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CENTRO UNIVERSITÁRIO SUDOESTE PAULISTA INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO PSICOLOGIA TAINARA DEL FÁVERO DE PAIVA XAVIER DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DO BRINCAR: UM OLHAR PARA O ESPECTRO AUTISTA ITAPETININGA – SP 2023 TAINARA DEL FÁVERO DE PAIVA XAVIER DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DO BRINCAR: UM OLHAR PARA O ESPECTRO AUTISTA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Sudoeste Paulista de Itapetininga – UniFSP – ao curso de graduação em Psicologia como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Psicologia Orientador: Polyana Pimentel Proença ITAPETININGA - SP 2023 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. HIPOTERMIA INDUZIDA PÓS – PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA XAVIER, Tainara Del Fávero de Paiva. Desenvolvimento de habilidades sociais através do brincar: um olhar para o espetro autista. – Tainara Del Fávero de Paiva Xavier – Itapetininga - SP, 2023. 21 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Centro Universitário Sudoeste Paulista, Campus Itapetininga, Itapetininga – SP, 2023. Orientadora: Polyana Pimentel Proença 1. Habilidades sociais 2. Brincar 3. Transtorno do espectro autista 4. Desenvolvimento infantil. I. XAVIER, Tainara. II. PROENÇA, Polyana. III. Centro Universitário Sudoeste Paulista. IV. Desenvolvimento de habilidades sociais através do brincar: um olhar para o transtorno do espectro autista. 4 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DO BRINCAR: UM OLHAR PARA O ESPECTRO AUTISTA Tainara Del Fávero de Paiva Xavier1; Profª Polyana Pimentel Proença2 1Graduanda do curso de Psicologia no Centro Universitário Sudoeste Paulista- UniFSP; 2Aprimoramento em Psicologia Perinatal e da Parentalidade, Pós – Graduação em Psicologia Analítica – Unicamp, Pós- Graduação em Saúde da Família – Unesp, Graduada em Psicologia – UniFSP, Graduada em Enfermagem – UFSCar e Docente do Centro Universitário Sudoeste Paulista – UniFSP. Endereço eletrônico: tainaradelfavéro@gmail.com RESUMO Na infância, período do desenvolvimento humano que engloba a construção de aspectos físicos, cognitivos e psicossociais, o brincar atua como meio de comunicação e aprendizagem de habilidades sociais (HS). Logo, crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) – compreendido como um transtorno do neurodesenvolvimento que apresenta como principais características prejuízos relacionados à interação social – podem apresentar comportamentos prejudiciais à experiência do brincar – exercendo-o de forma isolada e disfuncional – e, consequentemente apresentar déficits na aquisição de HS. Considerando a psicoterapia como um ambiente repleto de possibilidades para aquisição de novos comportamentos, o presente estudo pretende investigar qual a importância do brincar enquanto instrumento psicoterapêutico para construção de habilidades sociais de crianças com TEA. O aumento da incidência de crianças diagnosticadas - 1 para cada 36 - é um fator determinante para escolha do tema. Objetiva-se analisar a importância do brincar como instrumento na construção de habilidades sociais de crianças com TEA e assim, a atuação da Psicologia neste contexto. A abordagem baseou-se no método de pesquisa bibliográfica, mediante a análise de seis estudos que apresentavam relação com o tema de interesse. Os resultados alcançados revelaram que o brincar além de auxiliar no diagnóstico precoce e na construção de um plano de intervenção adequado, potencializa o desenvolvimento de HS de crianças com TEA principalmente no que diz respeito à socialização, assertividade e empatia. Palavras–chave: Habilidades sociais. Brincar. Transtorno do espectro autista. Desenvolvimento infantil. DEVELOPMENT OF SOCIAL SKILLS THROUGH PLAYING: A LOOK AT THE AUTISTIC SPECTRUM ABSTRACT In childhood, a period of human development that encompasses the construction of physical, cognitive and psychosocial aspects, playing acts as a means of communication and learning social skills (HS). Therefore, children with Autism Spectrum Disorder (ASD) – understood as a neurodevelopmental disorder whose main characteristics are losses related to social interaction – may present behaviors that are harmful to the experience of playing – exercising it in an isolated and dysfunctional way – and, consequently, present deficits in the acquisition of HS. Considering psychotherapy as an environment full of possibilities for acquiring new behaviors, the present study aims to investigate the importance of playing as a 5 psychotherapeutic instrument for building social skills in children with ASD. The increase in the incidence of diagnosed children - 1 in every 36 - is a determining factor in choosing the topic. The aim is to analyze the importance of playing as an instrument in building the social skills of children with ASD and, therefore, the role of Psychology in this context. The approach was based on the bibliographic research method, through the analysis of six studies that were related to the topic of interest. The results achieved revealed that playing, in addition to helping with early diagnosis and the construction of an appropriate intervention plan, enhances the development of HS in children with ASD, especially with regard to socialization, assertiveness and empathy. Keywords: Social skills. To play. Autism spectrum disorder. Child development. 1 INTRODUÇÃO Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V (APA,2023), o transtorno do espectro autista (TEA) é compreendido como um transtorno do neurodesenvolvimento que apresenta como principais características prejuízos relacionados a interação social e à comunicação social recíproca, acompanhado por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. A partir desses critérios diagnósticos, em uma escala progressiva, são estabelecidos três níveis de gravidade para o TEA. No nível 1, na ausência de apoio, o indivíduo apresenta déficits na comunicação social, interesse reduzido por interações sociais e inflexibilidade de comportamento, como: dificuldade em trocar de atividade, organizar e planejar tarefas. No nível 2, o indivíduo necessita de apoio substancial e apresenta déficits graves na comunicação social verbal ou não verbal, limitação nas interações sociais e inflexibilidade comportamental, como: dificuldade em aceitar mudanças, sofrimento ao mudar foco e ações e comportamentos restritivos e repetitivos presentes. No nível 3, o indivíduo exige apoio muito substancial e apresenta déficits nas habilidades de comunicação social – verbal ou não verbal – dificuldade nas interações sociais – respostas mínimas a aberturas sociais, extrema dificuldade em lidar com mudança e mudar o foco das ações e comportamentos repetitivos e restritos capazes de impactar o funcionamento do indivíduo em todas as esferas (APA, 2023). Tais sintomas estão presentes desde a infância e são capazes de prejudicar e limitar o funcionamento diário do indivíduo de diversas formas, dada a gravidade do padrão (APA,2023). Assim, devido à falta de interesse nas relações sociais, crianças com TEA em sua maioria, apresentam déficits nas capacidades sociais e comunicacionais o que pode limitar a aprendizagem, em especial aquela que ocorre por meio da interação social e do contato com pares (APA,2023). Neste aspecto, as crianças com TEA apresentam déficits na construção de 6 habilidadessociais dada a dificuldade de estabelecer um vínculo com o meio social (PRADO et al., 2022). Segundo Prado et al., (2022), habilidades sociais são um conjunto de comportamentos que beneficiam a interação social, visto que, estabelecem uma ligação entre o indivíduo, o mundo e o meio social. Ainda, é compreendida como a capacidade de expressar opiniões, sentimentos positivos e negativos, aceitar e rejeitar críticas, manifestar respeito e empatia, falar em público, fazer amizades e entre outros (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2018). Tendo em vista, que a aquisição de comportamentos socialmente habilidosos reflete em aspectos relacionados à qualidade de vida, uma vez que auxiliam no processo de interação social, convivência e aprendizagem (COURA; PINTO, 2021). Na infância – período do desenvolvimento humano que engloba a construção de aspectos físicos, cognitivos e psicossociais – o brincar conquista espaço e importância como recurso no desenvolvimento e aprendizagem de habilidades sociais (COTONHOTO; ROSSETTI; MISSAWA, 2019 apud QUEIROZ et al., 2020). Dentre as principais especificidades, o brincar revela-se como a maneira que a criança tem de assimilar e interpretar o mundo, os objetos, a cultura e as relações da qual faz parte (WAJSKOP, 1995, p. 66 apud COURA; PINTO, 2021). Devido aos déficits e dificuldades presentes, crianças com TEA podem apresentar comportamentos prejudiciais a experiência do brincar, uma vez que limitam essa função, exercendo um brincar isolado e disfuncional. Deste modo, quando não permitem a participação de outras pessoas neste processo, dificultam a interação com pares e consequentemente a aquisição de habilidades sociais. Diante do exposto, o presente estudo pretende responder a seguinte questão: qual a eficácia do brincar enquanto instrumento psicoterapêutico para construção de habilidades sociais de crianças com TEA? O aumento da incidência de crianças diagnosticadas com TEA é um fator determinante para escolha do tema. De acordo com relatórios publicados pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) durante os últimos 20 anos – após análise de dados de 11 locais da Rede de Monitoramento de Deficiências do Desenvolvimento e Autismo (ADDM) nos Estados Unidos – o aumento de crianças diagnosticadas com TEA vem crescendo gradativamente. Em 2000 o índice era de 1 em 150 crianças. Atualmente, após um estudo realizado no ano de 2020 a prevalência de TEA foi de 1 para 36 crianças de 08 anos, sendo mais prevalente entre meninos do que entre meninas (MAENNER et al., 2020). Os sintomas decorrentes do TEA se apresentam já na infância, e desde então influenciam a maneira da criança perceber e interagir com o mundo. Assim, quanto mais cedo 7 e mais eficaz for o método de intervenção destinado ao desenvolvimento de habilidades sociais destas crianças maiores serão as chances de se alcançar bons resultados e consequentemente uma melhor qualidade de vida destes indivíduos (COTONHOTO; ROSSETTI; MISSAWA, 2019 apud QUEIROZ et al., 2020). De acordo com Prado et al., (2022), diante desta perspectiva a Psicologia pode atuar como peça fundamental, uma vez que durante o processo de psicoterapia – levando em consideração a subjetividade de cada indivíduo e aplicando um plano de intervenção adequado com objetivos simples – o profissional poderá ensinar habilidades sociais para crianças com TEA através do brincar funcional. Neste sentido, objetiva-se analisar a importância do brincar como instrumento psicoterapêutico na construção de habilidades sociais de crianças com TEA. E para alcançar o objetivo geral deste estudo, pretende-se articular sobre o desenvolvimento infantil, definir TEA, articular sobre o diagnóstico de TEA, propor a definição de habilidades sociais, verificar a importância do brincar como meio de intervenção na psicoterapia infantil e verificar a aplicabilidade do brincar enquanto instrumento terapêutico para a construção de habilidades sociais de crianças com TEA. 2 MÉTODO Neste estudo realizou-se uma pesquisa bibliográfica, a qual consiste em reunir e analisar obras já publicadas sobre o tema de interesse, a fim de direcionar a construção do trabalho cientifico (SOUSA; OLIVEIRA; ALVES, 2021). Trata-se de uma pesquisa básica que tem por finalidade ampliar o conhecimento referente ao tema proposto. Apresenta caráter descritivo, o qual consiste em descrever um fenômeno ou uma população e as relações entre estes observadas e analisadas através da coleta de informações (SOUSA; OLIVEIRA; ALVES, 2021). A busca de materiais para o desenvolvimento do estudo ocorreu por meio das plataformas de dados periódicos: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC), Portal Regional da biblioteca virtual em saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico, utilizando-se como descritores: “habilidades sociais” e “brincar” e “transtorno do espectro autista” e “desenvolvimento infantil”. Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: (I) estudo publicados nos últimos cinco anos (2018 a 2023); (II) artigos em língua portuguesa; (III) artigos cujo os títulos apresentavam relação com o tema (IV) artigos cujo resumo abordavam a temática, (V) artigos de acesso gratuito, (IV) artigos cujo conteúdo têm relação com a temática. 8 Dentre os critérios de exclusão encontra-se (I) artigos em línguas estrangeiras; (II) artigos cujo título não apresenta relação com tema, (III) artigos cujo resumo não abordava relação com a temática, (IV) artigos cujo conteúdo não têm relação com a temática. Ao realizar a coleta de dados nas plataformas PePSIC, BVS e SciELO, utilizando-se como descritores: “habilidades sociais” e “brincar” e “transtorno do espectro autista” e “desenvolvimento infantil” não foram encontrados resultados. Na plataforma CAPES utilizando os descritores “habilidades sociais” and “brincar” and “transtorno do espectro autista” and “desenvolvimento infantil” foram encontrados 6 resultados. Foi excluído 1 artigo cujo título não possuía relação com o tema. Restaram 5 artigos a serem analisados pelo resumo. Na plataforma Google Acadêmico, utilizando os descritores “habilidades sociais” e “brincar” e “transtorno do espectro autista” e “desenvolvimento infantil”, foram encontrados 798 resultados. Foram excluídos 539 artigos cujo título não abordava relação com a temática, 219 artigos com o ano de publicação inferior a 2018 e 11 artigos em língua estrangeira. Destes restaram 29 artigos a serem analisados pelo resumo. Ao todo, foram selecionados 34 artigos a serem analisados pelo resumo. Destes, foram excluídos 25 artigos cujo resumo não possuía relação com o tema, restando 9 artigos a serem lidos na integra. Destes foram excluídos 3 artigos cujo assunto não possuía relação com o tema, restando 6 artigos a serem incluídos na revisão. 9 Fluxograma 1 - processo de seleção dos resultados Fonte: Elaborado pelas autoras (2023) 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados coletados, apesar dos critérios de inclusão englobarem estudos publicados nos últimos 5 anos, 6 dos estudos selecionados (100%) são dos últimos 3 anos. Deste modo, os artigos selecionados para estudo foram organizados no Quadro 1. Entre eles, dois artigos (QUEIROZ, Francisca Francisete de Sousa Nunes et al. 2020 e SILVA, Priscila et al. 2020) foram publicados em 2020 (33,33% dos artigos selecionados), um Busca de artigos encontrados pelos descritores: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES = 0 6 Google Acadêmico = 798 804 estudos encontrados Excluídos pelo ano de publicação: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES = 0 Google Acadêmico = 219 219 estudos excluídos Exclusão de artigos em língua estrangeira: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES = 0 Google Acadêmico = 11 11estudos excluídos Exclusão de artigos pelo título : PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES = 01 Google Acadêmico = 539 540 estudos escluídos Resultados excluídos pelo resumo: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES: 02 Google Acadêmico: 23 25 estudos excluídos Exclusão após a leitura na íntegra: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES: 0 Google Acadêmico: 03 03 estudos excluídos Estudos incluídos na revisão: PePSIC = 0 BVS = 0 SciELO = 0 CAPES: 2 Google Acadêmico: 4 6 estudos selecionados 10 artigo (MOURA, Alanna et al., 2021) foi publicado no ano de 2021 (16,66% dos artigos selecionados), e três artigos (SOUSA, Cynthia Alves Felix et al.; PRADO, Carla Beatriz; MUNER, Luana Comito; e ILTCHENCO, Andressa Colatto; RIBAS, Letícia Pacheco; 2022) foram publicados em 2022 (50% dos artigos selecionados). O estudo realizado por Queiroz et al. (2020) teve como método a revisão bibliográfica, e a coleta de dados se deu através de produções datadas entre o ano de 2010 a 2019, tendo como objetivo definir habilidades-alvo para a classificação de brincadeiras a serem incorporadas em um projeto denominado Interautismo, que consiste em um sistema de apoio para familiares e profissionais da saúde na aquisição de atividades lúdicas, que possam auxiliar no desenvolvimento da criança com TEA. Silva e Jung (2020) teve como objetivo realizar um estudo qualitativo de caráter descritivo e exploratório através da aplicação de questionários semi-estruturados a 10 participantes, que por sua vez eram responsáveis legais de indivíduos com TEA. Este estudo teve como base compreender a influência lúdica do instrumento Lego serious Play no desenvolvimento destas pessoas. O instrumento, por sua vez, proporciona uma forma lúdica de interação entre seus participantes através de regras e papéis específicos a serem desenvolvidos dentro da brincadeira. O artigo de autoria de Moura et al. (2021) utilizou como método uma revisão teórica a partir de publicações entre os anos de 2010 e 2020, tendo como base a perspectiva sócio- histórica de Vygotsky. Neste estudo, buscou-se proporcionar reflexões acerca dos impactos do brincar no desenvolvimento infantil de pessoas com TEA. O estudo publicado na Revista Educação Especial escrito por Sousa et.al (2022) trata-se de uma revisão sistemática, construída a partir da seleção e analise de 25 artigos científicos cujo o intuito era expor o treinamento de habilidades sociais em pessoas com TEA. O estudo realizado por Iltchenco et al. (2022) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de um hospital pediátrico do município de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, teve como método um estudo de caso do tipo observacional analítico de corte transversal tendo como objetivo observar por meio da brincadeira as características interacionais do brincar de crianças não verbais com suspeita de TEA. O estudo publicado por Prado et al. (2022) na Revista Cathedral, utilizou como método a pesquisa bibliográfica básica de natureza qualitativa e teve como objetivo expor a eficácia do brincar enquanto instrumento terapêutico no desenvolvimento de novas aprendizagens de crianças com TEA. 11 Quadro 1 – Análise dos resultados Autores Ano Tipo de pesquisa Participantes Método Objetivo Resultados Queiroz, F.F.S.N Brasil, C.C.P Brasileiro, F.N.V Gabler, F. Filho, J.E.V 2020 Qualitativa Sem participantes Revisão bibliográfica – pesquisa descritiva Identificar as habilidades-alvo que podem ser desenvolvidas por meio da utilização de brincadeiras para estimular o desenvolvimento global de crianças com TEA As habilidades identificadas são: habilidades comunicativas, habilidades sociais e habilidades motoras Silva, P Jung, H.S 2020 Qualitativa 10 participantes maiores de 18 anos Pesquisa descritiva e exploratória Identificar a influência da experiência lúdica – através da legoterapia – no desenvolvimento da criança com TEA Identificado melhoras no comportamento social, na linguagem e comunicação. A experiência é capaz de promover a interação e o trabalho em conjunto. Moura, A.M Santos, B.M.L Marchesini, A.L.S 2021 Qualitativa Sem participantes Revisão teórica – pesquisa descritiva Identificar relações entre a prática do brincar e os diferentes aspectos do desenvolvimento infantil da criança com TEA, O ato de brincar desempenha um papel indispensável no desenvolvimento cognitivo, social, emocional e psicológico da criança com TEA, estimulando a formação do pensamento abstrato, da imaginação, da criatividade, da imitação, além de promover o aumento do repertório comunicativo e comportamental. Sousa, C.A.F Araújo, H.J.N Barbosa, M.F 2022 Qualitativa Sem participantes Revisão sistemática – pesquisa descritiva Identificar modelos e ferramentas de ensino capazes de auxiliar o desenvolvimento de habilidades sociais de crianças com TEA Foram identificados: utilização da musicoterapia, ferramentas virtuais, intervenção baseada na interação entre pares, atividades lúdicas e procedimentos tradicionais e estruturados. (continua) 12 Autores Ano Tipo de pesquisa Participantes Método Objetivo Resultados Iltchenco, A.C Ribas, P.L 2022 Qualiquantitativa Três participantes do sexo masculino, com idade entre 3 anos e 4 anos Estudo de caso múltiplos do tipo observacional analítico de corte transversal Descrever as características da interação em relação à brincadeira funcional e simbólica de crianças com suspeita de TEA Observou-se que características da brincadeira funcional e simbólica e a atenção compartilhada, se presentes, são aspectos que atenuam o risco para TEA e podem auxiliar no diagnóstico Prado, C. B. O Muner, L.C 2022 Qualitativa Sem participantes Revisão bibliográfica – pesquisa básica de caráter descritivo Verificar os benefícios das brincadeiras no tratamento do transtorno do Espectro Autista e identificar a evolução no tratamento terapêutico do TEA a partir da prática das brincadeiras. Verificou-se que o brincar é um importante instrumento terapêutico no TEA, por apresentar: espontaneidade, estimuladoras sociais e diversas oportunidades de aprendizagem. Além de, compor eficazes modelos de intervenções para o Espectro, através do faz de conta, da narração, das trocas de turno e de novas oportunidades de aprendizagem. (conclusão) Fonte: Elaborado pelas autoras (2023) 13 Deste modo, cinco dos artigos selecionados (Queiroz et al., 2020; Silva et.al, 2020; Moura et al., 2021; Sousa et.al 2022 e Prado et al., 2022) apresentaram a abordagem qualitativa como tipo de pesquisa, compondo 83,33% dos estudos analisados. O estudo de Iltchenco et al. (2022) por sua vez, utilizou como abordagem o modelo qualiquantitativo compondo 16,66% dos artigos selecionados. Dentre os seis artigos selecionados, o método de coleta de dados através de participantes esteve presente em dois artigos (Iltchenco et al., 2022 e Silva et al., 2020), compondo 33,33% dos estudos analisados. Destes, quatro artigos tiveram como único embasamento a coleta de dados através de materiais teóricos já publicados (66,66% dos artigos selecionados). Em relação aos objetivos, 100% dos artigos selecionados tiveram êxito na execução dos mesmos, os quais foram descritos no item resultados expostos na tabela acima. Com base nos estudos realizados, 100% dos artigos selecionados auxiliaram na construção e execução dos objetivos específicos a serem alcançados nesta revisão sistemática.De acordo com Brasil (2016) apud Queiroz et al. (2020), compreende-se o desenvolvimento infantil como um processo multidimensional e integral, ou seja, envolve diversos aspectos pessoais e interpessoais do indivíduo e tem como efeito tornar o mesmo capaz de responder as suas necessidades e as do meio em que vive. Tal processo inicia-se desde a concepção e engloba aspectos referentes ao amadurecimento neurológico, crescimento físico, capacidades cognitivas, sensoriais, comportamentais e de linguagem, assim como interações sociais e afetivas. Ainda, segundo os autores, ao falar de desenvolvimento infantil é necessário que se fale também sobre o ato de brincar, já que o mesmo é uma das principais ações realizadas pela criança ao longo da infância, atuando como mediador desta para/com o mundo. Deste modo, o brincar ganha espaço e importância em diversas temáticas relacionadas a infância, principalmente nas que dizem respeito ao desenvolvimento e aprendizagem infantil (QUEIROZ et al., 2020). Segundo a revisão de literatura realizada por Moura et al. (2021), é através do brincar que a criança se depara com situações desafiadoras, capazes de auxiliar no processo de interação com pares, atenção concentrada, imaginação, imitação e etc. As autoras ainda compreendem que a partir da brincadeira a criança entra em contato com diversos estímulos essenciais para o seu desenvolvimento, dentre eles destacam-se as habilidades sociais que serão experienciadas a partir do autoconhecimento e manejo das situações vivenciadas durante o brincar. Segundo informações coletadas no estudo realizado por Del Prette e Del Prette, (2017) apud Sousa et al. (2022), as habilidades sociais são compreendidas como um conjunto de 14 comportamentos que contribuem para o desenvolvimento e manutenção do indivíduo em sociedade, facilitando a inserção e aceitação do mesmo no meio social. Neste sentido, de acordo com os autores alguns exemplos dessas habilidades dizem respeito a comportamentos relacionados a autocontrole, assertividade, expressividade emocional, empatia, resolução de problemas interpessoais, fazer amizades, habilidade de civilidade e habilidades relativas ao contexto escolar (DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2017 apud SOUSA et al., 2022). De acordo com o estudo de Sousa et al. (2022), tais habilidades podem ser desenvolvidas pelo indivíduo através de treinamentos comportamentais. Contudo, o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) tem como base um conjunto de procedimentos comportamentais cujo objetivo é melhorar a capacidade do indivíduo nas relações sociais (HEIMBERG et al., 1977 apud SOUSA et al., 2022). Segundo o estudo realizado por Prado et al. (2022) crianças com TEA perdem grandes habilidades sociais por não conseguir estabelecer um vínculo com o meio social. Para Silva et al. (2020), o autismo é compreendido como um distúrbio global do desenvolvimento, no qual há o comprometimento de diversas áreas do psiquismo e do comportamento do indivíduo. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM-5 apud Iltchenco et al. (2022), os sinais do TEA surgem de forma gradual nos primeiros anos de vida marcado pelo desenvolvimento anormal na linguagem e interação social da criança. O diagnóstico por sua vez, leva em consideração a subjetividade de cada indivíduo, pois os sinais se apresentam de forma variada, razão pela qual se utiliza a expressão “espectro” na nomenclatura. O processo de avaliação da criança com suspeita de TEA deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar e deve contar com avaliações qualitativas, analise dos comportamentos apresentados pela criança, informações coletadas através de entrevistas com pais/cuidadores ou responsáveis pela criança, como também a utilização de instrumentos validados garantindo efetividade na tarefa (ILTCHENCO et al., 2022). De acordo com o estudo realizado por Iltchenco et al. (2022), aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa de um hospital pediátrico do município de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, Brasil (parecer n° 3.766.738), um dos sinais apresentados por crianças com TEA diz respeito a ausência do brincar simbólico, ou seja, de utilizar objetos e acessórios com o intuito de “faz de conta”. Tendo em vista, os autores objetivaram descrever características interacionais de três crianças com suspeita de TEA, a fim de auxiliar no rastreamento precoce 15 e no plano de intervenção adequado, de acordo com as limitações apresentadas. Deste modo, trouxe a importância do brincar enquanto método de avaliação diagnóstica para o TEA. Os pacientes participantes do estudo desenvolvido por Iltchenco et al. (2022) eram todos do sexo masculino com faixa etária de 3 anos a 4 anos e 6 meses provenientes do serviço de fonoaudiologia do hospital onde o mesmo foi realizado. Utilizou-se como instrumento avaliativo o protocolo PROTEA-R, o qual vem sendo utilizado por diferentes especialistas, a fim de rastrear a presença de comportamentos inerentes ao TEA. Tal protocolo busca avaliar a frequência, intensidade e peculiaridade dos sintomas através de registros qualitativos. Dentre estes, avalia-se os aspectos presentes no brincar, como: funcionalidade, simbolismo, cognição, coordenação, imitação, atenção compartilhada, engajamento social e movimentos estereotipados. O estudo iniciou-se com uma entrevista de anamnese pré-estabelecida no protocolo PROTEA-R realizada com pais/responsáveis por crianças com TEA. A fim de observar as características interacionais do brincar, de acordo com os itens do protocolo, foram realizados dois encontros com a criança. Nestes, a mesma só contava com a companhia do pesquisador e de brinquedos pré-estabelecidos como instrumentos do protocolo. Os brinquedos foram dispostos no chão visando o brincar livre, tendo como objetivo avaliar as respostas comportamentais apresentadas pela criança, tais como: resposta a atenção compartilhada, de engajamento social, de imaginação, de contato físico e de imitação (ILTCHENCO et al., 2022). Em um segundo momento, objetivou-se o brincar semiestruturado. Neste, os brinquedos foram entregues para a criança, um a um, a fim de observar a resposta visual, tátil e auditiva da mesma em relação ao objeto visando avaliar a busca por ajuda, a presença de comportamentos atípicos, de brincadeiras exploratórias e simbólicas inerentes a interação com o brinquedo (ILTCHENCO et al., 2022). Com base nas intervenções realizadas por Iltchenco et al. (2022), observou-se que o paciente 1- com idade de 4 anos e 2 meses optou na maioria das vezes por um brincar isolado, com objetos de encaixe e com animais de estimação. Nestas interações o menino colocou os objetos em ordem e separou os mesmos por cores e tamanhos. Apresentou falas com presença de onomatopeias e palavras isoladas. Observou-se também a tentativa de formar frases, porém, sem sucesso. Além disto, a criança apresentou déficit no contato visual e movimentos estereotipados. O paciente 2 – com idade de 3 anos e 6 meses apresentou boa interação com o pesquisador e no ato de brincar foram observados comportamentos tais como: o uso de todos os brinquedos dispostos na sala, a busca por ajuda - convidando o avaliador para auxiliar e 16 brincar junto, a presença de simbolismo, de atenção compartilhada e a presença de comportamentos de apego e empatia em relação aos familiares (ILTCHENCO et al., 2022). O paciente 3 – com idade de 4 anos apresentou momentos de interação com o avaliador e comportamentos de brincar em conjunto, de explorar os brinquedos, de realizar situações imaginativas com os mesmos, além de empolgação com o ato. Porém, não demonstrou contato visual e apresentou fala ecolálica, bem como frases sem contexto (ILTCHENCO et al., 2022). De acordo com os resultados obtidos através do estudo, observou-sepor parte das autoras Iltchenco et al. (2022) que o paciente 1 apresentou um risco mais elevado para o TEA, através de características mais evidentes de autismo como descritas acima decorrentes do ato de brincar funcional. Ainda segundo as autoras, Iltchenco et al. (2022), embora os sinais surjam nos primeiros anos de vida, o diagnóstico só pode ser confirmado oficialmente após os três anos, pois é na infância que o cérebro está em processo de desenvolvimento e deste modo, apresenta mudanças em suas funções cognitivas através das experiências vividas pela criança. Devido à está condição, o rastreamento precoce de suspeitas de TEA e sua identificação de forma correta podem auxiliar no desenvolvimento infantil, uma vez que possibilita à criança um acompanhamento correto e programas de intervenção adequados para o TEA. Segundo Prado et al. (2022), são diversas as abordagens que podem ser utilizadas como meio de intervenção para o TEA, e estás devem levar em consideração a subjetividade de cada um, explorando suas capacidades e desafios de forma individual. Deste modo, os meios de intervenção devem ser elaborados por uma equipe multiprofissional, que vai analisar de forma única e individual as comorbidades e necessidades inerentes ao indivíduo com TEA. De acordo com o estudo realizado pelo autor citado acima, um dos principais focos dentro da promoção de um plano de intervenção no desenvolvimento da criança com TEA diz respeito aos domínios sociais que se apresentam de forma empobrecida no repertório comportamental de pessoas com autismo. Deste modo, é necessário que os programas de intervenção visem a aquisição de habilidades básicas, tais como imitação, competências sociais e de jogos, comunicação e expressão. Esse conjunto de habilidades junto a eficácia de sua aplicabilidade e aprendizagem contribuirá na adaptação geral da pessoa com TEA, auxiliando na interação deste com o meio social (PRADO et al., 2022). De acordo com Serra (2020) apud Prado et al. (2022) é de grande importância que no projeto de intervenção elaborado para criança com TEA seja ofertado manejo de comportamentos e oportunidades de aprendizagem. Para os autores, a modelagem social é uma das principais ferramentas capazes de possibilitar a aquisição de habilidades sociais. 17 Contudo, o brincar funcional pode ser um grande aliado na construção de habilidades sociais desde que seja manejado de forma correta, de acordo com a necessidade de cada indivíduo (PRADO et al., 2022). Segundo Moura et al. (2021), através do brincar a criança pode ampliar o seu contato com o mundo, enriquecendo relações sociais e individuais, já que o brincar possibilita vivências capazes de inserir a criança no âmbito sociocultural. De acordo com o estudo realizado por Moura et al. (2021), crianças com TEA são impactadas pela ausência do repertório comportamental inerente ao brincar. Tais impactos refletem no desenvolvimento infantil e em aspectos referentes a linguagem, comunicação e desenvolvimento de habilidades sociais. Segundo o DSM-5 apud Iltchenco et al. (2022), é notório observar ausência de brincadeiras imaginativas em crianças com TEA, como por exemplo, explorar e manipular brinquedos de acordo com a sua função simbólica. Além disso, há um déficit em relação as brincadeiras de imitação social e de interação com pares trazendo informações importantes acerca da compreensão de habilidades sociais, cognitivas e comunicativas de crianças autistas. Para Bagarollo, Ribeiro e Panhoca (2013) apud Moura et al. (2021), as dificuldades relacionadas ao brincar presentes em crianças com TEA não se resume apenas a causas biológicas – presentes nesta condição, mas também a causas comportamentais caracterizadas pelo déficit de repertório adquirido através do brincar, bem como, dificuldade em compartilhar e elaborar brincadeiras e procura pelo outro com a intenção de interagir. No entanto, segundo Moura et al. (2021), o ato de brincar não deve ser negado a criança com TEA, visto que elas também estão em processo de desenvolvimento e deste modo possuem condições de aprender por meio da interação com o outro. Dessa forma, a medida em que a criança é exposta ao ato de brincar também é exposta a estímulos capazes de desenvolver habilidades sociais, uma vez que através das brincadeiras é possível trabalhar estratégias que motivem o aprendizado da autorregulação, da empatia, de situação que demandem capacidade de adaptação e de comportamentos assertivos durante o contexto do brincar e da interação com pares. Neste processo, a psicoterapia surge como peça fundamental, uma vez que atua como mediador entre a criança e o mundo externo. De acordo com Prado et al. (2022), seguindo um plano de intervenção e meta com objetivos simples o terapeuta pode ensinar habilidades sociais através do brincar, como por exemplo, engajamento social e aquisição de comportamentos assertivos na interação com o outro através do jogo de memória, onde na troca de turno com o terapeuta, a criança pode aprender a “parar”, “esperar”, “respeitar” e além disso, desenvolver a comunicação expressiva através da nomeação de figuras presentes no jogo. 18 Os jogos de perseguição também atuam como meio de intervenção para aquisição de habilidades sociais, pois através deste a criança pode correr atrás do terapeuta estabelecendo uma interação ou até mesmo cair no chão e pedir ajuda para se levantar. O terapeuta também pode inverter os papéis e ensinar a criança através da modelação quais comportamentos ela poderia apresentar nesta brincadeira (PRADO et al., 2022). Jogos de representação também podem auxiliar na construção de habilidades sociais, nestes, o terapeuta pode realizar a brincadeira em conjunto ou apresentar papeis para a criança, que através do espelho social pode aprender com o terapeuta. Por exemplo, ao alimentar a boneca, dar banho e cobrir para não passar frio pode estar exercendo a habilidade de empatia combinada às diversas funções relacionadas ao tema do jogo, o qual de forma simples e natural pode ensinar habilidades indispensáveis para a competência social da criança com TEA (PRADO et al., 2022). Segundo Tavares (2019) apud Prado et al. (2022), neste quesito, o terapeuta pode utilizar o brincar como meio de estabelecer vínculo com a criança, a medida em que ganha sua confiança usando objetos de seu interesse, ou que se torne a principal companhia de jogo para criança. Assim, quando bem estabelecido esse vínculo mediado pelo brincar pode auxiliar no alcance de objetivos traçados pelo terapeuta. De acordo com Rogers e Dawson (2014) apud Prado et al. (2022), através do brincar funcional, o repertório comportamental da criança com TEA é enriquecido. Além disso, através das informações coletadas referentes a uma pesquisa de intervenção realizada por Pinho (2018) apud Moura et al. (2021), observou-se que atividades lúdicas incentivam a aquisição e desenvolvimento de habilidades sociais de crianças com TEA, uma vez que possibilitam a construção de um momento prazeroso e funcional com pares, desenvolvendo a capacidade de imitação e auxiliando na aquisição de um repertório simbólico. Para Moura et al. (2021), através do brincar a criança é capaz de manejar suas emoções; desenvolver empatia através da interação com o outro – de forma que ao perceber o outro observe que ele também é dotado de emoções; autonomia – uma vez que através do brincar a criança entra em contato com as escolhas, atitudes, tomadas de decisão, organização do ambiente, resolução de conflitos e definição de regras e estratégias para atender as demandas que surgirão no processo do brincar. Segundo Silva et al. (2020), as brincadeiras podem auxiliar também na aquisição de comportamentos referentes ao expressar assertivo da agressividade, manter domínio sobre a angustia, manejo em situações imediatas e futuras, alémde contato social, fazendo com que está ação atue como um meio de estimular o desenvolvimento e aprendizagem infantil. Segundo 19 Moura et al. (2021), através das brincadeiras é possível ganhar a atenção da criança e assim a aprendizagem pode ocorrer mediante a esta motivação. O estudo realizado por Silva e Jung (2020) argumenta tal informação à medida em que objetiva através de um estudo qualitativo de caráter exploratório compreender a influência lúdica de um instrumento denominado Lego serious Play no desenvolvimento de pessoas com TEA. Tal instrumento visa, mediante o brincar de lego, estimular a atenção compartilhada, resolução de problemas, comunicação, raciocínio, diálogo e principalmente habilidades sociais. Os autores iniciaram o estudo com questionários semiestruturados para pais/responsáveis maiores de 18 anos de crianças com TEA. Foram selecionados 10 participantes e destes todos colaboraram com a pesquisa. A partir dos dados coletados nos questionários aplicados as autoras realizaram uma complementação com achados teóricos acerca da temática (SILVA; JUNG, 2020). Os resultados alcançados com o estudo em questão, realizado por Silva et al. (2020), trouxeram uma estimativa positiva e otimista em relação a convivência social de indivíduos com TEA inseridos nas atividades desenvolvidas com a LEGO Terapia. Deste modo, os autores concluíram que a atividade lúdica em si é peça fundamental no desenvolvimento integral da criança com TEA, pois através dela o indivíduo é capaz de expandir ideias, construir identidade, bem como habilidades e potenciais. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo teve como objetivo identificar a importância do brincar enquanto instrumento psicoterapêutico para o desenvolvimento de habilidades sociais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dessa forma, teve seus objetivos alcançados, uma vez que os achados deste estudo sugerem que a brincadeira é o principal espaço para se observar características do desenvolvimento social da criança com TEA, bem como as habilidades sociais presentes na mesma. Além disso, possibilitou o levantamento de pesquisas relacionadas à atuação da Psicologia com crianças no TEA. Além do exposto, o estudo sugere que o brincar pode ser utilizado como instrumento para o diagnóstico precoce de TEA, uma vez que atua como mediador da criança para/com o mundo, trazendo a compreensão desta acerca de diversas etapas inerentes ao desenvolvimento infantil. Também, auxilia na construção de um plano de intervenção psicoterapêutico especializado para cada criança, capaz de potencializar o desenvolvimento de habilidades sociais, principalmente no que diz respeito a socialização, assertividade e empatia. 20 Contudo, considerando a temática, entende-se que o artigo possuí limitações, uma vez que analisou somente literatura em língua portuguesa e utilizou como método a revisão sistemática. Sendo assim, apesar do método utilizado incluir estudos relacionados à temática trazendo proximidade para a atuação da Psicologia neste contexto, não se refere à uma pesquisa aplicada, possibilitando dados para a Psicologia aplicada. Outra questão em evidência, é que apesar da pesquisa abranger estudos realizados nos últimos 5 anos, os 6 artigos selecionados para analise correspondem aos anos de 2020 a 2022 e em sua maioria são revisões sistemáticas. Observa-se que para Psicologia trata-se de um tema recente, que necessita de mais estudos e pesquisas aplicadas a partir da abordagem deste estudo, a fim de possibilitar maior compreensão acerca da utilização desta ferramenta como instrumento psicoterapêutico que busque potencializar a aquisição de habilidades sociais de crianças com TEA. Considerando a importância do lúdico na área da psicoterapia infantil, o brincar ganha espaço seja no estabelecimento de um vínculo terapêutico ou na construção de habilidades sociais de crianças com TEA. Em suma, devido alta incidência de crianças diagnosticadas com TEA e a busca de um tratamento psicoterapêutico que garanta melhores condições de socialização para as mesmas, nota-se a importância do atuar da Psicologia neste contexto, uma vez que, enquanto ciência pautada no compromisso social pode contribuir para mais estudos e mais reflexões acerca da temática, bem como na garantia de um plano de intervenção adequado que leve em consideração a subjetividade de cada criança, a fim de auxiliá-las nos desafios oriundos ao Espectro. REFERÊNCIAS Associação Americana de Psicologia (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 - TR, 5. ed, texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023. Acesso em: 04 de abril de 2023. DEL PRETTE, Zilda AP; DEL PRETTE, Almir. 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