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TEORIA E SISTEMAS UNIDADE 1

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TEORIA E SISTEMAS UNIDADE 1
OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA
1 Raízes Filosóficas da Psicologia
Você sabia que, para compreendermos do que é composto o solo da psicologia, precisaremos 
dar alguns passos para trás em busca da história da construção científica? Esse percurso iniciará 
muito antes do que chamamos de ciência propriamente dita, como concebida pela academia 
(campos de formação de ensino superior e pós-graduações) na atualidade.
Essa história é extensa, e por ser longa, precisaremos realizar alguns recortes. Infelizmente, não 
é possível apresentar todos os aspectos, autores, filósofos, pensamentos e ideias que ajudaram 
a compor a narrativa histórica da psicologia. As escolhas dos pensamentos que apresentaremos 
sempre está circunscrita a partir do olhar daquele que conta a história. Basta você pensar que, 
ao contar uma história, você sempre escolherá o que enfatizará.
Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construção escrita sobre alguma área da ciência 
será sempre limitada, porque haverá recortes. Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao 
estudo de alguma área do conhecimento, como você, estudante de psicologia, necessitarão ler, 
ouvir e estudar diversos autores contando a “mesma história”. Apesar de ser a “mesma história”, 
serão dadas ênfases distintas, a depender do horizonte científico daquele que escreve.
Comentadas as considerações iniciais sobre o limite da escrita, agora chegou a hora de você 
aprender sobre as bases filosóficas da psicologia. Você conhecerá alguns dos pré-socráticos, 
Sócrates, Platão e Aristóteles. Apresentarei também um pouco da história da idade média e 
depois entraremos na história da idade moderna, o nascimento da ciência e o modo como a 
filosofia influencia as nossas concepções sobre corpo e mente, bem como inato e adquirido. 
Após essa história inicial, pensaremos juntos sobre a natureza e os limites da psicologia.
É importante ressaltar que os filósofos não estavam pensando na constituição da psicologia, 
eles estavam filosofando. Mas hoje percebemos o quanto as ideias filosóficas, de algum modo, 
atravessam a psicologia que nascerá, enquanto ciência, no século XIX.
1.1 Pré-Socráticos e Sócrates
Os primeiros filósofos da nossa cultura ocidental, que iniciaram o processo de sistematização do 
conhecimento, surgiram por volta dos séculos VII-VI a.C. Esses filósofos, chamados de pré-
socráticos (porque vieram antes de Sócrates), buscavam compreender a origem do cosmo: 
constituição, princípios e leis. Esse período ficou conhecido como cosmológico. Cada pré-
socrático, a partir dos seus estudos e observações, indicava a essência, o princípio, a origem 
cosmológica da natureza. Ou seja, eles buscavam explicar a arché (essência, origem) da physis 
(natureza) (CASERTANO, 2011).
TALES DE MILETO: De acordo com Casertano (2011), para Tales de Mileto (641-546 a.C.), “a 
observação e o estudo da regularidade dos fenômenos naturais permitem que se extraia uma 
lei geral” (CASERTANO, 2011, p. 40) que permite a explicação das coisas. Para ele, observador 
dos fenômenos naturais, a água seria o fundamento e a origem do cosmo. Ou seja, ela seria a 
arché. Isso porque a água “é o alimento das coisas e as sementes de todas as coisas são úmidas” 
(CASERTANO, 2011, p. 43).
PARMÊNIDES: Parmênides (520-440 a.C.), ao contrário dos filósofos daquela época, não 
acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos naturais são 
mutáveis, e a essência não poderia ser mutável. Logo, ele assegura que o Ser seria o princípio, a 
essência. O Ser aqui não é visível na aparência. Porque tudo que aparece é passível de 
mudanças. O Ser faz parte de um universo que não pressupõe mutabilidade (CASERTANO, 
2011).
HERÁCLITO: Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60 
a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser quanto as coisas 
são dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais famosa é que “tudo flui, como as 
águas de um rio que nunca são as mesmas” (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele 
indicava que o fogo seria a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e 
eterna regeria as mudanças do ser (CASERTANO, 2011).
De acordo com Casertano (2011), para Tales de Mileto (641-546 a.C.), “a observação e o estudo 
da regularidade dos fenômenos naturais permitem que se extraia uma lei geral” (CASERTANO, 
2011, p. 40) que permite a explicação das coisas. Para ele, observador dos fenômenos naturais, 
a água seria o fundamento e a origem do cosmo. Ou seja, ela seria a arché. Isso porque a água 
“é o alimento das coisas e as sementes de todas as coisas são úmidas” (CASERTANO, 2011, p. 
43).
Houve muitos outros pré-socráticos, vinte são mencionados por Osborne (2012). Contudo, 
optamos por apresentar três do mais mencionados. Apresentamo-los para que fosse possível 
você compreender como as perguntas filosóficas sobre a natureza e o ser já estavam postas 600 
anos antes da era cristã.
Por falar em questões do Ser, Sócrates foi aquele que abandou as questões sobre a natureza e 
se concentrou eminentemente nos problemas do ser humano. Suas questões centrais eram: o 
que é o bem, a virtude e a justiça. Sócrates, filho de mãe parteira, desenvolveu um método que 
ficou conhecido como maiêutico (arte de trazer à luz, partejar). Esse método foi utilizado por 
Sócrates nos encontros que ele realizava nas praças públicas. Os diálogos críticos realizados por 
ele poderiam ser divididos em dois momentos: refutação e ironia (etapa em que o filósofo 
enfatizava as contradições na resposta dada pelos interlocutores às suas perguntas); a 
maiêutica era a etapa em que Sócrates construía questões para que os interlocutores pudessem 
reconstruir as ideias anteriormente refutadas (COTRIM; FERNANDES, 2016).
1.2 Platão e Aristóteles
Enquanto os pré-socráticos conflitavam entre si sobre a mutabilidade ou imutabilidade da 
essência da natureza, Platão indicou uma solução que comporta as duas dimensões. Para 
Platão, há algo que não muda, que permanece. Esse algo estaria no mundo inteligível, ou seja, 
plano das ideias. As ideias seriam fixas, imutáveis e, portanto, a essência de tudo o que existe. 
Portanto, a verdade, por ser imutável e fixa, só poderia estar no mundo inteligível, na 
transcendência. Partindo desse pressuposto, a verdade não se manifesta na dimensão visível, 
aparente (COTRIM; FERNANDES, 2016).
O mundo sensível, por sua vez, seria mutável. É uma cópia imperfeita do que existe no mundo 
inteligível e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus “artesão”). O mundo sensível é cheio de 
impressões e essa reprodução não comporta a essência da verdade, apenas espelha uma parte 
do ser e não o que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016).
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Mas, então, como nós humanos, vivendo no mundo sensível, conheceríamos as verdades 
eternas e imutáveis? Para Platão, para se chegar ao conhecimento da verdade, é necessário 
realizar o exercício da razão. Nesse sentido, só se atinge um conhecimento verdadeiro quando 
se submete as impressões ao raciocínio. Apenas os seres humanos têm a capacidade de realizar 
o exercício da razão, pois, para esse filósofo, apesar de homens e animais possuírem 
impressões sobre o mundo sensível, só o homem poderá formar conhecimento racional, 
transcendendo as impressões (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Além desse pensamento dual sobre o mundo, Platão também compreende o ser humano numa 
dualidade, pois é composto por alma e corpo. A alma/mente é o bem mais precioso do ser 
humano, enquanto o corpo é inferior. Essa dualidade atravessará muito fortemente as 
compreensões da medicina que delineará os modos de lidar com o corpo e com a mente, como 
veremos mais adiante (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Enquanto Platão acreditava que as impressões do mundo sensível geravam distorções e não 
eram verdadeiras, Aristóteles defendia que o conhecimento advém da observação da 
realidade.Esse conhecimento que nasce da observação do real, do sensível, daquilo que é 
mutável, ficou conhecido como método indutivo. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 228), 
para Aristóteles:
A finalidade da ciência deve ser a compreensão do universal, visando estabelecer definições essenciais que 
possam ser utilizadas de modo generalizado. Desse modo, a indução (operação mental que vai do 
particular ao geral) representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de 
conhecimento. É por meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, 
conceituais, de âmbito universal.
Partindo desse pressuposto, Aristóteles, contrapondo-se a Platão, defende também que o 
mundo inteligível e sensível andariam juntos e constituiriam a realidade, pois as coisas são o 
que são. Sendo o que são, para conhecê-las, seria necessário partir do dado empírico, 
perceptível aos sentidos (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Esse filósofo, além de superar a cisão entre mundo sensível e inteligível, ultrapassou também o 
dualismo entre corpo e mente. Aristóteles defende que corpo e mente são indivisíveis. O 
filósofo também foi o primeiro a discutir questões muito peculiares para a psicologia, como: 
“mente, sentidos, sensação, memória, sono e insônia, geriatria, brevidade da vida, juventude e 
velhice, vida, morte e respiração” (FREIRE, 2008, p. 38).
1.3 Idade Média
Talvez você esteja se perguntando o motivo de dedicarmos um espaço para falar sobre a idade 
média. Muitas vezes escutamos alguns estudiosos descartando a história desse tempo, pois ele 
está muito atrelado a Igreja Católica como instituição social. O período é tido como séculos 
escuros, das trevas, visto que o pensamento cristão exercia uma grande influência que 
norteava as concepções dessa época. A idade média teve início com a ascensão do cristianismo 
no ocidente. O Deus cristão (teocentrismo) passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, 
literatura, filosofia, educação, arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Nesse período, defendia-se que:
Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de algum modo, contrariar as verdades estabelecidas 
pela fé católica. Em outras palavras, os filósofos não precisavam mais se dedicar à busca da verdade, pois 
ela já teria sido revelada por Deus aos seres humanos. Restava-lhes, apenas, demostrar racionalmente as 
verdades da fé (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 241).
A filosofia medieval pode ser dividida em: padres apostólicos, apologistas, patrística e 
escolástica. A patrística tem como principal representante Santo Agostinho, que foi 
influenciado por algumas ideias da filosofia platônica. A escolástica é representada por São 
Tomas de Aquino, que foi influenciado por Aristóteles (COTRIM; FERNANDES, 2016).
As construções filosóficas desse período tinham como finalidade defender e estruturar as 
verdades da fé católica. Não houve contributos para o pensamento psicológico. Contudo, só 
conhecendo esse período conseguimos compreender o renascimento, o iluminismo e o fervor 
que construiu a idade moderna e constituiu a nova ciência e o racionalismo (COTRIM; 
FERNANDES, 2016).
1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da nova ciência
Após dez séculos de influência do pensamento cristão em todas as esferas humanas, algumas 
alterações começaram a acontecer nesses âmbitos: nos setores sociais, econômico, político, 
artístico. O movimento que contribuiu para as alterações foi chamado de renascimento. Essa 
etapa propiciou o desenvolvimento da mentalidade racionalista e o retorno do 
antropocentrismo, onde o homem volta a ser o centro e não Deus (teocentrismo), como era na 
Idade média.
Contudo, a Igreja não iria abrir mão tão facilmente de sua influência e algumas obras de arte e 
cultura ainda reproduziam resquícios religiosos. Além disso, nesse período a inquisição da 
Instituição Católica perseguiu aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. 
Uma das mudanças essenciais foi o heliocentrismo que, diferente do catolicismo, defendia que 
o sol e não a terra era o centro do universo. Cotrim e Fernandes (2016, p. 256) indicam que:
Ao propiciar a expansão de uma mentalidade racionalista, o renascimento criou as bases conceituais e de 
valores que favoreceriam o desenvolvimento da ciência no século XVII. revelando maior disposição para 
investigar os problemas do mundo, o indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a 
natureza, dedicou mais tempo à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame do mundo.
Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histórica, que começaram a oferecer 
fundamentos para a criação e fundamentação das ciências que aconteceriam posteriormente. 
Nessa época, a psicologia era essencialmente filosófica, mas essas fundamentações também 
iriam oferecer as bases necessárias para que a psicologia fosse alçada ao status de ciência nos 
séculos posteriores (FREIRE, 2008).
1.5 Constituição da ciência moderna
As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram uma certa desorientação. Fazia-se 
necessário criar bases sólidas para o conhecimento e novos conceitos de verdade, visto que as 
bases fundadas no pensamento cristão tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim e 
Fernandes (2016, p. 259),
A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os pensadores modernos 
buscassem uma base segura, algo que garantisse a verdade de um raciocínio. Assim, um dos principais 
problemas da filosofia nesse período relacionou-se com o processo de entendimento humano e, mais 
especificamente, com a seguinte questão: Que garantia posso ter de que um pensamento é verdadeiro? 
Procurava-se, portanto, um método.
Iniciou-se uma busca frenética pelo método para se chegar à verdade. Na busca pelo método do 
conhecimento, novas concepções de homem e de mundo foram sendo construídas pelos 
pensadores da época. A filosofia, debruçada no compromisso do conhecimento, adota novas 
linguagens em que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. O racionalismo teve 
o seu triunfo, e a base científica passou a ser: observação, experimentação e formulação de 
hipótese. É importante destacar que cada filósofo construiu distintamente os seus métodos e 
concepções e deu ênfases distintas também.
Francis Bacon foi um empirista que, contrário ao racionalismo da época, enfatizou o papel das 
experiências sensíveis no processo de conhecimento. Para ele, a razão só teria sentido se 
aplicada à experiência, e não o contrário. Na sua obra Novum Organum, mostrou a importância 
de um método de experimentação que reduzisse os equívocos tanto do intelecto quanto da 
pura experiência, aliando o melhor de ambos para a aquisição dos conhecimentos científicos. 
Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e 
políticas e o desenvolvimento das ciências e da filosofia propiciariam uma grande reforma do 
conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; FREIRE, 2008).
No que concerne à ciência, ele indicou que esta deveria valorizar a pesquisa experimental, e 
defendeu o método indutivo. No seu método, Bacon indica que são necessárias as seguintes 
etapas:
Em contraposição ao método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método 
em que desconfia das percepções e sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade 
do seu método indica que é necessário duvidar de tudo, até reconhecer como indubitável a 
própria existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida seria o fato da 
existência. Sua famosa frase “Penso, logo existo” assegura que, pensando, ele constatou que sua 
existência é verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016).
O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a perspectiva dualista iniciada 
em Platão. Após aplicar o seu método, da dúvida metódica, René Descartes concluiu que 
existem duas substâncias distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância 
extensa (res extensa). A substânciapensante corresponde à esfera da consciência, e a 
substância extensa, ao mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida metódica. Nesse 
método, o questionamento rigoroso é o fundamento do pensamento filosófico. Ele se constitui 
por quatro passos. Clique abaixo para conhecê-los.
No século XVIII, a fundação do positivismo fortaleceu a ciência que se baseia nos fatos e nas 
experiências. Um dos principais representantes dessa perspectiva é o filósofo Augusto Comte. 
O entusiasmo positivista foi um reflexo do espírito da época e do entusiasmo da burguesia, 
1 Organizar e controlar os dados recebidos da 
experiência sensível graças a experimentos 
adequados de observação e 
experimentação.
2 Organizar e controlar os dados recebidos da 
experiência sensível graças a experimentos 
adequados de observação e 
experimentação.
3 Desenvolver procedimentos adequados 
para a aplicação prática de resultados 
teóricos (COTRIM; FERNANDES, 2016).
1.  Regra da evidência: Só aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente
2.  Regra da análise: Decompor o problema em elementos mais simples ou últimos.
3.  Regra da síntese: Orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos.
4.  Regra da enumeração: Verificar para obter absoluta segurança de que nenhum 
aspecto do problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016).
capitalismo e do desenvolvimento técnico-industrial. Sobre o objetivo e as características do 
positivismo, Cotrim e Fernandes (2016) resumem:
De acordo com Comte, o método positivo de investigação tem por objetivo a pesquisa das leis gerais que 
regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o 
conhecimento científico apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande 
ideal das ciências. com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os fenômenos naturais, 
podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 291).
Controle, previsibilidade e generalização são as marcas do pensamento positivista, que 
posteriormente influenciará, direta ou indiretamente, na constituição das ciências. O espírito 
científico buscará consolidar métodos científicos que assegurem esse tripé.
Após apresentar o pensamento de alguns filósofos, importa destacar que muitos outros 
pensadores atravessaram a história da filosofia e da construção da ciência. Todavia, fica inviável 
apresentar todos aqui e/ou se delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por 
apresentar alguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros e que você, 
estudante da área psicológica, mergulhará em outros textos que enfatizarão outros pensadores.
Nos tópicos seguintes, retomaremos alguns desses filósofos e acrescentaremos outros, com 
vias a discutir sobre a influência da filosofia na constituição da ciência psicológica.
Vimos que os pré-socráticos tinham como problema a ser investigado o princípio fundamental, a 
arché do cosmos. Já na idade moderna, o maior objetivo dos filósofos era definir o método de 
chegar ao conhecimento. A centralidade da idade moderna é a busca pelo método científico. É 
importante saber as distinções e objetivos de cada período.
2 Dicotomia Mente e Corpo: influências filosóficas e 
ressonâncias na psicologia
O mundo ficou dual desde que Platão o separou. Essa perspectiva dualista foi retomada em 
alguns momentos na história da filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI. Para 
Descartes, a substância pensante corresponde à mente, à consciência, enquanto a substância 
extensa corresponde à matéria corporal (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Essa cisão entre mente e corpo estabeleceu um longo debate nos tratados filosóficos. O 
dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso partisse da premissa de que 
haveria essas duas realidades, distintas, uma questão se colocava: como mente e corpo 
poderiam interagir? (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Antes de Descarte, acreditava-se que a interação entre essas duas substâncias se dava de forma 
unilateral. Ou seja, a mente que comandava o corpo. Todavia, Descartes, apesar de considerar 
substâncias distintas, defendia a mútua interação entre elas, e não a unilateralidade 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Conforme retomam Schultz e Schultz (2009, p. 36): “Descartes 
afirma que a mente e o corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo 
humano. A mente é capaz de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que esse pode 
influenciar a mente”.
Sobre a natureza do corpo,
Na visão de Descartes, o corpo é composto de matéria física, portanto tem características comuns a 
qualquer matéria, ou seja, possui tamanho capacidade motora. Sendo uma matéria, as leis da física e da 
mecânica que regem o movimento e a ação do universo físico aplicam-se também a ele. Logo, o corpo é 
semelhante a uma máquina cuja operação pode ser explicada pelas leis da mecânica que governa o 
movimento dos objetos no espaço. Seguindo esse raciocínio, Descartes prosseguiu com a explicação do 
funcionamento fisiológico do corpo com base na física. Descartes foi claramente influenciado pelo espírito 
mecanicista da época, refletido nos relógios mecânicos e nos robôs (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36).
Fazendo referências ao mecanismo dos robôs, Descartes defende que há reações do corpo que 
são reflexos dos movimentos externos e não necessariamente uma vontade da mente. Por essa 
constatação, por vezes o pensador é “definido como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa 
teoria é a precursora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-resposta” (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 2009, p. 36). Ainda nesse sentido, “o comportamento reflexo não envolve pensamento 
nem processo cognitivo: parece ser completamente mecânico ou automático” (SCHULTZ; 
SCHULTZ, p.36).
Enquanto o corpo é visto como uma máquina, a mente “não apresenta nenhuma das 
propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de pensamento, característica que a 
separa do mundo material ou físico” (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interação entre corpo-
mente, segundo o filósofo, o ponto central das funções da mente é o cérebro, mais 
especificamente a glândula pineal ou conarium. Os movimentos físicos e mentais influenciam 
um e o outro mutualmente a partir desse ponto central.
Essas discussões sobre mente e corpo irão, posteriormente, no século XIX, influenciar a 
medicina, inclusive a psicologia. A visão dualista reverberou no modo de se compreender 
saúde e doença, bem como suas possíveis associações com a mente e o corpo.
Travou-se uma discussão na medicina sobre o caráter de adoecimento do corpo, se este tinha 
como causa fatores endógenos ou exógenos. Desde o século XV, os médicos Galeno e 
Paracelsus tinham visões distintas. Para o primeiro, a doença tinha causas endógenas, “estaria 
dentro do próprio homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao 
desequilíbrio” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Já para o médico Paracelsus:
As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Ele propôs a cura pelos semelhantes , 
baseada no princípio de que, se os processos que ocorrem no corpo são químicos, os melhores remédios 
para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas 
doses de minerais e metais (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40).
Nos séculos seguintes, essas discussões chegaram a outras áreas da medicina, inclusive da 
psicanálise e psicologia. Na psicanálise freudiana, o determinismo psíquico reforçou “a 
importância dos aspectos internos do homem” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Essa 
ideia foi reforçada pelo psicanalista Groddeck com a sua obra “Determinação psíquica e 
tratamento psicanalítico das afecções orgânicas” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). A 
supremacia da mente sobre o corpo foi reforçada pela psicanálise, enquanto no campo médico 
havia uma supremacia de cuidado com o corpo.
Apesar dessedualismo reverberar nas práticas psicológicas e médicas contemporâneas, 
estudos atuais indicam a perspectiva holística como uma saída para a cisão entre corpo e 
mente. Na postura holística, corpo e mente são inseparáveis e interdependentes em aspectos 
psíquicos e biológicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40).
Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p. 41):
Com o desenvolvimento das neurociências o conceito dualístico tornou-se mais difícil de ser aceito. Por 
exemplo, o sistema nervoso autônomo não é tão autônomo assim e se encontra regulado pelas estruturas 
límbicas junto com o controle emocional. O sistema imune influencia e é influenciado pelo cérebro (URSIN, 
2000). O campo de estudo da psiconeuroimunologia tem suas origens no pensamento psicossomático e 
tem evoluído no sentido da realização de investigações de complexas interações entre a psique e os 
sistemas nervoso, imune e endócrino.
Mais ampla do que as discussões das neurociências e da postura holística, a concepção de 
doença sociossomática amplia a inter-relação entre corpo, mente, ambiente e meio social. 
Nesse sentido, a medicina e a atuação psicológica, influenciada pela postura psicossomática, 
sociossomática e holística, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da 
saúde e da doença.
Assista aí
A Organização Mundial da Saúde, desde o ano de 1947 define que a saúde é um estado que 
articula o bem-estar físico, mental e social. Hoje, muitos pesquisadores acrescentam as 
dimensões espirituais e culturais, sendo saúde, então, um bem estar biopsicossocial-espiritual e 
cultural, e não apenas ausência de enfermidades biológicas.
3 Discussões sobre inato e adquirido no ser humano
Assim como as discussões de corpo e mente perduraram e perduram até hoje na filosofia e na 
ciência, as questões concernentes ao que é inato e o que é adquirido pelo ser humano ao 
longo da existência também se estendem pelos séculos.
Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como inatas. Ou seja, as ideias 
nasceram com o sujeito pensante. Em contraponto ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, 
segundo Cotrim e Fernandes (2016), defendeu que não existem ideias inatas; ao contrário, 
quando o ser humano nasce, nossa mente é como uma tábula rasa. No nascimento, nossa 
mente é como um papel em branco e, a partir das experiências vividas no mundo, inscrevem-se 
nossos conhecimentos. Para adquirir conhecimento, Lock indica as ideias de sensação e de 
reflexão (COTRIM; FERNANDES, 2016). Veja suas definições clicando abaixo.
O pensamento de Jonh Lock se associa ao pensamento de mente vazia indicada séculos atrás 
por Aristóteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61), sobre o pensamento de Lock, resume:
As sensações, imagens e ideias formam o conteúdo da mente. São adquiridas através das impressões 
sensoriais, tanto do mundo externo como no interno e são obtidas através da percepção, que já é um 
processo psicológico. A percepção sensorial consciente constitui, portanto, a base do conhecimento e 
recebe, quase que passivamente, a influência de estímulos externos. Na escala da aquisição do 
conhecimento, distinguem se dois elementos básicos: a sensação e a percepção. As ideias que resultam 
desse processo podem ser simples quando se originam de um ou mais sentidos ou da combinação deles 
com a reflexão (a ideia de comprimento). a ideia de substância composta porque não se origina de 
nenhum sentido, mas da combinação de várias ideias simples.
As ideias do filósofo Lock, empirista, são claramente distintas das ideias inatas de Platão e 
Descartes. Por esse motivo, podemos considerá-lo como “o precursor do estruturalismo 
psicológico do século XX” (FREIRE, 2008, p. 62).
Além das discussões filosóficas sobre o modo que o conhecimento é dado à mente humana (se 
inatos ou adquiridos), existe uma outra linha a ser estudada e investigada, que diz respeito a 
condições comportamentais, se essas são genéticas ou apreendidas na relação com o ambiente. 
Clique abaixo e acompanhe duas tendências alinhadas com esse pensamento.
As ideias de sensação são as que chegam à mente através das experiências adquiridas 
pelos sentidos.
As ideias de sensação são as que chegam à mente através das experiências adquiridas 
pelos sentidos.
Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a psicologia, a fim de 
compreender as perspectivas psicológicas que têm mais inclinação para a linha ambientalista 
e/ou nativista. Essas noções básicas fundamentarão práticas e intervenções frente ao 
comportamento humano.
4 Natureza e limites da psicologia
Você já ouviu alguma dessas frases? “Eu sou a psicóloga na família”; “Sou o psicólogo dos 
amigos”; “Sou professora e psicóloga dos meus alunos”.
Provavelmente sim, pois é frequente as pessoas fazerem menção à Psicologia quando realizam 
alguma atividade de escuta, conselho ou persuasão. Essas frases são resquícios da 
Ambientalismo-empirismo
Para o ambientalismo-empirismo, o 
ambiente é o responsável pelas 
características dos comportamentos do ser 
humano. Essas concepções, defendidas por 
Jonh Lock, têm um adepto fundamental no 
cenário da psicologia, o psicólogo Jonh 
Watson. Watson, fundador do behaviorismo, 
explicou o comportamento humano a partir 
da interação com a cultura e o meio 
ambiente (PINHEIRO, 1995).
Nativismo
O nativismo, perspectiva filosófica baseada 
nas concepções inatas de Platão e 
Descartes, considera o oposto do 
ambientalismo. Nessa linha, a inteligência, 
personalidade e comportamentos são 
traços genéticos herdados pelos genes dos 
respectivos genitores. Aquela famosa frase 
dita no senso comum, “filho de peixe, 
peixinho é” é atravessada por essa lógica 
nativista (PINHEIRO, 1995). Mas será que 
essa perspectiva é válida para o 
comportamento humano? Sobretudo 
partindo do campo psicológico que, ao 
acolher os comportamentos humanos, 
busca construir com os outros novas formas 
de existir?
popularização dos termos psicológicos no senso comum, assim como as palavras empatia, 
recalque, projeção e outras.
Primeiramente, vamos definir o que é senso comum. Ele é o conhecimento cotidiano 
construído pelas pessoas num cenário de realidade. Não passa pelo crivo da ciência e não é 
submetido a um método filosófico ou de pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é 
passado de tradição para tradição, e é assimilado por cada homem e mulher na lida com a vida 
cotidiana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 18):
Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba por se apropriar, de uma 
maneira muito singular, de conhecimentos produzidos pelos outros setores do saber humano. O senso 
comum mistura e recicla esses outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria 
simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo. O que estamos querendo mostrar a você é 
que o senso comum integra, de um modo precário (mas esse é o seu modo), o conhecimento humano. É 
claro que isso não ocorre muito rapidamente. Leva certo tempo para o conhecimento mais sofisticado e 
especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando utilizamos termos como 
“rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos usando termos definidos pela Psicologia 
científica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos 
pelo outro. Podemos até estar muito próximo do conceito científico, mas, na maioria das vezes, nem 
sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.
Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso comum e no cotidiano 
das pessoas, isso não faz delas psicólogos/as. Isso porque a Psicologia é uma ciência. Mas então, 
o que é ciência? Essa não é uma pergunta fácil de responder, pois como vimos na história da 
filosofia e da ciência as compreensões sempre são plurais e não únicas. Existem vários 
caminhos distintos para definir os problemas da ciência, como fazer ciência e 
consequentementeo que é ciência.
Mas, numa perspectiva mais tradicional, ciência são os conhecimentos submetidos a 
metodologias reconhecidas por filósofos e cientistas. Os métodos científicos, que também são 
vários, indicam os caminhos de se obter conhecimentos validados pela academia (centros de 
pesquisas). Não se faz ciência com achismos, faz-se ciência com métodos específicos, com 
pesquisas, com crivo científico. Poderíamos dizer, como comumente é assinalado, que 
científicos são os conhecimentos construídos de maneira programada, controlada e 
sistematizada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). No entanto, há métodos científicos que não 
pressupõem controle e previsibilidade, como são as pesquisas de cunho social, 
fenomenológicas e cartográficas (DANIELA, 2016).
Outro aspecto comumente indicado é que todos os campos científicos têm um objeto de 
estudo. A Sociologia tem como objeto de estudo os fenômenos ligados à sociedade; a 
Economia, os componentes econômicos; a Astrologia, os astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu 
objeto de estudo? (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primórdios da Psicologia enquanto ciência foi 
difícil definir um único objeto de seu estudo, dado que cada perspectiva que surge enfatiza 
aspectos distintos do humano. No início da Psicologia Científica, o foco esteve no 
comportamento com os behavioristas. Os/as psicólogos/as de base analítica (psicanálise) dirão 
que é o inconsciente; aqueles de perspectiva fenomenológica, os fenômenos; os 
socioconstrutivistas, as interações sociais. Enfim, passaríamos anos e anos indicando os 
diferentes objetos da Psicologia, visto que ela é uma ciência multifacetada. Um resumo coerente 
poderia ser o indicado por Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 22):
Nossa matéria-prima, portanto, é o ser humano em todas as suas expressões, as visíveis (o 
comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas 
(porque somos todos assim) - é o ser humano-corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser 
humano-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.
A Psicologia é uma ciência multifacetada, em que cada linha teórica, cada abordagem e cada 
perspectiva definirá suas concepções de homem, de mundo e os seus métodos de ação. É 
diferente da medicina, em que as evidências científicas indicarão a melhor ação para aquele 
paciente; na psicologia, os profissionais lidam com a multiplicidade de teorias que indicam 
modos distintos de lidar com o mesmo fenômeno. Mas como indica Figueiredo (2009), essas 
perspectivas, embora distintas, não são arquipélagos avulsos e desconectados.
O campo da Psicologia enquanto ciência e profissão por vezes deixa os profissionais e 
estudantes de psicologia atordoados na busca de uma unicidade. Ou seja, na busca de uma 
prescrição única. O professor Luís Cláudio Figueiredo, ao falar do campo psicológico como 
campo de dispersão, nos lembra que:
Os alunos, ao ingressarem no curso e entrando em contato com o currículo, podem ficar, de início, com a 
expectativa de que várias disciplinas irão se organizar harmonicamente, convergindo para uma meta 
comum, segundo uma concepção compartilhada por todos os professores do que seja pensar e fazer 
psicologia (FIGUEIREDO, 2009, p. 17).
Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciência, a psicologia, não se organiza com um 
objeto único, mas com objetos, campos, nuances de estudo e investigação. Cada professor/a, a 
partir de suas perspectivas teóricas, indicará possíveis modos de lidar com os fenômenos 
advindos dos diversos campos de atuação psicológica.
Indicar essa abertura e essa multiplicidade inerente ao campo psicológico não autoriza os 
profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum, no dogmatismo ou no ecletismo. É 
necessário que as práticas profissionais estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de 
prática) escolhida.
Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersão teórica e metodológica, se 
encaminham para a prisão do senso comum “porque ela é a mais próxima e envolvente” 
(FIGUEIREDO, 2009, p. 19). Outros, os dogmáticos, se agarram em uma perspectiva teórica e 
fecham-se a ela como se essa fosse a única e grande verdade. “Ensurdecem para tudo que 
possa contestá-la” (FIGUEIREDO, 2009, p. 18) e não ampliam os seus horizontes. Já os ecléticos:
[...] adotam indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos disponíveis de 
acordo com a sua compreensão do que lhe parece necessário para enfrentar unificadamente os desafios 
da prática (FIGUEIREDO, 2009, p. 18).
Nenhuma dessas alternativas é indicada, isso porque todas cerceiam a possibilidade da 
construção psicológica ética e coerente. A alternativa é a busca contínua pela elaboração de 
conhecimentos novos e a articulação das teorias com a prática profissional. Trata-se de 
fundamentá-los em perspectivas de prática (abordagens), articulá-los com a experiência 
cotidiana e sempre viva do profissional e daqueles que buscam a psicologia. Não dá para juntar 
todas as teorias psicológicas como se elas falassem a mesma coisa, mas também não é possível 
fechar-se em uma teoria como se ela comportasse a única e mais exímia verdade sobre o 
comportamento humano. Importa sim definir qual será a sua abordagem e onde está 
circunscrita a sua visão de mundo. Mas a partir desse eixo, é necessário estabelecer diálogos, 
abrir questões, interrogar as indicações teóricas e metodológicas.
Faz-se importante, inclusive, abrir novas questões nas abordagens e visões de mundo 
majoritárias na psicologia. As perspectivas cognitivo-comportamental, psicanalíticas, humanistas 
(Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenológicas (Daseinsanalyse) 
nasceram em realidades distintas da realidade brasileira, com teóricos Europeus e 
Estadunidenses e em séculos diferentes do que estamos vivendo. Não se trata de abandonar 
esses teóricos, trata-se de assumir essas concepções de ser humano e de mundo, colocando 
novas e coerentes questões para os nossos séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; 
DANIELA, 2019).

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