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História da cartografia O que é cartografia? Antes de conhecermos a história da cartografia, precisamos entender a sua definição e, consequentemente, a sua função. Veja o conceito desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1999, e que atualmente é bastante aceito: A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização. IBGE, 1999, p.12. Agora você já sabe: a ciência cartográfica tem o papel de reproduzir a superfície do planeta Terra com a menor distorção possível e de maneira bem clara. Dessa forma, é possível identificar desenhos geométricos que representam as unidades cartográficas e os fenômenos observados. Podemos concluir que a cartografia visa comunicar ideias, conhecimentos e fatos, apoiada em artes gráficas e princípios matemáticos. Claramente é uma ciência de cunho geográfico que transmite conhecimentos por meio de códigos de sinais. E qual é o seu veículo de interpretação imediata? O mapa, ou seja, o cartograma! Agora, vamos conhecer a história da cartografia e todos os pontos interessantes que envolvem o nascimento dessa ciência. História da cartografia A cartografia teve início, mesmo que de maneira empírica1, a partir do momento que o homem pré-histórico começou a representar seus caminhos percorridos e seus territórios de caça nas paredes das cavernas. Como sabemos, as pinturas rupestres apresentam-se como registro de uma vida pretérita e, muitas vezes, demonstram o que os seres humanos da época observavam na paisagem. Veja um pouco mais sobre a História da cartografia. Um pouco mais de conhecimento Até o século XX, cientistas achavam que o mapa mais antigo encontrado pela civilização tinha sido aquele produzido pelos babilônios, perto de 2500 a.C. De acordo com Carvalho e Araújo (2008), o “mapa”, encontrado em Ga-Sur 2, é constituído por uma placa de argila cozida, onde foi desenhado um conjunto de montanhas que ladeiam um curso fluvial. Os arqueólogos que examinaram o artefato afirmam que ele representa o vale dos rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia, e que teria sido produzido entre 2.500 e 4.500 a.C. Atualmente, a placa de argila encontrada em Ga-Sur está protegida em Cambridge, nos Estados Unidos, no Museu Semítico da Universidade de Harvard. Mas, na primeira metade do século XXI, o artefato cartográfico mais antigo registrado foi localizado em Catal Hyük, cidade da antiga Anatólia, hoje Turquia. De acordo com Carvalho e Araújo (2008), os cientistas encontraram o material, datado de aproximadamente 6.200 a.C, em escavações, por meio de pinturas nas paredes das cavernas, na cidade de Ancara, capital turca. Na imagem a seguir, você observa esse artefato cartográfico encontrado pelo arqueólogo James Mellaart. Os cientistas afirmam que o mapa é uma planta de uma cidade, com numerosas edificações que lembram uma colmeia. E, ao fundo, há o vulcão em erupção que hoje encontra-se extinto: o Hasan Dag. Mapa de Catal Hyük. Fonte: (CARVALHO & ARAÚJO, 2008) A História registra que foram os gregos os primeiros a se preocupar, efetivamente, com o conjunto terrestre e já quinhentos anos antes de Cristo eles representavam a Terra como se fosse um disco rodeado com água. Na época, as pessoas pensavam que a Terra poderia ser quadrada, que estava no centro do universo e que o sol é que dava voltas em seu entorno. Mas, alguns filósofos gregos, como Pitágoras, já começaram a perceber, por meio de seus estudos, que a Terra poderia ser esférica. E, a partir do século IV a.C, esse conceito já era aceito no meio científico. Não se esqueça de que quem faz o mapa 3 pode destacar aquilo que mais interessa. Veja, por exemplo, na imagem que Gerardo Mercator, quando produziu o seu mapa-múndi, colocou a Europa quase no centro. E, hoje, sabemos que esse continente está bem ao norte da Terra. Orbis Terrae Compendiosa Descriptio. Autor: Gerardus Mercator. Data: 1578. Fonte: APM Contribuições para a ciência cartográfica Você sabia que ainda no século III a.C, Eratóstenes, um bibliotecário da cidade de Alexandria (no Egito), mediu o diâmetro da Terra com grande precisão para a época? Observe, na figura, o desenvolvimento do cálculo realizado pelo egípcio. Outra grande contribuição foi a de Cláudio Ptolomeu, ainda no século II. Ele desenvolveu seus trabalhos considerando que a Terra era esférica e produziu o primeiro atlas. Trata-se de uma grande obra que soma 8 volumes, com assuntos que vão desde a construção de globos à técnica de projeção de mapas. O grego retratou mais de oito mil lugares, assegurando informar as coordenadas geográficas aproveitando-se das conquistas e viagens de Alexandre, o Grande. Contribuições dos romanos para a ciência cartográfica Os romanos também forneceram importantes contribuições para a ciência cartográfica. Seus trabalhos tinham grande conteúdo prático e os desenhos e cartogramas buscavam representar áreas menores, como rotas comerciais, territórios ocupados a serem conquistados, bem como áreas produtivas e edificações. Abaixo, você observa a Tabula Peutingeriana, uma representação das vias desenvolvidas ou conquistadas pelo Império Romano, hoje mantido na Biblioteca Nacional de Viena. Para o desenvolvimento da técnica, os romanos utilizaram o astrolábio, um instrumento usado para localização geográfica a partir da observação dos fenômenos celestes. Com a queda do Império Romano e o advento da Idade Média 4, a Europa passou por um período em que a velocidade do desenvolvimento científico foi reduzida, uma vez que os fenômenos eram explicados a partir da base religiosa da Igreja Católica. Na Idade Média, o bispo de Sevilha, Isodoro, produziu um cartograma que também tinha o nome de mapa T-O. Observe, na figura, que o artefato era um esquema, em formato de T, onde a letra representava os corpos hídricos que dividiam o mundo até então conhecido: Mar Mediterrâneo (separando África e Europa); Rio Nilo (separando a África da Ásia); Don (que dividia a Ásia da Europa). Não precisamos nem dizer que o grande significado do desenho em forma de T é a cruz de Cristo. É desse período o registro das grandes descobertas científicas realizadas na Ásia e no Oriente em geral. Como, por exemplo, o fato dos árabes terem criado a bússola e que, a partir desses mecanismos, os genoveses desenvolveram cartogramas que facilitaram a localização das navegações: são as Cartas Portulanas. O fim da Idade Média deu lugar ao Renascimento Cultural, ao Iluminismo e às Grandes Navegações, um processo cultural, econômico e político que resultou na ampliação do mundo até então conhecido. A Era dos Descobrimentos foi muito importante para o desenvolvimento cartográfico uma vez que os navegadores recebiam altos investimentos para alcançar novas terras e apresentar resultados produtivos sobre o desenvolvimento de novas rotas comerciais. Até então o comércio com o Oriente era feito por vários atravessadores que traziam as especiarias por dentro do continente até a Europa, o que encarecia os produtos. Havia a necessidade de se descobrir novas rotas comerciais. O primeiro a embarcar nessa aventura foi Portugal, depois Espanha e, enfim, países como Inglaterra, França e Holanda se juntaram posteriormente à empreitada. Para atender ao recente capitalismo e a uma burguesia sedenta por lucros, os investimentos necessários para o desenvolvimento científico eram realizados na Inglaterra e na França, principalmente por instituições de pesquisa. As famílias reais dessas nações ofereceram grandes incentivos à ciência. No final do século XVIII, a Europa vivenciou a Primeira Revolução Industrial, fato que marcou o começo dos tempos modernos e teve grande importância para a Cartografia, umavez que, com a geração de riquezas, foi possível maior investimento na produção de cartas e instrumentos, que melhoraram a precisão dos trabalhos. Na segunda metade do século XVIII, a Grã-Bretanha já despontava como um grande centro de atividades cartográficas, ocupando o lugar que antes pertencia à Antuérpia. Evolução cartográfica brasileira O Brasil foi colônia de Portugal durante décadas e os navegadores, cientistas e cartógrafos da metrópole também tinham a responsabilidade de mapear o território, sob o controle português. Com a chegada de Dom João VI ao Brasil e com a abertura dos portos às nações amigas, o desenvolvimento cartográfico ganhou impulso, legitimidade e uma certa autonomia. Entre os séculos XVI e XIX foi variada a produção cartográfica considerando o Brasil, como objetivo de investigação, assim como você pode observar a seguir. Fragmento do Planisfério de Cantino, de 1502, com base em uma litografia de Henry Harrisse (1829-1910), publicada em 1883, em Paris. O original pode ser acessado pela biblioteca Gallica. Este é considerado o mapa mais antigo do Brasil. Note a ênfase dada à região de Porto Seguro. Uma das 31 cartas do mesmo Atlas de 1640, representando o final, ao norte, do litoral brasileiro, na época, segundo o Tratado de Tordesilhas. Destaque para Marajó e para a Cidade de Belém. Confins do Brasil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional (título original), base 1749, conhecido como o Mapa das Cortes (Espanha e Portugal), que serviu de referência para o Tratado de Madrid de 1750. Mapa preparado pela Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, indicando a posição da zona demarcada para o futuro Distrito Federal, como prevista no Artigo 3º da Constituição de 1891. Repare como ele apresenta o contorno mais próximo do que é o Brasil atual. Durante o Brasil Império, com a presença constante da família real no continente e a necessidade de controle territorial mais efetivo, foi natural o aumento dos recursos para os documentos cartográfico e registro de descobertas. Veja: 1810 Escola de Formação de Engenheiros Geógrafos Militares. 1825 Comissão do Império do Brasil, com o objetivo de organizar a cartografia do Brasil. 1830 Surgimento dos primeiros trabalhos da cartografia náutica. 1852 a 1857 Implementação das atividades das Companhias Hidrográficas da Marinha do Brasil. 1876 Institucionalização da Repartição Hidrográfica, embrião da atual Diretoria de Hidrografia e Navegação. No início do Brasil República, os avanços cartográficos continuaram e a produção científica foi implementada para o aparelhamento estatal e as contribuições foram necessárias para mapear o território. Observe algumas contribuições: 1896 Elaboração da Carta Geral da República pelo Estado-Maior do Exército. 1903 Criação da Comissão da Carta Geral do Brasil em Porto Alegre com a missão de organizar a Cartografia Sistemática terrestre. 1920 Vinda da Missão Cartográfica Austríaca ao Brasil para organizar o Serviço Geográfico de Exército. 1927 Compra de equipamentos para tomada de fotografias aéreas e para restituição. 1930 Criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos tempos, deu-se início à absorção de novas tecnologias na produção cartográfica nacional por parte de instituições ligadas ao sistema cartográfico nacional. Novos produtos e técnicas cartográficas Novos produtos e técnicas cartográficas foram apresentados em eventos cada vez mais específicos, voltados à formação e atuação do profissional e também à cartografia. Segundo o IBGE (2018), atualmente, a cartografia pode contar com valiosos recursos como: Aerofotos Imagens orbitais Sistemas de posicionamento por satélites Programas e computadores Programas e computadores, além de facilitar as atividades cartográficas, possibilitam a rápida disponibilização das informações coletadas, assim como uma atualização mais eficiente. Observe, na imagem a seguir, a riqueza de detalhes. Conseguimos identificar as edificações, os veículos automotores, as faixas da rodovia e até mesmo árvores e postes. É a evolução tecnológica das imagens de satélites. As imagens de satélite são divulgadas gratuitamente pelo Inpe (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Você sabia que todo o mapeamento da Amazônia Legal é feito pelo órgão desde 1998? Através do Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia (PRODES), o Brasil tem o controle cartográfico do território e pode afirmar que houve importante redução no ritmo de desmatamento do bioma. O sistema faz a detecção da área desmatada em tempo real, com uso do sensoriamento remoto. A grande vantagem do sistema é que ele detecta processos de desflorestamento e, com os dados dos fiscais em campo, podem impedir a devastação antes da destruição completa da área. Acesse o projeto PRODES, que utiliza imagens de satélite da classe Landsat, cuja resolução espacial é de 20 a 30 metros. Em 2017, o Inpe apresentou uma ferramenta inovadora, em que os usuários podem acompanhar os dados do desmatamento na Amazônia Legal, de maneira moderna e de fácil entendimento. Há um grande painel interativo, com a visualização dos dados. E você pode interagir com diversos gráficos que mostram aspectos que te permitem interpretar as taxas de desmatamento por estado, município e até mesmo por unidade de conservação. O GPS Hoje em dia, a ciência cartográfica conta com importantes recursos como imagens de satélite e de radar, aerofotos, programas e computadores, sistemas de posicionamento por satélites, dentre outros, que facilitam o mapeamento do espaço geográfico e ainda permitem uma eficiente disponibilização das informações coletadas. Para os deslocamentos urbanos ou turísticos, atualmente, muitos buscam o apoio do Sistema de Posicionamento Global, mais conhecido como GPS, que, conectado ao sistema físico dos veículos automotores, permitem a localização em tempo real. Ao longo do tempo, a ciência cartográfica passou por grandes avanços e hoje, contribui para os estudos de Meio Ambiente e Licenciamento Administrativo, bem como contribui para o planejamento territorial. A partir dos Sistemas de Informações Geográficas, Sensoriamento Remoto e outras ferramentas do Geoprocessamento, a Cartografia está sempre pronta para auxiliar na Gestão Ambiental. Um software que muito tem contribuído para a divulgação de imagens de satélite em grande escala (com muitos detalhes) é o Google Earth. Até mesmo o leigo pode navegar nas asas cartográficas, com o uso do Google Maps ou até mesmo do Google Earth, onde é possível fazer identificação de ruas, estradas, localidades e bairros. Com a tecnologia, os mapas tornaram-se importantes ferramentas para a defesa e a conquista de territórios e também para representar setores produtivos, como agricultura e transporte.