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Influência da Mídia no Adolescente

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235Influência da Mídia sobre o Corpo do Adolescente
Educação Física
de imprensa brasileira manipula informações segundo os interesses da classe que representa e da qual 
é porta-voz. 
Vejamos como o assunto é tratado pelo Jornal: 
Pela primeira vez, o grupo de rap nacional mais avesso à mídia concordou em ceder um minuto de 
uma música para a emissora. O feito vai ao ar no próximo domingo, durante o “Fantástico”. 
A música “Negro Drama” irá compor a trilha sonora do quadro “Brasil Total”, ancorado por Regina 
Casé. O quadro, no ar há um ano, deixará de exibir apenas reportagens produzidas por afiliadas ou pro-
dutoras independentes distantes dos grandes centros. 
Irá se abrir também para as periferias das metrópoles. A primeira, dia 4, será São Paulo. Depois, vi-
rão Porto Alegre e Salvador. A proposta é “dar exposição máxima aos que estão de fora”. 
Os “Racionais” - como são conhecidos pela juventude moradora das periferias dos grandes centros 
- chamaram atenção em 1992, quando se tornaram conhecidos nas favelas paulistanas com as músi-
cas Mulheres Vulgares, Beco sem Saída, Racistas Otários e Hey boy. 
Em 1994 a imprensa não pode ignorar o sucesso de Um Homem na Estrada, Fim de semana no 
parque e Mano na porta do bar. 
Estes raps eram tocados até mesmo nas estações de rádio comerciais, tal era o interesse dos jo-
vens pobres pelas letras contundentes na denúncia do racismo e da violência policial, além das afirma-
ções do valor e da importância do povo preto. 
A partir de então o grupo passou a fazer shows pelas periferias das zonas sul de norte de São Pau-
lo, onde moravam seus integrantes, Mano Brown, Ice Blue, KLJ e Eddy Rock. Em pouco tempo eles já 
seriam conhecidos em todo o Brasil, como uma importante referencia do Rap militante, responsável e 
comprometido com causas sociais. 
O incômodo causado por estes quatro rapazes negros e pobres foi grande. Em diversos jornais fo-
ram publicadas matérias em que eram acusados de incitar os jovens à violência contra a polícia, contra 
os brancos, o ódio racial, entre outras incoerências semelhantes a esta recente matéria da Folha. 
Desde de que surgiram, os Racionais seduzem milhares de jovens de todas as classes sociais, mas 
principalmente das classes mais pobres com sua postura consciente frente às diversas formas de do-
minação utilizadas pela elite na manutenção da atual desigualdade social e nas poucas oportunidades 
dos negros de se mobilizarem socialmente desde sua chegada ao Brasil, no século XVI. 
Parte desta postura coerente e afinada com o povo pobre é traduzida na aversão que o grupo tem 
à mídia comercial. Nunca se apresentaram na TV Globo, no SBT ou em outras emissoras que colabo-
ram com a alienação através de novelas, filmes enlatados, etc. 
Justificam esta postura apenas com as letras de suas músicas - e cabe lembrar que música para 
eles não é apenas um som agradável. Música é muito mais que isto, é uma arma contra a discrimina-
ção, contra a opressão e contra a miséria. 
Dito isto, passemos à reportagem da Folha. 
Nela é feita a acusação de que o grupo, após anos de recusa, teria finalmente se rendido aos lou-
ros do mercado, cedendo direitos de uma música para o quadro “Brasil Total”, apresentado por Regi-
na Casé, durante o Fantástico. 
Para quem lê apenas a manchete, fica a impressão que uma música dos Racionais será executa-
da no Fantástico, ou em novelas. Talvez alguém imagine até que eles irão se apresentar no Faustão, ou 
coisas do tipo. 
236 Dança
Ensino Médio
Não se trata de nada disto, como pode constatar quem lê a integra da matéria. 
Na verdade os Racionais colaboraram com um amigo – Sérgio Vaz, que conversou com Brown e 
explicou o objetivo do diretor independente Jéferson De, na direção do quadro que teria como enredo 
um conto do também combativo Ferréz. 
O quadro foi ao ar no Domingo, 04 de abril de 2004. 
Quem assistiu pôde perceber que a Globo, neste episódio, abriu espaço em sua programação para 
um assunto interessante para o povão. Mostrou uma ínfima parte de seu cotidiano, sua arte, suas inú-
meras formas manifestação, de se fazer ouvir. 
Particularmente achei o quadro muito legal. A TV Globo está passando por grave crise financeira, 
necessitando do dinheiro público, agora gerenciado por um governo mais voltado para a maioria, o que 
a impele a abrir espaço para as questões dos pobres em geral. 
A Globo é boazinha? Não. 
Ela dança conforme a música. O que não é o caso dos Racionais MC´s, que tiveram apenas um 
pequeno trecho da letra de Negro Drama, recitado como uma poesia pela mulher que inspirou a letra 
– Dona Vilma. 
Alguém poderia dizer que, em função da Dona Vilma cantar uma música dos Racionais num progra-
ma da Globo, eles se venderam? 
Ou alguém poderia dizer que se eles cedessem mesmo os direitos da música para um quadro pro-
duzido por uma produtora independente - de amigos do grupo – eles poderiam ser tachados de mer-
cenários? 
Acredito que não. 
Creio que eles continuam a ser o que sempre foram: homens coerentes, combativos e inteligen-
tes. 
Se alguém fez algo que não esta em sua cartilha, foi a TV Globo, que não sem interesses alheios 
ao assunto reservou parte do horário nobre para pessoas pobres, negras, amantes da arte e lutadores 
nesta guerra diária pela melhoria das condições de vida nas periferias. 
Embora este seja um grande desejo da Folha de São Paulo, Estadão, TV Globo, etc, ter os Racio-
nais cooptados ou mesmo seduzidos pelo poder midiático e pelo dinheiro, mais uma vez eles se frus-
traram. 
Fonte: Adaptado de: Folha de São Paulo joga o leitor contra os Racionais MC´s. Escrito por Eliana Antonia, no mês de abril de 2004. In.: Boletim do NPC. 
Nº 40, abril de 2004. Disponível em:<http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/antonia-racionais.html>. Acesso em: 29 nov. 2007.
n
Em uma entrevista concedida ao repórter Sérgio Kalili, para uma 
edição Especial da Revista Caros Amigos, sobre o Movimento Hip Hop, 
um dos integrantes do Racionais MC, o rapper Pedro Paulo Soares, o 
Mano Brown, ao ser interrogado sobre “o que significa aparecer no 
Faustão, no Gugu, na televisão”, respondeu o seguinte: “(...) significa 
o começo da derrota. Acho que nós estamos começando a ganhar uma 
batalha pequena de uma guerra gigante. Quando você começa a sair 
fora do sistema em que os caras colocaram você, o controle remoto, tu-
do tá no domínio dos caras, da televisão, eles têm domínio sobre tudo,

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