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Diminuição da Litigiosidade na Reforma Trabalhista

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DIMINUIÇÃO DA LITIGIOSIDADE NA RELAÇÃO CAPITAL/TRABALHO NA 
REFORMA TRABALHISTA 
 
 
 
 
 
 
 
MARCELLO ESPINOSA1 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O estudo propõe-se a analisar as principais alterações ao processo do trabalho veiculadas por 
intermédio da Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017 (reforma trabalhista) visando a 
diminuição do número de ações propostas e de recursos apresentados perante as cortes 
superiores, como a disciplina da prescrição intercorrente no processo do trabalho, e a 
elaboração de novas regras para o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios 
nas hipóteses de sucumbência recíproca, além de alterações para limitar o ativismo judicial na 
interpretação das súmulas e enunciados editados pelas Cortes Trabalhistas. 
 
Palavras-Chave: Direito do Trabalho. Processo do Trabalho. Reforma Trabalhista 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 O autor é Procurador do Município de Diadema-SP. Graduado pela Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo. Especialista em Gestão Pública pela EAESP da Fundação Getúlio 
Vargas. Advogado militante na área do contencioso cível no Estado de São Paulo. 
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1 INTRODUÇÃO 
 
 
Um dos objetivos principais que motivaram a edição da Lei nº 13.467, de 13 de julho 
de 2017, veiculando a chamada “reforma trabalhista”, foi o de conferir maior segurança 
jurídica às relações entre trabalhadores e empregadores, com a diminuição da litigiosidade na 
dinâmica capital/trabalho, evitando-se, desta forma, a cultura da judicialização dos conflitos 
trabalhistas. 
 
De fato, um dos grandes problemas enfrentados pela Justiça de Trabalho é o excesso 
de processos judiciais, sendo certo que muitos deles decorrem da própria legislação 
trabalhista, que acaba estimulando o ingresso de ações e a interposição de recursos 
protelatórios. 
 
A litigiosidade excessiva apresenta, também, como resultado indesejado o chamado 
ativismo judicial, que leva os tribunais a extrapolarem sua função precípua de interpretar a lei, 
para, muitas vezes, decidirem no sentido oposto ao texto legal. 
 
De fato, muitas vezes os tribunais trabalhistas, por meio da edição de súmulas, 
acabam exercendo verdadeira função legislativa, criando normas gerais e abstratas. Assim, 
um instrumento que deveria ter a finalidade precípua de trazer segurança jurídica ao 
jurisdicionado, garantindo a previsibilidade das decisões, é utilizado de modo diverso. 
 
Diante de tal quadro, a reforma trabalhista se preocupou em impor limites para 
aplicação das súmulas de jurisprudência, freando o ativismo judicial excessivo. 
 
O presente estudo propõe-se a analisar as principais modificações instituídas pela Lei 
nº 13.467, de 13 de julho de 2017 estimulando a solução extrajudicial de conflitos, 
diminuindo a litigiosidade na relação capital/trabalho, com a redução do número de ações 
judicias, e estabelecendo limites para o ativismo judicial. 
 
 
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2 MUDANÇAS VISANDO A REDUÇÃO DO NÚMERO DE AÇÕES E DA 
POSSIBILIDADE DE RECURSO ÀS CORTES SUPERIORES E ESTABELECENDO 
LIMITES AO ATIVISMO JUDICIAL 
 
 
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho, no ano de 2016, as Varas do Trabalho 
receberam, em todo o Brasil. um total de 2.756.159 reclamações, e foram iniciadas 743.410 
execuções trabalhistas, totalizando mais de três milhões de novos processos judiciais. 
 
No final deste mesmo ano de 2016, existiam 1.843.336 reclamações trabalhistas e 
2.4501.722 execuções pendentes de julgamento nos Tribunais Regionais do Trabalho das 24 
regiões brasileiras. 
 
É importante destacar que, no período em questão, foram remetidos aos Tribunais 
Regionais do Trabalho 760.877 processos em grau de recurso. Ao Tribunal Superior do 
Trabalho, por sua vez, foram remetidos 239.765 processos em grau de recurso, para serem 
analisados por apenas 27 ministros, o que totaliza uma média anual de mais de 8.800 novos 
processos para cada magistrado. 
 
Portanto, este monumental nível de ações judiciais e recursos apresenta um dos 
maiores desafios a serem enfrentados pelo Judiciário Trabalhista, tornando inevitável a 
alteração da legislação processual, com o intuito de conter o número crescente de novas ações 
e diminuir a possibilidade de apresentação de infindáveis recursos, sobretudo perante a Corte 
Superior Trabalhista. 
 
Um dos institutos jurídicos que busca evitar a perpetuação indevida de litígios, que 
geram grande insegurança jurídica no meio social, é o da prescrição, que nada mais é, em 
síntese, do que a perda do direito de ação face ao seu não exercício em um determinado 
intervalo de tempo. 
 
Neste aspecto, podemos destacar a inclusão pela reforma trabalhista dos parágrafos 
segundo e terceiro ao artigo 11 da Consolidação das Leis do Trabalho, que estabelece a 
prescrição quinquenal e bienal dos créditos trabalhistas, determinando, respectivamente, que, 
no caso de pedido de prestações sucessivas decorrente de alteração ou descumprimento do 
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pactuado, eventual prescrição abrangerá todas as parcelas, mesmo as vincendas, exceto 
quando o direito à parcela esteja assegurado em lei, e que a interrupção da prescrição somente 
ocorrerá na hipótese de ajuizamento de reclamação trabalhista, mesmo perante juízo 
incompetente, e mesmo que a reclamação venha a ser extinta sem resolução de mérito. 
 
Portanto, referidas alterações legislativas nada mais fizeram do que tornar expresso 
na Consolidação das Leis Trabalhistas os entendimentos que já vinham sendo adotados pelo 
Tribunal Superior do Trabalho, consubstanciados nas Súmulas 268 e 294 
 
Outra mudança no mesmo sentido foi a inclusão do artigo 11-A à Consolidação das 
Leis do Trabalho, disciplinando a chamada prescrição intercorrente, nos seguintes termos: 
 
Art. 11-A. Ocorre a prescrição intercorrente no processo do trabalho 
no prazo de dois anos. 
§ 1o A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se quando o 
exequente deixa de cumprir determinação judicial no curso da 
execução. 
§ 2o A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida ou 
declarada de ofício em qualquer grau de jurisdição (BRASIL, 2017). 
 
 
Prescrição intercorrente nada mais é do que aquela que se verifica entre a 
condenação e o início da execução, ou mesmo no curso da execução. Ou, nos dizeres de 
Mauro Schiavi: 
 
A prescrição intercorrente se aplica ao processo do trabalho, após o 
trânsito em julgado, nas fases processuais em que a iniciativa de 
promover os atos do processo dependem exclusivamente do autor, 
como na fase em que o reclamante é intimado para apresentar os 
cálculos e se mantém inerte pelo prazo de dois anos. Já na execução 
propriamente dita, por exemplo, a não apresentação pelo reclamante 
dos documentos necessários para o registro da penhora, no prazo de 
dois anos após a intimação judicial, faz gerar a prescrição 
intercorrente.(SCHIAVI, 2014. p. 476). 
 
A possibilidade de reconhecimento da prescrição intercorrente no processo do 
trabalho sempre foi um tema bastante controverso, sobretudo face ao princípio do impulso 
oficial, previsto na redação original do artigo 878 da Consolidação das Leis do Trabalho, 
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estabelecendo que a execução poderia ser promovida por qualquer interessado, inclusive pelo 
próprio Juiz ou Tribunal. 
 
Tanto isto é verdade que o Tribunal Superior do Trabalho e o Supremo Tribunal 
Federal possuíam súmulas diametralmente opostas referente ao tema, ou seja, a Súmula nº 
114 do Tribunal Superior do Trabalho determinava ser inaplicável a prescrição intercorrente 
na Justiça do Trabalho, ao passo que a Súmula nº 327 da Suprema Corte estipulava a 
admissibilidade da prescrição intercorrente no direito laboral. 
 
Tal situação, que gerava grande insegurança jurídica, foi definitivamente resolvida 
pela reforma trabalhista, em primeiro lugar, através da mitigação do princípio do impulso 
oficial pela nova redaçãodada ao caput do artigo 878 da Consolidação das Leis do Trabalho, 
permitindo a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em 
que as partes não estiverem representadas por advogado, e, também, pelo reconhecimento 
expresso da possibilidade de prescrição intercorrente no processo do trabalho, com a criação 
do supra mencionado artigo 11-A da CLT. 
 
Outra condição que, para muitos estudiosos, gera um excesso de demanda de novos 
processos é a própria rigidez da legislação trabalhista, que se mostra extremamente detalhada 
e confusa, gerando insegurança jurídica e tornando difícil o seu integral cumprimento pelo 
empregador, somado à existência de regras processuais que estimulam o ingresso de ações e a 
interposição de numerosos recursos. 
 
Realmente, as normas processuais da CLT anteriores à reforma de 2017 constituíam 
um verdadeiro convite à litigiosidade por parte do trabalhador, que, em nome de sua 
hipossuficiência face ao empregador, não se sujeitava a qualquer risco ao ingressar com uma 
reclamação trabalhista. 
 
Tal situação gerou uma cultura entre os litigantes e seus advogados de apresentação 
de lides temerárias, com diversos pedidos sem qualquer fundamento, já que, mesmo em caso 
de eventual insucesso do reclamante em ver suas pretensões atendidas, o mesmo, pela 
sistemática antiga, sequer tinha que arcar com as custas processuais ou o ônus da 
sucumbência, ou seja, o reclamante não sofria qualquer consequência negativa face à eventual 
improcedência de seus pedidos, e sempre poderia “ganhar alguma coisa”. 
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Essa realidade foi alterada pela reforma trabalhista de 2017, que estabeleceu novas 
regras para o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios nas hipóteses de 
sucumbência recíproca, abrindo novas possibilidades de condenação da parte vencida ao 
pagamento de honorários advocatícios em benefício do patrono da parte contrária. 
 
Para a correta apuração das parcelas devidas nas hipóteses de procedência parcial dos 
pedidos formulados na inicial, entretanto, é necessário que a parte formule de maneira 
adequada os limites de sua pretensão econômica. 
 
Para tanto, a Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017 deu nova redação ao parágrafo 
primeiro do artigo 840 da Consolidação das Leis do Trabalho, estabelecendo um novo 
requisito para a inicial trabalhista, qual seja, a necessidade de pedido certo, determinado e 
com indicação de valor, na seguinte conformidade: 
 
Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal. 
§ 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, 
a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o 
dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e com indicação 
de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu 
representante. (BRASIL, 2017). 
 
Manoel Antonio Teixeira Filho, ao se debruçar sobre o tema, elencou os motivos 
para a referida inovação processual: 
 
A nova redação dada a esse preceptivo legal visou, a um só tempo, a 
atender: 
a. a preceito de ordem ética, por modo a impedir a formulação de 
pedidos ilíquidos, ou, se líquidos, que excedam a própria repercussão 
pecuniária daquilo que o direito invocado concede. É oportuno 
observar que, não raro, alguns autores, mesmo podendo indicar o 
valor de cada pedido lançado na inicial, vinham se omitindo em fazê-
lo, motivados por uma estratégia ardilosa destinada a fazer supor ao 
réu tratar-se de uma causa de pequena repercussão econômico-
financeira, levando-o a negligenciar na elaboração da defesa. 
Acrescente-se a isso, o hábito de tais autores atribuírem à causa um 
valor muito inferior ao que decorreria da soma dos pedidos (se forem 
apresentados de maneira líquida), e ter-se-á a medida da conveniência 
da estratégia processual que mencionamos; 
b. a uma regra pragmática, porquanto será da diferença entre o valor 
do pedido, indicado na inicial, e o valor do acolhido pela sentença que 
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se fará incidir o princípio da sucumbência (CLT, art. 791-A), por força 
do qual o autor será condenado a pagar honorários de advogado à 
parte contrária, naquilo em que não tiver êxito (CLT, art. 791-A, §3º). 
Estabelece essa norma legal: ‘Na hipótese de procedência parcial, o 
juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a 
compensação entre os honorários’ (TEIXEIRA FILHO, 2017, p. 
109). 
 
Na exposição de motivos do Projeto de Lei da reforma trabalhista (PL nº 
6.787/2016), foram apresentadas as justificativas para a mencionada modificação, nos 
seguintes termos: 
 
As alterações promovidas no art. 840 têm como fundamento principal 
exigir que o pedido, nas ações trabalhistas, seja certo, determinado e 
que tenha o seu valor devidamente indicado. 
A exigência de que o pedido seja feito de forma precisa e com 
conteúdo explícito é regra essencial para garantia da boa-fé 
processual, pois permite que todos os envolvidos na lide tenham pleno 
conhecimento do que está sendo proposto, além de contribuir para a 
celeridade processual com a prévia liquidação dos pedidos na fase de 
execução judicial, evitando-se novas discussões e, consequentemente, 
atrasos para que o reclamante receba o crédito que lhe é devido 
(BRASIL, 2016). 
 
Com relação ao cálculo das custas e emolumentos, a reforma trabalhista deu nova 
redação ao caput do artigo 789 da Consolidação das Leis do Trabalho, estabelecendo o teto de 
quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o 
arbitramento das custas relativas aos processos de conhecimento nas ações e procedimentos 
de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça 
Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista. 
 
Quanto à gratuidade processual, a reforma estabeleceu novas regras, incluindo os 
parágrafos terceiro e quarto ao artigo 789 da Consolidação das Leis do Trabalho, 
determinando que, para a concessão dos benefícios da justiça gratuita, não basta mera 
declaração da parte de que não possui condições de pagar as custas do processo sem prejuízo 
do sustento próprio ou de sua família, competindo à mesma a efetiva comprovação da 
insuficiência de recursos, além de não perceber salário superior a 40% (quarenta por cento) do 
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. 
 
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De fato, um dos grandes desafios enfrentados pela Justiça do Trabalho é a quantidade 
de pedidos de gratuidade processual apresentados nas reclamações trabalhistas, sem a 
necessária comprovação da efetiva condição de hipossuficiência, situação que, aliada à 
ausência de sucumbência, e diante da litigância sem risco, acaba por estimular a proposição 
indevida de reclamações sem qualquer fundamento fático ou legal. 
 
Neste sentido, constou expressamente da exposição de motivos do projeto de Lei nº 
6.787/2016: 
 
A redação sugerida aos §§ 3º e 4º do art. 790 da CLT visa justamente a dar 
efetividade ao princípio da gratuidade, transcrevendo os termos da 
Constituição no § 4º, enquanto o § 3º exclui a presunção de insuficiência de 
recursos, admitida na parte final da redação atual. 
Ressalte-se que o objetivo não é dificultar o acesso à Justiça, mas, pelo 
contrário, torná-la efetiva, evitando-se as ações em que se solicita, e muitas 
vezes é concedida, a justiça gratuita para pessoas que dela não poderiam 
usufruir, mediante mero atestado de pobreza. Com essa medida, afastam-se 
as pessoas que não se enquadram nos requisitos de “pobreza” e se garante 
que o instituto seja utilizado por aqueles que realmente necessitam 
(BRASIL,2016). 
 
 Com relação ao pagamento de honorários periciais, a reforma trabalhista deu nova 
redação ao artigo 790-B da CLT, estabelecendo de forma expressa que a responsabilidade 
pelo pagamento de referida verba é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda 
que beneficiária da justiça gratuita, acabando devez com a polêmica existente sobre o tema, e 
desestimulando os reclamantes a solicitarem perícias desnecessárias, já que os mesmos terão 
que arcar com os respectivos honorários na hipótese de improcedência do pedido, mesmo que 
litiguem sob o manto da Justiça Gratuita. 
 
De fato, dados divulgados pelo TST demonstram que a União custeou, no ano de 
2016, a título de honorários periciais, valores entre dez a vinte milhões de reais por ano, para 
cada um dos vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho, isto considerando as demandas 
que foram julgadas improcedentes 
 
É importante destacar que referida modificação em nenhum momento visa 
dificultar o acesso à Justiça, na medida em sempre que o pedido objeto da perícia é julgado 
procedente, é a parte contrária, no caso, o empregador, quem arcará com referida despesa. 
Assim, pretende-se evitar os pedidos de perícia sem qualquer critério. 
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Ao disciplinar o pagamento de honorários de sucumbência, a Lei nº 14.467, de 13 de 
julho de 2017 incluiu na Consolidação das Leis do Trabalho o artigo 791-A, nos seguintes 
termos: 
 
Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão 
devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% 
(cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor 
que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido 
ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. 
§ 1o Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda 
Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo 
sindicato de sua categoria. 
§ 2o Ao fixar os honorários, o juízo observará: 
I - o grau de zelo do profissional; 
II - o lugar de prestação do serviço; 
III - a natureza e a importância da causa; 
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu 
serviço. 
§ 3o Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários 
de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários. 
§ 4o Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha 
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de 
suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência 
ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão 
ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado 
da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir 
a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de 
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do 
beneficiário (BRASIL, 2017). 
 
É importante salientar, entre as modificações apresentadas, a já citada possibilidade 
de fixação de honorários para os advogados de ambas as partes na hipótese de sucumbência 
recíproca, vedada a compensação entre os mesmos, ainda que uma das partes seja beneficiária 
da Justiça Gratuita, desestimulando, desta forma, a formulação na inicial, ao lado das 
demandas legítimas, de uma série de pedidos sem qualquer fundamento legal, já que, a partir 
de agora, o reclamante também estará sujeito à condenação ao pagamento de honorários ao 
advogado da parte contrária, em relação aos pedidos que forem julgados improcedentes. 
 
Para limitar a possibilidade de recursos para as Cortes Superiores, a reforma incluiu 
os parágrafos primeiro a sexto ao artigo 896-A da CLT, fixando critérios para a verificação da 
chamada transcendência, requisito de admissão do recurso de revista estabelecido pela 
Medida Provisória nº 2.226, de 04 de setembro de 2001, da seguinte forma: 
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Art.896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, 
examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação 
aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. 
§ 1o São indicadores de transcendência, entre outros: 
I - econômica, o elevado valor da causa; 
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência 
sumulada do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal 
Federal; 
 III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social 
constitucionalmente assegurado; 
 IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação 
da legislação trabalhista. 
§ 2o Poderá o relator, monocraticamente, denegar seguimento ao 
recurso de revista que não demonstrar transcendência, cabendo agravo 
desta decisão para o colegiado. 
§ 3o Em relação ao recurso que o relator considerou não ter 
transcendência, o recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a 
questão da transcendência, durante cinco minutos em sessão. 
§ 4o Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do 
recurso, será lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que 
constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tribunal. 
§ 5o É irrecorrível a decisão monocrática do relator que, em agravo de 
instrumento em recurso de revista, considerar ausente a transcendência 
da matéria. 
 § 6o O juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela 
Presidência dos Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise 
dos pressupostos intrínsecos e extrínsecos do apelo, não abrangendo o 
critério da transcendência das questões nele veiculadas. (BRASIL, 
2017). 
 
Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça, para o ano de 2016, a 
taxa de recorribilidade da Justiça Comum Estadual é de 9,5%, ao passo que na Justiça do 
Trabalho este número atinge o valor de 52%, situação que, por si só, justifica a tentativa de 
restringir a possibilidade de apresentação de recursos, sobretudo perante o Tribunal Superior 
do Trabalho 
 
A se destacar da referida alteração legislativa, além de uma tentativa de estabelecer 
critérios concretos para definir o vago conceito da transcendência, a determinação da 
irrecorribilidade da decisão que considerar ausente a transcendência do recurso, tanto em 
decisão monocrática do relator quanto na decisão colegiada, limitando ainda mais a já restrita 
admissibilidade do referido recurso judicial. 
 
 
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Por fim, para conter o chamado ativismo judicial, podemos citar a inclusão pela 
reforma trabalhista do parágrafo segundo ao artigo 8º da CLT, determinando que as súmulas e 
enunciados editados pelas Cortes Trabalhistas não poderão restringir direitos legalmente 
previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei, tentando evitar, assim, que os 
tribunais trabalhistas extrapolarem sua função de interpretar a lei por intermédio de súmulas, 
para, indo além, decidirem expressamente contra o texto legal, desvirtuando importante 
instrumento que deveria ter a finalidade precípua de trazer segurança jurídica ao 
jurisdicionado, garantindo a previsibilidade das decisões. 
 
 
3 CONCLUSÃO 
 
 
As alterações legislativas analisadas no presente estudo tiveram por objetivo reduzir 
o número de ações judicias apresentadas perante as Cortes Trabalhistas e a possibilidade de 
apresentação de recursos protelatórios, tornando o processo judicial lento e ineficiente; bem 
como pretendendo desestimular o chamado ativismo judicial. 
 
A análise do efetivo freio ao ativismo judicial somente poderá ser realizada a 
posteriori, mediante o estudo das novas súmulas e orientações judiciais a serem editadas pelas 
cortes trabalhistas. 
 
Por outro lado, em relação à diminuição do número de ações judiciais e de recursos 
apresentados perante a Justiça do Trabalho, únicos dados que podem ser quantitativamente 
medidos, é certo que, mesmo diante do pequeno lapso temporal de vigência da nova 
legislação, já existem resultados preliminares que podem ser objeto de análise. 
 
De acordo com dados divulgados pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), 243 mil 
pessoas entraram com novas ações em outubro de 2017, um mês antes da entrada em vigor da 
lei. O número subiu para quase 290 mil processos em novembro, um recorde para a série 
histórica, motivado provavelmente pelatentativa dos trabalhadores de se anteciparem ao 
início da vigência da lei. 
 
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Ainda segundo o TST, entretanto, nos três primeiros meses deste ano de 2018, com 
as alterações legislativas em plena vigência, foi registrada uma significativa queda da ordem 
de 45% no número de processos trabalhistas em relação aos anos de 2016 e 2017. 
 
Portanto, se considerarmos as informações divulgadas, é certo que a reforma 
trabalhista está atingindo, ao menos em parte, uma das finalidades às quais se propôs, fazendo 
com que os reclamantes sejam mais responsáveis quando do ingresso de novas ações, 
temerosos em verem seus pedidos julgados improcedentes, com a consequente condenação ao 
pagamento das custas processuais e gastos com os advogados da empresa, desestimulando, 
desta forma, a litigância frívola ou aventureira, o que certamente acarretará maior celeridade 
na tramitação processual, com benefícios para toda a sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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