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economizar energia. *** Em face dos boatos de ontem, o treinador resolveu pedir rescisão do contrato com o clube. Na linguagem forense, sobretudo, usa-se muito a locução “face a”, que não temos: “Face ao” exposto, peço a condenação do réu. Os advogados não a usam; já os “adevogados”… repetir “outra vez” Redundância visível, a exemplo de repetir “duas vezes”, repetir “de novo” e repetir “novamente”. Não há redundância nenhuma, contudo, em repetir três vezes ou mais. Alguns narradores de futebol pela televisão costumam dizer: Vamos “rever outra vez” o lance! Há quem tape olhos e orelhas… Veja estoutra “maravilha” colhida num jornal: Repetindo “a mesma coisa” que aconteceu nos EUA, o filme Matrix não conseguiu superar a bilheteria do Homem-Aranha. reincidir “de novo” no “mesmo” erro Duas redundâncias em tão curta frase. Reincidir já significa, por si só, tornar a praticar. Quem reincide, só pode reincidir na mesma coisa, não há como fugir. Procure não reincidir no erro, caro leitor, faz bem à saúde! psique (como se pronuncia?) Pronuncia-se p’síke, embora muitos insistam em dizer “pissikê”. A psique é, na literatura grega, a personificação da alma. Pode ser usada também por a alma ou a mente. em hipótese nenhuma É a única expressão que temos: Não vou pedir perdão a ela em hipótese nenhuma. *** Não vou mais lá em hipótese nenhuma. No Nordeste, no entanto, usa-se muito “de” hipótese nenhuma: Não concordo com isso “de” hipótese nenhuma! Certa vez, em Recife, um irado pai vociferou a um pretenso genro: Você, seu cabra safado, não vai casar com minha filha “de” hipótese nenhuma! E o casamento, de fato, não saiu. Sorte ou azar do noivo? à família enlutada, os nossos “sentidos pêsames”! “Sentidos pêsames” é coisa de “demente mental”: na palavra pêsames já existe a ideia de sentidos, doloridos, etc. Trata-se, portanto, de redundância clara. Há muita gente, no entanto, que, para mostrar muita sinceridade, exagera e acaba chovendo no molhado. milênios “de anos” Mais redundância. Quem fala em milênios, já fala em anos, evidentemente, mas isso não bastou para que o presidente de uma central de trabalhadores declarasse, emocionado: Há milênios “de anos” que os trabalhadores estão sendo explorados pelos empresários. Emoções muito fortes costumam ser perigosas… manter o “mesmo” time Está claro no verbo manter a ideia de mesmo, igual, etc. Mas há muita gente que gosta de manter “a mesma” disposição da adolescência, que aprecia manter “o mesmo” dinamismo do ano passado, que deseja manter “o mesmo” entusiasmo dos colegas, etc. Trata-se de gente realmente vigorosa, que gosta de repetir tudo direitinho… substituir um dispositivo “por outro” Ora, sim, senhor… Alguém consegue substituir um dispositivo pelo mesmo? Quem conseguir, esteja certo: é extraterrestre… batom “na boca” Há certas redundâncias que arrepiam todos os pelos e cabelos, de vivos e mortos. Certa feita uma senhora, entre admirada e crítica, disse a outra, ao nosso lado: Veja, aquele rapaz está usando “batom na boca”! Ora, alguém usaria batom noutro lugar?! planos “para o futuro” / sorriso “nos lábios” / estrelas “do céu” Quem duvidará de que há novamente aqui mais três redundâncias? Fazer planos “para o futuro” dá a entender que alguém possa fazer planos “para o passado”, o que seria, sem dúvida, uma grande inovação… Quando ela, a um galanteio, responde com um sorriso “nos lábios”, tome cuidado, porque ela também pode responder com um sorriso em outro lugar… E os românticos que encontrarem estrelas luminosas noutro lugar, que não no céu, que me escrevam! não ver “qualquer” beleza em alguém Qualquer se usa nas frases declarativas afirmativas; nas negativas se emprega o pronome existente especialmente para elas: nenhum (e variações). Portanto: Não vejo nenhuma beleza nessa moça. Numa repartição pública se leu certa vez este aviso: Não estão abertas “quaisquer” inscrições para o INAMPS. Coincidência ou não, tempos depois o INAMPS foi extinto. um ovo choco, dois ovos…? chocos (com o tônico aberto, rimando com ovos). Não “grita” comigo! Frase comum na língua falada, mas que contém erro no emprego do imperativo negativo, que tem origem no presente do subjuntivo. Como grita não é forma verbal desse tempo e modo, fica fácil perceber o inconveniente, que na língua escrita é imperdoável. Não grite comigo!: essa é a ordem. Na língua falada é comum encontrarmos frases assim: Ela teve de casar? Não “brinca”! *** Não “cumprimenta” esse cara! Ele é indecente! *** Não “amola” o papai, filhinho! *** Por favor, não me “beija” na frente de todo o mundo! *** Não “conta” isso pro seu pai! *** Não “mexe” em vespeiro! Para acertar a forma, basta conjugar o presente do subjuntivo, tempo e modo que emprestam suas formas ao imperativo negativo. E cada uma delas aparecerá. Pela ordem: brinque, cumprimente, amole, beije, conte e mexa. Eis, agora, frase dita por um arcebispo brasileiro, em resposta a um jornalista que lhe perguntou se não estava na hora de o mundo ter um papa brasileiro, especialmente depois que o país teve um presidente operário: Não, “não mistura” o Lula nessa história ainda não. Aí confunde tudo, porque ele com o Espírito Santo não se entende muito bem. Meu anjinho da guarda acaba de me advertir: Não mexa em vespeiro!… tratar “à” Às vezes, vemos anunciada frase assim: Precisa-se de secretárias. Tratar “à” Rua da Paz, 100. O verbo tratar, em frases desse tipo, usa-se com em. Por isso, quem quer tratar de um assunto, vai tratar em algum lugar: Precisa-se de secretárias. Tratar na Rua da Paz, 285. *** Interessados no emprego devem tratar na Avenida do Trabalho, 153.