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Sintetizando em poucas palavras, podemos dizer que o cinema vietnamita apoia-se, desde o seu nascimento, em temas sociopolíticos. A história do Vietnam é marcada por guerras e dominação desde antes de Cristo (internamente e em relação a vizinhos), apesar da fama da guerra contra os EUA, no século passado. Antes do conflito com os EUA a dominação foi por parte dos franceses. Este último fator é crucial para que se entenda o cenário ideológico nacionalista e socialista que se desenvolveu no país na primeira metade do século passado; uma vez que a burguesia “vietnamita” era composta por franceses que ali se firmaram e uma ínfima elite realmente étnica. Esses ideais socialistas nasceram, sobretudo, de estudos de vietnamitas no exterior (China e França). Esses ideais prontamente inspiraram-se na propaganda revolucionária russa (Eisenstein). Daí os profissionais vietnamitas da área começaram os seus esforços. 
Desta forma, ao contrário de nações em que o cinema nativo primeiramente exerceu um papel refletor de culturas externas (tanto de sua retratação quanto das técnicas cinematográficas externas); ou de nações que já iniciaram o seu fazer cinematográfico sem essa “contaminação”, mas com objetivos muito menos sociopolitizados; o cinema vietnamita tido como marco inicial (deve-se considerar que já houve fazer cinematográfico local anos, mas sob mais “baixa poeira”) é intrínseco a esse tom político – como não poderia deixar de ser.
O cinema considerado por alguns (como Bao e Ngoc) como o marco inicial é que já temos como um cinema totalmente revolucionário (iniciado no mesmo ano em que findou a Segunda Guerra); que criticava, respectivamente, a colonização (francesa) e o imperialismo (estadunidense). Assim, o artista tinha um papel intelectual e uma missão conscientizadora dentro da esquerda política no país. Trinh Mai Diem dividiu o cinema do Vietnam em três fases, organicamente; pois a primeira consistia no surgimento, a segunda na construção maior dos alicerces, e a terceira na consolidação final desse cinema, até os dias de hoje. As principais obras dos anos iniciais foram documentários. A primeira fase foi composta de obras mais simples e menos recursos – o que mudou na fase seguinte, pelo amparo do Estado. A segunda fase, além da institucionalização do cinema, teve como grande ocupação tratar da temática da unificação do país, que passava por forte instabilidade política interna. A terceira fase, iniciada após a retirada dos EUA, foi marcada pela ameaça da China (o que reforça o caráter sempre conflituoso da história do país e, consequentemente, de suas produções cinematográficas). Apesar dessa ameaça, materialmente a nação encontrava-se mais munida de aparatos técnicos para consolidar de vez a sua sétima arte, o que permanece até hoje; e ainda sobre centralização estatal, característica muito compartilhada pelo cinema chinês.
Da mesma forma que o cinema vietnamita, o chinês pauta-se nos âmbitos ideológicos, sociais, políticos e culturais (sendo este último mais reforçado do que no caso do Vietnam, pelas próprias diferenças históricas dos países). O controle do Estado é muito forte, e o principal aspecto acarretado por isso é a ideologia do Partido Comunista Chinês. Esse controle inicial, coincidindo com as próprias transformações políticas da China, resultou em cisões entre artistas e profissionais (o que até mesmo resultou em exílios), e ao mesmo tempo trouxe maior profissionalização para a sétima arte chinesa. O cinema revolucionário russo, assim como no Vietnam, permeou as intenções e inspirações do Estado chinês. As restrições econômicas impostas pelo regime político comunista, junto da censura, tiveram papel definidor no cinema chinês da segunda metade do século XX. Apesar de a censura ainda permanecer, na segunda metade da segunda metade do século passado o país iniciou um processo de reformas econômicas, que acabou exercendo a sua influência sobre o cinema. 
O controle exercido não se dá apenas em relação à produção, mas à distribuição. A preocupação com a proporção da entrada de filmes estrangeiros (sobretudo, estadunidenses) permanece muito forte, apesar de certa flexibilização nos últimos anos. 
Diferentemente da divisão vietnamita, o cinema chinês é dividido por alguns estudiosos em seis fases. A primeira tinha obras com uma estética mais comercial e próxima da hollywoodiana; enquanto a segunda voltou-se mais para os elementos culturais locais e realistas (o que cinema vietnamita buscou mais cedo). A terceira ganhou contornos mais políticos (com grande enfoque na luta de classes), e ainda atendo-se ao estilo realista adquirido na fase anterior; mas os cineastas só passaram a ser realmente formados num contexto totalmente socialista na fase seguinte.
A quinta fase foi a primeira a desafiar o realismo instaurado a partir da segunda, através de maior experimentação (deixando de lado a linearidade da narrativa, por exemplo); e passou a ser reconhecida e premiada internacionalmente. Por fim, a sexta fase volta-se menos a ideologias políticas e mais a questões sociais internas de forma ampla; mostrando mais subalternos (ladrões, prostitutas), tratando de temas geracionais (mudanças de vida dos mais jovens), e ganhando variedades estéticas – uma vez que a amplitude passou a ser tamanha, que não há como regular cada pormenor. A busca por sucesso comercial também intensificou-se.
Referência
ZANATTO, Rafael M.; MARTINS, Victor. O Cinema do Vietnã e da China. BAOnline: 2021.

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