Buscar

Prévia do material em texto

doi: 10.29372/rab202115 
1 
 
Flutuação de conídios de Alternaria dauci no ar 
e sua relação com a severidade da queima das 
folhas da cenoura 
 
Leandro Luiz Marcuzzo* 
Débora Füchter 
Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul 
 
*Correspondência para: leandro.marcuzzo@ifc.edu.br 
 
 
INTRODUÇÃO 
Dentre as doenças que atacam a cultura da cenoura (Daucus carota L.) e reduzem o seu potencial 
produtivo, a principal é a queima das folhas causada por Alternaria dauci (Kühn) Groves & Skolko (Lopes e 
Reis, 2016; Reis, 2010). A maioria dos cultivares utilizados no Brasil não possui resistência para essa doença, 
e por isso, o seu controle vem sendo feito com pulverizações frequentes de fungicidas protetores e sistêmicos 
(Henz et al., 2016). 
 Uma das maneiras de reduzir o uso de agrotóxicos é conhecer quais as condições que favorecem a 
ocorrência da doença, que envolvem o ambiente, o patógeno e o hospedeiro (Bergamim Filho e Amorim, 2011). 
Em relação ao patógeno, o detalhamento da dispersão anemófila de conídios da A. dauci no ar em área de 
cultivo constitui-se em uma informação de relevância no avanço do manejo fitossanitário (Casa et al., 2007; 
Khan et al., 2009). 
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo avaliar a flutuação de conídios de A. dauci no ar em 
área de cultivo de cenoura e sua relação com a severidade da queima das folhas nos anos de 2018 e 2019. 
MATERIAL E MÉTODOS 
Os experimentos foram realizados de 14 de setembro a 14 de dezembro de 2018 e de 16 de setembro a 13 
de dezembro de 2019 no Instituto Federal Catarinense, Campus de Rio do Sul, município de Rio do Sul/SC 
com latitude Sul de 27°11’07”, longitude Oeste de 49°39’39” e altitude de 687 metros do nível do mar. 
Segundo a classificação de Köeppen, o clima local é subtropical úmido (Cfa) e os dados meteorológicos 
foram obtidos de uma estação Davis® Vantage Vue 300m localizado ao lado do experimento e os dados médios 
durante a condução do experimento foram de 20,5 e 19,2ºC para temperatura do ar, de 13,7 e 14 horas de 
umidade relativa do ar ≥90% e a precipitação pluvial acumulada foi de 391 e 446,5 mm para 2018 e 2019 
respectivamente. 
O solo é classificado como Cambissolo Háplico Tb distrófico com os seguintes atributos químicos: pH em 
água de 6,0; teores de Ca+2, Mg+2, Al+3 e CTC de 4,2; 1,8; 0,0 e 9,54 cmolc.dm-3, respectivamente; saturação por 
bases de 66,49%, teor de argila de 30 % m/v e teores de P e K de 14 e 134 mg.dm-3, respectivamente. 
Sementes de cenoura da cultivar Brasília, suscetível a doença (Marcuzzo e Teixeira, 2019) foram 
semeadas a campo em quatro repetições constituídas de uma área de 5x1,25m cada e espaçamento de 3x25cm 
entre plantas. Cada repetição continha 5 fileiras com 150 plantas cada e 20 plantas dessas foram previamente 
demarcadas de forma aleatória nas três filas centrais para a avaliação da severidade da doença. A calagem, 
 
 
http://www.fcav.unesp.br/rab 
e-ISSN 2594-6781 
Volume 5 (2021) 
 
Artigo publicado em 17/06/2021 
 
http://www.fcav.unesp.br/rab
 
 
doi: 10.29372/rab202115 
2 
adubação e tratos culturais seguiram as normas recomendadas para a cultura, porém não foi utilizado 
fungicida. 
Para que houvesse inóculo na área, mudas de cenoura da mesma cultivar com 30 dias de idade foram 
inoculadas com auxílio de um atomizador portátil uma suspensão (1x104) de conídios de A. dauci e após 24 
horas de camara úmida foram transplantadas a cada um metro linear ao redor do experimento no dia da 
semeadura. 
 A coleta dos conídios de A. dauci no ar foi realizada através de um coletor de esporos tipo “cata-vento” 
(Reis e Santos, 1995), posicionado a 0,4 metros de altura, localizado no centro do experimento. No interior do 
coletor havia uma lâmina de microscópio (7,5 x 2,5 cm) untada com vaselina a qual era substituída 
semanalmente. Em laboratório, a lâmina foi dividida em dois pontos centrais e adicionou-se 2 gotas de azul de 
metileno 33% diluído em água foram depositadas lamínulas (1,8 x 1,8 cm) correspondendo a uma área de 6,48 
cm². Através da visualização em microscópio ótico com a objetiva de 10 vezes, quantificou-se o número de 
conídios coletados semanalmente. A severidade da doença foi analisada através da porcentagem de área foliar 
afetada pela doença em cada folha exposta através da escala que varia de 1 a 40% proposta por Strandberg 
(1988). Para verificar a relação entre a flutuação de conídios e a severidade da cercosporiose da beterraba 
durante o ciclo da cultura, os dados foram submetidos ao cálculo do coeficiente de correlação linear de Pearson 
(r) e sua significância foi verificada pelo teste T. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Em 2018, a correlação de Pearson (r) entre o número de conídios coletados do ar e a severidade da doença 
foi significativa pelo teste T à 1 e 5%, enquanto que em 2019 apenas a 5% de probabilidade (Tabela 1). Apesar 
de não houver pesquisa com a cultura, Khan et al. (2009) verificam que a coleta de conídios esta associada (P 
<0,01) a cercosporiose na beterraba açucareira nos estados de Minnesota e Dakota do Norte nos Estados 
Unidos da América. 
 
Tabela 1. Coeficiente de correlação (r) entre o número de conídios de Alternaria dauci coletados 
semanalmente e as respectivas severidades da queima das folhas em 2018 e 2019. Instituto Federal 
Catarinense, Campus de Rio do Sul, SC 
Semanas após a semeadura 
N° de 
conídios 
Severidade 
(%) 
 N° de 
conídios 
Severidade 
(%) 
 
2018 2019 
1 0 0 0 0 
2 1 0 0 0 
3 1 0 2 0 
4 7 0 5 0 
5 7 0 0 0 
6 3 0 2 0 
7 3 0 4 1 
8 0 0 3 4 
9 4 9 2 10 
10 2 18 2 16 
11 0 35 2 19 
12 2 38 2 23 
Coeficiente de correlação (r) -0,784** -0,869* 
*significativo a 5% e **1% de probabilidade pelo valor crítico do teste de T. 
 
A coleta de conídios ocorreu antecipadamente à constatação da doença a campo na 2ª e 4ª semana após a 
semeadura em 2018 e 2019 respectivamente (Tabela 1). Isso se deve ao fato do inóculo já estar presente na 
área devido às plantas inoculadas nas bordaduras do experimento. De modo contrário, Juliatti et al. (2010) 
coletaram esporos da ferrugem asiática da soja somente após ocorrer a esporulação em plantas doentes e isso 
pode variar com o patossistema. 
Houve pouca oscilação no número de conídios coletados na mesma semana de avaliação entre 2018 e 2019 
(Tabela 1). No entanto a severidade da doença em 2018 foi mais acentuada a partir da 8ª semana e finalizando 
 
 
doi: 10.29372/rab202115 
3 
com 38%, enquanto que em 2019 atingiu 4% a mais da metade do ano anterior, com 23% na 12ª semana 
(Tabela 1). Isso se deve á estiagem que ocorreu durante o período inicial de condução da cultura em 2019, que 
apesar da diferença (55 mm) a mais na precipitação pluvial, as chuvas foram mais distribuídas em 2018, 
favorecendo o progresso da doença. 
Após a oitava semana do aparecimento da doença no ano de 2018, observou-se um acréscimo gradual de 
severidade. Apesar disto, o número de conídios coletados não variou durante o período. Isso pode ser associado 
ao fato de que as folhas mais velhas da planta já se encontravam em processo de senescência e também a 
grande taxa de infecção da doença, o que resultou na manutenção do número de esporos. A correlação entre os 
dados da severidade da doença e do número de conídios coletados foi significativa, r=-0,784, (Tabela 1) a 1 e 
5%, indicando forte linearidade entre estas duas variáveis. 
No ano de 2019, apesar de pouco variável o número de conídios entre a 7ª e 12ª semana após a semeadura, 
verificou-se que a severidade da doença progrediu lentamente durante esse período. O número de conídios 
manteve-se estável a partir da 8ª semana, A correlação (r=-0,869) entre a flutuação de conídios e a severidade 
da doença foi forte e significativa no ano de 2019 (Tabela 1). 
Keske (2009) avaliando a flutuação de conídios de Monilia fructicola, agente causal da podridão parda dopessegueiro coletados em armadilhas do tipo “cata-vento”, observou que foi constante a coleta durante o 
período vegetativo da cultura, similar ao que ocorreu nesse trabalho. Outro aspecto verificado nesse trabalho 
em que a maior concentração de esporos ocorreu entre a 9ª e 12ª semana, fase de desenvolvimento vegetativo e 
formação da raiz, o que também foi verificado na beterraba açucareira (Khan et al., 2009). Isso evidência que o 
inóculo presente no ambiente serve de um indicativo para a ocorrência da doença (Reis e Mário, 2003). 
CONCLUSÃO 
A presença de conídios de A. dauci é um indicador do aumento da severidade da queima das folhas da 
cenoura e pode ser usada futuramente como uma ferramenta para tomada de decisão quanto ao controle em 
um sistema de previsão da doença. 
 
Agradecimentos 
Os autores agradecem a bolsa de iniciação científica PIBIC/Cnpq para realização desse trabalho. 
 
Referências 
BERGAMIM FILHO, A; AMORIM, L.. Epidemiologia de doenças de plantas. In: AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIM FILHO, 
A.; (Ed.). Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2011. v.1, cap.5, p.101-118. 
CASA, R.T.; REIS, E.M.; ZAMBOLIM, L. Dispersão vertical e horizontal de conídios de Stenocarpella macrospora e Stenocarpella maydis. 
Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.29, n.2, p.141-147, 2004. 
HENZ, G.P.; LOPES, C.A.; REIS, A. Manejo de Doenças. In: NICK, C.; BORÉM, A. (Ed.). Cenoura: do plantio a colheita. UFV: Viçosa, 
p.98-123, 2016. 
LOPES, C.A.; REIS, A. Doenças da cenoura. Brasília, DF: Embrapa, 2016. 
JULIATTI, F.C.; REZENDE, A.A.; VALE, F.X.R. Critérios práticos de fundamento epidemiológico que auxiliam na tomada de decisão 
para o controle de doenças de plantas. Tropical Plant Pathology, Brasília, DF, v.35, p.23-25, 2010. Suplemento. 
KESKE, C. Epidemiologia da podridão parda em pessegueiros conduzidos em sistema de produção orgânico no alto vale do Itajaí – SC. 
2009. 119f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 
KHAN, J.; QI, A.; KHAN, M.F. Fluctuations in number of Cercospora beticola conidia in relationship to environment and disease severity 
in sugar beet. Phytopathology, St. Paul, v.99, n.7, p.796-801, 2009. DOI: 10.1094/PHYTO-99-7-0796 
MARCUZZO, L.L.; TEIXEIRA, V.R. Reação de genótipos de cenoura a queima das folhas da região do Alto Vale do Itajaí/SC. Thema, 
Pelotas, v.16, n.1, p.4-9, 2019. DOI: https://doi.org/10.15536/thema.16.2019.4-9.1015 
REIS, A. Queima das folhas: uma doença complexa. Brasília: CNPH, 2010, 8p. Circular técnica 91. 
REIS, E.M.; MÁRIO, J.L. Quantificação do inóculo de Diplodia macrospora e de D. maydis em restos culturais, no ar, e sua relação com a 
infecção em grãos de milho. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.28, n.2, p.143-147, 2003. 
REIS, E.M.; SANTOS, H.P. População de Helmintosporium sativum no ar quantificado através de uma armadilha tipo cata-vento. 
Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v.10, n.5, p.515-519. 1985. 
STRANDBERG, J.O. Establishment of Alternaria leaf on carrots in controlled environments. Plant Disease, St. Paul, v.72, n.6, p.522-526, 
1988. DOI: 10.1094/PD-72-0522. 
 
 
 
 
 
doi: 10.29372/rab202115 
4 
 
 
Publicação Independente 
 
 
© Autores 
 
Licença Creative Commons Atribuição NãoComercial 4.0 Internacional 
 
https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR

Mais conteúdos dessa disciplina