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O Trabalho do Historiador

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O TRABALHO DO HISTORIADOR 
O historiador e as Fontes 
Os historiadores trabalham com diversas fontes em suas pesquisas. No entanto, essas fontes não são “documentos” ou 
“objetos” de onde a história possa surgir, nascer ou jorrar de forma única e cristalina. As fontes sugerem indícios, pistas, indicações 
sobre o tema pesquisado. Por isso, devem ser interpretadas pelo historiador. 
As pesquisas realizadas pelos historiadores lembram muitas vezes o trabalho de um detetive que investiga um crime. Ele 
pode encontrar várias pistas, mas, se não fizer as perguntas corretas sobre o que essas pistas indicam, não conseguirá descobrir 
quem é o criminoso. 
O historiador, ao se deparar com essas evidências (as fontes) do passado, também precisa fazer as perguntas corretas para 
descobrir o que elas revelam. Quando ele se depara com um documento precisa tentar responder: o que esse documento quer dizer? 
Como que objetivo ele foi feito? Quando ele foi feito? Que mensagem seu autor quis transmitir? 
Sabendo fazer as perguntas adequadas, os documentos podem fornecer muitas informações sobre determinado 
acontecimento histórico, uma época ou cultura. 
Entretanto, muitas vezes existem limites para a interpretação do historiador, quando não existem fontes suficientes para 
trazer informações sobre o período estudado ou quando as fontes disponíveis não são capazes de responder todas as perguntas que 
o historiador formular. Por essa razão, o conhecimento histórico nunca será absoluto e nem imutável, pois tanto as respostas quanto 
às perguntas formuladas estão sujeitas a alterações de acordo com a época em que a pesquisa histórica se realiza e com as fontes 
disponíveis ao historiador. 
Limites e possibilidades do saber histórico 
Com base em pesquisas, os historiadores procuram reconstituir as formas de viver em determinada sociedade. Podem, 
também, propor interpretações sobre como as ações humanas desencadearam mudanças ou preservaram situações ao longo do 
tempo. 
Em suas análises, os historiadores podem investigar a vida pública ou privada em seus múltiplos aspectos: econômicos, 
artísticos, políticos, tecnológicos, filosóficos etc. 
Estudar História é, portanto, uma maneira de adquirir consciência sobre a trajetória humana. No entanto, devemos ficar 
atentos aos limites ou problemas da interpretação histórica. 
As historiografias — resultados do trabalho dos historiadores — não podem ser isoladas da época em que foram produzidas. 
Acreditamos que, ao interpretar e escrever sua obra, o historiador vive seu tempo histórico. O que ele produz está ligado à história 
que vivencia, incluindo, por exemplo, lutas, utopias, valores, visões e expectativas. Desse modo, a obra de um historiador pode ser 
uma expressão de sua época e também uma reação ao seu tempo. 
O trabalho do historiador depende de uma série de concepções que impactam suas escolhas, desde a definição do objeto 
enfocado (tema, método e projeto da pesquisa) até a seleção das fontes históricas a serem utilizadas. Além disso, o trabalho do 
historiador não deve ter a pretensão de fixar verdades absolutas e definitivas: “o historiador sabe que trabalha para seu tempo, e 
não para a eternidade”. 
Neste sentido, podemos dizer que a História, como forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa. 
O historiador e os Fatos 
Depois de pesquisar as fontes, o historiador geralmente analisa as informações encontradas comparando-as com dados de 
outros documentos. Em seguida, ele pode consultar o trabalho de outros historiadores que estudam fatos ou acontecimentos 
históricos semelhantes. Feito isso, ele estará em condições de compreender os fatos investigados e identificar sua possível influencia 
nos acontecimentos do presente. 
Com base nessa análise, o historiador desenvolve sua própria interpretação dos fatos e processos estudados. 
Uma frase muito comum é a que “contra fatos não existem argumentos”. Essa frase do ponto de vista histórico está 
completamente enganada. Os fatos históricos não existem sozinhos e nem se apresentam de forma pronta ao entendimento do 
historiador. Eles precisam ser construídos e interpretados através da narrativa que o historiador constrói para explicar o passado. 
Assim como um detetive que junta as pistas e indícios de um crime e os analisa, os historiadores reúnem fontes e 
informações sobre o passado e a partir disso constroem uma explicação sobre o que aconteceu, como e por que aconteceu. 
Da mesma forma, o historiador não é um escravo humilde nem um senhor tirânico de seus fatos. A relação entre o 
historiador e seus fatos é de igualdade e de reciprocidade. O historiador começa com uma seleção provisória de fatos e uma 
interpretação, também provisória, a partir da qual a seleção foi feita. 
Enquanto trabalha, tanto a interpretação e a seleção quanto a ordenação de fatos passam por mudanças sutis e talvez 
parcialmente inconscientes, através da ação recíproca de uma ou da outra. O historiador e os fatos históricos são necessários um ao 
outro. O historiador sem seus fatos não tem raízes e é inútil; os fatos sem seu historiador são mortos e sem significado. 
Portanto, a resposta à pergunta “Que é História?” é que ela se constitui de um processo contínuo de interação entre o 
historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o presente e o passado.

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