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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA AULA 3 Prof. Almir Cléydison Joaquim da Silva 2 CONVERSA INICIAL Estudo da localização e da escala de produção Após estudar os aspectos do mercado em que se pretende investir, iremos discutir a localização e o tamanho ou escala de produção de um empreendimento. São dois estudos importantes e com implicações para os resultados esperados de um negócio. Mas, você sabe o porquê de se estudar as alternativas de localização e determinar a melhor escala de produção? Ou, ainda, quais os efeitos da escolha locacional e da capacidade de produção sobre os custos de um empreendimento? Nesta aula, discutiremos essas e outras questões distribuídas nos seguintes tópicos de aprendizagem: a. localização ótima: macro e microlocalização; b. fatores locacionais e o método dos orçamentos comparados; c. escala de produção e tamanho ótimo; d. indicadores e medidas de tamanho; e. custos de produção e economias de escala. CONTEXTUALIZANDO A escolha da localização e a definição da escala de produção de um projeto (que pode ser a instalação de uma empresa, a execução de uma obra específica ou ainda um investimento em nível mais empreendedor) possuem implicações diretas no desempenho, nos resultados esperados e na capacidade competitiva do negócio, ao longo do tempo. Na decisão de instalação de um empreendimento próximo do seu mercado consumidor ou dos seus fornecedores de matérias-primas, por exemplo, estão presentes alguns custos que podem ser maximizados ou minimizados, a depender das escolhas (Woiler, 1996). Nesse sentido, é importante, para um empreendimento, buscar a sua localização e definir o tamanho de sua produção de modo que lhe possibilite o melhor benefício. Mas, você sabe por que a escolha de localização e da escala de produção impacta o desempenho financeiro e competitivo de um empreendimento? Nesta aula, nos aprofundaremos nesses aspectos. 3 TEMA 1 – LOCALIZAÇÃO ÓTIMA: MACRO E MICROLOCALIZAÇÃO Créditos: Elenabsl/Shutterstock. Os estudos de localização objetivam determinar a localização ótima de um empreendimento com base na identificação da macrorregião e na investigação de aspectos microrregionais. Ou seja, eles procuram descobrir o melhor local para o empreendimento, analisando-se fatores locacionais tanto da região quanto da cidade ou bairro específico, considerando-se os objetivos do negócio (Correia Neto, 2009). Isso porque a decisão sobre onde instalar uma empresa ou executar uma obra específica, assim como qualquer decisão de investimento em um nível mais empreendedor, impacta os resultados financeiros esperados e o desempenho competitivo do negócio ao longo do tempo (Woiler, 1996). Uma empresa instalada em um determinado espaço geográfico, por exemplo, demanda uma quantidade específica de matérias-primas e insumos necessários, em seu processo produtivo, para a produção de outros bens que serão direcionadas para o seu mercado consumidor. Nessa dinâmica, o fluxo de insumos até a empresa e o fluxo de produtos acabados até o cliente final incidem, por exemplo, em custos de transporte que podem ser visualizados na Figura 1. Estes, a depender da distância entre origem e destino, do volume e do tipo de insumos e produtos, podem elevar os custos de transporte, os custos de processamento e, consequentemente, reduzir as receitas de uma organização. E, para o mercado-alvo, isso pode elevar o valor do frete dos produtos acabados (Buarque, 1984). 4 Figura 1 – Fluxo físico de matérias-primas, produtos acabados e identificação dos desembolsos envolvidos em um processo produtivo Fonte: Correia Neto, 2009, p. 79. Outras variáveis locacionais também podem influenciar o desempenho financeiro e competitivo de um empreendimento. Em termos de macrolocalização, tem-se exemplos como: a. distância dos fornecedores de matérias-primas e insumos; b. disponibilidade de mão de obra; c. condições de vida, legislação e regulamentos, incentivos fiscais e impostos (ou sua isenção); d. disponibilidade de serviços básicos; e. distância e dimensão do mercado (Buarque, 1984). E, em termos de microlocalização: a. terrenos disponíveis; b. clima e fatores topográficos; c. facilidades de transporte; d. facilidades de distribuição; e. estrutura tributária (Buarque, 1984). Nesses termos, a localização ótima corresponde àquela que conduz para o melhor benefício ao empreendimento ou ainda a que “[...] vai assegurar ao projeto a maior rentabilidade e, consequentemente, a redução do custo de transferência” (Fonseca, 2012, p. 62). Em termos de um empreendimento público, a localização ótima refere-se à escolha que se direciona para o menor custo do produto. Para um empreendimento privado, refere-se à localização que possibilite maximizar a diferença entre receitas e custos (Correia Neto, 2009). Ou seja, “procura-se a localização que dê o maior lucro possível para a empresa, 5 num prazo de tempo compatível com a vida útil do empreendimento no local” (Woiler, 1996, p. 125). O problema locacional pode assumir uma abordagem complexa, em razão do volume de investimento e da quantidade de fatores envolvidos na determinação da localização de um negócio. Além disso, também pode assumir um caráter de natureza dinâmica, tendo em vista que, ao longo do tempo, pode ser conveniente ou estratégico expandir, implantar outro empreendimento ou relocalizar o atual (Woiler, 1996). Cabe ainda destacar que, em razão das características dos processos produtivos ou administrativos, alguns empreendimentos podem demandar uma dispersão locacional. Entretanto, a determinação da localização que maximize os benefícios líquidos do projeto, a localização ótima, se dá mediante análise das variáveis e fatores locacionais (Buarque, 1984; Woiler, 1996). Na seção seguinte, nos aprofundaremos nesses elementos que orientam a decisão de localização ótima. TEMA 2 – FATORES LOCACIONAIS E O MÉTODO DOS ORÇAMENTOS COMPARADOS Crédito: Song_about_summer/Shutterstock. A escolha da melhor localização parte da identificação e análise dos principais elementos ou fatores locacionais. Mas, você sabe o que são fatores 6 locacionais? Fatores ou forças locacionais correspondem às “[...] variáveis que determinam ou orientam a distribuição geográfica das atividades econômicas e suas características de concentração e dispersão, em relação à base física da economia de um país ou região” (Fonseca, 2012, p. 62). Os fatores locacionais podem ser analisados com base nos custos e na dependência, associada às etapas de produção, de: a. entradas; b. processos; c. saídas. Ou seja, a influência dos custos vinculados a cada etapa de produção indica as possibilidades de localização de um empreendimento, com orientações de instalação próximas a fornecedores, aos processos de transformação ou ao mercado consumidor (Woiler, 1996). O Quadro 1 apresenta uma síntese da orientação locacional conforme as etapas de uma produção. Quadro 1 – Fatores locacionais associados às etapas de produção, em que 𝐶!! = 𝐶!"# + 𝐶!#$ (custo de transporte total = custo de transporte de matérias- primas + custo de transporte de produtos acabados); 𝐶#% é o custo de produção; 𝐶!"# é o custo de transporte de matérias-primas); e 𝐶!#$ é o custo de transporte de produtos acabados Etapas de produção Aspectos da orientação locacional Custos associados Entradas - Processo de produção demanda elevado volume e peso de matérias-primas. - Localização orientada para a fonte da matéria-prima. - Exemplo: indústria produtora de cimento ou de celulose. 𝐶!"# > 𝐶!#$ Processos - Importância dos custos de produção e custos de transformação associados à própria localização. - Localização dependente de: mão de obra abundante e/ou especializada; grande quantidade de energiaou água; disponibilidade de vias de transporte (rodoviário, ferroviário, hidroviário ou aéreo); condições atmosféricas (umidade, temperatura) ou ambientais (do ar, da água, sonora, entre outras). 𝐶#% > 𝐶!! Saídas - Importância do mercado consumidor, dadas as características do produto. - Localização orientada ao mercado consumidor. - Exemplo: panificadora, supermercado. 𝐶!#$ > 𝐶!"# Fonte: Elaborado com base em Woiler, 1996; Correia Neto, 2009. Pela análise da orientação locacional com base nas etapas de produção, verifica-se que os custos do processo produtivo e os custos de transporte de matérias-primas e de produtos acabados são variáveis importantes a serem 7 consideradas. As análises devem buscar a localização que minimize os maiores custos associados. Contudo, podem existir situações de trade-off, ou seja, de conflito entre as escolhas, condição em que um determinado custo pode ser minimizado e, por consequência, isso acarretar a elevação de outros. Os benefícios e custos precisam, portanto, ser balanceados (Correia Neto, 2009). Feitas essas considerações a respeito da orientação locacional, utilizaremos o método de orçamentos comparados para encontrar a localização ótima. Essa técnica, que considera aspectos da macro e das microlocalizações, objetiva encontrar o menor custo de transferência (soma de todos os custos de transporte vinculados à produção, tanto de matérias-primas quanto de produtos acabados) atrelado à maior rentabilidade. Além disso, também se podem considerar elementos mais intangíveis, como preferências e satisfação pessoal dos investidores e/ou demais profissionais envolvidos (Woiler, 1996; Fonseca, 2012). De acordo com Woiler (1996), o método dos orçamentos comparados dá- se com a aplicação de cinco fases, a saber: 1. seleção dos fatores locacionais mais relevantes: refere-se aos macro e microfatores, discutidos na seção anterior; 2. escolha de zonas: aplicação dos fatores relevantes às regiões compatíveis ou desejáveis, em que a seleção pode ocorrer por peneiramento de regiões que apresentem requisitos necessários ou por semelhança com empreendimentos já instalados; 3. pesquisa local nas zonas pré-qualificadas: mapeamento e pesquisa de aspectos geográficos e de infraestrutura local, acesso a mercados, custo e disponibilidade de mão de obra especializada e não especializada, existência e proximidade de fornecedores de matérias-primas, entre outros; 4. atribuição de pesos aos fatores locacionais escolhidos: os pesos podem ser determinados segundo a participação percentual de cada fator nos custos de produção e/ou distribuição; a sua participação nos custos de construção e/ou investimento; ou com base em outros critérios e ponderações mais adequadas para cada tipo de projeto; 5. comparação final: determinação das macro e das microlocalizações mediante análise das notas globais dos fatores para cada alternativa de localização. 8 Para ilustrar os elementos estudados sobre a localização, consideremos o exemplo da implantação de uma distribuidora de bebidas. A Tabela 1 apresenta a atribuição de pesos para alguns fatores selecionados, referentes a três alternativas de localização. Ao observar os custos associados às etapas de produção, verifica-se a existência de fatores que tornam a localização dependente das saídas. Como os principais consumidores da distribuidora são bares e restaurantes, o fator locacional com maior peso no estudo é o acesso a mercados, tendo em vista que a empresa terá de organizar uma estrutura e uma rota de distribuição que minimizem custos de transporte interno, com manutenção de uma frota de veículos e uso de mão de obra local. As notas globais ponderadas para cada alternativa de localização são dadas pela seguinte fórmula: nota global = (peso fator 1 x nota do local) + (peso fator 2 x nota do local) + (peso fator 3 x nota do local) + (peso fator 4 x nota do local). Para exemplificar sua aplicação, vamos calcular a nota ponderada para o Local A, com base nos pesos atribuídos aos fatores locacionais selecionados e nas notas atribuídas ao respectivo local, conforme dados da Tabela 1: nota global do Local A = (5,5 x 9) + (2,5 x 8) + (1 x 7) + (1 x 8) = 49,5 + 20 + 7 + 8 = 84,5. Repetindo-se o cálculo das notas globais para as demais localidades, é possível perceber que a localidade A apresenta maior nota ponderada entre as alternativas de localização, o que justifica sua escolha, entre as demais. Tabela 1 – Alternativas de localização comparadas por atribuição de pesos aos fatores locacionais escolhidos Fator locacional Peso Notas Notas ponderadas Local A Local B Local C Local A Local B Local C Acesso a mercados 5,5 9 7 6 49,5 38,5 33 Custo e disponibilidade de mão de obra 2,5 8 9 8 20 22,5 20 Custo do terreno 1 7 8 9 7 8 9 Infraestrutura local 1 8 7 8 8 7 8 Notas globais 10 84,5 76 70 É importante considerar que existem outros métodos para determinação da macro e da microlocalizações, a exemplo do cálculo comparativo do custo de produção e/ou de distribuição para as alternativas de localização; do cálculo comparativo do custo de construção e/ou de instalação da empresa; do cálculo dos custos de transporte das matérias-primas e insumos e/ou dos produtos acabados (Woiler, 1996). Esses seguem, basicamente, o modelo da Tabela 1, 9 diferenciando-se pelo fato de que a comparação dos custos (produção, distribuição, construção, entre outros) ocorre pela listagem de cada custo e de suas quantidades entre as alternativas de localização. TEMA 3 – ESCALA DE PRODUÇÃO E TAMANHO ÓTIMO Crédito: Artem Pachkovskyi/Shutterstock. Definir o tamanho de um empreendimento corresponde a analisar a escala ou a capacidade física de produção prevista para instalação (Correia Neto, 2009). Mas, você sabe o porquê de se verificar a escala de produção de um empreendimento? Umas das principais razões disso é o fato de que a decisão sobre o tamanho de um projeto influencia na capacidade de competição futura do empreendimento. Ou seja, a decisão da escala de produção pode ser (ou não) potencialmente lucrativa para uma empresa. Ela é lucrativa quando ocorrem situações de crescimento da demanda por produtos e quando os fatores 10 produtivos são organizados de modo que uma expansão da capacidade de produção não implica a elevação, proporcional, dos custos médios do produto. Contudo, um crescimento mais modesto da demanda, bem como a entrada e a ampliação da participação da concorrência, atreladas à incapacidade de maximizar a utilização dos fatores de produção, podem implicar a redução de lucros e resultar na elevação de custos de uma possível ampliação do empreendimento e/ou estratégia competitiva (Woiler, 1996). Nesses termos, é importante a determinação de um melhor tamanho possível para um empreendimento, tendo em vista o elemento temporal presente nessa decisão. Isso fica claro ao se observar a definição de tamanho ótimo, que associa a escolha da escala de produção ao desempenho e elevação da rentabilidade do negócio ao longo do tempo. Woiler (1996, p. 141) considera ainda que o “tamanho ótimo pode ser entendido também como sendo a escala de produção que conduz à maior razão benefícios/custos para o empresário e/ou sociedade”. É importante destacar que, a depender da origem do projeto (se público, se privado), a perspectiva de entendimento do tamanho ótimo pode variar. O Gráfico 1 ilustra a diferença de resultados da escala de produção de projetos de origem privada e pública. Nos projetos de origem privada, o tamanho ótimo será o que apresente melhor lucratividade (ponto L do Gráfico 1, à esquerda), ao passo que nos projetos de origem pública será o serviço prestado de menor custo unitário possível (ponto C do Gráfico 1, à direita) (Correia Neto, 2009). Gráfico 1 – Tamanho ótimo: função de resultado da escala de produçãode projetos de origem privada e pública, em que L equivale ao lucro e C ao custo unitário Fonte: Adaptado de Correia Neto, 2009, p. 55. 11 Para a definição da capacidade física de produção, os estudos de tamanho também examinam um pouco mais os produtos e os custos associados a eles, que terão comportamentos diferentes a depender da escala de produção. Além disso, a decisão da escala do processo produtivo possui interdependência direta com outros elementos e estudos do projeto, como o mercado, a localização e os aspectos de engenharia. Embora o nível de importância de cada estudo varie de acordo com os objetivos de cada projeto, é importante considerar as restrições e resultados presentes em cada parte do estudo, pois eles interferem no espaço de decisão de outras partes acerca da viabilidade de um empreendimento (Cosenza, 2008). TEMA 4 – INDICADORES E MEDIDAS DE TAMANHO Crédito: Tashatuvango/Shutterstock. Para a identificação da escala de produção de um empreendimento, algumas medidas podem ser utilizadas, como: volume de produção por período definido, volume de investimento requerido, valor do faturamento, número de empregados, número de clientes, tamanho físico, utilização de insumos por período definido, entre outras. Esses indicadores de tamanho referem-se aos períodos de funcionamento e ao regime de produção do empreendimento, em que a utilização e a adequação das variáveis dependerão dos objetivos de cada 12 projeto. Em um projeto de elevada intensidade tecnológica, por exemplo, a utilização do indicador de número de empregados, muito provavelmente, não será o critério mais apropriado para definir o tamanho do projeto, tendo em vista o baixo emprego de mão de obra (Cosenza, 2008; Correia Neto, 2009). De forma geral, a capacidade de produção pode ser observada sob duas óticas: a técnica e a econômica. Mas, você sabe quais aspectos marcam cada um desses parâmetros? Pelo ponto de vista técnico, considera-se o tamanho com base na máxima produção que pode ser alcançada com os fatores fixos e variáveis no processo produtivo, em um determinado espaço de tempo. Além de apresentar como limitação a tecnologia empregada, o parâmetro técnico se distingue quanto à capacidade nominal (𝐶&) e à capacidade efetiva (𝐶') (Woiler, 1996). A capacidade nominal (𝐶&) ocorre quando, “[...] idealmente, em uma situação de condições perfeitas, sem quaisquer ineficiências no processo produtivo, conduziria à produção máxima estipulada tecnicamente” (Correia Neto, 2009, p. 54). Ou seja, corresponderia às informações e indicações técnicas de uma máquina ou equipamento, referentes à sua capacidade nominal de produção de determinado produto por hora, dia ou mês. Contudo, existem interferências no processo produtivo que implicam perdas de eficiência e o não alcance absoluto da capacidade de produção. As interrupções ocorrem em razão de baixa produtividade da mão de obra, paradas obrigatórias do processo produtivo para reparos e manutenção de máquinas ou por fatores externos ao empreendimento, problemas no fornecimento de matérias-primas, entre outros. Nesses termos, tem-se que, de forma geral, a capacidade efetiva do processo produtivo é inferior à indicação da capacidade nominal (Woiler, 1996; Correia Neto, 2009). Em decorrência desses fatores que impedem a máxima produção técnica, a capacidade produtiva pode ser estimada pelo nível de utilização (𝑁() que ela atinge, sendo dada pela razão entre a capacidade efetiva (𝐶') e a capacidade nominal (𝐶&) (Woiler, 1996), conforme a equação: 𝑁( = )& )' . Esse indicador do nível de utilização demonstra tanto a existência de alguma ineficiência no processo produtivo quanto a determinação do potencial de oferta (Woiler, 1996; Correia Neto, 2009). 13 Voltando ao exemplo da implantação de uma distribuidora de bebidas (visto na seção sobre fatores locacionais), consideremos que, após as especificações técnicas dos equipamentos (como freezers verticais e horizontais e outros compartimentos de bebidas), se verificou que a capacidade nominal de estoque dos diferentes tipos de bebidas é de 13,35 mil litros. Contudo, por questões de eficiência de refrigeração e para evitar desgastes dos equipamentos com excesso de peso, a capacidade efetiva se reduz para 11,748 mil litros. Calculando a razão entre as capacidades efetiva e nominal, obtém-se o nível de utilização (𝑁() de 0,88, conforme exemplificado a seguir: 𝑁( = )& )' = **.,-. */./01 = 𝟎, 𝟖𝟖. Diferentemente do ponto de vista técnico, que considera a máxima produção como elemento que define o tamanho, a capacidade de produção, do ponto de vista econômico, corresponde àquela que conduz ao melhor resultado possível para o empreendimento. Além de aspectos técnicos, o parâmetro econômico considera as implicações financeiras das várias possibilidades de escala existentes (Correia Neto, 2009). Nesse sentido, na capacidade de produção, do ponto de vista econômico, “o tamanho do processo é o nível de produção, que corresponde ao custo unitário médio de produção que seja mínimo” (Woiler, 1996, p. 134, grifos do original). Cabe destacar que o custo de produção, na perspectiva econômica, difere do custo contábil por considerar o custo de oportunidade, ou seja, o custo de uma decisão em detrimento dos benefícios renunciados de outra (Vasconcellos, 2006). Algumas situações indicam que a busca pela máxima utilização da capacidade nominal nem sempre conduz para o melhor resultado, do ponto de vista econômico, a exemplo de quando: a. o aumento da produção incide na elevação mais intensa de custos de fatores variáveis, depois de determinado nível; b. a utilização de equipamentos no seu limite da capacidade gere maior desgaste e interrupções frequentes para sua manutenção; c. a opção por uma maior escala implique custos adicionais e muito elevados de administração da produção (Correia Neto, 2009). 14 TEMA 5 – CUSTOS DE PRODUÇÃO E ECONOMIAS DE ESCALA Crédito: Docstockmedia/Shutterstock. Para verificar o impacto de diferentes escalas de produção nos resultados de um empreendimento e, consequentemente, identificar a escala ótima que lhe possibilite obter os melhores benefícios, é importante introduzir aspectos dos custos associados ao processo produtivo (Correia Neto, 2009). Mas, você sabe o que são e como se classificam esses custos? Os custos correspondem aos desembolsos, no processo produtivo, necessários para transformação de fatores de produção em produtos ou serviços finais. Os custos variam conforme a utilização de fatores fixos e variáveis no processo produtivo e determinarão a curva de oferta de um empreendimento. Nesse sentido, os custos também são classificados em fixos, variáveis ou totais (Vasconcellos, 2006). Os custos fixos (CF) correspondem aos gastos com fatores fixos de produção que não variam proporcionalmente em função de variações do nível de produção. Contudo, após certo nível de produção os custos fixos podem ser elevados, quando a eles se adiciona algum fator produtivo que eleve a escala e que demande a incorporação de novas instalações, máquinas e mão de obra adicional. Como exemplo, tem-se os aluguéis de instalações, a manutenção de máquinas e equipamentos, o pagamento de salários fixos da mão de obra, entre outros. Os custos variáveis (CV) são gastos que variam proporcionalmente ao volume ou nível de produção. Ou seja, a elevação da capacidade de produção 15 ou a adição de uma unidade produzida eleva proporcionalmente os custos variáveis. Exemplos de custos variáveis são: matérias-primas, insumos e outros fatores necessários ao processo produtivo, já os custos totais (CT) são dados pela soma dos custos fixos e variáveis. Ou seja, a determinação dos custos produtivos é dada por CT = CF + CV. Logo, os custos totais só variam em razão de mudançasnos custos variáveis (Woiler, 1996; Vasconcellos, 2006). Cabe destacar que alguns custos podem incorporar aspectos fixos e variáveis. Eles podem ser chamados de semivariáveis ou semifixos, como é o caso da energia elétrica utilizada no processo produtivo, que “[...] pode ser composta por um gasto fixo (consumo mínimo) mais um excedente variando em relação à produção” (Correia Neto, 2009, p. 58). Na análise de custos, também é possível determinar o custo médio (CMe) e o custo marginal (CMg). O custo médio corresponde à divisão dos custos pelo volume ou quantidade produzida, podendo-se estabelecer os custos fixos médios (CFMe), custos variáveis médios (CVMe) e os custos totais médios (CTMe). Na representação gráfica, o CFMe tende a zero à medida que a quantidade produzida aumente, já o CVMe vai em direção ao CTMe em decorrência da função: CTMe = CVMe + CFMe. Por outro lado, o custo marginal (CMg) indica o custo para produção de uma unidade adicional de determinado produto. É dado, portanto, pela variação do custo total decorrente de uma variação na quantidade produzida ou: CMg = D23 D4 = 23(523) 23(523) . No curto prazo, os custos marginais são influenciados apenas pelos custos variáveis. Cabe ainda destacar que, no longo prazo, todos os custos são variáveis, pois compreendem um horizonte de planejamento e não de realização efetiva (Vasconcellos, 2006). Pelo Gráfico 2, podemos observar o comportamento dos respectivos custos de produção, que ficarão mais claros no exemplo mais à frente. Gráfico 2 – Custos totais, custos médios e custos marginais Fonte: Adaptado de Vasconcellos, 2006, p. 125-127. 16 Feitas essas considerações a respeito dos tipos de custos produtivos, é importante também analisar a noção de economias e deseconomias de escala para verificar até que ponto é benéfico aumentar a escala de produção. Economia de escala está vinculada a melhor organização e utilização dos fatores fixos e variáveis no processo produtivo, visando a uma “[...] maior racionalização dos custos produtivos, dado um aumento na quantidade produzida” (Correia Neto, 2009, p. 61). Ela ocorre pela diluição dos CFMe com a elevação da escala de produção até certo ponto. Quando os CTMe se elevam, com o aumento da quantidade produzida, ocorrem situações de ineficiência dos fatores de produção que levam a deseconomias de escala (Vasconcellos, 2006). Para ilustrar a discussão e a aplicação dos custos produtivos, consideremos as várias escalas de produção mensal de um determinado produto, com custos fixos e variáveis conforme definidos na Tabela 2. Com base neles, podemos calcular os custos totais, médios e marginais de produção e verificar os efeitos das economias de escala e de que ponto em diante se observa deseconomia de escala. Tabela 2 – Escalas de produção mensal e custos produtivos, em que as unidades produzidas são informadas em termos de quantidade e os demais custos, em reais Unidades produzidas (a) CF (b) CV (c) CT (d) = (b+c) CFMe (e) = (b/a) CVMe (f) = (c/a) CTMe (g) = (d/a) CMg (h) = (Dd/Da) 1.000 100.000 60.000 160.000 100 60 160 - 2.000 100.000 120.000 220.000 50 60 110 60 3.000 100.000 165.000 265.000 33 55 88 45 4.000 100.000 220.000 320.000 25 55 80 55 5.000 100.000 250.000 350.000 20 50 70 30 6.000 100.000 300.000 400.000 17 50 67 50 7.000 100.000 350.000 450.000 14 50 64 50 8.000 100.000 424.000 524.000 13 53 66 74 9.000 100.000 495.000 595.000 11 55 66 71 10.000 100.000 580.000 680.000 10 58 68 85 Fonte: Adaptado de Correia Neto, 2009, p. 63. Como visto, os custos variável e total aumentam conforme se eleva a escala de produção. Com base na Tabela 2, é importante observar o comportamento dos custos médios, que representam a diluição dos custos em termos da elevação da escala de produção. É vantajoso elevar a produção até a escala de produção de 7 mil unidades, pois o custo total médio é decrescente. Desse ponto em diante, o acréscimo de unidades produzidas implica 17 deseconomias de escala. O tamanho ótimo, portanto, refere-se à escala de produção que leva ao menor custo total médio. No exemplo da Tabela 2, o CTMe é de R$ 64 (Correia Neto, 2009). TROCANDO IDEIAS Em um fórum de discussão, apresente argumentos a respeito das medidas de capacidade, do ponto de vista econômico, para definir o tamanho ótimo de um empreendimento, destacando o custo de oportunidade. NA PRÁTICA Considere que, para produção de um único produto, um empreendimento tenha custos fixos de R$ 20 mil e custos variáveis mensais entre R$ 9 mil a R$ 26,4 mil, a depender da escala de produção e da combinação de fatores produtivos da Tabela 3. Calcule os custos totais, médios e marginais referentes a cada nível de produção, indicando os efeitos de economias de escala e qual seria o tamanho ótimo do empreendimento. Tabela 3 – Cálculo dos custos totais, médios e marginais por escala de produção de um empreendimento Unidades produzidas CF CV CT CFMe CVMe CTMe CMg 700 R$ 20.000 R$ 9.000 800 R$ 20.000 R$ 11.000 900 R$ 20.000 R$ 13.500 1.000 R$ 20.000 R$ 17.600 1.100 R$ 20.000 R$ 21.900 1.200 R$ 20.000 R$ 26.400 Orientação para resolução: a. monte um quadro com todas as escalas de produção mensal e os custos produtivos (CF, CV, CT, CFMe, CVMe, CTMe e CMg); b. com base nos dados disponíveis, calcule cada um dos tipos de custo; c. analise o efeito de cada tipo de custo à medida que se eleve a escala de produção; d. recorrendo aos aspectos conceituais de economias e deseconomias de escala, indique qual seria o tamanho ótimo do empreendimento. 18 FINALIZANDO Nesta aula, discutimos aspectos relacionados aos estudos de localização e de escala de produção. De forma geral, buscamos analisar os fatores locacionais e os custos de produção, bem como as combinações de fatores fixos e variáveis que possibilitam o melhor benefício para um empreendimento. Ao final, deve-se ter uma percepção da localização ótima e do tamanho ótimo de um negócio. 19 REFERÊNCIAS BUARQUE, C. Avaliação econômica de projetos: uma apresentação didática. 26. reimpr. Rio de Janeiro: Elsevier, 1984. CORREIA NETO, J. F. Elaboração e avaliação de projetos de investimento: considerando o risco. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. COSENZA, C. A. N. Tamanho do projeto e economias de escala. In: CLEMENTE, A. (Org.). Projetos empresariais e públicos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. FONSECA, J. W. F. Elaboração e análise de projetos: a viabilidade econômico-financeira. São Paulo: Atlas, 2012. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. WOILER, S. Projetos: planejamento, elaboração, análise. São Paulo: Atlas, 1996.