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Artigo apresentado ao professor Sergio Santos Correia como requisito avaliativo parcial do componente Direito Civil – Família do Curso de Direito da Faculdade Pitágoras em Alagoinhas-Ba, 2022 E-mail: rivanjsantos@hotmail.com A Família na Sociedade Atual: História, Legislação e Composição Rivando José Conceição dos Santos* Resumo O presente artigo aborda a questão da família na sociedade atual, para tanto perpassa por sua história, sua legislação e composição. Por conseguinte, através de um olhar na legislação brasileira transcorre pelo direito da família, buscando refletir sobre as transformações sociais e culturais ocorridas decorrer dos anos no âmbito das relações familiares, para tanto volta-se a atenção para o florescimento da pluralidade referente aos variados tipos de famílias. Desse modo, gerando um êxodo da construção do único modelo de família admitido socialmente, diante disto deixando de ser, exclusivamente, constituída entre duas pessoas de sexo diferentes. Para melhor compreensão desse fenômeno busca-se discorrer sobre a história da instituição família no decorrer dos tempos, perpassando pelas mudanças sociais no decorrer dos séculos até chegar no atual modelo aceitável na sociedade hodierna em que se percebe vários tipos de família através de arranjos existentes na hodiernidade, nesse sentido o texto faz menção do ordenamento jurídico brasileiro em que se tem positivado a efetivação da família através de relações monogâmicas excluindo dessa relação o possível casamento entre pessoas da mesma família. Assim a atual legislação traz proteção tanto ao casamento como para a família monoparental, além de fazer referência à implementação da união estável no novo Código Civil de 2002. Portanto hodiernamente a afetividade tem se desenhado como um laço tão intenso quanto o laço sanguíneo, assim dando origem a novos modelos de família para atender os novos anseios sociais. Sendo assim o nosso ordenamento jurídico vislumbrou possibilidades de novas constituições familiares. Palavras-chave: Família. Ordenamento Jurídico. Pluralidade. Hodiernamente. 1. Introdução Este artigo aborda questões pertinentes a família na sociedade atual e, tem por objetivo analisar sua história, sua legislação e composição no decorrer dos séculos de forma resumida, tendo em vista a necessidade de se reportar à história para entender as construções de valores positivadas na hodiernidade. Portanto, nesse trabalho se investiga o instituto família sob a visão pautada na perspectiva histórica da evolução familiar e legislativa através de um olhar panorâmico que se estende desde a antiguidade até a contemporaneidade. Para tanto, se debruça 2 sobre as mudanças ocorridas na constituição da família e suas principais características. Ainda sobre essa questão esse artigo busca provocar reflexão sobre os impactos sociais advindo do processo do modernismo para o pós-modernismo, haja vista possuírem características completamente opostas, pois enquanto a primeira pauta suas percepções no racionalismo, na ciência e valores burgueses esse último aflora características como: espontaneidade, ausência de valores e regras, individualismo, imprecisão, pluralidade entre outros aspectos. Aliado a esse aspecto, busca-se também perpassar pelas mudanças no ordenamento jurídico no decorrer dos anos, com o olhar sobre os diferentes conceitos apresentados para a constituição familiar, portanto atentando para o corte na cultura predominantemente patriarcal com abertura de novas possibilidade no quesito família. Por conseguinte, cabe pontuar que a relevância desse tema está pautada sobre a mudança cultural do pós-modernismo que fragmentou a percepção da instituição família, tendo em vista que era tida como uma instituição solida e permanente, contudo nesse novo olhar se admitiu a volatilidade e pluralidade de modelos de famílias desorganizando todos os conceitos preestabelecidos. Portanto a elaboração desse artigo fundamenta-se em pesquisa bibliográfica, tendo como base leitura de livros, artigos publicados, legislações do ordenamento jurídico brasileiro, entre outros documentos científicos que abordam questões da história, construções legislações e impactos da instituição família na sociedade. 2. Perspectiva histórica da evolução familiar e legislativa No que tange a questão da história da família sabe-se que tal aspecto está ligado de forma diretamente proporcional ao surgimento da civilização, tendo em vista a necessidade natural do ser humano estabelecer relações sociais impulsionado por instintos naturais visando a perpetuação da espécie. Por conseguinte, percebe-se que “A História descreve que a família surge, inicialmente, como uma relação espontânea e natural, para, posteriormente, o grupamento converter-se em família monogâmica dentro de uma distinta área envolta pelas relações privadas”. ((NASCIMENTO, 2014, p.1871) 3 Desse modo, em se tratando de historicidade percebe-se que o assunto família é complexo e extenso, portanto por questões de didática será feito nesse trabalho um recorte, pontuando as principais características dessa instituição, para tanto buscar- se-á discorrer sobre parte da trajetória da família brasileira com foco no fato de sua origem ter sido sistematizada pelo direito romano e pelo direito canônico. No entanto, sabe-se que: Durante toda a história as relações entre seres humanos na sociedade são desiguais, a partir do momento que o homem começou a produzir os seus alimentos entre 8.000 a 4.000 anos atrás o período neolítico que começou a divisão dos papéis entre o homem e a mulher, na sociedade agrícolas já havia a divisão sexual do trabalho tendo como uma das características o fato da mulher gerar o filho e amamentá-lo, desenvolvendo a questão do cuidar como sendo papel da mulher. (PEREIRA, et al., 2019, p.03) Nesse sentido percebe-se que antigamente a constituição familiar obedecia um modelo exclusivamente patriarcal, para regular isso, o direito romano buscou normatizar esse contexto através dos princípios morais existentes na sociedade vigente, assim buscando estruturar o instituto família devido à ausência de preceitos jurídicos que regulasse as condutas nesse âmbito. Nesse contexto a palavra família, no Direito Romano, era indistintamente aplicada tanto às coisas, como às pessoas. O patrimônio compreendia o conjunto de coisas ou bens da família e as pessoas agregadas. Além do pai, a família era composta pelos filhos, pela mulher e os escravos. Todos eram submissos à autoridade do chefe da família. Significava que as pessoas e cosias sob o poder de um mesmo pater famílias a este pertenciam. (NASCIMENTO, 2014, p.1871) No entanto, com o fortalecimento político da igreja católica, foi avocado para si a missão de disciplinar a questão da formação da família, para tanto apontou o casamento na igreja como único requisito legal para constituição de uma família, portanto o vínculo conjugal passou a ser regido pelo direito canônico, tendo em vista que: O Direito Canônico tem como realização a justiça divina e no campo do matrimônio não seria diferente. O matrimônio é uma conduta social da igreja, mediante um sistema de normas obrigatórias e coativas as quais geram direitos e deveres. Aqui ressalta que não se trata de um sistema perfeito, mas sim, perfectível; na sua tentativa. (CAIXETA, 2020, p.18) 4 Sendo assim, cabe enfatizar que no período do império o direito canônico era tido como o único instituto responsável e capaz de regular questões sobre a instituição familiar, tendo em vista que somente era admitido a construção da familia mediante o casamento com a profissão da fé católica. Nessa perspectiva cabe lembrar que:Na Idade Antiga, o Código de Hamurabi regulava o sistema familiar, sob a lei patriarcal, exigindo a monogamia, embora admitisse o concubinato mesmo que os direitos da concubina não fossem os mesmos da esposa. O casamento legítimo somente era válido, se realizado por um contrato. Admitia o divórcio, pois ao marido era permitido repudiar a mulher nos casos do não cumprimento de seus deveres de esposa e dona-de-casa. (NASCIMENTO, 2014, p.1873) No entanto, tendo em vista que a maioria populacional que viviam no Brasil era adepto da fé católica não houve problemas significativos com a implementação do direito canônico, entretanto por ser detentora do monopólio das leis do casamento, pela obediência as regras advindas do Concilio de Trento que ocorrera em 1563 e das Constituições do arcebispo da Bahia impediam as demais pessoas que não comungasse da mesma fé de contraírem matrimônio. Todavia, diante do crescimento populacional advinda da mestiçagem, portanto pessoas que comungavam com religiões diversas do catolicismo, o estado resolveu intervir nessa situação, avocando para si tal responsabilidade e, consequentemente autorizando a liberdade do matrimônio, assim tornando possível o chamado casamento misto, ou seja, de pessoas pertencentes as religiões tidas como dissidentes. Portanto, percebe-se que: A evolução histórica mostra que, por muito tempo, a sociedade formatou a família como uma comunidade presa a regramentos que lhe foram impostos. Uma obediência cega impedia qualquer questionamento. No Brasil, o sistema jurídico, moldado no Código Civil, de 1916, vigente por quase um século, estabeleceu normas às quais as pessoas não mais respeitavam, diante da realidade social, que alcançou diretamente o núcleo familiar. (NASCIMENTO, 2014, p.1870) À vista disso, pode-se afirmar que pôr o Estado avocar para si responsabilidade de legislar sobre o direito da família houve o florescimento de três categorias de casamentos, ou seja, o casamento católico, o casamento misto que eram aqueles entre católico e não católicos e o casamento entre os chamados de adeptos de seitas 5 dissidentes. Desse modo, entende-se que a instituição família no Brasil foi constituída, na sua formação, pela mestiçagem entre raças e culturas, superando a resistência da igreja católica que se posicionava de forma contraria a esse fenômeno social. Contudo, sem ceder inteiramente a influência da igreja, o Estado passou a legislar essa questão, ainda que tenha sido perceptível a preservação de alguns pressupostos religiosos na positivação das leis, pois: No Brasil, o Código Civil é a principal lei que rege a instituição familiar. Contém normas referentes ao matrimônio, ao parentesco, aos filhos, à herança etc. Leis ordinárias visam acompanhar a evolução social. Assim, a Lei nº 3.071, de 1916 foi o primeiro Código Civil, inspirado no Direito Romano, no Direito Canônico e no Código Civil Napoleônico. O Código trazia características da família patriarcal regida pelo casamento monogâmico. (NASCIMENTO, 2014, p.1874) Com essa avocação estatal, no decorrer dos anos ocorreram transformações significativas na legislação que rege o direito da família, nesse aspecto pode-se afirmar que tal direito sofreu mutações expressivas, principalmente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que sucedeu na metade do século XX e, portanto, a partir de então originou-se diversas leis com fulcro na adaptação dos novos organismos familiares. Por conseguinte, tal alteração nas legislações demudou significativamente a forma de olhar jurídica sobre esse aspecto, tendo em vista a inserção no ordenamento jurídico dos temas: união estável, adoção com a modernização da questão investigativa sobre filiação, a guarda dos filhos e o direito a visitas visando amenizar a questão litigiosa de resolução dos conflitos no âmbito familiar. 3. Constituição da família e suas principais características. O modelo de família como se conhece na hodiernidade teve seu florescimento no período pós revolução francesa, ou seja, a partir do século XIX, tendo em vista o grande processo de renovação cultural que se iniciou, nesse interim foi desenvolvido a valorização do convívio harmonioso entre os membros familiar pelo aguçamento dos sentimentos afetivos, pois: A nova visão da família com a Constituição Federal e o Código Civil de 2002 não é mais de família institucional, mas sim de família instrumental. A família 6 passou a ser meio e não fim, é o meio pelo qual as pessoas desenvolvem a sua personalidade na busca da realização pessoal. Essa realização pessoal é a felicidade, que também é um direito fundamental. (LIMA, 2016, p.02) Nesse aspecto pode-se afirmar que a família hodierna é marcada pela diversidade, levando em consideração que passou ser vista como um instituto constituído por elementos probatórios além dos laços consanguíneo, assim abrindo possibilidades de filiação por afetividade através da convivência como pode ser visto na questão da filiação socioafetiva. Pois cabe lembrar que: No Código Civil de 1916 toda família era casamentaria, matrimonializada, de modo que para ter família era preciso casar. Quem não casava não tinha família. Não existia no Código Civil de 1916 nenhuma família fora do casamento. No Código Civil de 2002 a família deixou de ser casamentaria e passou a ser múltipla, plural. Passou a existir mais de uma forma de constituição de família: união estável, família monoparental (comunidade de ascendentes e descendentes. (LIMA, 2016, p.02) A família é indubitavelmente uma instituição histórica, tendo em vista a percepção de que esse instituto tenha sido a primeira partícula social a florescer no sentido organizacional, embora se saiba que tal fato ocorreu sob a égide do patriarcado. Portanto, diante disso é possível a justificativa de que competia, tão somente, ao homem a possibilidade de romper o casamento. Nesse sentido, tal ato era possibilitado no caso de a mulher ser estéril, logo não podendo promover descendentes, o que nesse período, era tido como fato gravoso, além disso também era oportunizado ao homem romper com os laços matrimoniais caso a mulher cometesse adultério. No entanto, cabe pontuar que nesse período era reputado ao marido, dentre outras questões a responsabilidade de prover o sustento da família, porém: Todos esses direitos são agora exercidos pelo casal em sistema de cogestão, devendo as divergências ser solucionadas pelo juiz (CC art. 1.567, parágrafo único). O dever de prover à manutenção da família deixou de ser apenas um encargo do marido, incumbido também à mulher, de acordo com as possibilidades de cada qual (art. 1.568). (GONÇALVES, [2003? ]. p.18) Outra característica desse período no quesito família era a ausência de afeição nos casamentos, tendo em vista que as escolhas dos nubentes cabiam aos patriarcas, 7 que tratava essa questão com objetivos específicos de aumentar a sensação de poder, de preservação da honra e por interesses econômicos. Portanto, pode-se afirmar que o tópico que hoje é valorizado no âmbito familiar, como por exemplo, a felicidade dos integrantes no ambiente doméstico, nesse período, era tida como elementos secundários, sendo assim somente importando o fortalecimento dos elementos primários que, nesse caso, era a questão econômica. Desse modo, conclui-se que: (...) as identidades não são livremente escolhidas, mas sim inscritas em relações discursivas de poder específicas nas quais são construídas, ressaltando a importância do poder na construção social. (Santos, 2014, p. 31) Destarte, nesse contexto, a família era regida pelo direito canônico que conduzia o matrimôniopelo viés de uma conjuntura espiritual, portanto detentor de características permanentes e indissociáveis, logo abominava-se todo tipo de aforismo voltado para a dissociação de tal instituição. No entanto, é perceptível, na Constituição Federal de 1988, a retirada da imposição do casamento para o reconhecimento da constituição familiar, dessa forma possibilitando outras maneiras de união entre pessoas com essa finalidade, havendo uma quebra de paradigmas no conceito família. Portanto: A quebra do modelo único familiar constituído pelo casamento foi seguido de outras mudanças paradigmáticas, no tocante à filiação, planejamento familiar e assistência aos membros mais vulneráveis da família, por meio das demais prescrições dos parágrafos do artigo 226 e dos artigos 227 a 230 da Constituição Federal. (SOUSA; WAQUIM, 2015, p. 77) Todavia, com florescimento dessas novas concepções tendeu-se a aceitabilidade de novos modelos de família através dos modernos olhares sobre essa questão, assim fugindo do modelo único de sacramento matrimonial que era posto pela igreja e com isso originando a família moderna, portanto florescendo o elo afetivo na constituição familiar. 4. Impactos sociais advindo do processo do modernismo para o pós- modernismo 8 No que se refere a família no pós-modernismo pode-se afirmar que difere de forma significativa dos padrões das famílias do modernismo, tendo em vista a mudança de percepções da sociedade a esse respeito, tendo para isso as modificações das legislações para acompanhar os anseios sociais como pode ser visto na contemporaneidade. Pois: Assim verifica-se que a modernidade, chamada por Bauman de modernidade sólida foi caracterizada pela existência da ordem, estabilidade, regras e autoritarismo que permearam as instituições públicas e privadas, além de fazer parte da vida social dos indivíduos, fatores esses, que de certo modo favorecia os institutos religiosos da igreja cristã, tendo em vista, sua predisposição em dispositivos já previamente prefixados como eternos. Nessa perspectiva verifica-se a rigidez e inflexibilidades dos comportamentos sociais pela fixação das certezas preestabelecidas, sem possibilidades de avanços pela mudança de ordem, tendo em vista, sua imutabilidade prefixada e aceita por toda sociedade. (SANTOS, 2022, p. 39) De tal modo, que pela valorização da pluralidade na hodiernidade, pode ser visto variadas formas de modelos de família no contexto atual, portanto podendo ser perceptível como característica desse presente período a inexistência de um único modelo de família, fator que era predominante Brasil império pelo regimento do Direito Canônico. Portanto, nesse sentido pode-se afirmar que a travessia da modernidade para a pós modernidade ou modernidade liquida conforme preceitua Bauman geraram impactos sociais significativos, tendo em vista a percepção de que a modernidade, de certo modo, contrasta com o período atual, haja vista possuírem características divergentes. Nesse aspecto sabe-se que a modernidade possuía suas características pautada na solidez das coisas, unicidade e autenticidade das instituições e da verdade única, enquanto a pós modernidade possui como características a liquidez, fragilidade e imitação das coisas, além de preceituar a existência de pluralidade de verdades. Diante do exposto, pode-se afirmar que: (...) a pós modernidade chamada de modernidade liquida por Bauman debruça suas bases nas incertezas das coisas, através de garantias ambíguas, pela ocorrência da volatilidade e imprevisibilidade das coisas, fatores esses que se acredita fazer parte da sociedade a partir da segunda metade do século XX até o tempo hodierno. (SANTOS, 2022, p. 39) 9 Assim, na questão da estrutura familiar percebe-se o surgimento e crescimento de famílias monoparentais, ou seja, formadas por, tão somente, pais ou tão somente mães, causando uma desestruturação da família tradicional, portanto pode-se afirmar que esse novo arquétipo familiar se deve as possíveis separações de casais ou por divórcios ou até mesmo em que os pais se se mantiveram solteiros, portanto nunca teve a participação do outro “parceiro”. Por conseguinte, a efemeridade tornou-se característica forte na modernidade liquida: Logo, percebe-se que tal pensamento social afetou significativamente todas as sociedades, tendo em vista, que derreteu até mesmo as relações mais profundas como as das famílias até então existentes, haja vista, que na contemporaneidade, nem mesmo os casamentos são feitos para duração eternas. (SANTOS, 2022, p.41) Além dessas questões, como características da pós-modernidade, ainda decorrente desse fenômeno também é possível encontrar pessoas, independente do sexo, que optaram por terem filhos sem constituírem compromisso com o seu parceiro, embora haja estudo que pontua a existência de dificuldades no desempenho duplo sujeito responsável por uma família monoparental. Outra questão digna de se pontuar sobre os impactos sociais no âmbito da família com o advento da modernidade liquida é a crescente reconstrução familiar por meio de recasamentos que tem ocorrido por diversos fatores, entre os quais pode-se mencionar a questão econômica. Além disso, cabe mencionar como fator preponderante na alterações de padrões sociais o fenômeno da revolução industrial que impactou significativamente toda a sociedade humana, tendo em vista o surgimento de variações de paradigmas, assim aflorando uma grande mobilidade social, afora isso, estimulou-se o nascimento da visão aceitável sobre a liberação sexual em que os sujeitos começaram a buscar a felicidade, deixando assim, em segundo plano, o casamento, que era tido anteriormente como um instituto sólido, portanto ganhando uma roupagem nova, como sendo frágil e instável. Destarte a única certeza que permanece é a convicção que tudo pode mudar a qualquer momento, assim nada tem sentido definitivo. Portanto nesse novo contexto há a pregação que a vida tem que ser levada com mais liberdade com menos dogmas de amarrações sociais, pela permissividade de que tudo deve ser experimentado sem julgamentos. (SANTOS, 2022, p. 40) 10 Entretanto não há como furtar de falar sobre os possíveis conflitos existentes pela ampliação familiar em que se tem os filhos originados do casal e os filhos decorrentes de casamentos anteriores, fato que tem causado confusão na questão dos direitos e deveres de cada integrante dessa família, portanto se não houver um empenho de ambos os sujeitos envolvidos pela busca da produção de novos significados com princípios respeitosos, o novo matrimônio tende a dissolver novamente. Ulterior característica desse período no quesito família é o surgimento de casais que optaram por não formalizar o matrimônio e vivem de forma consensual sem problemas significativos por viverem dessa forma, além desse tipo há também aqueles que decidiram de forma consensual estar juntos, porém vivendo separados, ou seja, cada um na sua casa, tendo como pressuposto para esse modo de vida a preservação da união. Existem também na hodiernidade a família constituída, tão somente, pelo casal tendo em vista a opção de não terem filhos por focar na ascensão profissional e na independência financeira, assim buscando a realização da satisfação pessoal. Ainda há de se registrar a existência da família unipessoal constituída, tão somente, por um indivíduo, pois esse tipo de família justifica o modo de viver pela busca da fuga de situações conflituosas advindas da vida em família. “Em outras palavras, para se constituir uma família, não é necessário que hajaum casamento, o que basta é existir um vínculo afetivo entre os indivíduos, sejam de sexos diferentes ou não. ” (TEIXEIRA; AFONSO; SILVA, 2017, p.06) Nesse sentido, verifica-se que o Código Civil de 2002, “dá sinais inequívocos de estar na senda do humanismo, sendo vontade do legislador abolir a discriminação contra a mulher, calcada na ideologia do patriarcado, responsável pelo duplo padrão de educação dos sexos. ” (MOUSNIER, 2002, p. 259) Nesse contexto cabe também falar da família formada por homossexuais em que possui a configuração de dois homens ou duas mulheres, nesse caso, são famílias formadas por casais gays ou lésbicas que optaram por esse modo de vida tendendo a buscar no mesmo sexo maior compreensão e satisfação pessoal, porém há de se pontuar que esse grupo tem sofrido aversão social até mesmo dentro das respectivas famílias por assumirem uma relação estável homoafetivo. 11 No entanto, cabe sinalizar que: No Brasil, esse direito só foi reconhecido como legítimo a partir da Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Entretanto, para que essa conquista fosse assegurada juridicamente, houve um longo processo de debate em diversos segmentos, como por exemplo, nas instâncias social e política. Com o casamento no civil assegurado para os homossexuais, estes podem estabelecer vínculo conjugal e constituir uma família. E, em circunstâncias de manifestação do desejo de ter filhos, basta um dos adultos – ou ambos – assumir a parentalidade, o que configura uma situação homoparental. (TEIXEIRA; AFONSO; SILVA, 2017, p.02) Além disso, verifica-se como obstáculo desse tipo de família, o fato de não poderem, por questões biológicas, originar descendentes consanguíneo, haja vista o fato da impossibilidade de gerar filhos por questões alheias à vontade do casal, tendo em vista que por questões anatômicas tal privilégio, tão somente, é oportunizado a casais que tem relações heterossexuais, portanto como refúgio tem-se buscado suprir essa necessidade afetiva por meio de adoção. 5. Organização sistemática da família no ordenamento jurídico brasileiro 5.1 Princípios do ordenamento jurídico antes da Constituição Federal de 1988 No quesito da modernização jurídica é preciso pontuar que há um marco nesse sentido que pode ser traduzido como antes e depois da Constituição Federal de 1988, porquanto antes vigorava o patriarcalismo assim não abarcando a questão da tutela jurisdicional, portanto não se tinha como integrante de uma família os descendentes que não fosse originário da tenacidade do casamento. Portanto, como família autêntica somente era tida aquela que era constituída através da inserção do matrimônio, portanto como amparo a legalização desse direito consuetudinário pode-se mencionar como primeiro marco histórico, nesse sentido, a construção do diploma legal que foi efetivado em 1º de janeiro de 1916 com a promulgação da Lei 3.071, Código Civil, tendo como autor do projeto Clóvis Beviláqua com as impressões moldadas a visão da época. Portanto: Com a instituição no Brasil do casamento civil, a soberania do direito canônico em matéria de casamento acaba sendo colocada em segundo plano. Porém, 12 mesmo afastada, continuou de forma indireta a exercer grande domínio nas normativas civis do Brasil, por desvelar novamente várias normas do direito canônico. Sob a influência da religiosidade da Igreja Católica Apostólica Romana, as primeiras legislações civis do Brasil mantiveram a princípio a indissolubilidade do casamento. Posteriormente, com o surgimento de mudanças culturais da sociedade, foram produzidas novas ideias na legislação civil, como por exemplo o desquite, que estabelecia a cessação do conjugal vínculo. (LEÃO, 2019, p. 159) Diante disso, fica evidenciado o porquê, em um tempo não muito distante “(...) culturalmente se apregoava que a mulher obrigatoriamente teria que acompanhar o marido, pois se porventura recusasse seria uma desonra para a família dela, além de ser considerado falta grave por se caracterizar tal comportamento como deslealdade ao esposo. (SANTOS, 2020, p.32) Esse diploma legal trouxe o entendimento de que o indivíduo como um sujeito de direito era pautando no patrimonialismo, portanto o que de fato importava era possuir bens materiais, desse modo pode-se afirmar que tal código foi feito com direcionamento para abarcar os interesses dos grandes proprietários imobiliários. Ainda, nesse sentido, cabe dizer que era perceptível, na sociedade, a influência patriarcal em todos os aspectos sociais, portanto para legitimar tal situação o diploma legal regia positivado, isso no artigo 233, que o marido era o exclusivo chefe de uma sociedade conjugal. Vejamos: Art. 233 - O marido é o chefe da sociedade conjugal. Compete-lhe: I - A representação legal da família. II - A administração dos bens comuns e dos particulares da mulher, que ao marido competir administrar em virtude do regime matrimonial adaptado, ou do pacto antenupcial (CCB/1916, art. 178, § 9º, nº I, c, CCB/1916, art. 274, CCB/1916, art. 289, nº I, e 311). III - O direito de fixar e mudar o domicílio da família (CCB/1916, art. 46 e CCB/1916, art. 233, nº IV). IV - O direito de autorizar a profissão da mulher e a sua residência fora do tecto conjugal (CCB/1916, art. 231, nº II, CCB/1916, art. 242, nº VII, CCB/1916, art. 243, CCB/1916, art. 244 e CCB/1916, art. 245, nº II, e CCB/1916, art. 247, nº III). V - Prover à manutenção da família, guardada a disposição do CCB/1916, art. 277. ] Por conseguinte, a mulher era tida detentora, tão somente, da função de colaboradora das obrigações familiares, como pode ser visto fazendo uma rápida leitura do artigo 240 do Código Civil de 1916: 13 Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) Parágrafo único. A mulher poderá acrescer aos seus os apelidos do marido. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) Entretanto, ainda que se tenha avançado juridicamente nesse sentido, porém pode-se afirmar que: Mesmo com os avanços do século XXI e direitos adquiridos após muitas lutas, as mulheres conquistaram a possibilidade de vivenciar também a vida profissional. Porém, o patriarcado ainda tem muita influência na sociedade e, ainda destina às mulheres “papéis” vinculados ao ambiente privado como os afazeres domésticos e os cuidados com a educação dos filhos. (PEREIRA, et al., 2019, p.01) Já no quesito da filiação o diploma em questão fazia distinção de forma significativa entre filhos legitimo e ilegítimo, naturais e adotivos positivando tal situação no registro de nascimento. Nesse sentido, também deixava evidenciado que a questão da guarda acoplava-se ao litígio da culpabilidade da separação do casal, sendo assim não se atrelava ao bem-estar da criança, portanto nesse caso sendo conferida ao consorte não responsabilizado pelo desquite, pois: O Direito antigo era essencialmente severo e conservador quanto à necessidade da preservação do núcleo familiar, prevalecendo os interesses da instituição do matrimônio em detrimento dos filhos, colocando estes numa situação marginalizada, se nascidos fora do casamento; aúnica filiação que a lei tomava conhecimento real era a ocorrida no seio do casamento. Puniam- se os frutos dos relacionamentos havidos por pessoas não ligadas pelo matrimônio, por adúlteros (na época era considerado crime) ou em relações incestuosas. Em decorrência da visão sacralizada da família e da necessidade de sua preservação, puniam-se aqueles que culpa alguma tinham de terem sido gerados fora das normas legais e dos princípios morais vigentes na época. (LUCCHESE, 2013, p. 232) Em meados de 1949 foi positivada a Lei 883, que passou a conceder direitos a filhos ilegítimos que outrora não era conferido, pois passou a reconhecer a esses através do reconhecimento real de filiação atribuindo direitos a alimentos provisionais, tramitação em segredo de justiça e herança, sendo assim reconhecida a isonomia de direitos, não importando a natureza da filiação. Desse modo a partir de então não foi mais mencionado no registro civil a questão da natureza da filiação, consequentemente derrubando a postura 14 preconceituosa que até então predominava na sociedade da época. Pois nesse sentido: A Carta Constitucional de 1988, em seu art. 227, §6º, fincou a absoluta igualdade entre todos os filhos, não mais sendo admitida a retrógrada distinção entre filiação legítima ou ilegítima. Hoje, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, uns biológicos, outros não biológicos, mas todos com iguais direitos e qualificações. (CASTELO, 2011, p. 40) No entanto, os avanços na legislação continuaram modernizando paulatinamente, sendo assim, em 27 de agosto de 1962, foi publicada a Lei nº 4.121, que tratava sobre a condição jurídica da mulher casada, batizada de Estatuto da Mulher Casada. Fator que revogou múltiplos dispositivos do Código Civil de 1916. Assim dentre outros direitos modificados, a mulher passou a ter o direito de praticar o poder familiar, não importando se porventura formasse um novo casamento, entretanto tal dispositivo manteve-se restrito a tal atividade, tendo em vista a preservação do artigo 380 do diploma que regia a prioridade masculina no caso de existir desacordo entre os genitores, no que se reportava ao efetividade do pátrio poder, portanto preponderava a deliberação do genitor, contudo ressalvava o direito da genitora recorrer ao judiciário para o real deslinde do litigio. No entanto, nesse momento já se percebe uma mobilidade na posição da mulher, representando uma conquista de direitos no ambiente familiar, pela possibilidade jurídica em poder interferir na administração do lar. Nessa perspectiva sobre as mutações culturais no âmbito familiar, especialmente por atribuir maior isonomia a posição feminina no seio familiar tem-se a mudança das legislação brasileira, pois no ano de 1977, sob o olhar da Constituição de 1967, a sexta constituição brasileira e a quinta da república, foi editada a emenda constitucional 09 que disciplinava a possibilidade do divórcio, posterior a separação judicial e nesse mesmo sentido o advento da Lei 6.515 que regulava a matéria propiciando a ação direito de divórcio com a ressalva de que já tenha um espaço temporal de cinco anos de separação de fato. Isso, com início anterior a 28 de junho de 1977 conforme o artigo 40 – “No caso de separação de fato, com início anterior a 28 de junho de 1977, e desde que completados 5 (cinco) anos, poderá ser promovida ação de divórcio, na qual se deverão provar o decurso do tempo da separação e a sua causa. ” 15 Além disso, essa lei facultou a mulher o direito de usar o nome da família do cônjuge que outrora era obrigado pelo casamento. Outra mudança legislativa significativa na questão familiar foi a alteração do regime de casamento com a introdução do Regime Parcial de Bens, em que preceitua o termino dos vínculos com o divórcio. Mais tarde houve a aprovação da Lei 6.697/79, com a finalidade de normatizar a questão da assistência, proteção e vigilância aos menores, recebendo assim o nome de Código de Menores. Portanto cabe afirmar que tal lei foi criada com o desígnio de ajustar a situação de menores encontrados nas ruas desprovidos de lar, que nesse período eram tidos como simplesmente irregulares. Entretanto pode-se dizer que tal lei por atrelar a questão de segurança pública não se ateve de forma total a proteção dos menores de idade em situação de risco, sendo assim, pode-se afirmar: Conforme exposto, desde a constituição de 1934 todas as Constituições brasileiras dedicaram um capítulo à família, muito embora bastante tímidos. Deste modo, somente com a Carta de 1988 podemos dizer que realmente ocorreu a constitucionalização do direito civil e do direito de família. (CASTELO, 2011, p. 53) Enfim, foi nessa carta magna que o Brasil teve o rompimento de forma evidente com o desrespeito a dignidade humana, tendo em vista a positivação de uma constituição voltada para o respeito ao respeito dos direitos humanos, assim buscando atender os novos anseios sociais. 5.2 O novo florescimento jurídico da família Do ponto de vista hodierno no que se reporta ao direito da família pode-se afirmar que com o advento da promulgação da Constituição Federal de 1988, o entendimento jurídico foi completamente transmutado dos moldes tradicional conservador, pois a constituição da instituição família, no que se tinha como referencial aceito socialmente, passou a ser apenas mais um tipo de possibilidade de agrupamento de pessoas, pela importância que fora atribuída ao princípio da igualdade e afetividade como podo ser percebido no artigo 226: 16 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuito a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação da EC 66/2010) § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. (CF 1988) Pois, nesse ordenamento jurídico houve a positivação manifestada dos princípios fundamentais do sujeito detentor de direitos, isso: Depois de mais de duas décadas de Regime Militar, o Brasil passou por um profundo processo de (re) democratização, no qual a preocupação com os ideais humanos serviu como resposta ao período de totalitarismo que marcou os anos precedentes. Esse anseio pelo humanismo foi catalisado pelo Constituinte originário que estabeleceu como fundamento da República, logo no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana. (PAZ, 2009, p. 16) Dessa forma, com essa carta magna,pôde ser visto positivações de novas bases jurídicas reguladoras da sociedade, dando origem ao florescimento de princípios constitucionais que passaram a enfatizar a importância de se respeitar valores sociais como: a dignidade humana, a liberdade e a igualdade. Diante dessa nova percepção social e corroborada pelo direito positivado dar-se-á maior proteção as famílias pelo processo de integração social para proteger tanto a criança quanto ao adolescente e ao idoso. Assim, a sociedade continuou avançando na questão da mudança de percepção em relação as relações sociais, principalmente, a respeito do que se tem hodiernamente como visão de família. Nesse sentido em 20 de novembro de 1989 feita a Conversão da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque que tratou em assembleia geral da questão do direito da criança e do adolescente sendo ratificada pelo Brasil por meio do decreto 99.710/99. 17 Assim, ver-se, com base nesse novo olhar em 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com a Lei 8.069, uma guinada na percepção do reconhecimento da necessidade de se perceber os direitos desses sujeitos em desenvolvimento. Diante disso, a questão sobre o reconhecimento, no que se reporta ao estado de filiação, tornou-se um direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, portanto podendo, se for o caso, ser perpetrado em face dos pais ou herdeiros, observando tão somente, o protocolo referente ao quesito chamado segredo de justiça. Logo, é sabido que os direitos conquistados e a ocorrência de mudanças de percepções não ocorrem de forma simples, pois é necessária diligência de toda a sociedade para que, posteriormente, possa haver a positivação de tais anseios sociais. Uma vez que: Com o advento da Carta Magna/1988, mais especificamente por intermédio do § 6º, artigo 227, as filiações foram equiparadas, ou seja, não há mais o que se falar em distinções em virtude do seu tipo, cortando-se assim as raízes da discriminação entre as filiações, existentes por mais de meio século em nosso ordenamento jurídico. (SILVA, 2019, p. 16) Ainda cabe notar que a criação da lei 8.560 de 29 de dezembro de 1992 trouxe uma inovação acerca das questões familiares, tendo em vista a regulação da investigação sobre a paternidade em filhos fora do casamento. Pois outorgou legitimidade ao ministério público, dando-lhe possibilidade de poder ingressar com tal ação. Nesse aspecto: Sua principal função foi à proteção ao direito do menor de ter sua paternidade reconhecida ou declarada, protegendo-o de discriminação, de acordo com a Constituição Federal, quanto origem/natureza de sua filiação (legítima ou ilegítima), e a menção sobre o estado civil dos genitores nos termos de nascimento, bem como nas certidões fornecidas pelo Registrador Civil. Ou seja, a partir desta norma ficou vedada qualquer referência aos dados mencionados nos artigos, que possam discriminar o registrado, como, por exemplo, o estado civil dos pais. Assim como nos ensina o artigo 6º da mesma lei. (SILVA, 2019, p. 17) Portanto, cabe dizer que essa lei com suas anuências possibilitou a criança ter as acomodações mais pertinentes pela possível possibilidade de responsabilizar, tanto a mãe quanto o pai, no fornecimento do atendimento das necessidades da criança. “Portanto, no plano teórico, a corrente majoritária parece inclinar-se no 18 sentido de que o princípio da dignidade da pessoa humana ocupa posição hierárquica superior em relação aos demais princípios e valores constitucionais” (PAZ, 2009, p. 20) Ainda cabe pontuar o que se tem de mais recente nessa questão no ordenamento jurídico brasileiro, assim nesse sentido se tem o Novo Código Civil através da lei 10.406 que entrou em vigor no dia 11 de janeiro de 2002, buscando atender as novas demandas sociais, tendo em vista as constantes transformações sociais. Entretanto embora esse código seja novo, pela morosidade em se aprovar a ponto de passar décadas esse diploma deixou de contemplar os hodiernos anseios sociais. Portanto não contemplou a união estável e nem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Diante disso, da inexistência de regulamentação expressa da união homoafetiva, muitos magistrados brasileiros já entenderam, no passado, ser juridicamente impossível o reconhecimento dessa relação afetiva. Entretanto, tal posição foi superada pelos Tribunais Superiores, sob o argumento de que “a possibilidade jurídica do pedido não é simplesmente a previsão, in abstracto, no ordenamento jurídico, da pretensão formulada pela parte. Portanto, não deve ser conceituada, como se tem feito, com vistas à existência de uma previsão no ordenamento jurídico, que torne o pedido viável em tese, mas, isto sim, com vistas à inexistência, no ordenamento jurídico, de previsão que o torne inviável”. Em outras palavras, aquilo que não é expressamente proibido tem-se por permitido. (Fischer, 2016, p. 01) Assim, percebe-se que ainda que não haja uma lei garantindo a devida assistência nesse sentido aos homossexuais, contudo através de um olhar no tempo pretérito pode-se compreender a questão do suporte judicial no âmbito familiar a essa parcela da sociedade. Pois o Supremo Tribunal Federal (STF) no mês de maio de 2011 deu origem a jurisprudência permitindo a união jurídica entre pessoas do mesmo sexo, alterando o entendimento do código civil que preceitua família como sendo formada por um homem e uma mulher. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou no dia 14 de maio de 2013 uma resolução de número 175 que proibiu os cartórios de recusares realizar casamentos homoafetivos. Entretanto, apesar desses progressos nos entendimentos das autoridades, ainda não há o que se falar em garantia em lei, mas sim em justiça. Contudo, visando a mitigação de discriminações e preconceitos, principalmente, no quesito da não aceitabilidade do casamento homoafetivo, o STF 19 no mês de junho de 2019 formulou uma decisão no sentido de enquadrar a questão tanto da homofobia, quanto da transfobia em crime de racismo, buscando, de certo modo, compelir o congresso a legislar sobre o tema. 10. Considerações Finais Enfim, diante das reflexões feitas nesse presente trabalho, pode-se afirmar que a instituição família faz parte de um elo social muito antigo, ou seja, a base indispensável para a constituição de uma sociedade, para tanto pontua-se um tempo em que a família era tida como uma constituição formada, tão somente, pela consagração do casamento, portanto provocando uma segregação social. Nesse trabalho foi tratado a questão das normas jurisdicionais no tratamento das demandas do contexto familiar, tendo em vista as várias transformações jurídicas que essa instituição sofreu pela positivação de legislações constitucionais e infraconstitucionais no decorrer dos séculos. Dessa forma perpassou pelo direito canônico, pelo direito romano, por constituições e leis especificas até chegar ao contexto atual, tendo início a essa normatização hodierna com a promulgação da constituição de 1988 que tratou tal assunto de forma meticulosa. Inclusive abarcando a questão da filiação e fundamentando tal requisito no princípio da dignidade humana frustrando a discriminação relativa ao direito de filiação. Por todo o exposto percebe-se a importância da intervenção do direito positivado com bases no respeito aos direitos pessoais do indivíduo pela advento de uma constituição cidadã que permitiu um entendimento sobre a possibilidade de diversos tipos de família, tendo em vista o princípio da dignidade humana e o direito a felicidade. 11. Referências BRASIL. Código Civil. Lei n° 3.071 de 1° de janeiro de 1916. BRASIL. Código Civil. Caixeta, Vinícius Martins. DireitoCanônico e Direito de Família. Monografia da Graduação de Direito. Anápolis – 2020. Disponível em: 20 http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/10085/1/VIN%C3%8DCIUS%20MARTINS %20CAIXETA.pdf. Acesso em:28/10/2022. CASTELO, Fernando Alcântara Castelo. A Igualdade Jurídica entre os Filhos: Reflexo da Constitucionalização do Direito de Família. Monografia do Curso de Especialização em Direito de Família, Registros Públicos e Sucessões do Centro de Estudos Sociais Aplicados. FORTALEZA - CEARÁ 2011. 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