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CONFLITO DE JURISDIÇÃO/COMPETÊNCIA
Competência é a capacidade jurídica, o poder que o judiciário de um país possui de resolver conflitos, de exercer a jurisdição. Via de regra, um Estado é competente para julgar litígios envolvendo pessoas nele domiciliadas ou que nele se encontrem, em decorrência de sua soberania (princípio da territorialidade), além da possibilidade de as partes elegerem o foro (autonomia da vontade), quando permitido pela lei do local e nas condições que ela estabelece. Também há o fórum shopping, pelo qual, diante de vários foros competentes as partes podem escolher aquele que lhes for mais favorável. Por outro lado, há o fórum non conveniens, pelo qual um juiz determina que não pode examinar um caso por entender que outro foro é mais adequado para tal, atendendo melhor os interesses das partes (o que não significa que a norma seja mais favorável).
Cada Estado determina quais questões tem competência para resolver, em decorrência de sua soberania, entretanto pode ocorrer que mais de um Estado defina seu judiciário como competente para julgar a mesma questão. A capacidade de resolver litígios não se confunde com de efetivar a decisão. As competências do judiciário brasileiro podem ser:
Exclusivas/absolutas/necessárias
Que apenas ele pode resolver. Não significa que outro país não possa processar tais questões (visto que cada país determina para o que tem competência), apenas que o resultado não será aqui aplicado, a sentença não será homologada. Art. 23 - Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I. Conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil (art. 12, § 1º, LINDB);
II. Em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III. Em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. 
Concorrentes/relativas/alternativas/cumulativas
Que pode ser resolvida tanto pelo Brasil, quanto por outro país. Art. 21 - “compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que”:
I. O réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil [sendo domiciliada no Brasil a PJ estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal];
II. No Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III. O fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I. De alimentos, quando:
a) O credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) O réu mantiver vínculos no Brasil, como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II. Decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil [O STJ entendeu que “a justiça brasileira é absolutamente incompetente para demanda indenizatória por serviço viciado fornecido por empresa estrangeira a brasileiro que possuía domicílio no mesmo Estado estrangeiro em que situada a fornecedora, quando o contrato tiver sido celebrado e executado nesse local, ainda que o conhecimento do vício ocorra após o retorno do consumidor ao Brasil”];
III. Em que as partes, expressa ou tacitamente [quando o réu não arguiu a exceção declinatória de foro, resultando de expressão inequívoca da vontade das partes, devendo então estarem presentes evidências de que a escolha resultou de uma negociação], se submeterem à jurisdição nacional.
O art. 12, caput, LINDB, também dispõe que “É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação”.
Art. 24 – “A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência [discussão da mesma questão, com mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir, em processos distintos, vedada] e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil”.
Único – “A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil”. Assim, diante de duas decisões diferentes, em questões de competência exclusiva aplica-se a decisão brasileira e em questões de competência concorrente aplica-se a decisão mais antiga, respeitando-se a coisa julgada, extinguindo-se o processo mais recente visto que a questão já foi resolvida no anterior. 
Art. 25 - Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação (caso contrário ocorrerá a preclusão, perda de um direito por não tê-lo levantado no momento oportuno determinado).
§ 1º Isto não se aplica às hipóteses de competência internacional exclusiva [quando fixada em razão da matéria, da pessoa ou da função, apenas quando em função do valor ou do território, conforme art. 62 CPC].
Apesar disso, há a restrição ao chamado fórum non conveniens/não conveniente, ou seja, que não possui nenhum elemento de conexão com a questão a ser discutida, para evitar fraudes como escolher foro distinto simplesmente por ser a indenização maior.

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