Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO DELTA DO PARNAIBA- UFDPar CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS – CCC DISCIPLINA: CONTABILIDADE DE CUSTOS I PROFESSORA: ROSSÁLIA MARIA DE SOUZA SILVA UNIDADE 1 - NOÇÕES BÁSICAS SOBRE CUSTOS: formação, classificação e princípios. 1. SISTEMAS DE CUSTOS. A Contabilidade desde seus primórdios tem como foco principal a correta evidenciação dos componentes do patrimônio, assim considerado como o conjunto de bens, direitos e obrigações vinculados a uma entidade. O processo de quantificação e qualificação adequada do patrimônio é feito por meio de sistemas de controle e registro das operações que a empresa realiza, ou seja, por meio de Sistemas de Informação Contábil. O Sistema de Informação Contábil corresponde a um conjunto de partes que interagem de forma interdependente com o objetivo na produção de informações que irão auxiliar o processo de gestão empresarial. Como partes integrantes do Sistema de Informação Contábil tem-se os seguintes subsistemas, dentre outros: Subsistema de Contabilidade Geral, Subsistema de Custos, Subsistema Controle de Estoques, etc. Estes subsistemas de forma direta ou indireta contribuem para a geração de dados que irão compor todo o escopo do Sistema de Informação de uma organização. Não se pode esquecer o ambiente externo como um agente que produz impacto fundamental e por consequência é importante seu monitoramento no processo de geração de informação com qualidade. Cada um destes subsistemas elencados no parágrafo anterior pode ser detalhado de forma individual e, tendo-se exclusivamente a abordagem no próprio Subsistema, o mesmo “transforma-se” em “Sistema” com o tratamento seus componentes como subsistemas. Quando se refere a unidades fabris, deve-se considerar especificamente um subsistema do Sistema Contábil, denominado Subsistema de Custos. Ressalte-se aqui que a visão deste subsistema normalmente é abordada em literatura específica em função de conceitos que envolvem o processo de transformação de recursos em bens e serviços. A partir deste entendimento adota-se quase sempre a visão localizada e específica, tratando-o como um Sistema, como dito no parágrafo anterior. A escolha do Sistema de Custo, da Metodologia de Custeio, da Forma de Acumulação dos Custos ou de Mensuração dos mesmos deve ser feita tendo como suporte as características do empreendimento, tais como a forma como a produção ocorre, como os serviços são realizados, o modelo de gestão adotado, dentre outras. Neste sentido e tendo como objeto deste texto o Subsistema de Custos, a partir de agora se utiliza a nomenclatura “Sistemas de Custos” com o detalhamento de seus componentes. 2 O Sistema de Custos compreende todo o processo de registro e mensuração das atividades desenvolvidas na produção de bens e serviços. SANTOS, SCHMITDT, PINHEIRO E NUNES (2015, 48) ao tratar dos subsistemas de Custos referem-se a quatro elementos diferenciadores dos mesmos, descritos na Tabela 1 – Elementos Diferenciadores dos Sistemas de Custos. Tabela 1 - Elementos Diferenciadores dos Sistemas de Custos. FORMA Refere-se à modalidade de registro e apresentação dos custos • Sistemas Monistas; • Sistemas Dualistas. CONTEÚDO Refere-se aos itens de custos a serem apropriados aos produtos, mercadorias e serviços. • Sistema de Custeio Absorção; • Sistema de Custeio Direto (Variável) também denominado de marginal. • Sistema de Custeio ABC INSUMOS FÍSICOS Refere-se aos insumos físicos utilizados como base para a apropriação dos custos. • Insumos Reais • Insumos Normais • Insumos Padrões VALORES MONETÁRIOS Referem-se aos valores monetários empregados como base para a avaliação dos custos. • Valores de Mercado • Valores Históricos; • Valores Padrões (custo predeterminado). Para que um Sistema de Custo ou de custeio seja definido, devem-se observar as seguintes premissas: • Um sistema de custo deve privilegiar pelo menos um dos quatro elementos diferenciadores; • As combinações dos elementos diferenciadores geram novos Sistemas de Custo; • Algumas combinações podem levar a definição de Sistemas de Custeio mais adequados a determinadas entidades; Quando se reporta à Forma de registro dos custos, os Sistemas de Custos podem ser classificados como Monistas e Dualistas. Os Sistemas Monistas pressupõem um único sistema contábil. A Contabilidade Financeira atua no registro das operações com terceiros, das variações patrimoniais e da distribuição de dividendos. A Contabilidade de Custos consiste no acompanhamento e formação dos custos de produção considerando o circuito interno da empresa. As duas contabilidades são independentes e autônomas. Nos sistemas monistas as informações financeiras e de custos coexistem em um único Sistema. Existe a integração dos mesmos tendo tratamento de forma homogênea no sistema de contabilidade. Já nos Sistemas Dualistas observa-se a existência de pelo menos duas contabilidades distintas: a Financeira e a de Custos, tendo como consequência a separação e não integração entre o Sistema de Custos e o de Contabilidade Financeira. Os registros dos eventos existem de forma separada. Como características identificadas nos Sistemas Dualistas têm-se: 3 • A finalidade da Contabilidade Financeira é o registro das operações da empresa com terceiros, das variações patrimoniais, da apuração e distribuição dos resultados; • A finalidade da Contabilidade de Custos é a identificação do processo de formação dos custos dos produtos tendo como foco o aspecto interno e a organização; • As duas contabilidades são independentes, até mesmo em insumos físicos e valores agregados. Os Sistemas Dualistas não conseguem gerar informações com a mesma qualidade dos Sistemas Monistas, sendo que a integração entre os mesmos, para fins societários, só será possível se ambos utilizarem os critérios iguais de avaliação dos insumos. Esta separação entre o Sistema de Custos e o de Contabilidade Financeira gera, para o primeiro, a não sujeição aos aspectos formais existentes no segundo, possibilitando, com isso, uma variedade maior de uso de critérios de mensuração e classificação dos insumos, podendo com isso, contribuir para uma melhor informação sendo uma vantagem que o sistema dualista apresenta. O outro elemento diferenciador refere-se ao Conteúdo que revela a identificação dos recursos que podem ser apropriados aos objetos de custeio. Neste sentido têm-se sistemas de Custeio por Absorção, Variável, ABC (Activity Based Costing) e RKW (Reichskuratoriun für Wirtchaftlchtkeit). Considerando o conteúdo, podem-se ter sistemas de custos integrais ou parciais. Os primeiros referem-se a sistemas que apropriam de forma integral todos os custos fixos e variáveis aos produtos, sendo que os mais conhecidos sistemas integrais são o Custeio Absorção e o Custeio RKW. Nos sistemas parciais tem-se que o Sistema de Custeio Variável ou Direto é um exemplo clássico, pois reconhece como custo do produto somente o custo variável imputando ao custo fixo um tratamento equivalente às despesas do período. O ABC também pode ser considerado um sistema de custeio parcial, pois no processo de análise das funções, eventos e atividades, alguns elementos de consumo considerados como custo no Sistema Absorção, podem ser descartados no Sistema ABC, bem como alguns elementos apropriados como despesas no Sistema de Custeio Absorção podem ser classificados como custo pelo ABC. Como item mais elementar de apropriação dos custos de produção tem- se o próprio produto, sendo este, o objeto de custeio considerado como a menor célula de acumulação dos custos de produção e o primeiro a ser considerado na classificação quanto ao Conteúdo. Ressalte-se, entretanto que a definição de objeto de custeio como sendo o elemento que pode receber custos tem como consequência sua desvinculação única e exclusivamente com o produto e permite a reduçãodas arbitrariedades existentes no processo de rateio. O conceito de objeto de custeio como lotes, fases, processo, departamentos, centros, empresas participantes do mesmo 4 grupo amplia a identificação dos consumos com os mesmos reduzindo, em montante, o valor rateado aos objetos de custeio. Com relação a sistemas de acumulação tem-se que, a forma como os custos de produção serão evidenciados ou como o objeto de custeio será definido influenciará certamente na forma como a acumulação de custos será feita. Para o elemento diferenciador Insumos Físicos leva-se em consideração a mensuração do processo produtivo em termos físicos. Sendo assim existem sistemas de custo que imputam ao produto o Insumo Real de produção, e existem os que se utilizam de predeterminação de custos. Os sistemas de custos predeterminados podem ainda ser: ✓ aqueles que consideram as condições de Insumos Normais de funcionamento da entidade, ou seja, de acordo com suas fragilidades, ou ainda ✓ aqueles que estabelecem Insumos Padrões, considerando condições ideais de consumo para a empresa, sem olhar para as condições reais de funcionamento da empresa. Neste contexto têm-se sistemas de Insumo Real, sistema de Insumo Normal e sistema de insumo Padrão. Ressalte-se que os dois últimos são alicerçados em valores predeterminados enquanto o primeiro em consumo real de recurso no processo produtivo. Com relação aos Sistemas de Custos com base em Insumos Reais pode- se perceber que, apesar de terem condições de gerar informações para uma adequada avaliação de desempenho da empresa, eles têm uso limitado à constatação de situação passada não permitindo alterar realidade nem tampouco atuar na minimização dos riscos. Os sistemas que se baseiam em predeterminação, utilizando como base os processos reais com as eficiências e ineficiências ponderadas, tornam-se adequados no processo de identificação: de tendências futuras; da capacidade instalada e de uso dos recursos disponíveis na entidade. Os Sistemas que operam com predeterminações quando planejam Insumos Normais consideram as condições operacionais da entidade e os Insumos Padrões são ideais normalmente quantificam metas empresariais que podem não serem possíveis de atingimento em razão da não consideração de aspectos inerentes à própria entidade. A mensuração em contabilidade pressupõe a escolha de uma base para que os itens representativos do patrimônio possam ser trazidos do S.R.E. (Sistema Relacional Empírico) para o S.R.N. (Sistema Relacional Numérico). Este processo consiste na representação adequada, pela contabilidade, através de um processo de avaliação monetária e/ou física, dos itens que compõem o patrimônio como também daqueles que o impactam. 5 Como condição de representação monetária do Patrimônio tem-se que a Teoria Contábil apresenta duas vertentes de avaliação: os Valores de Entrada e os Valores de Saída. No processo de escolha dos critérios de mensuração, Iudícibus ressalta que a Contabilidade escolhe o valor de entrada como base de mensuração em função principalmente da continuidade empresarial. A mensuração dos elementos de custo de produção é feita nos sistemas de custeio mediante escolha entre os Valores de Mercado, Valores Históricos ou Valores Padrão. Custear a Valores de Mercado, isto é, mensurar o ativo pelo valor que pode ser adquirido no mercado, significa assumir que, neste momento, o valor de mercado apresenta-se como o valor justo. A mensuração a Valores Históricos segue a primeira opção entre os valores de entrada trazidos para a contabilidade, refletindo sempre a resposta da Ciência Contábil ao Postulado da Continuidade. Os valores históricos correspondem àqueles ocorridos em determinado período, corroborados por notas fiscais e outros documentos contábeis. Tem-se nessa opção uma boa identificação da situação real do passado, entretanto com uso bastante limitado, principalmente em períodos com frequentes alterações de preços. Já os Valores Padrões, Normais ou Ideais, refletem a expectativa de retorno dos consumos, considerando ou não, condições ideais ou reais de funcionamento. Os Valores Padrões correspondem a valores planejados, ou seja: • Constituem-se em objetivos a serem alcançados; • Relacionam-se com o processo orçamentário; e • São difíceis de serem estabelecidos em períodos de grandes oscilações no poder de compra. A formatação de um sistema contábil que reflita informação referente ao processo produtivo deve considerar todos os aspectos expostos acima. Esta é uma condição necessária para que a contabilidade possa cumprir seu papel na geração de informações úteis ao processo decisório. 2. TERMINOLOGIA A contabilidade de custos nasceu em função da evolução da própria sociedade. As entidades comercializavam produtos que produziam de forma artesanal, tendo praticamente produção única e exclusiva. A revolução industrial, historicamente datada a meados do sec. XVIII trouxe consigo novas formas produção, com produtos fabricados em série e uso de máquinas no processo de produção. Este fato altera o modo de consumo dos itens relativos ao patrimônio empresarial, que precisavam de metodologias próprias para tratamento e mensuração. Como consequência deste novo cenário, novas terminologias passaram a identificar estes elementos, desenvolvendo-se assim a área da Ciência 6 Contábil conhecida como Contabilidade de Custos, com conceitos e terminologia própria. Neste sentido, torna-se necessário o estabelecimento de significados próprios a fim de permitir a uniformidade de conceitos para a contabilidade, ressignificando alguns termos, ampliando o significado de outros e criando novos. Segue-se a partir de agora alguns termos que exemplificam o exposto: Gasto – conceito amplo que representa todo sacrifício financeiro que a empresa arca no processo de obtenção de um produto ou serviço. Ressalte-se que um gasto pode ser representado por um desembolso (redução de caixa) ou com a promessa de desembolso (aumento de exigibilidade). Quanto à aplicação, os gastos podem ser classificados: Investimento – São gastos ativados em função de uso, no futuro, para a obtenção de bens ou serviços. Custos – São gastos relativos ao uso (consumo) de bens ou serviços na produção de outros bens ou serviços, quer sejam desembolsados ou não. Despesas – São gastos com bens e serviços não consumidos, de forma direta ou indireta, nas atividades produtivas. As despesas provocam redução do patrimônio. 3. PRINCÍPIOS BÁSICOS APLICADOS A CUSTOS Como Custos é área de estudos da contabilidade, tem-se a necessidade de verificar sua aderência aos Princípios de Contabilidade, uma vez que os mesmos são disciplinadores, na elaboração de relatórios, devendo permitir aos usuários a fixação de padrões de comparabilidade e credibilidade. Os princípios representam a essência da doutrina e das teorias relativas à Ciência da Contabilidade. Alguns dos principais conceitos antes definidos como princípios pela Resolução 750/93 (revogada pela NBC TSP Estrutura Conceitual de 04/10/2016) e Resolução 774/94 (Revogada pela Resolução CFC n° 1.282/10) e agora definidos pelo CPC 00 – Estrutura Conceitual Básica e estudados por alguns autores são definidos a seguir: 3.1. Entidade Entendido por alguns cientistas da Contabilidade como Postulado (verdade não contestável) e enunciado pela Resolução 750/93 como Princípio, a “Entidade” reconhece o patrimônio como objeto de estudo da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial identificando cada entidade contábil como a possuidora de um único patrimônio. Ressalte-se que esta definição é mantida pelo CPC 00. Isto significa que por Entidade Contábil pode-se entender uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza jurídica com ou sem finalidades lucrativas. 7 A aplicação do conceito de entidade a empreendimentos cuja finalidade éa transformação de insumos em bens ou serviços não distorce em nenhum aspecto o significado de Entidade, gerando, portanto, conformidade aos conceitos e as práticas operacionais que envolvem a produção de bens e/ou serviços. 3.2. Continuidade Este conceito pressupõe a continuidade das operações empresariais por tempo indeterminado, portanto a mensuração dos itens que compõem o patrimônio deve seguir o enunciado. A não aceitação da continuidade da entidade implica em alterações significativas no processo de mensuração do patrimônio vinculado à mesma. Considerando a aplicação deste conceito ao processo produtivo tem-se que a mensuração dos componentes relativos aos custos industriais está em conformidade com o exposto na continuidade. 3.3. Oportunidade A falta de integridade na produção e divulgação de informação contábil pode gerar perda de relevância ou materialidade e até mesmo perda de confiabilidade, que são requisitos essenciais à qualidade da informação. A integridade e oportunidade no processo de divulgação das mesmas referem-se principalmente ao atendimento das seguintes condições: ✓ Registro de forma integral de todas as mutações ocorridas no patrimônio; ✓ Se tecnicamente estimável deve-se registrar também as prováveis alterações no patrimônio; ✓ O processo de registro deve acontecer de forma integral reconhecendo-se aspectos qualitativos e quantitativos, ou seja, aspectos físicos e monetários; e ✓ A temporalidade deve estar presente no processo de reconhecimento de tais alterações a fim de favorecer o processo decisório. Todas as técnicas desenvolvidas pela área e custos que tratam da identificação e mensuração do estoque de uma empresa que opera com a transformação de recursos em bens e/ou serviços revela total aderência aos conceitos emanados pela “Oportunidade”. 3.4. Materialidade ou Relevância Identificada pela resolução 750/93 como princípio e tratada atualmente como característica qualitativa fundamental da informação contábil conforme item 2.6 do Pronunciamento 00 tem-se que uma informação contábil é considerada relevante no momento em que puder produzir alterações no processo decisório do usuário. A materialidade da informação pode ser observada no item 2.11 do referido pronunciamento na medida em que sua “omissão, distorção ou obscuridade” provocar influência significativa nas decisões dos usuários. 8 Esta regra é bastante aplicada e útil para a área de custos uma vez que a mesma desobriga tratamento rígido para itens cujo valor monetário é pequeno dentro dos gastos totais. Nestes casos, alguns itens de custos apesar de definidos para determinado tratamento contábil podem ser tratados de forma diferente aplicando-se a referida regra combinada com a avaliação custo versus benefício da geração da informação contábil. 3.5. Custo Histórico como Base de Valor Este conceito determina o registro pelo valor original de todas as transações realizadas pela entidade devendo o mesmo ser feito em moeda nacional. O custo histórico refere-se a um valor de entrada e acontecido na data da operação. Podem-se definir diferentes bases históricas ao longo do tempo já considerando o que os pronunciamentos contábeis preconizam a respeito de avaliação de ativos e passivos, sendo elas: ✓ Custo Histórico: registram-se os ativos pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou ainda pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da operação. No caso de passivos, os mesmos são registrados em função dos valores recebidos em troca da obrigação ou, pelos valores de caixa e equivalentes de caixa necessários para liquidar a obrigação; ✓ Custo Corrente: registram-se os valores que teriam sido pagos por esse ativo ou por equivalentes ao mesmo, caso fossem adquiridos na data ou período da emissão dos relatórios contábeis. No caso de passivos o reconhecimento se dá pelos valores de caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data da emissão dos relatórios contábeis. ✓ Valor Realizável: registram-se os ativos pelos valores que poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada (Chambers). No caso dos passivos os mesmos são mantidos pelos valores de caixa ou equivalentes de caixa que se espera seriam necessários para liquidar no curso normal das operações da entidade. ✓ Valor Presente: registram-se os ativos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da entidade. Os passivos devem ser mantidos pelo valor presente, descontado o fluxo futuro das saídas de caixa que se espera seja necessário para liquidá-los no curso normal das operações da entidade. ✓ Valor Justo: corresponde ao valor que um ativo pode ser trocado ou um passivo pode se liquidado em uma transação sem favorecimentos. ✓ Atualização Monetária: os efeitos das alterações do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. As recomendações emanadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis e referendadas por órgãos que emitem as normas que tratam evidenciação e registro de eventos pela contabilidade já indicam alterações significativas no processo de avaliação patrimonial, sendo que a contabilidade de custos já vem aplicando-as e reformando critérios e técnicas de mensuração do estoque produzido por empresas industriais e de serviços. 9 3.6. Consistência ou Uniformidade Este princípio indica que, quando houver diferentes alternativas válidas para registro contábil de um mesmo fato, os critérios utilizados para a escolha devem nortear todos os fatos análogos subsequentes, não sendo aconselhável mudança de critério a cada período contábil. Isto não significa que ao adotar um procedimento a entidade deve obrigatoriamente segui-lo em todas as situações, entretanto deve evitar e, se necessário fazer alteração de critério, deve ser medido o efeito desta mudança pela contabilidade a fim de que se mantenha a comparabilidade entre relatórios de períodos diversos. A contabilidade de custos apresenta-se como conjunto de técnicas usadas de forma diversificada e consistente para cada modelo e produção e forma de consumo de recursos pelo processo produtivo. Sendo assim, a consistência é um conceito de grande valia e aplicação no processo de mensuração do estoque produzido internamente. 3.7. Conservadorismo ou Prudência Enunciado pela antiga resolução do CFC como princípio e tratado pelo IBRACON como convenção contábil, o conservadorismo ou prudência reflete comportamento que profissional contábil deve seguir ao efetuar julgamentos necessários quando ocorrer situação de incerteza com relação à avaliação. Assim sendo, quando existem duas ou mais alternativas igualmente válidas para a avaliação de um mesmo componente, o profissional deve sempre optar por aquela que evidenciar maior valor para elementos do passivo ou despesas e menor valor para elementos de ativo ou receitas, evitando assim a subestimação dos passivos ou despesas superestimação dos ativos ou receitas. Ressalte-se que a aplicação desta regra deve sempre considerar a probabilidade de ocorrência de cada alternativa a ser escolhida como forma de garantia de que a informação gerada seja provável e não somente possível. 4. NOMENCLATURAS, CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS E MÉTODOS DE CUSTEIO. Como área de estudo da Contabilidade, Custos possui terminologia própria e, às vezes com significados diferentes para algumas palavras. Sendo assim torna-se necessário evidenciar alguns termos que são próprios da área bem como metodologias específicas para identificação e apropriação de custos aos produtos e serviços. No item terminologia tratou-se de algumas palavras utilizadas na área de custos como: gasto, desembolso, investimento,custos e despesas. Outros termos, que são relacionados de forma mais específica à área de custos, são conceituados a partir de agora: Perdas: representam bens ou serviços consumidos de forma involuntária ou anormal no processo produtivo. Com relação às perdas, cabe aqui ressaltar que existem dois tipos: normais e anormais. 10 Apesar de ambas possuírem a característica da involuntariedade, as perdas consideradas normais são aquelas inerentes ao processo produtivo, ou seja, ocorrem de forma normal durante a produção, são involuntárias e não evitáveis. Para este tipo de perda o tratamento contábil deve ser semelhante ao custo de produção, ou seja, elas devem onerar o produto ou serviço que as gerou. Com relação às perdas consideradas anormais, estas não são inerentes ao processo produtivo, são evitáveis e derivam de ineficiências na produção. O tratamento contábil adotado para as perdas anormais é semelhante ao dado às despesas do período, ou seja, elas devem onerar o resultado do período reduzindo-o. Alguns autores chamam as perdas anormais de desperdício. Custos de Transformação ou de Conversão: são consumos representados por esforços empregados no processo de produção. Não são considerados neste conceito a matéria-prima ou quaisquer outros produtos adquiridos prontos. Compreendem a soma de todos os custos para transformar matéria-prima em produto elaborado. Custos Primários: correspondem à soma da matéria-prima e da mão de obra direta. Mão de Obra Direta: é aquela representada pelo esforço de pessoal na produção, desde que seja possível identificar quem realizou e o tempo dispendido. Mão de Obra Indireta: é aquela representada pelo esforço de pessoal na produção desde que não seja possível identificar quem realizou e o tempo dispendido. Custos Conjuntos: correspondem ao consumo de recursos que, a partir de um momento, denominado ponto de segregação ou de cisão, tornam-se diferentes produtos acabados ou em elaboração. Custos Comuns: correspondem ao consumo de recursos na produção que se tornam diferentes produtos acabados ou em elaboração. Custo Marginal: representa o acréscimo de custo que a empresa incorre para produção de uma unidade adicional. Custo de Oportunidade: representa o sacrifício, em termos de remuneração, que a empresa arca por ter aplicado seus recursos em uma alternativa ao invés de outra. Representa a melhor alternativa de investimento não escolhida. Custos Controláveis: são custos uniformes que variam no total na proporção direta das variações da atividade produtiva relacionada ao mesmo. Objeto de Custeio: item para o qual se pretende determinar o custo. Materiais Diretos: são aqueles que se incorporam diretamente ao produto. 11 Custos Diretos: correspondem aos consumos que se incorporam aos produtos elaborados ou em elaboração. Custos Indiretos: correspondem aos consumos, necessários à produção, que não se incorporam diretamente aos produtos elaborados ou em elaboração. Rateios: corresponde à distribuição dos custos indiretos aos produtos, seguindo critérios racionais. Bases de Rateio: são indicadores do consumo dos custos indiretos pelos objetos de custeio. Custo de Produção do Período (CPP): é representado pela soma de todos os custos incorridos pela empresa em determinado período. Custo da Produção Acabada (CPA): é a soma de todos os insumos consumidos para a produção integral de um bem ou serviço. Ressalte-se que o mesmo pode ocorrer em períodos distintos. Custo dos Produtos em Elaboração (CPe): corresponde ao valor total dos recursos empregados em um processo de produção ainda não finalizado. Custo dos Produtos Vendidos (CPV): corresponde ao custo incorrido, inerente aos produtos vendidos. 4.1. Classificação dos Custos No processo de estudo e análise dos recursos consumidos no processo produtivo observam-se diferentes comportamentos dos mesmos em razão da perspectiva do olhar do analista. Neste texto elencam-se dois olhares diferenciados para os custos gerando com isso observações para cada olhar com a identificação de grupos de recursos com comportamentos semelhantes. Sendo assim, tem-se: 4.1.1. Classificação dos custos pelo critério do volume de produção O olhar para os recursos consumidos relacionando-os com as variações nos volumes de produção tem-se grupos de comportamentos semelhantes. A nomenclatura dada aos custos quando relacionados aos volumes produzidos corresponde à sua classificação como custos: Variáveis, Fixos. Semivariáveis ou Semifixos. Custos Variáveis: são aqueles consumos que têm sua alteração relacionada diretamente ao volume de produção. • Custo Variável por Unidade: corresponde ao consumo de custo variável observado em uma unidade produzida. • Custo Variável Total: corresponde ao custo variável identificado para todo o volume de produção do período. Custos Fixos: são aqueles consumos que têm sua variação não relacionada ao volume de produção e sim a outros fatores. 12 • Custo Fixo por Unidade: corresponde ao consumo de custo fixo observado em uma unidade produzida. • Custo Fixo Total: corresponde ao custo fixo identificado para um período. Custos Semifixos ou Semivariáveis: são consumos que tem comportamento variável e fixo em determinadas condições. Um exemplo clássico deste tipo de consumo e a energia elétrica que tem na demanda sua parte fixa e no consumo a parte variável. O tratamento contábil para estes consumos se dará em função do comportamento mais relevante observado. 4.1.2. Classificação dos custos em função da incidência no produto O olhar para os recursos consumidos relacionando-os com sua participação na unidade produzida evidencia grupos de comportamentos semelhantes. A nomenclatura dada aos custos quando relacionados à sua participação na unidade produzida é a de: Custos Diretos e Custos Indiretos. Custos Diretos: representam consumos de recursos que, ao final do processo produtivo, integram o produto elaborado. Ressalte-se que a Mão de obra (apesar de não fazer parte fisicamente o produto acabado), desde que seja possível identificar quem trabalhou e o tempo empregado na produção é considerada Custo Direto. • Custo Direto por Unidade: corresponde ao consumo de custo direto observado em uma unidade produzida. • Custo Direto Total: corresponde ao custo direto identificado para todo o volume de produção do período. Custos Indiretos: representam consumos de recursos que são necessários ao processo produtivo, entretanto não integram fisicamente o produto elaborado. • Custo Indireto por Unidade: corresponde ao consumo de custo indireto observado em uma unidade produzida. • Custo Indireto Total: corresponde ao custo indireto identificado para todo o volume de produção do período. 5. CUSTOS COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE, PROBLEMAS E CASOS – CONTABILIZAÇÃO Informações sobre consumos na produção são bastante úteis ao processo decisório e contribuem no controle da eficiência do mesmo. Conhecer o comportamento dos custos em termos monetários e físicos, com definição de metas e padrões, favorecem o atingimento do uso mais eficiente dos recursos humanos e de capital empregados no processo produtivo. Pelo exposto anteriormente os comportamentos dos consumos seguem padrões, entretanto tem-se que determinados eventos possuem especificidades que envolvem aspectos legais e comportamentos diferenciados devendo, portanto, serem objeto de estudo para que se estabeleça tratamento adequado aos mesmos, de modo a contribuir para o controle e manutenção da eficiência na produção de informações, favorecendo o processo decisório. 13 Para tanto, a partir de agora se discorre sobre alguns destes eventos de forma a proporcionar entendimento e definição da melhor forma avaliação, registro e evidenciação dos mesmos nos relatórios contábeis, com observância dos aspectos legais que envolvem cada evento. 5.1. Encargos FinanceirosApesar de, em alguns casos os encargos financeiros serem identificados com certa facilidade como derivados do financiamento de insumos e de ativos diretamente relacionados ao processo produtivo, no Brasil são tratados contabilmente como despesa. MARTINS (2018) discorre que este tratamento se deve principalmente a 3 (três) fatores, quais sejam: • A consideração dos mesmos, como custo implicaria por analogia em considerar os juros sobre capital da mesma forma. Ressalte-se que a Lei 9.249/1995 admite a contabilização dos juros sobre capital próprio como despesa. • Considerando que a contabilidade comercial sempre tratou contabilmente os juros oriundos de financiamento como despesa, a consistência nos procedimentos indica o tratamento semelhante quando se tratar de juros para financiamento da produção. • Considera-se que encargos financeiros não têm sua origem nas atividades operacionais, sendo advindos da falta de capital e não do processo produtivo. Ressalte-se que apesar dos aspectos legais que impedem o tratamento de tais consumos como custos de produção, a entidade poderá medir seu impacto no processo produtivo por meio de relatórios gerenciais. 5.2. Separação entre Custos e Despesas A definição de custo e despesa como consumos dentro e fora do processo produtivo respectivamente pode representar uma simplificação da separação entre eles, entretanto a prática empresarial revela que nem sempre este processo é fácil, principalmente em razão de, na maioria das empresas, a organização administrativa pode reunir atividades que servem de forma contínua e uniforme aos setores produtivos e não produtivos concomitantemente, em razão de economia e eficiência dos processos. MARTINS (2018) indica como exemplos clássicos deste fato a existência de departamento de pessoal que trata de forma unificada dos recursos humanos quer estejam lotados no setor produtivo ou não, como também do setor de compras que operam todas as aquisições para a entidade, seja de matéria-prima e outros recursos para a produção ou de equipamentos e materiais que servirão a área comercial da entidade. Na prática o autor sugere a segregação seguindo os seguintes critérios: • Que os valores irrelevantes no cômputo do total de consumos não sejam rateados aos produtos, aplicando o princípio da Prudência e Materialidade. 14 • Se os valores forem relevantes e repetitivos e quando analisados têm sua maior parte considerada como despesas devem ser totalmente tratados como despesa. Este procedimento representa a aplicação do Princípio da Prudência. • Se um valor for inegavelmente custo de produção, mas seu rateio for de extrema arbitrariedade, ou seja, não existe modelo conhecido que possa medir com grau razoável de certeza a participação do consumo em cada unidade produzida ou mesmo existindo (desde que o custo de aquisição e implantação for superior ao benefício gerado pela informação produzida), deve-se considerar como despesa e não apropriar de forma arbitrária aos produtos. Este procedimento também implica no uso do Princípio da Prudência. Estas condições favorecem a mensuração do processo produtivo com razoável grau de certeza proporcionando qualidade à informação gerada e contribuindo de forma positiva ao processo decisório. Outro aspecto importante na identificação de consumos como custo ou despesa refere-se à embalagem do produto. O custo de produção é todo e qualquer consumo ocorrido até que o produto se encontre em condições de comercialização. Sendo assim, se o produto necessitar da embalagem para sair do processo produtivo, deve-se considerá-la como custo de produção. Quando ocorrem consumos dentro da fábrica, mas que não se relacionam ao processo produtivo os mesmos não são custos de produção. Pode-se exemplificar este fato pelo uso de máquinas da produção ou insumos para operar em atividades não relacionadas à produção. 5.3 Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento Para que se trate de ativo intangível torna-se necessário conceituá-lo na forma da lei. O CPC 04 – Ativo Intangível define, em seu item 8 (oito), como um ativo não monetário (que não pode ser representado por dinheiro ou por direitos) e sem existência física. Ativos intangíveis quando comprados (adquirido seu direito de uso) podem e são registrados pela contabilidade pelo seu valor de compra, tendo reavaliação ao seu valor justo na data da emissão de cada relatório contábil, conforme regras específicas. Entretanto para os gastos com Pesquisa e Desenvolvimento de ativos intangíveis a legislação brasileira até 2010 adotava procedimentos que permitiam o registro como ativos intangíveis. Alterações significativas ocorreram a partir do C.P.C. – 04 que divide o processo de geração de um ativo intangível a partir de dois momentos: a Fase de Pesquisa e a Fase de Desenvolvimento do mesmo. Ainda segundo o referido documento, a fase de pesquisa corresponde àquela onde acontecem os estudos preliminares, a execução da pesquisa com resultados finais acerca de sua aplicação. Nesta fase não é permitido nenhum reconhecimento de ativo. Todos os gastos incorridos são apropriados ao resultado do período em que ocorreram como despesa. 15 A fase de Desenvolvimento é definida pelo CPC 04, como aquela onde ocorre a aplicação dos resultados da pesquisa em um projeto que tenha por objetivo a produção do ativo antes de iniciar a produção comercial ou seu uso interno. Nesta fase os gastos com o desenvolvimento serão reconhecidos como ativo se, e somente se, a entidade comprovar o atendimento de todas as seguintes condições: • Demonstrar que possui capacidade técnica para concluir o ativo e disponibilizar para uso ou venda; • Existir a intenção de concluir o ativo e de usá-lo ou vendê-lo; • Demonstrar capacidade para usar ou vender o ativo (comprovar os benefícios futuros que o ativo pode gerar para a entidade). Nesse caso devem- se avaliar os benefícios futuros com base no Pronunciamento 01 – Redução ao valor recuperável. Ressalte-se que, se os benefícios futuros forem gerados somente em conjunto com outros ativos, deve ser considerado o conceito de unidades geradoras de caixa previsto no mesmo CPC; • Possuir condições para mensurar os gastos atribuíveis ao ativo intangível na fase de desenvolvimento. Devem-se ativar os gastos somente após as condições acima serem satisfeitas, não sendo permitido o reconhecimento como custo de nenhum gasto feito antes deste momento. Em situações onde não for possível separar as fases de pesquisa e desenvolvimento todos os gastos incorridos devem ser tratados como se ocorressem na fase de pesquisa, ou seja, devem ser apropriados ao resultado como despesa. Cabe lembrar que marcas, títulos, listas de clientes e outros itens análogos não são reconhecidos como ativo intangível de forma separada do custo inerente ao desenvolvimento do negócio como um todo. Neste sentido não são ativos intangíveis registrados pela contabilidade (representam goodwill do negócio). O CPC 04 cita em seu item 66 alguns gastos que são considerados como “custos diretamente atribuíveis”, a saber: (a) Gastos com materiais e serviços consumidos ou utilizados na geração do ativo intangível; (b) Custos de benefícios a empregados (conforme definido no Pronunciamento Técnico CPC 33 – Benefícios a Empregados) relacionados à geração do ativo intangível; (c) Taxas de registro de direito legal; e (d) Amortização de patentes e licenças utilizadas pelo ativo intangível. O Pronunciamento Técnico CPC 20 – Custo de Empréstimos especifica critérios para o reconhecimento dos juros como um elemento do custo de um ativo intangível gerado internamente. Ainda no CPC 04 em seu item 67 constam alguns itens que não são custo de ativo intangível gerado internamente, a saber: 16 (a) Gastos com vendas; administrativos e outros gastos indiretos, exceto se tais gastos puderem ser atribuídos diretamente à preparação do ativo para uso; (b) Ineficiênciasidentificadas e prejuízos operacionais iniciais antes do ativo atingir o desempenho planejado; e (c) Gastos com o treinamento de pessoal para operar o ativo. Neste aspecto torna-se indispensável que a entidade envide esforços para correta separação das fases de pesquisa e de desenvolvimento do ativo como meio de assegura a melhor mensuração patrimonial. 5.4. Ativos Biológicos O CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola considera Ativo biológico em seu item 5 (cinco) “um animal e/ou planta vivos”. MARTINS (2018) define produto biológico os “bens gerados a partir de ativos biológicos”. Estes conceitos e o tratamento constituem objeto de interesse para a área de custo, pois estes ativos têm características específicas quanto a sua mensuração e representam exceção ao uso do custo de aquisição como base de mensuração. A mensuração de tais ativos quer sejam usados na produção de outros ativos ou destinados à venda é feita pelo valor de venda, ou seja, pelo valor de saída, contrariando a escolha de valores de entrada como a forma de avaliação patrimonial escolhida pela contabilidade. MARTINS (2018) cita que a escolha pelo valor de saída para tais itens se dá em razão do maior esforço na obtenção de resultados, no caso de ativos biológicos, acontecer na fase de produção e não no momento em que o produto está pronto para a venda. Neste sentido entende-se que ao produzir um ativo biológico pode-se assegurar com razoável grau de certeza a realização efetiva dos benefícios gerados. Ainda como definição apresentada pelo CPC 29, tem-se que os ativos biológicos vegetais podem ser classificados como plantas portadoras ou não. Esta classificação leva em consideração o uso deste ativo para produção de produtos biológicos ou o próprio ativo sendo o produto biológico. Como exemplo de planta portadora tem-se plantas frutíferas que são os ativos biólogos enquanto que os frutos que produzem são produtos biológicos, no entanto se a planta for usada para produção de madeira, o próprio ativo biológico é o produto biológico também, sendo chamada de planta não portadora neste último caso. MARTINS (2018) trata da mensuração dos produtos biológicos indicando que o estoque é formado a partir do momento em que estes produtos são colhidos ou obtidos de outra forma (caso dos produtos biológicos derivados de animais). A mensuração deste estoque, mesmo que para venda ou para servir de insumo na produção (produto que necessita de processamento adicional para ser comercializado) ou na prestação de serviços deve ser feita pelo seu valor justo. O valor justo de acordo com o item 8 (oito) do CPC 29 corresponde ao que seria recebido na venda de um ativo ou o que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação livre de interferências do mercado na data de sua mensuração. Esta metodologia elimina a apropriação como custo de todos 17 os insumos consumidos pelo Ativo Biológico no processo de produção do produto biológico, correspondendo a uma excepcionalidade na mensuração do valor do estoque produzido internamente. Para fins de ativação no estoque deve-se deduzir, do valor justo, todos os gastos necessários a realização da venda. Entende-se aqui que tanto o valor o justo como os gastos são obtidos por estimativas de mercado, de acordo com os critérios do CPC 46. A contabilização deste estoque se faz por débito na conta Estoque tendo como contrapartida crédito em uma conta de resultado do período. Neste sentido, o lucro é reconhecido no momento da obtenção do estoque e não no momento da venda. Após a ativação do produto biológico ao estoque deve observar a finalidade do mesmo: • Se este estoque tem destino direto para a venda deve-se apenas fazer a cada período a atualização para seu valor justo na data da divulgação dos relatórios. • Se este estoque tem destino servir como insumo na produção de outros produtos biológicos o tratamento contábil a partir deste momento será como custo de produção aplicando-se as técnicas de custos no processo de apuração do custo de produção do produto gerado a partir deste estoque. MARTINS (2018) enumera exemplos de registro para Ativos Biológicos em 3 (três) situações, a saber: a) Ativo Biológico que se transforma em produto biológico a curto prazo; b) Ativo Biológico que produz produto biológico a médio e longo prazos; e c) Ativos Biológicos que se transformam em produtos biológicos a longo prazo. Cada uma das situações descritas tem uma técnica de registro específica que irá produzir informação sobre o patrimônio empresarial de forma adequada. Para a situação descrita na letra “a” - ativo biológico que se transforma em produto biológico a curto prazo, pode-se ter como exemplo a seguinte situação: Determinada empresa agrícola produz grãos e, na data da colheita, observou-se a seguinte situação: ✓ A cotação na bolsa de mercadorias indicava um valor da produção de R$ 100.000,00; ✓ Para este produto não existem impostos incidentes; ✓ A comissão que normalmente a empresa paga é de 5% sobre o preço de venda; ✓ A produção gerou um custo desembolsado de R$ 56.000,00 para a empresa referente a materiais e mão de obra; ✓ As máquinas de produção tiveram uma depreciação de R$ 10.000,00; ✓ Para colher a empresa incorreu em custos de mão de obra e custos adicionais no valor de R$ 2.500,00. 18 Como foi dito anteriormente o produto biológico deve ser avaliado pelo seu valor de venda menos os custos necessários à venda. Este deve ser o valor do Estoque que terá como contrapartida uma conta de resultado. Desta forma ter-se-á: Evento 1 – registro dos gastos referentes à produção. A empresa deve registar os consumos de recursos que teve até a colheita que no caso do exemplo acima são: Custo desembolsado de R$ 56.000,00 e Custo de colheita R$ 2.500,00 e depreciação das máquinas no valor de R$ 10.000,00. Assim, o registro de tais fatos ocorre da seguinte forma: D Custo de produção (Conta de resultado) 68.500,00 (56.000,00+10.000,00 + 2.500,00) C Depreciação acumulada 10.000,00 C Caixa/ Bancos ou um passivo 58.500,00 Evento 2 – Colheita do produto: nesta fase o estoque deve ser avaliado pelo seu valor justo. Sendo assim tem-se: D Estoque de Produtos 95.000,00 (100.000 - 5%) D Comissão de Vendas 5.000,00 (100.000 * 5%) C Receita Bruta de Vendas 100.000,00 (valor da cotação) Estes lançamentos espelham o resultado da empresa (R$ 95.000,00 – R$ 68.500,00) reconhecido por ocasião da colheita. Ressalte-se que se a empresa necessitar consumir mais recursos para colocar o produto à venda estes serão tratados como custo de produção e incorporados ao valor dos estoques. A situação reportada na letra “b” - ativo biológico que produz produto biológico a médio e longo prazos. Nestas situações deve-se separar o ativo biológico do produto biológico com regras individualizadas de tratamento contábil. Exemplo de situação como esta pode ser referenciada em atividades agrícolas quando, de algumas culturas, podem ser retirados produtos biológicos por determinada quantidade de safras. Neste caso o ativo biológico, denominado planta portadora é registrado no ativo imobilizado e depreciado de acordo com a quantidade de safras que ele gera. Já o produto biológico derivado das safras deve ser ativado no circulante, subgrupo estoque e mensurado pelo valor justo, no momento de cada colheita. Situação semelhante também pode ser observada na atividade pecuária. Um exemplo que se pode citar é animal reprodutor. O animal (ativo biológico) é registrado no Imobilizado pelo custo e depreciado pelo tempo em que se espera que continue sendo reprodutor. Já o sêmen é produto biológico devendo registrado no ativo circulante e mensurado pelo seu valor justo no momento da coleta. Pode citar como exemplo do exposto, a seguinte situação: ➢ Aquisição de terra plantada para colheita de 3 (três) safras por R$ 2.650.000,00. Pode-se separar o valor da terra do valor da planta(terra plantada com valor de R$ 2.650.000,00 e terra nua 1.150.000,00). Neste caso, as plantas produtoras estão avaliadas em R$ 1.500.000,00. ➢ No primeiro ano foram gastos para desenvolvimento da safra (mão de obra e outros custos), o valor de R$ 300.000,00. 19 ➢ O valor justo da primeira safra ao final do primeiro ano foi de R$ 3.000.000,00. A contabilidade deve efetuar o registro dos seguintes eventos ao longo do primeiro período. Evento 1 – Aquisição da terra plantada: nesta fase registram-se a aquisição das sementes ou da terra plantada e todos os gastos necessários ao desenvolvimento da safra. (produto em elaboração) D Terra – ANC 1.150.000,00 D Plantas Portadoras - ANC 1.500.000,00 C Caixa/Bcos/Ctas a pagar AC/AC/PC 2.650.000,00 Evento 2 – Apropriação dos gastos com a cultura: aqui somam-se todos os gastos a até a formação da florada. D Ativo Biológico - AC 300.000,00 C Caixa/Bcos/Ctas a pagar- AC/AC/PC 300.000,00 Evento 3 – Apropriação da depreciação: feita somente após a planta formada, começando a fase de desenvolvimento do grão é que se faz a depreciação. D Ativo Biológico - AC 500.000,00 C Depreciação Acumulada - ANC 500.000,00 1.500.000,00/3 Evento 4 - Transferência de Ativo Biológico para Estoque: no momento da colheita a safra vai para o estoque de produtos pelo valor justo D Estoque de produtos - AC 3.000.000,00 C Ativo Biológico - AC 800.000,00 C Variação por ajuste ao valor justo - Receita 2.200.000,00 Ressalte-se que até este evento deve-se seguir o CPC 27. Após a apropriação do produto ao estoque toda avaliação deste estoque deve seguir o CPC 16. Estes eventos devem ser recorrentes por todo o período em que a planta gerar safras sendo necessário o registro dos mesmos a cada período. Na situação descrita no item “c” tem-se ativos biológicos que se transformam em produtos biológicos no longo prazo. Como exemplos destes ativos pode-se citar, árvores que geram madeira onde a própria planta é o produto biológico. MARTINS (2018) indica alguns aspectos que devem ser observados para estas situações, a saber: a) A mensuração a valor justo (e não ao custo) deve ser realizada ao longo da vida dos respectivos ativos biológicos que irão se transformar em produtos; b) Embora registrado fora do ativo circulante quando de ciclo longo, o valor dos ativos biológicos que irão se transformar em produtos biológicos corresponde a um estoque; e c) Quando de ativo biológico que se transforma em produto biológico mais de uma vez (cana de açúcar que é cortada por cinco anos consecutivos, por exemplo), sempre que a soma do valor justo do produto biológico colhido mais o valor justo da parte ainda não colhida for superior ao valor justo que a planta tinha antes da colheita, deve-se reconhecer esse lucro final por ocasião da colheita. Em casos onde a árvore (Ativo Biológico) deve ser cultivada por alguns períodos contábeis até que fique pronta para corte e gere madeira (Produto Biológico), os eventos são registrados pela contabilidade de forma semelhante 20 aos descritos no item “a” ressaltando que a cada emissão de relatório deve-se proceder a avaliação do ativo ao seu valor justo reconhecendo o ganho ou perda. Sendo assim, têm-se especificidades quando se trata de Ativos biológicos que devem ser objeto de menção para o estudo de custos, pois se trata de produção interna de bem para comercialização que acontece de forma diversificada e com características tão peculiares não sendo aplicadas as técnicas usuais de custos para mensuração de tais ativos. As situações tratadas neste tópico evidenciam aspectos particulares do processo produtivo, ressaltando assim a necessidade de tratamento adequado no processo de geração de informação útil ao processo decisório. A área da contabilidade de custos deve ser estudada a partir das bases conceituais detalhadas nesta unidade de estudo, sem as quais a geração de informações para entidades que operam com a transformação de insumos em produtos e/ou serviços pode perder relevância. REFERÊNCIAS BACKER, Morton, JACOBSEN, Lyle E. Contabilidade de Custos: um enfoque gerencial. São Paulo: McGraw-Hill, 1984. CREPALDI, Silvio Aparecido. Curso básico de contabilidade de custos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010 DUTRA, René Gomes. Custos: uma abordagem prática. 7ª edição. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 4 ed. São Paulo: Atlas,1994. KAPLAN, Robert S. ATKINSON, Antony A. MATSUMURA, Ella Mae. YOUNG, S Mark. Contabilidade Gerencial: informação para tomada de decisão e execução estratégica. São Paulo: Atlas, 2015. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 11ª Ed. São Paulo: Atlas, 2018. _______________. Contabilidade de custos; livro de exercícios. 11ª edição. São Paulo. 2015. MARTINS, Eliseu; ROCHA Wellington. Métodos de custeio comparados: custos e margens analisados sob diferentes perspectivas, 2ª edição. São Paulo. Atlas, 2015. SANTOS, Joel José dos. Manual de contabilidade e análise de custos. 7ª edição São Paulo, Atlas, 2017. SANTOS, José Luiz dos; SCHMIDT, Paulo; PINHEIRO, Paulo Roberto; NUNES, Marcelo Santos. Manual de contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 2015.