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Cultura e Formação Brasileira

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vontade. Naquele contexto em que se vivia, em cidades, vilas e povoados, “a mistura é 
de toda condição de pessoa: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres 
e plebeus, seculares, clérigos e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não 
têm no Brasil convento nem casa (ANTONIL, 1982, p. 263, grifo nosso).
Os paulistas e, em especial, os bandeirantes, embora tenham agido de for-
ma violenta contra índios e negros, também construíram e preservaram elementos 
indígenas na cultura brasileira. Destacam-se na culinária paulista, por exemplo, o 
feijão-tropeiro, a cachaça e, da cultura indígena, o mel. Utilizando-se de forma vio-
lenta da mão de obra indígena, adicionaram à cultura brasileira o gosto pelo mel: “O 
mel era alimento particularmente apreciado pelos expedicionários paulistas, que para 
obtê-lo se serviam dos silvícolas, hábeis em encontrar colméias seguindo as abelhas 
com os olhos” (PACHECO NETO, 2002, p. 20).
Não se pode esquecer do legado cultural português, a língua portuguesa, 
o seu elemento fundamental. O catolicismo é outra herança dos portugueses, sem 
contar a culinária e outros costumes. 
Na educação, dimensão que também reflete a cultura de um povo – e “por 
mais de duzentos anos” –, os jesuítas (padres católicos) implantaram e perpetuaram: 
“um sistema escolar [...], articulado por uma visão de ensino que visava o preparo dos 
jovens da elite brasileira para seguir os estudos superiores na Universidade de Coimbra 
ou em alguma das universidades da França” (VECHIA, 2005, in STEPHANOU; 
BASTOS, p. 78).
Após a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marquês de Pombal (1699-
1872), dirigente português, a influência lusa na educação permaneceu, daquela vez 
permeada pelos ideais iluministas, uma vez que Pombal foi por eles influenciado. Os 
iluministas tinham no uso da razão um de seus principais pilares; esta seria o prin-
cípio garantidor da liberdade humana. Ao longo da história, o sistema educacional 
brasileiro continuou incorporando outras influências e sendo reformulado ao sabor 
das mudanças políticas, no país. 
Com relação à economia, logo após a abolição da escravatura em 1888 e, 
em alguns lugares, até mesmo antes, o Brasil iniciou o recrutamento de trabalhadores 
livres e estrangeiros para trabalhar nas lavouras brasileiras, que pudessem substituir a 
mão de obra negra, recém-liberta. 
Desde 1894, e nas décadas seguintes, aqui chegaram os imigrantes: ita-
lianos, portugueses, espanhóis, alemães, sírios, libaneses, japoneses e outros povos, 
em menor número. Foram atraídos pelas promessas de um Brasil que se apresentava 
nas propagandas “como um paraíso propício à formação de fortunas, uma terra de 
oportunidades e de sossego, um verdadeiro paraíso no novo mundo, distante do caos 
que havia se tornado a Europa” (PRIORI et al., 2012, p.35-36). Os europeus, que 
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sofriam com as guerras e a falta de perspectiva de sobrevivência, sentiram-se atraídos, 
nesse contexto, a emigrar para as terras brasileiras. 
Portanto, as origens culturais do Brasil, vindas de três continentes diferen-
tes, foram teorizadas no século XIX como formadoras da identidade cultural brasi-
leira, a qual seria diferente da portuguesa. Embora tais origens tenham sido demasia-
damente simplificadas e utilizadas para fins políticos, a verdade é que o patrimônio 
cultural do Brasil é realmente bastante diversificado: as origens advindas da América, 
Europa e África (e de vários lugares diferentes, dentro desses continentes) se tradu-
zem nas mais variadas formas de artesanato, arte, danças, canções, culinária, lendas 
populares, dentre outras manifestações culturais materiais e imateriais, decorrentes 
da diversidade cultural brasileira (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2001).
Muito desse patrimônio é inclusive resultante de fusões dentre os grupos cul-
turais que vieram para cá, o que fortalece a idéia da “antropofagia cultural” brasileira, 
formulada pelo artista e escritor Oswald de Andrade, desenvolvida no início do século 
XX (NOGUEIRA, 2007).
4.3 história dos Povos indíGenas e a ForMação soCioCultural brasileira
Antes da chegada dos portugueses, o território que posteriormente viria 
a ser o Brasil era povoado por uma enorme diversidade de populações indígenas. 
O processo de contato com os europeus levou a enormes mudanças e impactos nas 
populações indígenas locais, como o aumento da mortalidade, a desestruturação e 
dispersão dessas sociedades, grandes deslocamentos que contribuíram para produzir 
conflitos entre os povos indígenas.
Apesar das fontes para os estudos da população indígena original do terri-
tório brasileiro, estudos antropológicos indicam que houve um intenso processo de 
transformação, adaptação e mudança das populações indígenas originais, desmentin-
do, assim, a imagem fantasiosa de povos cujo modo de vida permaneceu o mesmo 
desde a chegada dos europeus ao continente americano.
Foi no início do século XV, com a tentativa dos europeus de chegarem às 
Índias em busca de especiarias, que começou a exploração sistemática do território 
africano e sul-americano. Aqui, os portugueses implementaram uma cultura comer-
cial de exploração de recursos naturais para a exportação. O Brasil cooperaria com a 
produção do algodão, do açúcar, do ouro e outras pedras preciosas e, posteriormente, 
do café.
Os indígenas que se encontravam no território brasileiro, apesar de domi-
narem algumas técnicas de cultivo, não se identificavam com o trabalho sedentário, 
além de se oporem à desapropriação de seus territórios e de sua liberdade. Temerosos 
de perder o controle territorial, os portugueses fomentaram guerras de extermínio

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