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Um Novo Começo em Gênesis

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U m N o v o C o m eç o
G ênesis 1 1 :2 7 - 12:9
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/ / Ç e os outros planetas são habitados", 
brincou George Bernard Shaw, "en­
tão devem estar usando a Terra como seu 
manicômio".
Podemos achar esse comentário engra­
çado, mas ele nos faz lembrar de um fato 
triste: o mundo encontra-se num estado de 
caos, e as coisas não parecem estar melho­
rando. Qual é o problema?
A origem de tudo isso remonta aos acon­
tecimentos registrados no Livro de Gênesis. 
Com exceção do relato nos capítulos 1 e 2, 
os onze primeiros capítulos de Gênesis re­
gistram uma sucessão de erros dos seres hu­
manos, erros estes que estão se repetindo 
nos dias de hoje. Primeiro, o homem e a 
mulher desobedeceram a Deus e foram ex­
pulsos do jardim (cap. 3). Caim matou seu 
irmão, Abel, e mentiu sobre o que havia feito 
(cap. 4). A humanidade tornou-se tão cor­
rompida que Deus limpou a Terra com um 
dilúvio (caps. 6 - 8). Noé embriagou-se, e 
seu filho, Cam, viu a nudez do pai (cap. 9). 
Rebelando-se contra Deus, os seres huma­
nos construíram uma cidade e uma torre, e 
Deus precisou mandar confusão para aca­
bar com essa rebelião (cap. 10).
Desobediência, homicídio, engano, be­
bedeira, nudez e rebelião parecem coisas 
bem atuais, não é? Se você fosse Deus, o 
que você faria com tais pecadores, homens 
e mulheres criados à sua imagem? "Prova­
velmente eu os destruiria!" poderia ser sua 
resposta.
Mas não foi isso o que Deus vez. Antes, 
chamou um homem e sua esposa para que 
deixassem seu lar e fossem para uma no­
va terra, de modo que pudessem dar um
recomeço à humanidade. Em conseqüência 
do chamado de Deus e de sua fé obediente, 
Abraão e Sara*, em última análise, propicia­
ram ao mundo a nação judaica, a Bíblia e o 
Salvador. Onde estaríamos hoje se Abraão e 
Sara não tivessem confiado em Deus?
Consideremos os elementos envolvidos 
em sua experiência.
1. U m c h a m a d o (G n 12:1a)
Quando Deus chamou. A salvação vem por­
que Deus, em sua graça, chama o pecador, 
o qual responde pela fé (Ef 2:8, 9; 2 Ts 2:1 3,
14). Deus chamou Abraão do meio da idola­
tria (Js 24:2) quando se encontrava em Ur 
dos caldeus (Gn 11:28, 31; 15:7; Ne 9:7), 
uma cidade dedicada a Nanar, o deus Lua. 
Abraão não conhecia o verdadeiro Deus e 
não havia feito nada para merecer conhecê- 
lo, mas, em sua graça, Deus o chamou. "Não 
fostes vós que me escolhestes a mim; pelo 
contrário, eu vos escolhi a vós outros" (Jo 
15:16).
Abraão tinha setenta e cinco anos quan­
do Deus o chamou, de modo que a idade 
não é obstáculo para a fé. Ele confiou em 
Deus durante cem anos (Gn 25:7), e hoje 
podemos aprender com sua experiência a 
andar pela fé e a viver de modo agradável a 
Deus.
Abraão era casado com Sara, sua meia- 
irmã (Gn 20:12), e não tinham filhos. No 
entanto, Deus usou esse casal para fundar 
uma grande nação! "Porque era ele [Abraão] 
único, quando eu o chamei, o abençoei e o 
multipliquei" (Is 51:2). Por que Deus cha­
maria um casal nada promissor como esse 
para uma tarefa tão importante? Paulo dá a 
resposta em 1 Coríntios 1:26-31.
Deus chamou Abraão depois que os gen­
tios haviam caído em pecado e se afastado 
do verdadeiro Deus vivo. O processo de 
involução é explicado em Romanos 1:18-32.
O ser humano conhecia, desde o princípio, o 
verdadeiro Deus, mas recusou-se a glorifi- 
cá-lo ou a dar-lhe graças por sua bondosa
* O nome deles, originalmente, era Abrão e Sarai, mas 
seguiremos o exemplo de Estêvão, em Atos 7:2, e usa­
remos seus novos nomes (Gn 17), uma vez que são 
mais conhecidos.
GÊN ES IS 11:27 - 12:9 87
provisão, colocando ídolos no lugar do 
Deus vivo. A idolatria levou à imoralidade 
e à indecência, e não demorou para que o 
mundo gentio estivesse tão corrompido que 
Deus teve de abrir mão dele (Rm 1:24, 26, 
28). Então, chamou Abraão, o primeiro 
hebreu, e começou de novo com ele.
Como Deus chamou. "O Deus da glória 
apareceu a Abraão, nosso pai" (At 7:2). Não 
nos é dito como Deus apareceu a Abraão, 
mas, de acordo com o registro de Cênesis, 
foi a primeira de sete vezes que Deus se 
comunicou com Abraão. A revelação de 
Deus deve ter mostrado a Abraão a vaida­
de e insensatez da idolatria em Ur. Quem 
iria querer adorar um ídolo morto depois 
de ter um encontro com o Deus vivo? 1 Tes- 
salonicenses 1:9, 10 e 2 Coríntios 4:6 des­
crevem essa experiência de salvação.
No entanto, Deus também falou a 
Abraão (Gn 12:1-3), e a Palavra realizou o 
milagre da fé. "Assim, a fé vem pela prega­
ção, e a pregação, pela palavra de Cristo" 
'Rm 10:17). Foi um chamado para que 
Abraão se separasse da corrupção a seu 
redor, e ele obedeceu pela fé (Hb 11:8). A 
\erdadeira fé baseia-se na Palavra de Deus 
e conduz à obediência. Deus não poderia 
abençoar e usar Abraão e Sara a menos que 
estivessem no lugar onde o Senhor queria 
que estivessem (2 Co 6:14 - 7:1).
É pouco provável que os pecadores per­
didos de hoje recebam uma revelação es­
pecial da glória de Deus como aconteceu 
com Abraão e Sara. Contudo, podem ver a 
glória de Deus na vida de seu povo (Mt 
5:16) e ouvir sua Palavra pela fé quando o 
povo de Deus dá seu testemunho. Deus fa­
lou diretamente a Abraão, mas hoje em dia 
ouvimos a verdade da salvação por meio 
do testemunho do povo de Deus (At 1:8).
Por que Deus chamou. Há pelo menos 
três motivos pelos quais Deus chamou 
Abraão e Sara. Em seu amor, Deus estava 
preocupado com a salvação deles, de modo 
que revelou sua glória e compartilhou com 
eles suas bondosas promessas. Mas, além 
da salvação pessoal deles, o propósito de 
Deus era abençoar todos os povos da Ter- 
ra. Isso aconteceu quando Deus enviou seu
Filho ao mundo por meio do povo de Is­
rael. Cristo morreu pelos pecados do mun­
do (1 Jo 2:2; 4:14) e quer que sua Igreja 
conte as boas novas da salvação a toda a 
Terra (Mc 16:15).
Existe, porém, um terceiro motivo: a vida 
de Abraão é um exemplo para todos os cris­
tãos que desejam andar pela fé. Abraão foi 
salvo pela fé (Gn 1 5:6; Rm 4:1-5; Gl 3:6-14) 
e viveu pela fé (Hb 11:8-19), e essa fé ficou 
evidente em sua obediência (Tg 2:14-26). 
Abraão obedeceu quando não sabia onde 
(Hb 11:9, 10), como (vv. 11, 12), quando 
(v. 13-16) nem por que (vv. 17-19), e nós 
devemos fazer o mesmo.
Abraão e Sara não eram perfeitos, mas, 
de modo geral, sua caminhada caracte- 
rizou-se pela fé e pela fidelidade. Quando 
pecaram, sofreram por isso, e o Senhor 
mostrou-se sempre pronto a perdoá-los 
quando se arrependeram. "A vida cristã vi­
toriosa", disse George Morrison, "é uma 
série de recomeços". Ao estudar a vida de 
Abraão e Sara, você verá o que é fé e como 
andar pela fé. Descobrirá que, quando 
você confia no Senhor, nenhuma prova­
ção é impossível de vencer e nenhum fra­
casso é permanente.
2 . U ma a l ia n ç a (G n 12 :1-3 )
A fé não se baseia em sentimentos, apesar 
de, sem dúvida, as emoções fazerem parte 
da experiência de fé em certas ocasiões 
(Hb 11:7). A verdadeira fé baseia-se na 
Palavra de Deus (Rm 10:17). Deus falou a 
Abraão e disse o que faria para ele e por 
meio dele, se ele confiasse e obedecesse. 
"Grandes vidas são moldadas por grandes 
promessas", escreveu Joseph Parker, e cer­
tamente esse foi o caso de Abraão e Sara. 
A aliança de Deus concedeu-lhe a fé e as 
forças de que precisavam para uma vida 
toda de peregrinação.
Não somos salvos ao fazer promessas a 
Deus. Somos salvos ao crer nas promessas 
de Deus. Foi Deus quem, em sua graça, deu 
sua aliança a Abraão, e ele respondeu com 
fé e obediência (Hb 11:8-10). A maneira 
como você responde às promessas de Deus 
determina aquilo que ele fará na sua vida.
88 GÊN ES IS 11:27 - 12:9
A Bíblia registra várias alianças de Deus, 
começando com a promessa de um Reden­
tor, em Gênesis 3:15, e culminando com a 
nova aliança por meio do sangue de Jesus 
Cristo (Lc 22:20; Hb 8). A palavra hebraica 
traduzida por "aliança" tem vários significa­
dos: (1) comer com alguém, o que sugere 
comunhão e concordância; (2) atar ou acor­
rentar, o que significa compromisso; e (3) 
distribuir, o que sugere compartilhar. Quan­do Deus faz uma aliança, entra num acordo 
e compromete-se a cumprir suas promessas. 
Trata-se de um ato da mais pura graça.
Deus não deu a Abraão motivos ou ex­
plicações. Deu-lhe, simplesmente, uma pro­
messa: "Te mostrarei [...] de ti farei [...] te 
abençoarei [...] abençoarei os que te aben­
çoarem" (Gn 12:1-3). Deus prometeu mos­
trar-lhe uma terra, fazer dele uma grande 
nação e usar essa nação para abençoar o 
mundo todo. Deus nos abençoa para que 
possamos ser uma bênção para outros, e 
sua grande preocupação é que o mundo 
todo seja abençoado. A comissão missioná­
ria da Igreja não começa com João 3:16 nem 
com Mateus 28:T8-20. Começa com a alian­
ça entre Deus e Abraão. Somos abençoados 
para que sejamos uma bênção.
Observe o contraste entre Gênesis 11:1-9 
e Gênesis 12:1-3. Em Babel, os homens disse­
ram: "Façamos!", mas para Abraão Deus disse: 
"Farei". Em Babel, os homens queriam tornar 
seu nome célebre, mas foi Deus quem en­
grandeceu o nome de Abraão. Em Babel, os 
trabalhadores tentaram unir os homens para 
depois dividi-los. Mas, por meio de Abraão, o 
mundo todo foi abençoado e todos os cris­
tãos são unidos em Jesus Cristo. É claro que 
Pentecostes (At 2) é o "inverso" de Babel; 
porém Pentecostes não poderia ter ocorrido 
sem a aliança de Deus com Abraão (Gl 3:14).
Deve ter sido difícil para Abraão e Sara 
crerem que Deus iria abençoar o mundo 
todo por meio de um casal idoso e sem 
filhos, mas foi exatamente o que ele fez. 
Deles procedeu a nação de Israel, e de Is­
rael procedeu a Bíblia e o Salvador. Deus 
reafirmou sua aliança com Isaque (Gn 26:4) 
e Jacó (Gn 28:14) e cumpriu-a em Cristo 
(At 3:25, 26). Ao longo dos anos, Deus am­
pliou diversos elementos dessa aliança, mas 
deu a Abraão e Sara elementos suficientes 
da verdade para que cressem nele e partis­
sem pela fé.
3 . U m a co n ce ssã o 
(G n 11 :2 7-3 2 ; 1 2 :4 )
Os primeiros passos de fé nem sempre são 
gigantescos, o que explica o motivo de 
Abraão não ter sido completamente obe­
diente a Deus. Em vez de deixar a família, 
conforme Deus havia ordenado, quando 
saiu de Ur, Abraão levou consigo o pai e o 
sobrinho, Ló, e todos permaneceram em 
Harã até que seu pai morreu. Tudo aquilo 
que você traz consigo da antiga vida para a 
nova pode causar problemas. Tera, o pai de 
Abraão, serviu de empecilho para que 
Abraão obedecesse plenamente ao Senhor, 
e Ló criou sérias dificuldades para Abraão 
até que os dois finalmente decidiram se se­
parar. Quando saíram de Ur (Gn 20:13), 
Abraão e Sara levaram consigo uma conces­
são pecaminosa que em duas ocasiões lhes 
causou problemas (Gn 12:10-20; 20:1-18).
A vida de fé exige separação total daqui­
lo que é mau e dedicação total àquilo que é 
santo (2 Co 6:14 - 7:1). Ao estudar a vida de 
Abraão, veremos que, com freqüência, ele 
foi tentado a ser condescendente e, por ve­
zes, chegou a ceder. Deus nos testa a fim de 
edificar nossa fé e de extrair o que há de 
melhor em nós, mas o diabo nos tenta a fim 
de destruir nossa fé e de extrair o que há de 
pior em nós.
Quando andamos pela fé, só podemos 
nos apoiar em Deus: sua Palavra, seu cará­
ter, sua vontade e seu poder. Não que você 
tenha de se isolar de sua família e amigos, 
mas não os considera mais seu primeiro amor 
e primeira responsabilidade (Lc 14:25-27). 
Seu amor por Deus é tão intenso a ponto de 
fazer com que, em termos comparativos, o 
amor pela família pareça ódio! Deus nos cha­
ma para a "solidão" (Is 51:1-3), e não deve­
mos fazer concessões.
4 . U m co m p ro m isso (G n 12:4-9 )
Thomas Fuller, um pregador puritano do sé­
culo xvn, disse que toda a humanidade foi

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