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FACENS – Uma história de contribuição para o desenvolvimento tecnológico de Sorocaba e região – origem e fundação Christina Camilla Antunes de Almeida; José Luiz Sanfelice De forte inclinação industrial e precursora de inúmeras ações voltadas para a produção, até meados da década de 70, Sorocaba não contava com uma escola de nível superior que contemplasse a área de Engenharia. Então, em 1974, depois de várias promessas governamentais e de tentativas infrutíferas de alguns grupos particulares da cidade, foi criada a ACRTS – Associação Cultural de Renovação Tecnológica Sorocabana – mantenedora da futura FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba. Registrada no Conselho Nacional de Serviço Social, órgão vinculado ao MEC, pelo processo n° 220.213 de 09/06/1976, a ACRTS é uma entidade filantrópica, declarada de Utilidade Pública Federal pelo Decreto n° 86431 de 02/10/1981, e de Utilidade Pública Municipal pela Lei n° 1842 de 04/12/1975 cuja “finalidade é o estímulo ao desenvolvimento da cultura e da pesquisa científica, com vistas à renovação tecnológica, especialmente no campo das comunicações técnicas, sem fins lucrativos”, conforme editorial publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo de 11 de setembro de 1974. Com essa proposta, iniciou-se a trajetória da Faculdade de Engenharia de Sorocaba, a primeira nessa área em Sorocaba. Criada pelo decreto n° 78.495 de 30 de setembro de 1976 e aprovada em 10 de outubro de 1976, a FACENS idealizada por Alexandre Beldi Neto, empresário sorocabano do setor de telecomunicações, iniciou suas atividades educacionais em 03 de março de 1977, quando o então Ministro de Estado das Comunicações, Comandante Euclides Quandt de Oliveira proferiu a “Aula Magna” aos 200 primeiros alunos de Engenharia Civil e Elétrica, no salão nobre da Faculdade de Direito de Sorocaba. Este trabalho, que se encontra em andamento, pretende fazer um levantamento histórico-educativo da FACENS, enfatizando sua origem e fundação em 1976. Como “cada idéia pedagógica deve ser contextualizada no seu tempo e a história da pedagogia passa pela história das ideologias e das ideologias sociais ou a leva em conta” (Ragazzini, 1995), esta pesquisa se reporta à sociedade da época, isto é, à história da educação superior técnica no Brasil, em meados da década de 70, considerando a publicação de “A Nova Concepção do Ensino de Engenharia no Brasil”, a coletânea de documentos publicada pelo MEC/DAU, concebida por Comissões de Especialistas do Ensino de Engenharia, pelo MEC e pelo Conselho Federal de Educação que visava à ampla divulgação da revisão dos currículos mínimos dos cursos de Engenharia que vigoravam desde a Resolução 280/62 que pela primeira vez estabelecia os currículos mínimos das diversas áreas de Engenharia no Brasil, para atender às mudanças propostas na Lei 5540. Além disso, considerando que “educação é o conjunto de processos intencionais e não-intencionais que forma o indivíduo social, então, interrogar-se sobre como ele se forma torna-se uma pergunta múltipla e ilimitada” (ibidem), isto é, quais foram as forças sociais e os movimentos mais expressivos historicamente que produziram esta escola em todos os seus níveis, já que o tema educativo diz respeito “aos homens concretos e seus processos sociais” (ibidem). Partindo do pressuposto de que “qualquer momento da vida dos homens e de qualquer situação compreende sempre faces de caráter educativo, estudáveis com a história social ou com qualquer outro enfoque” (Rugiu, 1977) esta pesquisa pretende abordar: 1. A Reforma Universitária de 68, seu contexto e contribuições. 2. A Reforma Universitária e o Ensino de Engenharia. 3. A Nova Concepção do Ensino de Engenharia no Brasil e suas contribuições na fundação da FACENS. 4. A Resolução 48/76 – que estabeleceu os mínimos de conteúdo e duração dos cursos de Engenharia – e sua influência na composição do projeto pedagógico da FACENS. 5. Curso de Engenharia – Autorização, Reconhecimento e Funcionamento – os critérios estabelecidos pelo MEC para a caracterização de elevado padrão de ensino em cursos de Engenharia – expressos na Resolução 49/76 e no Parecer 813/76. 6. FACENS – Uma trajetória de trabalho – seu projeto original de construção, estrutura administrativa e acadêmica, seu primeiro regimento. Questão importante para um trabalho dessa natureza é a “multidimensionalidade e complexidade dos fenômenos educativos, sendo necessário distinguir os diferentes planos de abordagem: plano dos atores, dos contextos, dos processos, dos meios, da interação, da relação” (MAGALHÃES, 1999) e ainda a que fontes recorrer. Como se sabe, a história de uma instituição escolar constitui-se num processo epistêmico que medeia entre a(s) memória(s) e o arquivo, não se limitando a memória às dimensões orais, mas incluindo as crônicas e outros textos afins e não se confinando o arquivo à documentação e informação escritas. Totalidade em organização e construção, uma instituição educativa não é estática, nem a percepção de conjunto se obtém a partir de uma única fonte ou de uma só vez (ibidem). No caso da história da FACENS, além de serem pesquisados os arquivos da escola, jornais locais e os documentos oficiais publicados pelo MEC, serão consideradas a memória oral de alunos, ex-alunos, professores e envolvidos no processo educativo de um modo geral, uma vez que além de uma estrutura física, administrativa, a escola tem também uma estrutura social, ou melhor, sócio- cultural, uma dimensão cuja abordagem não se obtém senão inquirindo a ação, os sentimentos e o sentido de participação dos atores desse processo em que as ações e os destinos de vida dos atores dão corpo às realizações institucionais, via fundamental para a construção da identidade histórica das instituições educativas (ibidem). Em 1977, o Prefeito José Theodoro Mendes manda para a Câmara dos Vereadores um projeto de lei fazendo doação de um terreno para a construção do prédio próprio da futura Faculdade de Engenharia de Sorocaba que funcionava provisoriamente em um andar especialmente construído para esse fim no edificio do Colégio Ciências e Letras, atual Objetivo, na Rua Arthur Gomes, em Sorocaba. Edward Fru-Fru Marciano da Silva presidiu a sessão que comprovou a coerência dos vereadores daquela Casa e o projeto de número 6.173 foi enviado a uma comissão para avaliação jurídica. Em 29 de novembro do mesmo ano, o projeto foi colocado em votação extraordinária e aprovado por unanimidade. José Theodoro Mendes, em 1º de dezembro de 1977, assinava a Lei Nº 1932/77 doando uma área de 103.181 m2, no setor nordeste, aproximadamente a 3 quilômetros do centro, no Alto da Boa Vista, interligado à Zona Industrial. Uma das exigências do Ministério de Educação e Cultura para o reconhecimento da Facens era que sua mantenedora, a ACRTS – Associação Cultural de Renovação Tecnológica Sorocabana – construísse prédio apropriado. De posse do terreno, em 19 de julho de 1978, lançou-se a pedra fundamental do futuro prédio próprio da FACENS, sob a coordenação do engenheiro Eduardo Moretti. Foi criado o Núcleo de Planejamento, órgão encarregado de elaborar o Plano Diretor, cumprir o cronograma de construção e desenvolver um trabalho que fosse capaz de satisfazer as exigências do sistema educacional da época. Fizeram parte desse grupo os engenheiros: Luiz da Silva Freitas Junior II, Paulo Baddini, José Nelson Carneiro do Val, Carlos Azevedo Marcassa, Antonio Fábio Beldi, e os arquitetos Geraldo de Moura Caiuby e Gilberto de Moura Caiuby. Embasado na então “nova” concepção de ensino para a área de engenharia proposta pelo MEC, o modelo físico para a implantação do Centro de Tecnologia de Sorocaba oferecia programação a partir das duas áreas já implantadas, Civil e Elétrica, mas já possuíauma concepção final do Plano que incluía Mecânica, Arquitetura e Química, e o planejamento universitário foi abordado sob três dimensões distintas: acadêmica, social e física. Toda a série de problemas observados no planejamento físico da FACENS foi resumido em dois atributos básicos: a integração/comunicação e o desenvolvimento/evolução, levando sempre em consideração que a área de Engenharia trabalha com desenvolvimento tecnológico altamente dinâmico e diversificado. Seguindo a Resolução 48/76, os cursos de Engenharia Elétrica e Civil deveriam ser constituídos de: • Ciclo Básico – comum para as duas modalidades; • Ciclo Profissional – a parte diversificada de natureza profissional. O Ciclo Básico compunha-se de disciplinas de Formação Básica e disciplinas de Formação Geral. O Ciclo Profissional, que tinha por finalidade a Habilitação Plena, específica, constava de matérias do Currículo Mínimo, fixadas pelo Conselho Federal de Educação nas áreas de Formação Profissional Geral e Formação Profissional Específica. O curso de Engenharia Elétrica tinha duração mínima de 3904 horas, e o de Engenharia Civil, 3808 horas. As aulas eram semestrais, por pré-requisitos e o controle da integralização curricular se fazia pelo sistema de créditos, na base de 16 horas por crédito, computados quando houvesse aprovação e obedecida a freqüência de 75% das aulas dadas. Daquele período até hoje muita coisa mudou na Facens, novos cursos foram criados, Engenharia de Computação e Mecânica, várias modificações foram feitas para acompanhar as mudanças na legislação estabelecida pelo MEC, além de outros cursos de extensão, atualização, pós-graduação Lato Sensu em Administração em Engenharia, com 360 horas, em funcionamento desde 1996 e um Curso Pré-Vestibular, gratuito, oferecido a alunos carentes. A ACRTS, mantenedora da FACENS, é uma sociedade civil, sem fins lucrativos que, conforme prevê seu Estatuto, tem como objetivos: “Estimular o desenvolvimento da cultura e da pesquisa científica, visando à renovação tecnológica, por meio de escolas próprias, quer por outras, através de convênio com a preparação de estudantes para o exercício técnico – profissional, terá, também, como objetivo social, atuar na área de assistência social beneficente, inclusive educacional ou de saúde, visando à proteção e ao amparo da família, da criança, do adolescente, da velhice e dos deficientes físicos, bem como poderá atuar em outras áreas de assistência, a serem definidas mediante resolução do Conselho Superior”. A FACENS obedece a Legislação em vigor referente à filantropia, tendo como diretriz a Lei Orgânica da Assistência Social e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Considera ainda seu dever como sociedade civil sem fins lucrativos, a prestação de serviços à comunidade por meio de programas nos quais utiliza o conhecimento científico produzido no campus, disponibilizando equipamentos para o desenvolvimento de atividades socioculturais, complementares ao ensino formal e o atendimento à comunidade carente priorizando a criança e o adolescente. Para isso desenvolve os seguintes programas: • Projeto de prestação de serviços – Centro de Treinamento – em parceria com o SENAI • Programa de bolsa de estudos • Programa de atendimento ao estudante – orientação para inserção no mercado de trabalho – FACENS Jr. • Programa de inclusão do menor carente no universo da tecnologia digital – entidade receptora AVAM – Associação Votorantinense de Amparo ao Menor • Projeto Lua Nova – Ong que em parceria com a FACENS dá treinamento, acompanhamento técnico e desenvolve projetos de construção popular. A FACENS atende, hoje, alunos de todas as classes sociais provenientes de Sorocaba e região. Na maioria dos casos, são jovens, homens e solteiros, com idade variando entre 20 e 26 anos e que trabalham para manter seus estudos. Nessa faixa etária existem também alunos casados, com família constituída cuja despesa com mensalidade escolar torna-se um encargo difícil de ser cumprido. Porém, a obtenção de um diploma de nível superior representa promoção, melhor posição no mercado de trabalho e ascensão social. Alguns possuem condições financeiras para custear os estudos, alimentação e transporte até o campus que se localiza longe do centro comercial, às margens da rodovia Dr.José Ermírio de Moraes, a castelinho; outros estão no Programa de Bolsas de Estudos. Atualmente, vários alunos são filhos ou parentes próximos de ex-alunos, o que demonstra satisfação com o curso de graduação. Responsabilidade social A FACENS acredita que responsabilidade social seja uma idéia desenvolvida para servir de base na tentativa de dar um caráter mais humano, solidário e justo à sociedade atual, um caminho que poderá conduzir ao equilíbrio, onde as diferenças sociais possam ser atenuadas resultando numa inversão do processo de exclusão social pelo qual passam diversas camadas da população. A carência, muitas vezes, vai muito além de deficiências financeiras e não é raro acabar se caracterizando pela falta de recursos humanos, de oportunidade, de informação, de criatividade e idéias, de investimentos na promoção humana, e de modelos apropriados de gestão. A Faculdade de Engenharia de Sorocaba, além da constante busca pela excelência do conjunto de práticas pedagógicas no ensino superior, tem buscado inovações na idéia de responsabilidade social como alternativa para melhorar a realidade da comunidade na qual está inserida. 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