Prévia do material em texto
Maria Aura Marques Aidar Adriana Marques Aidar Aluizio Ferreira Elias Maurício José de Sousa Junior Ailton de Souza Aragão Rosimar Alves Querino Savio Gonçalves dos Santos Brasil Contemporâneo: democracia e globalização © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Maria Aura Marques Aidar Doutora em História Social (2014) e Mestre em História Social (2008) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Docência Universitária; em Educação a Distância e graduada em História pela Universidade de Uberaba (Uniube). Foi gestora do Curso de História (EAD) e professora nos cursos de História e Pedagogia, desta universidade, entre os anos de 2006 e 2017. Pesquisou a Velhice na educação, na literatura e as políticas públicas educacionais para a velhice. Adriana Marques Aidar Doutora em Sociologia pelo IESP/UERJ. Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea - Linha de Pesquisa: Ética e Conhecimento pela Universidade Federal de Uberlândia. Especialista em Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Especialista em Direito Processual pela Universidade de Uberaba, Graduada em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Advogada. Possui experiência nas áreas de Direito, Filosofia e Sociologia. Áreas de interesse: Cidadania, Participação Social, Democracia Representativa, Democracia Deliberativa, Políticas Públicas voltadas às Minorias, Conferências e Conselhos Nacionais, Direito Homoafetivo e Movimento LGBT. Aluizio Ferreira Elias Mestre em História da Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduado em História pela Universidade de Uberaba (Uniube). É professor desta Universidade, atuando, principalmente, nas disciplinas de História Antiga e Medieval, História Moderna e Contemporânea, História do Brasil, História da África, História da Educação e Cidadania. Tem experiência nas áreas de História e Educação. Sobre os autores Maurício José de Sousa Junior Doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Filosofia pela Universidade Gama Filho (UGF) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM). Graduado em História pela Universidade de Uberaba (Uniube). É professor desta Universidade, atuando, principalmente, nas disciplinas de História Contemporânea, Historiografia, Filosofia e Sociologia, História do Cinema e Linguagens do Cinema. Tem experiência nas áreas de Educação e História, com ênfase nos seguintes temas: História, Cinema, Educação e Filosofia. Ailton de Souza Aragão Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Marília (1998-2001); Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Araraquara (2002-2005) e Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (2009-2011). Pós-Doutor em Ciências da Saúde, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (2017-2018). Professor Adjunto VI da Universidade Federal do Triangulo Mineiro, lotado no Instituto de Ciências da Saúde, no Departamento de Saúde Coletiva (UFTM - ICS-DeSCo), ministrando as disciplinas de Saúde e Sociedade, Violência e Saúde. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Universidade Federal de Uberlândia (PPGAT-UFU), ministrando a Disciplina de Redes e Intersetorialidade. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da infância e da Juventude, atuando principalmente nos seguintes temas: adolescentes, instituição assistencial, políticas públicas e de saúde, participação e controle social e identidade social. Rosimar Alves Querino Doutora (2006) e Mestre (2000) em Sociologia pela UNESP (Campus Araraquara). Graduada em Ciências Sociais pela UNESP (1995). Professora Associada do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Sociedade (NUPESS/ UFTM). Docente do Programa de Mestrado Profissional em Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia na linha de pesquisa Saúde do Trabalhador. Atua em pesquisa/ensino/extensão na atenção primária, saúde coletiva e ciências sociais em saúde. Savio Gonçalves dos Santos Doutorando em Bioética pelo Programa de Pós-graduação da Cátedra de Bioética da Unesco (UnB). Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Educação Superior pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Uberlândia (PUC/MG). Coordenador do Núcleo de Estudos em Bioética e Biodireito (NeBio2), pesquisador com bolsa institucional, docente da pós-graduação (Bioética, Filosofia Ambiental, Filosofia da Educação e Metodologia da Pesquisa), da graduação e EAD da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Docente da pós-graduação da Uniaraxá (Práticas Didáticas). Avaliador do Ministério da Educação (MEC). Tem experiência nas seguintes áreas: Bioética, Biodireito, Filosofia, Ética, Educação, Antropologia, Metodologia Científica, Política e Sociologia. Sumário Apresentação .............................................................................................................VII Capítulo 1 Globalização e sociedade contemporânea .......................... 3 1.1 Aspectos gerais da globalização ............................................................................. 5 1.2 Globalização: mundialização do capital, precarização do trabalho e aprofundamento da questão social ....................................................................... 17 1.2.1 Globalização: afinal, do que se trata? ........................................................ 17 1.2.2 A face histórica da globalização .................................................................. 25 1.2.3 A globalização sob a perspectiva social ...................................................... 31 1.2.4 A globalização sob a perspectiva política .................................................... 33 1.3 Conclusão ............................................................................................................ 36 Capítulo 2 A República Democrática e Federativa do Brasil...............43 2.1 A importância da nova Constituição ...................................................................... 45 2.2 A organização do Estado ....................................................................................... 52 2.3 A organização dos Poderes ................................................................................... 55 2.3.1 Poder Legislativo .......................................................................................... 56 2.3.2 Poder Judiciário ............................................................................................ 59 2.3.3 Poder Executivo ........................................................................................... 60 2.4 Os direitos e garantias fundamentais .................................................................... 62 Capítulo 3 A difícil condição de cidadania no Brasil ............................773.1 As origens da cidadania ........................................................................................ 79 3.2 O que é ser cidadão ............................................................................................... 82 3.3 A cidadania no Brasil .............................................................................................. 89 3.4 Conclusão ............................................................................................................ 106 Capítulo 4 O protagonismo dos movimentos sociais brasileiros ......109 4.1 O papel dos movimentos sociais na constituição da democracia, da cidadania e dos direitos sociais e humanos no Brasil ..........................................................111 4.2 O protagonismo dos movimentos sociais brasileiros .......................................... 117 4.3 A questão de gênero, étnico-raciais, de orientação sexual, a identidade e a subjetividade na constituição dos movimentos sociais ...................................... 125 4.4 Conclusão ............................................................................................................ 136 Capítulo 5 Democracia e Direitos humanos no Brasil .......................139 5.1 Os Direitos Humanos ........................................................................................... 144 5.2 Polícia e forças de segurança ............................................................................. 147 5.3 Liberdade de expressão ...................................................................................... 151 5.4 Defensores de direitos humanos ......................................................................... 154 5.5 Conflitos de terras ................................................................................................ 156 5.6 Direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais ................................. 158 5.7 Direitos de lésbicas, gays e bissexuais, transgêneros e intersex ....................... 160 5.8 Liberdade de religião e crença ............................................................................ 161 5.9 Direitos da criança ............................................................................................... 162 5.9 Conclusão ............................................................................................................ 164 Capítulo 6 Brasil: um mosaico de sons, cores e sabores .................171 6.1 As cores do Brasil ................................................................................................ 174 6.2 O Brasil e seus sabores ...................................................................................... 189 6.3 Os sons do Brasil ................................................................................................. 194 6.4 Manifestações Culturais ...................................................................................... 208 Olá, caro(a) aluno(a)! Apresentamos o livro Brasil Contemporâneo: democracia e globalização. Nele, você vai estudar as questões vinculadas à história contemporânea brasileira, buscando a compreensão e a análise da complexa realidade histórica do nosso país, desvelando as estruturas básicas de nossa política, economia, sociedade e cultura. No Capítulo 1, será possível ampliar sua percepção sobre os impactos socioeconômicos e políticos da internacionalização do capital e analisar os impactos sobre alguns segmentos sociais. Um dos objetivos do presente livro é que você possa compreender o desenvolvimento econômico do Brasil nos últimos anos e analisar as relações entre mercado internacional e política econômica no Brasil. O Capítulo 2 trata de forma mais específica sobre a Constituição Federal, aprovada em 1988, que determinou novas rumos para a política brasileira. Na abordagem, destacam-se principalmente os direitos fundamentais, estabelecidos pelo Artigo 5º, bem como os direitos político e sociais. No Capítulo 3, discutiremos a difícil condição de cidadania no Brasil, a partir do estudo dos movimentos sociais no país como importantes protagonistas na criação de novos direitos e na manutenção da democracia. Seguindo a abordagem política, você perceberá que o Capítulo 4 tem por objetivo a discussão do papel dos movimentos sociais na constituição Apresentação X UNIUBE da democracia, da cidadania e dos direitos sociais e humanos no Brasil; a análise do protagonismo dos movimentos sociais brasileiros e a identificação das questões de gênero, étnico-raciais, de orientação sexual, a identidade e a subjetividade na constituição dos movimentos sociais. O Capítulo 5 cuidará de abordar as questões mais relevantes ligadas aos Direitos Humanos dentro de uma perspectiva histórica brasileira e contemporânea, com destaque para fatos e episódios ocorridos no Brasil no período entre 2013 e 2019. Economia e política fazem parte da cultura de um povo, desse modo, e para entender e conhecer formas de representação cultural, precisamos analisar a realidade social do grupo que se estuda. Assim, o Capítulo 6, que finaliza este livro, se dedica ao estudo da cultura brasileira em suas múltiplas representações. A cultura identifica uma sociedade, diferenciando-a de outra, sendo socialmente construída ao longo da história. A sociedade brasileira é ímpar, complexa, com seu estilo, seu modo de fazer as coisas, mosaico de várias culturas que, ao formar-se, criou identidade singular. A exploração dos conceitos e das novas abordagens, além de constituir um instrumental importante e fundamental para a apreensão e análise do processo histórico, viabiliza a aquisição de conteúdos que possibilitam a análise global da sociedade brasileira. Diante desses objetivos, desejamos que você não apenas amplie sua compreensão a respeito do país em que vivemos, mas, sobretudo, que possa promover uma constante avaliação da sua futura profissão em face de um cenário extremamente desafiante. Boa leitura! Ailton de Souza Aragão Rosimar Alves Querino Savio Gonçalves dos Santos Introdução Globalização e sociedade contemporâneaCapítulo 1 Caro(a) aluno(a). O curso de História da EAD/Uniube tem como objetivo formar um profi ssional diferenciado, que se insira no mercado não para ser mais um, mas para fazer a diferença. O objetivo de tal obstinação é mostrar que a responsabilidade por uma sociedade mais justa e digna está, mais do que nunca, nas mãos desse profi ssional. Para tanto, uma formação sólida que abarque todos os requisitos passa pelo domínio do conteúdo estudado, que leve à construção de uma verdadeira práxis. Assegurar ao aluno de História o domínio dos recursos teóricos e das ferramentas tecnológicas, com o objetivo de otimizar o processo de ensino-aprendizagem, torna-se a lógica necessária, realidade latente neste capítulo, e em todo o curso. Dentro desse contexto, a discussão que faremos nesta etapa do estudo é sobre a globalização, mais precisamente: “Globalização e Sociedade Contemporânea”. Para que você compreenda melhor a ideia a ser desenvolvida, dividiremos o estudo em duas etapas, a saber: 4 UNIUBE • introdução (uma introdução ao conteúdo); • globalização (tema específico deste capítulo). No que tange à primeira parte, dividiremos em outras cinco partes: • desterritorialização; • metropolização; • disparidades e desigualdades; • pobreza. Tal divisão tem como objetivo levá-lo a um conhecimento especí- fico e crítico. Vamos lá? Objetivos Como você tem tido a oportunidade de verificar, chamamos sua atenção para muitos aspectos que permeiam nossa vida cotidiana. Neste texto não será diferente. O objetivo geral das leituras e atividades é incentivá-lo à observação crítica da realidade com a aplicação dos aportes teórico-metodológicos do marxismo. Assim, o texto foi construído de modo a oportunizar leituras e discussões, para que você possa: • compreender as origens do que tem se denominado globalização; • ampliar suapercepção sobre os impactos socioeconômicos e políticos da globalização; • analisar os impactos da globalização sobre alguns segmentos sociais; UNIUBE 5 • relacionar a globalização aos estudos sobre as formas de organização do trabalho; • avaliar as contribuições do marxismo para a análise da globalização; • delinear a relação entre os capítulos anteriores e a reflexão aqui proposta consolidando seus estudos no componente Homem e Sociedade. Diante desses objetivos, desejamos que você não apenas amplie sua compreensão do mundo em que vivemos, mas, sobretudo, que possamos promover uma constante avaliação da sua futura profissão em face de um cenário extremamente desafiante. Esquema 1.1 Aspectos gerais da globalização 1.2 Globalização: mundialização do capital, precarização do trabalho e aprofundamento da questão social 1.3 Conclusão Primeiramente, para se falar no processo de desterritorialização, é preciso pensar em comunicação. Isso se deve ao fato de que as dimensões de tempo e espaço foram alteradas por esse fator. Pensar em uma realidade dessa forma, torna-se um tanto complexo, porém, necessário. Com o avanço das formas de comunicação, a vida humana e a realidade humana passam a ser alteradas. Numa inversão de papéis, o humano passa a ser dependente desse sistema de informação, lazer e conhecimento. Aspectos gerais da globalização1.1 6 UNIUBE Para a filosofia, as duas dimensões humanas tempo e espaço, assumem características importantes para a composição do ser humano. Característica inerente à humanidade, pensar o tempo e o espaço permite dizer o que é real, ou irreal; material ou imaterial; vivo ou morto; ser ou estar. De maneira geral, ambos os conceitos funcionam como os diretamente responsáveis pelo que chamamos de vida racional. SAIBA MAIS O problema se dá quando se começa a imaginar situações inusitadas como a realidade versus a realidade virtual; o tempo versus o tempo virtual; a verdade versus mentira; realidade versus fantasia. Imagine, por exemplo, duas pessoas que conversam ao computador em um site de relacionamentos; na cidade de uma das pessoas é dia, nada outra, noite A dúvida é: em que dia foi realizada a conversa? Inúmeras poderiam ser as situações criadas aqui para que você compreenda os questionamentos que nos levam a crer que as relações sociais, a cada dia, passam a ser artificiais. Dia a dia, nossa imaginação se desvincula da realidade natural, e passa a fomentar uma realidade virtual, que independa da compreensão do nosso tempo, do nosso espaço. A sociedade passa a conviver com essa realidade que se chama de desenraizamento; ou seja, inúmeros processos de aproximação e afastamento entre os humanos, levando à criação de ambientes semelhantes. Cenários que não se preocupam em representar modos de vida diferentes, com culturas diferentes, mas sim, vidas e culturas passageiras. Ambientes que conhecemos em qualquer lugar do mundo, tais como: shopping centers, aeroportos, campos de futebol, enfim, modelos que passam a representar a ideia de monocultura. UNIUBE 7 O termo monocultura representa a dominação cultural de um país, ou de uma cultura. Em casos específicos, a monocultura obriga a nação dominada – e demais nações – à aceitação de moldes e hábitos que não lhe são próprios, divulgando e mantendo sistemas culturais de outras realidades. Podemos citar como exemplo de tendência monocultural, filmes, desenhos, alimentos, empresas multinacionais; todos contribuem para que haja uma imposição cultural, desrespeitando os hábitos de cada sociedade em particular. SAIBA MAIS Toda essa situação que acabamos de narrar se torna mais crítica, quando olhamos para as últimas décadas e percebemos a quantidade de pessoas que migraram de suas regiões naturais, para outras realidades, promovendo a criação de uma cultura híbrida. Vamos nos acostumando a realidades diferentes da nossa original, e passando a conviver com uma realidade cada vez mais globalizada. Contudo, desterritorialização ainda pode ser uma abordagem dada a novas alianças de blocos de mercado, ou regionais, que enfraquecem a realidade nacional; é justamente por isso que todas essas questões de geopolítica estão, constantemente, sendo atualizadas. A migração de população gera o segundo ponto de nosso estudo: a metropolização. Dentro do processo de globalização, as cidades merecem destaque especial. Com o êxodo populacional, as cidades acabam sobrecarrega- das, vendo-se obrigadas a adotar métodos cada vez mais tecnológicos, para suprir a demanda e, claro, atender às necessidades daqueles que nelas chegam. Essa forma contemporânea de sobrevivência acaba sendo marcada pelo predomínio de uma forma de vida tipicamente dependen- te dos avanços tecnológicos. Contudo, essa realidade social passa Híbrido Qualidade de tudo o que resulta de elementos de natureza distinta. 8 UNIUBE a ser moldada por inúmeros grupos sociais, relacionamentos variados e particularidades de comportamento. Do centro à periferia, toda a identi- dade social acaba mudando as formas de relacionamento, convívio, trato, enfim, todos os aspectos tidos como característicos. A miscigenação cultural dentro de uma determinada cidade pode levar à eclosão de uma gama de estilos, trazendo para uma mesma realidade uma imensidade de internacionalismos. Há pequenas Espanhas, Itálias, bairros turcos e latinos, restaurantes, bares, festas que exploram todo um regionalismo mundial dentro de uma localidade específica. A junção de todos esses aspectos formam o que se chama de cosmopolitismo. O processo de metropolização das cidades foi estudado por inúmeros sociólogos; contudo, Henry Lefebvre identificou as etapas desse processo e as firmou em três, a saber: A primeira corresponde ao desenvolvimento industrial, que saqueia a realidade urbana preexistente, procurando negá-la. A cidade vai se transformando em centros de serviços e troca. No segundo período, a sociedade urbana se generaliza e desaparecem, aos poucos, sua centralidade e características. Torna-se uma realidade socioeconômica para qual qualquer planejamento se torna difícil. Nesta última etapa, a cidade antiga está decomposta e, em lugar do centro, surgem diversos e dispersos centros de decisão. Descentrada, a cidade parece excluir até mesmo as classes sociais e suas distinções (LEFEBVRE apud COSTA, 2005, p. 238-239). Outras características da metrópole podem ser observadas, se tomarmos por base a ideia de melhora da qualidade de vida, muitas são as famílias atraídas por essa realidade, que idealizam a metrópole como única solução para a vida. Essa migração descontrolada acaba por gerar nas metrópoles duas situações: disparidade e desigualdade. UNIUBE 9 Toda essa modificação social brusca, e principalmente o fator metropolização, tem levado os movimentos históricos e sociais a uma disparidade. O alto desenvolvimento dos centros urbanos altamente qualificados e com um padrão tecnológico extremamente superior, tem feito com que muitos países com desenvolvimento inferior, sofram as consequências de tal feito. Cada vez mais as realidades sociais e econômicas têm se tornado ainda mais evidentes. A primeira metade da década de 1990 é o grande momento da afirmação do capitalismo globalizado, é aquilo que se poderia chamar o triunfalismo do mercado. É o momento em que esse capitalismo globalizado, com grande autoconfiança, procura moldar o mundo de acordo com suas necessidades e tenta fazer isso de diversas maneiras. (RICUPERO, 2001 apud COSTA, 2005, p. 239). A cada dia os países têm competido mais entre si; as relações têm se tornado materiais; a segurança social já não existe; a preocupação com o meio ambiente é somente discutida quando se criam fóruns internacionais; enfim, a situação a cada dia tem se tornado crítica. Em aspectos tecnológicos, os avanços são notáveis. Somos uma sociedade extremamente dependente dos aparatos criados e recriados de variadasformas e que, a cada dia, envolvem a nossa realidade social. Por outro lado, há pessoas que acham o fator tecnológico, bem como sua expansão, uma ótima maneira de se afirmar como um ser autônomo, livre em todos os aspectos. Mas, se observarmos bem, as revoltas sociais têm sido constantes. Novas formas de se mostrar uma sociedade oprimida têm surgido e, entre elas, o terrorismo. Não se sabe bem ao certo até que ponto os atos são realmente terroristas, mas se sabe que inocentes é que têm pagado a conta. 10 UNIUBE A tecnologia pode ser uma forma de exclusão uma vez que, embora muito difundida, não são todas as pessoas que têm acesso. No campo da saúde, por exemplo: equipamentos caríssimos são criados/planejados. Mas seu uso, devido ao alto custo, não beneficia a todos igualitariamente. Enquanto você dá uma pausa na teoria, vamos realizar uma atividade que pretende agregar entendimento ao seu estudo! Acesse o link que se segue, para que você possa assistir a um microvídeo sobre atentados terroristas. Atentados Terroristas <http://www.youtube.com/watch?v=chLPCaez4LQ>.Acesso em 22/12/2010. Agora, você poderá pesquisar um pouco mais sobre atentados terroristas. Busque fazer uma pesquisa em sites e em alguns livros que tratam desse assunto. Com a ajuda do vídeo indicado anteriormente, busque sintetizar as principais ideias com seus conhecimentos pessoais. Em seguida, partilhe com seus colegas suas observações no ambiente virtual. Registre o que foi discutido, em seu bloco de anotações. PESQUISANDO NA WEB Numa sociedade que se diz capitalista neoliberal, podemos encontrar desavenças de séculos passados ainda vigentes. Pobreza, exclusão, miséria, violência excessiva, todas são realidades presentes em nosso dia a dia. Uma missão nada fácil, mas, por outro lado, um ato extremamente ético e necessário. Inúmeros esforços vêm sendo feitos para que essas situações sejam amenizadas; mas a cada dia, o Estado – responsável direto pelas ações sociais e o bem-estar da população UNIUBE 11 – se preocupa menos. É fato que não podemos jogar toda a culpa na administração pública. É preciso partir de nós a compreensão de que o meio social começa a ser mudado na realidade local. Uma realidade que a cada dia mata mais e mais; uma realidade que gera mais pobreza. Com a má gestão da máquina pública pelo governo, a população se vê obrigada - em alguns casos – a possibilitar ações que contribuam para sanar as dificuldades e falhas do sistema; assim se criaram as ONGs Organizações Não Governamentais (ONGs) – São grupos de pessoas que se unem para trabalhar pelo bem da sociedade. As ONGs mobilizam empresas, pessoas e governos para assegurar recursos que vão contribuir para desenvolver programas em várias áreas. Alguns programas, por exemplo, ensinam às mães como é importante dar de mamar para os bebês. Outros se preocupam em tirar as crianças da rua, oferecendo a elas aulas de música e de esportes depois do horário das aulas. Há ainda ONGs que cuidam do meio ambiente ou de programas de educação (UNICEF KIDS, 2010). SAIBA MAIS A pobreza aparece como último ponto de discussão para prepará-lo para a segunda parte do texto; contudo, ela não deixa de ser um fator preocupante para a realidade social mundial. Olhar para a realidade mundial, para os avanços tecnológicos, para as alternativas que a cada dia a ciência tem dado ao ser humano para prolongação da vida, para a produção alimentícia, que cresce a cada ano, e ainda encontrarmos realidades de extrema pobreza é chocante. Tudo o que produzimos em escala mundial daria para sanar as refrações da questão social, tamanha é a capacidade de produzir. O consumismo, fator mantenedor do capitalismo, tem aumentado freneticamente. As pessoas passam uma vida consumindo e, mesmo depois que morrem, ainda acabam consumindo em títulos bancários 12 UNIUBE que acabam ficando com a família. É impressionante observarmos a sede humana pelo possuir, pelo comprar, pelo ter incessante. Somos capazes de comprar o que não precisamos, simplesmente pelo prazer de comprar. Renovamos todos os produtos que julgamos ultrapassados, simplesmente porque não possuem a cor da moda. Esse modo de comércio capitalista acaba alterando também as formas de identificação das pessoas. Atualmente, não interessa se o ser humano tem ética, moral, ou coerência. Interessa muito mais as suas posses. Somos definidos não por quem nós somos, mas pelo que possuímos ou deixamos de possuir. Fato conhecido de todos nós é a influência que a mídia de, maneira geral, contribui para nossas escolhas e para o consumo desenfreado. Somos dependentes de artefatos midiáticos que buscam manter um padrão de ação de consumo incalculável. É preciso repensar as ações diretamente ligadas à prática consumista, bem como interpretar a mídia com consciência crítica. A forma de relação que leva em consideração as propriedades exclui, de maneira desumana, aqueles que não têm condição de manter certo padrão de vida. A partir disso, para que a sociedade tome ciência do que acontece em seu meio, surgem os indicadores sociais; passam a ser medidos os índices de analfabetismo, a dívida externa, a renda per capita, o produto interno bruto (PIB), além da qualidade de vida, da mortalidade e de idosos (aposentados). A pobreza, dessa forma, passa a ser medida por índices internacionais; novos comportamentos no exterior, uma nova tendência, alteram toda a situação interna de um país, podendo modificar sua “classificação” para os países desenvolvidos. Com toda essa modificação social, a pobreza passa a adquirir estágios de identificação: carência de bens materiais, despossessão psicológica e a tecnológica. UNIUBE 13 Todos conhecemos as formas gritantes de pobreza; sabemos bem que carência material marca a realidade brasileira duramente. A grande novidade são as duas últimas formas. A despossessão psicológica é caracterizada pela autodesvalorização das populações ditas pobres em relação às ricas; ou ainda, pela incapacidade daquela parte da população não conseguir obter determinados acessos a formas de vida política ou ação pública, eles se menosprezam. A forma de pobreza tecnológica é aquela em que os povos são considerados “analfabetos digitais”. A dificuldade de acesso a tipos de tecnologia, ou mesmo o desconhecimento de suas existências, acaba levando a certa exclusão do mundo virtual e do tempo virtual. O que choca a realidade mundial é que, com todo esse avanço tecnológico e econômico, não conseguimos reduzir o número de situações sociais que são gritantes. Muitos ainda permanecem na periferia do sistema, dependendo de ajuda de ONGs, que buscam solucionar problemas que, teoricamente, são do Estado. Funções básicas deixam de ser executadas, enquanto muitos administradores da máquina pública se aproveitam dos benefícios que encontram nos cargos que ocupam. Um dos grandes causadores da pobreza, de maneira geral, são os atrativos das grandes metrópoles. As grandes cidades acabam atraindo pessoas de diversas localidades, provocando um êxodo – principalmente do campo – obrigando essas cidades à criação de rápidos sistemas de adaptação, para acolher todas as pessoas que chegam. Exemplos das mais variadas formas podemos encontrar no Brasil, em realidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde há um inchaço demográfico (Veja a Figura 1 exemplificando). 14 UNIUBE Se você pensar um pouco, verá que, em muitos casos, essa realidade está muito próxima da sua. Veja, por exemplo, o caso das usinas de beneficiamento de cana-de-açúcar; muitas são as pessoas que são trazidas e levadas, superlotando os municípios que, em suma, não estão preparados para essa mudança brusca em sua população. Com isso, crescem os índices de assassinatos, abandono de famílias, uso de drogas, gravidez de adolescentes, enfim. Figura 1: Grau de urbanização segundo as grandes regiões do Brasil – 1991/2000. Fonte: IBGE (2001). Sob a ótica do Estado,a pobreza tem sido combatida com violência, opressão e, em alguns casos, com omissão. Não há a menor preocupação com o saneamento das questões que envolvem esse problema. O que assistimos é a execução de planos políticos assistencialistas que minimizam as necessidades imediatas, mas não suprem a necessidade a longo prazo. Cada vez mais parece que o país estimula que não se deve pensar e agir. O povo para e espera somente do Estado, uma solução milagrosa. O próprio Estado acaba não possibilitando que as pessoas alcancem este conhecimento, principalmente com a baixa qualidade nas escolas o que, na prática, acaba beneficiando o próprio governo. UNIUBE 15 Muitos daqueles que ostentam um cargo público, esquecem-se de que são servidores públicos, e não chefes, ou donos dos cargos. Quem os elege somos nós – por menor que pareça. E é a nós que eles devem satisfações. Contudo, em muitos dos casos a que assistimos é um abuso do poder, ou ainda, um excesso na demonstração de sua posse. O que os nossos distintos políticos tinham que aprender, é que de nada adianta ter o poder, e não saber utilizar. Claro, há alguns que sabem utilizá-lo para o próprio bem. Um reto comportamento político, ou uma ortopráxis, depende da reta compreensão do saber. Saber não é simplesmente entender algo. Saber vai além do ato de ser sábio, pois como diz Todorov: “O homem é ponto de partida e ponto de chegada”. A humanidade é complexa; e tal complexidade é benéfica. É por isso que saber abarca a vida do ser humano como um todo: social, política, religião, familiar, pessoal, entre outras. O saber depende da razão humana. Há um paradoxo entre razão e poder. Pois, [...] a razão demonstra, o poder determina. A razão raciocina, o poder ordena. A razão convence, o poder obriga. A razão dialoga, o poder manda. A razão elucida,o poder proíbe. A razão expõe, o poder impõe. A razão descortina, o poder reprime. A razão motiva, o poder pressiona. A razão emancipa, o poder subordina (JUVENAL ARDUINI, 2002, p. 58). Podemos observar, pelos dizeres de Juvenal Arduini que, para que alguém lide com a administração, seja ela pública ou não, deve pautar suas ações numa compreensão racional, em vez de simplesmente buscar mandar e desmandar. O grande diferencial de uma boa administração está no gerar consciência, ou seja, no educar. É o velho bordão do “Não só dê o peixe, mas ensine a pescar”. É bem isso. O ato de administrar deve levar, logicamente, a um educar. As pessoas com quem se convive 16 UNIUBE e, de maneira geral, a todos que se alcança com os atos, devem ser educados, e não simplesmente levados a seguir ordens de maneira cega e inconsciente. Portanto, acrescentamos na compreensão do poder, a dimensão do saber, como busca para a mudança pessoal e social. Se a educação verte o ser humano para a sua autonomia, muito mais do que viver e conviver, é preciso buscar uma desalienação do humano. É preciso quebrar os velhos paradigmas e gerar novos. Nos dizeres de Nietzsche, “quebrar as tábuas dos valores, e ser capaz de criar seus próprios valores”. Gerar seus Valores não é se esquecer dos valores bases da formação inicial, mas sim, ser capaz de ganhar sua autonomia, sustentada por valores morais e comportamentos éticos. Além do mais, é preciso buscar conhecer o mundo em que se vive; a viver essa heteronomia, e dela retirar os valores que lhe são úteis. Assim, unindo poder e saber, mas, principalmente, mostrando que saber é poder. Portanto, saber não se resume somente ao ato de conhecer. Poder não se resume somente ao ato de mandar e desmandar. Se ambos não forem aplicados no dia a dia, nos minutos essenciais da mudança, de nada adiantará saber e nem possuir o poder. Dessa maneira, saber transformar-se-á em ignorância, arrogância e desprezo. Poder se mutará em opressão, descaso e desumanidade. Um saber sem poder é arrogância. Um poder sem saber é opressão. Por isso, é importante manter o equilíbrio; é conseguir levar a uma convivência o saber e o poder, sem deixar que um supra o lugar do outro. E, principalmente, que ambos não se convertam em ganância. Pois esse é o pior dos acontecimentos. Autonomia Caracteriza-se como a capacidade de fazer tudo de maneira independente de outros ou de determinada situação. Heteronomia Conceito idealizado por Kant que, em linhas gerais, consiste na aceitação, na sujeição do indivíduo à vontade de terceiros. UNIUBE 17 Quando a ganância toma o lugar do saber, ela faz surgir pessoas autossuficientes, que menosprezam a ajuda alheia e o saber alheio. Julgam-se as melhores e as únicas pessoas que são capazes de entender sobre determinado assunto. De modo geral, acham-se as mais inteligentes e passam a maltratar os demais. No caso do poder, a ganância o faz converter em tirania. Modifica os moldes e sistemas, fazendo com que todos aqueles que são subordinados a tal fonte de poder, sintam-se humilhados em todos os aspectos, vindo a serem tratados como simples objetos de uso da máquina estatal. Por fim, o grande mal da humanidade – a ganância – ainda existe nos dias atuais. As pessoas, comumente, colocam-se em patamares não existentes. Julgam-se as melhores e as únicas da espécie ainda em vida. Numa demonstração de superioridade, exibem seus dotes, que não passam de cópias de pensamentos e comportamentos alheios, modificados com o tempo, ou esquecidos em tempos anteriores. Infelizmente, poder nem sempre é saber. nem sempre é saber. Mas, afinal, que poder tem a globalização? Para que você entenda melhor isso, vamos nos deter, a partir de agora, no seu significado e no seu sentido. 1.2.1 Globalização: afinal, do que se trata? Para iniciar nossas reflexões, perguntamos: o que vem à sua mente quando ouve a palavra globalização? Globalização: mundialização do capital, precarização do trabalho e aprofundamento da questão social 1.2 18 UNIUBE Podemos começar com a conhecida imagem do globo terrestre, muitas vezes tomado como símbolo do fim das fronteiras, integração entre todos os povos e culturas, mas também, podemos nos lembrar dos hamburgers do McDonnald’s, dos shopping centers, dos tênis e bonés importados, sonhos de consumo de diversos jovens. Pois bem. Não paremos por aí. Outro símbolo da sociedade contemporânea é o computador conectado à Internet, que rompe barreiras temporais e geográficas e coloca o mundo diante de nossos olhos. As novas tecnologias da informação (NTIs) seriam, pois, um dos marcos de nossa sociabilidade, com impactos não só nos contextos do trabalho, mas também, nas relações interpessoais. Harvey propõe a compreensão do encolhimento do mapa do mundo e das alterações na relação tempo-espaço, a partir da velocidade com a qual podemos nos deslocar fisicamente e, por isso, explora a velocidade das carruagens e caravelas até os aviões a propulsão. Observe as diversas velocidades na Figura 2: Figura 2: Encolhimento do mapa do mundo. Fonte: Harvey, (1998 p. 220). UNIUBE 19 Podemos afirmar que o mundo encolheu e cabe, agora, na tela de nosso computador. Graças às inovações tecnológicas, as informações nos chegam com uma velocidade surpreendente. Esta velocidade e o modo como invade as diferentes experiências cotidianas foi matéria-prima de Gilberto Gil na música Parabolicamará: Antes mundo era pequeno porque Terra era grande Hoje mundo é muito grande porque Terra é pequena Do tamanho da antena parabolicamará Ê volta do mundo camará, ê mundo da volta camará Antes longe era distante perto só quando dava Quando muito ali defronte e o horizonte acabava Hoje lá trás dos montes dendê em casa camará [...] De jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação [...] Pela onda luminosa, leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação [...] Pela onda luminosa, leva o tempo de um raio Tempo que levava Rosa pra aprumar o balaio Quando sentia que o balaio ia escorregar [...] De avião o tempo de uma saudade. Esse tempo não temrédea vem nas asas do vento [...] O músico sugere que nosso horizonte se ampliou: para nos transpor- tarmos a outros locais basta utilizar as ondas luminosas, basta nos conectarmos. E você, o que pensa? Conectar-se à internet, utilizar os jatos ultramoder- nos, é possível para todos do globo terrestre? Estaríamos caminhando para a construção de uma aldeia global? Se quisermos explorar a metáfora da aldeia global, devemos desde já pensar nas diferenças sociais, econômicas, étnicas, políticas, ambientais e culturais que atravessam os diferentes povos e interferem na forma como cada um deles se insere no contexto contemporâneo. Aldeia global O termo aldeia global foi criado por Marshall McLuhan (1911-1980) para referir-se aos impactos dos progressos tecnológicos aos processos econômicos e sociais que aproximariam os indivíduos do mundo todo como se vivessem em uma aldeia. O termo foi retomado por Pierre Levy, um dos entusiastas das novas tecnologias e da cibercultura. 20 UNIUBE Há algum tempo, circula pela Internet um texto de Philip M. Harter, médico e professor da Universidade Stanford (Estados Unidos), com informações interessantes sobre a diversidade e as disparidades do mundo globalizado. O autor fez uma projeção sobre como seria a população do mundo se houvesse somente 100 pessoas e se mantivéssemos as características atuais. Este mundo seria, assim, constituído: • 57 asiáticos, 21 europeus, 14 do hemisfério ocidental, do norte e do sul; 8 africanos; • 52 seriam mulheres, 48 homens; • 70 seriam não brancos; 30 seriam brancos; • 70 seriam não cristãos; 30 seriam cristãos; • 89 seriam heterossexuais; 11 seriam homossexuais; • 6 possuiriam 59% de toda a riqueza do mundo e todos os 6 seriam dos Estados Unidos; • 80 habitariam moradias de baixo padrão; • 70 não saberiam ler; • 50 sofreriam de subnutrição; • 1 estaria próximo da morte; 1 estaria próximo de nascer; • 1 teria educação universitária; • 1 possuiria um computador. Para que você observe, com mais detalhes, o fosso existente entre os habitantes desta aldeia global, transcrevemos um trecho do texto de Harter: Das 13 crianças em idade escolar, duas estão fora da escola. Há sete jovens na escola secundária, mas só um na faculdade. Dos adultos alfabetizados, 6 fizeram curso superior e mais de 20 o segundo grau, mas pelo menos 15 tiveram, no máximo, 5 anos de escola. UNIUBE 21 Na aldeia, há 42 televisores, 12 veículos a motor, 15 telefones fixos, 8 celulares e 6 computadores pessoais; são vendidos 9 jornais por dia. Quatro moradores (2 norte-americanos) têm acesso à Internet, 10 (6 europeus) viajam para o exterior anualmente. Porém, 45 não têm privadas, 25 não têm água potável, 20 moram em barracos e cortiços, 15 não têm assistência médica, 13 (incluindo 3 crianças) passam fome, 3 são refugiados de alguma catástrofe de guerra, 1 é HIV-positivo. Cinco comem nas ruas, 2 dos quais menores. A aldeia global tem renda per capita superior a US$ 5 mil,o que daria, aproximadamente, US$ 15 diários per capita. Porém, 25 vivem com até US$ 1 por dia (19 asiáticos, 4 africanos, 2 latino-americanos) e 25 com US$ 1 a US$ 2 por dia, enquanto 9 (3 norte-americanos, 3 europeus, 1 japonês, 1 latino-americano, e 1 árabe, chinês ou indiano) consomem cada um mais de US$50 por dia e, juntos, mais de 70% dos recursos da aldeia. Um deles (sim, só um), provavelmente norte-americano, ganha mais de US$ 500 por dia e possui metade de toda a riqueza da aldeia. (HARTER, s/d, p.01). Esta simples descrição nos indica que, longe de ser homogênea e igualitária, a sociedade do capital aprofunda as disparidades socioeconômicas e, ao contrário do que vários advogam, não suprime a diversidade cultural. Vejamos outras características da sociedade global, especialmente as relacionadas ao processo de produção das mercadorias. Leia atentamente as notícias transcritas nos quadros seguintes e procure encontrar elementos comuns entre eles. O primeiro se refere à produção de tênis pela Nike: 22 UNIUBE “Moro em Portland, Oregon, onde a Nike tem a sua sede empresarial. Precisando de tênis novos, comecei a procurar. Pegava um tênis atrás do outro e lia ‘Made in China’, ‘Made in Korea’, ‘Made in Indonesia’, ‘Made in Thailand’. Comecei a pedir tênis fabricados nos EUA aos balconistas. Os poucos que não ficaram confusos me disseram que não existem tênis fabricados nos EUA. Telefonei para a Nike e falei com o responsável pelo atendimento aos clientes, e ele me disse que a empresa ainda está manufaturando na Indonésia e em vários países da região. Liguei para a sede da L. A. Gear em Santa Mônica. Eu disse: ‘Os tênis que vocês produzem são fabricados nos EUA?’. ‘Fabricados aqui?’, perguntou, espantada, a pessoa que me atendeu. Ela me disse que seus tênis são produzidos no Brasil e na Ásia.” (TISDALE, 2008). EXEMPLIFICANDO! Pelo fragmento anterior, você pode concluir que não é possível termos um produto que possa ser considerado 100% nacional. Certo?! Pois bem. Quais são as consequências desse fenômeno para os países que ofertam essa mão de obra? Há diferenças econômicas, políticas e sociais entre a mão de obra intelectual estadonidense (o design) e a tailandesa que monta o tênis? Qual a participação dos Estados nessas relações entre capital e emprego de mão de obra? Enquanto você pensa nessas questões, leia o exemplo, a seguir, e pense no carro, motocicleta ou ônibus que utiliza para se deslocar de um lugar para outro. UNIUBE 23 As características descritas são recorrentes: estamos diante de mais um exemplo da forma como as diferenças regionais que permeiam o globo são utilizadas para a produção de mercadorias e reprodução ampliada do capital. Você já tem alguma resposta para as questões sugeridas? Para auxiliá-lo na consolidação das reflexões, selecionamos outro exemplo. Desta vez, chamamos sua atenção para as denominadas “fusões” entre as empresas, fenômeno cada vez mais frequente no mundo das grandes corporações: “Um carro esporte Mazda é desenhado na Califórnia, financiado por Tóquio; o protótipo é criado em Worthing (Inglaterra) e a montagem é feita nos Estados Unidos e no México, usando componentes eletrônicos inventados em Nova Jersey e fabricados no Japão. O Ford Fiesta é montado em Valência (Espanha), mas os vidros vêm do Canadá; o carburador, da Itália; o radiador da Áustria; os cilindros, as baterias e a ignição da Inglaterra; os pistões da Alemanha; e o eixo de transmissão, da França. [...]” (ORTIZ, 2008). EXEMPLIFICANDO Reprodução ampliada do capital É o nome técnico que Marx deu para o funcionamento especificamente econômico do discurso do capitalista. “A competição no mercado automobilístico está ficando tão acirrada que, com uma frequência cada vez maior, inimigos mortais, como General Motors e Toyota, juntam-se em casamentos de conveniência para que possam continuar vivos no mercado. O número de fusões, joint ventures e parcerias entre montadoras concorrentes ao redor do globo já passa de cem. A tendência é este número crescer ainda mais – diminuindo o número de EXEMPLIFICANDO! 24 UNIUBE Aqui se colocam outros problemas para pensarmos a globalização. Como é possível empresas historicamente concorrentes se unirem para abocanharem fatias de mercado cada vez maiores? Qual o impacto dessas fusões sobre os trabalhadores de cada uma delas? Como podemos falar em fronteiras territoriais se, a priori, o capital não as leva em consideração? Essas questões iniciais nos conduzem a refletir sobre a globalização numa perspectiva plural e, ao mesmo tempo, crítica. Plural, porque reconhecemos que seus impactos não estão restritos a algumas regiões específicas do globo. Uma mudança do outro lado do globo pode desencadear sérios problemas em outras regiões e localidades. Crítica, pelo fato de adotarmos uma perspectiva teórica segundo a qual o agravamento das questões sociais é tomado como resultante do processode mundialização do capital. Vejamos, agora, alguns teóricos que podem nos auxiliar nesta análise crítica. empresas independentes – em direção a uma espécie de cartel mundial da indústria automobilística. Na Europa, por exemplo, existem hoje seis grandes empresas: Volkswagen, Peugeot, Opel (GM), Fiat, Ford e Renault. Analistas do setor acreditam que, na virada do século, só restará lugar para três ou quatro grandes montadoras naquele continente. As demais serão absorvidas. Para quem duvida da tendência, basta olhar o passado recente daquele continente. Entre os anos 60 e 80, a Fiat comprou e absorveu praticamente toda a indústria italiana, como a Ferrari, Lancia, Alfa Romeo e Innocenti. A Volkswagen adquiriu a Audi alemã, a Seat espanhola e a Skoda da República Theca.” (TISDALE, 2008). UNIUBE 25 1.2.2 A face histórica da globalização Logo no início do livro Dimensões da globalização: o capital e suas contradições, Giovanni Alves (2001, p. 48) afirma: Existe um debate acirrado sobre a globalização. Por um lado, o debate circunscreve-se em torno da questão de saber se a globalização representa (ou não) uma nova dimensão sócio-histórica do capitalismo mundial, uma nova época histórico-social do processo civilizatório. Por outro lado, discute-se a própria natureza da globalização, se ela representa uma nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial, ou seja, uma “ruptura” com o dinamismo capitalista do passado, como podemos caracterizar suas conexões essenciais. Neste texto, compartilhamos a interpretação de Alves segundo a qual, “Mercantilismo, colonialismo, imperialismo, neocolonialismo – são termos que caracterizam, desde o século XVI, o avanço da expansão capitalista mundial, sob a hegemonia (e supremacia) de impérios e de Estados- nação (ALVES, 2001, p. 49). Para situá-lo no debate, é necessário retomarmos os primeiros passos do mercantilismo. Como você teve a oportunidade de ver em outros textos, ou mesmo em suas aulas de história e geografia no Ensino Médio, o mercantilismo aliado às grandes navegações já no século XVI movimentava a Europa. A busca por metais preciosos e especiarias nas terras conquistadas por ingleses, espanhóis, franceses, portugueses e demais colonizadores promoveram uma corrida rumo à construção de Estados nacionais, mas, sobretudo, uma nova configuração do mapa do mundo. Assistimos aos elementos fundantes do que seria, num futuro muito breve, a sociedade capitalista e industrial. 26 UNIUBE Já no Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels (1993, p. 68) destacaram a importância deste período para o desenvolvimento capitalista: A grande indústria criou o mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou o terreno. O mercado mundial deu um imenso desenvolvimento ao comércio, à navegação, às comunicações por terra. Esse desenvolvimento, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria; e na proporção em que a indústria, o comércio, a navegação, as ferrovias se estendiam, a burguesia também se desenvolvia, aumentava seus capitais e colocava num plano secundário todas as classes legadas pela Idade Média. Os períodos subsequentes à queda do feudalismo foram muito fecundos para o movimento globalizador, ou mundializador. Podemos destacar algumas características centrais: • a derrocada das monarquias europeias; • o enfraquecimento do catolicismo enquanto força determinante; • o progresso das ciências naturais; • o fortalecimento da concepção liberal de Estado nacional; • a consolidação da burguesia industrial como classe dominante. Esses elementos deram um novo fôlego ao movimento de industrialização das cidades, das reformas urbanas, da descoberta de novos materiais e de novas fontes de energia para o aumento da produção industrial. Assim, não podemos imaginar que o capitalismo, em sua vertente produtivo-industrial, poderia ficar restrito a um único espaço demarcado por fronteiras espacialmente delimitadas. Para tanto, basta você observar a relação comercial existente entre Brasil e Portugal durante o pacto colonial: aquele fornecia matéria-prima in natura para que fossem manufaturadas, e as mesmas retornavam ao Brasil para serem adquiridas e consumidas. UNIUBE 27 Guardadas as devidas proporções, esse processo fora acompanhado, tanto no Brasil como na Europa, das migrações de áreas rurais para áreas urbanas, o que promoveu o agravamento da pobreza urbana oriunda das primeiras fábricas europeias. A promessa do ilimitado progresso material não se estendeu a todas as pessoas e diversos problemas se expressaram com contundência: • aumento dos índices de atentados contra a propriedade privada; • alcoolismo que ameaçava a produtividade do operário; • a prostituição feminina que promovia o esfacelamento dos “lares” burgueses; • furtos e roubos que ameaçavam seguranças das “pessoas de bem”, logo, a nova “ordem” social, e é claro; • as doenças que eliminavam crianças e adultos que residiam nos piores lugares das cidades que se industrializavam (BRESCIANI, 2004; DECCA, 1985; DECCA e MENEGUELLO, 1999). Longe de expressarem problemas morais, tais questões são resultado do processo de desenvolvimento do capitalismo e demonstram as contradições da sociedade de classes. Todas essas consequências contraditoriamente promovidas pelo processo de industrialização, como aludimos anteriormente, não ficaram restritas às fronteiras desta ou daquela cidade ou país.Como disseram Arnaldo Antunes, Sérgio Brito e Paulo Miklos, “Miséria é miséria em qualquer canto/Riquezas são diferentes/Índio, mulato, preto, branco/ Miséria é miséria em qualquer canto/Riquezas são diferentes.” A globalização não pode ser considerada uma evolução natural e inevitável, como a semente de uma árvore que brota ao cair em solo fértil. Longe de ser uma evolução natural, a trajetória do capitalismo e das formas de organização do trabalho são resultados da relação entre as classes sociais. Assim, 28 UNIUBE [...] o desenvolvimento capitalista mundial é intrinse- camente dialético, e, portanto, contraditório. É comum presenciarmos no decorrer do processo de desenvol- vimento sócio-histórico do capitalismo, momentos de superação de formas de desenvolvimento do capital (utilizamos a palavra superação, no sentido da palavra alemã aufhaben, que significa superação/conservação) (ALVES, 2001, p. 49). Agora, precisamos identificar as novas características do capitalismo no momento atual. Além daquelas referentes às mudanças na forma de organização do trabalho, citamos no início deste estudo mudanças no processo de produção, como: fusões de empresas, o papel desempenhado pelas novas tecnologias da informação, a conjugação do trabalho de diversas regiões do globo para a produção de determinada mercadoria (divisão internacional do trabalho) e a criação de um mercado global de consumidores. Falta-nos referenciar um aspecto crucial: o processo de mundialização do capital entendido, também, como regime de acumulação financeirizada mundial. A análise realizada por David Harvey indicou a importância da transição do fordismo para a acumulação flexível na constituição da globalização. Perguntando-se sobre as novas características do capitalismo contemporâneo, responde Harvey (1998, p. 184): Duas conclusões básicas (embora provisórias) se seguem. Em primeiro lugar, se quisermos procurar alguma coisa verdadeiramente peculiar (em oposição ao “capitalismo de sempre”) na atual situação, deveremos concentrar nosso olhar nos aspectos financeiros da organização capitalista e Regime de acumulação financeirizada mundial Conceito utilizado por Chesnais no livro, A mundialização do capital (1994), para referir-se à importância do capital financeiro no processo de globalização. UNIUBE 29 no papel de crédito. Em segundo, se deve haver alguma estabilidade de médio prazo no atual regime de acumulação, é nos domínios das novas rodadas e formas de reparo temporale espacial que é mais provável encontrar elementos. Em resumo, pode-se mostrar possível “re-escalonar a crise” através do reescalonamento (por exemplo) da dívida do Terceiro Mundo e de outras dívidas até o século XXI, ao mesmo tempo que se provoca uma radical reconstituição de configurações espaciais em que uma diversidade de sistemas de controle do trabalho pode prevalecer ao lado de novos produtos e padrões na divisão internacio- nal do trabalho. Exploremos o primeiro aspecto: os aspectos financeiros. Iamamoto (2007, p. 107) situa o contexto de emergência da financeirização no fim da Guerra Fria e no alvorecer do século XXI, e destaca que o papel do “mundo das finanças”, cujo suporte são “as instituições financeiras que passam a operar com o capital que rende juros (bancos, companhias de seguros, fundos de pensão, fundos mútuos e sociedades financeiras de investimento), apoiadas na dívida pública e no mercado acionário das empresas.” Alves (2001, p. 47) situa a crise do capital na década de 1970, como ponto de partida para a emergência da globalização tal como se apresenta nos dias atuais. O processo de acumulação, antes centrado no âmbito da produção, diversifica-se atingindo um momento em que “dinheiro produz mais dinheiro” e os capitais especulativos podem destruir economias em um piscar de olhos. Para demonstrar a rapidez com que este capital circula, Alves retoma uma fala de Toyoo Gyohteno, ministro das Finanças do Japão à época do depoimento: Capitais especulativos Capital investido no mercado financeiro e não na produção propriamente dita. O sentido da especulação está em ser investido em países e instituições rentáveis e, depois, rapidamente poder abandoná-los de acordo com as conjunturas. 30 UNIUBE Há pouco falei com um operador de divisas. Perguntei- -lhe quais os fatores que levava em conta ao comprar e vender. Ele respondeu: “Muitos fatores, a maioria de curtíssimo prazo, alguns de médio prazo e outros de longo prazo.” Achei muito interessante o fato de que pensasse também a longo prazo e quis saber o que ele entendia por isso. Não sem hesitar por uns instantes, disse-me com toda seriedade: “Talvez 10 minutos.” É nesse compasso que se move hoje o mercado (KURZ, 1997, p. 220 apud ALVES, 2001, p. 54). São evidentes os problemas advindos dos descompassos entre a temporalidade alucinante do capital financeiro e a das questões sociais que demandam investimento e intervenção a médio e longo prazos! Iamamoto e Alves nos lembram, ainda, que o capital financeiro e o processo de acumulação dele decorrente não podem ser aprendidos de modo isolado. Somente uma análise da totalidade dos processos sociais, econômicos, políticos e culturais poderá contribuir para o desvelamento das novas dinâmicas do capitalismo globalizado. Dito de outro modo: o materialismo histórico-dialético é a perspectiva privilegiada para a análise da realidade social na qual “tem-se o reino do capital fetiche na plenitu- de de seu desenvolvimento e alienação” (IAMAMOTO, 2007, p. 107). Fetiche, por tratar-se da valorização completa do mundo das coisas, e alienação, por implicar na desvalorização exacerbada da condição humana. A imagem inicial da aldeia global cede espaço ao diagnóstico realista de Ianni (2000, p. 231): O mesmo processo que carrega consigo a racionalização promove o predomínio do princípio da quantidade, em detrimento do princípio de qualidade, e realiza a crescente inversão nas relações entre indivíduos e os produtos de suas atividades, produzindo a subordinação do criador [homem] à criatura [mercadorias]. Iamamoto (2007, p. 107) chama a atenção para o impacto desse aprofundamento da alienação e da fetichização sobre a questão social: UNIUBE 31 O que é obscurecido nessa nova dinâmica do capital é seu avesso: o universo do trabalho – as classes trabalhadoras e suas lutas –, que cria riqueza para outros, experimentando a radicalização dos processos de exploração e expropriação. No próximo item, vamos explorar esses impactos sociais da globalização. 1.2.3 A globalização sob a perspectiva social Como já aludimos anteriormente, a globalização trouxe um sem-número de transformações à nossa forma de nos relacionarmos uns com os outros, com a cidade, com o trabalho, com as mercadorias. Diante de tais alterações, umas mais profundas, como o desemprego tecnológico, e outras mais sutis, como a abertura para as importações, urge analisarmos, ainda que brevemente, alguns dos impactos da globalização sobre diferentes segmentos sociais. Jeremy Rifkin, no livro O fim dos empregos, analisa o desemprego tecnoló- gico cuja característica central é substituir a mão de obra humana em todas as áreas. Logo, [...] As implicações sociais são profundas e de longo alcance, mais de 75% da força de trabalho na maior parte das nações industrializadas está desempenhando funções que são pouco mais do que simples tarefas repetitivas [...] (RIFKIN, 1995, p. 05 apud OLIVEIRA, 1999, p.100). Segundo o autor, não há fronteiras para essa ameaça, que se processa tanto nos países de capitalismo central quanto de capitalismo periférico. Porém, há que se considerar que ele aparece de maneiras diferenciadas: em países, como a Holanda, há alternativas de obtenção de renda promovidas pelo próprio Estado, na iminência do desemprego promovido pela incorporação de alguma nova tecnologia. Já, no Brasil, poucas são as empresas que assim procedem. Por seu turno, o Estado brasileiro ou algumas Organizações Não Governamentais possuem programas de inclusão digital com vista a potencializar a reinserção desses indivíduos no mercado de trabalho. 32 UNIUBE Observe que, em alguns países de capitalismo central, o Estado assume a responsabilidade por prover aos indivíduos o acesso à segurança econômica e, por conseguinte, manter um nível de consumo que lhe seja razoável. Logo, mantêm-se os interesses do capital produtivo, uma vez que mesmo desempregado, o indivíduo ainda consome (RIFKIN, 1996; SANTOS, 2004). Por outro lado, em países de capitalismo periférico, essa mesma tarefa recai sobre os indivíduos. Assim, mesmo que o indivíduo tenha acesso a programas de inclusão digital, seu nível de consumo não se mantém, o que, aos olhos do capitalismo, não é um bom negócio. Assim, falar que estamos numa “aldeia global” que pressupõe a possibilidade de que podemos consumir de tudo não se concretiza para todos na mesma intensidade. Se você tem acompanhado minimamente os noticiários, em alguns países do mundo já se faz sentir a ausência de certos alimentos ou seu alto preço nas gôndolas dos supermercados. É o caso da Índia e de alguns países africanos. Se você não está a par desse debate acerca de um dos muitos efeitos sociais da globalização, veja as manchetes, a seguir: Crise alimentar não atingirá o Brasil, diz representante da FAO Ex-ministro de Lula, Graziano diz que região é autosutentável em alimentos. Estas manchetes foram retiradas do sítio www.g1.com Diretror-geral da FAO diz precisar de US$ 3 bilhões contra crise alimentar ONU elabora plano de batalha para enfrentar crise alimentar Entidade precisará arbitrar conflitos comerciais do setor de alimentos.É um momento preocupante; disse secretário-geral da ONU antes de reunião fechada. Espanha oferece 500 milhões de euros para atenuar rise alimentar UNIUBE 33 Esse tema sugere outro dilema da globalização: qual o papel político do Estado em relação às desigualdades sociais num mundo onde o capital não reconhece fronteiras, mas que, ao contrário, como uma nuvem espalha sua sombra por todos os lugares? Seria possível conciliar a necessidade de consumo de alimentos com políticas de desenvolvimento econômico? O Estado deve intervir na economia? Dessas questões, surge o debate acerca da globalização no campo político. 1.2.4 A globalização sob a perspectiva política Um primeiro argumento nos parece claro ao nos reportarmos às questões anteriores:a atual configuração do Estado, na globalização, se parece com a de um refém. Explicamos. A sobrevivência do Estado, do modo como o conhecemos, depende da sobrevivência do capital. Segundo Karl Marx, o aparelho ideológico denominado Estado só se mantém a partir do momento em que está atrela- do aos interesses do desenvolvimento econômico das classes proprie- tárias dos meios de produção. Ou seja, o aparelho jurídico, o sistema econômico, o sistema educacional, para ficar com esses três elemen- tos, são organizados de modo a contemplar os interesses da minoria que enriquece e acumula riqueza por meio da exploração da força de trabalho da maioria operária. Aos olhos das classes proprietárias, o círculo estaria completo, pois na medida em que se tem oferta de emprego tem-se à venda a força de trabalho e, por conseguinte, o consumo dos bens produzidos. Porém, não é o que vemos, não é mesmo? Segundo Milton Santos, a “fábula” contada acerca da globalização que preconizaria o fim do Estado, na verdade, o requer de modo fortalecido para 34 UNIUBE [...] atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida se torna mais difícil (SANTOS, 2004, p.19). Aqui, estamos diante de outra face da globalização: o neoliberalismo. A lógica neoliberal preconiza, dentre outras práticas, o enxugamento da “máquina estatal”. Falamos, portanto, da privatização das empresas públicas e, também, do esforço para “terceirizar” a oferta dos direitos e serviços sociais. Essa lógica neoliberal implica numa compreensão ideologizada de que, na medida em que o Estado se desincumbe de tarefas como administração de bancos, empresas telefônicas, usinas hidrelétricas e siderúrgicas e de mineração, ele (o Estado) pode vir a se ocupar com as questões sociais, ironicamente, produzidas pelo próprio capitalismo. Então, sob essa lógica de acumulação de mais capital, o Estado se ocuparia da habitação, da educação, da saúde, do meio ambiente dentre outras urgências. Desse modo, a entrada do capital internacional em território nacional, segundo Albuquerque (1999), produziria uma desregulação e um desequilíbrio dos mercados internos dos países capitalistas. Porém, sua face mais perversa, como atesta Santos (2004), recai sobre os países de capitalismo periférico, historicamente dependentes das empresas multinacionais para sua sobrevivência econômica. Ora, basta você voltar em nossa história recente – muito recente – e verificar a quantidade de empresas calçadistas e de tecidos que faliram devido à entrada de calçados italianos e de tecidos chineses. O desemprego de grandes contingentes populacionais, aliado à impotência dos poderes locais constituídos, fornece-nos a imagem de uma cenário caótico em que: UNIUBE 35 • predomina o aumento dos níveis de pobreza e/ou de indigência; • há o decréscimo do acesso a bens de consumo e de serviços essenciais; • aumento da violência urbana, associada, sobretudo, ao tráfico de drogas; • crescimento do trabalho informal, da prostituição de adolescentes e do trabalho infantil. Veja, a seguir, a manchete do sítio do G1 acerca das demissões numa cidade famosa pela produção de calçados. 06/02/2008 - 16h06 Fábrica de calçados de Franca demite 485 pessoas Demissão foi anunciada aos funcionários na última sexta-feira. Agabê acumula dois anos de prejuízo causado por queda nas exportações. AMPLIANDO O CONHECIMENTO Segundo Albuquerque (1999), o movimento de progressiva e brusca abertura dos mercados nacionais às empresas transnacionais termina por enfraquecer o Estado em seu poder de intervenção sobre as questões sociais promovidas pelo próprio capitalismo. Esse cenário produz outro dilema: as fronteiras econômicas nacionais não coincidem com a inexistência de fronteiras do capital. Mesmo que alguns Estados desejem reaver seu controle político sobre a economia, ou ainda, puxar os freios das empresas privadas, ou mesmo aumentar os impostos, tais ações redundariam no agravamento de crises econômicas internas, sobretudo em relação aos empregos que, por sua vez, recairia na redução dos índices de consumo interno. 36 UNIUBE Conclusão 1.3 Sabemos que o tema tratado tem sido objeto de estudo de diversos teóricos e não é nossa intenção esgotá-lo nestas páginas. Almeja- -se situá-lo no debate e contribuir para a identificação dos dilemas da sociedade contemporânea. Como vimos, há diversas formas de análise da sociedade contemporânea. Contudo, não podemos nos enganar. Há vertentes analíticas que não se preocupam em identificar as contradições da globalização e, muito menos, as possibilidades de intervenção política. A atitude de um Estado interventor resultaria na saída da empresa, fábrica ou moradora do território onde está instalada e migraria para outra localidade que lhe oferece melhores condições de atuação. Logo, leia-se: melhores condições de exploração da mão de obra local ao mesmo tempo em que promoveu o desemprego de centenas de pessoas. Esse cenário de intensas migrações de empresas ao redor do globo é cada vez mais comum. Como já aludimos anteriormente, as novas tecnologias nformacionais promovem uma agilidade sem precedentes na história relativa à troca de dados entre matrizes e filiais ao redor do globo, no chamado “tempo real”. A agudização da questão social na globalização pode ser assim descrita: As necessidades sociais das maiorias, a luta dos trabalha- dores organizados pelo reconhecimento de seus direitos e suas refrações nas políticas públicas, arenas privile- giadas do exercício da profissão, sofrem uma ampla regressão na prevalência do neoliberalismo, em favor da economia política do capital. (IAMAMOTO,2007, p.107). UNIUBE 37 Cabe-nos a superação do pensamento único, segundo o qual a globalização é entendida como “vitória definitiva do capitalismo”, “fim da sociedade de classes” e da centralidade do trabalho. Diferentemente destas posturas, propomos que você aprofunde suas leituras e reflexões sobre a globalização como mundialização do capital e, consequentemente, cenário de lutas políticas e constituição de novos projetos societários. Longe de nos encontrarmos numa sociedade igualitária, defrontamo- -nos com as vicissitudes do capital e as mutações do mundo do trabalho. Neste processo, os “incluídos” são os detentores do capital. Aqueles sem possibilidades de acesso ao mercado de consumo e ao mercado de trabalho convertem-se dia após dia em “resíduos sociais” e sociedades inteiras são vistas como “lixeiras globais”, supostamente descartáveis. O tema é instigante e desafiador. É neste mundo globalizado que você, futuro profissional da educação, atuará. Desse modo, durante todo seu processo de formação, aproveite as oportunidades para ampliar seu conhecimento sobre a realidade e avaliar criticamente as posturas ideológicas que subjazem nas diversas perspectivas de análise. Há uma necessidade premente de reinventarmos nossa práxis e lutar para que este mundo fetichizado e alienado seja reconstruído de modo radicalmente humano. Para inspirar suas reflexões, deixamos a fala do brilhante educador Paulo Freire: Não acreditemos em quem proclame que nossa fraqueza é um presente dos deuses; que ela está em nós como o perfume das flores ou o orvalho nas manhãs. Nossa fraqueza não é ornamento de nossas vidas amargas. Não acreditemos nos que afirmam com hipócrita entonação que a vida é assim mesmo: - uns poucos podendo muito, milhões nada podendo. 38 UNIUBE Resumo Viu como a globalização pode ser pensada em variadas situações e de diversos modos? Nosso intuito, neste capítulo, foi de levá-lo(a) à reflexão de como a globalização está presente em momentos decisivos da nossa vida. Para tanto, você pode compreender de onde surgiu o padrão de conduta mundial chamado globalização; uma ação que busca, freneticamente, levar a humanidade a um padrão de homogeneidade. Neste capítulo, vocêtambém pôde ampliar sua compreensão acerca da relação da globalização com a questão socioeconômica e política, percebendo que toda essa relação está interligada pelo modelo de relação de produção. E justamente por esse motivo, analisamos os pontos principais oriundos da relação entre globalização e sociedade, correlacionando as contribuições que o marxismo pode dar para que essa mesma globalização fosse analisada com critério, contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa e mais humana. Referências ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de Albuquerque. O Brasil e a globalização. 1999. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/clacso/paper02.doc>. Acesso em: 20 mar.2008. ALVES, Giovanni. Dimensões da globalização: o capital e suas contradições Londrina: Práxis, 2001. Nossa fraqueza não é virtude. Façamos de conta que acreditamos em seus discursos. [...]. Nosso discurso diferente - nossa palavração – será dito por nosso corpo todo: nossas mãos, nossos pés, nossa reflexão. UNIUBE 39 ARDUINI, J. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus, 2002. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, DF. BRESCIANI, Maria Stella M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza.10. reimpr. São Paulo: Brasiliense, 2004. CAMPOS, C. de M. Saberes docentes e autonomia dos professores. Petrópolis: Vozes, 2007. CARDOSO, F. H.; IANNI, O. (Org.) Homem e Sociedade: leituras básicas de sociologia geral. 12. ed. São Paulo: Nacional, 1980. CASTELLS, Manuel. Fim de milênio. Coleção a era da informação: economia, socieda- -de e cultura. v. 3. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3. ed. rev. amp São Paulo: Moderna, 2005. DECCA, Edgar de, MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. 3. ed. São Paulo: Atual, 1999. DECCA, Edgard de. O nascimento das fábricas. São Paulo: Brasiliense, 1985. FERREIRA, Leila da Costa (org.). A Sociologia no horizonte do século XXI. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. HARTER, Phillip. A cara da Aldeia Global. Disponível em: <http://www. olhonahistoria.pro.br/curiosidades/aldeiaGlobal.asp>. Acesso em: 20 mar.2008. HARTER, s/d, (p. 01). Disponível em: <http://naute.com/parabolas/mundo.phtml>. Acesso em: 22 dez. 2010. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7. ed. São Paulo: Loyola, 1992. 40 UNIUBE HOUAISS, I. A. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. HOFFMANN, J. Avaliar para promover: as retas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche. Capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2007. IANNI, Octávio. Teorias da globalização. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. LESSA, Sérgio. Serviço Social e trabalho: por que o Serviço Social não é trabalho. Maceió: UFAL, 2007. MARCONDES, D.; JAPIASSÚ, D. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. rev. amp. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. 309 p. MARX, Karl i ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006. v. 1. NICOLA, U. Antologia ilustrada de Filosofia: das origens à Idade Moderna. Tradução de Maria Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005. p. 257-267. OLIVEIRA, Silvio Luiz. Sociologia das organizações: uma análise do homem e das empresas no ambiente competitivo. São Paulo: Pioneira, 1999. OLBRZYMEK, Marilda R. O despertar da inteireza. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2001. UNIUBE 41 ORTIZ, Renato. Mundialização da cultural. Folha de São Paulo. São Paulo, 12 mar. 2008. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/eso/introducaoglob.html>. Acesso em:12 de mar. 2008. QUINTANEIRO, T; BARBOSA, M. L. de O.; OLIVEIRA, M. G. M. de. Um toque de clássicos. 2. ed. rev. amp. Belo Horizonte: UFMG, 2003. 164 p. RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1996. SANTOS, Milton. Por outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. 11. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. SANTOS, Tania Steren dos. Globalização e exclusão: a dialética da mundialização do capital. Sociologias. Porto Alegre, ano 3, n. 6, jul/dez 2001, p. 170-198. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/soc/n6/a08n6.pdf>. Acesso em: 05 jun.2008. SOUZA, Fernando Horta Tavares et.al. Apontamentos para o reconhecimento das uniões homossexuais face ao paradigma do estado democrático de direito. Revista Direito GV. São Paulo. 6(2). p.443-468. jul-dez.2010. Disponível em: <http://www. direitogv.com.br/subportais/publica%C3%A7%C3%B5e/direitogv12/05.pdf>. Acesso em: jun. 2011. TISDALE, Sally. O que é a globalização. Folha de São Paulo. São Paulo, 12 mar. 2008. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/eso/introducaoglob.html>. Acesso em: 12 de mar. 2008. TORRE, M. B. L. Della. O homem e a sociedade: uma introdução à sociologia. 6.ed. São Paulo: Nacional, 1977. 255 p. UNICEF KIDS. Glossário. Disponível em: <http://www.unicefkids.org.br/pag_texto. php?pid=8>. Acesso em: fev. 2010. VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. Maurício José de Sousa Júnior Introdução A República Democrática e Federativa do BrasilCapítulo 2 O período da redemocratização do Brasil foi marcado pela proclamação de uma nova Carta Magna. A Constituição Federal, aprovada em 1988, determinou novas rumos para a política brasileira. Alçada como o marco federativo mais importante do período pós-ditadura militar, a Constituição Cidadã – que recebeu esta denominação por celebrar direitos individuais e assegurar acesso a serviços públicos fundamentais – promoveu e garantiu reconhecimento de direitos de uma parcela excluída da população brasileira. Veremos durante o capítulo, os principais aspectos que acarretaram na escrita dos artigos mais fundamentais da Constituição. Compreenderemos que as garantias de direitos é a marca da CF de 1988. Além disso, a garantia de acesso aos serviços públicos e as garantias fundamentais como dever do Estado brasileiro. Também verifi caremos como os brasileiros foram transformados pela Constituição e como a percepção geral ainda implica em problemas de concepção na construção de políticas sociais e 44 UNIUBE Objetivos Após os estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • analisar as condições políticas para a constituição de uma Carta Magna; • compreender a estrutura da democracia brasileira do período da Nova República; • refletir acerca dos direitos fundamentais assegurados na nova Constituição de 1988; • perceber as características dos direitos sociais garantidos na CF de 1988; • refletir sobre os avanços sociais, econômicos e políticos que marcaram o período pós-proclamação da Constituição “Cidadã”. direitos individuais. E, ainda, perceberemos como a pirâmide da CF brasileira pode ter sido invertida em comparação às outras Constituições das democracias mais antigas do mundo ocidental. Boa leitura! Objetivos 2.1 A importância da nova Constituição 2.2 A organização do Estado 2.3 A organização dos Poderes 2.4 Os direitos e garantias fundamentais Construir uma sociedade livre, justa e solidária. Art. 3º Constituição Federal UNIUBE 45 A importância da nova Constituição2.1 Após o período de 21 anos de militares no poder, o Brasil viveu uma eleição indireta que levou um civil ao poder. A importância desse momento foi cultuada em diversas análises históricas e políticas. Mesmo com a rejeição da Emenda Dante de Oliveira, o primeiro civil a assumir a presidência da República, após