”. 6.1– Espécies A) Notificações B) Atestado C) Relatório D) Consulta E) Parecer F) Depoimento Oral NOTIFICAÇÕES: Definição: “São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária, como acidente do trabalho, doenças infecto-contagiosas, uso habitual de substâncias 23 entorpecentes ou crime de ação pública que tiverem conhecimento e não exponham o cliente a procedimento criminal”. Legislação: Art. 269 CP: “Deixar o médico de denunciar a autoridade pública, doença de notificação compulsória”. Pena - detenção de 6 meses a 2 anos e multa. Art. 154 CP: “Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função de ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem”. Pena - detenção de 3 meses a 1 ano ou multa. Lei 6259 de 30/10/75: “Constituem objeto de notificação compulsória as doenças seguintes relacionadas”: I - Em todo território nacional: cólera, coqueluche, difteria, doença meningocócica e outras meningites, febre amarela, febre tifóide, hanseníase, leishmaniose, oncocercose, peste, poliomielite, raiva humana, sarampo, tétano, tuberculose, varíola; II - Em área específica: esquistossomose, filariose e malária. ATESTADO: Definição: É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências”. classificação: a) Quanto a procedência ou destino: Oficioso - É aquele fornecido por um médico na atividade privada com destino a uma pessoa física ou privada. Justifica situações menos formais. Administrativo - É aquele fornecido por um médico servidor público ou um particular mas que vai desempenhar seu papel junto a uma repartição pública, ou seja, servem aos interesses dos serviços públicos. 24 Judicial - É aquele expedido por solicitação do Juiz ou que integra os autos judiciários. Atende a administração da justiça. b) Quanto ao “Modus faciendi” ou conteúdo Idôneo: É aquele expedido pelo profissional habilitado e o seu conteúdo expressa a veracidade do ato. Gracioso - É aquele fornecido sem a prática do ato profissional que o justifique, não importando se gratuitamente ou pago “caridade, humanidade, amizade, político”. É sempre antiético e pode se transformar em imprudente ou falso. Imprudente - É aquele fornecido por um médico particular para fins administrativos, sabendo-se que a empresa ou repartição tem serviço médico próprio. Falso - É o que na sua expressão falta com a verdade, dolosamente. É crime previsto no Código Penal como falsidade ideológica. Tipos: De vacina; De sanidade física ou mental; De óbito; De insanidade física ou mental. Legislação: Art. 302 CP - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Código de Ética Médica: Art. 110 – “Fornecer atestado sem ter praticado ato profissional que o justifique, ou que não corresponda à verdade”. RELATÓRIO Definição: É a descrição minuciosa de um fato médico e de suas consequências, requisitadas por autoridade competente. Tipos: 25 O relatório recebe o nome de AUTO quando é ditado pelo perito ao escrivão, durante ou logo após, e denominado de LAUDO quando é redigido pelo(s) próprio(s) perito(s), posteriormente ao exame. Partes: Preâmbulo: É a parte onde os peritos declaram suas identificações, títulos, residências, qualificam a autoridade que requereu e a autoridade que autorizou a perícia, e o examinado; hora e data em que a perícia é realizada e a sua finalidade. Quesitos: São as perguntas formuladas pela autoridade judiciária ou policial, pela promotoria ou pelos advogados das partes. Histórico: Consiste no registro dos fatos mais significativos que motivam o pedido da perícia ou que possam esclarecer e orientar a ação do legisperito. Descrição: Contém o “visum et repertum” É a descrição minuciosa, clara, metódica e singular de todos os fatos apurados diretamente pelo perito. Constitui a parte essencial do relatório. Discussão: É a análise cuidadosa dos fatos fornecidos pelo exame e registrado na descrição, compará-los com os informes disponíveis relatados no histórico, encaminhando naturalmente o raciocínio do leitor para o entendimento da conclusão. Conclusão: É o sumário de todos os elementos objetivos observados e discutidos pelo perito, constituindo a dedução sintética natural da discussão elaborada. Resposta aos Quesitos: As respostas aos quesitos formulados devem ser precisas e concisas. CONSULTA MÉDICO-LEGAL É a solicitação na qual o(s) interessado(s) ouvem a opinião de um ou mais especialistas a respeito do valor científico de determinado relatório médico-legal, quando o mesmo deixa dúvidas a respeito de seu conteúdo. PARECER MÉDICO-LEGAL 26 É a resposta escrita de autoridade médica, de comissão de profissionais ou de sociedade científica, a consulta formulada com o intuito de esclarecer questões de interesse jurídico (Preâmbulo, Exposição, Discussão, Conclusão). DEPOIMENTO ORAL São os esclarecimentos dados pelo perito, acerca do relatório apresentado, perante o júri ou em audiência de instrução e julgamento. Considera-se ainda o prontuário médico, o boletim, e até mesmo a receita médica como documentos de importância médica e jurídica. Considera-se ainda o prontuário médico, o boletim médico, e até mesmo a receita médica como documentos de importância médica e jurídica. PRONTUÁRIO MÉDICO Definição: É o registro feito pelo médico dos comemorativos do paciente. O médico incorre em falta ética grave se deixar de elaborá-lo. (Art. 69 do CEM). Itens / Roteiro: a) Identificação; b) Queixa e Duração; c) Anamnese; d) Exame Físico Geral; e) Exame Físico Especial; f) Exames Complementares; g) Diagnóstico h) Conduta; i) Prognóstico Outros Elementos Integrativos: a)Ficha de Serviço Social; b)Ficha de Serviço de Enfermagem; c)Ficha do Serviço de Nutrição; d)Controle Metabólico; e)Controle Anestesistas; f)Descrição da Cirurgia; 27 g)Opiniões de Especialistas; h)Exames Específicos; i)Ficha Radioterapia e/ou Quimioterapia; j)Prontuário do RN + Declaração de Nascido Vivo; l)Resumo de Alta; m)Relatório Necropsia / AO. Importância: a) Interesse Médico: Pesquisas, Acompanhamentos etc.; b) Interesse Jurídico: -Questões Civis, Penais, Trabalhistas etc. 7 - O BOLETIM MÉDICO 7.1-A receita médica 7.2- Considerações preliminares sobre o atestado de óbito A organização de saúde da Liga das Nações constituiu no início desse século uma comissão para o estudo e criação de um modelo único de Atestado de óbito. Até então todo país possuía um modelo próprio. Este foi publicado em 1925 posteriormente adotado pela Inglaterra (1927) e Estados Unidos (1939). Em 1948 na Sexta Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças na Conferência Internacional da Revisão da Classificação foi adotado o “Modelo Internacional de Atestado de Óbito” usado até hoje, cuja finalidade é uniformizar as informações, compatibilizar os dados e permitir sua comparabilidade. Definição: É um documento simples, escrito e fornecido exclusivamente por um médico, que tem como finalidade confirmar a morte, determinar a causa morte e satisfazer alguns interesses de ordem civil, estatístico-demográfico e político sanitário. Importância: GERAL: 28 O Atestado de óbito é o mais importante dos documentos assinados pelo médico, porque com ele é feito o registro do óbito e por conseguinte cessada juridicamente a vida de uma pessoa, (Art. 10 do C.C.B.). JURÍDICA: Efeito Jurídico da morte (Ver capítulo de Tanatologia). MÉDICA: Peças Anatômicas: No caso de descoberta de ossadas, fatos ou partes do cadáver, esse material deve ser removido para o IML, pois passa a ser da esfera policial.Quanto as peças anatômicas retiradas por ocasião de atos cirúrgicos ou amputação de membros, devem ser cremados ou incinerados no próprio hospital, ou encaminhado para estabelecimento responsável pela inumação ou para o Instituto Médico Legal nos casos resultantes de violência. Eventos em caso de morte: A Morte por moléstia e “causas mortis” bem definidas: SEM AUTÓPSIA / MÉDICO ASSISTENTE. Morte por moléstia bem definida e “causas mortis” indeterminada: S.V.O. / ANÁTOMO PATOLOGISTA. Morte por moléstia e “causa mortis” indeterminada: S.V.O. / ANÁTOMO PATOLOGISTA. Morte por moléstia bem definida e “causa mortis” violenta. I.M.L./ MÉDICO LEGISTA. Legislação: Lei 6.015/73 Decreto-lei nº 20.931/32; Lei 4.436/84 Estado de São Paulo Resolução 1.290/89 C.F.M.; Lei 9.434/97; 29 C.P. Art. 302 Aspectos Éticos: Princípios basilares fundamentais: Sinceridade no diagnóstico de morte; Ter verificado pessoalmente o óbito; Ter assistido o paciente ou ter delegação para isto; Atestar o óbito é um ato obrigatório; O atestado é gratuito; Confirmar as informações da Declaração de Óbito. Precauções para o médico: Não assinar Atestado de Óbito em branco; Não deixar Atestado de Óbito previamente assinado; Verificar, antes de assinar a D.O., todos os itens do formulário; Não assinar Atestado de Óbito do enfermo que não prestar assistência; Não assinar Atestado de Óbito a pedido de outro colega. 30 8 – PERÍCIAS E PERITOS É indispensável o conhecimento da legislação que normatiza a atividade pericial no Brasil e em Minas Gerais, que é o Estado de aplicação do seu exame. No caso de Minas Gerais, o Decreto n. 5.141 de 25 de outubro de 1956 traz, em seu conteúdo, o formulário de quesitos para exames periciais que deverá ser utilizado pelos profissionais que exercem a atividade naquele Estado. O Conselho Regional de Medicina do Estado aprovou, por meio da Resolução CFM n. 1931/2009, o Código de Ética Médica que traz no Capítulo XI texto que normatiza a atuação do médico perito. No campo nacional, as perícias médico-legais oficiais estão disciplinadas na Lei n. 12.030/2009, que dispõe sobre as perícias criminais. Outro normativo que disciplina a atividade pericial é o Código de Processo Penal, que traz em diversos artigos a figura do perito. É importante, que você realize a leitura de todo o Código, principalmente os arts. 158 a 184 do CPP, que tratam do exame do corpo de delito e das perícias em geral, assim como a Resolução CFM n. 1.497/1998, Resolução n. 1.480/1997 (morte encefálica); Resolução CFM n. 1.617/2001 (Código de Processo Ético-profissional); Resolução CFM n. 1.779/2005 (normatiza o preenchimento da Declaração de óbito) e a Resolução CFM n. 1.826/2007 (suspensão de procedimentos na morte encefálica). A perícia médico-legal é atividade legalmente atribuída a profissional qualificado responsável pela produção de prova técnica em inquéritos e/ou processos judiciais. O exame pericial é realizado sob a égide de normas técnicas, científicas e jurídicas, sendo a atividade oficial vinculada ao serviço público de oferta obrigatória pelo Estado e serve ao interesses das partes sob litígio. A Resolução 1.497, de 8 de julho de 1998, do Conselho Federal de Medicina atribui aos Estados a competência de fiscalizar os atos profissionais do médico designado como perito, de modo que, conforme preconizado na mencionada resolução, os Conselhos Regionais deverão: 31 Art. 1º Determinar que o médico nomeado perito, execute e cumpra o encargo, no prazo que lhe for determinado, mantendo-se sempre atento às suas responsabilidades ética, administrativa, penal e civil. Parágrafo único. O médico fará jus aos honorários decorrentes do serviço prestado. Art. 2º O médico designado perito pode, todavia, nos temos do artigo 424 do Código de Processo Civil, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. Art. 3º O descumprimento da presente Resolução configura infração ética, sujeita a ação disciplinar pelos respectivos Conselhos Regionais de Medicina. Desse modo, o perito médico-legal oficial é um agente público em sua origem, e o perito médico-legal nomeado é considerado agente público transitório, tendo em vista que ambos estão sujeitos aos princípios constitucionais e administrativos inerentes às atividades públicas e ainda às obrigações advindas do exercício da profissão. O perito médico-legal deve observar, na execução de suas atividades, os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, da razoabilidade e da supremacia do interesse público. Além das atribuições concernentes aos agentes públicos em geral, os profissionais peritos médicos devem conhecer e respeitar os preceitos estabelecidos pelo Código de Ética Médica que consigna normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão, inclusive pelos profissionais no exercício de atividades que se utilizem o conhecimento advindo do estudo da Medicina, como é o caso das perícias médicas. O Código de Ética Médica, aprovado pelo Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução CFM n. 1931/2009, preconiza, entre outras normas, as vedações impostas ao médico perito: AUDITORIA E PERÍCIA MÉDICA É vedado ao médico: Art. 92. Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal quando não tenha realizado pessoalmente o exame. 32 Art. 93. Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou de qualquer outra com a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado. Art. 94. Intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou perito, nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em presença do examinado, reservando suas observações para o relatório. Art. 95. Realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos no interior de prédios ou de dependências de delegacias de polícia, unidades militares, casas de detenção e presídios. Art. 96. Receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor. Art. 97. Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo, no último caso, em situações de urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente. Art. 98. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua competência. Parágrafo único. O médico tem direito a justa remuneração pela realização do exame pericial. A exclusão dos pressupostos éticos na realização da atividade pericial compromete a confiança do documento técnico. O documento pericial deve trazer ao processo conteúdo técnico isento, com argumentos científicos capazes de atingir o objetivo de auxiliar no esclarecimento de fato de interesse legal. 8.1 - Perícias Médico-Legais O Termo Perícia vem do latim peritia, que quer dizer habilidade, experiência, daí entende-se que perícia é a atividade técnica realizada no sentido de verificar situações, buscando esclarecer um fato de interesse legal. A atividade pericial será sempre executada por especialista técnico ou douto em determinado assunto. 33 Para nós, interessa quando o fato de relevância legal diz respeito à saúde ou à vida, pois são nesses casos que se invoca a chamada perícia médico-legal, realizada por peritos oficiais, portadores de diploma de curso superior. É importante destacar que na falta dos peritos oficiais, excepcionalmente, o exame poderá ser realizado por dois profissionais idôneos, portadores de diploma de curso superior, preferencialmentena área técnica relacionada à natureza da atividade. As perícias médico-legais podem ser realizadas em seres humanos vivos, mortos (necroscópico), cadáver já enterrado (exumação), laboratoriais, animais presentes na cena do crime, em objetos e também sobre documentos ou quaisquer outros elementos que se refiram ou que guardem relação com a efetividade do exame, além disso, podem ocorrer sobre o fato a analisar (peritia percipiend) ou sobre uma perícia já realizada (perícia deducendi). Nesse sentido e buscando demonstrar a função das perícias médicas, podemos afirmar que essa atividade busca a definição do nexo de causalidade, principalmente, entre: a doença e a morte; a lesão e a morte; a doença ou sequela e a incapacidade ou invalidez física e/ou mental; o acidente e a lesão; a doença e a atividade laboral. É importante ainda mencionar que mesmo que não exista vinculação na tomada de decisão do juiz, o exame de corpo de delito é indispensável, não podendo ser suprido pela confissão do acusado. 34 8.2 - Corpo de Delito É comum ouvir dizer: “Fulano foi agredido e vai fazer corpo de delito”, “Beltrano morreu e o levaram para fazer corpo de delito”. Pois bem, levando em consideração a lógica advinda da palavra “corpo”, é fácil associar o exame de corpo de delito ao corpo da pessoa humana, contudo, esse exame vai além. Corpo de delito é o conjunto de vestígios deixados quando do cometimento da infração penal (Costa Filho, 2010). Quais são esses vestígios? Resíduos, fragmentos, pegadas, sangue, impressões digitais, ou seja, uma gama de elementos que podem levantar a materialidade da produção do crime. Sobre o termo, devemos tecer algumas considerações no que diz respeito às diferenças entre “corpo de delito” e “exame de corpo de delito”. A doutrina afirma que Corpo de Delito é a materialidade do crime e Exame de Corpo de Delito é a perícia que se faz para apontar a referida materialidade. Essa diferença apontada cria uma certa confusão em muitos alunos no momento de responder uma prova. Para que essa dúvida não o(a) incomode, proponho que você tenha em mente que o perito realiza Exame de Corpo de Delito com a finalidade de constatar e interpretar todos os vestígios envolvidos no delito, sejam eles diretos ou indiretos. Delito Direto: aquele realizado diretamente por meio dos vestígios produzidos para execução da infração. Delito Indireto: realizado por meio de documentos e/ou testemunhas, quando não existem vestígios a serem examinados. Atenção: Caso o delito apresente caráter transitório e não havendo a incidência de vestígios, será admitida prova testemunhal, contudo, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não sendo suprido pela confissão do réu. (CPP, art. 158). 35 Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido, do acusado ou de seu defensor (CPP, art. 168) Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. 8.3 – Peritos Entende-se como peritos aqueles especialistas técnicos ou o profissionais doutos em certos assuntos, que possuem a função de auxiliar a justiça no esclarecimento de fato delituoso. São classificados em: Perito oficial: os peritos oficiais são investidos no cargo mediante concurso público, em que prestam compromisso com a verdade na emissão de seus laudos no momento da investidura do cargo. Peritos nomeados, designados ou ad hoc: na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, como já mencionado, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame, que prestam compromisso com a verdade a cada perícia que realizam. 36 Existe ainda a figura do assistente técnico, sua função é a de acompanhar o perito oficial quando solicitado para atender os interesses das partes, seus custos cabem exclusivamente ao demandante. Atenção: Os peritos, ainda quando não oficiais, estarão sujeitos à disciplina judiciária e a eles é assegurada autonomia técnica, cabendo ao profissional escolher a melhor técnica empregada no caso, conforme preconizado no art. 2º da Lei n. 12.030/2009, verbis: Art. 2o No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso público, com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, de modo que o profissional realizará os exames necessários e emitirá laudo pericial contendo, minuciosamente, os dados do que examinou e as respostas aos quesitos formulados. A elaboração desse documento deverá ser realizada no prazo de 10 (dez) dias, podendo ser prorrogada, em casos excepcionais, a requerimento do profissional. Caso seja identificado que na elaboração do laudo pericial não houve a observância de algumas formalidades ou que o documento apresenta indícios de obscuridade, omissão ou contradição, o juiz mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. E ainda poderá ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente (CPP, art. 181). Ressalta-se que os peritos nomeados, chamados a juízo, poderão recusar o convite, contudo, os peritos oficiais deverão apresentar justificativa para a recusa nos moldes do art. 468 do Código de Processo Civil e art. 277 do Código de Processo Penal. Art. 468. O perito pode ser substituído quando: I – faltar-lhe conhecimento técnico ou científico; II – sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado. 37 Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil réis, salvo escusa atendível. Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e local designados para o exame; c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos. Nos casos em que se não houver justificativa relevante para o não comparecimento do perito é possível que seja determinada pelo juízo sua condução coercitiva, nos moldes do art. 278, também do Código de Processo Penal. Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá de terminar a sua condução. 8.4 - Impedimentos dos Peritos Os impedimentos atribuídos aos profissionais da atividade pericial encontram-se consignados no art. 279 e 280 do Código de Processo Penal, sendo que os casos de impedimento previstos atingem a figura do perito oficial e do perito nomeado. Não poderão ser peritos: i) os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos incisos I e IV do art. 69 do Código Penal; ii) os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; iii) os analfabetos e os menores de 21 anos; e iv) é extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes. 9 - ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL A Antropologia Médico-Legal é o ramo da medicina legal que estudaa identidade e a identificação através dos restos mortais, sejam eles humanos ou de animais. 38 É por meio da Antropologia Médico-Legal que conseguimos realizar a identificação de informações importantes com relação ao gênero, estatura, etnia, idade, ou seja, identificar a individualização de cada pessoa dentro de um grupo. Para tanto, a Antropologia Forense desenvolve algumas atividades objetivando a individualização: Cranotanatognose: Busca conhecer o intervalo de tempo volvido após a morte. Para identificação de óbitos mais recentes, comumente são utilizadas a temperatura corpórea, a presença e fixação de livores hipostáticos e a rigidez cadavérica. Na identificação de óbitos não recentes, são verificadas, principalmente, as fases de putrefação do corpo. Livor cadavérica em pessoa que permaneceu em decúbito ventral após a morte. Observe a geometria dos livores, que correspondem à forma dos objetos contra os quais esteve apoiado. 39 Livores de hipostase em enforcado. Identificação humana: Genérica: busca determinar a espécie do material biológico examinado, se é humano ou animal. Específica: a idade pode ser estimada por meio da análise de centros de ossificação, da sínfise pubiana, da contagem de osteócitos e da mineralização e erupção dos dentes. A partir da puberdade e por meio da morfologia óssea da pelve e do crânio, pode-se estabelecer o gênero do indivíduo. A estatura por meio da medida dos ossos, e a etnia por meio das medidas antropométricas (estudo das medidas e dimensões das diversas partes do corpo humano), ainda que comum a miscigenação. Individual: busca determinar a identidade do cadáver por meio da comparação de dados de provável indivíduo com os da ossada. Verifica-se, portanto, que antropologia busca, por meio de pesquisas específicas envolvendo conhecimentos científicos, reconhecer a identidade antropológica (pela antropometria) e a identidade civil através de informações peculiares e imutáveis que caracterizam cada indivíduo, como, por exemplo, a arcada dentária, o DNA, íris e a papiloscopia (digital). 40 9.1 - Identidade e Identificação A Antropologia Forense ou Antropologia Médico-Legal é o estudo da identidade e identificação. A identidade relaciona-se às características físicas, psíquicas e funcionais que individualizam os indivíduos; essas características intrínsecas podem ser originárias do ser humano ou adquiridas com o tempo. Os tipos de identidade podem ser apresentados como subjetivos e objetivos. O tipo objetivo é aquela identidade fornecida pelos caracteres físicos, funcionais e psicológicos, e o tipo subjetivo é a maneira de ser de cada indivíduo. Já a identificação é um conjunto de procedimentos adotados para se estabelecer a identidade da pessoa, que não se confunde com o reconhecimento, uma vez que neste ocorre uma comparação, e naquela a identidade se materializa de forma objetiva e inequívoca. Os métodos de identificação, ainda que classificados pela doutrina como simples e complexos, não possuem hierarquia de importância, devendo ser aplicados visando à economia e precisão nos resultados, são eles: Métodos Simples: cédulas de identidade ou registros, fotografias, testemunhas, retrato falado, vídeo e sinais individuais. Método Complexo: estudo Antropológico (antropometria – medição dos ossos), métodos laboratoriais, químico/físicos (exames de DNA), superposição de imagens, datiloscopia (papiloscopia), arcada dentária e íris. Para que os métodos de identificação sejam cientificamente seguros é necessário que estejam presentes os seguintes critérios técnicos e biológicos: Praticabilidade: o processo deve se mostrar seguro, simples e rápido, tanto na obtenção quanto no registro dos caracteres. 41 Classificabilidade: os métodos de arquivamento das informações devem possuir sistematização que permitam a comparação rápida e precisa. Unicidade: as características tornam o indivíduo único, diferente dos demais. Imutabilidade: as características intrínsecas não sofrem modificações com o tempo. Perenidade: as características permanecem com o indivíduo durante toda a vida. Vale mencionar o que a Constituição Federal, o Código Penal, a Lei de Contravenções Penais, o Código de Processo Penal e o Código Civil abordam em seus textos normativos, que tratam de crimes envolvendo a identidade do indivíduo, no que diz respeito aos crimes de falsificação, como, por exemplo: Art. 5º, inciso LVIII, da CRFB/1988: “O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. Art. 68 da Lei de Contravenções Penais: “Recusar a autoridade, quando por esta justificadamente solicitados ou exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado profissão, domicílio ou residência.” Art. 307 do Código Penal: “Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Pena – Detenção de três meses a um ano.” Art. 166 do Código de Processo Penal: “Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e identidade, no qual se descreverá com todos os sinais e indicações.” Dessa forma, verifica-se que a identidade do indivíduo se mostra importante não somente para diferenciar um ser humano do outro, mas também e principalmente para dirimir dúvidas relativas de identificação de indivíduos em dívida junto ao foro civil e criminal, podendo ser dividida em Identificação Médico-Legal e Identificação Judiciária ou Policial. 9.2 - Identificação Médico-Legal 42 A identificação médico-legal é aquela que necessita de conhecimentos médicos para ser executada, sendo realizada em função de: Espécie: distinção entre seres humanos e animais. Essa distinção pode ser obtida pela análise óssea, pelo material sanguíneo (verificando se o material é sangue mesmo – Técnica de Teichmann, e se é humano ou não – Técnica de Uhlenhuth). Microscopicamente, a diferença é dada pela análise da disposição do tamanho dos Canais de Havers, que são em menor número e mais largos no homem (FRANÇA, 2011). Raças: distinção entre grupos étnicos (caucásico, mongólico, negroide, indiano e australoide) por meio de características como a forma e medidas do crânio e dimensão da face (método de Giles e Elliot); os índices cefálicos; a envergadura (índice tibiofemural negros > 83 e Índice radioumeral negros > 80); a capacidade do crânio, branca (1558cm³), amarela (1518cm³), vermelha (1437cm³) e negra (1430cm³); o ângulo facial (Jacquart, Cloquet e Cuvier); a cor da pele; o tipo de cabelo, entre outros. Gênero: a determinação do gênero em cadáveres em putrefação é trabalho, muitas vezes difícil, contudo, o útero e a próstata são órgãos resistentes e demoram a se decompor, facilitando o trabalho dos peritos. Contudo, nos casos em que o corpo já se encontra em estágio bastante avançado de decomposição, os ossos, principalmente do crânio, tórax, mandíbula e pelve, podem ser utilizados no exame de determinação do gênero. Também pode ser utilizado o índice de Aitchison, por meio da análise dos dentes e, caso necessário, o perito poderá recorrer ao exame genético forense, que é a investigação da cromatina sexual ou o chamado Corpúsculo de Barr (aplicação de corante nas células humanas, em que a presença da cromatina indica feminino e ausência indica masculino). Idade: na avaliação para determinação da idade, considera-se a aparência, observando elementos como a pele (surgimento de rugas); pelos (presença de pelos pubianos e axilares); globoocular (arco senil); dentes (desgaste, erupção – Técnica de Gustafson); ângulo da mandíbula (Tabela de Ernestino Lopes); 43 imagens ósseas (punho, cotovelo, joelho, tornozelo, bacia e crânio) e massa corporal. Atenção: O exame ósseo é de grande importância para a determinação da idade do indivíduo tendo em vista a quantidade de detalhes e variedade de pontos de observação. Estatura: o Fêmur é o principal osso utilizado na avaliação de estatura no cadáver, em que para tanto são utilizadas as tabelas de Broca e Trotter e Glesser, as tábuas de Etienne-Rollet e as fórmulas de Breitinger e Dupertuis e Haden. O índice de Carrea3 também é utilizado para estimar a estatura do indivíduo. Podemos ainda mencionar as formas de identificação realizadas por meio de malformação, estigmas profissionais, cicatrizes, tatuagens, comparação de dados odontológicos, íris, biometria, análise de DNA, análise da abóbada palatina e as identificações médico-legais funcionais e psíquicas (movimento, escrita, função sensorial, voz). 9.3 - Identificação Judiciária ou Policial A Identificação Judiciária ou Policial é aquele ocorrida no âmbito civil ou criminal, ocorrem independentemente do conhecimento do profissional de medicina, são executadas pelos Institutos de Identificação de cada Estado e se dividem em: Bertilonagem: conjunto de medidas corporais (antropometria) complementado pelo retrato falado, a fotografia e as impressões digitais (datiloscopia). Datiloscopia: produzida pelo registro das pontas dos dedos deixados em superfícies pela gordura que os indivíduos carregam nas mãos. Esse tipo de identificação tem a vantagem de se encaixar em todos os critérios técnicos e biológicos garantidores da segurança dos métodos de identificação, perenidade, imutabilidade, variedade, praticabilidade e classificabilidade. 44 Atualmente, o Brasil utiliza o Sistema Datiloscópio de Vucetich, baseado na presença de cristais papilares das extremidades digitais. Segundo Vucetich, existem quatro formas básicas de desenhos das polpas digitais, são elas: Presilha Interna (figura I=2): Um delta (Δ) está presente à direita do examinador. Presilha Externa (figura E=3): Um delta (Δ) está presente à esquerda do examinador. Verticilo (figura V=4): Estão presentes dois deltas (Δ Δ), um à direita e um à esquerda do examinador. Arco (figura A=1): As linhas que atravessam o campo digital apresentam formas mais ou menos paralelas, não há formações em delta (Δ). Ressalta-se que nos exames datiloscópicos os polegares recebem letras, os demais dedos recebem números, e a impressão do polegar direito é chamada de fundamental. Os dedos inexistentes são identificados pelo “0” e as cicatrizes são marcadas com “x”. 10 – TRAUMATOLOGIA FORENSE 10.1 - Conceito de traumatologia forense A Traumatologia Médico Legal é responsável pelo estudo das lesões e estados patológicos, que são produzidos na forma de violência sobre o corpo humano, sendo 45 elas recentes ou tardias, com maior interesse nas áreas, penais e trabalhistas, e menor na área cível. Para Hélio Gomes, “Estuda as lesões corporais, que são infrações consistentes no dano ao corpo ou à saúde, física ou mental, e resultantes de traumatismos, tanto materiais como morais". O estudo da Traumatologia forense para FRANÇA (2008) é o ramo da Medicina Legal que estuda a ação de uma energia externa sobre o organismo do indivíduo (FRANÇA, 2008), ou seja, é o estudo das lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano. 10.2 - Conceito de lesão corporal É o que atinge a integridade física ou psíquica dos ser humano, representam os elementos que determinaram o crime, determinadas legalmente no Código Penal Brasileiro no art.129 e parágrafos, são classificadas quanto a sua intensidade em : leve, grave e gravíssimas. “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave” (...) Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo é o que padece da lesão. Para Nelson Hungria no Direito penal, a lesão corporal é "toda e qualquer ofensa ocasional à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico". Para FRANÇA, (2008) as lesões corporais são, vestígios deixados pela ação da energia externa ou agente vulnerante, que podem ser, fugazes, temporárias ou permanentes, podendo ser superficiais ou profundas. 46 10.2.1- tipos de lesão corporal As lesões Corporais podem ser de natureza: LESÃO LEVE: A lesão de natureza leve é aquela onde há ausência das lesões grave e gravíssima, onde é registrado de forma pericial a existência da ofensa, consubstanciada em dano anatômico (comprometimento da integridade corporal) ou perturbações funcionais (comprometimento da saúde). Usualmente a lesão apurada no primeiro exame ( corpo de delito) requer novo exame dentro de 30 dias ( exame complementar), para se confirmar a inexistência das consequências mencionadas nos parágrafos do artigo 129 do CP, concluímos assim que é configurada como lesão leve, as lesões não tidas como grave ou gravíssima. A pena para esses casos é de três meses a um ano de detenção, e, conforme a Lei n.9.099/95, em seu art.88, a instauração de inquérito policial e a ação penal dependem da representação da vítima. As consequências das lesões leves são equimoses, escoriações e feridas contusas, o percentual em relação ao total das lesões corporais é de 80%. LESÃO GRAVE: Lesão Corporal Grave ocorre quando o agente utiliza-se de culpa, a vontade de causar e ofender à sua vitima, será considerada grave se causar: Incapacidade para 47 as ocupações habituais normais durante 30 dias, ou debilidade permanente de membros, sentido ou funções. A debilidade é a perda de força o enfraquecimento, resultado de um dano anatômico ou funcional, portanto, as funções passíveis de debilitação são as atividades de órgão ou aparelhos do corpo Humano (rins,coração,olhos,ouvidos e mastigação). A determinação legal encontra - se no § 1o do art.129, CP, que em seus incisos resultem em: I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: O perigo de vida, antes não era considerada uma lesão grave, por a recuperação ocorrer menos de um mês, se enquadrando nas lesões leves, com o advento do Código Penal de 1940 esta falha foi corrigida, sendo relacionado a gravidade com o risco que o paciente estaria correndo, decorrente da ofensa recebida. Aceleração de parto, trauma físico ou psíquico, existe a antecipação do parto com expulsão do feto, desrespeitando o período fisiológico, quando ocorrer o óbito fetal, e o resultado for aborto, a lesão transforma-se em gravíssima. A perícia médica deve ser realizada logo após a lesão no menor espaço de tempo, e pode ser repetida após trinta dias, buscando constatar se a vítima já está apta a exercer suas atividades e ocupações habituais. Para a doutrina, e essa é uma posição majoritária, a incapacidade cessa quando a vítima reúne condições razoáveis de retomar suas ocupações, sem que haja risco de agravamento da lesão. Conforme estudos, as lesões causadas por fraturas, são as que mais incapacitam, alcançando período superior a trinta dias, com exceção das fraturas nasais, onde a recuperação da vítima é menor. 48 LESÃO GRAVÍSSIMA: A definição doutrinária para lesões corporais de natureza gravíssima é decorrente do agravamento punitivo elencado no § 2o do art.129 do Código Penal brasileiro, e vinculam-se com as lesões que venham a causar: I - incapacidade