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Reflexões sobre a Vida e a Morte

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Aqui, 
oculto e surdo e retido, 
o sangue, 
vermelho e morno e espesso, 
igual!
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As feridas abrem-se
para o céu distante na sua impassibilidade 
e destilam as sete pragas 
que desabaram
sobre o ventre das nossas mulheres 
e o sonho dos nossos filhos 
e a nossa seara e olival.
É da glória que nascem os vermes;
e as estréias,
de mil pedaços ensangüentados,
subindo a noite vertical!
Esta carne envilecida e santa,
a gerar os prados e a nuvem e a chuva,
levada pelo sol e pelo vento ...
Esta carne envilecida e santa, 
apodrecendo em todas as latitudes, 
presente na angústia da noite devastada..
Esta carne envilecida e santa,
forçada a negar a verdade pressentida,
ecoando os versos dos poetas desconhecidos...
Esta carne envilecida e santa,
abrindo-se em flor aos quatro cavaleiros,
é o homem
e a vida breve!
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL (1914-2001) 
DIA DE TODOS-OS-SANTOS
Supõe que morri
(Aos mortos se escreve também algumas vezes). 
Não sou de cá.
O que me dizem estranho
E ouço o que não há.
Assim, talvez, como estrangeiro, 
Encontres palavras que me interessem, 
Saibas dar-me o que me tarda... 
coisas perdidas que procuro
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