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Blackstone e Carlyle. Durante um tempo, pareceu que esses fundos soberanos pudessem orquestrar uma aquisição global das finanças ocidentais; o papel reverso definitivo na história financeira. Para os proponentes do que George Soros depreciou como “fundamentalismo de mercado”, aqui está uma dolorosa anomalia: entre os maiores vencedores da última crise estavam as entidades de propriedade estatal.********** E ainda existem razões para explicar por que essa aparentemente elegante, e requintadamente chimericana, solução da crise americana não aconteceu. Parte da razão é simplesmente que as primeiras incursões chinesas nas ações financeiras americanas produziram menos do que resultados estelares.********** Existem medos justificáveis em Beijing de que o pior ainda está por vir para os bancos ocidentais, sobretudo dado o impacto não conhecível de uma recessão americana sobre os swaps de não pagamento dos créditos pendentes, com um valor nocional de US$ 62 trilhões. Mas também existe uma tensão política, agora detectável, no próprio coração de Chimérica. Já por algum tempo, tem aumentado a preocupação no Congresso americano com o que é visto como uma competição injusta e uma manipulação da moeda pela China, e quanto mais a recessão chegar aos Estados Unidos, provavelmente as reclamações vão aumentar de tom e crescer. Mas o afrouxamento monetário nos Estados Unidos desde agosto de 2007 – os cortes exorbitantes nos fundos federais e nas taxas de desconto, os vários leilões e “oportunidades” de empréstimos que dirigiram US$ 150 bilhões para o sistema bancário, a concessão de crédito para a aquisição do Bear Stearns pelo JP Morgan – equivaleu a uma versão americana de manipulação da moeda.112 Desde o começo da crise americana, o dólar depreciou-se aproximadamente 25% em relação às moedas dos seus maiores parceiros comerciais, incluindo 9% contra a moeda chinesa, o renminbi/yuan. Como isso coincidiu com as pressões simultâneas de oferta e procura, em quase todos os mercados, por commodities, o resultado tem sido uma alta nos preços da comida, do petróleo e das matérias-primas. O aumento dos preços das commodities, por sua vez, está intensificando as pressões inflacionárias na China, que necessita impor controles nos preços e nas proibições de exportações, além de encorajar uma extraordinária escalada pelos recursos naturais da África e de onde mais puder que, aos olhos ocidentais, tem um exasperante e perturbador colorido imperial.113 Talvez, como seu nome sempre procurou sugerir, a Chimérica não é nada mais do que uma quimera – a besta mitológica de uma lenda antiga que era parte leão, parte cabra e parte dragão. Talvez, se refletirmos, estivemos aqui anteriormente. Cem anos atrás, na primeira era da globalização, muitos investidores acharam que havia uma relação similarmente simbiótica entre o centro financeiro do mundo, a Grã-Bretanha, e a economia industrial mais dinâmica da Europa continental. Aquela economia era a da Alemanha. Então, como hoje, havia uma linha fina entre a simbiose e a rivalidade.114 Será que alguma coisa poderia disparar o processo de outra quebradeira da globalização, como a que aconteceu em 1914? A resposta óbvia é a deterioração das relações políticas entre os Estados Unidos e a China, ou com relação ao comércio, a Taiwan, ao Tibete, ou a outra questão mais subliminar.115 O cenário pode parecer