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TÓPICO 4 | EMPREENDEDORES CORPORATIVOS E INTRAEMPREENDEDORISMO
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Empreendedores Verdadeiros: 17% dos funcionários demonstraram 
possuir as características de um empreendedor típico: tomadores de 
riscos calculados, geradores de ideias, possuem autoconfiança e são 
líderes.
Empreendedores Potenciais: 42% dos entrevistados demonstraram 
possuir as mesmas características de um empreendedor típico, mas 
sem o mesmo grau de autoconfiança ou liderança. 
Trabalhadores Dedicados: correspondendo a 20% do total, esses 
trabalhadores têm iniciativa, dedicação, força de vontade e motivação, 
porém não sabem aonde querem chegar, não se veem como líderes e 
requerem orientação para cumprir suas tarefas.
Mantenedores: o último grupo equivale a 20% da organização. Eles 
realizam seu trabalho de forma adequada, contudo, dificilmente 
buscam responsabilidades adicionais. (HASHIMOTO, 2006, p. 32).
Outro ponto interessante desta pesquisa, segundo Hashimoto (2006), 
é que o perfil empreendedor não tem relação com a hierarquia, pois 14% dos 
funcionários não estão em posição de chefia e 19% dos gerentes demonstraram 
atitudes empreendedoras. Ou seja, não há relação com sua posição dentro da 
organização e, sim, com suas atitudes empreendedoras.
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UNIDADE 1 | EMPREENDEDORISMO DA ORIGEM À NECESSIDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
EMPREENDER POR OPORTUNIDADE VERSUS NECESSIDADE: UM 
ESTUDO COM EMPREENDEDORES CATARINENSES
Paulo da Cruz Freire dos Santos (UFSC); Josiane Minuzzi (USFC); 
Janaína Renata Garcia (UFSC); Álvaro Guillermo Rojas Lezana (UFSC)
1 INTRODUÇÃO
Diversas habilidades são exigidas dos indivíduos que empreendem, como 
planejar, formar equipes, liderar, negociar, resolver problemas, entre outras. 
Todas importantes, porém, não asseguram o sucesso de uma organização. Para 
Nixdorff & Solomon (2005), uma das habilidades que realçam a probabilidade 
de sucesso de novas organizações é o reconhecimento de oportunidades. Ao 
reconhecer uma oportunidade, o empreendedor tende a sentir-se motivado a 
iniciar um negócio.
De acordo com Benavides Espinosa & Garcia (2004), outro fator motivador, 
de caráter sociocultural, quanto à necessidade de empreender, relaciona-se à busca 
de emprego. A escassez de postos de trabalho e a sensação de futuro incerto podem 
exercer uma pressão no indivíduo, motivando-o a criar seu próprio negócio como 
forma de assegurar-se financeiramente. Como, por exemplo, o caso brasileiro, 
onde, muitas vezes, o empreendedorismo é impulsionado por necessidades.
No rank do Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2006 (BOSMA; 
HARDING, 2007) – relatório mundial sobre empreendedorismo, coordenado pela 
London Business School (Inglaterra) e pelo Babson College (Estados Unidos), o país 
ocupa uma das maiores posições em número de empreendedores. Detém uma das 
mais elevadas relações de empreendedores (indivíduos que, na informalidade, 
empreendem ou trabalham por conta própria) versus população economicamente 
ativa.
Na perspectiva de Nixdorff & Solomon (2005), o campo do 
empreendedorismo ainda é jovem e há muito que germinar nesta área. Afirmam 
também que existem pouquíssimas pesquisas relativas ao reconhecimento de 
oportunidades e, menos ainda, pesquisas empíricas relacionadas a tal fator.
Frente a esta lacuna, buscou-se, neste estudo, comparar nas micro e 
pequenas empresas (MPEs) em atividade do Estado de Santa Catarina, a percepção 
de seus empreendedores quanto à importância de se iniciar uma organização 
pela identificação de uma oportunidade; e se a abertura das organizações por 
necessidade ou identificação de oportunidade varia de acordo com a região. Para 
isso, delinearam-se três hipóteses:
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORES CORPORATIVOS E INTRAEMPREENDEDORISMO
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– H1: A habilidade para perceber novas oportunidades independe da região 
onde vive o empreendedor;
– H2: A motivação para a abertura de um empreendimento devido à necessidade 
de sobrevivência independe da região onde vive o empreendedor;
– H3: Independe da região onde vive o empreendedor a sua percepção de que a 
abertura de sua empresa ocorreu devido à identificação de uma oportunidade.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O GEM consiste num instrumento que mensura os níveis de 
empreendimentos por oportunidade versus necessidade. Para Reynolds et al. 
(2005), o GEM foi idealizado com o objetivo principal de investigar diferenças 
em nível nacional de tipos de empreendedorismo e sua ligação com a criação de 
postos de trabalho e o crescimento econômico. Ainda na percepção desses autores, 
um fator importante que deve ser considerado são as decisões dos indivíduos 
relacionadas à busca por iniciativas empresariais.
O relatório do GEM 2006 (BOSMA; HARDING, 2007) indica que o 
empreendedorismo por necessidade é mais ocorrente nos países (ou regiões) que 
apresentam rendas medianas.
Portanto, os que empreendem por necessidade são aqueles que se 
localizam em regiões onde oportunidades de trabalho são insatisfatórias ou 
inexistentes. No grupo de países considerados de renda mediana, a motivação de 
empreender por ter identificada uma oportunidade apresenta as porcentagens 
mais baixas, com destaque para Croácia, Brasil e Filipinas, reafirmando a alta taxa 
de empreender por necessidade destes países.
2.1 EMPREENDER POR NECESSIDADE
As necessidades podem ser conceituadas como um desequilíbrio interno 
do indivíduo, ou a manifestação de um déficit, uma determinada carência, que 
ao surgir causa um estado de tensão, insatisfação, desconforto e desequilíbrio 
(LEZANA, 2004). Existem três formas de retomar o estado de equilíbrio: através da 
satisfação da necessidade, da compensação (quando a necessidade é transferida 
para outro objeto) ou ainda da frustração (neste caso, permanece no indivíduo, 
podendo ou não retomar o estado de equilíbrio).
Abraham Maslow, um dos mais citados pesquisadores das necessidades 
humanas, propôs uma hierarquia das necessidades, um arranjo, que seria 
responsável por ativar e direcionar o comportamento humano. Tais necessidades 
foram classificadas hierarquicamente em cinco níveis, capazes de justificar 
o comportamento humano. Maslow concluiu que cada pessoa nasce com as 
mesmas necessidades instintivas que nos concedem a sobrevivência; ao passar 
do tempo as necessidades vão se diferenciando e nos capacitam a crescer, nos 
desenvolver e a realizar nossos potenciais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). Portanto, 
as necessidades são moldadas por características sociais, culturais e econômicas.
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UNIDADE 1 | EMPREENDEDORISMO DA ORIGEM À NECESSIDADE
Buscando descobrir as necessidades que motivam os empreendedores, 
mais de mil empresários em 11 países foram entrevistados quanto às necessidades 
que caracterizavam suas personalidades. Os resultados da pesquisa, para Birley 
& Westhead apud Lezana & Tonelli (2004), foram as seguintes necessidades:
– Aprovação: busca a aprovação por seus comportamentos, com isso deseja 
conquistar alta posição na sociedade, ser respeitado pelos amigos, pela família, 
ser reconhecido;
– Independência: o empreendedor busca na independência impor seu próprio 
enfoque no trabalho, flexibilidade na vida pessoal e profissional, controlar seu 
tempo, etc.;
– Desenvolvimento pessoal: um novo empreendimento oferece inúmeras 
situações para que o empreendedor desenvolva seus conhecimentos e 
habilidades, inove, transforme ideias em produtos, aprenda continuamente;
– Segurança: necessidade do empreendedor de se proteger de perigos reais ou 
imaginários, físicos ou psicológicos; geralmente espera que sua empresa lhe 
permita rendimentos suficientes para manter uma vida digna para si e sua família;
– Autorrealização: necessidade de maximizar seu potencial pessoal, é querer 
desenvolver a capacidade de superar seus próprios limites.
Para este estudo, define-se operacionalmente o empreender por 
necessidade como uma necessidade de segurança ou, ainda, de sobrevivência. 
Portanto, empreendedores por necessidade consistem naqueles que iniciam 
negócios motivados pela falta de alternativa satisfatóriade ocupação e renda. Já 
os empreendedores por oportunidade são motivados pela percepção de um nicho 
de mercado em potencial.
2.2 EMPREENDER POR OPORTUNIDADE
Segundo Shane (2003), o processo empreendedor é uma sequência de 
passos a partir da existência de uma oportunidade. O empreendedor, por conta 
de suas características e habilidades pessoais, e de como ele atua no ambiente, 
decide pela exploração da oportunidade. Neste ponto, parte em busca dos 
recursos necessários, após o que estabelece a sua estratégia empreendedora, 
organiza o processo e o executa.
Para Saks & Gaglio (2002), o reconhecimento de oportunidades de mercado 
é a principal ação do processo de empreendedorismo para alcançar o progresso 
econômico e seu desenvolvimento. Na visão de Sarason; Dean & Dillard (p. 8, 
2006), “oportunidades são um processo idiossincrático para o indivíduo”. Deste 
modo, os autores estruturam uma perspectiva de oportunidades visualizando-
as não como a simples interpretação de um nicho social e econômico, mas como 
conceito idiossincrático entre o indivíduo e um sistema instanciado social e 
economicamente. Portanto, são os sistemas sociais que habilitam o empreendedor 
no processo de descoberta, avaliação e exploração de oportunidades, através de 
uma interdependência mútua entre agente e sistema. Assim, o que auxiliará o 
empreendedor a detectar oportunidades é o meio, o contexto onde ele está inserido.
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Nixdorff & Solomon (2005) definem o reconhecimento de oportunidades 
como um processo cognitivo que pode ser realçado com treinamento, com 
educação. Para os autores, o reconhecimento de oportunidades parece estar 
recebendo uma atenção especial nos últimos anos. Entretanto, ainda não há um 
conceito claro sobre o assunto, há confusão quando se abordam características 
tais como intuição, consciência, intenção, criatividade.
Para Sipilä (2006), o reconhecimento de oportunidades pode ser pensado 
como um processo, onde empreendedores buscam identificar oportunidades 
para explorá-las; entretanto, para ser capaz de visualizar uma oportunidade, é 
necessário reconhecê-la, o que não é uma habilidade muito fácil de desenvolver. 
Por fim, conceitua oportunidade como uma situação futura desejada que tem um 
potencial valor econômico.
Baron (2004) argumenta que o reconhecimento de oportunidades está 
intimamente ligado às estruturas de conhecimento dos empreendedores. Tal 
reconhecimento demanda a percepção coerente entre fatores aparentemente 
desconexos, tais como: fatores tecnológicos, econômicos, políticos e sociais; e para 
isso, precisam de um conhecimento anterior que os possibilite realizar tais nexos. 
Também é o conhecimento que, ao ser acessado, permite novas ideias de negócios 
originais e/ou mais práticos que os existentes. Para o autor, o conhecimento baseia 
o reconhecimento de oportunidades.
A habilidade de identificar oportunidades se caracteriza pela capacidade 
de identificar novas oportunidades de produtos e/ou prestação de serviços; 
perceber o que os outros não percebem, visualizar além, é o famoso “faro”. 
De acordo com Kantis (2002), em pesquisa realizada com 689 empresários de 
MPEs, mais de 70% dos entrevistados informaram que a chave para identificar 
as oportunidades de negócios é a “interação com as pessoas” e a “experiência 
profissional prévia”.
2.3 REGIÕES DO ESTADO DE SANTA CATARINA
O IBGE divide o Estado de Santa Catarina em seis mesorregiões (Grande 
Florianópolis, Norte Catarinense, Oeste Catarinense, Serrana, Sul Catarinense 
e Vale do Itajaí) e 20 microrregiões (Araranguá, Blumenau, Campos de Lages, 
Canoinhas, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Florianópolis, Itajaí, 
Ituporanga, Joaçaba, Joinville, Rio do Sul, São Bento do Sul, São Miguel d’Oeste, 
Tabuleiro, Tijucas, Tubarão e Xanxerê).
O Governo Estadual, por outro lado, provavelmente devido a razões 
de cunho administrativo, tem outra classificação, com 36 regiões (Araranguá, 
Blumenau, Braço do Norte, Brusque, Caçador, Campos Novos, Canoinhas, 
Chapecó, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Dionísio Cerqueira, Ibirama, 
Itajaí, Itapiranga, Ituporanga, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages, Mafra, 
Maravilha, Palmitos, Quilombo, Rio do Sul, São Joaquim, São José, São Lourenço 
d’Oeste, São Miguel d’Oeste, Seara, Taió, Timbó, Tubarão, Videira e Xanxerê).
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UNIDADE 1 | EMPREENDEDORISMO DA ORIGEM À NECESSIDADE
Muitas vezes, por razões próprias, pesquisadores criam outras 
classificações visando atender à setorialização de seus estudos. Esse é o caso 
de Ortigara (2006), que desenvolveu uma nova classificação quando pesquisou 
os empreendedores catarinenses. Ortigara (2006) segmentou o estado em seis 
regiões (Grande Florianópolis, Norte, Oeste, Sul, Planalto Serrano e Vale do Itajaí). 
Convém salientar que nessa classificação cada região contempla apenas alguns 
dos municípios que ali poderiam constar. Para este artigo foram usados os dados 
primários de Ortigara (2006) e, consequentemente, segue-se sua classificação para 
regiões catarinenses e municípios nelas contidos. O Estado de Santa Catarina está 
em segundo lugar no país em termos de qualidade de vida.
Seu IDH em 2000 foi de 0,822, ou seja: alto. Segundo o PNUD (2003), 
o crescimento do IDH catarinense no período entre 1991 e 2000 foi da ordem 
de 9,89%, sendo que o destaque setorial foi para o IDH-Educação, que teve um 
incremento de 43,7%. Na Tabela 1 estão discriminados os vários IDHs para as 
regiões e municípios pesquisados por Ortigara (2006).
REGIÕES
IDH
Municipal Educação Longevidade Renda
1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000
Grande Florianópolis 0,79 0,85 0,86 0,93 0,78 0,82 0,73 0,79
 Florianópolis 0,82 0,88 0,90 0,96 0,77 0,80 0,80 0,87
 São José 0,80 0,85 0,86 0,93 0,80 0,84 0,73 0,78
 Palhoça 0,74 0,82 0,80 0,89 0,77 0,83 0,65 0,73
Norte 0,74 0,83 0,83 0,92 0,73 0,82 0,67 0,74
 Joinville 0,78 0,86 0,85 0,94 0,76 0,86 0,73 0,78
 Canoinhas 0,70 0,78 0,81 0,90 0,67 0,75 0,61 0,70
 São Bento do Sul 0,76 0,84 0,84 0,93 0,76 0,85 0,68 0,74
Oeste 0,77 0,84 0,83 0,93 0,79 0,85 0,69 0,75
 Chapecó 0,76 0,85 0,81 0,94 0,80 0,86 0,68 0,75
 São Miguel do Oeste 0,76 0,84 0,83 0,91 0,79 0,88 0,66 0,73
 Xanxerê 0,72 0,82 0,79 0,92 0,73 0,81 0,66 0,72
 Joaçaba 0,82 0,87 0,88 0,95 0,81 0,86 0,75 0,79
 Concórdia 0,77 0,85 0,82 0,93 0,81 0,86 0,69 0,77
Sul 0,76 0,83 0,83 0,91 0,75 0,81 0,68 0,75
 Criciúma 0,77 0,82 0,84 0,92 0,74 0,77 0,71 0,78
 Tubarão 0,78 0,84 0,86 0,92 0,78 0,84 0,69 0,77
 Araranguá 0,73 0,81 0,80 0,89 0,73 0,83 0,64 0,72
Planalto Serrano 0,72 0,79 0,80 0,89 0,70 0,77 0,65 0,72
 Curitibanos 0,70 0,77 0,78 0,86 0,70 0,75 0,63 0,70
 Lages 0,73 0,81 0,82 0,91 0,70 0,78 0,67 0,74
TABELA 1 – IDH nas regiões pesquisadas
TÓPICO 4 | EMPREENDEDORES CORPORATIVOS E INTRAEMPREENDEDORISMO
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Vale do Itajaí 0,78 0,84 0,85 0,92 0,75 0,81 0,73 0,78
 Blumenau 0,81 0,86 0,87 0,95 0,81 0,82 0,76 0,80
 Rio do Sul 0,76 0,83 0,84 0,92 0,74 0,80 0,71 0,77
Itajaí 0,76 0,83 0,85 0,91 071 0,80 0,71 0,77
Além de apresentar alto IDH, Santa Catarina tem uma economia pujante. 
Seu PIB em 2004, segundo dados da Secretaria de Planejamento estadual, foi de R$ 
47.987,61 milhões. Os municípios utilizados na classificação regional de Ortigara 
(2006) estão entre os 49 com melhor posição no ranking estadual, sendo que três 
deles (Joinville, Florianópolis e Blumenau) ocupam as primeiras posições.
É provável que um dos fatores do crescimento de Santa Catarina seja 
o investimento que foi feito no setor educacional, com resultados visíveis na 
qualificação de sua mão de obra. Segundo dados do PNUD (2003), a taxa de 
analfabetismo entre pessoas de faixa etária até os 24 anos diminuiu em mais 
de 50%. Entretanto, os resultados desse crescimento não atingiram a toda a 
população. A desigualdade, medida pelo Índice de Gini, passou de 0,5 para 
0,6 (PNUD, 2003). Talvez como decorrência dessa desigualdade ainda existamdiscrepâncias no que se refere às razões pelas quais as pessoas empreendem: 
algumas por oportunidade e outras por necessidade.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os dados utilizados para o processamento estatístico, cujos resultados são 
relatados neste artigo, foram obtidos no banco de dados da pesquisa realizada por 
Ortigara (2006) em uma amostra de 1.393 empresas registradas na Junta Comercial 
do Estado de Santa Catarina (JUCESC), entre 2000 e 2004. Desses dados utilizaram-
se apenas as empresas que se encontravam em atividade. Tal pesquisa segmentou o 
estado em seis regiões e 19 municípios, conforme pôde ser visto na Tabela 1.
O banco de dados resultante da pesquisa de Ortigara (2006) permitiu o seu 
tratamento gerando estatísticas descritivas das regiões estudadas; e a testagem de 
hipóteses relacionadas à oportunidade e necessidade no ato de empreender ou 
constituir uma empresa. Vale salientar que Ortigara (2006) utilizou uma escala 
tipo Likert, de sete pontos, para levantar as percepções dos seus pesquisados. A 
técnica estatística utilizada para testar as hipóteses foi a análise de variância de 
amostras independentes, por postos de Kruskal-Wallis. O teste de Kruskal-Wallis 
é um teste não paramétrico usado para a comparação de três ou mais amostras 
que podem ter o mesmo tamanho ou tamanhos diferentes (AYRES; AYRES JR, 
1987; SHESKIN, 2000; SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006; SPRENT; SMEETON, 
2001). Para a execução do teste os dados foram tratados como sendo ordinais e as 
hipóteses delineadas na introdução tomaram a forma das hipóteses nulas:
FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD, 2003.
H01 : 0 = 0 = 0 = 0 = 0 = 0
H02 : 0 = 0 = 0 = 0 = 0 = 0
H03 : 0 = 0 = 0 = 0 = 0 = 0
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UNIDADE 1 | EMPREENDEDORISMO DA ORIGEM À NECESSIDADE
H11 : Não H01
H12 : Não H02
H13 : Não H03
As hipóteses alternativas foram definidas como:
Os dados foram processados utilizando-se o software SPSS e como nível de 
decisão foi estabelecido: = 0,05.
4 ANÁLISE DOS DADOS
As duas primeiras hipóteses mostraram diferenças estatisticamente 
significativas para os escores obtidos dos empreendedores nas seis regiões 
pesquisadas (Tabela 2) sendo, portanto, rejeitadas. Não existe uniformidade, entre 
as regiões pesquisadas, quanto às afirmativas que foram feitas. Na primeira questão, 
que abordou a habilidade das pessoas para perceberem novas oportunidades e a sua 
influência para o início do negócio, em quatro das regiões pesquisadas observou-se 
maior frequência de pessoas, por região, com escores mais baixos ou iguais à mediana 
(Tabela 3). Quanto à segunda questão, que indagou sobre a razão para que o negócio 
fosse iniciado, especificamente se foi a necessidade de sobrevivência, o número de 
regiões com respondentes apresentando escores abaixo ou igual à mediana aumentou. 
No entanto, não houve uniformidade para todas as regiões pesquisadas (Tabela 3).
TABELA 2 – Teste de Kruskal-Wallis
TABELA 3 – Distribuição dos escores atribuídos pelos pesquisados acima e abaixo da mediana
Nota: α = 0,05
Nota: GF = Grande Florianópolis; PS = Planalto Serrano; VI = Vale do Itajaí
Hipóteses x2 gl sig.
Minha habilidade para perceber novas oportunidades foi importante 
para abertura do negócio
13,112 5 0,022
A necessidade de sobrevivência fez com que eu iniciasse meu negócio 15,372 5 0,009
A abertura da empresa ocorreu pela identificação de uma oportunidade 50,65 5 0,408
A terceira hipótese não se mostrou estatisticamente significativa, sendo, 
portanto, aceita. Na Tabela 3 pode ser visto que os escores obtidos com os 
pesquisados ficaram abaixo da mediana, denotando uma maior similitude nas 
suas percepções.
Discriminação Mediana GF Sul Oeste PS Norte VI
Minha habilidade para perceber 
novas oportunidades foi importante 
para abertura do negocio
6,000 >Mediana
<=Mediana
39
30
9
23
23
44
13
9
35
36
30
31
A necessidade de sobrevivência fez 
com que eu iniciasse meu negócio
4,000 >Mediana
<=Mediana
22
47
16
16
37
32
8
14
32
39
21
40
A abertura da empresa ocorreu pela 
identificação de uma oportunidade
7,00 >Mediana
<=Mediana
0
69
0
32
0
69
0
22
0
70
0
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TÓPICO 4 | EMPREENDEDORES CORPORATIVOS E INTRAEMPREENDEDORISMO
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Ainda pela Tabela 3 pode-se ver que a mediana da última questão foi igual 
ao valor mais alto da escala tipo Likert (1 a 7). Um total de 73,7% dos pesquisados 
atribuiu valores 6 e 7, mostrando que foi a identificação de uma oportunidade que 
possibilitou o início do empreendimento. Ressalta-se que a mediana da primeira 
hipótese foi considerada alta em relação à escala utilizada. Em uma distribuição 
de frequência é possível observar que mais de 80% dos respondentes se avaliaram 
com notas no extremo da escala tipo Likert (5, 6 e 7), ou seja, consideram-se 
habilidosos para perceber oportunidades. Tal análise demonstra conexão entre o 
que foi observado nas tabelas 2 e 3, ou seja, há uma maior incidência de pessoas 
empreendendo por oportunidade e não por necessidade de sobrevivência.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo procurou-se demonstrar a existência de diferenças quanto 
às razões que levam empreendedores catarinenses a iniciarem seus negócios. 
Os dados obtidos mostraram diferenças regionais quanto ao número de 
empreendedores que iniciam seus negócios por oportunidade ou por necessidade.
Apesar de o GEM considerar o Brasil como um dos países com menor 
taxa de motivação de empreender por ter identificado uma oportunidade, no 
Estado de Santa Catarina os dados analisados mostram outra realidade. Os 
empreendedores catarinenses objeto da pesquisa, em sua maioria, abrem seus 
negócios pela identificação de uma oportunidade e não por uma necessidade de 
sobrevivência, salvo os da região Oeste.
Na interpretação dos autores deste artigo, as razões pelas quais as 
questões pesquisadas apresentaram tais resultados podem ser decorrentes do 
alto IDH que o Estado de Santa Catarina apresenta em relação aos outros estados 
brasileiros. Nas análises do GEM nas regiões que apresentam uma alta renda 
as pessoas tendem a empreender por oportunidade; nas que são consideradas 
de renda mediana, o que leva as pessoas a empreender é uma necessidade de 
sobrevivência, o que confirma os resultados deste estudo.
Para ler o artigo completo, acesse. Disponível em: <http://www.abepro.
org.br/biblioteca/enegep2007_tr630470_9378.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2016.
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RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico vimos:
• As organizações empreendedoras.
• Como necessitam ser configuradas as organizações empreendedoras.
• Os empreendedores dentro das organizações.
• Intraempreendedores, o que são.
• As características dos intraempreendedores.

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