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Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S Bem-vindo ao Articulação Humanas OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA: O OLHAR DA SOCIEDADE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA ESSE GRUPO Clique nos ícones para explorar os conteúdos desta edição Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S SAIBA MAIS SOBRE O TEMA DESTA EDIÇÃO. SA BEN DO!FI Q U E Brasil não está preparado para o envelhecimento da população […] A nova pesquisa do IBGE, divulgada no final de julho, mostra que a proporção de pessoas abaixo de 30 anos recuou de 49,9% da população do país em 2012 para 43,9% em 2021. No período, o número de brasileiros nessa faixa etária baixou de 98,7 milhões para 93,4 milhões. Ou seja, uma queda de 5,4%. No sentido contrário, a fatia com 30 anos ou mais subiu de 50,1% da população em 2012 para 56,1% em 2021. O grupo pulou de 99,1 milhões para 119,3 milhões no mesmo intervalo. O avanço foi de 20,4%. [...] Bibiana Graeff, jurista e professora no curso de gerontologia da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), afirma que Brasil já foi referência em direitos para os idosos, principalmente após a Constituição de 1988 e o Estatuto do Idoso, de 2003. Depois disso, porém, o país estagnou no tema, aponta ela. Para ela, as questões relacionadas à população idosa não devem ser vistas como algo isolado, mas como todo um retrocesso em questões relacionadas a direitos humanos. “São pessoas muitas vezes vistas como um peso para sociedade que são vistas como se não contribuíssem para a sociedade.” [...] MENON, Isabella. Brasil não está preparado para o envelhecimento da população. Folha de S.Paulo, 6 ago. 2022. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/brasil- nao-esta-preparado-para-o-envelhecimento-da-populacao.shtml>. Acesso em: 6 set. 2022. A OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/brasil-nao-esta-preparado-para-o-envelhecimento-da-populacao.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/brasil-nao-esta-preparado-para-o-envelhecimento-da-populacao.shtml Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S SAIBA MAIS SOBRE O TEMA DESTA EDIÇÃO. SA BEN DO!FI Q U E Com envelhecimento da população, há cada vez mais idosos em busca de emprego no Brasil O envelhecimento da população brasileira tem acentuado uma tendência no mercado de trabalho. Há cada vez mais idosos em busca de emprego. [...] Uma projeção da Fundação Getúlio Vargas mostra que, em 2040, 57% dos trabalhadores terão mais de 45 anos. E uma pesquisa inédita de uma plataforma de emprego para quem tem mais de 50 anos indica que 57% das empresas querem contratar essas pessoas. [...] “Quando você mistura as jovens gerações com as gerações mais sênior num ambiente de troca, de compartilhamento de informação, de conhecimento, todo mundo sai ganhando. A empresa sai ganhando porque vai ter um grupo mais apto a ser inovador, a tomar melhores decisões, e as pessoas também saem ganhando porque aprendem umas com as outras. Não é o fato de ser mais sênior que você não vai aprender com quem é mais jovem, e o contrário, também”, diz Rosana Aguiar, gerente de RH. [...] COM ENVELHECIMENTO da população, há cada vez mais idosos em busca de emprego no Brasil. Jornal Nacional, 13 ago. 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/ noticia/2022/08/13/com-envelhecimento-da-populacao-ha-cada-vez-mais-idosos-em- busca-de-emprego-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 6 set. 2022. B OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/08/13/com-envelhecimento-da-populacao-ha-cada-vez-mais-idosos-em-busca-de-emprego-no-brasil.ghtml https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/08/13/com-envelhecimento-da-populacao-ha-cada-vez-mais-idosos-em-busca-de-emprego-no-brasil.ghtml https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/08/13/com-envelhecimento-da-populacao-ha-cada-vez-mais-idosos-em-busca-de-emprego-no-brasil.ghtml Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S SAIBA MAIS SOBRE O TEMA DESTA EDIÇÃO. SA BEN DO!FI Q U E Você sabe o que é ageísmo? [...] Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016, ouviu 83 mil pessoas em 57 países e mostrou que 60% de entrevistados possuíam visão negativa sobre o envelhecimento. O que pode gerar ageísmo, conceito utilizado para definir o preconceito por idade. [...] “É relevante falar sobre isso porque vários estudos mostram que esse tipo de preconceito pode até diminuir a expectativa de vida de quem sofre, e o envelhecimento é algo que atinge a todos” [afirma o médico Egídio Dórea]. [...] a idade deve ser motivo de orgulho. “Ela representa tudo aquilo que uma pessoa viveu, a trajetória de vida. É importante ter orgulho disso.” [diz Dórea]. SANTANA, Crisley. Você sabe o que é ageísmo? Campanha debate preconceito por idade. Jornal da USP, 21 out. 2019. Disponível em: <https://jornal.usp.br/universidade/acoes-para- comunidade/voce-sabe-o-que-e-ageismo-campanha-debate-preconceito-por-idade/>. Acesso em: 6 set. 2022. C OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 https://jornal.usp.br/universidade/acoes-para-comunidade/voce-sabe-o-que-e-ageismo-campanha-debate-preconceito-por-idade/ https://jornal.usp.br/universidade/acoes-para-comunidade/voce-sabe-o-que-e-ageismo-campanha-debate-preconceito-por-idade/ Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S SAIBA MAIS SOBRE O TEMA DESTA EDIÇÃO. SA BEN DO!FI Q U E Idosos são os que mais têm depressão e acreditam em mitos sobre o tema Em meio à pandemia, idosos não apenas compõem o principal grupo de risco para a covid-19 como também estão mais suscetíveis a desenvolverem quadros de depressão em razão do isolamento social e distanciamento familiar. Além disso, são os mais velhos que acreditam em mais mitos sobre saúde emocional, dificultando o tratamento de transtornos mentais como depressão e ansiedade. [...] Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% dos brasileiros têm depressão — e a prevalência quase dobra entre os que estão na faixa etária de 60 a 64 anos: de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11,1% deles estão depressivos. [...] Outra crença incorreta sobre a depressão bastante comum entre os mais velhos é a de que “quem é bem-sucedido no trabalho, no relacionamento amoroso e na vida social não desenvolve depressão.” Entre aqueles com mais de 55 anos, 14% acreditam que isso é verdade e 16% não souberam responder. LOPES, Larissa. Idosos são os que mais têm depressão e acreditam em mitos sobre o tema. Galileu, 6 jul. 2020. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/ noticia/2020/07/idosos-sao-os-que-mais-tem-depressao-e-acreditam-em-mitos-sobre-o-tema. html>. Acesso em: 6 set. 2022. D OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2020/07/idosos-sao-os-que-mais-tem-depressao-e-acreditam-em-mitos-sobre-o-tema.html https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2020/07/idosos-sao-os-que-mais-tem-depressao-e-acreditam-em-mitos-sobre-o-tema.html https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2020/07/idosos-sao-os-que-mais-tem-depressao-e-acreditam-em-mitos-sobre-o-tema.html Clique nos ícones para acessar os conteúdos desta edição H U M A N A S SAIBA MAIS SOBRE O TEMA DESTA EDIÇÃO. SA BEN DO!FI Q U E As consequências e desafios do envelhecimento populacional [...] A mudança demográfica ocasionada pelo envelhecimento populacional exige que ações e medidas sejam executadas, tanto pelo Estado, quanto pela própria sociedade civil. E isso deve ser realizado de maneira local, nacional e internacional. Por isso,a ONU decretou em dezembro de 2020, a década 2020-2030 como a Década do Envelhecimento Saudável e estabeleceu 4 áreas de ação para atingir o objetivo de garantir um envelhecimento digno: Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento; Garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; Entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde centrados na pessoa e adequados à pessoa idosa; Propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem. Nesse sentido, a OMS vê como fundamental a efetivação do chamado envelhecimento ativo. O envelhecimento ativo se refere ao processo de garantir que os idosos tenham o seu bem- - estar físico, social e mental protegidos, assim como a sua cidadania. Assim, ele visa tornar o fenômeno de envelhecer uma experiência positiva que melhore a qualidade de vida dos idosos. Para isso, uma série de políticas públicas são necessárias, sendo que, para a OMS, o foco deve ser em políticas de saúde, participação e segurança. Coury, Andreza Ometto (et al) O que é o envelhecimento populacional e como os países se preparam para isso? Disponível em: <https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/ o-que-e-o-envelhecimento-populacional/>. Acesso em: 22 set. 2022. E OUTUBRO | 2022 EDIÇÃO NO 9 https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/ o-que-e-o-envelhecimento-populacional/ https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/ o-que-e-o-envelhecimento-populacional/ 2 DADOS, FATOS E CONTEXTOS. P R IM EI R O O envelhecimento da população brasileira Clique no play e assista ao vídeo desta edição. https://app.souionica.com.br/public-viewer/b227ea30-539b-11ed-b5ac-e332f44f0954 O envelhecer como direito coletivo De acordo com as projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS), a população idosa no mundo será de 30% em 2030. No Brasil, esse percentual será alcançado em 2050, e o país está entre os três que mais envelhecem no mundo: atualmente, 14,7% de sua população tem mais de 60 anos de idade, e isso representa pouco mais de 31 milhões de pessoas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2022. E afinal, qual é a importância de tantos dados? Em termos de políticas públicas, servem para o poder público antever tendências populacionais, identificar dificuldades e buscar soluções. O desafio que se põe diante de nós como sociedade é o de desnudar o tema e compreender a razão das inquietações que ele provoca, promovendo um debate aberto, reflexivo e crítico. 3 CONHEÇA A OPINIÃO DE QUEM ESTUDA O ASSUNTO. A B ER TO Entrando em contato com o tema A ideologia capitalista impõe um valor à vida humana intimamente atrelado à produtividade econômica. Nesse contexto, grupos etários que não exercem atividades remuneradas, como crianças, adolescentes e idosos, acabam sendo desvalorizados socialmente, pois carregam o estigma da dependência financeira, nesse mundo em que a lógica da vida se baseia na participação ativa no sistema econômico. O que esse pensamento nos revela é que, diferentemente da criança e do adolescente, que estão em fase de crescimento e desenvolvimento, preparando-se para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho, o idoso já passou por todas essas etapas. Entretanto, para além da lógica capitalista, o idoso continua se desenvolvendo e contribuindo com suas experiências e aprendizados. É certo que as limitações passam a ser mais frequentes com o passar dos anos, pois o corpo é um invólucro finito, mas isso em nada diminui a potência dos mais velhos para a compreensão de quem somos. 4 Não é raro ouvir alguém se apresentar começando pelo nome, seguido de sua profissão e complementado por outros dados que considera relevantes, como “sou João Silva, sou carteiro, tenho um filho e um cachorro”. O primeiro elemento da sentença — a identificação do nome — traz a informação pessoal de distinção, é a forma como somos chamados desde a infância, que permite diferenciar Cleides de Marleides e de Zuleides. Na sequência, a profissão é um marcador forte, e a alocação no mercado de trabalho parece ser uma das características mais importantes na autodeterminação. O papel central do trabalho demonstra como estamos imersos na lógica produtiva, e somos “alguém” na medida em que somos reconhecidos pelos nossos pares e pela sociedade em uma dada ocupação. Mas, o uso da expressão “sou carteiro”, e não “estou trabalhando como carteiro”, na apresentação profissional, acaba por confundir um pouco o nosso ser como indivíduo com o fato de estarmos dedicados a determinada atividade em algum momento de nossas vidas. E por que toda essa história de trabalho é importante? Porque é exatamente nessa ideia de que somos socialmente valorizados a depender da atividade econômica que exercemos e da posição social que ocupamos que a aversão à velhice tem seu gérmen. 5 A preciosidade da memória Em um mundo marcado por tanta agilidade e conectividade, em que as inovações se sobrepõem umas às outras sem nem termos tempo de nos acomodarmos a elas, envelhecer nos parece, inevitavelmente, uma perda. O velho está deslocado, não há espaço para o que se foi. A gana pela novidade e pela evolução tecnológica passa a falsa impressão de que o passado e o momento atual estão em desvantagem com relação ao porvir, que logo será também superado. O grande problema é que essa celeridade de informações esconde a real noção do tempo. Quantas vezes não achamos que estamos “por fora” por não entender o último meme, produzido com o último vídeo do último minuto de um show daquela celebridade que está no auge? E se usarmos esse mesmo meme daqui a duas semanas? Já estaremos ultrapassados, pois haverá outra novidade, novíssima em folha, pronta para nos impactar mais que a última, que, por sua vez, foi mais interessante ainda que a penúltima, e assim por diante. Costumamos nos esquecer de que o tempo está sujeito ao que fazemos dele ao longo de nossa trajetória de vida. O mundo não foi sempre assim, e certamente não se manterá dessa forma para sempre. A mudança da sociedade é necessária, possível e dinâmica, mas, para entender que somente nós, coletivamente, podemos mudar as nossas vidas, é necessário lidarmos com um elemento imaterial: a memória. 6 Saber de onde viemos, quem são nossos familiares, quem foram, por quais lugares passaram, onde moraram, no que acreditavam, se estiveram casados por amor, se desejavam outros ares, se ouviam seus avós, entre outras coisas, para entendermos quem somos, são descobertas necessárias para compreender quem foram aqueles que nos permitiram estar aqui hoje. E é nessa perspectiva que a memória se torna uma força potente, que confere autonomia e crítica, e que evidencia o quanto nossos ancestrais são parte de nós. Coisas que hoje podem parecer triviais e corriqueiras são frutos de movimentos históricos da coletividade. Para citar exemplos, lembremos do uso de calças compridas pelas mulheres, do direito ao divórcio e do sufrágio universal. Essas são conquistas da sociedade, empreendidas por pessoas que percebiam o passado e vislumbravam um futuro diferente. Dar voz, protagonismo, saber compreender, solidarizar-se e valorizar as trajetórias de vida dos nossos idosos são ações fundamentais para se manter a memória pessoal e coletiva, além de trazer outras formas de lidar com o presente, diferentes das impostas pelo mercado de trabalho e pela cultura do imediatismo. 7 A velhice é uma experiência coletiva Quando falamos da velhice, da memória e de estar vivo, começamos a diferenciar as velhices. Não há um único caminho ou um modo de vivê-la; há uma multiplicidade de velhices, pois, em uma sociedade desigual, envelhecer não é um processo uniforme. O movimento negro, por exemplo, reivindica o fim do extermínio da população preta, pobre e periférica. No grito “paremde nos matar” há um pedido implícito genuíno, que é o de “nos deixem viver”. Viver é poder ter condições de aproveitar a vida, dar ao tempo sentido e rumo, e poder chegar à velhice de forma digna e saudável. É nesse sentido que envelhecer é um privilégio. 8 Ora, se sabemos que aqui estamos, já nascidos e um tanto crescidos, e que o futuro nos reserva o prosseguimento desta vida até o mais distante que ela possa ir com a melhor qualidade possível, por que razão a velhice ainda é tratada à espreita, em sala fechada, falada em voz baixa, como se fosse um assunto interdito? Essas práticas não fazem sentido se levarmos em conta que o número de idosos é cada vez maior em nosso país, em razão de fatores como a melhoria nas condições de vida, moradia, educação e saúde. É necessário quebrar o tabu sobre a velhice, falar sobre envelhecer, ser velho, estar velho e o que desejamos para essa fase de nossas vidas. Esse problema vai muito além da esfera privada e reflete na ausência de políticas públicas efetivas para essa parte significativa da população, fazendo que milhões de pessoas não tenham acesso a serviços essenciais como saúde pública, moradia, transporte, entre outros. A velhice, experienciada de forma coletiva, precisa estar na pauta das políticas públicas como o direito de envelhecer dignamente. Essa luta tem como base a solidariedade e a dignidade, direito humano essencial, e devemos travá-la como sociedade, constituída por pessoas de diferentes idades, mesmo sem saber se dela seremos beneficiários. 9 As instituições de longa permanência Antes chamadas de asilos (do grego ásyllon, “refúgio”), as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) ainda carregam um sentido negativo no imaginário popular, vistas frequentemente como um lugar de degredados e de exílio forçado. Embora haja cada vez mais a preocupação de oferecer espaços de bem-estar e promover um envelhecimento saudável, o preconceito ainda é grande quando falamos nessas instituições. Para o idoso, a mudança de sua casa para uma ILPI pode significar a redução da expressão de suas vontades. O medo de envelhecer passa necessariamente pelo medo de perder a capacidade de fazer suas próprias escolhas e não mais poder exercer de maneira plena a sua autonomia. No âmbito público, as vagas em ILPI são insuficientes diante da demanda da assistência social e recaem sobre as famílias os cuidados com os idosos que apresentam alguma limitação. Não há também uma ampla rede pública de espaços de convivência para idosos. Embora o número de ILPI no Brasil tenha mais que dobrado entre os anos de 2010 e 2021, somente 2,35% das 7 292 ILPI são públicas. 10 O preconceito com as ILPI faz emergir outra luta, ligada aos cuidados das crianças, que eram vistos como responsabilidade exclusivamente materna. Deixar a criança em uma creche era visto como uma forma de não cuidar, e isso acarretava um peso sobre as mães que precisavam entrar no mercado de trabalho para auxiliar ou prover o sustento de suas famílias. Hoje em dia, nota- -se um aumento de propostas de criação de creches em candidaturas a cargos nos poderes executivo e legislativo. Quando falamos da outra ponta da vida, o envelhecer não encontra amparo efetivo na criação de instituições que permitam aos idosos vivenciar sua velhice de maneira salubre e segura, com estímulo às suas potencialidades, em que suas perdas funcionais preveníveis possam ser retardadas e laços de afeto e amizade possam ser construídos. É preciso fazer emergir esse debate, de modo que os olhos do poder público se voltem para essa questão essencial para nosso presente e nosso futuro. 11 12 Vida, autonomia e morte Aquilo que não é dito, pensado e refletido, dificilmente é elaborado. Quando não nos permitimos falar sobre a velhice, negamos o inevitável. E, com o advento da velhice, vem a fragilidade, que é vivenciada de maneira dolorosa, pois nos coloca em posição de vulnerabilidade. Parte dessa vulnerabilidade advém do fato de sabermos que estamos próximos da morte. Ainda pouco comentada no nosso país, a elaboração de um testamento vital com diretivas antecipadas de vontade foi regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina na Resolução nº 1995/2012. Diferentemente do testamento patrimonial, que exige posses materiais a serem destinadas aos seus descendentes, o testamento vital pode ser feito por qualquer pessoa. Por meio desse documento, a pessoa que opta por ele pode descrever se deseja que determinadas intervenções médicas sejam adotadas para salvaguardar sua vida e até que ponto devem ser realizadas, ou as formas como deseja ser cuidado em caso de não responder mais por si. É uma forma de preservar a autonomia e a vontade da pessoa em casos de doenças neurodegenerativas, por exemplo, ou, ainda, em caso de acidentes em que a pessoa fique em estado de coma. Talita Inamine Amaro é médica do Programa Acompanhante de Idosos da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Tem especialização acadêmica em Saúde Pública e em Medicina do Trabalho. É coordenadora e educadora popular no Curso Mafalda e atualmente estuda Direito. Em uma sociedade que celebra o novo a todo tempo, não é de se espantar que tenhamos tanto medo de olhar para velhice e para a morte. Vale também pensar por qual motivo temos esse enorme anseio por dar sentido à nossa vida, por fazê-la valer a pena: talvez porque, embora não falemos disso o tempo todo, sabemos que o fim é certo. Para que estendamos o valor de viver por toda a vida, é imperativo que nos engajemos nas discussões e nas lutas pelo envelhecer com dignidade. https://saudeamanha.fiocruz.br/2050-brasil-tera-30-da-populacao-acima-dos-60-anos/#.YvQbUnbMK5c https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/comissao-de-defesa-dos-direitos-da-pessoa-idosa-cidoso/apresentacoes-em-eventos/apresentacoes-de-convidados-em-audiencias-publicas-2021/audiencia-publica-sobre-fortalecimento-das-instituicoes-de-longa-permanencia-de-idosos-21-6-21/apresentacao-ap-21-6-21-sra-marisa-accioly-usp/view https://www2.mppa.mp.br/sistemas/gcsubsites/upload/37/Portaria%20NR%201395-99%20Politica%20Nac%20Saude%20Idoso.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/MatrizesConsolidacao/comum/4397.html https://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/Portaria_249.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acao_enfrentamento_violencia_idoso.pdf https://www2.camara.leg.br/a-camara/programas-institucionais/experiencias-presenciais/parlamentojovem/como-escrever-seu-projeto/dica-3-como-estruturar-seu-projeto-de-lei#:~:text=Um%20projeto%20de%20lei%20deve,e%20o%20ano%20de%20apresenta%C3%A7%C3%A3o https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/brasil-2050-os-desafios-de-uma-nacao-que-envelhece https://respondendo.ibge.gov.br/voce-foi-procurado-pelo-ibge/pesquisas/pesquisa-por-domicilios/pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-pnad-continua.htm https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html https://revistas.pucsp.br/index.php/fid/article/download/41996/28469/121339 https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548177545_7a83df9f483b4837569372ef14168ade.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http:// http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6214.htm# http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm#:~:text=L8080&text=LEI%20N%C2%BA%208.080%2C%20DE%2019%20DE%20SETEMBRO%20DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20condi%C3%A7%C3%B5es%20para,correspondentes%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-07/contingente-de-idosos-residentes-no-brasil-aumenta-398-em-9-anoshttps://www.gazetadopovo.com.br/conteudo-publicitario/elissa-village/brasil-um-pais-que-esta-envelhecendo-bem-rapido/ 1988 1990 1993 1994 1999 2002 2003 2005 2006 2007 13 INFO GRÁ FICO Evolução das políticas públicas para a população idosa no Brasil 14 ARTICULANDO IDEIAS E PRÁTICAS. N A P R ÁT IC A Organizando ideias Leia o texto. Debate e reflexão Buscando entender o que te inquietou durante o estudo desse tema, que tal propor um projeto legislativo para promover o direito de envelhecer dignamente? Monte uma pequena comissão com alguns colegas de classe para formular essa proposta. A seguir há algumas dicas de como estruturar esse projeto: • Parte preliminar, que deve conter ao menos a autoria, uma ementa e o objeto, que é um enunciado resumido do que se pretende tratar. • Parte normativa, que é o corpo da lei em si, dividida por artigos, para explicar como será realizada, quais serão as instituições responsáveis pela execução, entre outros elementos que julgarem necessários. • Parte final, com a vigência e a justificativa do motivo pelo qual esse projeto de lei é relevante e merece ser apreciado e aprovado por seus pares. Depois, toda a turma poderá compartilhar os projetos e receber sugestões dos outros grupos. Vamos lá, mão na massa! • Envelhecimento • Memória • Políticas públicas C O N T EÚ D O S D ES TA E D IÇ Ã O Como se realiza a opressão da velhice? De múltiplas maneiras, algumas explicitamente brutais, outras tacitamente permitidas. Oprime-se o velho por intermédio de mecanismos institucionais visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), por mecanismos psicológicos sutis e quase invisíveis (a tutelagem, a recusa do diálogo e da reciprocidade que forçam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância de má-fé que, na realidade, é banimento e discriminação), por mecanismos técnicos (as próteses e a precariedade existencial daqueles que não podem adquiri-las), por mecanismos científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a incompetência sociais do velho). CHAUÍ, Marilena. Os trabalhos da memória. In: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 18. a) Como você compreende o processo de envelhecer na sociedade brasileira contemporânea? b) Quais são os atuais desafios que a sociedade e o Estado precisam enfrentar para garantir uma vida digna para a população idosa do país? c) Por quais motivos os idosos sofrem discriminação? Quais são as formas de evitá-la? No vestibular (Enem/MEC) Nossas vidas são dominadas não só pelas inutilidades de nossos contemporâneos, como também pelas de homens que já morreram há várias gerações. Além disso, cada inutilidade ganha credibilidade e reverência com cada década passada desde sua promulgação. Isso significa que cada situação social em que nos encontramos não só é definida por nossos contemporâneos, como ainda predefinida por nossos predecessores. Esse fato é expresso no aforismo segundo o qual os mortos são mais poderosos que os vivos. BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1986 (adaptado). Segundo a perspectiva apresentada no texto, os indivíduos de diferentes gerações convivem, numa mesma sociedade, com tradições que a) permanecem como determinações da organização social. b) promovem o esquecimento dos costumes. c) configuram a superação de valores. d) sobrevivem como heranças sociais. e) atuam como aptidões instintivas. 15 ARTICULANDO IDEIAS E PRÁTICAS. N A P R ÁT IC A Diretor-Geral Ricardo Tavares de Oliveira Diretor de Conteúdo e Negócios Cayube Galas Diretor Adjunto de Sistema de Ensino Júlio Ibrahim Gerente de Conteúdo Naomi Oskata Gerente de Produção e Design Letícia Mendes de Souza Editora Carolina Cardoso Dutra Evangelista Editores assistentes Carolina Massuia de Paula Leandro Alves Gomes Susi Aparecida Reis Gil Novaes Thais Alves de Souza Colaboradoras Marília Gonçalves Yasmin Klein Coordenador de Eficiência e Analytics Marcelo Henrique Ferreira Fontes Analista de Fluxo Letícia Bovolon Bezerra Assistente de Fluxo Samantha de Fátima Santos Supervisora de Preparação e Revisão Adriana Soares de Souza Assistente Editorial Carolina Genúncio Preparação e revisão Equipe FTD Coordenadora de Imagem e Texto Marcia Berne Imagem e Licenciamento Equipe FTD Coordenadora de criação Daniela Di Creddo Máximo Coordenador de Produção e Arte Fabiano dos Santos Mariano Supervisor de Produção e Arte Pedro Gaino Gentile Projeto Gráfico Bruno Atilli Carlos Feitosa Ferreira Editores de Arte Adriana Maria Nery de Souza Carlos Feitosa Ferreira Karina de Sá Nono Estúdio: Coordenador audiovisual Diego Morgado Nono Estúdio: Designers audiovisuais Amanda Castilho Barberino Caio Francisco Brandão Mauro Akira Ueda Michel Luciano Silva Araújo Crédito das imagens e videos (capa) Azaze11o/Shutterstock.com, Garder Elena/Shutterstock.com, jesadaphorn/Shutterstock.com, Julia Soul Art/Shutterstock.com; (p.2) wavebreakmedia/Shutterstock.com; (p.3) GoodStudio/Shutterstock.com; (p.4) Ink Drop/Shutterstock.com; (p.5) Alphavector/Shutterstock.com; (p.6) pikselstock/Shutterstock.com; (p.7) Alphavector/Shutterstock.com; (p.8) Sabrina Bracher/Shutterstock.com; (p.9) GoodStudio/Shutterstock.com; (p.10) David Huamani Bedoya/Shutterstock.com; (p.11) GoodStudio/Shutterstock.com; (p.12) Arquivo pessoal, goodluz/Shutterstock.com; (p.13) GoodStudio/Shutterstock.com, naihei/Shutterstock.com, pupsy/Shutterstock.com 16 H U M A N A S EXPE DIENTE Instrucao Sumario fique sabendo A fique sabendo B fique sabendo C fique sabendo D Primeiro Contato fique sabendo E dialogo infografico reflexao expediente Botão 84: Página 1: BOTAO_reflexao: BOTAO_contato: BOTAO_dialogo: BOTAO_fique C: BOTAO_fique B: BOTAO_fique A: BOTAO_fique D: BOTAO_fique E: BOTAO_infografico: BOTAO_expediente: ABRIR_contato: FECHAR_contato: ABRIR_dialogo : FECHAR_dialogo: ABRIR_fique A: FECHAR_fique A: ABRIR_fique B: FECHAR_fique B: ABRIR_fique C: FECHAR_fique C: ABRIR_fique D: FECHAR_fique D: ABRIR_fique E: FECHAR_fique E: ABRIR_infografico: FECHAR_infografico: ABRIR_reflexao: FECHAR_reflexao: ABRIR_expediente : FECHAR_expediente: BNCC_texto 8: BNCC_botao 8: FECHAR: FECHAR 2: FECHAR 3: FECHAR 4: FECHAR 5: Botão 24: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 13: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Botão 26: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 13: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Botão 25: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 13: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: BOTAO_orientacoes 6: ABRIR_orientacoes 6: BOTAO_material 4: ABRIR_material 4: TEXTO_orientacoes 6: FECHAR_orientacoes 6: Botão material cons 17: TEXTO_material 7: FECHAR_material 7: Botão material cons 10: Botão material cons 11: Botão material cons 12: Botão material cons 13: Botão material cons 14: Botão material cons 15: Botão material cons 16: Botão material cons 18: Botão material cons 19: Botão material cons 20: Botão material cons 1: Botão material cons 3: Botão material cons 4: Botão material cons 5: Botão material cons 6: Botão material cons 7: Botão material cons 8: Botão material cons 9: Botão material cons 2: botao 2 ativo: botao 1 ativo: botao 3 ativado: botao 4 ativado: botao 5 ativado: botao 6 ativado: botao 7 ativado: texto 8 ativado: botao 9 ativado: botao 10 ativado: texto 1: FECHAR_1: texto 2: FECHAR_2: texto 3: texto 4: texto 5:texto 6: texto 7: texto 8: texto 9: texto 10: FECHAR_3: FECHAR_4: FECHAR_5: FECHAR_6: FECHAR_7: FECHAR_8: FECHAR_9: FECHAR_10: abrir texto 1: abrir texto 2: abrir texto 3: abrir texto 4: abrit texto 5: abrir texto 6: abrir texto 7: abrir texto 8: abrir texto 9: abrir texto 10: ABRIR_organizando: ABRIR_resposta_7: RESPOSTA_6: FECHAR_resposta 6: BOTAO_material reflexao: ABRIR_material reflexao: texto organizando: FECHAR_organizando: TEXTO_material reflexao: FECHAR_material 8: ALTERNTIVA_off[ [ X } 20: ALTERNTIVA_on [ X } 20: ALTERNTIVA_off[ [ √ } 8: ALTERNTIVA_on [ √ } 8: ALTERNTIVA_off[ [ X } 19: ALTERNTIVA_on [ X } 19: ALTERNTIVA_off[ [ X } 18: ALTERNTIVA_on [ X } 18: ALTERNTIVA_off[ [ X } 12: ALTERNTIVA_on [ X } 12: ABRIR_resposta_vest 3: texto resposta_vest 3: FECHAR_resposta_vest 3: