Buscar

Afecções no Aparelho Reprodutor de Éguas

Prévia do material em texto

Principais afecções, alterações patológicas que acometem o aparelho reprodutor em éguas
A alteração circulatória de maior importância no ovário é a hemorragia, ainda que esse processo seja considerado normal no período pós-ovulação. A hemorragia em razão da ruptura do folículo ovulatório faz com que o espaço previamente preenchido por líquido folicular seja ocupado por um coágulo sanguíneo após a ovulação, o que resulta na formação do corpo hemorrágico, que, por sua vez, será o substrato anatômico para o desenvolvimento do corpo lúteo durante as fases de metaestro e diestro.
Figura 14.22 Égua. Nódulo adrenocortical ectópico no ovário (seta).
Obviamente, a hemorragia pós-ovulação ocorre em todas as espécies domésticas, apesar de a intensidade desse processo ser extremamente variável. É mais marcante na égua, na qual o folículo pré-ovulatório alcança grandes dimensões, podendo chegar a 7 cm de diâmetro. Além disso, todas as ovulações acontecem em uma área restrita do ovário – a fossa de ovulação.
Em alguns casos, em particular quando a égua apresenta quadro endotoxêmico ou de coagulação intravascular disseminada durante o período de estro, a ovulação não ocorre e resulta na condição caracterizada por folículo hemorrágico anovulatório. Nessas situações, a cavidade folicular é preenchida por coágulo sanguíneo, com luteinização da parede, e é frequentemente diagnosticada como hematoma ovariano (Figura 14.23).
Cistos paraováricos
Como o próprio nome indica, os cistos paraováricos têm localização adjacente aos ovários. São comuns em várias espécies. No caso da vaca, têm tamanho reduzido − dificilmente ultrapassam 0,5 cm de diâmetro −, enquanto em outras espécies domésticas geralmente não ultrapassam 1 cm em diâmetro. Uma exceção é a égua, na qual os cistos paraováricos podem chegar a vários centímetros de diâmetro.
Os cistos paraováricos são derivados de resquícios embrionários dos túbulos mesonéfricos (estruturas embrionárias que dariam origem à genitália interna masculina no macho). Utilizam-se também os termos cisto do epoóforo ou cisto do paraóforo para designar cistos paraováricos derivados de porções craniais ou caudais dos túbulos mesonéfricos. Contudo, essa denominação carece de significado clínico ou patológico e, por isso, tende a cair em desuso.
Histologicamente, esses cistos são revestidos por epitélio simples cúbico e contêm células musculares lisas em sua parede. Os cistos paraováricos não comprometem a função ovariana.
A égua apresenta inversão entre cortical e medular, resultando em área restrita na qual o córtex tem contato com a superfície ovariana, a fossa de ovulação, única região em que o ovário é revestido por epitélio germinativo nessa espécie e onde ocorrem todas as ovulações. Por isso, seus cistos de inclusão germinal sempre se desenvolvem na fossa de ovulação, sendo também chamados de cistos da fossa (Figura 14.26).
Cabe ressaltar que, na égua, o epitélio germinativo é contínuo ao epitélio da porção fimbriada no infundíbulo da tuba uterina. Desse modo, quando há formação de cistos de inclusão germinal, quase sempre o cisto é revestido por epitélio germinativo e segmentos do epitélio da tuba uterina. Como o epitélio da tuba uterina tem intensa atividade secretora, os cistos de inclusão germinal da égua (cistos da fossa) tendem a crescer, em razão do acúmulo de secreção, e, em casos acentuados, pode ocorrer bloqueio mecânico da fossa de ovulação, comprometendo o processo de ovulação, podendo resultar em subfertilidade. Cistos da fossa associados a infertilidade têm sido descritos também em asininos.
Figura 14.26 Égua. Cistos de inclusão germinal ou cistos da fossa (seta). A letra F indica um folículo em crescimento no córtex ovariano.
Desse modo, microscopicamente, os cistos da fossa são distintos dos cistos de inclusão germinal em outras espécies. Isso porque são revestidos por epitélio colunar simples ou pseudoestratificado com células ciliadas e não ciliadas, o que é diferente do revestimento exclusivo por epitélio germinativo, que ocorre em outras espécies. Em casos extremos, crescem ao ponto de comprimir o restante do córtex, causando hipotrofia. Assim, os cistos de inclusão germinal não têm importância clínica na maioria das espécies domésticas, mas podem ter importância clínica em equídeos.
A égua desenvolve folículos múltiplos e anovulatórios durante a transição entre a fase de anestro e a fase cíclica. Esses folículos regridem de modo espontâneo, sendo considerada condição fisiológica nessa espécie, embora alguns clínicos utilizam a terminologia ovário polifolicular para descrevê-la (Figura 14.33).
Figura 14.33 Égua. Ovário polifolicular.
Folículos múltiplos anovulatórios também são observados em éguas com quadro febril ou endotoxêmico, fora do período de transição entre anestro e ciclicidade. Ainda, durante a fase de transição entre anestro e ciclicidade, é comum a ocorrência de “folículos anovulatórios hemorrágicos”.
Nessas situações, os folículos se desenvolvem até um tamanho semelhante ao de um folículo maduro pré-ovulatório, mas não há ovulação e sua cavidade é progressivamente preenchida por sangue e fibrina, com luteinização parcial de sua parede. Pode ocorrer diminuição da fertilidade, uma vez que podem persistir por meses no ovário e, embora não resultem na interrupção de ciclicidade, estão associados a aumento do intervalo interovulatório.
 O tumor de células da granulosa (TCG) é a neoplasia ovariana mais usual, em especial na vaca e na égua. O TCG é mais habitual em animais velhos, embora possa ser diagnosticado em novilhas. Esse tumor ocorre em todas as raças bovinas, apesar de ser mais comum em gado leiteiro. Na maioria dos casos, é unilateral e benigno.
Esse tumor tem grande importância clínica em razão da produção de hormônios esteroides, principalmente estrógeno e testosterona, que interferem na função reprodutiva do animal. À macroscopia, o TCG pode apresentar superfície lisa ou irregular e, ao corte, pode ser sólido (Figura 14.39), cístico ou policístico (Figura 14.40), com o tecido neoplásico de coloração esbranquiçada ou amarelada.
À histologia, o tecido neoplásico é constituído por células com características morfológicas semelhantes às das células da granulosa, dispostas em ninhos ou cordões sustentados por delicado estroma fibrovascular. Quase sempre, em particular na vaca, podem ser observadas formações que lembram folículos com estrutura central, conhecida como corpúsculo de Call-Exner (Figura 14.41).
Embora os corpúsculos de Call-Exner possam ser observados em cordões sexuais não neoplásicos, o achado dessas estruturas em tecido neoplásico ovariano auxilia no diagnóstico de TCG. Além disso, frequentemente há tanto células com diferenciação de células da granulosa, quanto células da teca. Assim, esse tumor tem sido comumente denominado tumor de células da granulosa-teca.
Figura 14.40 Égua. Superfície de corte do ovário com tumor de células da granulosa policístico.
Na égua, o TCG corresponde a mais de 85% das neoplasias do sistema reprodutivo. O TCG equino geralmente é policístico, podendo conter áreas sólidas. Embora raramente possam afetar ambos os ovários, em geral são unilaterais, com hipotrofia do ovário contralateral. Em éguas, pode estar associado à ninfomania, ao virilismo ou ao anestro, sendo que as éguas com TCG associado a virilismo podem apresentar aumento da massa muscular e hipertrofia de clitóris.
Salpingite é o processo inflamatório da tuba uterina. É alteração que se dá em todas as espécies domésticas, com mais frequência em vaca, porca e coelha, em decorrência de infecções ascendentes, e muito associada ao desenvolvimento de cistos tubo-ovárico.
O esfíncter na junção uterotubárica na égua é bastante desenvolvido, prevenindo infecções ascendentes, fazendo com que a maior parte dos processos inflamatórios ocorra na região do infundíbulo. Em éguas, perissalpingite não oclusiva, quase sempre não exsudativa e, muitas vezes, temporária é reconhecida histologicamente.
À macroscopia, é comum serem observadas bandasde fibrose em éguas velhas, localizadas na região do infundíbulo adjacente à fossa de ovulação. Isso porque a ovulação acontece sempre no mesmo local.
A salpingite é, em geral, de origem infecciosa e, na maioria das vezes, é bacteriana. A infecção quase sempre se instala por via ascendente, sendo habitualmente precedida de endometrite (Figura 14.49).
Nas infecções genitais específicas dos bovinos, como brucelose, campilobacteriose, tricomoníase e micoplasmose, a salpingite costuma estar presente, do mesmo modo que na infecção por Taylorella equigenitalis na égua. Nos casos de tuberculose com envolvimento genital, a tuba uterina pode ser afetada e apresentar formações nodulares correspondendo à inflamação granulomatosa (Figura 14.50).
Piossalpingite é o processo inflamatório da tuba uterina que se caracteriza pelo acúmulo de exsudato purulento no lúmen. É causada por agentes bacterianos piogênicos, especialmente Trueperella (Arcanobacterium) pyogenes.
A infertilidade decorrente das inflamações tubáricas é muito comum e se deve à exsudação e à destruição total ou parcial de células secretoras e ciliadas. Isso torna o ambiente tubárico citotóxico, comprometendo a sobrevivência dos gametas ou mesmo do zigoto.
Além disso, o prognóstico reprodutivo de fêmeas com salpingite é reservado ou desfavorável, uma vez que quase sempre ocorrem alterações secundárias ao processo inflamatório, que são permanentes e comprometem a função da tuba uterina. Essas alterações, que acontecem particularmente nos casos crônicos, incluem fibrose, formação de cistos e obstrução. A salpingite crônica, por conseguinte, pode resultar em obstrução anatômica ou funcional da tuba uterina.
image1.png
image2.png
image3.png
image4.png
image5.png

Mais conteúdos dessa disciplina