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Avaliação de Desinfetantes em Odontologia

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CÉLIA REGINA GONÇALVES E SILVA 
AVALIAÇÃO DE DESINFETANTES DE SUPERFÍCIE 
UTILIZADOS EM ODONTOLOGIA 
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia, Campus de 
São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista "Júlio de 
Mesquita Filho", como parte dos requisitos para a obtenção do titulo 
de MESTRE, pelo Programa de Pós-Graduação em ODONTOLOGIA, 
Área de Concentração em Biopatologia Bucal 
Orientador: Prof. Adj.Antonio Olavo Cardoso Jorge 
São José dos Campos 
2000 
...... _ ...•. ~· 
Apresentação gráfica e normalização de acordo com: 
RIBEIRO, J.F. et ai. Roteiro para redação de monografias, trabalhos de 
curso, dissertações e teses. São José dos Campos, 1994. 63p. 
GONÇALVES E SILVA, C. R. Avaliação de desinfetantes de superfície 
utilizados em Odontologia. São José dos Campos, 2000. 93p. 
Dissertação (Mestrado em Odontologia). Faculdade de Odontologia, 
Campus de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista 
"Júlio de Mesquita Filho". 
Dedico este trabalho 
ao meu filho Thales, 
fonte do saber emocional e 
responsável pela minha proximidade a 
Deus 
Aos meus pais, Moacyr e Aparecida, por permitirem a 
minha vinda a esta terra, proporcionando mais uma 
etapa na minha infinita evolução 
Ao meu irmão Fernando, pelo carinho e apoio 
Ao meu marido Edson, por sua incomensurável 
capacidade de me fortalecer e incentivar, 
por seu companheirismo, dedicação e 
paciência. 
Ao Professor Adjunto ANTONIO OLAVO CARDOSO JORGE, 
com grande admiração como profissional e exemplo de ser 
humano; 
pela orientação, dedicação, compreensão, 
incentivo e amizade; meu eterno sentimento de 
gratidão. 
"To do saber e todo aumento de nosso 
saber, em vez de terminar em uma 
solução, dá antes início a nova dúvida. 
Aumentar o saber significa aumentar as 
dúvidas. E a cada resposta nova 
pergunta se segue" 
(Hermann Hesse) 
AGRADECIMENTOS 
A Professora Titular Maria Amélia Máximo de Araújo, Diretora da 
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - UNESP, pelo 
incentivo à pesquisa, 
A Professora Adjunta Yasmin Rodarte Carvalho, Coordenadora do 
Programa de Pós-Graduação, Area de Concentração em Biopatologia 
Bucal da UNESP-São José dos Campos, pelo incentivo e colaboração. 
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, 
Area de Biopatologia Bucal, pela dedicação, incentivos constantes, 
ensinamentos e competência. 
Aos funcionários e auxiliares de ensino do Laboratório de 
Microbiologia da Universidade de Taubaté, Sr. Cláudio Torino, Sra. Luzia 
Poulard Monteiro, Ivan da Silva de Faria e Jane Rose Dionísio Dias 
Rodrigues, pela amizade e ajuda indispensável durante a realização das 
técnicas laboratoriais. 
Ao Professor Luiz Fernando pela indicação estatística. 
A Professora Ângela Maria S. Maltas Pinto, Chefe do 
Departamento de Biologia da UNITAU, pela constante ajuda, incentivo e 
amizade. 
A Ângela Bellini, bibliotecária da UNESP de São José dos 
Campos, pela prestimosa normalização desta dissertação. 
A amiga Cristiana Yumi Koga lto, pela ajuda na coleta das 
amostras e colaboração na elaboração da metodologia desta dissertação. 
Aos colegas Professores do Disciplina de Microbiologia e 
Imunologia da UNITAU, pela colaboração na substituição de aulas nos 
momentos em que estive ausente. 
A UNITAU, pela bolsa concedida, apoio e colaboração. 
A Clélia Aparecida de Paiva Martins, pela colaboração na parte 
laboratorial deste trabalho. 
Ao Professor Daniel Fernando Vítor, pela correção ortográfica do 
texto. 
A Sílvia Scarpel, pela paciência e dedicação na formatação gráfica 
desta dissertação. 
Aos colegas de turma do Curso de Pós-Graduação Ana Lourdes, 
Mariella, Cláudia e Maria Lúcia (in memoriam), pela amizade e pela 
oportunidade da convivência e aprendizagem com cada um. 
As amigas Ciça e Leonidia, pela grande amizade, pelo incentivo e 
por acreditarem em minha capacidade de crescimento. 
A Doutora Iracema Marques Vieira Hirtsch, pela amizade e, 
colaboração, exemplo de profissional e de ser humano. 
SUMÁRIO 
LISTA DE ABREVIATURAS........................................................ 9 
1 INTRODUÇÃO........................................................................... 10 
2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................ 13 
3 PROPOSIÇÃO ........ .................. ..................... ........................ ...... 32 
4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................. 33 
4.1 Coleta de amostras . . . . . .................... ..................... ...................... 34 
4.2 Quantificação do número de microrganismos ... . ........................ 36 
4.3 Identificação dos microrganismos .............................................. 36 
4.3.1 Estafilococos ........................................................................... 36 
4.3.2 Estrepotococos do grupo mutans ........................................... 37 
4.3.3 Bacilos Gram negativos.......................................................... 39 
4.3.3 Leveduras do gênero Candida ................................................ 42 
4.4 Análise estatística dos resultados.............................................. 44 
5 RESULTADOS . . ............... .. ................... ......................... .............. 45 
6 DISCUSSÃO ................................................................................ 53 
7 CONCLUSOES ................ ................... ...................... ................... 70 
8 REFERÉNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 72 
ANEXOS..................................................................................... 83 
RESUMO..................................................................................... 92 
ABSTRACT .................................................................................. 93 
ADA 
AIDS 
API C 
BHI 
CDC 
EDTA 
EPA 
HAV 
HBV 
HIV 
HTLV-111/LAV 
KOH 
MRNP 
MRSA 
MRSSA 
MSBS 
Na CL 
OSHA's 
PVP 
PVPI 
RODAC 
s 
ns 
ufc/placa 
LISTA DE ABREVIATURAS 
American Dental Association 
Acquired lmmune Deficiency Syndrome 
Association for Practitioners in lnfection Control 
Brain Heart lnfusion 
Centers for Disease Control 
Acido Etilenodiaminotetracético 
Environmental Protection Agency 
Hepatitis A Virus 
Hepatitis B Virus 
Human lmmunodeficiency Virus 
T-celllymphotropic virus type III/ 
lymphadenopathy-associated virus 
Hidróxido de potassio 
Metil RedNogues Proskauer 
Staphy/ococcus resistente à meticilina 
Staphy/ococcus senslvel à Meticilina 
Mitis Salivarius Bacitracína Sacaroese 
Cloreto de Sódio 
Standards on Occupational Exposure to Blood 
borne Pathogens and Hazard Communication 
Polivinilpirrolidona 
Polivinilpírrolidona lodo 
Replicate Organisms Direct Agar Plates 
Significativo 
Não significativo 
Unidades formadoras de colônias por placa 
1 INTRODUÇÃO 
Prevenir infecção cruzada no consultório odontológico tem 
sido um grande desafio para cirurgiões dentistas, pesquisadores e 
microbiologistas. Na maior parte das vezes, os microrganismos tem 
vencido as medidas de segurança adotadas na atualidade, colocando em 
risco profissionais e pacientes. Por outro lado, a falta de cuidado de 
alguns profissionais com relação à biossegurança tem propiciado 
ocorrência de infecção cruzada no consultório odontológico (Ferreira 17, 
1995). 
Agentes patogênicos podem ser transferidos a partir da 
cavidade bucal do paciente para as superfícies do equipamento 
odontológico através do contato direto, dedos, instrumentos e respingos 
de sangue ou saliva (Autio6, 1980). 
A contaminação agrava-se nos consultórios pelo uso de 
equipamentos que produzem aerossóis, através dos quais os 
microrganismos podem ser lançados e espalhados até aproximadamente 
um metro ao redor do campo operatório. Assim, equipamentos 
odontológicos e acessórios dentro e ao redor da zona operatória podem 
tornar-se contaminados (Noro et al.45,1998). O aerossol salivar é 
considerado um importante veículo nas transmissões de doenças 
li 
infecciosas em consultórios odontológicos (Signoretto et al61 , 1994). As 
mãos do profissional contaminadas pela saliva e sangue também são de 
fundamental importância no processo de infecção cruzada quando não 
ocorre, por parte do profissional, uma desinfecção minuciosa ao término 
do atendimento a um paciente e início do atendimento a outro (Miller31 , 
1993; Jorge et ai. 24, 1998). 
Todo indivíduo atendido no consultório odontológico deve 
ser considerado como um provável portador de doença infecciosa pelas 
seguintes razões: a) possibilidade de transporte assintomático de 
patógenos; b) natureza sub-clínica de várias enfermidades, onde não se 
evidencia cllnica e laboratorialmente a presença do patógeno; c) o 
indivíduo pode estar contaminado sem apresentar anticorpos circulantes; 
ou seja, não ocorreu ainda soroconversão üanela imunológica). 
Conseqüentemente, o controle universal das infecções é de fundamental 
importância e envolve, na clínica odontológica, procedimentos como 
evolução rotineira do paciente, proteção do profissional e do paciente com 
técnicas de bloqueio mecânico e biológico, esterilização de instrumentais, 
desinfecção de superficies e equipamentos, e a eliminação apropriada de 
resíduos contaminados (Runnells51 , 1991; Samaranayake53, 1993; 
Miller", 1996). 
Nem todos os itens em um procedimento odontológico 
precisam, e na verdade, nem todos podem estar esterilizados. Existe, 
entretanto, a obrigatoriedade na limpeza e desinfecção na área de 
12 
procedimentos, antes do advento de cada paciente (Samaranayake et 
al.54,1993). 
Para realização da desinfecção de superfície, vários agentes 
químicos desinfetantes podem ser utilizados. O passo inicial para o 
processo de desinfecção incorre no conhecimento de cada um desses 
produtos, nos seus aspectos principais como: seu mecanismo de ação 
sobre os microrganismos, toxicidade para o manipulador e ação deletéria 
para o equipamento a ser desinfetado. A escolha adequada do 
desinfetante proporciona o sucesso do processo de desinfecção. 
O objetivo do presente trabalho foi analisar a ação de quatro 
desinfetantes (iodo povidine; álcool etílico 77°GL; solução alcoólica com 
5% clorexedina; composto fenólico) utilizados em clínicas odontológicas, 
no processo de desinfecção de superfícies presentes no consultório. 
2 REVISÃO DA LITERATURA 
A espécie humana é hospedeira para um grande número de 
microrganismos. Além da microbiota humana normal, algumas espécies 
de microrganismos são consideradas oportunistas; dentre elas, existem 
pelo menos uma centena que podem causar infecções com relativa 
freqüência (Mims et al.35, 1995). Mais de trezentas espécies diferentes de 
microrganismos têm a cavidade bucal como habffat natural, fazendo parte 
da microbiota (Ferreira, 1995). 
No ambiente odontológico, os procedimentos clínicos 
envolvem o contato do profissional com sangue humano, tecidos ou 
secreções, podendo desencadear um processo de infecção cruzada. 
Agentes infecciosos podem ser transmitidos entre pacientes e o pessoal 
odontológico dentro do ambiente clínico, através do contato de pessoa a 
pessoa, através de aerossóis ou por vias de objetos e ambientes 
contaminados (Samaranayake53, 1993; ADA5, 1996; Cannata et al.12, 
1997; Terezhalmy & Gitto64 et ai., 1998). 
A infecção por qualquer um desses vetares requer um 
hospedeiro susceptivel, um patógeno com virulência e números 
suficientes, e a maneira pelo qual o patógeno invade o hospedeiro, para 
que possam causar infecção (Terezhalmy & Gitto64, 1998). 
14 
Agentes patogênicos de interesse em odontologia são 
primeiramente transferidos através do cantata direto, através dos dedos 
ou instrumentos, ou através de respingos de sangue e/ou saliva a partir 
da cavidade bucal (Runnells51 , 1991 ). 
A transmissão desses agentes é agravada na clínica 
odontológica pela utilização de equipamentos que produzem aerossóis, 
onde goticulas repletas de microrganismos permanecem suspensas no 
ambiente, contaminando aproximadamente um metro ao redor do campo 
operatório, depositando-se a seguir na superfície dos equipamentos 
(Signoretto et al61 , 1994; Noro et al.45 , 1998). 
O sangue e a saliva podem carregar grandes concentrações 
de vírus e bactérias potencialmente infecciosos, podendo causar 
resfriados comuns, herpes, hepatite B, pneumonia e tuberculose, assim 
como a transmissão do vírus da Síndrome de lmunodeficiência Adquirida 
(AIOS). Os profissionais da área odontológica têm como primeira 
responsabilidade o controle de infecção cruzada dentro de seu ambiente 
de trabalho, pois quando procedimentos de desinfecção não são 
praticados, o ciclo de infecção cruzada pode ocorrer, colocando paciente 
e demais pessoas da equipe, assim como o próprio dentista, em 
exposição à infecção (AOA2, 1985). 
Comumente, novas descobertas são anunciadas por várias 
fontes a respeito da Sindrome de lmunodeficiência Adquirida (AIOS) e 
suas conseqüências. Dentistas em sua profissão têm particular interesse 
15 
nesse assunto, em decorrência do contato diário com sangue e saliva de 
seus pacientes, aumentando o risco da exposição a essa doença e a 
outras (ADA4, 1986). 
Miller"" (1992), demostrou presença de sangue e saliva em 
superfícies do ambiente odontológico, área operatória e laboratório, 
dentre outros ambientes, o que pode servir como fonte de contaminação 
para pacientes, profissionais e demais pessoas que tenham cantata com 
essas superfícies. 
As mãos dos profissionais de saúde bucal contaminadas 
com sangue e saliva contaminam superfícies como manopla de refletor, 
alça do catter, seringas de ar e água, mangueiras de sucção, 
interruptores, puxadores de gaveta, controles de cadeira, prontuários de 
pacientes e todos os materiais manuseados, podendo também contaminar 
o próprio profissional através do ato de tocar os olhos, nariz, boca ou 
lesões de pele (Crawford14, 1986; Miller & Palenik33, 1994). 
Um significante estudo feito por Autio et al 6 (1980), 
demonstrou a transmissão de leveduras e bactérias respiratórias 
patogênicas da boca de pacientes para a boca de outros, 
sucessivamente, depois de exames radiográficos. Os autores 
demonstraram também que superfícies operatórias contaminadas podem 
agir como fômites quando procedimentos de controle de infecção não são 
executados. 
16 
Edmunds & Rawlinson16 (1996), demonstraram a 
contaminação freqüente em procedimentos na clínica de periodontia, de 
superfícies próximas à área de trabalho com sangue, tais como: 
cuspideira, sugador, aparelho ultra-sônico, superfícies, cantos e bordas de 
equipamentos. Sendo o sangue um potencial carreador de numerosos 
agentes infecciosos, a necessidade de um controle, como o processo de 
desinfecção, denota uma conotação importante com o objetivo de evitar 
infecção cruzada. 
Fonte de infecção no consultório pode compreender 
pacientes que sofrem doenças infecciosas, pacientes em estágios 
prodrômicos de infecções e portadores saudáveis de patógenos 
(Samaranayake53, 1993). 
Agentes etiológicos da hepatite B e C, virus do herpes 
simples, da AIOS, do sarampo e caxumba, e demais vírus respiratórios, 
assim como agentes bacterianos como Neísserias, treponemas, 
micobactérias e Streptococcus pyogenes, já foram descritos em ambiente 
odontológicos, fazendo parte no processo de infecção cruzada. Esses 
microrganismos são considerados indicadores de contaminação ambiental 
(Cottone & Molinari13, 1991; Edmunds & Rawlinson16, 1998; Hackney 
Junior, et al16, 1996). 
O vírus da hepatite tipo B pode ser transmitido por via 
parenteral e não parenteral, e está presente em vários fluidos e secreções 
humanas. O vírus da hepatite B tem sido detectado em sangue e saliva, 
17 
sendo comum contaminações de ambientes odontológicos por esse 
microrganismo (Schiff et aL58, 1986).Outros microrganismos pertencentes à microbiota de pele e 
mucosas também são descritos como indicadores potenciais de 
contaminação em ambiente odontológico, e podem estar presentes nos 
aerossóis, como Staphy/ococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, 
Streptococcus mutans, Streptococcus mifis, Streptococcus salivarius, 
Corynebacterium diphtheriae, Bacteroides fragi/is e peptoestreptococos. 
A presença de Escherichia co/i no ambiente odontológico é indicativo de 
poluição fecal (Stephens et aL63, 1994). 
Noro et al.45 (1995), Noro et al.46 (1998) demonstraram que 
estreptococos bucais são indicadores de contaminação do ambiente em 
clínica odontológica durante o tratamento dentário. A simples detecção de 
estreptococos bucais no espaço cllnico incorre em indicação sugestiva da 
possibilidade de infecção. 
Hackney Junior et aL 18 (1998), utilizaram estreptococos 
viridantes como indicadores biológicos de contaminação bucaL Estes 
microrganismos encontrados abundantemente na saliva humana foram 
encontrados em superfícies e equipamentos após tratamento 
odontológico. Os autores observaram que do total de 91 amostras 
estudadas, após procedimentos de tratamento dentário, 54% mostraram-
se positivas para estreptococos alfa-hemolíticas, indicando contaminação 
do ambiente pela saliva. 
18 
Outro estudo efetuado por Bentley et al8 (1980), com 
amostras de microrganismos e com corantes, mostrou que a superfície de 
equipamentos operatórios manuseados durante tratamento bucal pode se 
tornar contaminada. 
Legnani et al 26 (1994), analisaram a contaminação 
atmosférica antes, durante, e após procedimentos odontológicos, onde 
profissionais utilizavam equipamentos que geram aerossóis, tais como; 
caneta de alta e baixa rotação, instrumentos ultra-sônicos e aparelhos de 
jatos de bicarbonato. Os autores concluíram que durante as horas de 
trabalho, a média dos valores da carga microbiana transmitida pelo ar é 
três vezes maior que o momento inicial; portanto, pacientes, equipe de 
trabalho, superfícies e objetos no consultório estão em grande risco de 
exposição. Depois que muitos pacientes são tratados, a contaminação 
microbiana no final do dia será bem maior, e grandes quantidades de 
diferentes espécies microbianas podem estar presentes no consultório 
dentário, mostrando a importância de limitar as concentrações 
microbiológicas ambientais para reduzir a exposição e fatores de risco, 
através de protocolos pré-estabelecidos. 
A saliva não visível e locais contaminados são facilmente 
negligenciados. Na rotina do consultório dentário, o tempo utilizado para 
limpeza e desinfecção entre os pacientes é geralmente inadequado. 
Esses fatores associados fazem do material operatório e as superflcies 
livres de contaminação um difícil desafio (Hackney Junior et al.18, 1998). 
19 
Deter transmissão de infecçao no consultório odontológico 
tem sido um grande desafio para cirurgiões-dentistas, pesquisadores e 
microbiologistas. Na maior parte das vezes, os microrganismos têm 
vencido as medidas de segurança adotadas na atualidade, colocando em 
risco profissionais e pacientes. Por outro lado, a falta de cuidado de 
alguns profissionais com relação à biossegurança tem propiciado a 
intensificação do ciclo da infecção cruzada no consultório odontológico 
(Ferreira17, 1995). 
Cada membro da equipe odontológica tem por obrigação 
moral, ética e legal, não somente fornecer os cuidados dentários para 
todos os pacientes que procuram tratamento, mas também de fazê-lo de 
tal forma que o ambiente esteja livre de perigos de infecção 
(Samaranayake et ai. 54, 1993). 
A aparência de um consultório, limpo, em cores neutras ou 
branco, bem decorado, nem sempre implica que ele esteja devidamente 
desinfetado e os equipamentos esterilizados. Essa consciência foi 
reforçada nos últimos 15 anos com o advento da AIDS; epidemia que 
também foi responsável pela tomada de consciência dos profissionais de 
saúde para a necessidade de adotar medidas preventivas. A magnitude 
da pandemia causada pelo HIV tem incrementado muito os 
conhecimentos no sentido de evitar a sua disseminação no processo de 
infecçao cruzada (Davis & Knapp15, 1984; Barnes7 , 1986 Ferreira17, 
1995;). 
20 
O problema é particularmente agudo para cirurgiões-
dentistas e pessoas que trabalham com saúde em geral, apesar da 
observação das precauções universais em relação a sangue e fluídos. O 
Centro de Controle de Doença e Prevenção (CDC) salienta que os 
profissionais da área da saúde sofrem em média dois mil pequenos 
ferimentos por agulhas diariamente nos EUA (Regníer48, 1994). 
A eficácia da transmissão do Vírus de Linfócito T Humano/ 
vírus Linfoadenopatía associado (HTLV-111/LAV) através de acidentes com 
agulhas contaminadas é de 0,35 a 0,47%. O HTLV-111/LAV não é capaz de 
suportar a exposição a vários níveis de temperatura e mudanças de 
umidade, mas é estável o suficiente para permanecer viável e reter 
infectividade por mais de três dias quando seco e mantido em 
temperatura ambiente. O vírus resiste a mais de uma semana em 
ambiente aquoso e temperatura ambiente. Assim, itens usados no 
cuidado com o paciente que venha a ter contato com qualquer fluído 
biológico de um indivíduo infectado é potencialmente infectivo, pelo 
menos por uma semana, se o nicho for mantido com umidade (Resníck et 
al.49, 1986; Shíkaní et a1.62, 1996). 
Conseqüentemente, o controle universal das infecções é de 
fundamental importância e envolve na clínica odontológica procedimentos 
como evolução rotineira do paciente, proteção do profissional e do 
paciente com técnicas de bloqueio mecânico e biológico, esterilização do 
··--.·--
21 
instrumental, desinfecção de superfícies e equipamentos e a eliminação 
apropriada de resíduos contaminados (Runells51 , 1991; Miller'"', 1996). 
Desinfecção é definido como um processo que elimina 
muitos ou todos os microrganismos patogénicos, com exceção de 
bactérias esporuladas e alguns vírus, em objetos inanimados ou 
superfícies (Molinari39, 1985; Molinari et al42, 1988). É um processo 
menos letal para os microrganismos patogénicos do que a esterilização; 
leva à redução no nível de contaminação microbiana e cobre, 
dependendo do procedimento, do desinfetante usado e tempo de 
tratamento, ampla gama de atividades que pode se estender da 
esterilidade em um extremo, para uma redução mínima da contaminação 
microbiana no outro (Biock10, 1991). 
A desinfecção pode ser conseguida através do uso de 
desinfetantes químicos. Quando soluções químicas são usadas para 
desinfecção, as instruções do fabricante devem ser seguidas 
cuidadosamente e particular atenção deve ser dada aos requisitos de 
diluição, tempo de contato, requisitos de temperatura, espectro de 
atividade antimicrobiana e durabilidade (ADA5, 1996). 
O desinfetante ideal deve possuir amplo espectro, ação 
rápida, não ser afetado por fatores físicos, ser atóxico, hipoalergênico, 
compatível à superflcie e ter efeito residual. Deve também ser de fácil 
utilização, ser económico e inodoro (Molinari38, 1990; Molinari, 199141 ; 
Verhagen66, 1998). 
22 
Nenhuma fórmula dos produtos químicos disponíveis vai de 
encontro a uma lista completa de padrões ideais; todas têm vantagens e 
desvantagens. A escolha depende do ambiente cllnico, tipo e 
características do equipamento a ser desinfetado e reações adversas 
potenciais dos trabalhadores da área de saúde que rotineiramente usam 
tais produtos ( Molinari40, 1995). 
Informações e recomendações para desinfetantes de 
superfícies 1êm sido providenciadas por vários órgaos como o Centro de 
Controle de Doenças e Prevenção (CDC), Associação Dentária 
Americana (ADA), Agência de Proteção Ambiental (EPA) e Associação 
para Proteção em Controle de Infecção (APIC). Dentistas utilizam essas 
recomendações e informações do fabricante na tentativa de chegar a uma 
decisão responsável a respeito de quais produtossão seguros, efetivos e 
econômicos para uso em clínicas odontológicas (Stephens et aL63, 1994). 
A ADA1 (1988) e Miller32 (1996), reportaram que qualquer 
um dos vários tipos de desinfetantes de superfície podem ser utilizados, 
desde que três itens importantes sejam procurados na escolha do 
produto: deve ser um produto registrado pelo EPA, isto é, indicado através 
de uma marca no rótulo do produto EPA - seguido pelo número do 
registro; deve ser indicado para uso como sendo um desinfetante de 
superfície em instalações relacionadas aos cuidados da saúde; e além 
disso, o produto escolhido deve ser rotulado como um tuberculocida. A 
23 
atividade tuberculocida indica que o produto pode fornecer um dos mais 
altos níveis de capacidade de matar microrganismos. 
Existem vários desinfetantes de superfícies aceitos pela 
ADA, que representam diferentes categorias químicas, tais como: cloros, 
iodóforos, combinações sintéticas de fenóis, fenóis fenólicos e fenóis 
alcoólicos. Agentes ativos em produtos tuberculocídas para desinfecção 
de superfície incluem hipoclorito, iodóforos, fenólicos sintéticos a base de 
água, fenólicos sintéticos a base de álcool, e componentes de amônio 
quaternário em álcool ( Míller30, 1992; Míller32, 1996). 
O iodo é um extraordinário microbiocida, que além de ser 
virucida, é bactericida, micobactericida, e que se deixado em cantata com 
os microrganismos por tempo suficiente é também fungicida e esporocida 
(Berkelman et al9 , 1982). Os mecanismos de ação sugeridos incluem 
bloqueio de certos aminoácidos essenciais, resultando em uma 
interrupção de estruturas protéicas e slntese de ácidos nucléicos. O iodo 
possui efeito oxidante nos grupos S-H e S-S que são essenciais para a 
produção de proteínas; causa também dano ao envelope virai (Rutala52, 
1990). 
O íon iodo tem uma alta reatividade que lhe confere um 
grande poder germicida, alua por iodização das protelnas e, 
conseqüentemente, forma sais de proteínas. Formulações modernas de 
soluções de iodo eliminaram os fatores negativos dessa substância. 
Nessas formas, o iodo fica preso em complexos dissociáveis que vão 
24 
liberando partículas do produto nas concentrações ideais de atuação, são 
denominados iodóforos (Lima & lto27, 1995). 
Como desinfetantes de superfícies, os compostos de iodo 
possuem as vantagens de serem registrados pelo EPA e de serem 
aceitos pela ADA como desinfetante de superfície. Possuem largo 
espectro com ação bactericida, virucida e tuberculocida; são económicos; 
eficazes em soluções diluídas e têm ação germicida residual. Possuem 
algumas desvantagens, tais como: não são esterilizantes, são instáveis 
em altas temperaturas e sob a ação da luz, podem alterar a cor de certas 
superflcies, necessitam de anti-corrosivos e são inativados pela água dura 
(1:200) e pelo álcool (Verhagen66, 1998). 
Shikani et a1. 62 (1996), observaram em estudos realizados in 
vitro, que o HIV é eficazmente inativado por complexos de iodo em 
poliuretano, num período de tempo relativamente curto. Observação 
especial feita pelos autores, é que o iodo foi complexado com sucesso em 
poliuretano de maneira estável, de tal forma que começaria a ser liberado 
somente depois que o polimero entrasse em contato com fluidos 
contaminados e a liberação foi sustentada eficazmente inativando o vírus. 
Mbithi et al.29 (1990), fizeram estudos com desinfecção 
química com o vírus da hepatite A em superfícies ambientais e concluiram 
que compostos de iodo testados, iodóforos 9,1%, iodóforos 8,74% 
diluição 1:173 e iodóforos 3,125% não diluídos, não foram efetivos contra 
o vírus da hepatite A (HAV). 
25 
Tradicionalmente os alcoóis etüico e isopropilico têm sido 
utilizados para desinfecção de superfícies e anti-sepsia de pele. São 
bactericidas de baixa potência, eficientes desnaturantes de proteínas e 
solventes de lipídios. Sua característica de solubilizar lipídios acentua sua 
ação antimicrobiana devido ao efeito sobre vírus que apresentam 
envelope, tais como herpes vírus. Possuem ação também sobre o bacilo 
da tuberculose, mas são ineficazes para vírus hidrofilicos como o virus da 
hepatite B (HBV}. Quando puro, o álcool é menos eficaz que quando 
misturado à água, pois facilita a desnaturação de proteínas. Pode não ser 
efetivo na presença de proteínas teciduais normalmente encontradas na 
saliva e no sangue, não pode ser considerado como agente de limpeza 
efetivo, bem como na preparação de procedimentos de desinfecção e 
esterilização. A rápida evaporação após sua aplicação em superfícies 
ambientais também limita a atividade do álcool sobre vírus e bactérias 
com cobertura protéica, que são comumente encontrados em aerossóis 
gerados durante procedimentos odontológicos. Por essas razões não são 
aceitos pelo ADA e pelo CDC como desinfetantes de superfícies para 
consultórios odontológicos (Molinari36, 1990; Samaranayake53, 1993; 
Ferreira17, 1995; Jorge22, 1998). 
O álcool precipita proteínas da saliva e sangue, tornando-as 
insolúveis e adesivas à maioria das superfícies do ambiente exposto, 
dificultando a remoção dessas proteínas que podem estar presentes. Não 
são também considerados bons limpadores (Cottone & Molinari13, 1991). 
26 
Desinfetantes com alto conteúdo de álcool não são 
recomendados para superficies devido a sua rápida evaporação e 
propensão para precipitar proteinas da saliva e sangue, fazendo com que 
o processo de limpeza se torne complicado (Samaranayake53, 1993}. 
Álcool isopropilico combinado com gluconato de clorexidina 
tem sido descrito como efetivo contra rotavirus. Transmissões 
experimentais em chimpanzés demonstram que o álcool 70% e etanol 
80% são efetivos contra o virus da hepatite B com um tempo de 
exposição de dez e dois minutos, respectivamente. Isso não ocorre com o 
vlrus da hepatite A. Desinfetantes alcóolicos, em combinação com 
compostos de amônio quaternário, etilenoglicol, propilenoglicol, gluconato 
de clorexidina, fenol, iodo e ácido fosfórico, foram insuficientes para 
inativar o virus com tempo de contato de 1 minuto (Mbithi et al.29, 1990). 
Van Bueren et al65 (1994), após desenvolverem protocolos 
para medir a eficácia de álcool contra o HIV, observaram que altos títulos 
de HIV em suspensão foram rapidamente inativados pelo etanol a 70%, 
independente da carga de protelnas existentes. O mesmo não ocorreu 
entretanto, quando o virus secou em uma superficie de vidro. A taxa de 
inativação do HIV diminuiu quando niveis altos de proteinas estavam 
presentes. Os autores concluiram que devido a sua rápida evaporação, 
em spray ou em enxágUe com álcool, não pode ser garantido para 
desinfetar uma superfície contaminada com sangue ou outros fluidos 
orgânicos sem uma limpeza preliminar. 
27 
A pulverização de ácido fênico durante uma cirurgia foi a 
primeira medida de anti-sepsia adotada por Lister, cirurgião inglês em 
1869. No entanto esse produto não tem sido utilizado em virtude de sua 
toxicidade tecidual. Posteriormente, vários desinfetantes e anti-sépticos 
taram desenvolvidos a partir do ácido fênico (Lima & lto27 , 1995). Esses 
produtos pertencem ao grupo dos compostos fenólicos, os fenóis naturais, 
obtidos pela destilação de hulha, e os fenóis sintéticos, obtidos a partir de 
síntese orgânica realizada industrialmente_ Ao contrário dos fenóis 
naturais, os sintéticos apresentam maior atividade germicida, menor 
toxicidade e odor mais agradável, sendo assim, os mais utilizados. Em 
alta concentração o fenol age como um veneno, penetrando e rompendo 
parede das células e precipitando proteínas celulares. Em baixa 
concentração causa a morte de bactérias pela inativação das enzimas e 
pela interferência no metabolismo da parede celular (Secretaria do Estado 
de São Paulo59, 1993). 
Soluções de fenóis sintéticos, em associação com sabões e 
detergentes aniônicos, ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e 
antioxidantes, são indicadospara limpeza, desinfecção e desodorização 
simultânea de áreas críticas e semi-críticas, contaminadas com pus, 
sangue, urina, fezes e outras secreções. Não sendo voláteis, esses fenóis 
se depositam sobre as superfícies em que são aplicados, e 
posteriormente reagem com a umidade, passando então a exercer ação 
antimicrobiana residual (Ministério da Saúde'7, 1987). 
28 
Os fenóis possuem a vantagem de serem eficazes na 
presença de resíduos orgânicos, o que os torna úteis quando a remoção 
completa é impossível ou não é prática. As superfícies metálicas podem 
ser desinfetadas pelos compostos fenólicos sintéticos na diluição aquosa 
de 1:50 (Ferreira 17, 1995). Esses produtos também servem como 
eficientes agentes de limpeza e são eficazes mesmo em presença de 
detergentes. O uso dos mesmos em consultórios odontológicos tem dado 
resultados excelentes para desinfecção de superfície (Cottone & 
Molinari13, 1991; Lima & lto27, 1995). 
Os fenóis são efetivos agentes antimicrobianos devido a sua 
habilidade de penetração em membranas. Essa habilidade, entretanto, 
pode causar irritação de tecidos epiteliais com prolongada exposição 
(Molinari38, 1990). 
Pode-se também utilizar combinações de agentes fenólicos 
sintéticos que trabalham sinergicamente. Quando utilizados de acordo 
com instruções dos fornecedores, as fórmulas oferecem amplo espectro 
de atividade microbiana e efeito biocida residual, são agentes 
tuberculocidas, bons limpadores de superfície e eficazes na presença de 
detergentes. Algumas desvantagens incluem o fato de serem de dificil 
enxágUe, ficando acumulados, podendo degradar certos plásticos e 
lentes, necessitam ser diluídos diariamente, não são esporocidas e são 
irritantes para pele e olhos (Lima & lto27, 1995; Verhagen66 ,1998). 
29 
Clorexidina é um germicida do grupo das biguanidas, possui 
baixa toxicidade, incompatível com cortiça, sabão e detergentes 
aniônicos. Existem atualmente duas formulações básicas satisfatórias: 
solução de gluconato de clorexidina a 0,5% em álcool etílico 70% e 
solução aquosa detergente não iônica de clorexidina a 4%, contendo 4% 
de álcool isopropílico ou 70% de álcool etílico para evitar a contaminação 
de Proteus e Pseudomonas. Soluções aquosas de clorexidina inferior a 
4% com ou sem cetrimide, contaminam-se com esses microrganismos e 
podem provocar surtos de infecção, sendo por isso, consideradas 
inadequadas para uso hospitalar (Ministério da Saúde37, 1987). 
Anti-séptico popular, a clorexidina é ativa contra bactérias 
Gram-positivas e Gram-negativas, sendo para esse grupo menos 
eficiente, e contra muitos fungos, mas não é utilizada contra 
mícobactérias, esporos bacterianos e vírus. Seu mecanismo de ação é a 
interferência na permeabilidade da membrana plasmática e enzimas 
associadas à membrana. É, entretanto, ativa contra envelopes virais. A 
clorexidina é não-tóxica para humanos, mantém atividade antimicrobiana 
por várias horas, e é ativa em presença de sabão e substâncias 
orgânicas. Tem sido usada extensivamente como anti-séptico para 
lavagens cirúrgicas, limpeza de pele e mucosas, e descontaminação de 
ferimentos (McKane & Kandel28, 1996). 
Assim como é importante limpar um instrumental antes que 
ele seja aquecido ou esterilizado quimicamente, é igualmente importante 
30 
limpar a superfície ambiental antes da desinfecção. Pré-limpeza 
proporciona a redução de resíduos biológicos na superfície e facilita a 
desinfecção. Superfícies não encapadas com materiais protetores 
necessitam, antes do processo de desinfecção, ser limpas, como indicado 
pelo CDC, pela padronização final de patógenos transmitidos pelo sangue 
OSHA's e pelas orientações de rótulos nos frascos de desinfetantes de 
superfícies (Miller30, 1992). 
A desinfecção de superfícies inanimadas é descrita pela 
técnica Spray-Wipe-Spray: o borrifo inicial e o esfregar papel toalha 
vigorosamente proporcionam uma pré-limpeza da superfície, o segundo 
borrifo sobre a superfície já limpa proporciona a desinfecção. A etapa de 
pré-limpeza não deve ser negligenciada, já que ela pode determinar o 
sucesso da etapa de desinfecção a seguir (Molinari38, 1990; Miller"', 1992; 
Miller31 , 1993; Samaranayake53, 1993). 
Alguns desinfetantes de superfície são também bons 
agentes limpadores, tais como, os iodóforos diluídos, cloro ou fenóis 
sintéticos. Possuem tanto propriedades limpantes quanto desinfetantes, 
para o uso na pré-limpeza, bem como na desinfecção (Molinari42, 1988; 
Miller"', 1992). Outros produtos formulados com alto conteúdo de álcool 
são geralmente pouco eficazes como limpadores, pois precipitam 
proteínas da saliva e sangue, tornando mais difícil a remoção dessas 
proteínas da superfície (Cottone & Molinari13, 1991). 
3! 
Em decorrência de agentes antimicrobianos disponíveis 
atualmente poderem se combinar com detritos orgânicos em superfícies 
contaminadas, nenhum dos produtos químicos funcionam 
apropriadamente sem uma limpeza prévia. A limpeza envolve um 
procedimento básico antigo, onde ocorre a remoção de detritos orgânicos 
que podem interferir na assepsia subseqüente e a redução na 
concentração de microrganismos presentes na superficie. Agentes 
limpantes baseados em água auxiliam solubilizando o material orgânico 
(Miller31 , 1993; Molinari40, 1995). 
O uso de um único produto para ambas as etapas de pré-
limpeza e desinfecção tem vantagens definitivas. Escolher um agente de 
pré-limpeza é simplificado quando se conhece o propósito de uma pré-
limpeza; que é remover o material orgânico. Isso é conseguido com 
eficácia quando usa-se soluções baseadas em água que contém 
detergentes e sabão. 
3 PROPOSIÇÃO 
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficácia de 
desinfetantes de superfície utilizados em odontologia, verificando-se: 
a) microrganismos presentes na superfície de quatro pontos 
determinados do equipamento odontológico; 
b) redução da quantidade de microrganismos nos pontos 
determinados, após realização de desinfecção, utilizando 
os seguintes desinfetantes: iodo povidine, álcool etílico 
77°GL, solução alcoólica com 5% de clorexidina e 
composto fenólico. 
4 MATERIAL E MÉTODOS 
Foram coletadas amostras de quatro diferentes pontos da 
superfície de cinqüenta equipamentos das Clinicas do Departamento de 
Odontologia da Universidade de Taubaté, após procedimentos de 
atendimento odontológico de rotina. Foram utilizados os seguintes pontos 
para coleta: 
a) ponto 1 - Carferdo equipamento odontológico; 
b) ponto 2- Encosto de cabeça da cadeira odontológica; 
c) ponto 3- Superfície frontal externa do reftetor; 
d) ponto 4- Superfície da pia de lavagem de maos. 
As amostras foram coletadas utilizando-se placas de 
superfície tipo Replica/e Organisms Direct Agar Plates (RODAC, Politec) 
contendo os seguintes meios de cultura: 
a) ágar sangue: utilizado para crescimento total de 
microrganismos; 
b) ágar Mitis Sa/ivarius (Difco), adicionado de 3,3 mg/mL 
de Bacitracina (lnlab) e 15% de sacarose (Difco) por 
litro. Constitui-se meio seletivo para crescimento de 
estreptococos do grupo mutans; 
34 
c) ágar Sabouraud Dextrose (Difco) adicionado de O, 1g de 
Cloranfenicol (Carla Erba), para o crescimento de 
leveduras (Anexo B); 
d) ágar Mac Conkey (Difco) para o crescimento de bactérias 
Gram negativas. 
Após preparo, 11 mL dos respectivos meios de cultura a 
45°C foram distribuídos em placas de superfícies descartáveis 
lentamente, com auxilio de pipeta graduada estéril em ambiente 
asséptico, proporcionando a formação de um menisco acima da borda da 
cavidade da placa, sem a formação de bolhas de ar. De cada meio de 
cultura algumas placas foram selecionadas para teste de comprovação de 
esterilização. O restante foi embalado adequadamente e mantido em 
geladeira até sua utilização. 
4.1 Coleta de amostras 
Após os procedimentos odontológicos de rotina nos quatro 
pontos selecionados, foi efetuadauma limpeza prévia com gaze 
esterilizada para a retirada de resíduos e/ou materiais orgânicos, como, 
saliva, sangue e tecidos. Foi utilizada a técnica Spray-Wipe-Spray, na 
qual borrifou-se a substância a ser testada com spray e, posteriormente, 
com gaze esterilizada efetuou-se a limpeza da superfície com movimentos 
continues em um só sentido; borrifou-se novamente o produto realizando 
a mesma técnica descrita. 
35 
Após 5 minutos para a secagem e ação do produto utilizado, 
as placas contendo os meios de cultura foram adicionadas, nos pontos 
descritos, pressionando-se delicadamente a superfície do ágar no ponto 
selecionado, evitando-se desprendimento ou deformação do mesmo. Os 
meios de cultura ficaram em contato com a superflcíe dos pontos durante 
1 minuto, após o que as tampas foram recolocadas nas placas. 
Posteriormente à coleta, foi realizada limpeza em cada área 
amostrada com algodão embebido em álcool etílico para retirada dos 
resíduos de meios de cultura da superficie, que eventualmente estavam 
presentes. 
O procedimento descrito foi realizado para os seguintes 
desinfetantes: iodo povidine com 1% de iodo ativo {LM.Farma), álcool 
etílico 77°GL (Parati 92,8° INPM, 96° GL), solução de álcool etllico 77°GL 
com 5% de clorexidina (Manipulário) e composto fenólico {Duplofen). 
Como controle foi efetuada a mesma técnica descrita, 
utilizando-se água destilada esterilizada. A seguir, as placas foram 
incubadas a 37°C, sendo a primeira leitura efetuada após 24 horas e a 
segunda leitura após 48 horas. As placas contendo ágar sangue e ágar 
Mitis Salivarius Bacitracina Sacarose foram incubadas em estufa com 
teor de 5% de C02. As placas contendo ágar Sabouraud dextrose foram 
mantidas à temperatura ambiente por mais 5 dias. 
36 
4.2 Quantificação do número de microrganismos 
Após incubação, as colônias de microrganismos foram 
contadas e os resultados expressos em unidades formadoras de colônias 
por placa (ufclplaca). 
4.3 Identificação dos microrganismos 
Para o processo de identificação dos microrganismos foram 
selecionadas placas com colônias sugestivas de estafilococos, 
estreptococos do grupo mutans, bacilos Gram-negativos e leveduras. 
4.3.1 Estafilococos 
Nas colônias caracterlsticas de estafilococos, foram 
realizados esfregaços corados pelo método de Gram, nos quais foram 
observadas características morfológicas e tintoriais. A seguir, foi obtida 
cultura pura em caldo infuso de cérebro-coração (BHI, Difco). Nas culturas 
puras obtidas foram realizadas as seguintes provas para identificação: 
a) produção de enzima catalase: foi efetuada colocando-se 
água oxigenada a 3% (Anexo 8) sobre uma aliquota da 
cultura pura contendo microrganismos a serem testados, 
observando-se produção de bolhas de gás, quando a 
prova é positiva; 
37 
b) semeadura em ágar salgado: nas amostras produtoras de 
catalase foi realizado a semeadura por esgotamento em 
placas de ágar salgado ( 7,5% de NaCI - Synth, p.a.), 
tendo como base o meio ágar-nutriente (Difco) (Anexo B), 
essas placas foram incubadas a 37°C durante 24 horas: 
crescimento neste meio proporciona a diferenciação dos 
estafilococos dos micrococos e estomatococos que 
também são catalase-positivos: 
c) produção de enzima coagulase: para as colônias que 
cresceram no ágar salgado foi efetuada a prova da 
coagulase, colocando-se uma alçada de cultura de 
estafilococos em 0,5mL de plasma humano contendo 
anticoagulante (heparina). Após incubação de 18-24 
horas, foi observada formação de coágulo quando ocorreu 
produção da enzima coagulase. Na interpretação dos 
resultados considerou-se presença de estafilococos 
coagulase-positivo e coagulase-negativo. 
4.3.2 Estreptococos do grupo mutans 
Nas colônias convexas, opacas com aparência de vidro 
esmerilhado obtidas no meio ágar Mitis Sa/ivarius Bacitracina Sacarose, 
38 
sugestivos de estreptococos, foram realizados esfregaços corados pelo 
método de Gram. 
Quando da presença de cocos Gram-positivos, foram 
obtidas culturas puras em caldo BHI (Difco). 
As culturas puras foram submetidas às seguintes provas: 
a) fermentação de manitol e sorbitol: foi adicionado O, 1 mL 
de cultura pura do microrganismo (cultura em caldo BHI a 
37°C durante 48 horas) em meio base (caldo BHI) 
contendo o açúcar manitol ou sorbitol e púrpura de 
bromocresol. Essa cultura foi incubada durante 48 horas a 
37°C. Na prova positiva ocorreu a mudança de cor do 
meio de roxo para amarelo devido à fermentação do 
açúcar e produção de ácido; 
b) hidrólise da esculina: foi adicionado 0,1mL de cultura pura 
do microrganismo em meio base contendo esculina 
(Anexo B). Essa cultura foi incubada por um período de 
48 horas a 37°C. Após o crescimento, foi adicionado 
cloreto férrico (Anexo B), para observar a formação de cor 
verde-escuro, quando de prova positiva, ocasionado pela 
capacidade da bactéria de hidrolisar a esculina; 
c) hidrólise da arginina: foi adicionado O, 1mL de cultura pura 
do microrganismo em meio base contendo arginina 
(Anexo B). Essa cultura foi incubada 48 horas a 37°C. 
(Anexo C). 
39 
Após o crescimento, o reativo de Nessler (Anexo B), foi 
adicionado revelando a presença de amónia na cultura 
pelo aparecimento da coloração alaranjada. 
Os resultados foram considerados segundo Jorge21 (1997). 
4.3.3 Bacilos Gram-negativos 
Nas colónias caracteristicas sugestivas de bactérias Gram-
negativas que cresceram no ágar Mac Conkey, foram efetuados 
esfregaços corados pelo método de Gram. Após confirmaçao da presença 
de bacilos Gram-negativos, foram obtidas culturas puras em ágar 
nutriente (Anexo B). No ágar Mac Conkey foi também observada a 
fermentação ou não de lactose. Após incubação de 24 horas a 37°C e 
confirmação da pureza da cultura, foram efetuadas as seguintes provas 
bioquimicas: 
a) utilização de citrato: foi observada a capacidade de a 
bactéria utilizar citrato como única fonte de carbono. Foi 
utilizado ágar citrato de Simmons (Difco) em tubo 
inclinado e pH 6,9. A amostra foi inoculada na área 
inclinada e incubada a 37°C por 24 a 48 horas. O 
crescimento com intensa cor azul foi indicativo de teste 
positivo; 
40 
b) produção de indol: observou-se a capacidade de formar 
indol a partir do triptofano. A amostra foi inoculada em 
caldo de triptofano (Difco) e incubada a 37°C por 24 a 48 
horas. Para a leitura, foram adicionadas cinco gotas de 
reativo de Kovacs (Anexo B). Na prova positiva foi 
observada a presença de anel vermelho na camada 
superior do meio de cultura inoculado; 
c) vermelho de metila: foi observada a capacidade do 
microrganismo de produzir quantidade de ácido a partir da 
glicose, apesar da capacidade tamponante do meio. A 
amostra foi inoculada em caldo MRNP (Difco) e incubada 
a 37° C por 24 a 48 horas. Para a leitura foi empregado 
cinco gotas do indicador (Anexo B). No teste positivo a 
cultura foi suficientemente ácida para manter a cor 
vermelha do indicador; 
d) Vogues Proskauer: foi observada a capacidade do 
microrganismo em produzir acetilmetilcarbinol a partir da 
fermentação da glicose. A amostra foi inoculada em caldo 
MRNP(Difco) e incubada a 37°C por 18 a 24 horas . 
Após crescimento, foi utilizado para leitura o reagente de 
Barril VP (Anexo B). O teste positivo apresentou 
coloração rosa na superfície do meio; 
41 
e) produção de urease: foi utilizado para observar a 
capacidade do microrganismo de utilizar uréia produzindo 
amônia como produto finaL A amostra foi inoculada em 
ágar úreia de Christensen (Difco) pH 6,8, incubada a 37°C 
por 24 horas. O teste positivo apresentou-se na cor rosa 
intenso; 
I) tríplice-açúcar-ferro: foi utilizado para demonstrar a 
capacidade do microrganismo de produzir sulfeto de ferro 
e o seu padrão de metabolismo fermentativo. A amostra 
foi inoculada em superfície e em profundidade no meio 
tríplice-açúcar-ferro (Triple Sugar lron, Difco) e incubada a37°C por 18 a 24 horas. Na leitura foi observada a 
viragem do pH do meio para ácido (amarelo), produção de 
H2S e produção de gás; 
g) motilidade: realizado para verificação de mobilidade 
bacteriana. A amostra foi inoculada com agulha em 
profundidade no meio para motilidade (Motility Test 
Medium, Difco) e incubada a 37°C por 18 a 24 horas. A 
presença de turbidez foi indicativo de teste positivo; 
h) fenilalanina desaminase: foi utilizada para determinação 
da habilidade do microrganismo em desaminar a 
fenilalanina com formação de ácido fenilpirúvico com 
resultante acidez no meio. A amostra foi inoculada em 
42 
ágar fenilalanina (Difco) e incubada a 37°C por 18 a 24 
horas. Para a leitura, foram adicionados quatro a cinco 
gotas de solução aquosa de cloreto férrico (FeCI2) (Anexo 
B) a 10%. A presença de cor verde na superfície do meio 
indicou teste positivo. A interpretação dos resultados foi 
baseada em Holt19, 1994 (Anexo B). 
4.3.4 Leveduras do Gênero Candida 
Para caracterização das amostras de leveduras isoladas, 
(colônias esféricas, branco-foscas, com aparência de porcelana e com 
odor caracterfstico) que cresceram em ágar Sabouraud Dextrose com 
cloranfenicol (Anexo B) após incubação a 37°C, por um perlodo de dois a 
sete dias. Para caracterização foram realizadas as seguintes provas: 
a) formação de tubo germinativo: foi adicionado uma alçada 
de cultura pura da levedura em tubo contendo 0,5mL de 
soro estéril de coelho, incubada a 37°C por 2 a 3 horas. 
Após incubação, colocou-se uma gota da suspensão 
entre lâmina e laminula, e observou-se em microscopia de 
luz (aumento de quatrocentas vezes) a presença de tubos 
germinativos; 
b) microcultivo: foi utilizado o ágar-fubá tween 80 (Corn Meal 
Ágar, Difco) distribufdo em lâminas de microscopia no 
interior de placas de Petri esterilizadas. As amostras de 
43 
leveduras foram semeadas em estria única sobre o meio 
de cultura e após colocação da lamínula esterilizada 
sobre o meio, o conjunto foi incubado a temperatura 
ambiente por 72 horas. A leitura foi realizada em 
microscopia de luz (aumento de quarenta vezes), e foi 
observada produção de pseudo-hifas, clamidoconldios e 
blastoconídios; 
c) fermentação de açúcares (zimograma): esta prova 
baseou-se na fermentação de açúcares (glicose, maltose, 
sacarose, lactose, galactose) com produção de ácido e 
gas. Culturas puras de leveduras (24 horas) foram 
semeadas em caldo vermelho de fenol (Phenol Red Broth, 
Difco) em tubos de ensaio contendo tubos de Duhran em 
seu interior, e adicionados diferentes açúcares. A leitura 
foi efetuada após incubação a 37°C durante 24 horas, 
observando-se a mudança de cor do meio (vermelho para 
amarelo) e produção de gás; 
d) assimilação de açúcares (auxonograma): uma suspensão 
da cultura pura de cada amostra de levedura foi semeada 
em profundidade (pour-plate), em meio quimicamente 
definido (Anexo B). A seguir foram colocados discos de 
papel embebidos em solução esteril com 10% de 
sacarose, glicose, galactose, maltose e lactose. Foram 
44 
incubados a 37°C por 72 horas. A assimilação foi 
verificada pela formação de halo de crescimento ao redor 
do açúcar. Os resultados foram interpretados, baseando-
se em Sandven55 (1990) (Anexo C). 
4.4 Análise estatística dos resultados 
Foi aplicada nos resultados obtidos análise estatlstica, 
utilizando-se o teste de t de Student para observar se a redução dos 
microrganismos pós desinfecção com os diferentes desinfetantes foi 
significativa ou não ( p.:o0,05). 
5 RESULTADOS 
Nos dez equipamentos odontológicos estudados como 
controle, observou-se crescimento de microrganismos em todos os pontos 
analisados: carler do equipamento (P1), encosto de cabeça da cadeira 
(P2), refletor do equipamento (P3) e pia de lavagem de mãos (P4). As 
amostras foram coletadas sem procedimento prévio de desinfecção, logo 
após o término de tratamento odontológico (Tabelas 1 a 4). 
Na pia de lavagens de mãos, foi observada, através da 
somatória das médias de ufc/placa nos meios utilizados, maior quantidade 
de crescimento de microrganismos, mostrando ser o local de maior 
contaminação dentre os analisados, seguido pelo encosto de cabeça da 
cadeira. O local onde encontrou-se menor contaminação foi a superfície 
frontal do refletor do equipamento (Tabela 5). 
A maior prevalência de microrganismos nos pontos 
analisados foi de estreptococos bucais, seguido por Staphylococcus 
coagulase negativos, e leveduras do gênero Candida. Observou-se 
também, porém em menor quantidade, nos pontos 1, 2 e 3 presença de 
bacilos Gram-negativos (Quadro 1, Tabelas 1 a 4). 
Após o processo de desinfecção com os desinfetantes 
utilizados, foi observada redução da quantidade de microrganismos nos 
46 
pontos selecionados, sendo eles: carter do equipamento (Tabela 1), 
encosto de cabeça da cadeira do equipamento (Tabela 2), superfície 
frontal do refletor do equipamento (Tabela 3) e pia de lavagem de mãos 
(Tabela 4). 
Após processo de desinfecção com os desinfetantes 
selecionados, observou-se redução estatisticamente significativa (p:õ0,05) 
para o álcool etílico 77°GL, nos pontos 1, 2 e 4. No ponto 3 verificou-se 
redução não significativa para microrganismos Gram-negativos. Após 
utilização do desinfetante iodo povidine, obteve-se redução significativa 
(p:õ0,05) para todos os pontos desinfetados, exceção para bactérias 
Gram-negativas no ponto 3; o mesmo ocorreu após desinfecção com o 
desinfetante clorexidina. 
No processo de desinfecção com compostos fenólicos 
observou-se redução significativa (p:õ0,05) dos microrganismos nos 
pontos 1, 2 e 4. Não houve redução, entretanto, estatisticamente 
significativa no ponto 3 para os microrganismos Gram-negativos e 
estreptococos bucais (Quadro 2). 
A atividade de cada desinfetante frente aos diferentes tipos 
de microrganismos encontrados pôde ser observada após comparação 
entre as médias de ufc/placa em equipes não desinfetados e em equipes 
desinfetados. O desinfetante mais efetivo contra bactérias Gram-positivas 
foi a clorexidina (média de ufc/placa de 2,3) seguido pelo composto 
47 
fenólico (média de ufc/placa de 4,6), iodo povidine (média de ufc/placa de 
7,3) e álcool etílico a 77°GL (média de ufc/placa de 12,4) (Tabela 5). 
A atividade de cada desinfetante frente aos diferentes tipos 
de microrganismos (Anexo A) demonstrou que o iodo povidine foi o 
desinfetante que apresentou maior efetividade para leveduras do gênero 
Candida, seguido por álcool etnico a 77°GL, clorexidina e composto 
fenólico. Para bactérias Gram-negativas verificou-se efetividade no 
processo de desinfecção para todos os desinfetantes analisados (Anexo 
A). Observou-se que para a redução de estreptococos do grupo mutans, 
o desinfetante clorexidina foi o mais eficiente, seguido pelo álcool etilico a 
77°GL, iodo povidine e composto fenólico (Anexo A). 
' 
I 
48 
QUADRO 1- Microrganismos encontrados nos diferentes locais dos 
equipamentos odontológicos estudados 
Pontos 
1 
2 
' ' 
3 
' ' 
4 
' 
I 
' ' 
Locais do 
Equi amento 
Carter 
Encosto de cabeça 
Superfície frontal do 
Refletor 
Pia de lavagem de 
mãos 
' 
' ' 
Microrganismos 
Staphy/ococcus coagulase 
negativa 
Streptococcus sanguis 
Streptococcus mitior 
Enterobacter sakasakii 
Staphy/ococcus coagulase 
negativa 
Streptococcus mitior 
Serratia rubideae 
Estreptococos do grupo 
mutans 
Streptococcus salivaríus 
Candida a/bicans 
Enterobacter aa/omerans 
Staphy/ococcus coagulase 
negativa 
Streptococcus sanguis 
Candida parapsilosis 
Candida guíl/iermondii 
Candtda albtcans 
' 
' 
' ' 
49 
Tabela 1 - Médias e desvio padrão de ufc/placa encontrados em 
superfície do catter do equipamento odontológico, nos meios 
de cultura utilizados antes e após desinfecção com 
diferentes desinfetantes 
Desinfetantes Agar Agar AgarMac Agar 
Sangue MSBS Conkey Sabouraud 
Controle 58.85.:!:1 06.183.85.:!:5.28 0,55.:!:1 '19 1,5.:!:2,37 
lodo Povidine 0.1.:!:0.31 0.:!:0 0.:!:0 0.:!:0 
Álcool etilico 
77°GL 
0,7.:!:1,06 O.:!: O 0:!:0 0:!:0 
Clorexidina 0.7:!:2,21 0:!:0 0:!:0 0,1:!:0,31 
Composto 0,9:!:1 ,60 O, 1:!:0,31 0:!:0 0,1:!:0,31 
Fenólico 
MSBS Mitis Salívarius bacitracina sacarose 
Tabela 2 - Médias e desvio padrão de ufc/placa encontrados em 
superfície do encosto de cabeça do equipamento 
odontológico, nos meios de cultura utilizados antes e após 
desinfecção com diferentes desinfetantes 
Desinfetantes Agar Agar AgarMac Agar 
Sangue MSBS Conkey Sabouraud 
Controle 65,6:!:69,09 9,75:!:7,14 0,35:!:0,49 3,0:!:5,60 
lodo Povidine 2,9:!:6, 17 0,2:!:0,42 0:!:0 0:!:0 
Álcool etllico 
77°GL 
3,3:!:2,91 0,2:!:0,63 0:!:0 0:!:0 
Clorexidina 0,8:!:1 ,03 0:!:0 0:!:0 0,1:!:0,31 
Composto 1 ,5:!:1 ,24 O, 1:!:0,31 0:!:0 0,2.:!:0,42 
Fenólico 
MSBS - Mitis Sa/ivanUs bacitracina sacarose 
50 
Tabela 3 - Médias e desvio padrão de ufc/placa encontrados em 
superfície frontal do refletor do equipamento odontológico, nos 
meios de cultura utilizados antes e após desinfecção com 
diferentes desinfetantes. 
Desinfetantes Agar Agar Agar Mac Agar 
Sangue MSBS Conkey Sabouraud 
Controle 14,5:!',17,23 4,0:!',8,19 0,15+0,37 1 ,2:!:1 ,54 
lodo Povidine 1 ,2:!:1 ,62 0:!:0 0:!:0 O:!: O 
Alcool etllico 1 ,3:!:1 ,63 0:!:0 0,1+0,31 O:!: O 
77°GL 
Clorexidina 0,4:!:1 ,26 0:!:0 0:!:0 0:!:0 
Composto 0,5:!',0,53 0,6:!:1 ,27 0:!:0 0:!:0 
Fenólico 
MSBS - Mitis Sa/ivarius bacitracina sacarose 
Tabela 4 - Médias e desvio padrão de ufc/placa encontrados em 
superfície da pia de lavagem de mãos do equipamento 
odontológico, nos meios de cultura utilizados, antes e após 
desinfecção com diferentes desinfetantes. 
Desinfetantes Agar Ágar ÁgarMac Agar 
Sangue MSBS Conkey Sabouraud 
Controle 106, 15:':127,54 14, 15:!',23,38 0,6:!',0,82 2,5:!:4,38 
lodo Povidine 2,8:!',3,39 O, 1:!:0,31 0:!:0 O:!: O 
Alcool etllico 
77°GL 
6,8:!:15,48 O:!: O 0:!:0 O, 1:!:0.31 
Clorexidina 0,2:!'_0,42 0:!:0 0:!:0 0:!:0 
Composto 0,9:!',0,88 O, 1:!:0,31 0:!:0 0,3:!',0,48 
Fenólico 
MSBS Mitis Salívarius bacitracina sacarose 
~ 
~ 
Tabela 5- Somatória das médias de ufc/placa do grupo controle e dos grupos de desinfetantes estudados em 
todos os meios de cultura utilizados, de acordo com cada ponto de coleta 
Pontos de coleta Somatória das médias de ufc/placa 
Controle Alcool etílico lodo Povidine Clorexidina Composto 
77°GL Fenólico 
Carter 64,75 0,7 0,1 0,8 1,1 
Encosto de cabeça 78,75 3,5 3,1 0,9 1 '1 
Superfície frontal do reflelor 19,85 1,4 1,2 0,4 1 '1 
Pia de lavagem de mãos 123,40 6,8 2,9 0,2 1,3 
Total 286,75 12,4 7,3 2,3 4,6 
52 
QUADRO 2 - Resultados da análise estatlstica através do teste t de 
Student nas comparações entre as médias de ufc/placa 
iniciais e após uso de desinfetantes de superfície, 
considerando-se diferença de 5 e 1%. 
77'GL 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
ns 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
s 
ns 
s 
ns 
ns 
s 
s 
ns 
s 
ns 
i 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
ns 
s 
s 
s 
s 
s 
i 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
ns 
ns 
s 
s 
ns 
s 
ns 
s 
s 
s 
s 
s 
s 
ns 
ns 
s 
s 
s 
s 
s 
sacarose; 
; s: significativo; ns: não significativo 
ns 
s 
s 
s 
s 
ns 
ns 
s 
s 
ns 
s 
s 
6 DISCUSSÃO 
Muito embora longe de ser a principal causa das 
transmissões de infecções, existem inúmeros indícios de que o ambiente 
pode ser causa importante de infecção cruzada (Johnson20, 1990). 
No presente trabalho, observamos nas superflcies dos 
equipamentos odontológicos analisados, após procedimentos rotineiros, o 
depósito de grandes quantidades de microrganismos totalizando uma 
somatória das médias de ufc/placa de 286,75 (Tabela 5). Esses 
microrganismos foram possivelmente lançados pela utilização de 
instrumentos geradores de aerossol bucal, como canetas de alta e baixa 
rotação e aparelhos ultra-sônicos. Esses aparelhos lançam, 
aproximadamente um metro ao redor da área operatória, spray salivar 
repleto de uma infinidade de microrganismos provenientes da cavidade 
bucal. As mãos contaminadas do profissional em contato com diversas 
superfícies também contribuem para espalhar microrganismos, 
proporcionando o aumento do risco no processo de transmissao desses 
microrganismos entre pacientes e entre os membros da equipe 
odontológica (ADA3, 1978; Miller", 1992; Samaranayake et ai. 54, 1993; 
Signoretto et al.62, 1994; Cannata et al.12, 1997; Noro et al.46, 1998). 
54 
Legnani et al.26 (1994), observaram que a uniformidade do 
fndice de microrganismos transportados pelo ar, encontrados em 
diferentes partes do consultório, indicam que a dispersão do aerossol no 
ar é homogênea e as partículas transmitidas contaminam superfícies 
mesmo a uma certa distância da boca do paciente. Os autores 
observaram também que a carga microbiana aeróbia e anaeróbia 
transmitida pelo ar variam de acordo com diferentes horários de coleta, 
tendo um pico máximo de ufc/m3 durante o tratamento dentário, sendo 
que os valores mínimos e máximos encontrados pelos autores variam de 
171 a 1846 ufc/m3. Os autores conclufram ainda que a situação era 
agravada depois de um dia de trabalho de oito horas, devido ao acúmulo 
de contaminação. 
Dentre os microrganismos observados, obtivemos em 
nossos estudos maior prevalência de estreptococos bucais totalizando 
uma média de 7,8 ufc/placa, (estando presentes em todas as superflcies 
analisadas). As amostras foram coletadas sem procedimentos de 
desinfecção e após procedimentos de rotina (Quadro 1). 
Os resultados do presente trabalho concordam com Nora et 
al.46 (1998) que, estudando contaminação do ambiente dentário através 
da evidenciação de microrganismos transmitidos em três regiões distintas 
(superfície da cadeira da clinica dentária, sala de espera e laboratório de 
pesquisa), observaram que a maior quantidade de microrganismos 
presentes foi estreptococos alfa-hemoliticos em torno de 75%. 
55 
Hackney Junior et al. 18 (1998) também demonstraram em 45 
amostras coletadas de superfícies limpas do consultório antes do 
tratamento dentário, a presença de estreptococos alfa-hemollticos em 7% 
das coletas. Entretanto, em uma nova coleta após tratamento dentário 
onde as superfícies foram tocadas ou foram potencialmente contaminadas 
com saliva, 54% delas mostraram-se positivas para estreptococos alfa-
hemolíticas, indicando que esse microrganismo é intensamente 
encontrado em superfícies do consultório dentário, podendo ser usado 
como indicador de contaminaçao ambiental. 
A alta prevalência desse microrganismo é explicada pela 
grande quantidade existente na cavidade bucal, a maioria fazendo parte 
da microbiota indígena dessa região (Signoretto et al61 , 1994; Jorge22 , 
1998; Nisengard & Newman44, 1994). 
Estreptococos alfa-hemolíticas sao comuns na boca de 
seres humanos e sao de fácil detecção em culturas de ágar sangue, 
sendo por esse motivo um indicador lógico de contaminação bucal, indo 
de encontro com critérios mencionados anteriormente. A extensiva 
detecção desse microrganismo em superfícies desprotegidas e com 
desinfecção inadequada tem sido interpretada como grande potencial 
para contaminação cruzada (Hackney Junior18 et ai. 1998). Esses 
microrganismos têm sido utilizados como indicadores de monitoramento 
de contaminação ambiental dentro da clínica odontológica durante 
procedimentos odontológicos. A fácil detecçao dos estreptococos bucais 
56 
no ar do consultório indica grande possibilidade de infecção (Stephens et 
al.63, 1994; Noro et al.45 , 1995}. 
Após a utilização da caneta odontológica com aerossol, em 
um único paciente, foram encontrados mais de mil Streptococcus mutans 
(Ferreira 17, 1995}. 
Outro microrganismo encontrado nos resultados do 
presente estudo foi Staphylococcus coagulase negativo, estando presente 
em três das quatro superfícies analisadas; carter, encosto de cabeçada 
cadeira e pia de lavagens de mãos (Quadro 1 ). As colônias desses 
microrganismos foram selecionadas baseando-se em suas características 
coloniais no meio de cultura ágar sangue, utilizado para contagem total de 
microrganismos. A média de ufc/placa não foi calculada para 
estafilococos, pois o meio de cultura ágar sangue não é seletivo, e a 
média não resultaria em sua real representatividade. 
Esses microrganismos sao encontrados na pele e mucosas 
de seres humanos, sendo responsáveis por muitas infecções hospitalares. 
São também capazes de sobreviver por um longo período de tempo em 
superfícies secas. A transferência desses microrganismos para indivíduos 
susceptfveis pode ocorrer por cantata direto ou através de fômites, sendo 
portanto importante no processo de infecção cruzada (Murray et al.43, 
2000). 
Signoreto et al61 (1994), relataram que estafilococos ao 
contrário de estreptococos bucais, são utilizados como índice da presença 
57 
humana, pelo fato de os mesmos geralmente colonizarem toda a 
superfície de seres humanos. Os autores observaram a presença desse 
microrganismo em cargas variáveis em todos os locais estudados. 
Leveduras do gênero Candida, também foram encontradas 
nos resultados do presente trabalho, em alguns equipamentos na 
superfície frontal do refletor e pia de lavagens de mãos, totalizando uma 
média de 2,05 ufc/placa. Nesta última superfície citada foram encontradas 
Candida a!bicans, Candida guilliermondii e Candida parapsilosis, 
provavelmente porque a umidade presente neste local favoreceu o 
crescimento e a sobrevivência desses microrganismos. A Candida 
a/bícans também foi encontrada em outras superfícies analisadas. 
A presença de leveduras do gênero Candida na cavidade 
bucal, fazendo parte da microbiota comensal dessa região, tem sido 
extensivamente comprovada por pesquisadores que reportam a sua 
presença em indivíduos normais em torno de 20 a 50%, sendo Candida 
a!bicans o mais comum patógeno do grupo, em torno de 17 a 75% (Webb 
et al 67, 1995; Willians et al.68, 1997; Rindum et ai. 50, 1994; Jorge24 et ai., 
1997). 
Brambilla et al.11 (1992), observaram que dentre amostras 
de saliva de 127 crianças, 51( 40,1%) apresentavam leveduras, sendo a 
espécie C. albicans a mais encontrada (97% das amostras positivas). 
Portanto, o fato de termos encontrado essas leveduras nas 
superfícies dos equipamentos, levadas por aerossol salivar ou por dedos 
58 
contaminados, mostra processo de contaminação das mesmas por esse 
microrganismo, que apesar de fazer parte da microbiota, são 
consideradas microrganismos oportunistas, podendo desencadear em 
pacientes com imunossupressão associados a medicamentos e pacientes 
imunodeprimidos pela infecção pelo virus da AIOS dentre outros, 
processos de infeção oportunistas locais principalmente em mucosas 
vaginal e bucal, pele ou infecções sistémicas decorrentes de infecção 
cruzada ( Willians et aL68, 1997). 
Nos resultados do presente trabalho observa-se menor 
quantidade de microrganismos Gram-negativos, totalizando uma média de 
0,4 ufc/placa, estando presente em três superficies das quatro estudadas. 
Identificamos duas espécies do gênero Enterobacter e uma do gênero 
Serratia; achados similares a resultados encontrados em estudos feitos 
por Sedgley & Samaranayake60 (1994), onde observa-se que dentre todos 
os bacilos Gram-negativos encontrados em seus resultados, 73% eram 
pertencentes ao gênero Enterobacter. 
Esses microrganismos não são considerados residentes da 
microbiota da cavidade bucaL Entretanto, Santos & Jorge56 (1998), 
reportaram a presença desses microrganismos na cavidade bucal de 51% 
de indivíduos normais em amostragens de saliva. Os autores concluíram 
que a presença dos mesmos pode estar relacionada ao número elevado 
de coliformes na água de abastecimento e nos alimentos. Esses 
microrganismos, em particular os da familia Enterobacteriaceae, fazem 
59 
parte da microbiota normal do intestino de indivíduos normais (Holt et 
aL19, 1994). Por esse motivo, é reportado por vários autores que mesmo 
uma pequena quantidade desses microrganismos em locais fora do seu 
habitat natural, pode indicar contaminação fecal, principalmente por 
higenização e limpeza inadequada. 
Após processos de desinfecção nas superfícies analisadas, 
observamos que todos os desinfetantes testados no presente trabalho 
mostraram redução significativa na maioria dos microrganismos 
encontrados. 
O desinfetante a base de iodo (lodóforo-PVPI), demonstrou 
no presente trabalho ação eficaz contra todos os microrganismos, 
apresentando redução estatisticamente significativa (p,;0,05) em todos os 
pontos desinfetados, exceto no ponto três, para bactérias Gram-
negativas, provavelmente devido à presença de pequena quantidade 
desse microrganismo nessa superffcie. 
Quando comparado com os outros três desinfetantes 
analisados, o iodo mostrou-se menos eficiente que a clorexidina e o 
composto fenólico e mais eficiente que o álcool etílico 77°GL. Os 
resultados do presente trabalho concordam com estudos realizados por 
Autio et al 6 (1980), que demonstraram que apesar de 5% de iodo diluldo 
em 70% de álcool isopropllico não ser o melhor agente antimicrobiano a 
ser utilizado em ambiente cllnico de higiene dentária, foi o desinfetante 
60 
mais eficaz quando comparado com álcool isopropílico 70%, que é 
comumente utilizado nessas clínicas. 
Os desinfetantes a base de iodo são aprovados pelo EPA 
como desinfetante hospitalar, de nível intermediário de desinfecção, 
sendo tuberculocida e viricida com ação em vírus lipofilicos e hidrofilicos, 
tendo uma ação limpante e desinfetante (ADA5, 1996; Terezhalmy & 
Gitto64, 1998). 
Shikani et al.62 (1996), demonstraram a inativação do vírus 
HIV in vitro pelo iodo complexado com poliuretano. Os autores 
observaram que este complexo desinfetante é bastante estável, e o iodo 
só começa a ser liberado depois que o pollmero entra em contato com 
fluidos contaminados, inativando 4x105 partículas de vlrus HIV 
(semelhante às proporções encontradas em ambiente de consultórios 
odontológicos) em um período de 15 a 30 segundos. 
Os desinfetantes a base de iodo, entretanto, possuem a 
desvantagem de serem inibidos quando em contato com água rica em 
sais de cálcio e magnésio e podem também alterar a cor de alguns tipos 
de superfícies, o que constitui a principal reclamação em relação a esse 
produto. Podem ainda ter ação corrosiva (Ministério da Saúde36, 1994; 
Lima & lto27, 1995; Jorge22, 1998). 
As novas gerações de derivados de iodo, conhecidos como 
iodóforos, mantém sua ação germicida, e possuem efeito cáustico menos 
acentuado. Um dos veículos mais utilizados nos iodóforos é a 
61 
polivinilpirrolidona (PVP). Esse agente estabiliza o iodo e vai liberando 
íons lentamente para o ambiente ou tecidos, conferindo-lhe ação 
antimicrobiana residual; possuem atividades tanto limpante como 
desinfetante (Miller30, 1992; Ferreira17, 1995; Verhagem66, 1998). 
Nos resultados obtidos no presente trabalho não foi 
observado nenhum tipo de manchas sobre as superfícies após o processo 
de desinfecção, comprovando o relato da melhora do produto que se 
refere quando do uso do PVP a esse tipo de desvantagem. 
Quando a diluição do iodo for efetuada utilizando veiculo 
aquoso, o mesmo deve ser preparado usando apenas água destilada ou 
água pobre em cálcio e magnésio, pois essas substâncias podem inativá-
lo (Molinari38, 1990). 
Existe vasta literatura mostrando a ineficiência do álcool 
etílico como desinfetante de superflcie, inclusive não sendo aprovado pelo 
CDC e EPA para esse fim. A ineficiência relatada é decorrente da 
propriedade do álcool em precipitar protelnas teciduais que normalmente 
estão presentes no sangue e na saliva, podendo, portanto, serem 
carreadas pelo aerossol salivar ou mãos contaminadas de profissionais e 
depositarem-se nas superfícies ambientais.A precipitação de protelnas 
pelo álcool torna essas protefnas insolúveis e adesivas à maioria das 
superfícies; com isso uma cobertura de matéria orgânica desnaturada 
pode proteger os microrganismos dos efeitos destrutivas do álcool por 
perlodos prolongados. Outro fator discutido com relação à ineficiência do 
62 
álcool etílico como desinfetante de superfície é sua rápida evaporação, 
limitando a sua atividade sobre vírus e bactérias com cobertura protéica 
(Molinarí38, 1990; Cottone & Molinari13, 1991; Samaranayake et al.54, 
1993; Secretaria do Estado de São Paulo59, 1993; Jorge23, 1998). 
Entretanto, na ausência de exudatos purulentos repletos de 
proteínas, o álcool é ativo contra vírus lipofílicos, é bactericida, fungicida e 
tuberculocida (Secretaria do Estado de São Paulo59, 1993). Sua 
característica de solubilizar lipídios acentua sua ação, sendo efetívo sobre 
envelopes de vírus. É também utílizado como solvente em outros 
desínfetantes no intuito de lhes conferir melhores propriedades 
(Verhagen66, 1998). 
Utilizou-se no presente trabalho o álcool etílico na 
concentração de 77°GL, por ser mais eficiente que o álcool absoluto. A 
maior eficiência é decorrente da facilitação no processo de desnaturação 
protéica proporcionado pela água, conferindo-lhe uma ação germicida 
mais eficaz do que quando puro. 
Quando comparamos a ação do álcool etilico na desinfecção 
de superfícies, observamos que ele foi o menos eficiente, totalizando uma 
média de 12,4 ufc/placa (Tabela 5). Entretanto, observamos que o 
processo de redução microbiana após a sua utilização foi estatisticamente 
significante para todos os locais desinfetados e frente a todas as bactérias 
descritas, exceto no ponto três onde obtivemos o mesmo resultado para 
63 
todos os desinfetantes testados, provavelmente devido à pequena 
quantidade de microrganismos encontrados (Quadro 5). 
Na Tabela 1, onde foi analisada a redução de 
microrganismos frente ao controle no carter do equipamento, o 
desinfetante mais efetivo foi o iodo povidine, seguido pelo álcool etílico. A 
ação do álcool nessa superfície foi mais eficaz que o desinfetante 
clorexidina e o desinfetante a base de composto fenólico. Essa ação 
provavelmente é decorrente de procedimentos pré-estabelecidos nas 
clínicas do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté, 
onde se preconiza a utilização de pano de campo esterilizado sobre a 
superfície do carter. Essa proteção deve barrar ou diminuir a 
concentração de proteínas da saliva ou do sangue, proporcionando assim 
uma ação mais eficaz do álcool na ausência ou baixa concentração 
dessas proteínas. 
Um componente novo no mercado a base de álcool (Virao~ 
foi testado por Stephens et al.63 (1994). Esse desinfetante é composto por 
70% de álcool isopropilico adicionado de 30% de substâncias inertes, 
mas que possuem efeitos realçantes. Os autores observaram ação 
bactericida extremamente eficaz dentro da limitação do teste, onde foi 
utilizado um painel de microrganismos aeróbios e anaeróbios. A análise 
foi realizada pelos autores, em meios de culturas com ausência de 
proteínas teciduais. Esse produto é atualmente aprovado pelo EPA como 
desinfetante de superfície. 
64 
Van Bueren et al.65 (1994}, demonstraram a inativação do 
virus HIV (104 unidades de infecção/ mL-1) pelo álcool etílico a 70% em 
culturas liquidas independente da quantidade de proteínas existentes no 
meio. Entretanto, essa atividade foi diminuída quando se testou vlrus 
secos sobre superflcíes, devido à rápida evaporação e, provavelmente, 
pela precipitação de proteínas. 
Nos resultados do presente estudo, observou-se redução 
estatisticamente significativa, apesar de o álcool etílico não ser o melhor 
desinfetante testado. Esses resultados levam-nos a sugerir que se for 
efetuado um processo de limpeza adequado, com fricção vigorosa sobre a 
superfície a ser desinfetada para a remoção de protelnas teciduais do 
sangue ou saliva, o álcool etllico 77°GL pode ser utilizado, apesar de 
todos os indicias sobre sua ação na desinfecção de superflcie. 
Nos estudos realizados no presente trabalho, o desinfetante 
a base de composto fenólico utilizado (Duplofen) mostrou eficiência na 
redução microbiana das superficies analisadas (Tabela 2, 3 e 4), sendo 
classificado dentre os desinfetantes testados, o segundo melhor no que 
se refere aos microrganismos encontrados, totalizando uma média de 4,6 
ufc/placa (Ta bela 5). 
Esse resultado já era esperado, pois esse desinfetante é 
aprovado pelo EPA e pelo CDC como desinfetante de superflcie, sendo 
ao mesmo tempo um agente limpante e desinfetante que mantém sua 
atividade e efetividade em presença de compostos orgânicos. Também 
65 
são eficazes em presença de detergentes, mostrando resultados 
excelentes para desinfecção de superfícies (Cottone & Molinari13, 1991). 
Signoretto et al 61 (1994), propuseram a volatização do ar 
através de aparelhos geradores de aerossóis contendo desinfetante a 
base de compostos fenólicos (Biophen G) e clorexidina (Aeroxina forte). 
Os autores observaram que o desinfetante a base de composto fenólico 
reduziu, ao final de 30 minutos a uma distância de 0,5 e 5 metros da 
origem do aerossol, em torno de 90% dos microrganismos existentes no 
ambiente da clínica odontológica. Os autores observaram também que o 
composto fenólico foi menos eficiente que a clorexidina no processo de 
redução microbiana. Com relação a esses desinfetantes, os resultados do 
presente trabalho concordam com os dos autores citados. Na comparação 
entre esses dois desinfetantes observamos que a clorexidina no processo 
de desinfecção de superficies foi mais efetiva do que o composto fenólico, 
apesar de o mesmo possuir um efeito eficaz no processo de redução de 
microrganismos nas superficies estudadas. 
A capacidade dos desinfetantes à base de composto 
fenólico agir como venenos plasmáticos precipitando proteínas e a 
capacidade deinterferir no metabolismo da parede celular, dentre outras 
vantagens, confere a esse produto a capacidade de desinfecção segura 
aos locais aplicados. Como todos os desinfetantes, também possuem 
desvantagens, necessitando de uma avaliação quando do processo de 
66 
escolha de um desinfetante adequado (Secretaria do Estado de Saúde de 
São Paulo59, 1993). 
De todos os desinfetantes testados, a solução a 5% de 
clorexidina em álcool etílico 77°GL foi o desinfetante que proporcionou 
maior redução microbiana nos resultados desse trabalho, totalizando uma 
média de 2,3 ufc/placa (Tabela 5). 
Samaranayake53, (1993) reporta que solução alcoólica de 
gluconato de clorexidina é amplamente utilizada como desinfetante de 
superfície em diversos países, com exceção dos Estados Unidos. 
Os resultados deste trabalho concordam com estudos feitos 
por Signoretto et al61 (1994), que observaram através da volatização do 
ar, que a clorexidina foi mais eficaz na redução microbiana do ambiente, 
diminuindo de 1 a 30 minutos a população de microrganismos em 90%. 
Para S. mutans e S. sa/ivarius a redução obtida pelos autores foi de 
99,9% em 15 minutos. 
Mimoz et al.34 (1999), compararam a redução microbiana 
pela clorexidina (solução alcoólica de 5% de clorexidina) e pelo iodo 
(solução aquosa de 10% de iodo povidona), em preparação de pele para 
cultura de sangue (flebotomia periférica) em pacientes de três unidades 
de terapia intensiva de um hospital francês. Os autores observaram que 
de 2.041 culturas de sangue em 403 pacientes, 124 apresentaram 
patógenos. A clorexidina reduziu a incidência de contaminação da cultura 
de sangue mais intensamente que o iodo povidona. A taxa de redução 
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hipersensibilidade tipo I em uma mulher de 18 anos e em um rapaz de 15 
anos após cantata de feridas cirúrgicas com o desinfetante, durante 
intervenção ortopédica. Os autores concluiram que o cantata com o 
desinfetante (Lavasept) pode desencadear reações

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