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Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 1 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado COOPERAÇÃO JURISDICIONAL INTERNACIONAL Fixada a jurisdição de determinado Estado, é possível que o processo em curso necessite de diligências a serem realizadas fora dos limites territoriais do país em que tramita o processo ou que exijam que a decisão proferida em uma jurisdição produza efeitos em outra. Para que a interação seja possível em face da diversidade de jurisdições, é essencial que existam instrumentos que viabilizem a cooperação jurisdicional internacional. (DOLINGER e TIBÚRCIO, 2017) Art. 961, CPC/2015: A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo a disposição em sentido contrário de lei ou tratado. Logo, no Brasil: 1. Cartas rogatórias; 2. Homologação de sentença estrangeira; 3. Auxílio direto. Cartas rogatórias e homologação de sentenças estrangeiras. Cartas rogatórias: forma tradicional de se realizarem comunicações processuais (citações ou notificações) ou coleta de provas no exterior, tanto na esfera cível como penal. Na ausência de lei ou tratado específico a respeito, diligências devem ser feitas por rogatórias, sempre que presentes elementos que assim o permitam. Ex.:Citação, intimação, oitiva de testemunhas, obtenção de provas em geral. Classificação: Cartas rogatórias ativas: emitidas por autoridade brasileira; Cartas rogatórias passivas: solicitações direcionadas à autoridade estrangeira. - No Brasil, a análise concentrava-se no órgão supremo do Judiciário – STF. - Emenda Constitucional 45/2004 transferiu competência para o STJ: Art. 105, I, “i” – Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I – processar e julgar, originariamente: ..................................................................................... i) A homologação de sentença estrangeira e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; - LINDB: a rogatória estrangeira, como regra, deve receber o exequatur, que somente pode ser negado no caso de a diligência solicitada ferir a ordem pública. - Sistema de contenciosidade limitada: o STJ examinará apenas a autenticidade da rogatória e se a diligência a ser realizada no Brasil atentar contra a soberania ou a ordem pública nacionais, limitada ao contexto da diligência solicitada. Carta rogatória executória: STJ: 1. Resolução nº 9/2005 do STJ: abre caminho para a concessão de exequatur às cartas rogatórias executórias (art.7º), independentemente de tratados. Regimento Interno do STJ manteve a previsão do art. 216-O §1º: atos decisórios ou não decisórios. Tratados: quanto às diligências com base em tratado, o STJ continuou autorizando diligências de caráter executório. Ex.: Protocolo de Las Leñas e de Ouro Preto – Mercosul. CPC/2015 admite a rogatória executória (arts. 40 e 960-962). Autoridade requerente: segundo a legislação estrangeira (de origem do pedido), cumprindo ao tribunal brasileiro apenas a aferição objetiva desse requisito. Art. 12, LINDB. Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 2 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado “A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pela lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências”. Homologação de sentença estrangeira “ ’Continuidade’ do exercício da jurisdição de determinado Estado, [...]. Cada vez mais, os Estados têm se esforçado conjuntamente para criar um espaço internacional propício à realização das formas de distribuição e acesso à justiça entre seus cidadãos.” (Basso, 2016) LINDB/1942 CPC/2015 Art. 15, LINDB. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Vide art.105, I, i da Constituição Federal). Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: I - ser proferida por autoridade competente; II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofender a coisa julgada brasileira; V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar- se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2o. - Art. 216 – D da Emenda Regimental nº 20/2015 do STJ. - As sentenças estrangeiras passam por uma fase de reconhecimento antes de sua execução em espécie. - No procedimento de homologação não se examina o mérito da sentença estrangeira. Limites a esta regra: art.17 LINDB. - O procedimento homologatório deve ser: 1) coerente com o juízo de delibação. Delibação: instância preliminar em que o juiz brasileiro verifica a pertinência da sentença que se pretende executar e ter-lhe reconhecidos os efeitos, perante o ordenamento jurídico nacional. 2) a qualidade da coisa julgada material pode ser distinta (lex fori determina os efeitos que atribuem à sentença que se pretende homologar). Competência internacional: Art. 964, CPC/2015. Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira. Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória. Exclusiva: Impossibilidade de homologação de sentença estrangeira e de concessão de exequatur a rogatórias provenientes do exterior nas hipóteses de competência exclusiva do Judiciário brasileiro. Concorrente: quanto o réu for domiciliado no país e a obrigação a ser aqui cumprida ou ação que decorra de ato ou fato aqui ocorrido. Deve-se deferir a citação de réu para responder a ação que tramita no exterior (ou a coleta de prova no país) porque, sendo hipóteses de competência concorrente, o legislador processual admite que a justiça estrangeira decida sobre tais assuntos. Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 3 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado Autoridade requerente: segundo a legislação estrangeira (de origem do pedido), cumprindo ao tribunal brasileiro apenas a aferição objetiva desse requisito. Art. 12, LINDB c/c art. 961 CPC - Além da tradução, exige-se a “consularização” da decisão estrangeira, requisito dispensado desde a entrada em vigor da Convenção da Apostila para os países ratificantes: Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, 1961 – ratificada pelo Brasil em 2016. - Decisões administrativas ou religiosas são passíveis de homologação, desde que proferidas por autoridades que sejam competentes no país estrangeiro. O mesmo afirma o art. 961 CPC 2015. - É possível a homologação parcial de decisões estrangeiras. - Tutela de urgência na homologaçãode sentenças estrangeiras (Res. Nº 9/2005 STJ e CPC/2015). O CPC 2015 passa a admitir que lei ou tratado dispense alguns tipos de sentença da homologação do STJ. Decisões que precisam ser homologadas - Nova redação do art. 105, I, i: “homologação de sentenças estrangeiras”. Preposição de, sem artigo, pressupõe que sejam homologadas as sentenças estrangeiras que a lei ordinária exige a homologação. Não é pacífico. - Exceção: em matéria de alimentos. - CPC/2015: deu um passo adiante na discussão se uma decisão estrangeira (inclusive aquelas que versam sobre estado e capacidade das pessoas) pode ser reconhecida independentemente de homologação, enquanto na Europa já se admite a execução sem homologação. Exceções à regra da homologação previstas em lei ou tratado, expressamente previstos no CPC/2015: - dispensa de homologação com base em lei específica ou tratado (arts. 961; 962, §4º); - prevê a dispensa da homologação para os divórcios consensuais obtidos no exterior (art. 961 §5º). Auxílio Direto: meio de cooperação internacional. As tentativas de criar pontes entre os Estados não devem ser recebidas pelo STF – e pelo Judiciário como um todo – com o erguimento de muros. (DOLINGER e TIBÚRCIO, 2017) Art. 962, §4º, CPC/2015. Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.” Por auxílio direto, permite-se que a autoridade estrangeira solicite a realização de diligências no País, tal como ocorre no âmbito das cartas rogatórias (art. 29 CPC/2015). - O auxílio direto tem como requisito decisão de autoridade nacional que, à luz do direito brasileiro, determinará a possibilidade do pedido. Há decisões do STF (monocráticas) que entendem que tratados podem estabelecer o auxílio direto entre os países. - Não se trata de subtrair competência do STJ, mas de estabelecer novas formas de Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 4 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado cooperação entre países, com vistas a tornar efetivo o exercício de jurisdição pelos Estados – o Brasil inclusive. Já há no Brasil com essa natureza desde 1965: alimentos: - Convenção sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro, ONU, 1956 – Decreto nº 56826/65; - Lei de Alimentos – lei nº 5478/68 veio implementar a convenção: art. 26 determina a competência da justiça federal da residência do devedor para as ações de alimentos. O credor, domiciliado no estrangeiro, procura a instituição intermediária de seu país, que entra em contato com a Procuradoria-Geral da República (instituição intermediária no Brasil) para que esta ajuíze ação de alimentos perante a justiça federal do local da residência do devedor. A União pode encaminhar a solicitação diretamente ao juízo federal competente. Arts. 33 e 34, CPC 2015: Art. 33. Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central o encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada. Parágrafo único. O Ministério Público requererá em juízo a medida solicitada quando for autoridade central. Art. 34 – Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional.” - A Justiça Federal se justifica em qualquer uma das 3 hipóteses: 1) Interesse da União na cooperação, em função da reciprocidade (art. 109, I da CF), independentemente de tratado firmado pelo Brasil; 2) A causa envolve Estado estrangeiro (substituído pela União, conforme tratado em vigor, se esse for o caso) e pessoa domiciliada no Brasil (art. 109, II); 3) A causa é fundada em tratado celebrado pelo País (art. 109, III). A pretensa inconstitucionalidade do auxílio direto foi afastado, prevalecendo a tese de que os mecanismos de cooperação internacional fixados na CF não constituem rol exaustivo, tampouco há violação da competência constitucionalmente estabelecida no fato de que outros órgãos do Poder Judiciário sejam competentes para apreciar pedidos de cooperação internacional. - Quanto à legitimidade para requerer medidas de auxílio direto, aplica-se o mesmo critério utilizado em matéria de rogatórias: a competência na origem. Assim, podem solicitar diligências as autoridades que, em seu país, de origem, podem postular as medidas que se buscam. Aplicação e prova do direito estrangeiro. Lei estrangeira é lei ou fato? Art. 337 do CPC 1973 – norma estrangeira é lei, não fato. Sua ignorância não pode ser alegada. Aplicada de ofício e em sua totalidade. Prova: informação diplomática ou certidão legalizada de dois profissionais – Código de Bustamante, 1929 A compreensão de que em determinadas circunstâncias faz-se mister aplicar lei emanada de outra soberania, porque assim se poderá fazer melhor justiça, e o reconhecimento de que em nada ofendemos nossa soberania, nosso sistema jurídico, pela aplicação de norma legal de outro sistema, esta tolerância, esta Profª Renata Tavares Henrique Mesquita Referências: ver Plano de Ensino da Disciplina 5 UniCEUB – Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Direito Internacional Privado largueza de visão jurídica, dos objetivos da lei – em sentido lato – refletem a grandeza de nossa disciplina, a importância de sua mensagem filosófica. A natureza jurídica da lei estrangeira: fato ou direito? Brasil: no CPC de 1973, o art. 337 ordenava que “a parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.” O CPC 2015 manteve a mesma regra no art. 376. Então, as regras constituem lei e não fato. Consequentemente, assim como o direito estadual e municipal, também o direito estrangeiro tem aplicação obrigatória, não ficando na dependência de invocação nem de comprovação pela parte a quem interessa. Protocolo Adicional aos Tratados de Montevidéu de 1889: art. 2º - a aplicação da lei estrangeira se processará de ofício pelo juiz da causa, sem prejuízo das partes poderem alegar e provar a existência e o conteúdo da lei invocada. A colaboração das partes é opcional e não afeta o princípio da sua aplicação de ofício pelo juiz da causa. Aplicação do Direito Estrangeiro Caracterizada a norma estrangeira como lei e não fato, segue-se que sua ignorância não é admitida. O juiz deve aplicá-la ex officio, pode invocá-la a qualquer tempo, em qualquer fase do processo. Em nosso regime processual pode ser objeto de recurso especial e de ação rescisória. Conferência Interamericana Especializada sobre DIPRI, Montevidéu, 1979: - os juízes e autoridades aplicarão o direito estrangeiro da mesma forma que ele seria aplicado pelos juízes do Estado cuja lei é aplicada, sem prejuízo do direito das partes de pleitear e provar a existência e o conteúdo da lei estrangeira invocada (art.2º). - todos os recursos previstos na Lei do foro serão admitidos nos casos em que o direito de qualquer um dos outros Estados seja aplicável. Equivalência do direito estrangeiro com o direito local (art. 4º) Prova do direito estrangeiro - Ao juiz ou à parte caberá apurar o direito estrangeiro, sua existência, seu conteúdo, sua vigência. - Código Bustamante, arts. 409 a 411, que contêm duas opções: 1) Certidão legalizada (e contemporânea) de dois advogados em exercíciono país cuja legislação se deseje conhecer: atestando o texto e a vigência da lei de seu país, devidamente acompanhada de certificado de que eles estão inscritos no colégio dos advogados do país em questão; 2) Informação via diplomática a ser fornecida pelo mais alto tribunal, pela Procuradoria-Geral, pela Secretaria ou pelo Ministério da Justiça do país cujo direito se queira aplicar. Haroldo Valladão: impossibilidade de conhecimento da lei estrangeira é problema raro, cada dia de menor interesse prático, facilmente apurável nos dias atuais.