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Hepatites Virais Anatomia e Histologia Hepática - Hepatócitos se dispõem em lóbulos hepáticos, no centro → vênula central - Os sinusóides hepáticos estão localizados nos espaços entre os lóbulos hepático, separados destes pelo espaço de Disse - Única camada contendo célula endotelial e células de Kup�er (fagocitária) - Espaço-porta: vênula, arteríola hepática, dúctulo biliar e vaso linfático - Maior parte da oxigenação hepática vem do sangue venoso dos ramos da veia porta (que também traz substância recém-absorvidas) - Hepatócito secreta bile nos canalículos biliares - Canalículo biliar → Ducto biliar → Ductos hepáticos D e E → Ducto Hepático comum → Une ao ducto cístico, formando ducto colédoco → Desemboca na papila de Vater Virologia As Hepatites Virais agudas (Notificação compulsória!!!) e crônicas são provocadas por cinco agentes com tropismo primário pelo tecido hepático, são eles: • Vírus da Hepatite A (HAV) • Vírus da Hepatite B (HBV) • Vírus da Hepatite C (HCV) • Vírus da Hepatite D (HDV) • Vírus da Hepatite E (HEV) → Vacinas disponíveis: HB, HA; - Para pessoa pegar HD ela tem que ter se infectado previamente por HB, assim a vacina de HB previne contra HD; → Hepatites que tem cura: - Fases Costumam ser autolimitadas (1-2 meses) e sem complicações. Em geral, o curso clínico se desenvolve a partir de três fases sucessivas: ○ Fase Prodrômica: → Inespecíficos, sistêmicos e gastrointestinais (diarreia, vômito), febre é incomum (leve), artralgia e/ou artrite / glomerulonefrite aguda (imunocomplexo), perda ou perversão do paladar, esplenomegalia. Também pode encontrar cefaleia, fotofobia, tosse e coriza. ○ Face Icterícia: → Icterícia associada ou não com colúria, hipocolia fecal e prurido (síndrome colestática). Pode não ocorrer. ○ Fase de convalescência: → Melhora dos sintomas, marca o fim do quadro agudo de hepatite, se persistir sintomas após seis meses, hepatite crônica. O paciente pode estar curado ou evoluir para cronicidade. Manifestações O espectro clínico das hepatites é muito amplo, → Formas assintomáticas, as anictéricas, as ictéricas típicas e até a insuficiência hepática aguda grave fulminante (fulminante com indicação para transplante). Sintomatologia Típica → Fadiga, mal estar, náuseas, dor abdominal, anorexia e icterícia Achados Laboratoriais: - Leucopenia a custos de neutrófilos e linfócitos que evolui para linfocitose - Aumento da ALT/AST para acima de 10x limite superior (sem relação com prognóstico) - Hiperbilirrubinemia - Aumento de Gama-GT e FA (Colestase intra-hepática), mais comum na HAV - Dosar função hepática para investigar insuficiência hepática aguda Síndrome Pós-Hepatite - Caracteriza pela persistência de alguns sinais e sintomas da hepatite, como: ● Fadiga, peso no hipocôndrio direito, intolerância a certos alimentos e ao álcool, mesmo após a cura do quadro agudo. ● A palpação do hipocôndrio direito pode ser dolorosa e as aminotransferases podem continuar discretamente elevadas. - O prognóstico é bom, mas o quadro pode persistir por meses, muitas vezes sendo necessário a realização de biópsia hepática para descartar hepatite crônica. A hepatite crônica, geralmente, também cursa de forma assintomática. Quando aparecem manifestações clínicas a doença normalmente já está em estágio avançado (com cirrose e hepatocarcinoma). O diagnóstico inclui a clínica, a realização de exames laboratoriais e testes rápidos. Hepatite B Introdução e epidemiologia - A Hepatite B é a principal infecção viral crônica no mundo e há uma estimativa que cerca de 2 bilhões de pessoas já tiveram contato com o vírus, tendo cerca de 350 mil portadores crônicos no mundo. - As pessoas com Hepatite B crônica têm 15% a 40% de chance de desenvolver cirrose, insuficiência hepática ou hepatocarcinoma. - A hepatite B não tem distribuição uniforme no mundo. → No Brasil, na região da Bacia Amazônica, especialmente entre as populações indígenas e ribeirinhas, existe uma alta prevalência, enquanto no restante do país a prevalência é intermediária. Virologia - O vírus do HBV é um vírus do tipo DNA, da família Hepadnaviridae. → Por ele ser de DNA ele pode ser incorporado e posteriormente reativado; - São vírus esféricos que medem cerca de 42 nm, envelopados e que afetam somente humanos, não possuindo outros reservatórios. - Existem atualmente 10 genótipos desse vírus, conhecidos de A-J. No país, o genótipo mais comum é o A, D e F, mas na prática essas definições não são muito utilizadas para o tratamento. Antígenos do HBV - HBcAg.: Antígeno central, presente no capsídeo; Adquirido apenas com o contato; - HBeAg, antígeno que marca a replicação viral. - HBsAg, antígeno de superfície, que faz parte do envelope.; Ciclo de replicação do HBV - O HBV possui tropismo pela célula hepática e, ao se ligar a receptores presentes na superfície celular, é internalizado e perde seu envoltório. Em seguida, o conteúdo viral migra para o núcleo e replica-se por meio de um sistema semelhante ao dos retrovírus Imunopatogênese - HBV não é citopático → O processo de replicação do vírus dentro do hepatócito ocorre sem que haja dano ou degradação ao hepatócito. - Porém o sistema imune lesiona o hepatócito que começa a expressar antígenos virais. Se lesão hepática mais grave, maior chance de cura, menos grave (logo resposta imune deficiente), mais chance de cronificação. Transmissão → Sexual - Comum em áreas de baixa prevalência. → Vertical - Pode ser intrauterina que é incomum, ou perinatal; - Comum em áreas de alta prevalência; - Se a mulher adquire a hepatite B durante a gravidez, o risco de transmissão vertical é menor se infectada no primeiro trimestre do que no segundo/terceiro - Chance de cronificação (e suas complicações) é muito maior em recém-nascidos (não reconhece antígenos virais como “estranhos”, então continua se replicando) do que em adultos (inversamente proporcional à idade) - Não é recomendado suspensão do aleitamento; - PROFILAXIA: imunoglobulina + vacina → Parenteral - Compartilhamento de objetos que contenham sangue, hemoderivados; Marcadores sorológicos da Hepatite B Marcadores sorológicos presentes na infecção por Hepatite B Marcadores Interpretação HBsAg – É o primeiro marcador a aparecer no soro; – INDICA PRESENÇA DO VÍRUS B NO ORGANISMO, ATIVO OU NÃO → se o vírus for eliminado ele negativa – Se permanecer por mais de 6 meses → Hepatite B crônica. – O SUS usa um teste rápido para detectar esse marcador sorológico. Anti- HBc total – Anticorpo: principal marcador da infecção pelo vírus B (ativa ou curada). – Este anticorpo não é neutralizante, e a sua presença não indica a cura da infecção. IgM Anti-HBc – É o segundo marcador a aparecer, indica infecção aguda e pode persistir por um ano após o contato. – A presença tardia desse marcador tem valor preditivo de evolução grave. IgG Anti-HBc – Aparece após o IgM e normalmente continua positivo durante toda vida do paciente. – Indica imunidade ao HBV. – O encontro isolado desse marcador pode indicar infecção antiga, em que o Anti-HBs não é mais detectado ou uma reação cruzada com anticorpos produzidos pela infecção de Hepatite C. – Este anticorpo não é neutralizante, e a sua presença não indica a cura da infecção. HBeAg – Importante marcador de replicação viral ativa; – Pode não ser expresso nas infecções por vírus mutantes; – O HBeAg é o grande marcador da fase de alta viremia da hepatite B (fase replicativa) → Sua presença indica alta infectividade. Anti-HBe – Indica evolução para cura, com parada da replicação viral nas infecções → O anti-HBe marca a fase não replicativa, de baixa infectividade. – Quando ele se torna positivo, o HBeAg desaparece. Anti-HBs – Seu surgimento é seguido pelo desaparecimento do HBsAg no sangue – Tradicionalmente indica cura da Hepatite B (ou vacinação) e imunidade duradoura. BBV Oculta - Quando não é possível detectar o antígeno, apenas o DNA - História Natural da infecção pelo HBV - A infecção pelo vírus da hepatite B pode causar hepatite aguda ou crônica; - Habitualmente,ambas as formas são oligossintomáticas (poucos sintomas ou nenhum sintoma característico). ● Hepatite Aguda • Lembrando que a maioria esmagadora dos casos de pacientes infectados pelo HBV possuem a forma assintomática. • Entretanto, para aqueles que possuem a forma sintomática o período de incubação é longo, em torno de 45 a 100 dias • Dentro desse período de incubação, temos o período de soroconversão, que dura cerca de uma a dez semanas, período necessário para detecção do HBsAg), com uma média de 70 dias, o que torna difícil a lembrança do paciente com algum tipo de exposição que levaria o médico a pensar na hipótese diagnóstica de Hepatite B. • Os sintomas ocorrem de acordo com a idade da infecção e os adultos costumam ser mais sintomáticos do que as crianças. → Isso porque o dano hepático, como já mencionado, não é decorrente do vírus da Hepatite B e sim da resposta imune, portanto, como os adultos têm uma reação mais intensa do sistema imunológico, há maior tendência da forma sintomática do que nas criança • Todos os sintomas variam de leves a fulminantes (correspondem a menos de 1% das evoluções e geralmente ocorrem em indivíduos que promovem uma resposta imunológica exacerbada). Formas de Evolução Aguda ⇒ Evolução Aguda Benignas ● Assintomática: Aumento de aminotransferases ● Anictérica: Sintomas da fase prodrômica + aminotransferases > 500 ● Ictérica: Fácil diagnóstico ● Recorrente: Episódios de elevação das aminotransferases em pacientes que já tinham melhorado ou estavam melhorando dentro dos seis meses. ● Colestática: Mais característico da Hepatite A (Síndrome colestática com aumento da FA, G-GT, acolia fecal e prurido) ⇒ Evolução Aguda Grave ● Hepatite fulminante: Evolução para encefalopatia hepática em oito semanas a partir do início do quadro clínico. Os sintomas de insuficiência hepática surgem progressivamente; Laboratório ● Hemograma normalmente inalterado, se alterado tem leucopenia discreta com linfocitose, porém se fulminante pode ter linfocitose a custas de neutrófilos com desvio à esquerda. VHS normal. ● ALT e AST elevadas no aparecimento de sintomas, sendo a TGP mais sensível ● Se a bilirrubina aumenta, é às custas da fração direta. ● FA e GGT aumentam nas icterícias colestáticas. ● Os pacientes podem, ou não, apresentar aumento de transaminases, dependendo da clínica e o mesmo ocorre com a elevação de bilirrubina. Nos casos de Hepatite Fulminante, os fatores de coagulação estão alterados. ● Hepatite crônica Definição: HBsAg (+) por mais de seis meses. Em suspeita de paciente assintomático na HBV aguda, positividade isolada do anti-HBc IgG. ● Menor chance de cronificação se hepatite aguda ictérica clássica. ● Pode evoluir diretamente para hepatocarcinoma na ausência de cirrose A maioria dos pacientes são diagnosticados já na fase crônica, uma vez que na fase aguda os casos são, em sua maioria, assintomáticos. → A Hepatite Crônica é dividida em 4 fases: 1. Imunotolerância HBV DNA alto, HBsAg positivo, HBeAg positivo e ALT normal ou pouco alterada. - O vírus está dentro do hepatócito, está se multiplicando, mas o sistema imune ainda não será ativado, não haverá um recrutamento de células e nem lesão hepática. - Há replicação do vírus o HBsAg estará positivo, uma vez que é o primeiro marcador a aparecer e se for realizada uma amostra quantitativa, o que não é muito frequente na prática, a alteração será de grande escala. - O HBV DNA ELEVADO (>20.000), que é a carga viral do HBV, isso porque está ocorrendo replicação em grande escala, o que também explica o resultado positivo para HBeAg. - Sem dano hepático, as transaminases estão normais ou pouquíssimas alteradas e, se realizada, uma biópsia com valor mínimo de Hepatite. 2. Imunoclearance HBV DNA em valores menores, HBsAg + , HBeAg + e ALT alterada. - O sistema imunológico é ativado, na tentativa de eliminar o vírus. - Dessa forma, o valor de HBsAg, apesar de positivo vai estar mais baixo, bem como a carga viral do vírus, positiva, mas em valores menores. - No que tange ao HBeAg, ele ainda é positivo, porque o vírus ainda estará replicando e na dosagem das transaminases, haverá alteração. - Essa fase se encerra com Anti- HBe + - Se realizada uma biópsia, dependendo da resposta imune que foi desencadeada por esse indivíduo, ele pode apresentar fibrose ou até cirrose. Duração variável (meses a anos) 3. Portador inativo HBV DNA baixo, HBsAg positivo, Anti-HBc positivo, Anti-HBs negativo e ALT normal. - Passada essa fase, se o indivíduo não desenvolver fibrose ou cirrose, que são indicações para tratamento, o vírus entra na fase 3: HBeAg negativo infecção crônica. - Nesse momento o vírus para de se replicar tanto, então o paciente passa a ser Anti-HBe positivo, a replicação vai acontecer, mas em menor escala. - Consequentemente, o HBV DNA vai ser baixo e as transaminases estão normais, uma vez que a resposta imune vai ser reduzida pelo entendimento de que houve um equilíbrio no organismo. Como se houvesse uma eliminação parcial do vírus. 4. Reativação HBV DNA alto, HBsAg positivo, HBeAg positivo ou negativo e ALT normal ou alterada. - Se o portador inativo entrar em imunodepressão, como ao receber algum tratamento, como por imunossupressor pela reumatologia por ex, ele pode sair da fase de equilíbrio e reativar a Hepatite B; - Aumento da carga viral, das transaminases e o paciente pode voltar a demonstrar fibrose e cirrose, - No de imunodepressão, o HBeAg volta a positivar, no caso de mutações no vírus, ele continua negativo, mas o DNA viral aumenta. Sintomas da hepatite B crônica - Maioria: Assintomático ou oligossintomático - Sintoma mais comum é a fadiga, mas pode haver náusea, vômitos, anorexia, dor leve/desconforto em Hipocôndrio direito. - Comumente manifestações extra hepáticas, principalmente síndrome nefrótica pela glomerulopatia por deposição de imunocomplexos e depois poliarterite nodosa. Diagnóstico - Hepatite B aguda sintomáticos → Detecção de marcadores sorológicos, primeiro o HBsAg, o segundo marcador a aparecer é o Anti-HBc IgM e o marcador de replicação, o HBeAg. - Hepatite crônica → Requer HBsAg positivo por mais de seis meses. → Marcadores sorológicos, o HBsAg que aparece cerca de 2 semanas após a transmissão e, se fica positivo por mais de 6 meses, ele indica infecção crônica. → Outro marcador é o Anti-HBs que é positivo em casos de cura, em que os marcadores de Anti-HBc e IgG também estarão positivos, ou vacinação em que todos marcadores estarão negativos, exceto o Anti-HBs. → O diagnóstico também pode ser feito pela presença do Anti-HBc IgM, que aparece em média uma semana após o HBsAg; pelo Anti-HBc IgG que é positivo nas infecções crônicas; pelo HBeAg, o marcador de replicação viral e pelo Anti-HBe, que aparece quando não há mais replicação viral maciça. → O HBV DNA quantifica a replicação viral e os outros exames são utilizados para estadiar o grau de função hepática com a dosagem de transaminases, USG de abdome e biópsia hepática. HBsAg (-): - Diagnóstico improvável, mas pode ocorrer na janela imunológica ou níveis baixos indetectáveis ou mutante de escape (hepatite B oculta) HBsAg (+) ou (-) e Anti-HBc IgM (+): - O encontro de IgM anti-HBc fecha o diagnóstico de Hepatite B aguda, independentemente dos outros marcadores HBsAg (+) e Anti-HBc IgM (-) IgG (+): - Paciente com HBV crônica HBsAg (-) e Anti-HBc IgM (-) IgG (+): - Pode ser HBsAg circulando em níveis baixos ou cicatriz sorológica (cura). - Observar anti-HBs, se IgG (+), significa cura, se IgG (-), paciente possui HBV crônica ou curada há muito tempo HBsAg (-) e Anti-HBc IgM (-) IgG (+) Anti-HBs (+): - Vacinação Manejo Inicial - Após o diagnóstico (HBsAg positivo), o paciente deve ser informado que deverá realizar inúmeros exames durante várias vezes ao longo da vida e para saber se é uma infecção crônica. - Devem ser explicadas as formas de transmissão. - Será referenciado para uma unidade especializada. Na chegada ao especialista, que normalmente é uma infectologista ou uma gastroenterologista,alguns exames serão solicitados. - Exames Complementares – A sorologia de Hepatite A deve ser realizada, uma vez que na ausência da doença, há indicação de imunização. – Marcadores de outras Hepatites, como a C, a Delta (se o paciente viver em área de alta prevalência, que não é o caso de Governador Valadares) – Teste de HIV – Demais marcadores da Hepatite B para identificar a fase da infecção que o paciente está. – Exames para estadiamento: como a biópsia hepática e a elastografia hepática, um ultrassom especial que equivale a uma biópsia que avalia o grau de fibrose através de ondas de ultrassom. – Exames de rotina na primeira consulta e à medida que o paciente for acompanhado. Tratamento: Infecção Aguda - O tratamento da infecção aguda, como ela normalmente é autolimitada, vai ser baseado no suporte clínico e no uso de antiviral específico em casos muito graves em que o paciente apresenta hepatites fulminantes. - - Reativação da HBVC - Cirrose/Insuficiência hepática - Biópsia hepática METAVIR maior ou igual a A2F2 ou ela Infecção Crônica - Nem todos os pacientes são tratados para Hepatite B porque o tratamento não tem alto potencial de cura, então a terapêutica só é indicada para aqueles que possuem algum grau de fibrose ou algumas manifestações clínicas extra-hepáticas. - Não Indicação Terapêutica: → Indivíduo é assintomático + Exames estão todos dentro dos padrões - Na prática clínica, o desfecho que procuramos é o controle da replicação viral, com negativação sustentada do HBeAg e do HBV-DNA. A carga viral está suprimida quando é <10.000 cópias/mL ou < 2.000 UI/ml. → Reduz chance de evolução desfavorável / cirrose. - Na infecção crônica, antes de iniciar o tratamento, o manejo clínico deve seguir alguns passos: ● Screening para HIV, Hepatite C, sífilis, e Hepatite A ● Hemograma (com contagem de plaquetas), dosagem de transaminases, avaliação da função hepática e ultrassonografia do abdome ● Biópsia hepática (não é obrigatória) ou métodos não invasivos para avaliar grau de fibrose, como a elastografia hepática ● Avaliação do status replicativo do HBV: – HBeAg positivo + Anti-HBe negativo = fase replicativa; – Anti-HBe positivo + HBeAg negativo = fase não replicativa (exceto no mutante pré-core). - Indicar Terapêutica: ○ Pacientes com HBeAg reagente e ALT> 2 vezes o limite superior da normalidade (LSN)* ○ Adultos maiores de 30 anos com HBeAg reagente* ○ Pacientes com HBeAg não reagente, HBV DNA> 2000 Ul/mL e ALT> 2 vezes o LSN* ○ Histórico familiar de hepatocarcinoma (CHC) ○ Manifestações extra-hepáticas ○ Coinfecção com HIV/HBV ou HCV/HBV ○ Hepatite Aguda Grave com coagulopatias ou icterícia por um período superior a 14 diasstografia hepática superior a 7 kPa ○ Prevenção de reativação viral em pacientes que irão receber terapia imunossupressora ou quimioterapia Assim, deve ser realizado o tratamento com antivirais: - Interferon convencional ou peguilado - Antivirais: análogos de nucleotídeos: lamivudina, tenofovir e entecavir – medicamentos especiais liberados pela Secretaria Estadual de Saúde Cura → Em indivíduos adultos expostos exclusivamente ao HBV, a cura espontânea se dá em cerca de 90% dos casos Gestantes - Um dos exames obrigatórios no pré-natal é o HBsAg, portanto, diante de uma gestante HBsAg positivo, o médico deve encaminhá-la para um atendimento especializado. - Avaliar carga viral da gestante → Superior a 200.000 Ul, gestantes for HBeAg reagente ou ALT for maior do que 2 vezes o LSN, deve ser realizada profilaxia com tenofovir (TDF). → Essa profilaxia deve iniciar no final do segundo trimestre e início do terceiro trimestre, por volta das 28 a 32 semanas, na tentativa de reduzir a carga viral e consequentemente as chances de transmissão vertical para o feto. - Os recém-nascidos de mães que são portadoras de HBVC, além da vacinação nas primeiras 12 horas de vida, eles receberão imunoglobulina humana Anti-Hepatite B nas primeiras 24 horas de vida. → Essa imunoprofilaxia combinada previne a transmissão perinatal da Hepatite B em mais de 90% dos recém-nascidos. Prevenção - Uso de preservativos - Realização de screening em bancos de sangue e em hemodiálise - Não compartilhamento de materiais que possam estar contaminados com sangue. - A vacinação também é essencial na prevenção. → Foi incluída no Calendário Nacional de Imunização em 1999, mas era dada somente para crianças e profissionais da saúde, mas desde 2016 está disponível para toda população. → É uma vacina recombinantes inativada e os esquemas propostos são para recém-nascidos em quatro doses (0, 2, 4 e 6); para adultos três doses (0, 1 e 6) e para portadores de HIV ou de outras imunossupressão quatro doses com concentrações dobradas (0, 1, 6 e 12). → A vacina possui uma eficácia de 90% a 95%, então após um mês do término de três doses (no caso de adultos) é recomendada a dosagem de Anti-HBs. - Se o valor for superior a 10, significa imunização, se ele for inferior, demonstra que a vacina não funcionou ⇒ é recomendada mais uma dose, repetição do HBs, se ainda assim vier menor do que 10, aplicar mais duas doses e se nesse período vier negativo o indivíduo será considerado um respondedor nulo. Hepatite C Introdução e Epidemiologia - Na década de 70 e 80 quando se iniciaram as terapias de transfusão, era observado que alguns pacientes após esses procedimentos desenvolviam um tipo de Hepatite. Como na época só eram conhecidas a Hepatite A e a Hepatite B, ela foi chamada de “Hepatite não A não B” e somente em um momento posterior foi descoberto que essa nova Hepatite era causada também por um vírus com tropismo primário pelo tecido hepático e assim ela recebeu o nome de Hepatite C. - A OMS estima que haja 71 milhões de pessoas infectadas no mundo, são 400 mil óbitos anuais associados a complicações da doença e no Brasil, estima- se uma prevalência de 0,7%, o que denota 700.000 pessoas com Hepatite C no Brasil. De 80% a 85% dos infectados evoluem para a forma crônica da doença e essa porcentagem é maior em pacientes coinfectados com HIV. - A infecção crônica pode evoluir para cirrose, hipertensão porta, descompensação hepática e carcinoma hepatocelular (CHC), sendo que cerca de 27% dos casos de cirrose no mundo são secundários ao HCV e 25% de CHC secundários ao HCV. O vírus - O vírus da Hepatite C é um vírus RNA do gênero Hepacivirus, da família Flaviridae. - Ampla variação genômica → não tem vacina e nem imunoglobulina para prevenção - Possui um envelope lipoprotéico com duas glicoproteínas, E1 e E2, um capsídeo protéico com a proteína C, que envolve o genoma viral. - No caso do HCV, diferente do HBV, o tratamento ocorre de acordo com o genótipo que o indivíduo está infectado. - Apesar de atualmente já serem conhecidas drogas pangenotípicas, no Brasil, por questão de custo, a diferenciação de genótipo é feita para orientar o tratamento. - São conhecidos 7 genótipos e 3 subtipos, a maior parte dos estudos estão associados aos tipos 1 a 6 e no Brasil predominam os tipos 1 a 5. ● 64,9% genótipo 1 - Assim como no caso do HBV, o vírus da Hepatite C vai se ligar a receptores não muito bem elucidados nos hepatócitos, vai liberar seu material genético no citoplasma e no retículo endoplasmático - Diferente do HBV, o HCV não libera seu material genético no núcleo do hepatócito) haverá produção das proteínas virais e formação de novas partículas virais com posterior liberação do vírus por brotamento. Imunopatogênese Agressão hepática → inflamação → Auto-imunidade (manifestações extra hepáticas) - O vírus da Hepatite C induz uma resposta imune inata intensa, mas o vírus resiste a esses efeitos e consegue se estabelecer de forma crônica. - Aquelas pessoas que conseguem se recuperar, que são a minoria, em torno de 10% a 15%, produziram uma reação imunológica muito forte contra o vírus, enquanto as pessoas que desenvolvem as doenças crônicas responderam de forma focada ou transiente, baseadas em células T. - Anticorpos contra as proteínas do envelope podem ser associados à modulação dosníveis circulantes do vírus, mas isso não gera imunidade protetora. Isso quer dizer que a presença do Anti-HCV não confere proteção ao indivíduo. Transmissão - Transmissão Parenteral → Forma principal e que apresenta como fatores de risco indivíduos que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993, usuários de drogas injetáveis e que compartilham equipamento de uso e alguns locais de tatuagem ou piercing. Vírus pode permanecer nos objetos por 2 meses. - Transmissão Sexual → Fatores de risco são múltiplas parcerias, prática sexual de risco que gera sangramento por exemplo e a existência de outra IST, como o HIV. - Transmissão Vertical → Os fatores de risco são carga viral elevada e coinfecção com HIV. → Não contraindica aleitamento, somente em situações de fissuras no mamilo. Populações Vulneráveis - Transfusões antes de 1995 - Usuários de drogas injetáveis - Comportamentos de exposição sexual Sintomas ● Fadiga crônica, náusea, vômitos e anorexia ● Manifestação extra-hepática comum: - Crioglobulinemia mista (tipo 2) : são proteínas que se precipitam em baixas temperaturas. Podem causar glomerulonefrite, alterações cutâneas, alterações no fígado e alterações no sistema nervoso central. ● Aumenta risco de SM e DM2 ⇒ Complicações - Ascite - Variz de esôfago - Risco significativo de carcinoma hepatocelular (após cirrose) e aumenta risco de linfomas. História Natural da Infecção pelo HCV → Não existe imunidade pós infecção → risco de reinfecção ● Hepatite C Aguda - Período de incubação varia de 15 até 150 dias → Anti-HCV negativo em 30-50% dos pacientes no início dos sintomas - A grande maioria é assintomática e anictérica, o que ocorre em 80% dos pacientes. → Os pacientes que apresentam icterícia correspondem a 20% a 30% dos casos e eles serão aqueles com maior potencial de diagnóstico na fase aguda → Difícil diagnóstico e D. diferencial com outras Hepatites virais e outros tipos de hepatite. - Cerca de 10% a 20% dos pacientes apresentam sintomas inespecíficos, tais como anorexia, astenia, mal estar e dor abdominal. - A aminotransferases se elevam entre duas a oito semanas após a exposição e a TGP pode atingir valores até 100x maiores, porém costuma não ultrapassar 10x e tem caráter flutuante. ● Hepatite C crônica - Cerca de 90% dos infectados cronificam para → cirrose, hipertensão portal e hepatocarcinoma; - Evolução prolongada, e silenciosa em casos completamente assintomática sem nem mesmo icterícia; - Fatores que aceleram esse processo de evolução: → Abuso de álcool → Aquisição do vírus com idade superior a 40 anos → Obesidade → Indivíduos do sexo masculino → Coinfectados com HIV ou HBV. ⇒ Carcinoma Hepatocelular - A alfafetoproteína pode estar aumentada para > 20 mg/dL em 60-95% dos casos → característico de câncer hepático, precisa ser > 500 mg/dL. - TC: Nódulo bem delimitado hipervascular e wash-out tardio - Os marcadores tumorais podem estar positivos, porém se estiverem ausentes não descartam a hipótese de câncer; - Nem sempre é possível ou recomendado realizar a biópsia: as vezes, os riscos do procedimento superam os benefícios; - ● Cura → Pode ser espontânea em respostas imunes muito fortes Diagnóstico - No caso da Hepatite C só existe um marcador, o Anti-HCV que é detectável por ELISA em média a partir de 6 semanas. → Anti-HCV só indica contato com o HCV, não diferencia infecção atual ou contato prévio . - A partir de 2 semanas pode ser realizada biologia molecular com detecção do HCV RNA (PCR, CV)⇒ é ideal para o diagnóstico da Hepatite C aguda - Além disso, deve ser realizada a genotipagem para conduzir o tratamento, que depende desse do genótipo que a pessoa se infecta - Outros exames inespecíficos devem ser solicitados para avaliação da função hepática como: → Hemograma, dosagem de transaminases, ultrassonografia de abdome, biópsia do fígado ou métodos não invasivos, como a elastografia hepática. → Diagnóstico HCV Crônica Anti-HCV positivo por mais de 6 meses + HCV RNA detectável há mais de 6 meses → Pessoas curadas Anti HCV positivo + CV negativa Testagem de Rastreio - Rastreio HPC pelo menos uma vez ao ano, nos grupos abaixo: ● PVHIV (Pessoas vivendo com HIV) ● Pessoas sexualmente ativas prestes a iniciar profilaxia de PrEP ● Pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com múltiplas infecções sexualmente transmissíveis ● Pessoas trans ● Trabalhadoras do sexo ● Pessoas em situação de rua - Rastreio HPC ao menos uma vez na vida, são elas: ● Pessoas com mais de 40 anos, → Antigamente a prática da vacina não era tão segura e muitas vezes os materiais eram até aproveitados devido ao não conhecimento se o material havia ou não sido esterilizado ● Pacientes ou profissionais da saúde que tenham frequentado ambientes de hemodiálise ● Pacientes que fazem uso de álcool ou outras drogas e/ou antecedentes de drogas injetáveis ● Pessoas privadas de liberdade ● Pessoas que receberam transfusão de sangue ou hemoderivados antes de 1993 ou transplantes em qualquer época ● Pessoas com antecedente de exposição percutânea/parenteral a sangue ou outros materiais biológicos em locais que não obedeçam às normas da Vigilância Sanitária ● Pessoas com antecedente ou exposição a sangue ou outros materiais biológicos contaminados ● Crianças nascidas de mães que vivem com HCV ● Familiares ou outros contatos íntimos, incluindo parceiros sexuais, de pessoas que vivem ou que possuem antecedentes de HCV ● Pessoas com antecedentes de uso, em qualquer época, de agulhas, seringas de vidro ou não adequadamente esterilizadas ou de uso compartilhado para aplicação de medicamentos intravenosos ou outras substâncias lícitas ou ilícitas ● Pacientes diabéticos, com doenças cardiovasculares, antecedentes psiquiátricos, histórico de patologia hepática sem diagnóstico, elevação de ALT e/ou AST, antecedente de doença renal ou de imunodepressão, a qualquer tempo - Rastreio de Hepatocarcinoma em pessoas com HPC ● USG + alfa-fetoprote´´ina a cada 6 meses; Manejo Inicial - Feito o diagnóstico, assim como nas infecções com HBV o paciente deve ser orientado (medidas preventivas), encaminhamento para serviço especializado; - Exames Iniciais – Genotipagem para condução do tratamento – Estadiamento do acometimento hepático: → Biópsia → Elastografia hepática: ARF e fibroscan → Fibrose estadiada entre F0 → F4 – Exames complementares. Tratamento - O tratamento é para todas as pessoas diagnosticadas com Hepatite C, porque a terapia é curativa e pode prevenir a progressão da doença, diferentemente dos portadores de HBV. - Em pacientes portadores de cirrose a conduta é evitar a descompensação, mas o risco de hepatocarcinoma persiste e o paciente deve ser acompanhado pelo resto da vida. NÃO TRATADOS: Crianças com idade inferior a 3 anos, gestantes e pacientes com expectativa abaixo de 12 meses não são indicadas para tratamento. - Como já mencionado, o tratamento é feito de acordo com a genotipagem e o tempo de duração está associado ao estadiamento (fibrose do fígado). - As drogas disponíveis no Brasil são: ● DAAs → Drogas de Ação Direta: agem no ciclo de vida viral - Daclatasvir, Iedipasvir, Velpatasvir - Pribentasvir (Inibidores de NSSA); - Sofosbuvir (Inibidor de NSSB) - Inibidores de NS3 e Grazoprevir - Glecaprevir (Inibidores de protease) ● Ribavirina ● Interferon - NÃO é mais utilizada atualmente Combinação - Duas drogas com ou sem RBV por 12 - 24 semanas - O MS muda constantemente o protocolo de acordo com a disponibilidade → consultar quando for tratar Objetivos: - Evitar progressão, queloide de vida, diminuir transmissão e manifestações extra-hepáticas; → Após 12 ou 24 semanas após o tratamento será realizado um novo HCV RNA, se não houver detecção significa que o paciente teve uma resposta virológica sustentada, ou seja, houve cura. → Entretanto, a Hepatite C não confere imunidade protetora após a primeira infecção, havendo risco de reinfecção, por isso, o paciente deve continuar tomando os cuidados necessários. Gestantes - O testeAnti-HCV não é solicitado nos exames de pré-natal das gestantes; → Entretanto, aquelas que possuem infecção por HIV, fazem uso de drogas ilícitas, possuem antecedentes de transfusão ou transplante antes de 1993, mulheres submetidas a hemodiálise, aquelas que possuem elevação de aminotransferases sem outra causa clínica evidente e profissionais da saúde com histórico de acidente com material biológico. ATUALIZAÇÃO >> Testagem universal - É importante lembrar que não existe profilaxia para Hepatite C crônica. → Então, seria interessante testar para que a gestante saiba da infecção e inicie o tratamento após a gestação. → Por outro lado, para a gestante saber que ela apresenta uma infecção e que pode transmitir para o feto, gera ansiedade. - Não existem evidências científicas que recomendem uma via de parto, mas orienta-se evitar a realização de procedimentos invasivos, parto laborioso e tempo de ruptura de membranas maior do que seis horas, para minimizar a possibilidade de transmissão vertical - Tratamento Tratar antes da gravidez! → MEDICAMENTOS TERATOGÊNICOS - Nesse sentido, é recomendado que crianças expostas nascidas de mães com Anti-HCV reagente sejam testadas para anticorpos Anti-HCV a partir dos 18 meses de idade → Se positivo, realizar a carga viral, se a carga viral for positiva, significa que houve transmissão vertical. → Referência para pediatra para iniciar o tratamento após 3 anos provavelmente. Prevenção - Uso ocorre através do uso de preservativos - Screening em bancos de sangue e em hemodiálise - Evitando o compartilhamento de materiais potencialmente contaminados. - Não existe vacinação. Detalhes Importantes - Nas hepatites crônicas, o escore de Knodell-Ishak avalia o estágio de fibrose / cirrose e o processo necroinflamatório e o escore de Metavir avalia a hepatite C crônica. - O perfil TGP/TGO é o exame mais importante para diagnóstico e acompanhamento das hepatites crônicas, os níveis estão elevados 1,5 - 5x e com TGP > TGO. - A FA e a G-GT são normais ou pouco elevadas e a albumina e o RNI normais, exceto se cirrose hepática descompensada → Classificação de Child-Turcotte-Pugh - Avaliar a gravidade da cirrose hepática em pacientes que iriam ser submetidos a cirurgias abdominais. - Critérios: encefalopatia, ascite, bilirrubinas, hipoalbuminemia, tempo de protrombina -