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A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS1
 
Paulo Henrique Silveira Lima - UESB - paulophd.g@ig.com.br
Orientadora: Miriam Cléa Coelho Almeida - UESB 
 
 
Introdução 
 
As atividades agrícolas, incluindo a pecuária e a silvicultura, ocupam mais de um terço 
das terras do planeta e envolvem toda a humanidade, nos espaços rurais ou urbanos. 
Todos dependem da alimentação diretamente tirada do solo, da água, da fauna e da 
flora, ou indiretamente, por meio das diversas matérias-primas transformadas 
industrialmente. Portanto, os impactos causados à natureza implicam em impactos 
também na sociedade. 
A transposição de milhares de espécies animais e variedades vegetais entre os 
ecossistemas e a mudança na cobertura vegetal em vastas áreas repercutem em 
todos os elementos bióticos e abióticos do ambiente, alterando a paisagem dominante, 
a cobertura vegetal, o relevo a hidrografia etc., desequilibrando os microclimas e os 
ciclos dos elementos naturais, como água, carbono, nitrogênio e outros, o que alteram 
os processos ecológicos de seleção, evolução e povoamento de raças espécies e 
variedades, provocando extinções e desequilíbrios sócio-ambientais. 
Retrospectiva e geopolítica agrícola 
 
O estudo de (ROSA 1998) aponta que a história da agricultura se confunde com a 
história da própria humanidade, sendo que a partir da domesticação de animais e 
plantas, há cerca de dez mil anos, a agricultura começou a ser praticada de maneira 
racionalizada nas três principais regiões do mundo, sudoeste da Ásia (Israel, Síria, 
Iraque, e oeste do Irã); norte da China; e América Central. Há cerca de seis mil anos 
se introduziu, a partir da Grécia e dos Bálcãs, a agricultura na Europa mediterrânea. 
Embora já havendo perímetros agrícolas irrigados na China, há cerca de cinco mil e 
quinhentos anos, a agricultura, em todo o planeta, se baseava em ações simples, 
 
1 Relatório de pesquisa 
mailto:paulophd.g@ig.com.br
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como estímulo à germinação, assistência, proteção das plantações etc. Conforme 
foram se criando novas necessidades humanas, foram surgindo novas técnicas de 
manejo da natureza, como escolha de espécies, cruzamentos, reciclagens orgânicas, 
aproveitamento de recursos animais e vegetais, utilização da força animal, 
aproveitamento das águas, criação de instrumentos e equipamentos e sistemas de 
irrigação. 
Com o advento das grandes navegações do século XV a evolução tecnológica na 
agricultura se acelerou. As trocas e a dispersão de milhares de espécies, animal e 
vegetal, proliferaram entre regiões e continentes, provocando a eliminação de 
importantes ecossistemas, a exemplo da Mata Atlântica brasileira que foi substituída 
pela cultura exportadora de cana-de-açúcar. Assim, a prática predatória da agricultura 
mundial foi evoluindo no tempo e no espaço, até atingir o atual estágio, com técnicas 
altamente avançadas de produção implementadas a partir de laboratórios, por meio 
das avançadas tecnologias de comunicação e circulação, da informação, da micro-
eletrônica, da biologia, da química, da botânica, da agronomia e de modernas 
máquinas e equipamentos. Essas tecnologias permitiram os cruzamentos genéticos, 
entre raças e variedades, alterando as características das espécies e as adaptando às 
novas culturas e condições ambientais, segundo as exigências das leis do mercado 
mundial de produção e preço, sem levar em consideração que tais melhoramentos 
extinguem variedades, raças e espécies. 
Na segunda década do século XIX a agricultura, que apenas observava e utilizava os 
recursos naturais, passou a produzir e utilizar fertilizantes minerais. No final desse 
século os fertilizantes já estavam sendo produzidos industrialmente. Esses fertilizantes 
sintéticos evoluíram, tornaram-se venenos químicos e foram utilizados na Segunda 
Guerra Mundial. 
Em 1943 a Fundação Rockfeller começou a desenvolver pesquisas agronômicas em 
vários países, cujos resultados mais contundentes foram as Variedades de Alta 
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Produtividade (VAPs), base para a ideologia da Revolução Verde. As VAPs foram 
intensificadas no pós Guerra, juntamente com o uso intensivo dos agrotóxicos. A partir 
dos Estados Unidos, primeiro país a implantar esse novo modelo agrícola, 
mecanizando a agricultura para suprir a escassez de mão-de-obra e explorar suas 
extensas terras, o novo modelo agrícola, baseado em máquinas e agroquímicos, se 
espalhou para os demais espaços agrícolas mundiais. Terminada a Segunda Guerra 
Mundial, começava-se o período da Guerra Fria e com ela as indústrias químicas e de 
insumos se tornaram ociosas, a fome se alastrava perigosamente pelo planeta e o 
socialismo assustava o mundo capitalista. Para prevenir, ao mesmo tempo, contra o 
socialismo e a fome que ameaçavam penetrar, em grande escala, em espaços como 
Ásia e América Central, os países industrialmente desenvolvidos articularam suas 
indústrias químicas e mecânicas ao setor agrícola. Assim sendo, a Ford, a fundação 
Rockefeller e Kellogg, a Agência Internacional para o Desenvolvimento (entidade do 
governo federal estadunidense) e a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio 
da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) desencadearam a Revolução 
Verde, como solução para combater a fome nos países ditos subdesenvolvidos. 
Técnicos, professores formados nos Estados Unidos, financiamentos de insumos, 
desenvolvimento de pesquisas e extensão rural, propaganda de alta produtividade e 
crédito subsidiado para compra de insumos e máquinas por parte de médios e 
grandes produtores rurais foram as estratégias usadas pelos países industrializados 
para aplicar a Revolução Verde nos países periféricos da economia mundial. 
A agricultura foi drenada nas duas pontas do processo produtivo, 
pelos altos preços que teve e tem que pagar pelos produtos 
industrializados (máquinas e insumos) que é praticamente obrigada a 
consumir, e na circulação, onde é obrigada vender sua produção por 
preços vis. O endividamento constante é a conseqüência desse 
balanço desfavorável. O Estado tem mantido e mesmo bancado essa 
dívida nos dias de hoje. [...]. No geral, como a rentabilidade no campo 
não é elevada, o monopólio industrial preferiu, seguindo os moldes da 
fração do capital comercial, implantar-se na circulação, subordinando 
conseqüentemente a produção à circulação. 
Nesse caso, quando submete o camponês aos seus ditames, está 
sujeitando a renda da terra ao capital. Está convertendo o trabalho 
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excedente do camponês e sua família em renda capitalizada. Está-se 
apropriando da renda da terra sem ser o proprietário da terra. Está 
produzindo o capital pela via não especificamente capitalista. 
(OLIVEIRA, 1998, p. 52-53). 
 
 A ideologia da revolução verde, baseada na valorização e na ampla confiança do 
conhecimento científico formal, impunha as receitas para se plantar as sementes 
VAPs: nutrir as plantas com adubos químicos; defender os vegetais com inseticidas, 
fungicidas, acaricidas, etc; eliminar por meio de herbicidas os vegetais indesejáveis; 
economizar trabalho humano e equipamentos mecânicos etc. Essas receitas, 
padronizadoras da agricultura mundial, não levavam em conta as inúmeras diferenças 
regionais, além de beneficiar apenas os proprietários de terras, detentores de capitais 
e àqueles em condições ideais, capazes de suportarem os custos da mecanização. 
Resultados práticos da Modernização Agrícola 
Como nem todos os solos possuem os elementos essenciais à introdução de novas 
plantas, a agricultura moderna aplica, desordenadamente, enormes quantidades de 
agroquímicos em solos irrigados, para corrigir suas deficiências, o que desestabiliza as 
espécies e variedades, provocando, entre outros fatores, a infestação de pragas que, 
ao demandarem por quantidades cada vez maiores de agrotóxicos, inviabilizam as 
atividades agrícolas em médio e longo prazos,em diversas regiões. 
Entre os caminhos possíveis dos pesticidas após serem 
adicionados ao solo, têm-se: vaporização e perda na 
atmosfera, sem nenhuma modificação química; absorção pelo 
solo; infiltração e perda por lixiviação; transformação por 
reações químicas; e, por último, decomposição por 
microorganismos. O somatório de todas as reações, 
movimentos e degradações dá estimativa de persistência dos 
pesticidas no solo. Alguns duram apenas poucos dias, 
enquanto outros podem permanecer por mais de dez anos. 
(BOTELHO & SILVA, 2005, P. 171). 
 
A redução das variedades locais na agricultura moderna tem provocado a erosão 
genética e, conseqüentemente, a destruição dos ecossistemas. Os equipamentos 
pesados (tratores, pulverizadores e colheitadeiras etc.), compactam os solos, 
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reduzindo a ação dos microorganismos, fundamentais para a fixação biológica, 
responsável, entre outras, pela manutenção do ciclo de nitrogênio. Para corrigir esse 
problema a indústria passou a produzir, por meio da fixação industrial do nitrogênio, os 
fertilizantes químicos. Esses produtos, extremamente poluidores dos solos e das 
águas, agravaram o problema de resistência e de aumento populacional dos insetos, 
de forma que, mesmo aumentado em até dez vezes o uso de inseticidas entre 1945 e 
1988, o número de insetos dobrou no mesmo período. 
No início da década de 1990 um reduzido número de grandes indústrias químicas, sob 
a ideologia do melhoramento genético, passou a controlar o comércio e as pesquisas 
de modificação das sementes, controlando e criando necessidades para a cadeia de 
insumos. Como as variedades de sementes híbridas não reproduzem 
seqüencialmente, produzindo todas as características das plantas que as geram, um 
recurso naturalmente renovável foi artificialmente transformado em não renovável para 
obrigar o agricultor a sempre comprar, dos monopólios, novas sementes para cada 
safra, submetendo a produção agrícola aos monopólios químico-biológicos e aos 
mercados, comprometendo o futuro da agricultura e da humanidade. Além do que, as 
novas sementes não são de alta produtividade, elas são de alta e rápida assimilação 
ao uso intensivo de insumos, fertilizantes e água de irrigação, o que requer a 
constante incorporação de novas terras, para substituir as áreas que esse processo 
vai tornando, em médio e longo prazos, improdutivas. 
A associação entre aumento de erosão e maior utilização de produtos 
químicos (fertilizantes e inseticidas) pode ter conseqüências graves 
para a bacia hidrográfica. A falta de conhecimento do meio físico e 
dos produtos químicos utilizados leva muitas vezes o agricultor a 
lançar mão de uma quantidade maior do que a necessária para 
controlar pragas e/ou corrigir o solo. (BOTELHO & SILVA, 2005, 
p.170). 
 
A aplicação de agroquímicos, a uniformização de extensos campos de cultivos e a 
modificação genética das sementes fazem surgir novas pragas, além de intensificar a 
quantidade e a resistência das pragas existentes, como também eliminam os insetos 
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benéficos, reduzem as populações de aves e de outros animais e degradam os solos e 
as águas, entre outros danos. 
A modernização da agricultura causa enormes impactos na sociedade, pois, além de 
inibir o cultivo ou a permanência de vegetais necessários para a subsistência dos 
pequenos agricultores, de suas criações, para a produção de biomassa e de adubos 
orgânicos para a proteção dos solos, incentiva a segregação social, uma vez que os 
investimentos e os recursos da modernização não estão acessíveis a todos. 
A agricultura moderna despreza os conhecimentos que há milhares de anos foram 
sendo acumulados pelos agricultores e cria novas necessidades e técnicas, 
envolvendo esses agricultores na rede dos grandes monopólios industriais e de 
créditos. 
A modernização agrícola elimina, de forma exagerada, o emprego de mão-de-obra. 
Nos Estados Unidos, segundo (VIOLA 1998), em 1910 havia cerca de 11 milhões de 
trabalhadores na agricultura, em 1970 esse número havia caído para 3 milhões. Em 
escala mundial, essa é a regra geral. Pois, para ficar apenas em um exemplo, em 
qualquer espaço agrícola, uma colheitadeira de cana-de-açúcar substitui entre 80 a 
200 trabalhadores. 
As principais causas de ameaças à qualidade ambiental em uma BH 
[bacia hidrográfica] estão relacionadas às atividades não 
sustentáveis, com fins de lucro imediato, que não computam os 
custos ambientais e sociais, repassando-os a terceiros. (SCHIAVETTI 
& CAMARGO 2002, p. 28). 
 
Segundo (ROSA 1998), os agroquímicos provocam cerca de três milhões de casos de 
envenenamento agudo com reação imediata e morte por ano em todo o mundo; 
causam problemas respiratórios, câncer, lesões hepáticas, distúrbios mentais e muitas 
outras doenças que se manifestam ao longo da vida; diminuem os valores nutritivos 
dos alimentos; matam silenciosamente, pelo simples contacto, milhões de pessoas em 
todo mundo. 
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A modernização agrícola ao priorizar a produção de grãos aniquila a produção de 
leguminosas, que possuem três vezes mais proteínas que os cereais. 
As práticas agrícolas modernas, embora aumentando a produtividade por área, 
reduzem a quantidade de proteínas dos alimentos e alienam os agricultores de 
subsistência e familiares a produzirem para o mercado, em detrimento da produção de 
alimentos para as populações rurais locais, implantando a fome e a miséria também 
no espaço rural. 
A modernização agrícola no contexto brasileiro 
No Brasil, a modernização da agricultura, implantada durante o regime militar, vem se 
dando de maneira extremamente prejudicial ao meio ambiente e às populações rurais. 
O conservadorismo com que se deu o processo preservou a concentração de terras, a 
produção para a exportação e a segregação dos pequenos produtores, entre outras 
implicações. Os grandes monopólios de insumos, de máquinas e de créditos se 
instalaram no Brasil, ampliando enormemente seus mercados e seus poderes, 
consolidando as relações capitalistas no espaço rural, por um lado, e provocando, por 
outro, a migração de enormes contingentes de trabalhadores rurais, para servirem de 
mão-de-obra barata na indústria urbana. 
Entre 1987 e 1994 os agroquímicos movimentaram cerca de um bilhão de dólares 
anuais no Brasil (ROSA 1998), colocando o país como o terceiro maior consumidor 
mundial desses produtos. Nesse período notou-se a redução da mão-de-obra 
empregada na agricultura e a ampliação do tamanho dos campos cultivados. Ocorreu 
também que os grandes produtores, beneficiados por financiamentos, compraram os 
estabelecimentos dos pequenos produtores. Esses produtores, expulsos de suas 
terras, migraram para os espaços urbanos, provocando a descamponização, o 
crescimento desordenado das cidades, aumentando o desemprego, a fome e a 
miséria. No Paraná, segundo (ROSA 1998), entre 1970 e 1990, 80 mil pequenos 
estabelecimentos foram incorporados às plantações mecanizadas de soja, em 
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substituição às de café, com acentuada redução da mão-de-obra. Entre 1960 e 1970 
cerca de trinta milhões de brasileiros migraram do campo para as cidades médias e 
grandes. Essas migrações causaram graves impactas sócio-ambientais, pois ao se 
reduzirem as plantações de subsistência, provocou-se a fome na zona rural e a 
desurbnização nas cidades. 
A ampliação e a modernização da cana-de-açúcar no Brasil se deram nesse período e 
em regiões de solos de boas qualidades, portanto, eliminando outras culturas que se 
desenvolviam nessas regiões. As queimadas dos canaviais antes da colheita, que se 
tornaram práticas generalizadas no país, reduzem as atividades microbiológicas dos 
solos e aumenta a poluição atmosférica, por meio de partículasem suspensão no ar, 
provocando o aumento de ozônio na atmosfera e, conseqüentemente, provocando 
problemas respiratórios em seres humanos. 
 A soja é outra grande consumidora de máquinas, agroquímicos e água, sendo 
responsável pela metade do consumo nacional de herbicidas. Com isso, a soja é uma 
das culturas responsáveis pela erosão e degradação dos solos brasileiros. 
O fumo, cultivado no Sul do país, estrategicamente tem sua produção estruturada em 
quatro grandes empresas processadoras que controlam cerca de 150 mil pequenos 
produtores familiares. Esses pequenos agricultores são obrigados a comprar os 
insumos dessas grandes empresas e a se responsabilizarem por possíveis prejuízos. 
Nessa cultura é grande a intensidade de agrotóxicos e de lenha para a secagem das 
folhas nas fornalhas, além do que, depois de cultivado o fumo continua causando 
males, e apenas males, à humanidade. 
Os grandes frigoríficos que se instalaram no Brasil produzem e despejam enormes 
quantidades de resíduos nos cursos de águas, reduzindo o oxigênio e eliminando a 
vida. 
O poder poluente dos dejetos suínos é de 10 a 12 vezes maior em 
volume (em litros) do que o do esgoto humano, sendo, em alguns 
aspectos, como o da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), 100 
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vezes mais poluente (Christmann, 1988). Isso significa dizer que um 
rebanho com 250.000 mil cabeças de suínos produz igual volume de 
dejetos por dia de uma cidade com 2,5 milhões de habitantes e o 
poder poluente (em DBO) equivalente ao de uma metrópole com 25 
milhões de pessoas. (BOTELHO & SILVA (2005, p. 172). 
 
As usinas de açúcar e álcool além de consumirem grandes volumes de águas, 
produzem grandes quantidades de resíduos tóxicos e ascosos, a exemplo da vinhaça 
e do bagaço da cana. O bagaço, na maioria das vezes, é queimado como combustível 
nas próprias usinas, emitindo partículas tóxicas na atmosfera; a vinhaça, não raro, é 
despejada nos rios e contaminam as águas. As empresas processadoras de couros e 
peles, bebidas, produtos farmacêuticos, alimentícios, químicos e celuloses produzem 
enormes quantidades de metais pesados que são despejados nos cursos d’água. 
Esses metais são altamente nocivos para os seres vivos, pois, uma vez ingeridos, 
entram na cadeia alimentar e não se extinguem jamais. 
A intensificação do uso das águas na agricultura, como também a poluição das bacias 
hidrográficas, nascentes, cursos, e conseqüentemente de todo o ciclo hidrológico, está 
provocando a sua escassez em escala global. Diante desse quadro, o poder político e 
econômico das grandes corporações industriais estão privatizando os grandes 
mananciais remanescentes de águas potáveis do planeta. 
O uso inadequado de agroquímicos, a destruição da cobertura vegetal, a erradicação 
das matas ciliares e das vegetações protetoras das nascentes, as irrigações, os 
desvios e os represamentos de águas degradam e poluem os cursos de águas e 
lençóis freáticos, provocando alteração nos ciclos hidrológicos, com a respectiva 
redução do volume de água disponível. Em conseqüência desses fatores está 
ocorrendo apropriação, monopolização e comercialização das águas ainda disponíveis 
no planeta, o que tem gerado conflitos em várias escalas e é tido como causa certa de 
futuras guerras mundiais. 
O ciclo hidrológico pode ser definido como sendo o fenômeno de 
circulação de água entre a atmosfera e a superfície terrestre. No nível 
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global é um sistema fechado, porém no nível local é um sistema 
aberto, pois o volume precipitado em uma determinada região pode 
ter origem em diversas outras áreas, diferentes daquela onde ocorreu 
efetivamente a precipitação. [...]. Até bem pouco tempo não havia 
tamanha discussão na sociedade brasileira sobre como utilizar, de 
forma racional, os recursos naturais do país e mais especificamente 
os recursos hídricos. Não é de hoje que os maiores centros urbanos 
do país sofrem com racionamento de água potável durante o inverno, 
quando as chuvas se tornam mais escassas. 
A vulnerabilidade do país em face da questão das chuvas tornou-se 
tamanha que recentemente tivemos que racionar o consumo de 
energia elétrica, e, no ano de 2002, em função do maior 
prolongamento do período da estiagem, algumas localidades, que 
jamais tiveram problemas com o abastecimento de água, sofreram 
grandes restrições de consumo. As cidades abastecidas com água 
captada na Bacia do Rio Piracicaba foram seriamente afetadas. Até 
mesmo a Região Metropolitana do Rio de Janeiro teve restrições na 
quantidade de água captada no Rio Paraíba do Sul, pois o nível do 
mesmo estava muito abaixo do normal na época do ano. [...] a água é 
um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e um bem de 
domínio público. (BOTELHO & SILVA, 2005, p. 161-184/5). 
 
 
Segundo (PLANETAORGÂNICO, on-line) Os resultados do uso das águas para 
irrigação em grande escala já são explícitos em grandes rios, como o HuangHea, o 
Colorado e o Sebelli, cujas águas já não conseguem chegar ao oceano. O Mar de 
Aral, Situado entre o Uzbequistão e o Cazaquistão era o quarto maior mar interior da 
Terra, com 66.1 mil quilômetros quadrados. Suas águas eram renovadas e 
alimentadas pelos rios Amu Daria e Sir Daria. O desvio das águas desses dois rios 
para os projetos de irrigação das plantações de algodão consumiu 90% das águas que 
chegavam ao Aral e transformaram cerca de mil km2 do fundo desse mar em deserto, 
dobrando a concentração de sal na região, acabando com a maioria das espécies de 
peixes e da fauna locais. A indústria pesqueira que empregava 60 mil pessoas foi 
desativada. Toneladas de areia, sal e pesticidas, usados nas plantações de algodão 
são carregadas, diuturnamente, pelo vento, atingindo uma área de 300 quilômetros, 
comprometendo a vida das populações. 
A crescente industrialização concentrada em cidades, a 
mecanização da agricultura em sistema de monocultura, a 
generalizada implantação de pastagens, a intensa exploração 
de recursos energéticos e matérias-primas como o carvão 
mineral, petróleo, recursos hídricos, minérios, tem alterado, de 
modo irreversível, o cenário da Terra e levado, com freqüência, 
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a processos degenerativos profundos da natureza. (ROSS 2003, 
p. 292). 
 
 
Segundo (PEREIRA E ALMEIDA 2003, p. 219) a retirada da vegetação nas principais 
bacias hidrográficas favorece a erosão e a perda da camada superficial do solo, o que, 
aliado ao uso inconseqüente dos solos, transformam em desertos regiões prósperas, 
como ocorreu no Egito, no Oriente Médio e no México. 
Considerações finais 
Entre 1950 e 1985 houve um real aumento na produção agrícola promovido pela 
Revolução Verde, elevando em 160% a produção de cereais em escala mundial. Em 
1985 essa produção atingiu o maior índice da história. Todavia a modernização 
agrícola acentuou as diferenças regionais, concentrou a produção, agrediu a natureza 
com agrotóxicos, provocando desastres sócio-ambientais em escala mundial, inclusive 
a fome e a miséria que se alastraram por diversas partes do planeta, uma vez que a 
Revolução Verde não levou em consideração a importância da produção camponesa 
de alimentos e outros recursos para o consumo e para a produção de biomassa, 
necessários para evitar a diminuição ou destruição dos recursos naturais, a 
degradação dos solos e das águas, a redução da biodiversidade, entre outros. 
A agricultura empresarial moderna, o agronegócio, organiza-se em estabelecimentos 
de médio e grande portes, recebem permanentemente orientação de profissionais 
especializados, agrônomos, administradores etc., possui amplo acesso às pesquisas, 
à assistência técnica, aos subsídios, aos créditos, enfim a todos os auxílios 
governamentais para produzirem para a exportação, retirando o máximo de recurso da 
natureza, semfavorecer as populações locais que, como agricultores camponeses, 
sem acesso às novas técnicas e tecnologias passaram a fornecer apenas a mão-de-
obra ou, por outros meios, a renda da terra ao capital instalado na agricultura. 
 
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Referência bibliográfica 
 
 
BOTELHO, Rosângela G. Machado; SILVA, Antônio Soares da. Bacia Hidrográfica e 
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ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro. 2005. 
 
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São Paulo. 1986. 
 
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<http://www.planetaorganico.com.br/aguamal.htm> Acesso em 23/04/2005. 23:30:00 
h. 
 
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia Aplicada Aos EIAs-RIMAs. In: 
GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Batista da. Geomorfologia e Meio 
Ambiente. 4. ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2003. 
 
ROSA, Antônio Vítor. Agricultura e Meio Ambiente. São Paulo. Atual. 1998. 
 
SCHIAVETTI, Alexandre; CAMARGO, Antônio F. M. Conceitos de Bacias 
Hidrográficas: Teorias e Aplicações. Edts. Ilhéus-Ba. 2002. 
 
VIOLA, J. Eduardo et.al. Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: Desafio 
para as Ciências Sociais. 2. Ed. São Paulo. Cortez,1998. 
 
 
http://www.planetaorganico.com.br/aguamal.htm
	Retrospectiva e geopolítica agrícola 
	Resultados práticos da Modernização Agrícola 
	A modernização agrícola no contexto brasileiro 
	Referência bibliográfica

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