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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INSTITUTO DE ENGENHARIA MECÂNICA EEN 603 - BIOCOMBUSTÍVEIS Biodigestão Anaeróbica: Parte 1 Autor: Prof. Dr. Christian Jeremi Coronado Rodriguez Itajubá - MG, novembro de 2023 2 1. Introdução. Os processos bacteriológicos de fermentação da matéria são anteriores à existência do homem na Terra, visto que a quantidade de bactérias e a intensidade de sua ação no ambiente primitivo colaboraram na determinação da composição da atmosfera, propiciando as condições de desenvolvimento da vida. Atualmente existem várias tecnologias para o tratamento de dejetos e dentre elas a mais vantajosa é o sistema de biodigestão devido ao aproveitamento dos resíduos. 2. História. Existem registros datados de 1776, que provam a descoberta do metano efetuada pelo químico italiano Alessandro Volta; entretanto, é de se supor que esse gás combustível já fosse reconhecido e até mesmo utilizado de alguma maneira desde antes dessa data Em 1806, na Inglaterra, Humphry Davy identificou um gás rico em carbono e dióxido de carbono, resultado da decomposição de dejetos animais em lugares úmidos, e fez uma ligação da sua pesquisa com o gás dos pântanos, mencionada por Volta Somente em 1844, Ulisse Gayo, mostra de maneira definitiva que o gás metano pode ser produzido a partir da fermentação de uma mistura de excrementos, palha de estábulo e água, e discute suas propriedades Nessa época, pesquisadores da Alemanha e França estabeleceram as bases teóricas e experimentais da biodigestão anaeróbica Na Segunda Guerra Mundial a biodigestão foi bastante defendida entre os países europeus, usando o biogás em substituição dos derivados do petróleo, através da queima direta e do uso de veículos Em 1939, o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola em Kampur, desenvolveu a primeira usina de gás esterco. O sucesso obtido animou os indianos a continuarem as pesquisas, formando o Gobar Gás Institute (1950) 3 A China adotou a tecnologia a partir de 1958, onde até 1972, já haviam sido instalados 7,2 milhões de biodigestores na região do rio Amarelo. E logo após essa ideia veio para o Brasil No ano de 1973 o Brasil passou por uma crise energética, assim começou a procura de outros métodos para a produção de energia. A utilização de biodigestores passou a ser uma opção adotada pelo país Em novembro de 1979, a Embraer instalou o primeiro biodigestor do modelo chinês, na Granja do Torto em Brasília Na década de 80, iniciaram a implantação de mais biodigestores. Mas os técnicos não tinham muito conhecimento dessa tecnologia, isso fez com que os novos biodigestores não funcionassem. Assim os biodigestores construídos nessa época foram abandonados ou utilizados como simples esterqueiras, para os técnicos isso foi um fracasso 3. O Biogás. O Biogás é originado pela mistura de gases, principalmente, metano e gás carbônico e em menores proporções o nitrogênio e gás sulfídrico. O Biogás tem um poder calorífico que varia de 5000 e 7000 kcal/ m³ de gás com composição de 60 a 80% de metano. 4 3.1. Equivalência energética 3.2. Produção a partir de estrume 3.3. Produção a partir de restos vegetais 5 Ônibus movidos a biogás em Helsingborg (Center for Land Use Education, 2008) e em Estocolmo (Energieprojecten, 2008). 3.4. Exemplo Para uma família de 5 pessoas em termos de uso caseiro tem se: Essa quantidade de biogás corresponde a ¼ de um bujão de gás de 13 kg e pode ser obtida com a produção de aproximadamente 30 a 40 bovinos. 3.5. Processo O biogás é gerado através da decomposição da matéria orgânica (o que inclui carboidratos, lipídios e proteínas). Após a produção, este combustível deve ser processado e purificado, a fim de que não diminua a vida útil dos dispositivos que o utilizam, como caldeiras, queimadores ou mesmo células de combustível associadas a reatores para produção de gases de síntese para fins de geração de energia. 6 O processo de digestão é fortemente influenciado pela temperatura do processo, pela composição da matéria-prima a ser decomposta, pelo tempo de retenção hidráulica (TRH), pelo pH e pela presença (ou ausência) de substâncias tóxicas oriundas de desinfetantes e inseticidas. O Tempo de Retenção Hidráulica (TRH) é o tempo em que o substrato orgânico deve permanecer no digestor para que seja digerido pelas bactérias anaeróbias. 7 3.6. Condições de boa qualidade Algumas condições para a não afetar a fermentação e liberação de um biogás de boa qualidade: Temperatura A temperatura ideal é em torno dos 35◦C Aumentando a temperatura, diminui o tempo de residência Quando a temperatura fica abaixo de 10 a 15◦C pode cessar a biodigestão PH O PH ideal é de 6 a 8, podendo ser considerado ótimo de 7 a 7,2. A redução do PH abaixo dos limites ideais pode cessar a biodigestão Problema do bicarbonato: Se as bactérias do primeiro grupo são muito rápidas e produzem mais alimentos do que as metanogênicas conseguem digerir, o dióxido de carbono liberado tornará maior a concentração de bicarbonato, o que impede a queda acentuada no pH 8 Composição de Concentração A composição do resíduo a ser tratado afeta a produção de biogás na proporção direta: quanto maior for o conteúdo de sólidos voláteis, os quais representam a quantidade de sólidos orgânicos presentes na amostra, e a disponibilidade de nitratos, fosfatos e sulfatos, maior será a produção de biogás Agitação A agitação propicia um maior contato do substrato com as bactérias, distribuindo melhor o calor na biomassa e dando maior uniformidade dos produtos intermediários e finais da biodigestão, além de evitar a produção de uma crosta que pode obstruir a parte superior do biodigestor Nutrientes essenciais Nitrogênio e sais orgânicos (principalmente carbono) Substâncias prejudiciais (São elementos conciliáveis se mantidas abaixo de certas concentrações) Cloreto de Sódio Cobre Amônia Potássio Magnésio Tempo de retenção De 35 a 50 dias 4. Biodigestores. Os biodigestores também podem ser usados para tratar dejetos humanos, mas o efluente deve sofrer tratamentos posteriores para porte pequeno para atender uma residência. 9 Biodigestor residencial Um biodigestor também serve para atender uma escala maior de habitantes. Adequado para condomínios, edifícios, shoppings, supermercados, colégios, entre outros. Biodigestor comercial Os biodigestores também são típicos para ser usados em fazendas, sítios, pois sua capacidade é ideal para realizar toda biodigestão dos resíduos orgânicos produzidos nessas grandes áreas. Biodigestor Rural 10 Biodigestor: solução para reduzir as emissões do gás metano gerada por dejetos de suínos 4.1. Biodigestores anaeróbicos Os biodigestores consistem basicamente numa câmara de fermentação, onde é processada a biodigestão da matéria orgânica, numa campânula que armazena o gás produzido ou, simplesmente, numa saída para esse gás, numa entrada do substrato a ser fermentado e numa saída para o efluente produzido pelo processo. 4.2. Biodigestores – Classificação O biodigestor deve ser concebido com o objetivo de proporcionar as vantagens citadas, embora seja reconhecidamente difícil atender as três de forma integrada e otimizada Os biodigestores podem ser classificados de acordo com o tipo de construção, modo de operação, a forma de armazenamento do gás, fluxo das substâncias em fermentação, 11 temperaturade operação, com ou sem agitação e com ou sem dispositivos para agregar a biomassa bacteriana 4.2.1. A saber As alternativas de construção de biodigestores são muitas e se resumem, de maneira geral, numa combinação de diferentes características. Um biodigestor pode ser contínuo, enterrado, mesofílico, de fluxo vertical, pode utilizar um gasômetro externo, possuir um agitador e uma matriz interna para auxiliar na agregação das bactérias. Biodigestor a batelada externa, mesofílico, com gasômetro externo, de plástico flexível reforçado 12 4.2.2. Importante Devido ao largo uso a que foram submetidos desde o inicio do século, o biodigestor em batelada, o tanque séptico de Imhoff, o biodigestor modelo indiano e o modelo chinês devem ser estudados. 4.3. Biodigestor batelada em tambor metálico Os outros tipos podem ser considerados uma variação deste. O resíduo ou material a ser biodigerido é colocado, geralmente misturado com água, no tambor maior. O tambor menor é colocado sobre o material e, quando a produção de gás começa, ele se eleva, indicando visualmente que o processo se desenvolve. Constam de um sistema bastante simples e pequena exigência operacional sendo que este recebe o substrato de uma só vez, ficando fechado por um período conveniente de produção de gás, após o que ele é esvaziado. Sua instalação poderá ser apenas um tanque anaeróbico, ou vários tanques em séries. H – Altura do nível do substrato h1 – Altura ociosa do gasômetro h2 – Altura útil do gasômetro h3 – Altura livre para o deslocamento do gasômetro hg – Altura do gasômetro 13 c – Altura do gasômetro acima da parede do biodigestor Db – Diâmetro da base b – Altura da parede do biodigestor acima do nível do substrato. Di – Diâmetro interno do biodigestor. Dg – Diâmetro do gasômetro De – Diâmetro externo da parede inferior. Ds – Diâmetro interno da parede superior 5. Tanques. 5.1. Imhoff Bastante difundido na sua época, foi desenvolvido pelo alemão Karl Imhoff, no fim do século XIX. Sua finalidade básica não é a produção de gás, mas a redução quase total dos sólidos em efluentes domésticos. É um modelo de alimentação e retirada contínuas de material. Construído geralmente em concreto ou aço, com tempo médio de retenção no decantador de dois a quatro dias. 5.2. Modelo chinês Formado por uma câmera cilíndrica de alvenaria para a fermentação, com teto abobado, impermeável, destinado ao armazenamento de biogás. Princípio da prensa hidráulica, ao aumentar a pressão em seu interior (acúmulo de biogás), resultará em deslocamentos do efluente para a caixa de saída, e em sentido contrário quando ocorre a descompressão. 14 5.2.1. Dimensões Dc – Diâmetro do corpo cilíndrico Hc – Altura do corpo cilíndrico hg – Altura da calota do gasômetro hf – Altura da calota do fundo Rr – Centro da calota esférica do fundo Rg – Centro da calota esférica do gasômetro; he – Altura caixa de entrada De – Diâmetro da caixa de entrada hs – Altura da caixa de saída Ds – Diâmetro da caixa de saída 5.2.2. Vantagens Este modelo tem um custo mais barato em relação aos outros, pois a cúpula é feita alvenaria O biodigestor chinês é o que ocupa menos espaço na superfície do solo Como é construído completamente enterrado no solo tanto o digestor, como o gasômetro, sofrem muito pouca variação de temperatura 5.2.3. Desvantagens O sistema de comunicação entre a caixa de carga e o digestor sendo feito através de tubos, está sujeito a entupimentos Não é um biodigestor próprio para acúmulo de gás, devido a sua construção de cúpula fixa (a área de reserva de gás é menor). É um modelo mais indicado na produção de biofertilizantes O modelo chinês não é utilizado para instalação de grande porte 5.3. Modelo indiano O modelo indiano se caracteriza por possuir uma campânula como gasômetro, a qual pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentação ou em um selo d’água externo, e uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. A função da parede divisória faz com que o material circule por todo o interior da câmara de fermentação. O modelo Indiano possui pressão de operação constante. 16 O biodigestor indiano é composto por: 5.3.1. Componentes Caixa de descarga Tubo de carga Câmara de biodigestão cilíndrica Gasômetro Ele se movimentara para cima ou para baixo, de acordo com o volume de biogás acumulado ou retirado. “Geralmente o gasômetro é feito de chapa de aço numero 14, a qual deverá ser soldada em uma estrutura metálica, feita de cantoneiras de aço carbono ¾”. Ele deverá ter formato cilíndrico, sendo a cobertura superior 17 abaulada (em forma de cone), para evitar a deposição de impurezas e água na parte externa do mesmo Tubo-guia Tubo de descarga Caixa ou caneleta de descarga Saída do gás 5.3.2. Vantagens É construído enterrado no solo e sofre pouca variação de temperatura. A temperatura elevada favorece a ação das bactérias e sua queda provoca uma menor produção de biogás Ocupa pouco espaço do terreno porque sua maior extensão é vertical Em termos de custos, sendo as paredes de seu digestor construídas dentro do solo, o modelo dispensa o uso de reforços, tais como cintas de concreto, o que barateia as despesas 5.3.3. Desvantagens Quando a cúpula for de metal, ela está sujeita ao problema de corrosão. Para evitá-lo recomenda-se fazer uma boa pintura com um antioxidante, como por exemplo, o zarcão. 5.3.4. Dimensionamento de biodigestor 18 H – Altura do nível do substrato h – Altura da parede divisória h1 – Altura ociosa do gasômetro h2 – Altura útil do gasômetro Di – Diâmetro interno do biodigestor Dg – Diâmetro do gasômetro Db – Diâmetro da base De – Diâmetro externo da parede superior Ds – Diâmetro interno da parede superior a – Altura do fundo da caixa de entrada b – Altura da parede do biodigestor acima do nível do substrato n – Comprimento do tubo de PVC acima da superfície do solo e – Altura do posicionamento dos tubos de entrada e saída m – Distância entre a parede do gasômetro e o meio da caixa de entrada l – Comprimento do tubo de PVC até a superfície do solo 5.3.5. Metodologia de dimensionamento 5.3.6. Restrições Diâmetro interno: Vb = Di 2H/4 ≥ 1,1 (Vol. Total de carga) 0,6≤ Di/H ≤ 1,0 3 < H < 6 Diâmetro do gasômetro: Dg = Di + 0,10 Altura da parede divisória: h ≥ 2/3 H Volume do gasômetro: V1 = Dg2h1/4 ; h1 ≥ 0,15 m V2 = Dg2h2/4 Vg = V1 + V2 Volume da parede divisória: Vp = h * Di * esp Diâmetro interno da parede superior : Ds = Dg + 0,10 Diâmetro externo da parede superior: De = Di + 2(esp) Diâmetro base: Db = De + 0,2 Volume útil da caixa de entrada: 20 Vc = Vol. Total de carga / n ; n= 50 dias Altura do solo e fundo da caixa de entrada: a = 0,5 m b = 0,15 m.c.a ( pressão máxima desejada) e = 0,3 m 5.3.7. Exercício 10: Biodigestor indiano a partir de uma caixa de água inox e de PVC A partir de caixas de água de aço inox e PVC, comercialmente disponíveis no mercado, dimensionar um biodigestor tipo indiano: a) Completar a Tab.1 a fim de calcular o volume do biodigestor e o volume do gasômetro. b) Calcular as principais dimensões de um biodigestor para um sitio que conta com 3 cabeças de gado. Seguir as restrições e recomendações fornecidas. 5.3.7.1. Tab. 1 Quantidade de Animais Total de Esterco (kg) Vol. de Água (l) Volume de carga (VC) (l/dia) Vol. Total de carga VC x TRH (l) Produção diária de Biogás (m3) Vol. do Gasômetro (m3) 1 5,3 3 5 10 2021 5.3.7.2. Resultados obtidos com o dimensionamento 6. Construção do biodigestor. Preparar a caixa de PVC: Cortar o fundo da caixa, para ser encaixada na caixa d’água de inox como gasômetro Colocar as agarradeiras, para que sejam fixados cabos até a caixa de inox. Isso evitará que a pressão do gás exercida na caixa de PVC a derrube Na tampa da caixa de PVC será colocado um tubo com registro para ser coletado o biogás 22 Preparar a caixa de Inox: Cortar a parte superior da caixa, para que se permita encaixar a caixa de PVC Colocar as tubulações de PVC com o dimensionamento apropriado, as tubulações permitirão a entrada da biomassa e a saída do biofertilizante Fixar a chapa de inox no interior da caixa, para que tenha a separação da biomassa e do biofertilizante no interior do biodigestor Preparar a chapa de vedação: A chapa será cortada, dobrada e fixada na caixa d’água de inox, para fazer a vedação do sistema e por fim será colocado o selo d’água. A fixação será feita através de uma solda especial para aço inox Construção da estrutura de transporte do biodigestor: Uma estrutura é feita de metalão 23 Serão fixadas 4 rodas que suportam 80 kg cada 6.1. Biodigestor montado 24