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Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado Apresentação O dimensionamento de elementos estruturais requer que todas as hipóteses de carregamento sejam observadas e verificadas para garantir a segurança de uma estrutura. O estudo de cargas alternadas permitirá conhecer e identificar o comportamento de elementos estruturais quando submetidos a um carregamento dinâmico. Permitirá também o entendimento de como efetuar as verificações necessárias para que não ocorram falhas de serviço na estrutura. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a determinar falhas estruturais no material quando submetido a carregamentos alternados. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o comportamento de elementos estruturais submetidos a carregamentos alternados.• Determinar tensões cíclicas de um carregamento alternado.• Avaliar o total de ciclos de um carregamento alternado.• Desafio Em um perfil de aço W 1500x254, a chapa da mesa superior está submetida à fadiga cíclica com amplitude constante, com tensões de tração de intensidade de 340 MPa e tensões de compressão com intensidade de 120 MPa. O limite de elasticidade é E = 200 GPa e a tenacidade à fratura KJC é de 45 MPa. Este perfil será utilizado como viga de uma ponte sobre um pequeno rio ligando dois municípios. Além das verificações habituais que as normas determinam para estruturas submetidas a cargas estáticas, quando as cargas atuantes são móveis, deve-se também verificar a resistência do material quanto à fadiga, lembrando que é um fator que pode levar uma estrutura à ruína. Você foi designado como projetista e deverá determinar qual a estimativa de vida até a fadiga para esse perfil submetido às condições de serviço apresentadas. A chapa da mesa superior da viga da ponte tem uma trinca de aresta que atravessa toda a espessura e tem comprimento de 1,30 mm. Estime quantos ciclos de fadiga podem ocorrer até que haja fratura da chapa. Infográfico O infográfico mostra como ocorre o carregamento alternado. Confira! Conteúdo do livro Os elementos estruturais submetidos a carregamento alternado estão sujeitos a falhas de ruptura por fadiga. A alternância do carregamento provoca a alternância de tensões de compressão e de tensão e é justamente esse efeito provocado pelas cargas alteradas que deve ser objeto de nossa atenção ao dimensionar um elemento estrutural com essas características. Para aprofundar ainda mais seu conhecimento, acompanhe o capítulo Dimensionamento de Peças Sujeitas a Carregamento Alternado do livro Resistência dos Materiais Aplicada que norteia as discussões presentes nesta Unidade. Boa leitura! RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA Douglas Andrini Edmundo R429 Resistência dos materiais aplicada [recurso eletrônico] / Organizador, Douglas Andrini Edmundo. – Porto Alegre : SAGAH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-69726-85-2 1. Engenharia. 2. Resistência de materiais. I. Edmundo, Douglas Andrini. CDU 620.172.22 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar o comportamento dos elementos estruturais submetidos a carregamentos alternados. � Determinar tensões cíclicas de um carregamento alternado. � Avaliar o total de ciclos de um carregamento alternado. Introdução O dimensionamento de elementos estruturais requer que todas as hipóteses de carregamentos sejam observadas e verificadas para ga- rantir a segurança de uma estrutura. O estudo de cargas alternadas permitirá conhecer e identificar o comportamento de elementos es- truturais quando submetidos a um carregamento dinâmico e como efetuar as verificações necessárias para que não ocorram falhas de serviço na estrutura. Neste capítulo, você vai estudar como determinar falhas estruturais no material quando submetidos a carregamentos alternados. Cargas alternadas Você deve saber que a ação de carregamentos alternados em elementos estruturais provocam o surgimento de tensões repetitivas e cíclicas, muito menores que a tensão de escoamento do material, e também o surgimento de trincas que se propagam com o tempo à medida que são submetidas aos car- regamentos alternados ciclicamente. Você sabia que as falhas que surgem no material são chamadas de fraturas ou falhas por fadiga? Sabia também que peças de máquinas estão susceptíveis ao surgimento de fraturas por fadiga do material? E as vigas de rolamento de pontes ro- lantes, rodoviárias ou ferroviárias também estão sujeitas a carregamentos alternados? Outro fator importante para você! O dimensionamento desses elementos estruturais deve atender aos requisitos estabelecidos pelas normas técnicas de cálculo de elementos estruturais. E tem mais! A trinca por fadiga tem maior probabilidade de surgir em pontos onde existam concentração de tensões. Observe o exemplo: um recorte com canto vivo em uma chapa de aço pode surgir devido a uma desconti- nuidade do material, uma vez iniciada a trinca, ela se propaga pelo material enquanto for submetido pelas tensões cíclicas do carregamento alternado. O processo de ruptura é contínuo e evolui até que a seção se torne frágil e perca a resistência provocando a fratura completa. Para você verificar a resistência dos materiais ao carregamento alternado, deverá realizar testes para determinar a resistência à fadiga de um material. Saiba que o teste de flexão rotativa ou alternada é o mais utilizado para deter- minar a resistência de um material à fadiga. Ele consiste em alternar carrega- mento com a mesma amplitude de tração e compressão enquanto gira. Sabe como os resultados desse ensaio são representados? Na forma de uma curva de tensão pelo número de ciclos σ – N, onde a tensão necessária para provocar a fratura do material é expressa em função do número de ciclos N em que a tensão provocou a fratura. Confira! Figura 1. Curva de tensão em função do número de cilclos (σ – N). Resistência dos materiais aplicada132 Tensões cíclicas Aqui você vai aprender que as tensões aplicadas a um elemento estrutural podem variar muito entre a aplicação real e os ensaios realizados. E também que os ensaios buscam abranger o maior número de possibilidades com o in- tuito de representar a situação do material mais próxima da realidade. Figura 2. O gráfico apresenta um ciclo de tensão completamente reverso. Figura 3. Veja que o gráfico apresenta um ciclo repetitivo com valores iguais para as tensões máximas e tensões mínimas, tam- bém chamada de tensão flutuante. 133Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado Figura 4. Observe no gráfico: ele apresenta um ciclo repe- titivo com valores iguais para as tensões máximas e tensões mínimas, também chamada de tensão flutuante. Para você caracterizar os ciclos de tensões oscilantes deve utilizar di- versos parâmetros, saiba alguns dos mais importantes: a tensão média σméd, o intervalo de tensões σr, a amplitude de tensão σa e a razão de variação de tensões R. Confira! Taxa de propagação da trinca Veja na Figura 5, que apresenta o gráfico da variação do tamanho da trinca pelo número de ciclos de tensão para dois níveis de tensão de um determinado material. Observe que o comprimento da trinca varia conforme o número de ciclos de tensão aplicado também aumenta. Ao analisar as curvas você pode verificar que quando o comprimento da trinca é pequeno, a taxa de crescimento da trinca também é relativamente pequena. Então, a medida que a trinca aumenta de tamanho, a taxa de crescimento também aumenta! E se você aumentar a tensão cíclica, a taxa de crescimento também vai aumentar! Resistência dos materiais aplicada134 Agora, confira na Figura 5 a relação da taxa de crescimento de trinca dos materiais sujeitos a tensões cíclicas, Figura 5. Vocêconsegue notar que a taxa de crescimento de trinca é uma função da intensidade da tensão K? Que é a combinação de tensão e do tamanho da trinca? Assim o diferencial pode ser relacionado ao intervalo do fator de intensidade de tensão ∆K para uma tensão de fadiga com amplitude constante na equação! Veja! Onde: = taxa de crescimento da trinca em fadiga, mm/ciclo ∆K = intervalo do fator intensidade de tensão (∆K = Kmáx – Kmín) A, m = Constantes que variam conforma o material (ambiente, frequência, temperatura e índice de tensões [razão]). Importante! Observe a expressão adiante para você determinar a vida de um elemento estrutural à fadiga, veja que ela fornece o número de ciclos que serão necessários para ocorrer a fadiga para uma certa tensão cíclica. 135Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado E o comprimento final da trinca é dado por, � Quando um elemento estrutural está submetido a um carregamento alternado, poderá sofrer falha por fadiga devido a repetição das tensões. � A fadiga provoca trincas no material que aumentam na medida em que as ten- sões cíclicas permanecem atuando no elemento estrutural. � A taxa de propagação da trinca está diretamente ligada às tensões cíclicas atuan- tes e à intensidade das tensões. PROBLEMA RESOLVIDO 1 Em um perfil de aço W 530 x 66, a chapa da mesa superior está submetida à fadiga cíclica com amplitude constante, com tensões de tração de intensidade de 120 MPa e tensões de compressão com intensidade de 30 MPa. O limite de elasticidade E = 200 GPa e a tenacidade à fratura KJC é de 45 MPa. A chapa da mesa superior possui uma trinca de aresta que atravessa toda a espes- sura e tem comprimento de 1,00 mm. Estime quantos ciclos de fadiga até que ocorra a fratura da chapa. Considere Y = 1; A = 2,0.10—12 m²; m = 3; a0 = 1,00 mm Solução: Se ignorarmos as tensões de compressão, σr – (120 – 0) = 120 MPa Determinando o comprimento final da trinca: Resistência dos materiais aplicada136 Calcular o número de ciclos em fadiga: 1. Um ensaio de fadiga é realizado com uma tensão máxima de 172 MPa e uma tensão mínima de - 27,6 MPa. Calcule: I. A amplitude da tensão. II. A variação de tensão. III. A tensão média. IV. A relação de tensões. a) b) c) d) e) 2. Um ensaio de fadiga é realizado com uma tensão média de 120 MPa e uma amplitude de tensão de 165 MPa. Calcule: I. A tensão máxima. II. A relação de tensões. a) b) c) d) e) 3. Uma placa da liga Ti-6AI-4V tem uma trinca interna de 1,90 mm. Qual é a maior tensão em MPa que esse material pode suportar sem falha catastrófica? Considere: a) b) c) d) e) 4. Uma placa grande e plana está submetida a tensões uniaxiais cíclicas de amplitude constante de tração e compressão iguais a 120 MPa e 35 MPa, respectivamente. Antes do ensaio a trinca de superfície é de 1,00 137Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Leituras recomendadas BEER, F. P.; DEWOLF, J. T.; JOHNSTON Jr., E. R.; MAZUREK, D. F. Estática e mecânica dos materiais. Porto Alegre: AMGH, 2013. BEER, F. P.; JOHNSTON Jr., E. R.; DEWOLF, J. T.; MAZUREK, D. F. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. TIMOSHENKO, S. P.; GERE, J. E. Mecânica dos sólidos. Rio de Janeiro: LTC, 1983. v. 1. Referência mm e a tenacidade à fratura KIC da placa é de 35 MPa a) b) c) d) e) 5. Determine o comprimento crucial da trinca (mm) de uma placa grossa de liga 2024-T6 submetida a tensão unia- xial. Para esta liga KIC = 23,5 MPa.m1/2 e considere Y = π1/2. A tensão máxima é de 300 MPa. a) b) c) d) e) Resistência dos materiais aplicada138 Dica do professor O vídeo a seguir apresenta a simulação de um carregamento alternado em uma ponte como exemplo de aplicação do estudo da fadiga. Assista! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/1d156106701359fcebd4f073ced63b7b Exercícios 1) Um ensaio de fadiga é realizado com uma tensão máxima de 172 MPa e uma tensão mínima de - 27,6 MPa. Calcule: a) a amplitude da tensão; b) a variação de tensão; c) a tensão média; d) a relação de tensões. A) σa = 101,00 MPa; σr = 189,60 MPa; σméd = 73,20 MPa; R = - 0,22 B) σa = 92,40 MPa; σr = 172,45 MPa; σméd = 69,36 MPa; R = - 0,15 C) σa = 99,80 MPa; σr = 199,60 MPa; σméd = 72,20 MPa; R = - 0,16 D) σa = 89,27 MPa; σr = 182,50 MPa; σméd = 79,32 MPa; R = - 0,17 E) σa = 92,51 MPa; σr = 192,51 MPa; σméd = 45,90 MPa; R = - 0,18 2) Um corpo de prova é submetido a um ensaio de fadiga, realizado com tensão média de 120 MPa e amplitude de tensão de 165 MPa. Calcule: a) a tensão máxima; b) a relação de tensões. A) σmáx = 282 MPa; R = - 0,227 B) σmáx = 279 MPa; R = - 0,191 C) σmáx = 285 MPa; R = - 0,158 D) σmáx = 289 MPa; R = - 0,145 E) σmáx = 281 MPa; R = - 0,162 3) Uma placa grande e plana está submetida a tensões uniaxiais cíclicas de amplitude constante de tração e compressão iguais a 120 MPa e 35 MPa, respectivamente. Antes do ensaio, a trinca de superfície é de 1 mm, e a tenacidade à fratura KIC da placa é de 35MPa. √m. Estime a vida em fadiga da chapa em números de ciclos até a falha. Para a placa, m = 3,5 e A = 5,0.10-12 . Considere Y = 1,3. A) N = 0,85.105 ciclos B) N = 1,18.105 ciclos C) N = 1,24.105 ciclos D) N = 1,53.105 ciclos E) N = 2,11.105 ciclos 4) Determine o comprimento final da trinca (mm) de uma placa grossa de liga 2024-T6 submetida à tensão uniaxial. Para esta liga, KIC=23,5 MPa.√m. A tensão máxima é de 300 MPa. A) 1,78 mm B) 1,82 mm C) 1,95 mm D) 2,13 mm E) 2,35 mm 5) Uma placa grande e plana está submetida a tensões uniaxiais cíclicas de amplitude constante de tração e compressão iguais a 100 MPa e 35 MPa, respectivamente. Antes do ensaio, a trinca de superfície é de 1 mm, e a tenacidade à fratura KIC da placa é de 30MPa. √m. Estime a vida em fadiga da chapa em números de ciclos até a falha. Para a placa, m = 2,5 e A = 8,0.10-12 . Considere Y = 1,0 A) N = 7,85.105 ciclos B) N = 8,18.105 ciclos C) N = 3,82.106 ciclos D) N = 4,53.106 ciclos E) N = 5,11.106 ciclos Na prática Uma empresa de construção foi contratada para construir uma ponte sobre uma rodovia já existente, e o método construtivo definido foi o de utilizar vigas metálicas. O requisito mais importante desse sistema construtivo é o dimensionamento dessa estrutura devido ao carregamento móvel e alternado. Como sabemos, a ação de carregamentos alternados provoca falha por fadiga em materiais metálicos. A vida útil mínima estabelecida por algumas normas técnicas é de 50 anos, lembrando que a fadiga ocorre em um nível de tensão inferior à tensão de escoamento do material. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: SMITH, W. HASHEMI, J. Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais. Porto Alegre, AMGH, 2013. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Comportamento em fadiga de um aço estrutural patinável soldado Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Fadiga em pontes Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0370-44672002000200004 https://www.youtube.com/embed/APPX_irGEpM