Buscar

ATIVIDADE 1 - FUNDAMENTOS DAS ARTES VISUAIS

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR POLO CAMPO GRANDE – RIO DE JANEIRO 
GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
STÉFANE DANTAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATIVIDADE DISCURSIVA UNIDADE 1 
FUNDAMENTOS DAS ARTES VISUAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE – RJ 
MARÇO 2022 
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE: 
 
A respeito do signo no contexto da semiótica peirceana, leia o trecho a seguir. 
“[...] o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar 
como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, 
o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar 
esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade. [...] 
 
Ora, o signo só pode representar seu objeto para um intérprete, e porque representa seu objeto, 
produz na mente desse intérprete alguma outra coisa (um signo ou quase-signo) que também 
está relacionada ao objeto não diretamente, mas pela mediação do signo. 
Cumpre reter da definição a noção de interpretante. Não se refere ao intérprete do signo, mas a 
um processo relacional que se cria na mente do intérprete. A partir da relação de representação 
que o signo mantém com seu objeto, produz-se na mente interpretadora um outro signo que 
traduz o significado do primeiro (é o interpretante do primeiro)”. 
 
SANTAELLA, L. O Que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
 
Charles Peirce formalizou a Teoria Geral dos Signos, acrescentando à interpretação a ideia de 
percepção, terceira categoria do conhecimento, que se refere à cognição. O filósofo padronizou 
as três categorias do conhecimento da seguinte forma: primeiridade (quali-signo), que se 
relaciona à primeira sensação ao observar um fenômeno; secundidade (sin-signo), sobre a 
existência do objeto em si; e terceiridade (legi-signo), que se refere ao aprendizado, à cognição 
e à lei como convenção. 
 
Assim, o sentido perceptivo da análise de um fenômeno pela Teoria Semiótica ocorreria 
partindo dos sentimentos e das sensações (primeiridade) para a relação deles com a realidade 
física (secundidade), que é mediada pela cultura e pelas convenções (terceiridade). 
 
Nesse sentido, partindo da visão semiótica de Peirce e da categorização do conhecimento por 
ele proposta, analise a obra a seguir, de Tarsila do Amaral, intitulada “Os Operários”, publicada 
em 1933. Ela tem cerca de 150 por 230 centímetros. 
 
Fonte: WIKIART, 2012. 
WIKIART. Visual Art Encyclopedia. Os Operários. [S. l.], 28 jul. 2012. Disponível em: 
https://www.wikiart.org/en/tarsila-do-amaral/oper-rios-1933. Acesso em: 23 ago. 2020. 
 
Atentando-se aos detalhes da obra, faça uma análise relacionando os elementos às três 
categorias: primeiridade, secundidade e terceiridade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A fim de contextualizar a obra, vamos entender o momento em que ela foi feita. O quadro foi 
pintado em 1933, no auge da industrialização de São Paulo, a cidade estava crescendo e por 
conta dessa automatização, havia mais empregos. Os cidadãos que moravam no campo vinham 
para a cidade em busca desses novos empregos. Tarsila estava em sua fase social, teve contato 
com ideias socialistas e com o movimento dos trabalhadores. Ela se preocupava com essa nova 
classe que estava se formando, onde as condições de trabalho eram insalubres e desumanas. 
 
A nível de Primeiridade, destacamos os 51 rostos amontoados entre si com formatos parecidos, 
e à maneira que estão colocados nos dão uma sensação de crescimento constante, eles se 
afunilam. Vemos em alguns olhares e feições sentimentos de seriedade, tristeza e de cansaço. 
Já em outros o olhar é vazio, sem esperança. Nos rostos, temos variações de tons marrom, meio 
amarelados parecendo que estão sem saúde. O que também nos chama a atenção é que se vê 
diferentes tipos de raças: brancos, pardos, pretos, indígenas, asiáticos, europeus e mulçumanos. 
Ao fundo, com tons de cores frias o cenário representa uma fábrica. Visualizamos 6 retângulos 
simplificados na cor cinza representando as chaminés, num movimento de sobe e desce, 
somente no quinto sai fumaça. Alguns quadrados demonstrando um prédio com janelas, e um 
céu azulado num efeito degradê - assim também como nos retângulos. Basicamente há uma 
repetição de cores e formas. 
 
Na escala de Secundidade, analisamos que, apesar de Tarsila pintar suas individualidades e 
suas diversidades culturais, por que ela teria pintado os rostos com os mesmos semblantes? 
Porque ela os iguala como classe social - a dos operários. Na pintura as pessoas nos olham 
fixamente como se estivessem pedindo justiça e nos passando um recado, de como era a sua 
realidade, e o quanto era árduo trabalhar nas fábricas. Os rostos nas formas em que foram 
distribuídos remetem às engrenagens de uma máquina, nos dando a entender que os indivíduos 
eram meramente peças daquela grande indústria, ou que a fábrica e elas haviam se fundido, se 
tornando uma coisa só. Até no tamanho das chaminés em relação ao tamanho das pessoas vemos 
a inferioridade e a imponência em que elas se encontravam. Essa obra nos faz pensar sobre o 
progresso, e a quem a industrialização serve, certamente que não era para os trabalhadores da 
pintura. Um ponto que justifica essa incessante procura por novas tecnologias é o bem estar da 
sociedade. Mas aquele que está lá dentro dando sua vida, seu suor – o operário – não parece 
estar usufruindo desse bem estar. 
 
E para finalizar ao nível de Terceiridade, percebemos que Tarsila nos traz uma crítica social 
às condições de trabalho de sua época. Sabemos que o Brasil naquele momento estava passando 
por muitas mudanças, se modernizando, o rural começava a se tornar urbano. Mas, o preço para 
isso quem estava pagando eram os operários. Nesse quadro ela não retratou apenas os aspectos 
exóticos do Brasil (como em seus outros quadros), mas se preocupou em nos trazer o lado 
sociocultural do mesmo. Ela continuava pintando formas, mas dessa vez consciente e atenta ao 
sistema capitalista e suas consequências. 
A arte é uma janela, que nos mostra através dela histórias, informações e culturas diversas. E 
essa obra em questão nos fez refletir sobre as condições de trabalho da classe social dos 
operários em 1933, que apesar de serem muitos, eles eram oprimidos pelas elites. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ARHHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: Uma psicologia da visão criadora. São Paulo. 
Pioneira Thomson Learning, 2005. 
 
BUENO, Mara Lúcia Adriano. Leitura de imagem. Indaial. UNIASSELVI, 2012. 
 
GRUNSCHY, Maria Isabel Tubino. ANALYZING TARSILA DO AMARAL’S 
PAINTINGS FROM A SOCIAL SEMIOTIC PERSPECTIVE. Florianópolis, 2007. 
 
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo. Perspectiva, 1997. 
 
SANTAELLA, L. O Que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Mais conteúdos dessa disciplina