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Prof. Muheca 1 Disciplina: Topografia Curso de Licenciatura em Engenharia Civil e de Transportes TEXTO DE APOIO TEMA DE AULA: LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO EM TRABALHOS DE TERRAPLENAGEM PARA IMPLANTAÇÃO DE EDIFÍCIO Apresentação sumária I. INTRODUÇÃO Como vimos na lição introdutiva sobre terraplenagem, que ela é um processo de remoção ou acúmulo de quantidades consideráveis de terras de um lugar para outro. Aqui, é fácil concluir que a terraplenagem é o conjunto de complexos trabalhos mecânicos realizados no terreno, com vista a modificar adequadamente a sua superfície do terreno para implantar uma obra da Engenharia civil, tendo em vista as indicativas do projecto da obra. A intervenção da Topografia em terraplenagem, visa apurar as características físicas geográficas planimétricas e altimétricas do terreno. Os objectivos de terraplenagem são adversos, entre os quais, tornar plano ou atenuar um terreno ondulado, ou ainda tornar consistente o solo para implantar uma obra da engenharia civil, como por exemplo, um edifício. No terreno onde se prevê implantar o edifício são observadas premissas técnicas da engenharia civil, com vista receber a obra, uma vez que a falta destas premissas ou a falta de uma avaliação antecipada e criteriosa do terreno poderá causar consequências catastróficas e nefastas tanto para o dono da obra, os vizinhos e tanto para ambiente da zona. Recordemos, que a terraplenagem envolve operações, tais como: • Escavação; • Aterro; • Troca de solo; • Compactação; • Drenagem; • Prevenção de erosão de solo; • Prevenção de deslizamento de terras. Nas lições anteriores sobre a implantação topográfica em projectos de saneamento e esgoto sanitário, abordamos terminologias tais como vala, poço e esvaziamento a céu aberto. E, dissemos: • Vala é forma de terraplenagem (escavação) comprida e estreita, com vista a implantar galerias e tubos para o devido escoamento da água residuária ou pluvial; • Poço é escavação vertical (profundidades), com vista a implantar as caixas colectoras e de inspecção; Prof. Muheca 2 • Esvaziamento é escavação a céu aberto, essencialmente para implantar drenagens para escoamento de água pluvial. A escavação de valas, poços e esvaziamentos são feitos com recurso manual ou máquinas. Analisando o acima dito, fica claro que no processo de terraplenagem, incorrem-se riscos de acidentes que devem ser tomados em consideração. Dos acidentes mais comuns em trabalhos de terraplenagem destacam-se: ✓ Desabamento de materiais e terras; ✓ Desmoronamento do terreno; ✓ Queda de pessoas ao interior da escavação; ✓ Atropelamento com máquinas; ✓ E, outros. Desta feita, é imperioso observar as directivas de técnicas de segurança emanadas no dado projecto. E você sendo o topógrafo envolvido no projecto de terraplenagem deve observar rigorosamente as medidas de segurança previstas. Na presente lição abordaremos os procedimentos topográficos de campo, com vista a tornar possível e viável a execução de terraplenagem, no ponto de vista da viabilidade económica, garantir a segurança e minimizar os efeitos ambientais por um lado, e por outro auxiliar ao engenheiro civil e/ou dono da obra o aproveitamento e uso racional do terreno. Ademais, em certos casos, evitar erosão e escorregamento do solo e garantir a estabilidade do edifício. Um projecto de terraplenagem para implantação de edifício, dependendo das características do relevo fornecidas pelo levantamento topográfico do terreno, tipo de solo, e o aproveitamento do terreno distingue-se: • Escavação total do terreno; • Escavação parcial do terreno; • Aterro total do terreno; • Aterro parcial do terreno; • Balanceamento do terreno. Regra geral, a opção de aterro total é quando o terreno é ondulado ou de humidade intermitente. Após as notas introdutivas, vejamos os procedimentos técnicos topográficos em terraplenagem de um terreno. II. LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO Os trabalhos topográficos planimétricos iniciam com a medição das dimensões do terreno antecedido por um reconhecimento. A planimetria visa apurar a configuração e quantificação da área do terreno disponível para implantação do edifício. Prof. Muheca 3 No levantamento planimétrico são usados equipamentos, instrumentos e métodos de medição aprendidos nas lições de Topografia I e II. Uma vez definida a configuração do terreno, procede-se a implantação de piquetes, segundo se ilustra nas figuras seguintes. Fig.1. Configuração terreno disponível para implantação do edifício. Uma vez, conhecida a dimensão da área do terreno disponível, elabora-se o subprojecto de implantação da malha para terraplenagem, veja fig.2. Fig.2. Esboço do subprojecto de implantação da malha de terraplenagem. A malha de terraplenagem é uma rede constituída por figuras geométricas implantadas no terreno, segundo a figura acima. Regra geral, são figuras geométricas de formato de quadrados de lado 10 ou 20 m, cujos vértices dos quadrados são cravadas estacas de madeira. Prof. Muheca 4 Notar que, nem sempre todas as figuras do subprojecto de implantação da malha são todas de formato quadrado, podendo se observar em muitos casos, algumas figuras da malha de formato rectangular, triangular, trapezoidais e outras figuras irregulares. Isso verifica-se principalmente nas partes extremas do terreno. Visto, que a configuração do terreno disponível para implantação do projecto de construção do edifício não tem sido sempre de formato regular. No terreno, a malha de terraplenagem é implantada com recurso a Fita métrica, Martelo e com a Estação Total. A implantação da malha de terraplenagem visa facilitar o cálculo de volume de aterro ou escavação, o tração do cartograma de terraplenagem e/ou o traçado de curvas de nível. Dai a opção de figuras geométricas, no nosso exemplo, quadrados. Os procedimentos de implantação da malha são de cariz elementar de Topografia, segundo os passos que se seguem: ✓ Passo 1, Estaciona-se a Estação Total em um dos vértices extremos do terreno, Estação 1 (Est.1) e visa- se o outro ponto extremo do terreno, no alinhamento fixando o Limbo em leitura zero grau, zero minuto e zero segundo. No mesmo alinhamento com recurso a Fita métrica cravam-se estacas em distâncias previstas no subprojecto de terraplenagem. No nosso exemplo, em cada 10 m. ✓ Passo 2, Ainda neste alinhamento liberta-se o Limbo, girando o aparelho em sentido horário, faz-se leituras de 90 graus. Aqui novamente, cravam-se estacas como no primeiro passo. ✓ Passo 3, e em diante, Move-se a Estação Total para Est.2, e repetem-se os procedimentos da estação anterior até obter a malha completa prevista no subprojecto. As estacas são designadas e numeradas, vejamos o exemplo de implantação da malha de terraplenagem, fig. 3. Prof. Muheca 5 Fig.3. Implantação da malha de terraplenagem. Uma vez, implantada a malha, veja o resultado, figi.4. Fig.4. Malha de terraplenagem implantada. 𝟗𝟎𝟎 𝟗𝟎𝟎 𝟗𝟎 𝟎 𝟗𝟎 𝟎 A1B1 C1 D1 A2 A3 B2 B3 C3 C2 D2 D3 A1 B1 C1 D1 E1 F1 A2 B2 C2 D2 E2 F2 A3 B3 C3 D3 E3 F3 A4 B4 C4 D4 E4 F4 Est1 Est2 Est3 Est4 Prof. Muheca 6 III. LEVANTAMENTO ALTIMÉTRICO Os procedimentos técnicos em altimetria são os mesmos aprendidos nas lições de Topografia I e II. No entanto, recordamos que o método mais usual, regra geral é o nivelamento geométrico. Em Moçambique a rede geodésica altimétrica é quase inexistente. Neste contexto, recomenda-se dentro ou fora da malha de terraplenagem, criar pontos de apoio. Como por exemplo, no nosso caso, os pontos de apoio PA1, PA2 e PA3. Veja fig.5. Fig.5. Nivelamento de apoio. Notar, que os pontos de apoio são colocados estrategicamente, de modo que no processo de nivelamento por irradiação em uma estação seja possível visar mais pontos (vértices) dos quadrados da malha, figura acima. Regra geral, a linha de nivelamento de apoio é da 4ª ordem, obedecendo todos os critérios técnicos de medições topográficas e da Teoria de Erros. Isto é, observar todas as instruções técnicas de nivelamento e do pré-processamento de dados de campo, e em especial o erro de tolerância na Estação. Uma vez, obtidas as cotas/altitudes dos pontos de apoio, procede-se o nivelamento por irradiação. A irradiação é um processo que consiste estacionando o aparelho em um ponto, visar vários pontos (vértices da malha) através de lances. Na Estação mede-se a altura (ainst.) do aparelho (Nível), e fazem-se leituras sucessivas do Fio Médio na Mira colocada na posição vertical em todos os vértices da malha. Chama-se a vossa atenção, que no processo de irradiação quando se transita de um ponto de apoio para outro é intrinsecamente fazer uma ligação reciproca entre eles em um dos vértices da malha. No nosso exemplo, a ligação foi feita no vértice D1. PA1 PA2 PA3 Linha de nivelamento Prof. Muheca 7 A ligação de visadas entre dois pontos de apoio é feita para garantir a uniformidade de originalidade das cotas/altitudes nos vértices da malha. É do seu conhecimento que em um levantamento topográfico de um terreno não pode ter duas origens diferentes de cotas/altitudes. No nosso exemplo, a irradiação inicia na Est.1 para Est.2. Veja fig.6. Fig.6. Nivelamento por irradiação. Os desníveis entre a Estação no ponto de apoio com os vértices visados calculam-se pela fórmula geral, ℎ𝑖 = 𝑙𝑓𝑚𝑖 − 𝑎𝑖𝑛𝑠𝑡. Onde lfmi – Leitura na Mira fio médio e ainst. – Altura do aparelho na Estado no ponto de apoio. As cotas/altitudes dos vértices calculam-se pela fórmula geral, 𝐻𝑖 = 𝐻𝑝𝑎 ∓ ℎ𝑖 Onde Hpa – Cota/Altitude do ponto de apoio. Após o cálculo de cotas/altitudes de todos os vértices da malha, procede-se o tratamento de dados com vista ao traçado do cartograma, traçado de curvas de nível e cálculo dos volumes de terraplenagem. Estas matérias veremos nas lições seguintes. Bons estudos.