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Pronome A rigor, pronome é toda palavra que representa, substi- tui ou acompanha um substantivo, referindo-se sempre a um ser e indicando uma pessoa do discurso: aquele que utiliza a língua no momento da comunicação (eu, nós), aquele a quem a comunicação é dirigida (tu, você, vós, vocês, Vossa Senhoria, Senhor), aquele ou aquilo que não participa do ato comunicativo, mas é mencionado (ele, ela, aquilo, outro, qualquer, alguém etc.). Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessi- vos, demonstrativos, relativos, indefinidos e interrogativos. Observe o quadro a seguir. Classificação pessoais (1a, 2a, 3a) eu, tu... me, te, se... mim, ti, si... [...] possessivos (1a, 2a, 3a) meu, minha... teu, tua... seu, sua... [...] demonstrativos (1a, 2a, 3a) este, esta... esse, essa... aquele, aquela... [...] indefinidos (3a) algum, alguém... tudo, nada... muito, pouco... [...] interrogativos (3a) quem, que... qual, quanto... quantas... [...] relativos que, qual... onde, cujo... quem, quanto... [...] Os pronomes referem-se às pessoas do discurso: 1a p, 2a p e 3a p Emprego dos pronomes Pronome de tratamento Os pronomes de tratamento indicam o interlocutor, por- tanto, com quem se fala. Conjugam-se na terceira pessoa e são incluídos entre os pronomes pessoais. Podem ser assim classificados: y de tratamento familiar Os pronomes você e vocês são utilizados para tra- tamento familiar, expressam intimidade, aproximação, informalidade. Seu uso está presente na escrita e consa- grado na linguagem oral. y de tratamento cerimonioso São pronomes de tratamento cerimonioso: senhor, se- nhora, senhorita. No texto de Dalton Trevisan, a seguir, o pronome é utilizado em letra maiúscula a fim de retratar a importância da mulher na vida da família e do enunciador; mais que respeitabilidade, esse pronome assume no con- texto um valor afetivo. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Dalton Trevisan. “Apelo”. In: Mistérios de Curitiba. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1979. p. 73-74. Em outros contextos, entretanto, esse pronome pode ser utilizado como efeito de distanciamento: às 4:00 da madrugada A senhora sabe que horas são? Hora de o senhor deixar de ser chato e me dar um beijo! Fig. 19 Pronome de tratamento cerimonioso – afastamento. y de reverência Onde está o ministro? Vossa Excelência está assinando papéis. Fig. 20 Pronome de tratamento. Os pronomes de reverência são utilizados em contextos formais para altas autoridades públicas, membros da aristo- cracia e do clero. Podem ser agrupados da seguinte maneira: A Igreja: Vossa Eminência (o cardeal) Vossa Reverendíssima (o sacerdote) Vossa Santidade (o papa) A aristocracia: Vossa Alteza (o príncipe, o duque, o arqueduque) Vossa Majestade (o rei, o imperador) A presidência e as autoridades: Vossa Senhoria (funcionário público graduado, oficiais até coronel, pessoas de cerimônia) F R E N T E 1 19 Vossa Excelência (o presidente, altas autoridades do governo e das Forças Armadas) Atenção É especialmente interessante o caso do pronome de tratamento você que, no Brasil, alcança status de pronome pessoal, usado em vez de tu. Embora substitua a segunda pessoa, ainda conserva características de pronome de tra- tamento, pois exige verbo na terceira pessoa. Além de você, as palavras senhor, senhora, senhorita, madame também são pronomes de tratamento, formas res- peitosas pelas quais se reconhece ou se destaca o valor social do outro. Os principais pronomes de tratamento são: Vossa Alteza Vossa Eminência Vossa Excelência Vossa Magnificência Vossa Majestade Vossa Santidade Vossa Senhoria Vossa Reverendíssima Tab. 11 Pronomes de tratamento. Os pronomes de tratamento podem criar efeitos de apro- ximação ou distanciamento. Observe os exemplos a seguir: − O doutor... − Eu não sou doutor, Senhor Melli. − Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 30. Fig. 21 Efeito de aproximação. R E P R O D U Ç Ã O No diálogo, o pronome de tratamento “Senhor” cria um efeito de distanciamento entre os interlocutores; já no anúncio publicitário, o pronome “você” cria um efeito de aproximação. Atenção Pronome possessivo Os pronomes possessivos podem expressar afetivida- de, desprezo, ironia ou cálculo aproximado. doce Bianca... idiota, não pise no meu pé! querido... retire-se! Tinha quinze anos... Quanto mais econômica for a escrita, mais claro o texto ficará. Sendo assim, não é recomendável o excesso de possessivos (1) nem seu uso para partes do corpo (2). Veja: (1) João foi ao teatro com seu pai. João foi ao teatro com o pai. (2) Minha cabeça dói. A cabeça dói. Há, ainda, situações nas quais o possessivo gera am- biguidade (3). É preciso desfazê-la: (3a) A família de Adolfo Bastos comunica seu arrependi- mento. Agora observe: (3b) A família de Adolfo Bastos comunica o arrependi- mento deste. Pronto! Está desfeita a ambiguidade. A posposição do pronome ao substantivo costuma ser recurso enfático: Neto meu não sai a essa hora! Na literatura, também se observa a posposição como recurso expressivo, algumas vezes como vocativo: Mas vem! Os hinos meus, as canções minhas. Manuel Bandeira. É necessário estar atento em relação à concordância entre os verbos, especialmente o imperativo, e os posses- sivos. Observe: linguagem coloquial: Vem, sua obra é digna! linguagem culta: Venha, sua obra é digna! De quem? De Adolfo ou da família? 2a 3a 3a 3a 20 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 1 Morfologia – Classes gramaticais Na primeira frase, falta concordância, o verbo está na segunda pessoa (Vem tu) e o pronome está na terceira. Já na segunda frase, verbo e pronome estão em concordância (outra possibilidade: Vem, tua obra). Quando um só posses- sivo determina mais de um substantivo, concorda-se com o substantivo mais próximo: Minha bússola e cantil de que tanto preciso! Pronome demonstrativo Os pronomes conhecidos como demonstrativos são usados para indicar proximidade ou distância, isto é, a po- sição de algo ou de um ser em relação à pessoa gramatical do enunciador. Principais demonstrativos: a. o, a, os, as (= aquilo, aquele, aquela e flexões) Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto chamei de mau gosto o que vi... Caetano Veloso. “Sampa”. Intérprete: Caetano Veloso. In: Circuladô - ao vivo. Polygram, 1992. 19a faixa. O pronome o em “o que vi” pode ser substituído por “aquilo”: chamei de mau gosto aquilo que vi... b. este, esse, aquele... Há dois critérios a serem observados: critério espacial y Próximo do emissor: este, esta, estes, estas, isto. Esta caneta = Minha caneta y Próximo do receptor: esse, essa, esses, essas, isso. Essa caneta = Tua caneta critério temporal y Tempo presente em relação ao emissor: este, esta. Esta noite está sendo inesquecível. y Passado próximo em relação ao emissor: esse, essa. Essa noite foi inesquecível. Marcadores de coesão 1. Valores semânticos Os demonstrativos podem transmitir uma pluralidade de valores semânticos como: “Você comeu aquilo? Que nojo...” “Este infeliz me passou a perna, Heitor” Fig. 22 Depreciativo. e brincadeira... Fig. 23 Admiração. Isto é futebol, o resto é pelada! Fig. 24 Ênfase. Fig. 25 Com valor temporal (= então). Em certas situações, um demonstrativo pode substituir o outro, note: Janaína!! Tira esse chato da minha frente” Fig. 26 “Esse” no lugar de “este” para criar um efeito de distanciamento. F R E N T E 1 21