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Luiz Antonio Sacconi - Não Erre Mais-271-273

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economizar	 energia.	 ***	Em	 face	 dos	 boatos	 de	 ontem,	 o	 treinador
resolveu	pedir	rescisão	do	contrato	com	o	clube.
Na	linguagem	forense,	sobretudo,	usa-se	muito	a	locução	“face	a”,	que
não	temos:	“Face	ao”	exposto,	peço	a	condenação	do	réu.
Os	advogados	não	a	usam;	já	os	“adevogados”…
repetir	“outra	vez”
Redundância	visível,	a	exemplo	de	repetir	“duas	vezes”,	repetir	“de
novo”	e	 repetir	 “novamente”.	 Não	 há	 redundância	 nenhuma,	 contudo,
em	repetir	três	vezes	ou	mais.
Alguns	 narradores	 de	 futebol	 pela	 televisão	 costumam	 dizer:	Vamos
“rever	outra	vez”	o	lance!	Há	quem	tape	olhos	e	orelhas…
Veja	 estoutra	 “maravilha”	 colhida	 num	 jornal:	Repetindo	 “a	 mesma
coisa”	que	aconteceu	nos	EUA,	o	filme	Matrix	não	conseguiu	superar	a
bilheteria	do	Homem-Aranha.
reincidir	“de	novo”	no	“mesmo”	erro
Duas	redundâncias	em	tão	curta	frase.	Reincidir	já	significa,	por	si	só,
tornar	a	praticar.	Quem	reincide,	só	pode	reincidir	na	mesma	coisa,	não
há	 como	 fugir.	 Procure	 não	 reincidir	 no	 erro,	 caro	 leitor,	 faz	 bem	 à
saúde!
psique	(como	se	pronuncia?)
Pronuncia-se	 p’síke,	 embora	 muitos	 insistam	 em	 dizer	 “pissikê”.	 A
psique	é,	 na	 literatura	 grega,	 a	 personificação	 da	 alma.	 Pode	 ser	 usada
também	por	a	alma	ou	a	mente.
em	hipótese	nenhuma
É	 a	 única	 expressão	 que	 temos:	 Não	 vou	 pedir	 perdão	 a	 ela	 em
hipótese	nenhuma.	***	Não	vou	mais	lá	em	hipótese	nenhuma.
No	Nordeste,	no	entanto,	usa-se	muito	“de”	hipótese	nenhuma:	Não
concordo	com	isso	“de”	hipótese	nenhuma!
Certa	 vez,	 em	Recife,	 um	 irado	 pai	 vociferou	 a	 um	 pretenso	 genro:
Você,	 seu	 cabra	 safado,	 não	 vai	 casar	 com	minha	 filha	 “de”	 hipótese
nenhuma!
E	o	casamento,	de	fato,	não	saiu.	Sorte	ou	azar	do	noivo?
à	família	enlutada,	os	nossos	“sentidos	pêsames”!
“Sentidos	pêsames”	é	coisa	de	“demente	mental”:	na	palavra	pêsames
já	 existe	 a	 ideia	 de	 sentidos,	 doloridos,	 etc.	 Trata-se,	 portanto,	 de
redundância	clara.	Há	muita	gente,	no	entanto,	que,	para	mostrar	muita
sinceridade,	exagera	e	acaba	chovendo	no	molhado.
milênios	“de	anos”
Mais	 redundância.	 Quem	 fala	 em	 milênios,	 já	 fala	 em	 anos,
evidentemente,	mas	isso	não	bastou	para	que	o	presidente	de	uma	central
de	trabalhadores	declarasse,	emocionado:	Há	milênios	“de	anos”	que	os
trabalhadores	estão	sendo	explorados	pelos	empresários.
Emoções	muito	fortes	costumam	ser	perigosas…
manter	o	“mesmo”	time
Está	claro	no	verbo	manter	a	ideia	de	mesmo,	igual,	etc.	Mas	há	muita
gente	 que	gosta	 de	manter	 “a	mesma”	disposição	da	 adolescência,	 que
aprecia	 manter	 “o	 mesmo”	 dinamismo	 do	 ano	 passado,	 que	 deseja
manter	 “o	 mesmo”	 entusiasmo	 dos	 colegas,	 etc.	 Trata-se	 de	 gente
realmente	vigorosa,	que	gosta	de	repetir	tudo	direitinho…
substituir	um	dispositivo	“por	outro”
Ora,	 sim,	 senhor…	Alguém	 consegue	 substituir	 um	 dispositivo	 pelo
mesmo?	Quem	conseguir,	esteja	certo:	é	extraterrestre…
batom	“na	boca”
Há	 certas	 redundâncias	 que	 arrepiam	 todos	 os	 pelos	 e	 cabelos,	 de
vivos	e	mortos.	Certa	feita	uma	senhora,	entre	admirada	e	crítica,	disse	a
outra,	ao	nosso	lado:	Veja,	aquele	rapaz	está	usando	“batom	na	boca”!
Ora,	alguém	usaria	batom	noutro	lugar?!
planos	“para	o	 futuro”	 /	 sorriso	“nos	 lábios”	 /	 estrelas
“do	céu”
Quem	 duvidará	 de	 que	 há	 novamente	 aqui	 mais	 três	 redundâncias?
Fazer	 planos	 “para	 o	 futuro”	 dá	 a	 entender	 que	 alguém	 possa	 fazer
planos	 “para	 o	 passado”,	 o	 que	 seria,	 sem	 dúvida,	 uma	 grande
inovação…
Quando	 ela,	 a	 um	galanteio,	 responde	 com	um	 sorriso	 “nos	 lábios”,
tome	 cuidado,	 porque	 ela	 também	pode	 responder	 com	 um	 sorriso	 em
outro	lugar…
E	os	românticos	que	encontrarem	estrelas	luminosas	noutro	lugar,	que
não	no	céu,	que	me	escrevam!
não	ver	“qualquer”	beleza	em	alguém
Qualquer	se	usa	nas	 frases	declarativas	afirmativas;	nas	negativas	se
emprega	 o	 pronome	 existente	 especialmente	 para	 elas:	 nenhum	 (e
variações).	Portanto:	Não	vejo	nenhuma	beleza	nessa	moça.
Numa	repartição	pública	se	leu	certa	vez	este	aviso:	Não	estão	abertas
“quaisquer”	 inscrições	 para	 o	 INAMPS.	Coincidência	 ou	 não,	 tempos
depois	o	INAMPS	foi	extinto.
um	ovo	choco,	dois	ovos…?
chocos	(com	o	tônico	aberto,	rimando	com	ovos).
Não	“grita”	comigo!
Frase	comum	na	 língua	 falada,	mas	que	contém	erro	no	emprego	do
imperativo	negativo,	que	 tem	origem	no	presente	do	 subjuntivo.	Como
grita	 não	 é	 forma	 verbal	 desse	 tempo	 e	 modo,	 fica	 fácil	 perceber	 o
inconveniente,	que	na	língua	escrita	é	 imperdoável.	Não	grite	comigo!:
essa	é	a	ordem.
Na	 língua	 falada	 é	 comum	 encontrarmos	 frases	 assim:	 Ela	 teve	 de
casar?	 Não	 “brinca”!	 ***	 Não	 “cumprimenta”	 esse	 cara!	 Ele	 é
indecente!	***	Não	“amola”	o	papai,	 filhinho!	***	Por	 favor,	 não	me
“beija”	na	frente	de	todo	o	mundo!	***	Não	“conta”	isso	pro	seu	pai!
***	Não	“mexe”	em	vespeiro!
Para	acertar	a	forma,	basta	conjugar	o	presente	do	subjuntivo,	tempo	e
modo	que	emprestam	suas	 formas	ao	 imperativo	negativo.	E	cada	uma
delas	aparecerá.	Pela	ordem:	brinque,	cumprimente,	amole,	beije,	conte	e
mexa.
Eis,	 agora,	 frase	 dita	 por	 um	 arcebispo	 brasileiro,	 em	 resposta	 a	 um
jornalista	 que	 lhe	perguntou	 se	não	 estava	na	hora	de	o	mundo	 ter	 um
papa	 brasileiro,	 especialmente	 depois	 que	 o	 país	 teve	 um	 presidente
operário:	 Não,	 “não	 mistura”	 o	 Lula	 nessa	 história	 ainda	 não.	 Aí
confunde	 tudo,	 porque	 ele	 com	 o	Espírito	 Santo	 não	 se	 entende	muito
bem.
Meu	 anjinho	 da	 guarda	 acaba	 de	 me	 advertir:	 Não	 mexa	 em
vespeiro!…
tratar	“à”
Às	 vezes,	 vemos	 anunciada	 frase	 assim:	 Precisa-se	 de	 secretárias.
Tratar	“à”	Rua	da	Paz,	100.	O	verbo	tratar,	em	frases	desse	tipo,	usa-se
com	em.	Por	isso,	quem	quer	tratar	de	um	assunto,	vai	tratar	em	algum
lugar:	 Precisa-se	 de	 secretárias.	 Tratar	 na	 Rua	 da	 Paz,	 285.	 ***
Interessados	no	emprego	devem	tratar	na	Avenida	do	Trabalho,	153.

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