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Interdisciplinaridade na Museologia

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XIX ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - ENANCIB 2018 
GT - 9 - Museu, Patrimônio e Informação 
MUSEU, MUSEOLOGIA E INTERAÇÕES DISCIPLINARES NA PESQUISA BRASILEIRA1 
Charles Narloch (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) 
Teresa Cristina Scheiner (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) 
Diana Farjalla Correia Lima (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) 
MUSEUM, MUSEOLOGY AND DISCIPLINARY INTERACTIONS IN BRAZILIAN RECHEARCH 
Modalidade da Apresentação: Comunicação Oral 
Resumo: Quais os entendimentos dos pesquisadores do campo do Museu e da Museologia sobre as 
interações disciplinares com outros campos do conhecimento no Brasil? Motivado por esta questão, 
este texto baseia-se em pesquisa que procurou refletir sobre as origens dos conceitos de 
interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade, e trazer uma 
breve revisão sobre os entendimentos de teóricos da Museologia, especialmente a partir da publicação 
do segundo volume do Museological Working Papers (MuWoP), pelo Comitê de Museologia do 
Conselho Internacional de Museus (ICOFOM), em 1981. Partindo desses entendimentos, buscou-se 
analisar como estes se refletem na pesquisa brasileira atual, por meio da análise do cadastramento de 
grupos de pesquisa junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - DGP/CNPq. Neste diretório, foram efetuadas buscas 
parametrizadas, vinculando-se os termos “Museu” e “Museologia” às variáveis associadas às 
interações disciplinares. Os resultados demonstram a predominância de uma concepção 
interdisciplinar entre os grupos de pesquisa que fazem menção a questões disciplinares. Apesar disso, 
percebem-se movimentos diferenciados, quando se configuram grupos com abordagens diversas, 
associados à multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e/ou transdisciplinaridade. Com base nesses 
resultados, discutem-se alguns paradoxos associados ao paradigma interacional disciplinar, em 
especial quanto às dificuldades inerentes à sua caracterização e configuração aplicada, que possa 
transcender o caráter de mera intencionalidade ideológica. 
 
1 Este artigo se fundamenta em questões vinculadas à pesquisa de tese do primeiro autor, sob 
orientação da segunda autora e colaboração da terceira autora, professora da disciplina Museologia, 
Patrimônio, Informação e Documentação. 
5789 
 XIX ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ENANCIB 2018 
22 a 26 de outubro de 2018 – Londrina – PR 
 
Palavras-Chave: Museus; Museologia; Interdisciplinaridade; Transdisciplinaridade. 
Abstract: What are the conceptions of the researchers of the Museum and Museology areas about the 
disciplinary interactions with other fields of knowledge in Brazil? Motivated by this question, this text 
is based on research sought to reflect about the origins of the concepts of interdisciplinarity, 
multidisciplinarity, pluridisciplinarity and transdisciplinarity, and to bring a brief review on the 
understandings by museology theorists, especially as from the publication of the second volume of the 
Museological Working Papers (MuWoP), by the International Committee for Museology of the 
International Council of Museums (ICOFOM), in 1981. Based on these perceptions, we sought to 
evaluate how they are reflected in current Brazilian research, by analyzing the data on registered 
research groups, within the Directory of Research Groups of the National Council for Scientific and 
Technological Development - DGP/CNPq. In this database, parametrized searches were made, linking 
the terms “Museum” and “Museology” to the variables associated with disciplinary interactions. The 
results demonstrate the predominance of an interdisciplinary conception among research groups that 
mention disciplinary issues. Despite such results, different movements are perceived when groups with 
different approaches are associated with multidisciplinarity, pluridisciplinarity and/or 
transdisciplinarity conceptions. Based on these results, we discuss some paradoxes associated with the 
interactional disciplinary paradigm, especially regarding the inherent difficulties of their 
characterization and applied configuration, that can transcend the character of mere ideological 
intentionality. 
Keywords: Museums; Museology; Interdisciplinarity, Transdisciplinarity. 
1 INTRODUÇÃO 
A Mesa Redonda de Santiago do Chile, organizada pelo Conselho Internacional de 
Museus (International Council of Museums - ICOM) em 1972, reafirmou o caráter social da 
Museologia, bem como a necessidade de colaboração entre especialistas de diferentes 
disciplinas, notadamente das Ciências Sociais (SCHEINER, 2000). Em 1977, com a criação do 
Comitê Internacional de Museologia do ICOM (International Committee for Museology - 
ICOFOM), diversos teóricos passaram a discutir coletivamente se a Museologia seria uma 
aplicação prática, uma disciplina científica, um campo disciplinar, uma ciência aplicada ou uma 
ciência pura. Até hoje os entendimentos sobre essa questão são diversos. 
Não bastassem as dúvidas ontológicas sobre o Museu e a Museologia, na década de 
1970 havia múltiplos entendimentos sobre suas possíveis interações disciplinares. Ao mesmo 
tempo em que a Museologia lutava por firmar sua independência científica (atrelando-se, deste 
modo, ao paradigma da especialização), tratava de mostrar-se aberta à interdisciplinaridade 
(reconhecendo, assim, a problemática do excesso de especialização). 
Em 1981, o ICOFOM lançou o segundo volume do Museological Working Papers 
(MuWoP), adotando como tema a “Interdisciplinaridade na Museologia” (ICOFOM, 1981). 
Embora os autores daquela edição não tenham apresentado um consenso quanto a essa 
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 XIX ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ENANCIB 2018 
22 a 26 de outubro de 2018 – Londrina – PR 
 
questão, pode-se perceber que, desde então, a interdisciplinaridade tem sido adotada por 
pesquisadores do Museu e da Museologia como um atributo “natural” desse campo. 
Não apenas na Museologia, é comum a utilização genérica do termo “interdisciplinar” 
associado a diferentes formas de interação entre disciplinas. Entretanto, nas décadas de 1960 e 
1970 já havia concepções diversas, que distinguiam a “interdisciplinaridade” da 
“multidisciplinaridade”, da “pluridisciplinaridade” e da “transdisciplinaridade”. O epistemólogo 
brasileiro Hilton Japiassu relata que, naquela época, os debates haviam superado a expectativa 
de que a interdisciplinaridade seria o “antídoto” capaz de neutralizar os efeitos do pensamento 
fragmentado pela especialização disciplinar (JAPIASSU, 1976). Segundo ele, alguns teóricos 
haviam percebido que a abordagem interdisciplinar, como compromisso ideológico-conceitual, 
nem sempre considerava o fato de que se tratava de um conceito polissêmico, em edificação. 
Japiassu foi um dos primeiros teóricos a aprofundar a discussão sobre as origens da 
interdisciplinaridade, suas variações e interfaces com o conhecimento, no ideal de superação 
dos limites disciplinares. Contrapondo aspectos que reforçam seu real valor, o autor mostrava-
se cauteloso ante “[...] a ingenuidade de considerar a interdisciplinaridade o método científico 
por excelência, o único capaz de resolver todos os problemas” (JAPIASSU, 1976, p.52). Tal 
percepção continua atual na agenda dos debates epistemológicos deste século, já que a 
concepção de “interdisciplinaridade” - e suas expectativas - parece ter sobrevivido a décadas de 
recorrentes críticas. 
No Brasil, cada vez mais linhas e grupos de pesquisa do Museu e da Museologia 
assumem o compromisso de se valer das interações disciplinares, quando se autodenominam 
“inter”, “multi”, “pluri” ou “transdisciplinares”. Em comum, parece haver consenso de que não 
é mais possível fragmentar o real em compartimentos fechados, delimitadospelas 
especialidades e em detrimento das complexidades e subjetividades. 
A epistemóloga portuguesa Olga Pombo tem chamado a atenção quanto à dificuldade 
de definição dos termos associados às interações disciplinares, e para o fato de que estes, 
banalizados ao extremo, têm sido utilizados equivocadamente. Segundo a autora, costuma-se 
entender por “interdisciplinares” os encontros ou aproximações que não ultrapassam os limites 
da “disciplinaridade” (POMBO, 2005). Mas afinal, a que disciplinaridades referem-se as 
pesquisas do campo da Museologia no Brasil? Sob que circunstâncias têm sido convocadas pelos 
pesquisadores brasileiros na atualidade? 
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 XIX ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ENANCIB 2018 
22 a 26 de outubro de 2018 – Londrina – PR 
 
A presente pesquisa teve como objetivo analisar, sob a ótica da epistemologia histórica, 
a edificação dos conceitos de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e 
transdisciplinaridade, no intuito de contextualizar os pressupostos teóricos sobre as interações 
disciplinares no campo do Museu e da Museologia. De posse desses conceitos, buscou-se 
averiguar a abrangência de entendimentos dos pesquisadores brasileiros acerca das interações 
disciplinares da Museologia a outros campos do conhecimento, refletidos na criação, 
cadastramento e manutenção de grupos de pesquisa no Brasil. 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
2.1 Modalidades de Interação Disciplinar 
A questão das interações disciplinares ganhou força notadamente a partir da segunda 
metade do século XX, quando a filosofia, a sociologia e a epistemologia procuraram chamar a 
atenção sobre as fragilidades e insuficiências da hiperespecialização e da fragmentação dos 
saberes, especialmente na produção acadêmica. A concepção de interdisciplinaridade surgiu 
como proposta para superar a fragmentação e a especialização do conhecimento, geradas pelos 
paradigmas da ciência moderna. Longe de permitir um entendimento absoluto, a terminologia 
das interações disciplinares é percebida sob diferentes concepções que, mesmo guardando 
semelhanças, mantêm certas distinções, “[...] não se situando no âmbito do verdadeiro ou do 
falso, mas do conveniente” (JAPIASSU, 1976, p.39). 
Os primeiros estudos institucionais sobre a interdisciplinaridade são atribuídos ao 
relatório elaborado a partir de 1969 pelo Centro para Pesquisa e Inovação Educacional (Centre 
for Educational Research and Innovation - CERI), vinculado à Organização para Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE).2 Esse relatório, voltado a distinguir as atividades 
interdisciplinares de ensino e pesquisa das universidades, apontou para a necessidade de 
“reorganizar o saber” e corrigir as imprecisões terminológicas a respeito do assunto (JAPIASSU, 
1976, p.56, 71). Como se sabe, o interesse institucional pelo tema não estava relacionado 
apenas aos efeitos de formação do conhecimento associados à hiperespecialização, mas a 
expectativas de “economia e eficácia” dos investimentos públicos no ensino superior, 
 
2 A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi fundada em 1961 e 
atualmente conta com a participação de 36 países membros, associados aos princípios de democracia 
representativa e economia de mercado. Sua missão é “promover políticas que melhorem o bem-estar 
econômico e social das pessoas em todo o mundo” (OECD, 2018, tradução nossa). 
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especialmente entre as décadas de 1970 e 1980.3 Desta forma, a naturalização da 
interdisciplinaridade, como atributo “incondicionalmente desejável”, teria se deslocado de seu 
sentido original, quando associado às expectativas econômicas de reformulação do ensino 
superior e de priorização do ensino profissionalizante, para adequá-los às expectativas do 
mercado de trabalho. Com isso, as demais concepções de interações disciplinares passaram a 
ser frequentemente entendidas como modalidades de interdisciplinaridade. 
Ocorre que, embora o relatório da OCDE tenha popularizado a concepção 
interdisciplinar, na década de 1960 já se discutiam no meio acadêmico os conceitos de 
multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade, como formas independentes e distintas. Em 
complemento às três primeiras, surgiu a noção de transdisciplinaridade, atribuída ao biólogo e 
epistemólogo francês Jean Piaget (JAPIASSU, 1976, p.75), que em 1970 apresentou seu conceito 
- também distinto - no I Seminário Internacional sobre Pluridisciplinaridade e 
Interdisciplinaridade, na França. 
Além da concepção de Piaget, outras abordagens sobre interações disciplinares foram 
apresentadas por teóricos de diferentes origens e formações, como o linguista francês Guy 
Michaud, o psicólogo alemão Heinz Heckhausen e o astrofísico austríaco Erich Jantsch. Jantsch, 
ao atuar como consultor da OCDE, procurou organizar os entendimentos desses autores, 
apresentando as interações por ordem crescente de cooperação e coordenação entre as 
disciplinas, do menor ao maior grau: “multidisciplinaridade”, “pluridisciplinaridade”, 
“disciplinaridade cruzada” (“cross-disciplinarity”), “interdisciplinaridade” e 
“transdisciplinaridade” (JANTSCH, 1979 [1975]). No Brasil, Japiassu apresentou a abordagem de 
Jantsch em 1976, excluindo apenas a “disciplinaridade cruzada”. O Quadro 1 apresenta as 
quatro modalidades de interação disciplinar que se tornaram conhecidas no Brasil, a partir da 
obra de Japiassu (1976). 
Conforme relata Japiassu (1976, p.78), o que Jantsch entendeu por 
“multidisciplinaridade” (disciplinas isoladas sob um mesmo nível, sem cooperação necessária), 
naquele momento foi entendido por Michaud, Heckhausen e Piaget como “disciplinaridade” 
 
3 Japiassu (1976, p.57) relata que dentre as motivações práticas à adoção do discurso interdisciplinar 
estava a necessidade de organização da pesquisa diante de uma preocupação “de economia e 
eficácia”. Em complemento ao relato do autor, podem ser acessadas as atas das reuniões da UNESCO 
ocorridas nas décadas de 1970 e 1980, em que ficam claras as preocupações econômicas dos países 
membros ante as dificuldades para atendimento às diretrizes de universalização do ensino superior 
público e gratuito, previstas no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 
1976. 
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(Quadro 1). Nos demais conceitos, havia semelhanças de entendimentos entre os quatro 
autores, com exceção de Heckhausen, que não fazia menção à abordagem “transdisciplinar” 
(JAPIASSU, 1976, p.78). 
Apesar da organização dos múltiplos conceitos por Jantsch, a interdisciplinaridade 
continuou protagonizando o discurso teórico-ideológico de pesquisadores e educadores, 
mesmo quando assumida sem compromisso com os entendimentos de 1970. Frequentemente, 
a interdisciplinaridade tem sido associada a interações que não preveem cooperação ou 
coordenação entre elas (multidisciplinaridade, disciplinaridade), ou a interações em que as 
disciplinas caracterizam proximidades e alguma cooperação, porém sem coordenação 
(pluridisciplinaridade). Por outro lado, são comuns as associações ao caráter interdisciplinar que 
ignoram a existência de uma hierarquia de coordenação, tal como demonstrada por Jantsch 
(1979 [1975]) e Japiassu (1976). 
 
Quadro 1: Graus sucessivos de cooperação disciplinar. 
Modalidade Descrição Geral Tipo de sistema Configuração 
Multidisciplinaridade 
(para Jantsch) ou 
Disciplinaridade (para 
Michaud, Heckhausen e 
Piaget) 
Gama de disciplinas 
oferecidas 
simultaneamente, 
sem explicitar as 
relações que podem 
existir entre elas 
Sistema de um só 
nível e de objetivos 
múltiplos; nenhumacooperação 
Pluridisciplinaridade 
Justaposição de 
diversas disciplinas 
situadas no mesmo 
nível hierárquico, 
agrupadas de modo a 
demonstrar as 
relações entre elas 
Sistema de um só 
nível e de objetivos 
múltiplos; existe 
cooperação, mas sem 
coordenação 
Interdisciplinaridade 
Axiomática comum a 
um grupo de 
disciplinas conexas e 
definida no nível 
hierárquico 
imediatamente 
superior, o que 
introduz a noção de 
finalidade 
Sistema de dois níveis 
e de objetivos 
múltiplos; 
coordenação 
procedendo do nível 
superior 
Transdisciplinaridade 
Coordenação de todas 
as disciplinas em um 
sistema de educação/ 
inovação, sobre a 
base de uma 
axiomática geral e de 
um modelo 
epistemológico 
Sistema de níveis e 
objetivos múltiplos; 
coordenação com 
vistas a um objetivo 
comum dos sistemas 
 
Fonte: Adaptado de Jantsch (1979 [1975], p.110-141) e Japiassu (1976, p.73-78). 
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A mais nova das concepções - a transdisciplinaridade - é também a mais complexa. 
Talvez por isso, tenha passado, por longo período, desconhecida e praticamente 
desconsiderada. Somente em 1987, na França, um grupo de intelectuais criou o Centre 
International de Recherches et d’Études Transdisciplinaires (CIRET). Em 1994, o CIRET realizou o 
Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, em Portugal. Do Congresso, apoiado pela 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), resultou o 
Manifesto da Transdisciplinaridade, redigido sob coordenação do físico romeno Basarab 
Nicolescu, do sociólogo francês Edgar Morin e do artista português Lima de Freitas. No 
Manifesto, a transdisciplinaridade é definida como “[...] a abordagem científica, cultural, 
espiritual e social dizendo respeito ao que está ‘entre’ as disciplinas, ‘através’ das disciplinas e 
‘além’ de toda disciplina” (JAPIASSU, 2006, p.15-16, grifo do autor). 
No Brasil, foi novamente o filósofo Hilton Japiassu quem se propôs a aprofundar a 
abordagem de Piaget, em seu livro “O sonho transdisciplinar e as razões da filosofia” (JAPIASSU, 
2006). Na obra, Japiassu reitera que a grande contradição do início deste século e milênio é 
insistir e privilegiar os saberes disciplinarizados, ante problemas “[...] cada vez mais globais, 
interdependentes e planetários (complexos)” (JAPIASSU, 2006, p.15). De acordo com o autor, 
as abordagens atualmente se exprimem em duas grandes correntes: uma de caráter apenas 
metodológico, do tipo multidisciplinar, e outra de caráter transdisciplinar, que “[...] privilegia a 
legitimação sociocultural dos conhecimentos que permite produzir, ensinar e praticar [...]” 
(JAPIASSU, 2006, p.22). 
2.2 Interações Disciplinares no Museu e na Museologia 
Desde o lançamento do MuWoP n.2 (ICOFOM, 1981), os autores da Museologia têm 
apresentado múltiplos entendimentos a respeito das interações disciplinares associadas à teoria 
e prática desse campo. Alguns consideravam que a interdisciplinaridade seria implícita à 
Museologia (DUB, 1981, p.31; GREGOROVÁ, 1981, p.34-35) ou se configuraria como um 
“método” específico (RÚSSIO, 1981, p.57). Tais entendimentos, entretanto, não foram 
consensuais, já que na mesma época havia autores que citavam as possibilidades de outras 
relações entre disciplinas (RAZGON, 1981, p.52; SCHREINER, 1981, p.59). 
No MuWoP n.2, alguns mostraram-se reticentes à “certeza” interdisciplinar, embora 
reconhecessem que a Museologia é um campo que agrega teorias e métodos de outras 
disciplinas. De certa forma, tal cuidado na abordagem do tema, por parte desses autores, pode 
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estar associado à preocupação de consolidação da Museologia como campo ou disciplina 
científica específica (NEUSTUPNÝ, 1981, p.47; JAHN, 1981, p.37). Georges Henri Rivière 
enfatizou essa apreensão quando considerou que, no caso da Museologia, a 
interdisciplinaridade deveria desempenhar “[...] um papel dinâmico, próprio, de comparação e 
integração, face a face com a sua parceira, a unidisciplinaridade, cujo papel é prosseguir seu 
próprio campo” (RIVIÈRE, 1981, p.55, tradução nossa). 
Logo após a edição específica do ICOFOM, outros teóricos apresentaram entendimentos 
diversos ou antagônicos à ideia de uma interdisciplinaridade inata da Museologia. Wojciech 
Gluzinski considerava que a interdisciplinaridade na Museologia seria injustificada e que o termo 
vinha sendo utilizado de forma abusiva no contexto museológico. No entender do autor, a 
simples utilização de conhecimentos ou métodos de outros campos não configurava, 
necessariamente, uma abordagem interdisciplinar (GLUZINSKI, 1983, p.9). Tomislav Sola, por 
outro lado, foi além ao considerar que a interdisciplinaridade não seria possível sem que o 
próprio conceito de Museologia fosse revisto e ampliado à abrangência de uma nova ciência, a 
“Patrimoniologia” (Heritology) (SOLA, 1983, p.35-36). 
Independentemente da caracterização da Museologia enquanto ciência, disciplina ou 
campo, é notável que até hoje seus teóricos divergem quanto à sua abordagem 
necessariamente interdisciplinar. Por essa razão, são relativamente comuns e atuais as 
associações a outras modalidades de interações disciplinares, como a multidisciplinaridade, a 
pluridisciplinaridade e a transdisciplinaridade. No Brasil, assim como nos demais países, os 
entendimentos a esse respeito também são diversos. 
3 METODOLOGIA 
Na busca dos entendimentos dos pesquisadores do campo do Museu e da Museologia 
no Brasil, acerca de suas possíveis interações disciplinares, optou-se pela análise de bases de 
dados documentais, acessíveis pela internet. Junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa - DGP 
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (BRASIL, 2017), 
foram aplicados métodos de busca léxica parametrizada e de pesquisa qualitativa e quantitativa 
dos dados acessados. 
No DGP-CNPq, procurou-se identificar na descrição dos grupos de pesquisa, bem como 
nos objetivos de suas linhas, as menções aos termos “Museu” ou “Museologia” associadas à 
citação de uma das variáveis que caracterizam as interações disciplinares: “interdisciplinar”, 
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“interdisciplinaridade”, “transdisciplinar”, “transdisciplinaridade”, “multidisciplinar”, 
“multidisciplinaridade”, “pluridisciplinar” e “pluridisciplinaridade”. Para cada consulta, 
adicionou-se o termo “Museu” ou “Museologia” e uma dessas oito variáveis (sem sinais 
adicionais), resultando em dezesseis parâmetros na opção “Consulta por Grupo”. Como critério 
adicional, optou-se pela busca condicionada ao uso de “Todas as palavras”, o que equivale à 
utilização dos operadores booleanos “and” ou “+”. Essas mesmas combinações foram repetidas 
nas buscas por “Linhas de pesquisa”, o que resultou em 32 diferentes consultas parametrizadas, 
conforme detalhado no Quadro 2. 
Todos os resultados das consultas parametrizadas, bem como os dados dos grupos de 
pesquisa relacionados a cada parâmetro, geraram aproximadamente uma centena de 
documentos que, nesta pesquisa, foram codificados, salvos e armazenados como arquivos 
eletrônicos. Dos documentos gerados pela base do DGP-CNPq, optou-se por apresentar 
graficamente alguns resultados quantitativos, relacionados às interações disciplinares e às áreas 
ou campos que pesquisam a Museologia ou aspectos do Museu. 
 
Quadro 2: Parâmetros utilizados nas consultas junto ao Diretório dos Grupos de 
Pesquisa - DGP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico - CNPq, para busca de grupos e linhas de pesquisa no Brasil, que 
associam os termos “Museu” ou “Museologia” a diferentes interações 
disciplinares.Parâmetros para 
Grupo de Pesquisa 
Parâmetros para 
Linha de Pesquisa 
Museologia Interdisciplinar Museologia Interdisciplinar 
Museologia Interdisciplinaridade Museologia Interdisciplinaridade 
Museologia Transdisciplinar Museologia Transdisciplinar 
Museologia Transdisciplinaridade Museologia Transdisciplinaridade 
Museologia Multidisciplinar Museologia Multidisciplinar 
Museologia Multidisciplinaridade Museologia Multidisciplinaridade 
Museologia Pluridisciplinar Museologia Pluridisciplinar 
Museologia Pluridisciplinaridade Museologia Pluridisciplinaridade 
Museu Interdisciplinar Museu Interdisciplinar 
Museu Interdisciplinaridade Museu Interdisciplinaridade 
Museu Transdisciplinar Museu Transdisciplinar 
Museu Transdisciplinaridade Museu Transdisciplinaridade 
Museu Multidisciplinar Museu Multidisciplinar 
Museu Multidisciplinaridade Museu Multidisciplinaridade 
Museu Pluridisciplinar Museu Pluridisciplinar 
Museu Pluridisciplinaridade Museu Pluridisciplinaridade 
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As consultas junto ao DGP-CNPq foram efetuadas entre os dias 8 e 16 de dezembro de 
2017. É oportuno alertar que, dada a dinâmica de cadastramento dos grupos e linhas de 
pesquisa no diretório do CNPq, os dados são alterados regularmente pelos próprios 
pesquisadores, o que, no caso de uma reconsulta, poderá configurar eventuais mudanças nos 
resultados aqui apresentados. 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
A partir das consultas parametrizadas junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa do 
CNPq, associando-se os termos “Museu” ou “Museologia” a uma das variáveis terminológicas 
associadas às diferentes interações disciplinares, foram cadastrados 33 grupos de pesquisa no 
Brasil (Apêndice). 
Com relação às interações mencionadas nos descritivos dos grupos ou em suas linhas de 
pesquisa, observou-se que 28 grupos (84,8%) optaram pela menção a uma única abordagem 
disciplinar. Os outros cinco grupos (15,2%) utilizaram duas expressões referenciais (Apêndice). 
Na Figura 1, pode-se observar que a maior parte dos grupos de pesquisa, cadastrados nesta 
pesquisa, faz menção à abordagem interdisciplinar (26 grupos), seguidos dos que afirmam 
adotar as abordagens multidisciplinar (6 grupos), transdisciplinar (4 grupos) e pluridisciplinar (2 
grupos). 
 
Figura 1 - Número de grupos de pesquisa em Museu e/ou Museologia no Brasil que, 
em seus descritivos junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - DGP/CNPq, fazem menção 
específica a uma ou mais abordagens de interações disciplinares 
(interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, transdisciplinaridade ou 
pluridisciplinaridade). 
 
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil - Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico - DGP-CNPq (BRASIL, 2017). 
0
10
20
30
Interdisciplinar Multidisciplinar Transdisciplinar Pluridisciplinar
26
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2
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Outro aspecto que se destaca refere-se às áreas de concentração (grandes áreas) e áreas 
predominantes cadastradas pelos 33 grupos associados a esta pesquisa. Na Figura 2, observa-
se que 52% dos grupos vinculam-se a área das Ciências Sociais Aplicadas, seguidos dos que 
atuam nas Ciências Humanas (24%); Linguística, Letras e Artes (9%); Ciências Exatas e da Terra 
(6%); Ciências Biológicas (3%); Ciências da Saúde (3%); e outras (3%). 
 
Figura 2: Percentual de grupos de pesquisa em Museu e Museologia no Brasil, 
vinculados a diferentes grandes áreas do conhecimento, que adotam em sua 
descrição um caráter “inter”, “multi”, “pluri” ou “transdisciplinar”. 
 
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil - Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico - DGP-CNPq (BRASIL, 2017). 
 
Quanto à vinculação específica dos grupos de pesquisa, a Figura 3 apresenta os dados 
quantitativos relacionados às diferentes áreas predominantes cadastradas pelos 33 grupos 
associados à pesquisa. Observa-se que a Museologia é a principal área de vinculação dos grupos 
(10 grupos), seguida da Ciência da Informação (6 grupos); Educação (4 grupos); Artes (3 grupos); 
História (2 grupos); e outras áreas (8 grupos). 
O primeiro aspecto a enfatizar nesses resultados é a predominância da abordagem 
interdisciplinar entre os grupos cadastrados na pesquisa (Figura 1). Tal resultado reitera uma 
percepção empírica anterior, baseada na observação de que o termo é utilizado em larga escala 
por pesquisadores de todas as áreas ou ciências. Não se trata de uma novidade, afinal, como 
afirmamos anteriormente, desde a década de 1960 diversos autores têm chamado a atenção 
para este fato (JAPIASSU, 1976, p.208; POMBO, 2005, p.5). 
Ciências Sociais 
Aplicadas
52%
Ciências 
Humanas
24%
Lingúistica, 
Letras e Artes
9%
Ciências Exatas 
e da Terra
6%Ciências 
Biológicas
3%
Ciências da 
Saúde
3%
Outras
3%
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Nesse sentido, Japiassu lembrava que “O projeto epistemológico interdisciplinar é o 
projeto de um saber, isto é, de um discurso crítico. Todavia, não podemos instaurar um saber 
pelo simples reconhecimento do fato” (JAPIASSU, 1976, p.59). Segundo o autor, a 
interdisciplinaridade tem sido associada “[...] à importação de conceitos ou métodos tomados 
de empréstimo a outras disciplinas”, entretanto, “[...] tanto é estúpido se erigir essa forma de 
interdisciplinaridade em regra geral quanto prescrevê-la e fazer a apologia das virtudes da 
especialização absoluta” (JAPIASSU, 2006, p.12-13). 
 
Figura 3: Número de grupos de pesquisa em Museu e Museologia no Brasil, 
vinculados a diferentes áreas do conhecimento, que adotam em sua descrição um 
caráter “inter”, “multi”, “pluri” ou “transdisciplinar”. 
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil - Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - DGP-CNPq (BRASIL, 2017). 
 
Outro aspecto a considerar sobre os resultados apresentados, é que sua limitação não 
possibilita estabelecer a pertinência (ou não) da afirmação de uma abordagem interdisciplinar, 
ou de qualquer outra modalidade descrita pelos grupos de pesquisa. Essa limitação dos dados 
obtidos, em nosso entender, poderia ser minimizada em pesquisa complementar, por meio de 
análises da produção científica de cada pesquisador coordenador ou participante dos grupos de 
pesquisa cadastrados, junto à Plataforma Lattes do CNPq. 
Uma análise detida da produção científica de cada pesquisador poderia fornecer, 
também, dados sobre sua formação superior e de pós-graduação. Mesmo com esses dados 
adicionais, só seriam possíveis algumas correlações, já que as abordagens da pesquisa, sob 
Museologia
Ciência da Informação
Educação
Artes
História
Morfolologia
Medicina
Geociências
Física
Divulgação Científica
Arquitetura e…
Arqueologia
Antropologia
0 2 4 6 8 10
10
6
4
3
2
1
1
1
1
1
1
1
1
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diferentes arranjos de colaboração e coordenação disciplinar, dependem unicamente das 
estratégias de atuação dos próprios grupos, algo raramente detalhado em artigos científicos. 
Ainda sobre as interações disciplinares, a predominância de menções à 
interdisciplinaridade pode indicar a existência - junto aos pesquisadores do Museu e da 
Museologia - de um “paradigma interdisciplinar”. Não nos parece algo descabido, já que o 
próprio ICOFOM, que se constitui como referência internacional da produção teórica da 
Museologia, nunca dedicou uma publicação específica que propusesse a análise de outras 
perspectivas de interações disciplinares, atualizadasàs realidades do século XXI. 
Por outro lado, chama a atenção a origem dos grupos de pesquisa que fazem menção 
apenas à multidisciplinaridade ou, além desta, à abordagem transdisciplinar. Dos seis grupos 
que fazem menção exclusiva à abordagem multidisciplinar, quatro atuam no Rio de Janeiro - RJ 
(dois grupos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, um da Fundação 
Getúlio Vargas - FGV, e outro da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ). Dentre os que consideram, 
além da interdisciplinaridade, a abordagem transdisciplinar, está um grupo do Instituto 
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Este fenômeno regional, em nosso 
entender, também poderia ser melhor estudado. Seria reflexo de pesquisas específicas 
associadas aos programas de graduação e pós-graduação mantidos por essas instituições? Em 
pesquisas associadas ao grupo do IBICT, relacionadas às interações disciplinares da Museologia 
com a Ciência da Informação, este entremeio de atuação é entendido por seu potencial de 
“fertilização cruzada”, notadamente “interdisciplinar” (LIMA, 2003; PINHEIRO, 2012). 
No caso da UNIRIO, que até o momento mantém o único programa de doutorado em 
Museologia na América Latina, em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins 
(MAST), é perceptível que seu corpo docente é formado por profissionais com doutoramentos 
nas mais diversas áreas (Comunicação, Ciência da Informação, História, Memória Social, 
Antropologia e outras). Dentre esses profissionais, muitos têm formação inicial em Museologia, 
outros não. Estaria, nesse caso, configurado um processo de formação interdisciplinar? É 
provável que sim. Então, por que a opção da maioria dos grupos do Rio pela 
multidisciplinaridade? Talvez, pela autocrítica que tende a considerar as dificuldades de 
concretização de um projeto interacional disciplinar, que os incita a recuar, inclusive na teoria. 
Ainda sobre os grupos de pesquisa que atuam no Rio de Janeiro, percebe-se que na 
contramão dos que fazem menção direta às interações disciplinares, há os que também 
pesquisam a Museologia e o Patrimônio como campo híbrido, porém sem explicitar as 
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interações disciplinares em seus descritivos. Um exemplo disso é o grupo “Museologia e 
Patrimônio” da UNIRIO que, desde 2001, propõe o aporte de vários campos, sem 
necessariamente estabelecer qualquer hierarquia entre os mesmos. 
Por fim, outro aspecto que merece ênfase entre os resultados obtidos é a constatação 
de que os estudos sobre as interações disciplinares no Museu e na Museologia têm sido 
coordenados ou pleiteados por profissionais das mais diversas áreas ou ciências, transcendendo 
os limites das abordagens das Ciências Sociais e Humanas (Figura 3). A nosso ver, não se trata 
de um processo de perda de “poder simbólico” do campo museológico, mas de confirmação de 
sua abrangência como campo científico que, por suas próprias características, convive com 
vários campos, disciplinas e ciências. 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
No Museu e na Museologia, assim como em outros campos do conhecimento, as 
abordagens que procuram transpor o raciocínio cartesiano e disciplinar ainda são escassas, ante 
a predominância e propagação de uma lógica delimitada pelas especializações fragmentadas e 
tradicionais. Pelo menos sob esse aspecto, parecem ser raras quaisquer divergências conceituais 
entre os que pesquisam os diversos movimentos teóricos da Museologia atual. 
Considerando os limites desta pesquisa, entendemos que ainda vivemos e atuamos sob 
a vigência de um “paradigma interdisciplinar” aplicado a este campo do conhecimento. Neste 
aspecto, pouco se alterou desde a década de 1980, mesmo diante dos constantes 
questionamentos frente às fragilidades e contradições dessas interações. Por outro lado, 
observa-se que a interdisciplinaridade no Museu e na Museologia, quando restrita apenas à 
troca de conceitos, modelos ou métodos de pesquisa, e sob a liderança de uma ciência ou 
disciplina hierarquicamente superior, é hoje insuficiente à abrangência deste campo no Brasil, 
especialmente quando se consideram outras interações disciplinares. 
Essa circulação rizomática (Deleuze e Guattari) entre os saberes, que coabitam o campo 
do Museu e da Museologia, não necessita de reinvenções, já que pode ser potencializada por 
meio de seus conhecidos projetos de Museologia e Patrimônio Integral. Sobrevivem, assim, os 
“velhos” desafios deste “novo” campo, ante a emergência de uma multiplicidade de fatos e 
fenômenos que privilegiam o pensamento complexo, o desenvolvimento humano e o 
reconhecimento de pertencimento à natureza e à sociedade. 
 
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http://www.oecd.org/about/
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Addenda 2. ICOFOM Study Series - ISS, n.4. Stockholm: ICOM International Committee for 
Museology - ICOFOM, p.11-13, 1983. 
APÊNDICES 
Grupos de pesquisa em Museu e/ou Museologia no Brasil, que em seus descritivos ou linhas 
fazem menção à “Interdisciplinaridade” (Inter), “Multidisciplinaridade” (Multi), 
“Transdisciplinaridade” (Trans) ou “Pluridisciplinaridade” (Pluri). 
(continua) 
Instituição 
Local 
Grupo de Pesquisa Grande área Área Interação 
FCRB 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Perspectivas Conceituais, Memória 
e Preservação em Museus-Casas 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
IBRAM 
Santa Eliza (SP) 
Museu da Indumentária e da 
Moda: Pesquisa e Desenvolvimento 
de um Museu Digital 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
UCS 
Caxias do Sul (RS) 
Ensino de Ciências em Museus de 
Ciências Naturais e Jardins 
Zoológicos 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
UFG 
Goiânia (GO) 
Grupo de Estudo e Pesquisa 
Museologia e Interdisciplinaridade 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
UFPE 
Recife (PE) 
Museologia, Ciência e Informação 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
UFPEL 
Pelotas (RS) 
Estudos em memória e patrimônio 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
http://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/6840/6049
http://www.ibict.br/liinc
http://archives.icom.museum/study_series_pdf/8_ICOM-ICOFOM.pdf
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UFS 
Laranjeiras (SE) 
Grupo de Estudos e Pesquisas em 
Memória e Patrimônio Sergipano 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Inter 
IBICT 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Organização do conhecimento e 
uso de tecnologias digitais em 
museus, arquivos e bibliotecas 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Inter 
UEL 
Londrina (PR) 
Organização e Representação da 
Informação e do Conhecimento de 
Recursos Imagéticos 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Inter 
UnB 
Brasília (DF) 
Museologia, Patrimônio e Memória 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Inter 
UnB 
Brasília (DF) 
Comunicação Científica 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Inter 
UFMG 
Belo Horizonte 
(MG) 
Grupo de Pesquisa em Gestão de 
Projetos, Arquitetura Efêmera e 
Tecnologia de Museus 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Arquitetura e 
Urbanismo 
Inter 
UFPE 
Recife (PE) 
Núcleo de Estudos e Pesquisas 
sobre Etnicidade 
Ciências 
Humanas 
Antropologia Inter 
UNESP 
Presidente 
Prudente (SP) 
O Conteúdo Paleoetnográfico 
da Décima Região - SP 
Ciências 
Humanas 
Arqueologia Inter 
UCS 
Caxias do Sul (RS) 
Ensino de Física 
Ciências 
Humanas 
Educação Inter 
UNIR 
Porto Velho (RO) 
Grupo de Estudos Interdisciplinares 
em Educação, História e Memória 
Ciências 
Humanas 
Educação Inter 
UFOP 
Ouro Preto (MG) 
Caleidoscópio 
Ciências 
Humanas 
Educação Inter 
IFRN 
Natal (RN) 
Grupo de Estudos de Geologia e 
Museologia 
Ciências Exatas 
e da Terra 
Geociências Inter 
USP 
São Paulo (SP) 
Grupo de Arqueometria 
Ciências Exatas 
e da Terra 
Física Inter 
 
Grupos de pesquisa em Museu e/ou Museologia no Brasil, que em seus descritivos ou linhas 
fazem menção à “Interdisciplinaridade” (Inter), “Multidisciplinaridade” (Multi), 
“Transdisciplinaridade” (Trans) ou “Pluridisciplinaridade” (Pluri). 
 (conclusão) 
Instituição 
Local 
Grupo de Pesquisa Grande área Área Interação 
UEM 
Maringá (PR) 
Grupo de Pesquisa em Ensino 
Formal e Informal 
Ciências 
Biológicas 
Morfologia Inter 
UFES 
Jerônimo 
Monteiro (ES) 
Centro de Pesquisa do Museu de 
História Natural do Sul do Estado 
do Espírito Santo 
Outras 
Divulgação 
Científica 
Inter 
IBICT 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Teoria, Epistemologia e 
Interdisciplinaridade em Ciência da 
Informação 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Inter 
Trans 
UESB 
Vitória da 
Conquista (BA) 
Museu Pedagógico: a Educação 
Escolar 
Ciências 
Humanas 
Educação 
Inter 
Trans 
UFSJ 
São João Del Rei 
(MG) 
Grupo Transdisciplinar de Pesquisa 
em Artes, Culturas e 
Sustentabilidade 
Linguística, 
Letras e Artes 
Artes 
Inter 
Trans 
UFPB 
João Pessoa (PB) 
Rede de Pesquisa e (In)Formação 
em Museologia e Patrimônio 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Trans 
5805 
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22 a 26 de outubro de 2018 – Londrina – PR 
 
UFPR 
Curitiba (PR) 
Artes Visuais: Teoria, Educação e 
Poética 
Linguística, 
Letras e Artes 
Artes Multi 
UNIC 
Cuiabá (MT) 
Intersecções da Arte em Território 
Multidisciplinar: Reflexões e 
Caminhos Contemporâneos 
Linguística, 
Letras e Artes 
Artes Multi 
UNIRIO 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Campo da Museologia, 
Perspectivas Teóricas e Práticas, 
Musealização e Patrimonialização 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Multi 
UNIRIO 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Museu, Ciência e Sociedade 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Museologia Multi 
FGV 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Grupo de Pesquisa em Memória, 
Acervos e Informação 
Ciências 
Humanas 
História Multi 
FIOCRUZ 
Rio de Janeiro 
(RJ) 
Coleção de Febre Amarela do 
Instituto Oswaldo Cruz 
Ciências da 
Saúde 
Medicina Multi 
UNEB 
Alagoinhas (BA) 
História: Ensino e Pesquisa 
Ciências 
Humanas 
História 
Multi 
Pluri 
UFSM 
Santa Maria (RS) 
Gestão Eletrônica 
de Documentos Arquivísticos 
Ciências Sociais 
Aplicadas 
Ciência da 
Informação 
Multi 
Pluri 
Fonte: Dados obtidos junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq (BRASIL, 2017).

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