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AULA 5 EMOÇÃO, APRENDIZADO E MEMÓRIA Prof. Reginaldo Daniel da Silveira 2 CONVERSA INICIAL A cognição e a emoção têm merecido interesse contínuo de neurocientistas e psicólogos. Falar em interações cognitivo-emocionais no campo na neurociência é falar de interações neurais entre a amígdala e as áreas do cérebro envolvidas na cognição. O que tem sido discutido nas publicações sobre o tema é a presença, nesses circuitos, do neocórtex e do hipocampo, pois a eles nos voltamos para a atenção e a memória, elementos envolvidos em qualquer estudo da área. Questionar-se sobre a influência da cognição no afeto, ou do afeto na cognição, é buscar respostas com base em um entendimento sobre a percepção e o julgamento, e sobre processos cognitivos presentes nas interações cognitivo- emocionais, como veremos na sequência. TEMA 1 – FUNDAMENTOS PARA A COMPREENSÃO DE PROCESSOS COGNITIVOS O estudo das interações cognitivo-emocionais indica que processos psicológicos não podem ser mapeados por regiões isoladas do cérebro. Imagine que você está em frente ao seu computador assistindo a um vídeo, e de repente ouve um grito e o som de uma porta batendo. Seu cérebro entra em atividade intensa; primeiramente, você se dá conta de que aquilo não está no vídeo. E então, você se lembra de que no apartamento ao lado há uma mulher que costuma bater forte no filho de nove anos. Você tira os fones, corre até a porta e cola o ouvido na parede. Sua atenção está focada naquilo que o seu cérebro priorizou. Um barulho no outro ponto faz você correr e olhar a janela. Talvez uma agressão esteja acontecendo no andar térreo. Você fica pensando se abre a porta para sondar o apartamento do lado, se desce de elevador até o térreo, ou se volta para ver o vídeo. Neste momento, você aciona todos os seus processos cognitivos, e por meio deles expressa suas emoções. Ao longo da história dos estudos sobre cognição, especialmente quando psicólogos e outros cientistas começaram suas pesquisas, não se dava atenção à emoção. Aspectos cognitivos relacionados a tomadas de decisão, atenção e memória, entre outros, eram tomados no sentido da informação puramente racional (Gazzaniga; Heatherton, 2005). Com a observação de que em respostas a situações consideradas essencialmente cognitivas se mostravam, 3 frequentemente, sinais afetivos, os estudiosos passaram a se dedicar à investigação do que estaria vinculando um caráter emocional às respostas. A emoção também envolve tomadas de decisão que são orientadas por marcações privadas em nossa memória. Ao serem acessadas, elas interferem na forma como pensamentos nos mobilizam a ter este ou aquele comportamento em resposta a diferentes eventos. Pode-se considerar, nesse processo, o conceito de pensamento automático desenvolvido pela Terapia Cognitivo-Comportamental nas tomadas de decisão: Um grande número dos pensamentos que temos a cada dia faz parte de um fluxo de processamento cognitivo que se encontro logo abaixo da superfície da mente totalmente consciente. Esses pensamentos automáticos normalmente são privativos ou não declarados e ocorrem de forma rápida à medida que avaliamos o significado de acontecimentos em nossas vidas. (Wright; Basco; Thase, 2008, p. 19) Pensamentos automáticos geram emoções de modo particular e subjetivo, e aí residem as nossas cognições. Weiten (2010) explica que, para estudar o componente cognitivo das emoções, os psicólogos investigam as informações que as pessoas relatam sobre suas sensações emotivas. Por esses relatos percebe- se, que a emoção é um sentimento interno, intenso, que “às vezes parece ter vida própria” (Weiten, 2010, p. 286). O autor explica que não podemos ligá-la e desligá- la quando quisermos, muito embora ao nosso ver possamos desenvolver mecanismos para lidar melhor com elas. Furnham (2011) vai além, ao tratar de como os psicólogos e outros profissionais próximos buscam localizar os pensamentos automáticos e compreender as emoções de uma determinada pessoa. Quatro métodos avaliativos ajudam a quantificar as emoções. Primeiro, as informações que a pessoa oferece acerca de si mesma; segundo, o que os outros dizem a respeito dela; terceiro, a observação do comportamento da pessoa quando realiza uma tarefa; quarto, um método fisiológico com exames, como por exemplo frequência cardíaca, sinais cerebrais, mostras de sangue e saliva. Sejam quais forem os dados sobre as emoções, as cognições devem sempre ser consideradas, pois podem estar vinculadas ao tipo de resposta emocional apresentado pela pessoa. Por esse prisma, somos levados a focar na informação geradora da emoção, o que nos faz considerar dois sistemas de processamento: o afetivo e o cognitivo. O primeiro não está presente no pensamento consciente; é reativo, uma vez que desencadeia vários eventos psicofisiológicos de modo automático, no momento em que a informação sensorial 4 é recebida (Komninos, 2017). O processamento cognitivo é consciente e envolve a análise das informações sensoriais que fazem o contrabalanço do sistema afetivo. Para Shackman, Fox e Seminowicz (2015, tradução nossa), “palavras, medo, recompensa, atenção e outros processos psicológicos não podem ser mapeados para regiões isoladas do cérebro, porque nenhuma região é única o suficiente e necessário para isso". TEMA 2 – PERCEPÇÃO E JULGAMENTO Integrada à atenção, a percepção mobiliza a memória e o raciocínio, além de produzir elementos para fazer o julgamento dos eventos que culminarão em respostas emocionais, ao considerarmos que a afetividade é uma disposição ou uma suscetibilidade, diante do que percebemos no mundo real ou simbólico, que nos alinha no plano de processos interativos. Isso acontece por meio de informações que percebemos e julgamos. Poderíamos dizer que uma sensação ou uma intuição está ligada à nossa percepção. Quando pensamos e sentimos, também julgamos. Percebemos quando interpretamos um estímulo em um determinado evento, com base em uma experiência. Dito dessa forma parece um processo simples, mas a percepção também envolve processos fisiológicos e psicológicos. O que percebemos tem a ver com o nível de precisão de nossos sentidos, a clareza das sensações, como sentimos, além das cognições que existem de forma privada em nossas mentes. A esta altura, é necessário diferenciar mais precisamente as ideias de sensação e sentir. Ao nosso ver, sensação é a apreensão do objeto/evento, através de audição, visão, tato, paladar e olfato. Sentir é perceber alguma coisa pelos sentidos, mas também pelos sentimentos. Experimentamos um cheiro, por exemplo, e temos uma impressão física e crítica sobre ele e sobre o evento que o propiciou. Pensamento, sentimento, intuição e sensação foram estudados por Carl Jung, que desenvolveu suas ideias a partir da percepção e do julgamento. Seu foco foi definir tipos de personalidade dentro da concepção de extroversão e introversão. De um modo geral, os processos cognitivos são estudados pela neurologia, filosofia e psicologia, e ganham impulso pelas técnicas de neuroimagem, que mostram como processamos as informações, e quais partes 5 do cérebro estão relacionadas a quais processos cognitivos. Com a revolução cognitiva nos anos 1960, e com os estudos dos processos mentais pela psicologia cognitiva, temos nos dias de hoje uma visão mais avançada dos processos cognitivos. Os elementos, pensamento, sentimento, a intuição e a sensação, fazem parte do perceber e do julgar. Julgar é tomar decisões e formar conclusões com base em informações disponíveis, que combinamos com a experiência. Neste processo, incluímos sentimento, intuição e sensação, que são inerentes ao processo de percepção. Pela percepção, um estímulo específico nos chega; pela atenção,ao julgá- lo, nós o interpretamos. Como é que mantemos percepções significativas num mundo de estímulos aparentemente caóticos? A contribuição da psicologia da Gestalt é que a mente humana forma um todo global com tendências auto- organizadas. O nosso cérebro percebe as coisas dentro de um espectro de agrupamento, não de separação, e assim nos ajuda a organizar o que pensamos, sentimos e intuímos, além das nossas sensações. Essa tendência nos garante rapidez e aplicabilidade, mas não garante precisão, o que pode nos levar a percepções e julgamentos equivocados. A todo instante, fazemos julgamentos; o modo como eles surgem está baseado principalmente em percepções sensoriais que, ao se juntar com marcações privadas de história de vida, produzem o julgamento perceptivo. Cognições e emoções em movimento nos fazem sentir felizes ou infelizes. Podemos nos perguntar se, no julgamento perceptivo, vêm primeiramente as reações fisiológicas ou as reações emocionais, mas trata-se de um longo caminho. Pelo senso comum, uma emoção como o medo viria antes de reações físicas, como suor, tremedeira e coração acelerado, e antes de certos comportamentos, como a fuga. Ao tratar sobre o tema, Weeks (2014) nos lembra que William James e Carl Lange argumentaram o contrário, ao defenderem que, diante de algo ameaçador, primeiro suamos e trememos, e isso é que nos causa medo. Lazarus, por sua vez, afirmou que uma avaliação (processo mental automático e inconsciente) precede a resposta emocional (citado por Weeks, 2014). Entende-se que a avaliação a que Lazarus se refere, que nos faz julgar e provocar uma emoção, é parte do viés cognitivo. Vieses cognitivos, segundo Furnham (2011), “são como filtros seletivos através dos quais vemos e interpretamos os acontecimentos”. Para alimentar os 6 filtros, usamos codificações sensoriais, isto é, recorremos aos sentidos. Diferentes aspectos do ambiente físico são codificados por diferentes impulsos neurais. Nossos receptores de informação são os neurônios que transmitem dados ao cérebro, na forma de impulsos neurais. Segundo Gazzaniga e Heatherton (2005), a maior parte do que obtemos como informação vai primeiro para o tálamo, para dali ser distribuída ao córtex, onde será interpretada como visão, cheiro, som, toque ou sabor. TEMA 3 – ATENÇÃO A atenção é um processo cognitivo caracterizado pela concentração seletiva em determinado aspecto subjetivo ou objetivo de uma informação, ignorando outras possíveis informações. A atenção está vinculada “à forma como um indivíduo de maneira ativa processa informações especificamente presentes em seu ambiente” (Kleinman, 2015, p. 79). Para Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 175), a atenção é “o estudo de como o cérebro seleciona quais estímulos sensoriais descartar e quais transmitir para níveis superiores de processamento”. Os estímulos presentes no nosso cotidiano acontecem ao mesmo tempo, mas o foco de nossa atenção vai para o que nos interessa. Também a usamos em proporções diferentes. Por exemplo, praticamente não a acionamos ao caminhar e mastigar, mas diante de uma reunião ou de uma palestra ela é prontamente mobilizada. A forma como trabalhamos nosso interesse requer diferentes tipos de atenção. Procedimentos atencionais, como na atenção seletiva, exigem habilidades complexas e sofisticadas, o que comprova a efetividade da participação do neocórtex para o processamento de sinais que ocorrem nas áreas corticais sensoriais. Isso ocorre de modo determinante em primatas e outros mamíferos, sendo diferente em não-mamíferos, como pássaros, répteis, anfíbios e peixes, que carecem completamente de neocórtex, mas ainda assim são capazes de apresentar atenção seletiva (Krauzlis et al., 2018). Pessoa (2009), ao se referir às estruturas cerebrais na atenção, apresenta três pontos: (1) é possível que projeções diretas da amígdala para regiões de processamento visual influam na atenção; (2) a amígdala interage com outras regiões para o controle da atenção, como as regiões frontal e parietal; (3) é possível que a amígdala recrute (indiretamente) circuitos de atenção de modo a melhorar o processamento sensorial de estímulos carregados de emoção. 7 A atenção concentrada refere-se à concentração do cérebro em apenas uma atividade, excluindo outros estímulos ao redor. Ao dirigir em lugar desconhecido, ou em alta velocidade, por exemplo, você precisa manter a atenção concentrada. A atenção alternada pode ocorrer quando você está dirigindo e o celular toca. Ao desviar a atenção para o aparelho – o que não é recomendável –, a pessoa alternou a sua concentração. Na atenção dividida, ainda podemos usar o exemplo da direção: você atende o celular e ainda anota alguma coisa em um papel, como um endereço dado pelo celular. Trata-se de prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo; é uma capacidade limitada que interfere na quantidade de informações processadas no cérebro. Pessoas que usam a atenção seletiva podem prestar atenção a coisas específicas, enquanto filtram outras. É o caso de não se distrair quando está voltado para uma outra coisa, não se incomodando por exemplo com barulhos e outros fatores que poderiam desviar a mente. TEMA 4 – MEMÓRIA A memória é a função cognitiva que nos permite codificar, armazenar e recuperar informações do passado. Trata-se de um processo que cria um senso de identidade. A memória, em psicologia cognitiva, corresponde ao que ocorre na aquisição, armazenamento, retenção e recuperação de informações (Kleinman, 2015). Neste processo, usa-se codificação, armazenamento e recuperação. Ele ocorre em fluxo: primeiro a codificação, depois o armazenamento e, quando surge um evento que provoca uma necessidade informativa, há a recuperação. Pessoa (2009) faz uma apreciação da memória ao discorrer que a amígdala está envolvida na aquisição, no armazenamento e na expressão de respostas condicionadas pelo medo. Há, também, além do armazenamento, uma aprendizagem; assim, um estímulo neutro (som) seria capaz de predizer um evento aversivo (um choque). Se avançamos para memórias que não são necessariamente ameaçadoras ou negativas, mas emocionais, e comparamos itens neutros com os de caráter emocional, os humanos lembram mais de informações emocionais. Há vários estudos sobre o tema em registros científicos. A ideia de que a amígdala direita está mais fortemente envolvida na formação da memória emocional, enquanto a amígdala esquerda está envolvida 8 na recuperação dessas memórias, aparece em artigo de Pessoa (2009) sobre os processos mentais na relação entre cognição e emoção Ao tratar de processos mentais, destacamos três estágios da memória. Temos a memória sensorial (primeiro estágio), que recebe a informação pelo órgão dos sentidos (escuta ou vê, por exemplo). Uma informação sensorial é armazenada na memória por um prazo curto. Kleinman (2015) informa que a informação auditiva é armazenada por três ou quatro segundos, enquanto a informação visual é guardada por meio segundo. A memória de curto prazo retém temporariamente as informações processadas – algo em torno de 20 ou 30 segundos. Se você tiver que dar os dez dígitos de um número que lhe passaram, provavelmente será capaz de se lembrar entre cinco e nove números. O que se sabe na literatura sobre o tema é que a memória de curto prazo é capaz de reter sete elementos, com uma variação de dois para mais ou para menos. Quando as pessoas falam em memória, geralmente se referem à memória de longo prazo, que diz respeito ao armazenamento contínuo de informações. Na visão de Sigmund Freud, a memória de longo prazo também poderia ser inconsciente e pré-consciente (Kleinman, 2015). TEMA 5 – INTERAÇÕES COGNITIVO-EMOCIONAIS A literatura vigente sobre interações cognitivo-emocionais confirma as discussões de conteúdos anteriores,quando falávamos de uma mudança no entendimento da emoção e da cognição como sistemas separados. Estudos da neurociência e da psicologia demonstram que as duas não apenas interagem, como possibilitam o funcionamento adaptativo a partir de uma operação integrativa. Alguns dados abordados até agora, no amplo tema que compreende os estudos sobre cognição e emoção, nos fazem pensar que processos como memória, atenção e linguagem podem envolver mais diretamente a espécie dos primatas. Estudos sobre a manutenção de informação na mente de macacos com ênfase em atividades no córtex pré-frontal dorsolateral nos informam que o objetivo de manter uma informação na mente pode ser controlado (Pessoa, 2009). É oportuno lembrar que uma série de experimentos realizados nos anos 1960, e chamados de “efeito de mera exposição”, teve influência sobre as discussões a respeito da proximidade entre emoção e cognição. O efeito de mera 9 exposição é a exposição repetida ao mesmo estímulo, que produz atitude positiva em relação a ele (Michener; Delamater; Myers, 2005, p. 625). É o caso de estudos sobre o fenômeno psicológico, segundo os quais as pessoas tendem a desenvolver preferência por coisas ou pessoas que são mais familiares. No cérebro, o processamento inconsciente provocado pela exposição repetida aumenta a familiaridade e gera, de modo subcortical, respostas automáticas afetivas, que se integram a respostas cognitivas mais lentas, produzidas pelo processamento consciente no modo cortical. No sentido de avançar com uma base anatômica para as interações cognitivo-emocionais, podemos imaginar a nossa estrutura cérebro-corpo como um pequeno mundo, onde existem vias de acesso, e onde minúsculas entidades, os neurônios, diminuem distâncias por meio de sinapses. As áreas corticais deste pequeno mundo se conectam diretamente, ou através de uma ou mais áreas intermediárias. Podemos imaginar como exemplo que as áreas pré-frontais estão mais afastadas da periferia sensorial, supondo que as informações que elas recebem já passaram por vários caminhos e que, ao chegar, já foram altamente processadas e integradas (Pessoa, 2009). O autor defende também que isso pode explicar a maior flexibilidade do cérebro primata, além de sugerir que informações altamente processadas seriam capazes de suportar igualmente um processamento mais abstrato, necessário para a cognição. É notável, nesta concepção, as características da amígdala, que está bem afastada da periferia sensorial, e que faz projeções muito difundidas. Ou seja, ao nosso ver, a informação que provoca uma determinada emoção ameaçadora, por exemplo, chega carregada à amígdala, exigindo defesa imediata. É possível, em nosso entendimento, que mesmo com a perspectiva de flexibilidade do neocórtex no pensamento lógico, em interações cognitivo-emocionais, os circuitos que dão acesso às vias fiquem limitados ao controle da amígdala. Não há um consenso definitivo sobre as interações cognitivo-emocionais, já que parte significativa do que se conhece está relacionada a lesões cerebrais, como o caso HM, já visto, em que o pesquisador pode tirar conclusões de áreas específicas do cérebro. Isso não parece ser suficiente para uma visão mais precisa, que fosse capaz de nos ajudar a entender comportamentos cerebrais complexos. Podemos descobrir uma determinada rota informacional produzida por sinapses que ligam esta ou aquela estrutura, mas não conseguimos avançar sobre o processamento mental quando isso ou aquilo é perdido. 10 As emoções nos enviam mensagens rápidas, potentes e de caráter físico, que nos permitem responder ao nosso entorno, além de facilitarem a comunicação voluntária ou involuntária (Furnham, 2011). Podemos pensar nela como puramente física, isto é, separada da cognição; porém, desse modo ela não explica o comportamento humano, que é diferente do “comportamento” das plantas, das minhocas, das rochas. É como se quiséssemos explicar alguma coisa apenas em um determinado ponto, sem explicar o todo para onde aquilo vai. As emoções são produto de sistemas complexos de processamento, que convertem informações sensoriais em mudanças psicofisiológicas e respostas emocionais. Komninos (2017), ao tratar do assunto, aponta que cognição e afeto nos ajudam a converter informações do ambiente em representações sobre o mundo, com juízos de valor que determinam como reagimos e nos comportamos. Os sistemas afetivo e cognitivo são pensados para trabalhar independentemente, mas eles influenciam um ao outro, com o primeiro funcionando inconscientemente, enquanto o segundo opera no nível consciente. Por exemplo, imagine que você está prestes a fazer um discurso na frente de uma sala cheia das pessoas, o sistema afetivo é imediatamente acionado, com produtos químicos liberados em seu corpo em resposta à situação automaticamente e sem a sua capacidade de controlar essa resposta fisiológica, mas você pode então tentar racionalizar a situação e focar em suas linhas, o que você quer dizer, os pontos que você quer passar e as técnicas que você pode ter coberto de antemão. (Komninos, 2017) Emoção e cognição não são diferentes em espécie, mas estão profundamente entrelaçadas no tecido do cérebro – a emoção com sentimentos de prazer ou dor e a cognição frequentemente parecendo desprovida de aspectos emocionais ou somáticos substanciais (Shackman; Fox; Seminowickz, 2015). Podemos pensar na cognição pelos seus processos, como memória, atenção e linguagem, mas ela precisa ser acionada por alguma espécie de força ou energia. Isso nos faz ver que há cognição separada de emoção. Porém, quando tratamos de interações cognitivo-emocionais, estamos falando do comportamento humano, e neste seguimento vale o olhar gestáltico de que o todo é mais do que a soma das partes. Conhecer as propriedades fisiológicas das reações sensoriais ou dos processos cognitivos não nos garante uma compreensão do comportamento humano. É como conhecer o conjunto de elementos do hidrogênio e do oxigênio – este saber não antecipa a totalidade de propriedades da água, seus fatores de fusão, ebulição, viscosidade, natureza física, coesão molecular, entre outros. A água é mais do que a soma de um 11 hidrogênio com dois oxigênios. Quando fazemos a união de um e outro, criamos uma nova entidade, com novas propriedades. Interações cognitivo-emocionais, que nos deixam alegres ou tristes, assustados ou raivosos, podem determinar e ser determinadas por reações fisiológicas, até onde sabemos. É notório que o conhecimento que temos é relevante e significativo, mas ainda temos muito que avançar para ter maior controle consciente do que acontece na interação entre nossas emoções e cognições. 12 REFERÊNCIAS FURNHAM, A. 50 cosas que hay qye saber sobre psicologia. Buenos Aires: Ariel, 2011. GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. KLEINMAN, P. Tudo que você precisa saber sobre psicologia: um livro prático sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Editora Gente, 2015. KOMNINOS, A. How Emotions Impact Cognition. Interaction, 2017. Disponível em: <https://www.interaction-design.org/literature/article/how-emotions-impact- cognition>. Acesso em: 19 ago. 2019. KRAUZILIS, R. et al. Selective attention without a neocortex. Cortex, 2017, Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28958417>. Acesso em: 19 ago. 2019. MICHENER, A.; DELAMATER, J. D.; MYERS, D. J. Psicologia social. São Paulo: Pioneira Tomson Learning, 2005. PESSOA, L. Cognição e emoção. Scholarpedia, v. 4, n. 1, 2009. Disponível em: <https://translate.google.com/translate?hl=pt- BR&sl=en&u=http://www.scholarpedia.org/article/Cognition_and_emotion&prev= search>. Acesso em: 19 ago. 2019. SHACKMAN, A. J.; FOX, A. S.; SEMINOWICKZ, D. A. The cognitive-emotionalbrain: Opportunities and challenges for understanding neuropsychiatric disorders. Behavioral and Brain Sciences, n. 38, 2015. Disponível em: <http://brainimaging.waisman.wisc.edu/~fox/publications/ShackmanEtAl_comme ntary_on_Pessoa.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2019. WEEKS, M. Se liga na psicologia. São Paulo: Globo, 2014. WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage Learning, 2010. WRIGHT, J. H; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo- comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.