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1 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS1 Paulo Henrique Silveira Lima - UESB - paulophd.g@ig.com.br Orientadora: Miriam Cléa Coelho Almeida - UESB Introdução As atividades agrícolas, incluindo a pecuária e a silvicultura, ocupam mais de um terço das terras do planeta e envolvem toda a humanidade, nos espaços rurais ou urbanos. Todos dependem da alimentação diretamente tirada do solo, da água, da fauna e da flora, ou indiretamente, por meio das diversas matérias-primas transformadas industrialmente. Portanto, os impactos causados à natureza implicam em impactos também na sociedade. A transposição de milhares de espécies animais e variedades vegetais entre os ecossistemas e a mudança na cobertura vegetal em vastas áreas repercutem em todos os elementos bióticos e abióticos do ambiente, alterando a paisagem dominante, a cobertura vegetal, o relevo a hidrografia etc., desequilibrando os microclimas e os ciclos dos elementos naturais, como água, carbono, nitrogênio e outros, o que alteram os processos ecológicos de seleção, evolução e povoamento de raças espécies e variedades, provocando extinções e desequilíbrios sócio-ambientais. Retrospectiva e geopolítica agrícola O estudo de (ROSA 1998) aponta que a história da agricultura se confunde com a história da própria humanidade, sendo que a partir da domesticação de animais e plantas, há cerca de dez mil anos, a agricultura começou a ser praticada de maneira racionalizada nas três principais regiões do mundo, sudoeste da Ásia (Israel, Síria, Iraque, e oeste do Irã); norte da China; e América Central. Há cerca de seis mil anos se introduziu, a partir da Grécia e dos Bálcãs, a agricultura na Europa mediterrânea. Embora já havendo perímetros agrícolas irrigados na China, há cerca de cinco mil e quinhentos anos, a agricultura, em todo o planeta, se baseava em ações simples, 1 Relatório de pesquisa mailto:paulophd.g@ig.com.br 2 como estímulo à germinação, assistência, proteção das plantações etc. Conforme foram se criando novas necessidades humanas, foram surgindo novas técnicas de manejo da natureza, como escolha de espécies, cruzamentos, reciclagens orgânicas, aproveitamento de recursos animais e vegetais, utilização da força animal, aproveitamento das águas, criação de instrumentos e equipamentos e sistemas de irrigação. Com o advento das grandes navegações do século XV a evolução tecnológica na agricultura se acelerou. As trocas e a dispersão de milhares de espécies, animal e vegetal, proliferaram entre regiões e continentes, provocando a eliminação de importantes ecossistemas, a exemplo da Mata Atlântica brasileira que foi substituída pela cultura exportadora de cana-de-açúcar. Assim, a prática predatória da agricultura mundial foi evoluindo no tempo e no espaço, até atingir o atual estágio, com técnicas altamente avançadas de produção implementadas a partir de laboratórios, por meio das avançadas tecnologias de comunicação e circulação, da informação, da micro- eletrônica, da biologia, da química, da botânica, da agronomia e de modernas máquinas e equipamentos. Essas tecnologias permitiram os cruzamentos genéticos, entre raças e variedades, alterando as características das espécies e as adaptando às novas culturas e condições ambientais, segundo as exigências das leis do mercado mundial de produção e preço, sem levar em consideração que tais melhoramentos extinguem variedades, raças e espécies. Na segunda década do século XIX a agricultura, que apenas observava e utilizava os recursos naturais, passou a produzir e utilizar fertilizantes minerais. No final desse século os fertilizantes já estavam sendo produzidos industrialmente. Esses fertilizantes sintéticos evoluíram, tornaram-se venenos químicos e foram utilizados na Segunda Guerra Mundial. Em 1943 a Fundação Rockfeller começou a desenvolver pesquisas agronômicas em vários países, cujos resultados mais contundentes foram as Variedades de Alta 3 Produtividade (VAPs), base para a ideologia da Revolução Verde. As VAPs foram intensificadas no pós Guerra, juntamente com o uso intensivo dos agrotóxicos. A partir dos Estados Unidos, primeiro país a implantar esse novo modelo agrícola, mecanizando a agricultura para suprir a escassez de mão-de-obra e explorar suas extensas terras, o novo modelo agrícola, baseado em máquinas e agroquímicos, se espalhou para os demais espaços agrícolas mundiais. Terminada a Segunda Guerra Mundial, começava-se o período da Guerra Fria e com ela as indústrias químicas e de insumos se tornaram ociosas, a fome se alastrava perigosamente pelo planeta e o socialismo assustava o mundo capitalista. Para prevenir, ao mesmo tempo, contra o socialismo e a fome que ameaçavam penetrar, em grande escala, em espaços como Ásia e América Central, os países industrialmente desenvolvidos articularam suas indústrias químicas e mecânicas ao setor agrícola. Assim sendo, a Ford, a fundação Rockefeller e Kellogg, a Agência Internacional para o Desenvolvimento (entidade do governo federal estadunidense) e a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) desencadearam a Revolução Verde, como solução para combater a fome nos países ditos subdesenvolvidos. Técnicos, professores formados nos Estados Unidos, financiamentos de insumos, desenvolvimento de pesquisas e extensão rural, propaganda de alta produtividade e crédito subsidiado para compra de insumos e máquinas por parte de médios e grandes produtores rurais foram as estratégias usadas pelos países industrializados para aplicar a Revolução Verde nos países periféricos da economia mundial. A agricultura foi drenada nas duas pontas do processo produtivo, pelos altos preços que teve e tem que pagar pelos produtos industrializados (máquinas e insumos) que é praticamente obrigada a consumir, e na circulação, onde é obrigada vender sua produção por preços vis. O endividamento constante é a conseqüência desse balanço desfavorável. O Estado tem mantido e mesmo bancado essa dívida nos dias de hoje. [...]. No geral, como a rentabilidade no campo não é elevada, o monopólio industrial preferiu, seguindo os moldes da fração do capital comercial, implantar-se na circulação, subordinando conseqüentemente a produção à circulação. Nesse caso, quando submete o camponês aos seus ditames, está sujeitando a renda da terra ao capital. Está convertendo o trabalho 4 excedente do camponês e sua família em renda capitalizada. Está-se apropriando da renda da terra sem ser o proprietário da terra. Está produzindo o capital pela via não especificamente capitalista. (OLIVEIRA, 1998, p. 52-53). A ideologia da revolução verde, baseada na valorização e na ampla confiança do conhecimento científico formal, impunha as receitas para se plantar as sementes VAPs: nutrir as plantas com adubos químicos; defender os vegetais com inseticidas, fungicidas, acaricidas, etc; eliminar por meio de herbicidas os vegetais indesejáveis; economizar trabalho humano e equipamentos mecânicos etc. Essas receitas, padronizadoras da agricultura mundial, não levavam em conta as inúmeras diferenças regionais, além de beneficiar apenas os proprietários de terras, detentores de capitais e àqueles em condições ideais, capazes de suportarem os custos da mecanização. Resultados práticos da Modernização Agrícola Como nem todos os solos possuem os elementos essenciais à introdução de novas plantas, a agricultura moderna aplica, desordenadamente, enormes quantidades de agroquímicos em solos irrigados, para corrigir suas deficiências, o que desestabiliza as espécies e variedades, provocando, entre outros fatores, a infestação de pragas que, ao demandarem por quantidades cada vez maiores de agrotóxicos, inviabilizam as atividades agrícolas em médio e longo prazos,em diversas regiões. Entre os caminhos possíveis dos pesticidas após serem adicionados ao solo, têm-se: vaporização e perda na atmosfera, sem nenhuma modificação química; absorção pelo solo; infiltração e perda por lixiviação; transformação por reações químicas; e, por último, decomposição por microorganismos. O somatório de todas as reações, movimentos e degradações dá estimativa de persistência dos pesticidas no solo. Alguns duram apenas poucos dias, enquanto outros podem permanecer por mais de dez anos. (BOTELHO & SILVA, 2005, P. 171). A redução das variedades locais na agricultura moderna tem provocado a erosão genética e, conseqüentemente, a destruição dos ecossistemas. Os equipamentos pesados (tratores, pulverizadores e colheitadeiras etc.), compactam os solos, 5 reduzindo a ação dos microorganismos, fundamentais para a fixação biológica, responsável, entre outras, pela manutenção do ciclo de nitrogênio. Para corrigir esse problema a indústria passou a produzir, por meio da fixação industrial do nitrogênio, os fertilizantes químicos. Esses produtos, extremamente poluidores dos solos e das águas, agravaram o problema de resistência e de aumento populacional dos insetos, de forma que, mesmo aumentado em até dez vezes o uso de inseticidas entre 1945 e 1988, o número de insetos dobrou no mesmo período. No início da década de 1990 um reduzido número de grandes indústrias químicas, sob a ideologia do melhoramento genético, passou a controlar o comércio e as pesquisas de modificação das sementes, controlando e criando necessidades para a cadeia de insumos. Como as variedades de sementes híbridas não reproduzem seqüencialmente, produzindo todas as características das plantas que as geram, um recurso naturalmente renovável foi artificialmente transformado em não renovável para obrigar o agricultor a sempre comprar, dos monopólios, novas sementes para cada safra, submetendo a produção agrícola aos monopólios químico-biológicos e aos mercados, comprometendo o futuro da agricultura e da humanidade. Além do que, as novas sementes não são de alta produtividade, elas são de alta e rápida assimilação ao uso intensivo de insumos, fertilizantes e água de irrigação, o que requer a constante incorporação de novas terras, para substituir as áreas que esse processo vai tornando, em médio e longo prazos, improdutivas. A associação entre aumento de erosão e maior utilização de produtos químicos (fertilizantes e inseticidas) pode ter conseqüências graves para a bacia hidrográfica. A falta de conhecimento do meio físico e dos produtos químicos utilizados leva muitas vezes o agricultor a lançar mão de uma quantidade maior do que a necessária para controlar pragas e/ou corrigir o solo. (BOTELHO & SILVA, 2005, p.170). A aplicação de agroquímicos, a uniformização de extensos campos de cultivos e a modificação genética das sementes fazem surgir novas pragas, além de intensificar a quantidade e a resistência das pragas existentes, como também eliminam os insetos 6 benéficos, reduzem as populações de aves e de outros animais e degradam os solos e as águas, entre outros danos. A modernização da agricultura causa enormes impactos na sociedade, pois, além de inibir o cultivo ou a permanência de vegetais necessários para a subsistência dos pequenos agricultores, de suas criações, para a produção de biomassa e de adubos orgânicos para a proteção dos solos, incentiva a segregação social, uma vez que os investimentos e os recursos da modernização não estão acessíveis a todos. A agricultura moderna despreza os conhecimentos que há milhares de anos foram sendo acumulados pelos agricultores e cria novas necessidades e técnicas, envolvendo esses agricultores na rede dos grandes monopólios industriais e de créditos. A modernização agrícola elimina, de forma exagerada, o emprego de mão-de-obra. Nos Estados Unidos, segundo (VIOLA 1998), em 1910 havia cerca de 11 milhões de trabalhadores na agricultura, em 1970 esse número havia caído para 3 milhões. Em escala mundial, essa é a regra geral. Pois, para ficar apenas em um exemplo, em qualquer espaço agrícola, uma colheitadeira de cana-de-açúcar substitui entre 80 a 200 trabalhadores. As principais causas de ameaças à qualidade ambiental em uma BH [bacia hidrográfica] estão relacionadas às atividades não sustentáveis, com fins de lucro imediato, que não computam os custos ambientais e sociais, repassando-os a terceiros. (SCHIAVETTI & CAMARGO 2002, p. 28). Segundo (ROSA 1998), os agroquímicos provocam cerca de três milhões de casos de envenenamento agudo com reação imediata e morte por ano em todo o mundo; causam problemas respiratórios, câncer, lesões hepáticas, distúrbios mentais e muitas outras doenças que se manifestam ao longo da vida; diminuem os valores nutritivos dos alimentos; matam silenciosamente, pelo simples contacto, milhões de pessoas em todo mundo. 7 A modernização agrícola ao priorizar a produção de grãos aniquila a produção de leguminosas, que possuem três vezes mais proteínas que os cereais. As práticas agrícolas modernas, embora aumentando a produtividade por área, reduzem a quantidade de proteínas dos alimentos e alienam os agricultores de subsistência e familiares a produzirem para o mercado, em detrimento da produção de alimentos para as populações rurais locais, implantando a fome e a miséria também no espaço rural. A modernização agrícola no contexto brasileiro No Brasil, a modernização da agricultura, implantada durante o regime militar, vem se dando de maneira extremamente prejudicial ao meio ambiente e às populações rurais. O conservadorismo com que se deu o processo preservou a concentração de terras, a produção para a exportação e a segregação dos pequenos produtores, entre outras implicações. Os grandes monopólios de insumos, de máquinas e de créditos se instalaram no Brasil, ampliando enormemente seus mercados e seus poderes, consolidando as relações capitalistas no espaço rural, por um lado, e provocando, por outro, a migração de enormes contingentes de trabalhadores rurais, para servirem de mão-de-obra barata na indústria urbana. Entre 1987 e 1994 os agroquímicos movimentaram cerca de um bilhão de dólares anuais no Brasil (ROSA 1998), colocando o país como o terceiro maior consumidor mundial desses produtos. Nesse período notou-se a redução da mão-de-obra empregada na agricultura e a ampliação do tamanho dos campos cultivados. Ocorreu também que os grandes produtores, beneficiados por financiamentos, compraram os estabelecimentos dos pequenos produtores. Esses produtores, expulsos de suas terras, migraram para os espaços urbanos, provocando a descamponização, o crescimento desordenado das cidades, aumentando o desemprego, a fome e a miséria. No Paraná, segundo (ROSA 1998), entre 1970 e 1990, 80 mil pequenos estabelecimentos foram incorporados às plantações mecanizadas de soja, em 8 substituição às de café, com acentuada redução da mão-de-obra. Entre 1960 e 1970 cerca de trinta milhões de brasileiros migraram do campo para as cidades médias e grandes. Essas migrações causaram graves impactas sócio-ambientais, pois ao se reduzirem as plantações de subsistência, provocou-se a fome na zona rural e a desurbnização nas cidades. A ampliação e a modernização da cana-de-açúcar no Brasil se deram nesse período e em regiões de solos de boas qualidades, portanto, eliminando outras culturas que se desenvolviam nessas regiões. As queimadas dos canaviais antes da colheita, que se tornaram práticas generalizadas no país, reduzem as atividades microbiológicas dos solos e aumenta a poluição atmosférica, por meio de partículasem suspensão no ar, provocando o aumento de ozônio na atmosfera e, conseqüentemente, provocando problemas respiratórios em seres humanos. A soja é outra grande consumidora de máquinas, agroquímicos e água, sendo responsável pela metade do consumo nacional de herbicidas. Com isso, a soja é uma das culturas responsáveis pela erosão e degradação dos solos brasileiros. O fumo, cultivado no Sul do país, estrategicamente tem sua produção estruturada em quatro grandes empresas processadoras que controlam cerca de 150 mil pequenos produtores familiares. Esses pequenos agricultores são obrigados a comprar os insumos dessas grandes empresas e a se responsabilizarem por possíveis prejuízos. Nessa cultura é grande a intensidade de agrotóxicos e de lenha para a secagem das folhas nas fornalhas, além do que, depois de cultivado o fumo continua causando males, e apenas males, à humanidade. Os grandes frigoríficos que se instalaram no Brasil produzem e despejam enormes quantidades de resíduos nos cursos de águas, reduzindo o oxigênio e eliminando a vida. O poder poluente dos dejetos suínos é de 10 a 12 vezes maior em volume (em litros) do que o do esgoto humano, sendo, em alguns aspectos, como o da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), 100 9 vezes mais poluente (Christmann, 1988). Isso significa dizer que um rebanho com 250.000 mil cabeças de suínos produz igual volume de dejetos por dia de uma cidade com 2,5 milhões de habitantes e o poder poluente (em DBO) equivalente ao de uma metrópole com 25 milhões de pessoas. (BOTELHO & SILVA (2005, p. 172). As usinas de açúcar e álcool além de consumirem grandes volumes de águas, produzem grandes quantidades de resíduos tóxicos e ascosos, a exemplo da vinhaça e do bagaço da cana. O bagaço, na maioria das vezes, é queimado como combustível nas próprias usinas, emitindo partículas tóxicas na atmosfera; a vinhaça, não raro, é despejada nos rios e contaminam as águas. As empresas processadoras de couros e peles, bebidas, produtos farmacêuticos, alimentícios, químicos e celuloses produzem enormes quantidades de metais pesados que são despejados nos cursos d’água. Esses metais são altamente nocivos para os seres vivos, pois, uma vez ingeridos, entram na cadeia alimentar e não se extinguem jamais. A intensificação do uso das águas na agricultura, como também a poluição das bacias hidrográficas, nascentes, cursos, e conseqüentemente de todo o ciclo hidrológico, está provocando a sua escassez em escala global. Diante desse quadro, o poder político e econômico das grandes corporações industriais estão privatizando os grandes mananciais remanescentes de águas potáveis do planeta. O uso inadequado de agroquímicos, a destruição da cobertura vegetal, a erradicação das matas ciliares e das vegetações protetoras das nascentes, as irrigações, os desvios e os represamentos de águas degradam e poluem os cursos de águas e lençóis freáticos, provocando alteração nos ciclos hidrológicos, com a respectiva redução do volume de água disponível. Em conseqüência desses fatores está ocorrendo apropriação, monopolização e comercialização das águas ainda disponíveis no planeta, o que tem gerado conflitos em várias escalas e é tido como causa certa de futuras guerras mundiais. O ciclo hidrológico pode ser definido como sendo o fenômeno de circulação de água entre a atmosfera e a superfície terrestre. No nível 10 global é um sistema fechado, porém no nível local é um sistema aberto, pois o volume precipitado em uma determinada região pode ter origem em diversas outras áreas, diferentes daquela onde ocorreu efetivamente a precipitação. [...]. Até bem pouco tempo não havia tamanha discussão na sociedade brasileira sobre como utilizar, de forma racional, os recursos naturais do país e mais especificamente os recursos hídricos. Não é de hoje que os maiores centros urbanos do país sofrem com racionamento de água potável durante o inverno, quando as chuvas se tornam mais escassas. A vulnerabilidade do país em face da questão das chuvas tornou-se tamanha que recentemente tivemos que racionar o consumo de energia elétrica, e, no ano de 2002, em função do maior prolongamento do período da estiagem, algumas localidades, que jamais tiveram problemas com o abastecimento de água, sofreram grandes restrições de consumo. As cidades abastecidas com água captada na Bacia do Rio Piracicaba foram seriamente afetadas. Até mesmo a Região Metropolitana do Rio de Janeiro teve restrições na quantidade de água captada no Rio Paraíba do Sul, pois o nível do mesmo estava muito abaixo do normal na época do ano. [...] a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e um bem de domínio público. (BOTELHO & SILVA, 2005, p. 161-184/5). Segundo (PLANETAORGÂNICO, on-line) Os resultados do uso das águas para irrigação em grande escala já são explícitos em grandes rios, como o HuangHea, o Colorado e o Sebelli, cujas águas já não conseguem chegar ao oceano. O Mar de Aral, Situado entre o Uzbequistão e o Cazaquistão era o quarto maior mar interior da Terra, com 66.1 mil quilômetros quadrados. Suas águas eram renovadas e alimentadas pelos rios Amu Daria e Sir Daria. O desvio das águas desses dois rios para os projetos de irrigação das plantações de algodão consumiu 90% das águas que chegavam ao Aral e transformaram cerca de mil km2 do fundo desse mar em deserto, dobrando a concentração de sal na região, acabando com a maioria das espécies de peixes e da fauna locais. A indústria pesqueira que empregava 60 mil pessoas foi desativada. Toneladas de areia, sal e pesticidas, usados nas plantações de algodão são carregadas, diuturnamente, pelo vento, atingindo uma área de 300 quilômetros, comprometendo a vida das populações. A crescente industrialização concentrada em cidades, a mecanização da agricultura em sistema de monocultura, a generalizada implantação de pastagens, a intensa exploração de recursos energéticos e matérias-primas como o carvão mineral, petróleo, recursos hídricos, minérios, tem alterado, de modo irreversível, o cenário da Terra e levado, com freqüência, 11 a processos degenerativos profundos da natureza. (ROSS 2003, p. 292). Segundo (PEREIRA E ALMEIDA 2003, p. 219) a retirada da vegetação nas principais bacias hidrográficas favorece a erosão e a perda da camada superficial do solo, o que, aliado ao uso inconseqüente dos solos, transformam em desertos regiões prósperas, como ocorreu no Egito, no Oriente Médio e no México. Considerações finais Entre 1950 e 1985 houve um real aumento na produção agrícola promovido pela Revolução Verde, elevando em 160% a produção de cereais em escala mundial. Em 1985 essa produção atingiu o maior índice da história. Todavia a modernização agrícola acentuou as diferenças regionais, concentrou a produção, agrediu a natureza com agrotóxicos, provocando desastres sócio-ambientais em escala mundial, inclusive a fome e a miséria que se alastraram por diversas partes do planeta, uma vez que a Revolução Verde não levou em consideração a importância da produção camponesa de alimentos e outros recursos para o consumo e para a produção de biomassa, necessários para evitar a diminuição ou destruição dos recursos naturais, a degradação dos solos e das águas, a redução da biodiversidade, entre outros. A agricultura empresarial moderna, o agronegócio, organiza-se em estabelecimentos de médio e grande portes, recebem permanentemente orientação de profissionais especializados, agrônomos, administradores etc., possui amplo acesso às pesquisas, à assistência técnica, aos subsídios, aos créditos, enfim a todos os auxílios governamentais para produzirem para a exportação, retirando o máximo de recurso da natureza, semfavorecer as populações locais que, como agricultores camponeses, sem acesso às novas técnicas e tecnologias passaram a fornecer apenas a mão-de- obra ou, por outros meios, a renda da terra ao capital instalado na agricultura. 12 Referência bibliográfica BOTELHO, Rosângela G. Machado; SILVA, Antônio Soares da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambental. In: Guerra J. Teixeira et al. Erosão e Conservação dos Solos. 2. ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro. 2005. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo capitalista de produção e agricultura. Ática. São Paulo. 1986. PLANETAORGÃNICO on-line. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/aguamal.htm> Acesso em 23/04/2005. 23:30:00 h. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia Aplicada Aos EIAs-RIMAs. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Batista da. Geomorfologia e Meio Ambiente. 4. ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2003. ROSA, Antônio Vítor. Agricultura e Meio Ambiente. São Paulo. Atual. 1998. SCHIAVETTI, Alexandre; CAMARGO, Antônio F. M. Conceitos de Bacias Hidrográficas: Teorias e Aplicações. Edts. Ilhéus-Ba. 2002. VIOLA, J. Eduardo et.al. Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: Desafio para as Ciências Sociais. 2. Ed. São Paulo. Cortez,1998. http://www.planetaorganico.com.br/aguamal.htm Retrospectiva e geopolítica agrícola Resultados práticos da Modernização Agrícola A modernização agrícola no contexto brasileiro Referência bibliográfica